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                                   ARTIGO TEOLÓGICO

       “DECIFRA-ME OU DEVORO-TE”: EM BUSCA DE UMA
    SOLUÇÃO EXEGÉTICA E HERMENÊUTICA PARA O ENIGMA
                     DE ÊXODO 4.24-26

                                                por
                                   Carlos Augusto Vailatti


RESUMO


         Este artigo tem por objetivo buscar descobrir o significado da perícope
bíblica de Êxodo 4.24-26, texto este que, segundo muitos estudiosos, situa-se
entre aquelas passagens mais difíceis de serem compreendidas em todo o Êxodo.
Através da investigação da Bíblia Hebraica (BHS), da Septuaginta (LXX), de
algumas Versões Bíblicas em Português e também de outras Interpretações
dadas ao presente texto bíblico, tentar-se-á, portanto, descobrir o seu significado.


Palavras-Chave: Êxodo 4.24-26, Exegese, Hermenêutica, Interpretação Bíblica.


ABSTRACT

         This article aims to seek out the meaning of the biblical pericope in
Exodus 4.24-26, this text, according many scholars, is among those most difficult
passages to be understood throughout the Exodus. Through research of the
Hebrew Bible (BHS), Septuagint (LXX), some Bible Versions in Portuguese and
also other Interpretations given to this biblical text, it will try, therefore, to find
its meaning.


Keywords: Exodus 4.24-26, Exegesis, Hermeneutics, Biblical Interpretation.

         1
          Este texto foi apresentado inicialmente em forma de monografia em maio/2009 ao Seminário
Teológico Servo de Cristo (STSC), SP.

                                                                                       W
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ÍNDICE


INTRODUÇÃO                                                            3

I – O CONTEXTO DA PASSAGEM                                            5

II – QUESTÕES PRELIMINARES                                            7

III – ÊXODO 4.24-26 NA BHS E NA SEPTUAGINTA                           9

        3.1.   Êxodo 4. 24-26 na BHS e a Sua Tradução Literal         9
        3.2.   Análise Léxico-Morfológica da BHS                      9
        3.3.   Êxodo 4. 24-26 na LXX e a Sua Tradução Literal         11
        3.4.   Análise Léxico-Morfológica da LXX                      12
        3.5.   Considerações Críticas sobre a BHS e a LXX             14

IV – ÊXODO 4.24-26 EM VÁRIAS VERSÕES DA BÍBLIA                        16

        4.1.   Em Algumas Versões Bíblicas em Português               16
        4.2.   Apontamentos Sobre as Versões de Êx 4.24-26            18
        4.3.   Conclusão                                              20

V – INTERPRETAÇÕES SOBRE ÊXODO 4.24-26                                22

        5.1.   A Interpretação mais Comum                             22
        5.2.   A Interpretação de Ronald E. Clements                  22
        5.3.   A Interpretação de Hans Kosmala                        23
        5.4.   A Interpretação de Nelson Kilpp                        23
        5.5.   A Interpretação de Georg Fohrer                        24
        5.6.   A Interpretação de Hugo Gressmann                      25
        5.7.   Nova Interpretação Proposta                            25

CONCLUSÃO                                                             29

BIBLIOGRAFIA                                                          31


                                                                2|Página
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INTRODUÇÃO

        Quando lemos a Bíblia, vez por outra, acabamos nos deparando com
aqueles textos que são mais difíceis de serem compreendidos do que outros, e
que, portanto, nos soam enigmáticos. E o texto que será objeto de nosso estudo,
Êxodo 4.24-26, se enquadra perfeitamente neste perfil de “texto enigmático”.
        Aliás, essa obscura passagem da Bíblia, particularmente, me faz pensar no
conhecido relato do “Enigma da Esfinge”. Conta-nos a lenda grega que a
Esfinge, aquela criatura mitológica, invadiu a cidade grega de Tebas, destruiu os
seus campos e afugentou os seus moradores. A criatura apenas aceitou se retirar
do local, caso alguém conseguisse decifrar o seu enigma. Do contrário, a pessoa
seria devorada: “Decifra-me, ou devoro-te!”. E o seu enigma era: “Qual é o
animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite?”. Então,
Édipo, filho do rei de Tebas, solucionou o enigma, respondendo: “o homem, pois
ele engatinha quando pequeno, anda com as duas pernas quando é adulto e usa
um cajado para se apoiar na velhice”. Ao ver seu enigma resolvido, a Esfinge se
suicidou, lançando-se em um abismo. Édipo, por sua vez, como prêmio pela
resposta, acabou recebendo o reino de Tebas e a mão da rainha viúva, sua própria
mãe, Jocasta.2
        O nosso desafio nesse trabalho, semelhantemente ao desafio de Édipo
diante da Esfinge, será buscar “solucionar” o enigmático texto de Êxodo 4.24-26.
Para tanto, nos utilizaremos da exegese e da hermenêutica a fim de tentarmos
desvendar os “mistérios” dessa pequena, mas controvertida perícope. Embora o
texto seja bem pequeno (possui apenas três versos), todavia, ele tem sido alvo de
muitos debates e inúmeras controvérsias ao longo dos tempos.
        Aliás, sobre essa perícope, Childs escreveu: “Poucos textos contêm mais
problemas para a interpretação do que estes poucos versos, os quais têm



        2
          COMMELIN, P. Mitologia Grega e Romana. [Tradução de Eduardo Brandão]. São Paulo,
Martins Fontes, 1997, p.240.

                                                                             3|Página
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continuado a desconcertar através dos séculos”.3 Além disso, Durham comenta:
“Estes versos estão entre os mais difíceis do livro de Êxodo, não em termos de
sua tradução, a qual é bastante simples, mas em termos de seu significado e de
sua localização neste contexto particular”.4 Já, Hyatt, de forma mais resumida,
mas não menos incisiva, declara: “Esta é a passagem mais obscura do livro de
Êxodo”.5 Por fim, a TEB, em nota, assim se refere a esta passagem: “Estes três
versículos enigmáticos”.6
        Portanto, é a partir das opiniões desses eruditos, bem como, a partir das
próprias dificuldades internas em torno das quais o texto está inserido, que
resolvi dar a esse artigo o título supra mencionado. Bem, vejamos então o que a
leitura de: “Decifra-me ou Devoro-te”: Em Busca de uma Solução Exegética e
Hermenêutica para o Enigma de Êxodo 4.24-26 nos reserva.




        3
           CHILDS, Brevard S. The Book of Exodus: A Critical, Theological Commentary. Philadelphia,
Westminster, 1974, p.95.
         4
           DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987,
p.56.
         5
           HYATT, J. P. Exodus. The New Century Bible Commentary. England, Marshall, Morgan 
Scott, 1971, p.86.
         6
           TEB – Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo, Edições Loyola, 1994, p.105, nota r.

                                                                                     4|Página
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I – O CONTEXTO DA PASSAGEM

        A fim de entendermos melhor a passagem de Êx 4.24-26 é necessário
mencionar antes, ainda que brevemente, o contexto dentro do qual ela está
inserida.7
        O capítulo 1 do livro de Êxodo busca descrever como é que Israel vivia no
Egito antes de Moisés: os israelitas começaram a viver sob o governo de um
Faraó que não havia conhecido ao seu patriarca, José, o qual os oprimia (1.1-10);
eles trabalhavam como escravos (1.11-13) e, inclusive, chegaram a sofrer a
tentativa de um infanticídio ordenado pelo próprio Faraó (1.15-22).
        O capítulo 2 fala sobre o início da vida de Moisés: o seu nascimento foi
conturbado, pois ele teve que ser escondido para não ser morto devido ao decreto
de Faraó, mas a providência divina o livrou do infanticídio, sendo que,
ironicamente, ele acabou chegando à fase adulta justamente “debaixo do mesmo
teto” daquele que queria matá-lo (2.1-10); já adulto, Moisés busca fazer justiça
com as próprias mãos, pois, ao ver um hebreu sendo maltratado por um egípcio,
acaba por matar a este último, ação esta que chegou ao conhecimento de Faraó, o
qual quis matá-lo (2.11-15a); ele, então, foge de Faraó para Midiã, onde conhece
a sua esposa, Zípora, e de quem tem um filho, Gerson (2.15b-22); neste ínterim,
o rei do Egito morre e Deus resolve dar continuidade na execução de Seu acordo
feito com Abraão no passado (2.23-25).
        O capítulo 3 descreve o encontro que Moisés teve com Deus, bem como,
a missão da qual ele foi divinamente incumbido: Moisés, no seu trabalho pastoril,
experimenta uma inesperada teofania (3.1-9) e também recebe a tarefa de ser o
libertador do povo de Israel da escravidão egípcia (3.10-22).
        Por fim, o capítulo 4 trata de mostrar a reação de Moisés diante da sua
divina missão: Moisés fornece inúmeras desculpas, a fim de não querer cumprir a
sua difícil tarefa, mas Deus não aceita o seu “não” como resposta (4.1-17); ele,


       7
          Para um esboço de todo o livro de Êxodo, veja: COLE, R. Alan. Êxodo: introdução e
comentário. [Tradução de Carlos Oswaldo Pinto]. São Paulo, Vida Nova / Mundo Cristão, 1990, p.50.

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então, decide partir de Midiã rumo ao Egito, recebe mais detalhes sobre a sua
importante missão e compartilha tais informações com o seu irmão, Arão (4.18-
23, 27-31). Porém, durante a jornada de Moisés em direção ao Egito, um fato
muito estranho e curioso acontece: Deus o encontra no meio do caminho, numa
estalagem, e quer matá-lo.
        Bem, após este pano de fundo panorâmico dos primeiros capítulos do livro
de Êxodo, partamos, então, para o levantamento de algumas questões que muito
devem nos ajudar no estudo do nosso tema.




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II – QUESTÕES PRELIMINARES

        Ao lermos a perícope de Êx 4.24-26, algumas perguntas surgem
naturalmente.8 Abaixo, tentaremos expor as questões que julgamos serem mais
significativas para o auxílio na compreensão deste texto:


        1. Por que a perícope de Êx 4.24-26 está situada no local onde está, uma
                vez que ela interrompe claramente o fluxo narrativo de Êx 4.18-23, 27-
                31, o qual parece ser completo sem ela? Qual o propósito dessa
                interpolação?

        2. Por que há tanta indefinição (como veremos a seguir) quanto à
                identidade dos sujeitos das ações e quanto aos objetos que sofrem tais
                ações nesta passagem? Será que esse “silêncio” está tomando como
                certo que “Moisés”, o qual é citado nos versículos precedentes (cf. Êx
                4.21-23), é o personagem mais apropriado e “óbvio” desse “quebra-
                cabeça”?

        3. Por que a circuncisão é tão importante no contexto dessa passagem, ao
                ponto de ser citada repetidamente (nos versos 25 e 26)?

        4. O que significa a enigmática expressão: “esposo (noivo) sanguinário”,
                proferida por Zípora?

        5. Por que desde o início do livro de Êxodo, a vida de Moisés parece estar
                sempre “por um fio”? Moisés escapa da morte quando ainda é bebê e é
                colocado numa cesta no rio (Êx 2.1-9). Depois disso, Faraó quer matá-
                lo (Êx 2.11-15). E, por fim, até mesmo o próprio Deus também quer
                matá-lo (Êx 4.24)! Por que estes relatos sobre estas várias tentativas de
                homicídio são tão importantes, ao ponto de serem repetidos em
                diferentes contextos?
        8
           Ronald B. Allen também propõe questões semelhantes a estas em seu artigo sobre esta
passagem de Êxodo. Cf. ALLEN, Ronald B. The “Bloody Bridegroom” in Exodus 4:24-26. [Bibliotheca
Sacra]. Nº 153. Dallas, Dallas Theological Seminary, 1996, pp.260-261.

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        6. Qual é o ponto nevrálgico desta perícope? É a circuncisão? É destacar
             a importância do papel da mulher nos rituais religiosos, uma vez que é
             uma mulher, Zípora, quem realiza a circuncisão? É destacar o “outro
             lado” de Deus, isto é, o “seu lado maligno/demoníaco”, pois Ele quer
             matar a Moisés?

        Bem, estas são apenas algumas das várias perguntas às quais este
enigmático texto nos remete. Ao final do nosso estudo, tentaremos respondê-las,
senão todas, pelo menos parte delas. Por ora, basta apenas mencioná-las aqui. A
seguir, abordaremos a perícope que está sendo estudada a partir dos textos
originais.




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III – ÊXODO 4.24-26 NA BHS E NA LXX
        A fim de que possamos vislumbrar a perícope de Ex 4.24-26 sob os seus
mais variados ângulos, creio que se faça necessário observá-la primeiramente a
partir dos textos originais, os quais nos fornecerão a base para o desenvolvimento
do nosso trabalho. Entretanto, para que a nossa monografia seja mais
enriquecida, acredito que não somente o original hebraico, mas também o texto
grego da Septuaginta sejam, ambos, importantes como ponto de partida para o
nosso estudo. Sendo assim, mãos à obra.


        3.1.        Êxodo 4. 24-26 na BHS9 e a Sua Tradução Literal

                    xQ;’Tiw: 25`At*ymih] vQEßb;yw: hw”ëhy WhveäGp.Yiw: !Al+MB; %rDÞb; yhiîyw: 24
                   yKió rm,aTo§w: wyl’_gr:l. [G:ßT;w: Hn”ëB. Tl;r[‘-ta, ‘trok.Tiw: rcoª hr”øPoci
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        24
                E foi no caminho, na pousada, e encontrou-lhe Yahweh, e quis matá-lo.
        25
             E tomou Zípora uma faca de pedra e cortou o prepúcio de seu filho, e
lançou aos seus pés, e disse: certamente esposo de sangues és tu para mim.
        26
             E se apartou dele, quando disse: esposo de sangues, por causa da
circuncisão.


        3.2.        Análise Léxico-Morfológica da BHS10
Verso 24
                        Vocábulo                                            Tradução
                            yhiîyw:                          E foi (verbo, qal, vav consec.
                                                        imperf., 3ª p. masc. sing. apocopada).

        9
           ELLIGER, K.  RUDOLPH, W. (eds.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Stuttgart, Deutsche
Bibelgesellschaft, 1997.
        10
           Análise baseada em: BibleWorks 6.0. Software. Norfolk, USA, 2003; DAVIDSON, Benjamin.
The Analytical Hebrew and Chaldee Lexicon. Grand Rapids, Zondervan Publishing House, 1981;
GESENIUS, H. W. F. Geseniu’s Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament. [Translated by Samuel
Prideaux Tregelles]. Grand Rapids, Baker Book House, 1979; HOLLADAY, William L. (ed.). A Concise
Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament. Grand Rapids, William B. Eerdmans Publishing
Company / Leiden, E. J. Brill, 1988.

                                                                                        9|Página
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               s


                     %rDÞb;                     no caminho (prep. + artigo +
                                            nome comum sing. absoluto)
                     !Al+M’B;                     na pousada (prep. + artigo +
                                            nome comum, masc., sing., absoluto)
                    WhveäGp.Yiw:                 e encontrou-lhe (verbo, qal,
                                            vav consec., imperf., 3ª p., masc.,sing.)
                     hw”ëhy                      Yahweh (nome próprio)
                     vQEßb;yw:                    e quis (verbo, piel, vav consec.,
                                            imperf., 3ª p. masc. sing.)
                     At*ymih]                      matá-lo (verbo, hifil, infinit.,
                                            construto, sufixo, 3ª p. masc.sing.)

Verso 25
                Vocábulo                                        Tradução
                      xQ;’Tiw:                    E tomou (verbo, qal, vav
                                            consec., imperf., 3ª p. fem.sing.)
                     hr”øPoci                     Zípora (nome próprio)
                      rcoª                         faca de pedra (nome comum,
                                            masc., sing., absoluto)
                    ‘trok.Tiw:                     e cortou (verbo, qal, vav
                                            consec., imperf., 3ª p. fem.sing.)
                tl;r[‘-ta,                        prepúcio de (partíc. de obj.dir.
                                            + nome comum, fem., sing., construto)
                       HnӑB.                      seu filho (nome comum, masc.,
                                            sing., construto, com sufixo, 3ª p.,
                                            fem., sing.)
                      [G:ßT;w:                     e lançou (verbo, hifil, vav
                                            consec., imperf., 3ª p., fem. sing.,
                                            apocopada)
                    wyl’_gr:l.                    aos seus pés (prep. + nome
                                            comum, fem. dual, construto, com
                                            sufixo, 3ª p., masc., sing.)
                     rm,aTo§w:                     e disse: (conj. + verbo, qal, vav
                                            consec., imperf., 3ª p., fem., sing.)
                     yKió                          certamente (conjunção)
                ~ymi²D”-!t;x]                    esposo de sangues (nome
                                            comum, masc., sing., construto + nome
                                            comum, masc., plural, absoluto)
                      hT’Þa;                     tu (pronome, 2ª p., masc., sing.)
                       yli(                        para mim (prep., com sufixo, 1ª
                                            p., comum, sing.)


                                                                        10 | P á g i n a
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Verso 26
                         Vocábulo                                             Tradução
                             @r,Yißw:                            E se apartou (verbo, qal, vav
                                                          consec., imperf., 3ª p., masc., sing.,
                                                          apocopada)
                             WNM,_mi                             dele (prep., com sufixo, 3ª p.
                                                          masc., sing.)
                             Za’…                                quando (partícula adverbial)
                            hr”êm.a’(                             disse: (verbo, qal, perfeito, 3ª p.
                                                          fem., sing.)
                             !t:ïx]                               esposo de (nome comum,
                                                          masc., sing., construto)
                            ~ymiÞD”                               sangues (nome comum, masc.,
                                                          plural, absoluto)
                            tl{)WMl;                              por causa da circuncisão
                                                          (prep. + art. + nome comum, fem.,
                                                          plural, absoluto)


         3.3.       Êxodo 4. 24-26 na LXX11 e a Sua Tradução Literal

         24
            evge,neto de. Evn th/| o`dw/| evn tw/| katalu,mati sunh,nthsen auvtw/|
a;ggeloj kuri,ou kai. Evzh,tei auvto.n avpoktei/nai 25 kai. Labou/sa Sepfwra
yh/fon perie,temen th.n avkrobusti,an tou/ ui`ou/ auvth/j kai. Prose,pesen pro.j
tou.j po,daj kai. Ei=pen e;sth to. Ai-ma th/j peritomh/j tou/ paidi,ou mou 26
kai. Avph/lqen avpV auvtou/ dio,ti ei=pen e;sth to. Ai-ma th/j peritomh/j tou/
paidi,ou mou
         24
              E aconteceu no caminho, no alojamento, encontrou com ele um anjo do
Senhor, e buscava matá-lo.
         25
              E tomou Séfora uma pequena pedra lisa para circuncidar a
incircuncisão do filho dela e caiu prostrada diante dos [seus] pés e disse: para
provocar o sangue da circuncisão do meu filho.
         26
              E partiu dele porque disse: repousou o sangue da circuncisão do meu
filho.




         11
              RAHLFS, Alfred. Septuaginta. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1979.

                                                                                          11 | P á g i n a
d                                                                           ^
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                      s


        3.4.       Análise Léxico-Morfológica da LXX12
Verso 24
                        Vocábulo                                           Tradução
                         evge,neto                            aconteceu (verbo, indicativo,
                                                       aoristo médio, 3ª p. sing.)
                             de.                              E (conj. coordenativa)
                             Evn                              em (preposição no dativo)
                             th/|                             o     (art.    definido,    dativo,
                                                       feminino, sing.)
                             o`dw/|                           caminho (nome, dativo, fem.,
                                                       sing.)
                             evn                              em (preposição no dativo)
                             tw/|                               o (art.definido, dativo, neutro,
                                                                          sing.)
                       katalu,mati                            alojamento (nome, dativo,
                                                       neutro, sing.)
                       sunh,nthsen                            encontrou          com      (verbo,
                                                       indicativo aoristo ativo, 3ª p. sing.)
                            auvtw/|                            ele (pron. pessoal, dativo, masc.
                                                                          sing.)
                           a;ggeloj                           um anjo (nome, nominativo,
                                                       masc., sing.)
                           kuri,ou                            do Senhor (nome, genitivo,
                                                       masc.sing.)
                             kai.                             e (conj. coordenativa)
                           Evzh,tei                           buscava (verbo, indicativo,
                                                       imperf., ativo, 3ª p. sing.)
                            auvto.n                           a ele (pron. Pessoal, acusativo,
                                                       masc., sing.)
                       avpoktei/nai                           matar (verbo, infinitivo aoristo,
                                                                          ativo)

Verso 25
                        Vocábulo                                          Tradução
                          kai.                                E (conj. coordenativa)
                        Labou/sa                              tomou       (verbo,     particípio
                                                       aoristo, ativo, nominativo, fem., sing.)
                        Sepfwra                               Séfora (nome próprio)
                         yh/fon                               uma pequena pedra lisa (nome
                                                       comum, acusativo, fem., sing.)

        12
             Análise baseada em: BibleWorks 6.0. Software. Norfolk, USA, 2003.

                                                                                    12 | P á g i n a
d                                                              ^
           ,                                  
               s


                perie,temen                    para       circuncidar       (verbo,
                                        indicativo, aoristo, ativo, 3ª p. sing.)
                      th.n                     a (artigo definido, acusativo,
                                        fem., sing.)
                avkrobusti,an                  incircuncisão (nome comum,
                                        acusativo, fem., sing.)
                      tou/                     do (artigo definido, genitivo,
                                        masc. sing.)
                     ui`ou/                    filho (nome comum, genitivo,
                                        masc., sing.)
                     auvth/j                   dela (pronome pessoal, genit.,
                                        fem., sing.)
                   kai.                        e (conj. coordenativa)
                Prose,pesen                    caiu prostrada diante de
                                        (verbo, indicativo aoristo, ativo, 3ª p.
                                        sing.)
                     pro.j                     aos (preposição no acusativo)
                     tou.j                     os (art.definido, acusativo,
                                        masc. pl.)
                     po,daj                    pés (nome comum, acusativo,
                                        masc.pl.)
                     kai.                      e (conj. coordenativa)
                    Ei=pen                     disse (verbo, indicativo, aoristo,
                                        ativo, 3ª p. sing.)
                     e;sth                     repousou (verbo, indicativo,
                                        aoristo, ativo, 3ª p. sing.)
                       to.                     o (artigo definido, nominativo,
                                        neutro, singular)
                     Ai-ma                     sangue         (nome        comum,
                                        nominativo, neutro, sing.)
                      th/j                     da (artigo definido, genitivo,
                                        fem., sing.)
                 peritomh/j                    circuncisão (nome comum,
                                        genitivo, fem., sing.)
                      tou/                     do (artigo definido, genitivo,
                                        neutro, sing.)
                    paidi,ou                   filho (nome comum, genitivo,
                                        neutro, sing.)
                      mou                      meu         (pronome        pessoal,
                                        genitivo, fem., sing.)




                                                                      13 | P á g i n a
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Verso 26
                   Vocábulo                                           Tradução
                      kai.                               E (conj. coordenativa)
                   Avph/lqen                             partiu       (verbo,   indicativo,
                                                  aoristo, ativo, 3ª p. sing.)
                         avpV                            desde (preposição no genitivo)
                        auvtou/                          ele (pronome pessoal, genitivo,
                                                  masc., sing.)
                        dio,ti                           porque (conj. subordinativa)
                        ei=pen                           disse (verbo, indicativo, aoristo,
                                                  ativo, 3ª p. sing.)
                        e;sth                            repousou (verbo, indicativo,
                                                  aoristo, ativo, 3ª p. sing.)
                          to.                            o (artigo definido, nominativo,
                                                  neutro, sing.)
                        Ai-ma                            sangue         (nome     comum,
                                                  nominativo, neutro, sing.)
                         th/j                            da (artigo definido, genitivo,
                                                  fem., sing.)
                    peritomh/j                           circuncisão (nome comum,
                                                  genitivo, fem.sing.)
                         tou/                            do (artigo definido, genitivo,
                                                  neutro, sing.)
                       paidi,ou                          filho (nome comum, genitivo,
                                                  neutro, sing.)
                         mou                             meu         (pronome      pessoal,
                                                  genitivo, fem., sing.)

        3.5.   Considerações Críticas sobre a BHS e a LXX

        A partir da verificação do texto de Êxodo 4.24-26 por meio da BHS e da
LXX respectivamente, bem como, após as traduções do mesmo, algumas
considerações devem ser feitas.
        Primeiramente, é importante notar que algumas versões antigas da
Septuaginta trazem apenas a palavra a;ggeloj, “anjo”, no verso 24.13 Já a versão
padrão da LXX (Rahlfs: 1979)14 traz neste verso a expressão a;ggeloj kuri,ou,
isto é, “anjo do Senhor (= Yahweh)” em vez de “Yahweh”. Esta leitura também é
        13
            Cf. ELLIGER, K.  RUDOLPH, W. (eds.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Stuttgart,
Deutsche Bibelgesellschaft, 1997, p.91, nota 24b.
        14
           RAHLFS, Alfred. Septuaginta. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1979.

                                                                              14 | P á g i n a
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seguida pelo Targum Onkelos.15 Por último, Áquila (125/130 d.C.), em sua
tradução do Tanach para o grego, traz o` qeo.j, “Deus”, neste verso.16
        Em segundo lugar, a palavra “pés” encontrada na expressão: Nylfg:ral; ,
“aos seus pés” (v.25), parece ser usada aqui como um eufemismo para o órgão
genital, como aparece, por exemplo, em Is 6.2; 7.20; Ez 16.25 e Dt 28.57.17
        Em terceiro lugar, a LXX ao tomar o termo “pés” literalmente, tem Zípora
caindo em súplicas pro.j tou.j po,daj , “aos pés” (o contexto aqui e o uso similar
em Et 8.3 poderiam estar sugerindo que esta seja uma referência aos “pés” de
Yahweh).18
        Finalmente, em quarto e último lugar, enquanto o TM diz que o Senhor se
apartou      WNM,_mi, “dele” (v.26), o Pentateuco Samaritano lê hN|M,_mi, “dela” (uma
referência a Zípora).19
        Disso tudo, podemos concluir que a perícope de Ex 4.24-26 é um tanto
quanto enigmática devido a, pelo menos, três fatores: 1) a concisão da narrativa;
2) a falta de contexto definido; e 3) a indefinição dos pronomes pessoais
encontrados na passagem (Moisés não é citado nenhuma vez, tanto na BHS,
quanto na LXX).20




        15
           DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987,
p.53. Onkelos foi um prosélito palestino, o qual foi contemporâneo do Rabban Gamaliel II. Ele traduziu o
Pentateuco para o aramaico. A partir de então, a sua tradução passou a ser conhecida comoTargum
Onkelos. Esse targum é datado do II século a.C. (Cf. COHN-SHERBOK, Dan. A Concise Encyclopedia of
Judaism. Oxford, Oneworld Publications, 1998, p.146).
        16
           BHS, p.91, nota 24b.
        17
           DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987,
p.53.
        18
           Idem, ibidem.
        19
           BHS, p.92, nota 26a.
        20
           Cf. Bíblia de Jerusalém, p.111, nota i.

                                                                                        15 | P á g i n a
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IV – ÊXODO 4.24-26 EM VÁRIAS VERSÕES DA BÍBLIA

        Uma vez que já fizemos menção tanto ao texto hebraico quanto ao texto
grego de Êx 4.24-26, creio que seja importante citar também algumas de nossas
principais versões dessa perícope existentes em português, a fim de que tais
versões sejam analisadas à luz dos textos originais (hebraico e grego). Acredito
que esse tipo de abordagem poderá contribuir para o alcance de nossos
propósitos nesta monografia. Sendo assim, prossigamos em nosso estudo.


        4.1.     Em Algumas Versões Bíblicas em Português

        a) ARA (Almeida, Revista e Atualizada)

        24
             Estando Moisés no caminho, numa estalagem, encontrou-o o Senhor e o
quis matar.
        25
             Então, Zípora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio de seu filho,
lançou-o aos pés de Moisés e lhe disse: Sem dúvida, tu és para mim esposo
sanguinário.
        26
             Assim, o Senhor o deixou. Ela disse: Esposo sanguinário, por causa da
circuncisão.


        b) ARC (Almeida, Revista e Corrigida)
        24
             E aconteceu no caminho, numa estalagem, que o Senhor o encontrou , e
o quis matar.
        25
             Então Zípora tomou uma pedra aguda, e circuncidou o prepúcio de seu
filho, e o lançou a seus pés, e disse: Certamente me és esposo sanguinário.
        26
             E desviou-se dele. Então ela disse: Esposo sanguinário, por causa da
circuncisão.




                                                                      16 | P á g i n a
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         c) BH (Bíblia Hebraica)21

         24
              E no caminho, na estalagem, o (anjo do) Eterno encontrou-o (a Moisés),
e o quis matá-lo.
         25
              E Tsiporá tomou uma pedra afiada, cortou o prepúcio de seu filho e
jogou-o a seus pés (de Moisés) e disse: Tu (quase) ensangüentaste meu esposo!
         26
              E (o anjo) o deixou; então ela disse: Ensangüentaste meu esposo por
causa da circuncisão!


         d) BJ (Bíblia de Jerusalém)
         24
              Aconteceu que no caminho, numa hospedaria, Iahweh veio ao seu
encontro, e procurava fazê-lo morrer.
         25
              Séfora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio do seu filho, feriu-lhe
os pés, e disse: “Tu és para mim um esposo de sangue”.
         26
              Então, ele o deixou. Pois ela havia dito “esposo de sangue”, por causa
da circuncisão.


         e) BLH (Bíblia na Linguagem de Hoje)
         24
              Durante a viagem para o Egito, num lugar onde Moisés e a sua família
estavam passando a noite, o Deus Eterno se encontrou com Moisés e procurou
matá-lo.
         25
              Aí Zípora, a sua mulher, pegou uma pedra afiada, cortou o prepúcio do
seu filho e com ele tocou o pé de Moisés. E disse: - Você é um marido de sangue
para mim.
         26
              Ela disse isso por causa da circuncisão. E assim o eterno deixou Moisés
viver.




        21
           A tradução utilizada aqui é a de: GORODOVITS, David  FRIDLIN, Jairo. Bíblia Hebraica.
São Paulo, Editora e Livraria Sêfer Ltda., 2006.

                                                                                  17 | P á g i n a
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                      s


        f) BV (Bíblia Viva)
        24
             Durante a viagem, Moisés parou para passar a noite numa pensão. Ali o
Senhor apareceu e ameaçou matar Moisés.
        25
             Então Zípora circuncidou o filho e lançou a pele cortada aos pés de
Moisés. Fez isso e disse: “Que marido sanguinário você ficou!”
        26
             Disse isto por causa da circuncisão. Aí o Senhor deixou Moisés.


        g) NVI (Nova Versão Internacional)22

        24
             Numa hospedaria ao longo do caminho, o SENHOR foi ao encontro de
Moisés e procurou matá-lo.
        25
             Mas Zípora pegou uma pedra afiada, cortou o prepúcio de seu filho e
tocou os pés de Moisés. E disse: “Você é para mim um marido de sangue!”
        26
             Ela disse “marido de sangue”, referindo-se à circuncisão. Nessa
ocasião o Senhor o deixou.


        h) TEB (Tradução Ecumênica da Bíblia)
        24
             Ora, estando a caminho, no albergue, o SENHOR veio ao seu encontro
e procurou matá-lo.
        25
             Siporá tomou uma pedra afiada, cortou o prepúcio de seu filho e com
ele tocou-lhe os pés, dizendo: “És para mim um esposo de sangue”.
        26
             Então ele o deixou. Ela dizia “esposo de sangue” referindo-se à
circuncisão.


        4.1.       Apontamentos Sobre as Versões de Êx 4.24-26

        Essas oito versões de Êx 4.24-26 em português que compreendem, de
forma geral, praticamente a totalidade das versões bíblicas usadas pelos leitores
cristão-evangélicos no Brasil, nos permitem fazer algumas constatações bem

        22
             Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo, Editora Vida, 2000.

                                                                                         18 | P á g i n a
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                  s


interessantes. Quando comparadas aos textos originais anteriormente citados,
alguns detalhes curiosos podem ser notados. Vejamos quais são eles:

        a) Apontamentos sobre Êx 4.24
        Enquanto que as versões: ARA, BLH, BV e NVI mencionam “Moisés”
textualmente no verso 24 como sendo a personagem que o Senhor encontrou no
caminho e quis matar (a BH o menciona apenas entre parênteses), o que não
aparece na BHS e na LXX, as versões: ARC, BJ e TEB, contudo, omitem o seu
nome, preferindo assim a indefinição. Destas versões, chama-nos a atenção o fato
de a BH praticamente seguir a LXX, ao mencionar, ainda que entre parênteses,
que “o (anjo do) Eterno encontrou-o (a Moisés), e o quis matá-lo”. Além disso,
é curioso notar também que tanto a BLH quanto a BV observam que a referida
“tentativa de homicídio” protagonizada por Yahweh se deu no período da
“noite”, o que é omitido na BHS e na LXX, mas parece ser uma inferência
extraída do texto, pelo fato do encontro entre Yahweh/anjo do Senhor e o
personagem anônimo de Ex 4.24 ter se dado numa “estalagem”, isto é, um lugar
de repouso.23 Por fim, um fato bastante interessante é que entre as versões
citadas, a BLH é a única a mencionar o destino da viagem, isto é, o “Egito”, o
que não aparece na BHS e nem na LXX! Ela faz isso se baseando no itinerário
citado em Ex 4.19. Nos demais aspectos, os versos são muito semelhantes.


        b) Apontamentos sobre Êx 4.25

        Já no que se refere ao verso 25, as divergências de tradução parecem ser
mais significativas. As versões: ARA, BH e BV dizem que Zípora cortou o
prepúcio de seu filho e o “lançou” aos pés de Moisés (personagem este não
identificado na BHS e na LXX). Por outro lado, a ARC não especifica a
identidade da pessoa sobre cujos pés Zípora lançou o prepúcio de seu filho. A

        23
            Keel e Uehlinger mencionam a opinião de Judith M. Hadley, segundo quem a citação da
“estalagem” neste verso busca conferir legitimidade à sua instituição. (Cf. KEEL, Othmar 
UEHLINGER, Christoph. Gods, Goddesses, and Images of God. Minneapolis, Fortress Press, 1996,
p.247, nota 130).

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BLH e a NVI dizem que Zípora cortou o prepúcio de seu filho e com ele “tocou”
aos pés de Moisés. A TEB diz que o prepúcio “tocou-lhe os pés”, sem, porém,
revelar a identidade de quem tivera os pés tocados. Por fim, a BJ diz que “Séfora
(Zípora) cortou o prepúcio de seu filho, [e] feriu-lhe os pés”, também de forma
indefinida. Quanto ao final do verso 25, a BH é a versão que mais diverge das
demais. Enquanto as outras sete versões, em linhas gerais e com ligeiras
modificações, trazem: “Tu és para mim esposo sanguinário (de sangue)”, esta
última traz: “Tu (quase) ensangüentaste meu esposo” (onde o “Tu” indefinido
parece ser uma referência ao seu “filho”, ou ao “(anjo do) Eterno”, mencionado
no verso anterior, mas jamais uma referência a Moisés).

        c) Apontamentos sobre Êx 4.26

    Por fim, vejamos o verso 26. A ARA, a ARC, a BJ, a NVI e a TEB trazem de
forma indefinida o sujeito que fora deixado pelo Senhor no verso 26a, seguindo,
assim, a BHS e a LXX (seria Moisés?). Já a BH diz que “(o anjo) o deixou”,
acompanhando, dessa forma, algumas versões antigas da LXX.24 E, finalmente, a
BLH e a BV dizem que o sujeito deixado pelo “eterno/Senhor”, foi Moisés, o que
não concorda com os originais, hebraico e grego.


        4.2.       Conclusão

    A partir dessas informações, podemos chegar a algumas conclusões prévias
sobre a tamanha disparidade existente entre as versões da Bíblia em português
aqui alistadas e a BHS/LXX:

        a) Entre as versões pesquisadas, a ARC, a BJ e a TEB são aquelas que
               seguem mais de perto (quase literalmente) a BHS;

        b) As versões: ARA, BH, BLH, BV e NVI incluem o nome de “Moisés”
               na perícope por inferência contextual anterior (Êx 4.18-23) e posterior
               (Êx 4.27-31), e não por seguirem a BHS e/ou a LXX (que não trazem o
        24
             Cf. a nota 13 (acima).

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            seu nome), uma vez que o nome de Moisés aparece repetidamente
            nestes outros versos;

        c) As versões acima arroladas (item b), embora mencionem o nome de
            “Moisés” sem seguir o TM, ao fazê-lo, não introduzem mudanças
            conceituais que comprometem o sentido original do texto bíblico. Pelo
            contrário, elas levam em conta o contexto imediato da passagem, o
            qual sugere de forma natural que Moisés seja um dos personagens de
            Êx 4.24-26;

        d) Tanto a interpretação mais literal quando a interpretação menos
            literal, de forma geral, possuem seus pontos positivos e negativos. A
            interpretação mais literal, por exemplo, é boa quando compreendemos
            o esquema mental e psicológico daquele que nos propomos a traduzir e
            interpretar (se é que isso seja absolutamente possível de ser feito), caso
            contrário, a tradução pode se tornar ininteligível e arcaica. Já a
            interpretação menos literal, embora possa ser mais contextualizada e
            até mesmo mais “moderna”, pode, contudo, incorrer no risco de
            introduzir conceitos e ideologias estranhos aos pretendidos pelo autor
            original do texto (caso o tradutor não atente para isso). Neste último
            caso, um dos maiores desafios do tradutor é ser “atual”, sem, contudo,
            ser anacrônico em sua tradução.

        e) Finalmente, podemos depreender de tudo isso que todas as versões
            bíblicas devem ser lidas/seguidas tendo como ponto de partida a sua
            comparação com o texto original e suas respectivas peculiaridades.




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V – INTERPRETAÇÕES SOBRE ÊXODO 4.24-26
        Depois de tudo o que vimos até aqui, citaremos agora algumas das
principais interpretações sobre esta perícope,25 no intuito de poder melhor
compreendê-la, bem como, ofereceremos ao final uma nova proposta de
interpretação para esta passagem.


        5.1. A Interpretação mais Comum

        Segundo Hyatt,26 a interpretação mais comum de Êx 4.24-26 é a seguinte:
como Moisés e a sua família estavam em jornada até o Egito, Yahweh procurou
matá-lo, estando zangado porque Moisés não havia sido circuncidado. Zípora, a
fim de impedir tal tragédia, imediatamente circuncidou seu filho. Ela tomou o
prepúcio ensangüentado do filho e com ele tocou a genitália de Moisés (motivo
pelo qual o eufemismo “seus pés” é usado). Tal ato teve o seu caráter substitutivo
(Gerson foi circuncidado no lugar de Moisés). Após a realização desta
circuncisão substitutiva, Zípora se dirige, então, a Moisés, com as palavras:
“certamente você é um esposo de sangue para mim!”. Então, Yahweh deixou
Moisés sozinho.


        5.2. A Interpretação de Ronald E. Clements

         De acordo com Clements,27 a perícope ora em estudo mostra Moisés
sendo atacado por uma força maligna do deserto, cujo narrador identificou com o
Senhor Deus, uma vez que ele (o autor) considerava todos os poderes divinos

         25
            Para obter um resumo das várias interpretações sobre esta passagem, veja: DURHAM, John I.
Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987, p.57. Crüsemann vê a
referência à circuncisão neste relato como forma de comprovação etiológica de um costume jurídico. (Cf.
CRÜSEMANN, Frank. A Torá: teologia e história social da lei do Antigo Testamento. [Tradução de
Haroldo Reimer]. Petrópolis, Vozes, 2001, p.387). Cf. também: THOMAS, W. H. Griffith. Through the
Pentateuch. Grand Rapids, Kregel Publications, 1985, p.80.
         26
            HYATT, J. P. Exodus. The New Century Bible Commentary. England, Marshall, Morgan 
Scott, 1971, p.87.
         27
            CLEMENTS, Ronald E. Exodus. The Cambridge Bible Commentary on the New English
Bible. Cambridge, Cambridge University Press, 1972, p.31.

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como ligados a ele (Yahweh). A razão sugerida para o ataque é a negligência da
circuncisão de Moisés, aparentemente sobre ele mesmo, mas possivelmente
também sobre seu filho. Esta interpretação de Clements se baseia, sobretudo, no
conceito veterotestamentário da ambivalência divina, segundo a qual, todos os
acontecimentos da vida (tanto bons quanto maus) tinham a sua origem em
Deus.28 Esses traços da ambivalência divina podem ser vistos, por exemplo, em
textos tais como: 1 Sm 1.5,6; 2.6ss; 16.23; Jó 2.10; Is 45.7 etc.

        5.3. A Interpretação de Hans Kosmala

        Já segundo Kosmala,29 esta passagem de Êxodo foi relatada aqui por causa
dos versos precedentes que falam da morte do filho primogênito. A ira da
divindade, que é um deus do deserto midianita, é dirigida contra a criança porque
ela não foi circuncidada. Para aplacar a ira dessa divindade, Zípora corta o
prepúcio da criança e toca com o prepúcio as pernas do seu próprio filho,
realizando um ritual de sangue, o qual foi usado para afugentar o mal (através da
circuncisão que foi realizada). Ela, então, profere uma fórmula ritual à criança:
“Um mesmo sangue circuncidado você tem com relação a mim”. A divindade,
vendo o sangue e ouvindo as palavras de Zípora, desaparece.

        5.4. A Interpretação de Nelson Kilpp

        Para Nelson Kilpp,30 Javé, o Deus midianita, atacou Moisés, o não-
midianita, pelo fato deste último ter invadido o território que estava restringido a

        28
            Fohrer explica o conceito de ambivalência divina nestes termos: “A crença em demônios foi
essencialmente estranha ao verdadeiro javismo. Impressionado pela noção da singularidade de Iahweh,
recusou-se a reconhecer quaisquer outros poderes. Fenômenos misteriosos, medonhos e horrificantes
foram incorporados à descrição do próprio Deus ou associados a um ser celestial ou espírito enviado por
Iahweh. Conseqüentemente, Iahweh assumiu feições ‘demoníacas’ (Gn 32.22-31; Êx 4.24-26) – ou, mais
exatamente, veio a aparecer numa luz irracional e numinosa – e o limite entre seres celestiais e demônios
ficou obscurecido. Por isso, os demônios são raramente mencionados”. (Cf. FOHRER, Georg. História
da Religião de Israel. [Tradução de Josué Xavier]. São Paulo, Academia Cristã / Paulus, 2006, p.228).
         29
            KOSMALA, Hans. Studies , Essays and Reviews. Cheltenham, Brill Archive, 1978, pp.14-28.
         30
            KILPP, Nelson. Os Poderes Demoníacos no Antigo Testamento. In: GARMUS, Ludovico.
(ed.). Diabo, Demônio e Poderes Satânicos. [Série Estudos Bíblicos]. Petrópolis, Editora Vozes, 2002,
p.26.

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este povo.31 Quanto a Zípora, ela não é atacada justamente por ser midianita.
Além do mais, ela sabe como se portar diante dessa divindade (Javé) já que a
conhece. Tal hipótese significa então que o Deus Javé dos midianitas deveria
possuir originalmente os traços característicos de um demônio do deserto. Assim,
o sangue do prepúcio lançado sobre Moisés conseguiu afastar Javé e fazê-lo
desistir de seu intento. Além disso, Kilpp também menciona outra forma de se
entender a passagem, segundo a qual a tradição original do texto ainda não
tratava de Javé, mas de um demônio do deserto que, no período da noite, atacava
os viajantes que paravam na pousada localizada em seu território. Se tal
interpretação estiver correta, então, Israel, ao incorporar a tradição pré-israelita
em sua própria história com Yahweh, acabou substituindo o desconhecido
demônio por Yahweh, atribuindo, assim, a este último, as características de tal
demônio.


         5.5. A Interpretação de Georg Fohrer

        A opinião de Fohrer32 é que essa breve narrativa da circuncisão do filho de
Moisés por sua mãe, Zípora, tem o propósito de confirmar ou legitimar a
mudança da circuncisão, outrora feita em adultos, para a circuncisão de infantes.
Além disso, Fohrer sugere ainda que a passagem, originalmente, pudesse se tratar
também de um rito de virilidade ou de uma iniciação ao matrimônio (cf. Gn
34.14ss).33 Todavia, diferentemente de Kilpp, Fohrer prefere deixar em aberto a



         31
           No que diz respeito à duração da estadia de Moisés em Midiã, de acordo com a tradição
judaica posterior, os 120 anos de vida de Moisés podem ser divididos em três etapas: Desde o seu
nascimento até os 40 anos de idade, ele teria sido um príncipe no Egito; dos 40 aos 80 anos ele viveu
exilado em Midiã; e, dos 80 aos 120 anos, ele se tornou líder dos israelitas. (Cf. ASIMOV, Isaac.
Asimov’s Guide to the Bible. [The Old and New Testaments]. New York, Wings Books, 1981,
pp.129,130).
        32
           FOHRER, Georg. História da Religião de Israel. [Tradução de Josué Xavier]. São Paulo,
Academia Cristã / Paulus, 2006, p.39.
        33
           FOHRER, Georg. Estruturas Teológicas do Antigo Testamento. [Tradução de Álvaro Cunha].
Santo André, Editora Academia Cristã, 2006, p.192. Estas opiniões de Fohrer também são compartilhadas
por Gunneweg. Cf. GUNNEWEG, Antonius H. J. Teologia Bíblica do Antigo Testamento. Vol.1.
[Tradução de Werner Fuchs]. São Paulo, Teológica/Loyola, 2005, pp.188,189.

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hipótese sobre a narrativa tratar ou não da circuncisão como um elemento de
proteção contra os demônios.

        5.6. A Interpretação de Hugo Gressmann

        De acordo com o erudito alemão, H. Gressmann,34 a remoção do prepúcio
realizada por Zípora, teve o propósito de evitar um ataque fatal de um demônio
sobre Moisés, demônio este mais tarde identificado com Yahweh, o qual exigia o
direito do primeiro intercurso sexual com a noiva virgem na noite de núpcias.35

        5.7. Nova Interpretação Proposta

        E foi [Moisés] no caminho, na pousada, e encontrou-lhe Yahweh, e quis
matá-lo. (verso 24).

        Quando Yahweh se encontra com Moisés no caminho e quer matá-lo (Êx
4.24), isto não se deve ao fato de Moisés não ser ainda circuncidado, mas se
deve, antes, ao seu homicídio praticado anteriormente (cf. Êx 2.11,12).36 Como
Moisés era filho de pais hebreus (Êx 2.1-10), os quais, por sua vez, deveriam ser
naturalmente observadores da circuncisão abraâmica (Gn 17.23-27), logo, ele já
devia estar circuncidado há bastante tempo a esta altura da sua vida. Além do
mais, como a circuncisão também era praticada no Egito, é muito difícil imaginar
que Moisés ainda não tivesse sido circuncidado.37 Na verdade, o filho de Moisés

        34
            GRESSMANN, H. Mose und seine Zeit, pp.55-61. Apud: DURHAM, John I. Exodus. Word
Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987, p.57. Cf. também: BERGANT, Dianne 
KARRIS, Robert J. (orgs.). Comentário Bíblico. Vol.1. [Tradução de Barbara Theoto Lambert]. São
Paulo, Edições Loyola, 2001, p.96.
         35
            Essa interpretação de Gressmann reflete o conceito medieval da primae noctis (primeira noite),
costume este que reservava ao rei o direito de ter o primeiro intercurso sexual com todas as noivas recém-
casadas.
         36
            Walton, Matthews e Chavalas também entendem que Yahweh deseja matar a Moisés devido
ao homicídio que ele praticara em Êx 2.11,12. (Cf. WALTON, John H., MATTHEWS, Victor H. 
CHAVALAS, Mark W. Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento. [Tradução de Noemi Valéria
Altoé]. Belo Horizonte, Editora Atos, 2003, pp.80,81).
         37
            COLE, R. Alan. Êxodo: introdução e comentário. [Tradução de Carlos Oswaldo Pinto]. São
Paulo, Vida Nova / Mundo Cristão, 1990, p.76. Para obter informações mais detalhadas sobre a prática da
circuncisão, confira: ROPS, Henri Daniel. A Vida Diária nos Tempos de Jesus. [Tradução de Neyd
Siqueira]. São Paulo, Vida Nova, 1991, pp.74-76; VAUX, R. de. Instituições de Israel no Antigo
Testamento. [Tradução de Daniel de Oliveira]. São Paulo, Teológica / Paulus, 2003, pp.69-72.

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é quem é circuncidado (cf. v.25).38 Diante disso, a minha proposta é a seguinte:
quem, de fato, deseja matar a Moisés aqui é uma divindade (demônio) egípcia
dos mortos, (Anúbis/Osíris?), a qual – no caso de Anúbis – era representada pelo
chacal, animal que vivia no deserto,39 e que, mais tarde, foi identificado na
tradição pré-israelita com Yahweh. Anúbis estaria irritado pelo fato de um não-
egípcio, Moisés, matar um egípcio em seu território (Êx 2.11,12), o que seria
uma prerrogativa que estaria reservada somente a ele, deus dos mortos. Assim,
essa divindade egípcia vai atrás de Moisés, com o propósito de puni-lo pelo seu
atrevido ato. A divindade o encontra                        %rDÞb;,   “no caminho”, isto é,

presumivelmente já em seu território egípcio (ou bem próximo dele) e então
procura matá-lo pelo seu ato insolente.

        E tomou Zípora uma faca de pedra e cortou o prepúcio de seu filho, e
lançou aos seus pés [de Moisés], e disse: certamente esposo de sangues és tu
para mim. (verso 25).


        Aqui, o papel desempenhado por Zípora chama a nossa atenção, pois, ao
realizar a circuncisão de seu filho com uma faca de pedra40 e com os gestos que
se seguem, ela parece uma espécie de “exorcista”.41 Zípora realiza um gesto
metonímico, uma ação mágica apotropaica que irá afugentar a divindade (cf.
v.26). Isto parece revelar que as trocas simbólicas da religião mágica no mundo

        38
             Paul Hoff comenta acertadamente que “se Moisés tivesse se apresentado perante o povo
israelita sem haver circuncidado a seu filho, sem haver cumprido o Antigo Concerto, ter-se-ia anulado a
sua influência juntos deles”. (Cf. HOFF, Paul. O Pentateuco. [Tradução de Luiz Aparecido Caruso].
Venda Nova, Editora Vida, 1993, p.110).
          39
             MELLA, Federico A. Arborio. O Egito dos Faraós. São Paulo, Hemus Editora, 1998, p.59.
          40
             Segundo Propp, “o instrumento de pedra fala sobre a origem primitiva do rito. Mas, na
verdade, pedras ainda eram usadas na Idade do Ferro de Israel, para uma variedade de propósitos”. (Cf.
PROPP, William H. C. Exodus 1-18. A New Translation with Introduction and Commentary. [The
Anchor Bible]. New York, Doubleday, 1998, p.219).
          41
             Meier chama a nossa atenção para o fato de que nas culturas adjacentes e entre os israelitas,
somente os homens realizavam o importante ritual da circuncisão. Ele, então, pergunta: “Como Zípora
ousou realizar tal tarefa?”. (Cf. MEIER, Levi. Moisés: o príncipe, o profeta. [Tradução de Ana Glaucia
Ceciliato]. São Paulo, Madras Editora Ltda, 2001, p.47). De acordo com Mcrae, Zípora realiza o rito da
circuncisão, não porque desejava obedecer ao Deus de Moisés, mas primariamente porque queria salvar o
seu marido. (Cf. MCRAE, William J. A Vital Prerequisite for Service: an exposition of Exodus 4:18-6:8.
Emmaus Journal. Vol.4:1.1995. p.41).

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do antigo Israel, provavelmente estavam especialmente nas mãos das mulheres.42
Embora essa espécie de perspectiva mágico-religiosa do texto seja criticada por
enxergar a passagem como uma “curiosa relíquia do folclore e da superstição”,43
todavia, acho muito plausível realizar tal leitura do texto, levando em
consideração a antiguidade do mesmo. Após a realização de seu ritual, Zípora
então se dirige a Moisés num tom de crítica: “certamente esposo de sangues
(sanguinário) és tu para mim”. Neste caso, então, ao chamar Moisés de “esposo
sanguinário” (Êx 4.26), Zípora não o está criticando pela sua não-circuncisão
(pois Moisés já era circuncidado) e, nem tampouco pela não-circuncisão de seu
filho, antes, ela está fazendo referência ao homicídio que Moisés havia praticado
anteriormente (Êx 2.11,12) e que, agora, atraiu a vingança de Anúbis, o qual
deseja matá-lo pelos motivos descritos no comentário feito ao verso anterior.

        E [Yahweh] se apartou dele [de Moisés], quando [Zípora] disse: esposo
de sangues, por causa da circuncisão. (verso 26).


        Este verso mostra que o ritual da circuncisão praticado por Zípora, o qual
envolveu o derramamento de sangue e o lançamento do prepúcio de seu filho aos
pés de Moisés, fez com que a divindade egípcia (posteriormente identificada com
Yahweh) fugisse, assim como a aspersão de sangue sobre as vergas das portas
havia afastado antes ao “destruidor” das residências dos hebreus no episódio da
morte dos primogênitos (cf. Êx 12.13,23).44 Durante a realização da circuncisão,
Zípora pronuncia uma espécie de fórmula ritualística: “esposo de sangue, por
causa da circuncisão” e, então, a divindade (demônio) é afugentada diante desse
ritual e se retira dali. Aliás, seria bem interessante seguir o Pentateuco
        42
            CORNELLI, Gabriele. “É um Demônio!”: o Jesus histórico e a religião popular. Dissertação
de Mestrado, São Bernardo do Campo, Universidade Metodista de São Paulo, 1998, p.112.
         43
            Esta crítica pode ser encontrada, por exemplo, em: PFEIFFER, Charles F.  HARRISON,
Everett F. The Wycliffe Bible Commentary. Chicago, Moody Press, 1987, p.56.
         44
            Kilpp também entende que o “Destruidor” ou “Exterminador” mencionado em Êx 12.21-23,
seja uma referência a Javé, o qual acabou absorvendo tradições originalmente vinculadas a poderes
maléficos ou demoníacos. (Cf. KILPP, Nelson. Os Poderes Demoníacos no Antigo Testamento. In:
GARMUS, Ludovico. (ed.). Diabo, Demônio e Poderes Satânicos. [Série Estudos Bíblicos]. Petrópolis,
Editora Vozes, 2002, pp.26,27).

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Samaritano neste verso, em vez de seguir a BHS. Digo isso porque em vez de
entender que Yahweh (ou a divindade egípcia) “se apartou”/fugiu “de Moisés”,
WNM,_mi,   “dele” (de acordo com a BHS), a divindade teria fugido, na verdade,

hN|M,_mi, “dela”, ou seja, de Zípora (como declara o Pentateuco Samaritano)45. Tal
interpretação pode se apoiar no fato de que a divindade foge “dela” (de Zípora),
justamente porque é “ela” quem realiza o ritual apotropaico.




           45
                Cf. a nota 19 (acima).

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                 s


CONCLUSÃO

        Em vista de tudo quanto foi dito até aqui, podemos chegar a algumas
conclusões em nosso trabalho:



        1. A perícope de Êx 4.24-26 é, de fato, uma interpolação, a qual possui
            um registro muito antigo (talvez o mais antigo) sobre a circuncisão;

        2. As indefinições pronominais e verbais existentes na passagem parecem
            levar em consideração o seu contexto imediato, dentro do qual Moisés
            aparece como personagem principal e, dessa forma, elas pressupõem
            que ele é o personagem central do texto;

        3. A circuncisão tem um papel de destaque, pois ela faz parte de um ritual
            apotropaico que parece ser bastante primitivo, o qual é praticado por
            Zípora;

        4. A expressão “esposo (noivo) sanguinário” empregada por Zípora
            possui ares de “fórmula ritual”, a qual, juntamente com a própria
            circuncisão, é utilizada para afugentar a divindade (demônio);

        5. O texto passou por um interessante processo de elaboração, segundo o
            qual, a antiga divindade (demônio) teve os seus traços característicos
            posteriormente compartilhados por Yahweh. Isto significa que Israel
            introduziu elementos pré-israelitas em sua história, adaptando-os à sua
            religião monoteísta que, no presente texto, também é teologicamente
            ambivalente;

        6. Yahweh (o demônio) não quer matar a Moisés pela não-circuncisão
            dele ou de seu filho, mas sim pelo seu homicídio anteriormente
            praticado (Êx 2.11,12). Moisés ainda permanece culpado diante de
            Yahweh (demônio) e, portanto, corre perigo de morte;



                                                                       29 | P á g i n a
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                 s


        Finalmente, confesso não saber ao certo se consegui “decifrar” o enigma
proposto por esta perícope, ou se não o consegui. Não sei se neste embate em
particular foi “Édipo” quem levou a melhor, ou se foi a própria “Esfinge”. Bem,
seja como for, uma coisa é certa: este enigmático texto, segundo penso, ainda
continuará a desafiar por um longo tempo todos quantos dele se aproximarem na
tentativa de interpretá-lo. Nós o “decifraremos” ou seremos por ele “devorados”?
Ora, este é um outro enigma que permanece sem solução.




                                                                   30 | P á g i n a
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               s


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                                                               32 | P á g i n a
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© É permitida a reprodução parcial deste artigo desde que citada a sua fonte.
Citação Bibliográfica: VAILATTI, Carlos Augusto. “Decifra-me ou Devoro-te”:
Em Busca de Uma Solução Exegética e Hermenêutica para ao Enigma de Êxodo
4.24-26.[Artigo]. São Paulo, Publicação do Autor, 2011.




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Decifra-me ou Devoro-te: Em Busca de Uma Solução Exegética e Hermenêutica para o Enigma de Êxodo 4.24-26

  • 1. d ^ , s 1 ARTIGO TEOLÓGICO “DECIFRA-ME OU DEVORO-TE”: EM BUSCA DE UMA SOLUÇÃO EXEGÉTICA E HERMENÊUTICA PARA O ENIGMA DE ÊXODO 4.24-26 por Carlos Augusto Vailatti RESUMO Este artigo tem por objetivo buscar descobrir o significado da perícope bíblica de Êxodo 4.24-26, texto este que, segundo muitos estudiosos, situa-se entre aquelas passagens mais difíceis de serem compreendidas em todo o Êxodo. Através da investigação da Bíblia Hebraica (BHS), da Septuaginta (LXX), de algumas Versões Bíblicas em Português e também de outras Interpretações dadas ao presente texto bíblico, tentar-se-á, portanto, descobrir o seu significado. Palavras-Chave: Êxodo 4.24-26, Exegese, Hermenêutica, Interpretação Bíblica. ABSTRACT This article aims to seek out the meaning of the biblical pericope in Exodus 4.24-26, this text, according many scholars, is among those most difficult passages to be understood throughout the Exodus. Through research of the Hebrew Bible (BHS), Septuagint (LXX), some Bible Versions in Portuguese and also other Interpretations given to this biblical text, it will try, therefore, to find its meaning. Keywords: Exodus 4.24-26, Exegesis, Hermeneutics, Biblical Interpretation. 1 Este texto foi apresentado inicialmente em forma de monografia em maio/2009 ao Seminário Teológico Servo de Cristo (STSC), SP. W
  • 2. d ^ , s ÍNDICE INTRODUÇÃO 3 I – O CONTEXTO DA PASSAGEM 5 II – QUESTÕES PRELIMINARES 7 III – ÊXODO 4.24-26 NA BHS E NA SEPTUAGINTA 9 3.1. Êxodo 4. 24-26 na BHS e a Sua Tradução Literal 9 3.2. Análise Léxico-Morfológica da BHS 9 3.3. Êxodo 4. 24-26 na LXX e a Sua Tradução Literal 11 3.4. Análise Léxico-Morfológica da LXX 12 3.5. Considerações Críticas sobre a BHS e a LXX 14 IV – ÊXODO 4.24-26 EM VÁRIAS VERSÕES DA BÍBLIA 16 4.1. Em Algumas Versões Bíblicas em Português 16 4.2. Apontamentos Sobre as Versões de Êx 4.24-26 18 4.3. Conclusão 20 V – INTERPRETAÇÕES SOBRE ÊXODO 4.24-26 22 5.1. A Interpretação mais Comum 22 5.2. A Interpretação de Ronald E. Clements 22 5.3. A Interpretação de Hans Kosmala 23 5.4. A Interpretação de Nelson Kilpp 23 5.5. A Interpretação de Georg Fohrer 24 5.6. A Interpretação de Hugo Gressmann 25 5.7. Nova Interpretação Proposta 25 CONCLUSÃO 29 BIBLIOGRAFIA 31 2|Página
  • 3. d ^ , s INTRODUÇÃO Quando lemos a Bíblia, vez por outra, acabamos nos deparando com aqueles textos que são mais difíceis de serem compreendidos do que outros, e que, portanto, nos soam enigmáticos. E o texto que será objeto de nosso estudo, Êxodo 4.24-26, se enquadra perfeitamente neste perfil de “texto enigmático”. Aliás, essa obscura passagem da Bíblia, particularmente, me faz pensar no conhecido relato do “Enigma da Esfinge”. Conta-nos a lenda grega que a Esfinge, aquela criatura mitológica, invadiu a cidade grega de Tebas, destruiu os seus campos e afugentou os seus moradores. A criatura apenas aceitou se retirar do local, caso alguém conseguisse decifrar o seu enigma. Do contrário, a pessoa seria devorada: “Decifra-me, ou devoro-te!”. E o seu enigma era: “Qual é o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite?”. Então, Édipo, filho do rei de Tebas, solucionou o enigma, respondendo: “o homem, pois ele engatinha quando pequeno, anda com as duas pernas quando é adulto e usa um cajado para se apoiar na velhice”. Ao ver seu enigma resolvido, a Esfinge se suicidou, lançando-se em um abismo. Édipo, por sua vez, como prêmio pela resposta, acabou recebendo o reino de Tebas e a mão da rainha viúva, sua própria mãe, Jocasta.2 O nosso desafio nesse trabalho, semelhantemente ao desafio de Édipo diante da Esfinge, será buscar “solucionar” o enigmático texto de Êxodo 4.24-26. Para tanto, nos utilizaremos da exegese e da hermenêutica a fim de tentarmos desvendar os “mistérios” dessa pequena, mas controvertida perícope. Embora o texto seja bem pequeno (possui apenas três versos), todavia, ele tem sido alvo de muitos debates e inúmeras controvérsias ao longo dos tempos. Aliás, sobre essa perícope, Childs escreveu: “Poucos textos contêm mais problemas para a interpretação do que estes poucos versos, os quais têm 2 COMMELIN, P. Mitologia Grega e Romana. [Tradução de Eduardo Brandão]. São Paulo, Martins Fontes, 1997, p.240. 3|Página
  • 4. d ^ , s continuado a desconcertar através dos séculos”.3 Além disso, Durham comenta: “Estes versos estão entre os mais difíceis do livro de Êxodo, não em termos de sua tradução, a qual é bastante simples, mas em termos de seu significado e de sua localização neste contexto particular”.4 Já, Hyatt, de forma mais resumida, mas não menos incisiva, declara: “Esta é a passagem mais obscura do livro de Êxodo”.5 Por fim, a TEB, em nota, assim se refere a esta passagem: “Estes três versículos enigmáticos”.6 Portanto, é a partir das opiniões desses eruditos, bem como, a partir das próprias dificuldades internas em torno das quais o texto está inserido, que resolvi dar a esse artigo o título supra mencionado. Bem, vejamos então o que a leitura de: “Decifra-me ou Devoro-te”: Em Busca de uma Solução Exegética e Hermenêutica para o Enigma de Êxodo 4.24-26 nos reserva. 3 CHILDS, Brevard S. The Book of Exodus: A Critical, Theological Commentary. Philadelphia, Westminster, 1974, p.95. 4 DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987, p.56. 5 HYATT, J. P. Exodus. The New Century Bible Commentary. England, Marshall, Morgan Scott, 1971, p.86. 6 TEB – Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo, Edições Loyola, 1994, p.105, nota r. 4|Página
  • 5. d ^ , s I – O CONTEXTO DA PASSAGEM A fim de entendermos melhor a passagem de Êx 4.24-26 é necessário mencionar antes, ainda que brevemente, o contexto dentro do qual ela está inserida.7 O capítulo 1 do livro de Êxodo busca descrever como é que Israel vivia no Egito antes de Moisés: os israelitas começaram a viver sob o governo de um Faraó que não havia conhecido ao seu patriarca, José, o qual os oprimia (1.1-10); eles trabalhavam como escravos (1.11-13) e, inclusive, chegaram a sofrer a tentativa de um infanticídio ordenado pelo próprio Faraó (1.15-22). O capítulo 2 fala sobre o início da vida de Moisés: o seu nascimento foi conturbado, pois ele teve que ser escondido para não ser morto devido ao decreto de Faraó, mas a providência divina o livrou do infanticídio, sendo que, ironicamente, ele acabou chegando à fase adulta justamente “debaixo do mesmo teto” daquele que queria matá-lo (2.1-10); já adulto, Moisés busca fazer justiça com as próprias mãos, pois, ao ver um hebreu sendo maltratado por um egípcio, acaba por matar a este último, ação esta que chegou ao conhecimento de Faraó, o qual quis matá-lo (2.11-15a); ele, então, foge de Faraó para Midiã, onde conhece a sua esposa, Zípora, e de quem tem um filho, Gerson (2.15b-22); neste ínterim, o rei do Egito morre e Deus resolve dar continuidade na execução de Seu acordo feito com Abraão no passado (2.23-25). O capítulo 3 descreve o encontro que Moisés teve com Deus, bem como, a missão da qual ele foi divinamente incumbido: Moisés, no seu trabalho pastoril, experimenta uma inesperada teofania (3.1-9) e também recebe a tarefa de ser o libertador do povo de Israel da escravidão egípcia (3.10-22). Por fim, o capítulo 4 trata de mostrar a reação de Moisés diante da sua divina missão: Moisés fornece inúmeras desculpas, a fim de não querer cumprir a sua difícil tarefa, mas Deus não aceita o seu “não” como resposta (4.1-17); ele, 7 Para um esboço de todo o livro de Êxodo, veja: COLE, R. Alan. Êxodo: introdução e comentário. [Tradução de Carlos Oswaldo Pinto]. São Paulo, Vida Nova / Mundo Cristão, 1990, p.50. 5|Página
  • 6. d ^ , s então, decide partir de Midiã rumo ao Egito, recebe mais detalhes sobre a sua importante missão e compartilha tais informações com o seu irmão, Arão (4.18- 23, 27-31). Porém, durante a jornada de Moisés em direção ao Egito, um fato muito estranho e curioso acontece: Deus o encontra no meio do caminho, numa estalagem, e quer matá-lo. Bem, após este pano de fundo panorâmico dos primeiros capítulos do livro de Êxodo, partamos, então, para o levantamento de algumas questões que muito devem nos ajudar no estudo do nosso tema. 6|Página
  • 7. d ^ , s II – QUESTÕES PRELIMINARES Ao lermos a perícope de Êx 4.24-26, algumas perguntas surgem naturalmente.8 Abaixo, tentaremos expor as questões que julgamos serem mais significativas para o auxílio na compreensão deste texto: 1. Por que a perícope de Êx 4.24-26 está situada no local onde está, uma vez que ela interrompe claramente o fluxo narrativo de Êx 4.18-23, 27- 31, o qual parece ser completo sem ela? Qual o propósito dessa interpolação? 2. Por que há tanta indefinição (como veremos a seguir) quanto à identidade dos sujeitos das ações e quanto aos objetos que sofrem tais ações nesta passagem? Será que esse “silêncio” está tomando como certo que “Moisés”, o qual é citado nos versículos precedentes (cf. Êx 4.21-23), é o personagem mais apropriado e “óbvio” desse “quebra- cabeça”? 3. Por que a circuncisão é tão importante no contexto dessa passagem, ao ponto de ser citada repetidamente (nos versos 25 e 26)? 4. O que significa a enigmática expressão: “esposo (noivo) sanguinário”, proferida por Zípora? 5. Por que desde o início do livro de Êxodo, a vida de Moisés parece estar sempre “por um fio”? Moisés escapa da morte quando ainda é bebê e é colocado numa cesta no rio (Êx 2.1-9). Depois disso, Faraó quer matá- lo (Êx 2.11-15). E, por fim, até mesmo o próprio Deus também quer matá-lo (Êx 4.24)! Por que estes relatos sobre estas várias tentativas de homicídio são tão importantes, ao ponto de serem repetidos em diferentes contextos? 8 Ronald B. Allen também propõe questões semelhantes a estas em seu artigo sobre esta passagem de Êxodo. Cf. ALLEN, Ronald B. The “Bloody Bridegroom” in Exodus 4:24-26. [Bibliotheca Sacra]. Nº 153. Dallas, Dallas Theological Seminary, 1996, pp.260-261. 7|Página
  • 8. d ^ , s 6. Qual é o ponto nevrálgico desta perícope? É a circuncisão? É destacar a importância do papel da mulher nos rituais religiosos, uma vez que é uma mulher, Zípora, quem realiza a circuncisão? É destacar o “outro lado” de Deus, isto é, o “seu lado maligno/demoníaco”, pois Ele quer matar a Moisés? Bem, estas são apenas algumas das várias perguntas às quais este enigmático texto nos remete. Ao final do nosso estudo, tentaremos respondê-las, senão todas, pelo menos parte delas. Por ora, basta apenas mencioná-las aqui. A seguir, abordaremos a perícope que está sendo estudada a partir dos textos originais. 8|Página
  • 9. d ^ , s III – ÊXODO 4.24-26 NA BHS E NA LXX A fim de que possamos vislumbrar a perícope de Ex 4.24-26 sob os seus mais variados ângulos, creio que se faça necessário observá-la primeiramente a partir dos textos originais, os quais nos fornecerão a base para o desenvolvimento do nosso trabalho. Entretanto, para que a nossa monografia seja mais enriquecida, acredito que não somente o original hebraico, mas também o texto grego da Septuaginta sejam, ambos, importantes como ponto de partida para o nosso estudo. Sendo assim, mãos à obra. 3.1. Êxodo 4. 24-26 na BHS9 e a Sua Tradução Literal xQ;’Tiw: 25`At*ymih] vQEßb;yw: hw”ëhy WhveäGp.Yiw: !Al+MB; %rDÞb; yhiîyw: 24 yKió rm,aTo§w: wyl’_gr:l. [G:ßT;w: Hn”ëB. Tl;r[‘-ta, ‘trok.Tiw: rcoª hr”øPoci `yli( hT’Þa; ~ymi²D”-!t;x] `tl{)WMl; ~ymiÞD” !t:ïx] hr”êm.a’( za’… WNM,_mi @r,Yißw: 26 24 E foi no caminho, na pousada, e encontrou-lhe Yahweh, e quis matá-lo. 25 E tomou Zípora uma faca de pedra e cortou o prepúcio de seu filho, e lançou aos seus pés, e disse: certamente esposo de sangues és tu para mim. 26 E se apartou dele, quando disse: esposo de sangues, por causa da circuncisão. 3.2. Análise Léxico-Morfológica da BHS10 Verso 24 Vocábulo Tradução yhiîyw: E foi (verbo, qal, vav consec. imperf., 3ª p. masc. sing. apocopada). 9 ELLIGER, K. RUDOLPH, W. (eds.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. 10 Análise baseada em: BibleWorks 6.0. Software. Norfolk, USA, 2003; DAVIDSON, Benjamin. The Analytical Hebrew and Chaldee Lexicon. Grand Rapids, Zondervan Publishing House, 1981; GESENIUS, H. W. F. Geseniu’s Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament. [Translated by Samuel Prideaux Tregelles]. Grand Rapids, Baker Book House, 1979; HOLLADAY, William L. (ed.). A Concise Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament. Grand Rapids, William B. Eerdmans Publishing Company / Leiden, E. J. Brill, 1988. 9|Página
  • 10. d ^ , s %rDÞb; no caminho (prep. + artigo + nome comum sing. absoluto) !Al+M’B; na pousada (prep. + artigo + nome comum, masc., sing., absoluto) WhveäGp.Yiw: e encontrou-lhe (verbo, qal, vav consec., imperf., 3ª p., masc.,sing.) hw”ëhy Yahweh (nome próprio) vQEßb;yw: e quis (verbo, piel, vav consec., imperf., 3ª p. masc. sing.) At*ymih] matá-lo (verbo, hifil, infinit., construto, sufixo, 3ª p. masc.sing.) Verso 25 Vocábulo Tradução xQ;’Tiw: E tomou (verbo, qal, vav consec., imperf., 3ª p. fem.sing.) hr”øPoci Zípora (nome próprio) rcoª faca de pedra (nome comum, masc., sing., absoluto) ‘trok.Tiw: e cortou (verbo, qal, vav consec., imperf., 3ª p. fem.sing.) tl;r[‘-ta, prepúcio de (partíc. de obj.dir. + nome comum, fem., sing., construto) Hn”ëB. seu filho (nome comum, masc., sing., construto, com sufixo, 3ª p., fem., sing.) [G:ßT;w: e lançou (verbo, hifil, vav consec., imperf., 3ª p., fem. sing., apocopada) wyl’_gr:l. aos seus pés (prep. + nome comum, fem. dual, construto, com sufixo, 3ª p., masc., sing.) rm,aTo§w: e disse: (conj. + verbo, qal, vav consec., imperf., 3ª p., fem., sing.) yKió certamente (conjunção) ~ymi²D”-!t;x] esposo de sangues (nome comum, masc., sing., construto + nome comum, masc., plural, absoluto) hT’Þa; tu (pronome, 2ª p., masc., sing.) yli( para mim (prep., com sufixo, 1ª p., comum, sing.) 10 | P á g i n a
  • 11. d ^ , s Verso 26 Vocábulo Tradução @r,Yißw: E se apartou (verbo, qal, vav consec., imperf., 3ª p., masc., sing., apocopada) WNM,_mi dele (prep., com sufixo, 3ª p. masc., sing.) Za’… quando (partícula adverbial) hr”êm.a’( disse: (verbo, qal, perfeito, 3ª p. fem., sing.) !t:ïx] esposo de (nome comum, masc., sing., construto) ~ymiÞD” sangues (nome comum, masc., plural, absoluto) tl{)WMl; por causa da circuncisão (prep. + art. + nome comum, fem., plural, absoluto) 3.3. Êxodo 4. 24-26 na LXX11 e a Sua Tradução Literal 24 evge,neto de. Evn th/| o`dw/| evn tw/| katalu,mati sunh,nthsen auvtw/| a;ggeloj kuri,ou kai. Evzh,tei auvto.n avpoktei/nai 25 kai. Labou/sa Sepfwra yh/fon perie,temen th.n avkrobusti,an tou/ ui`ou/ auvth/j kai. Prose,pesen pro.j tou.j po,daj kai. Ei=pen e;sth to. Ai-ma th/j peritomh/j tou/ paidi,ou mou 26 kai. Avph/lqen avpV auvtou/ dio,ti ei=pen e;sth to. Ai-ma th/j peritomh/j tou/ paidi,ou mou 24 E aconteceu no caminho, no alojamento, encontrou com ele um anjo do Senhor, e buscava matá-lo. 25 E tomou Séfora uma pequena pedra lisa para circuncidar a incircuncisão do filho dela e caiu prostrada diante dos [seus] pés e disse: para provocar o sangue da circuncisão do meu filho. 26 E partiu dele porque disse: repousou o sangue da circuncisão do meu filho. 11 RAHLFS, Alfred. Septuaginta. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1979. 11 | P á g i n a
  • 12. d ^ , s 3.4. Análise Léxico-Morfológica da LXX12 Verso 24 Vocábulo Tradução evge,neto aconteceu (verbo, indicativo, aoristo médio, 3ª p. sing.) de. E (conj. coordenativa) Evn em (preposição no dativo) th/| o (art. definido, dativo, feminino, sing.) o`dw/| caminho (nome, dativo, fem., sing.) evn em (preposição no dativo) tw/| o (art.definido, dativo, neutro, sing.) katalu,mati alojamento (nome, dativo, neutro, sing.) sunh,nthsen encontrou com (verbo, indicativo aoristo ativo, 3ª p. sing.) auvtw/| ele (pron. pessoal, dativo, masc. sing.) a;ggeloj um anjo (nome, nominativo, masc., sing.) kuri,ou do Senhor (nome, genitivo, masc.sing.) kai. e (conj. coordenativa) Evzh,tei buscava (verbo, indicativo, imperf., ativo, 3ª p. sing.) auvto.n a ele (pron. Pessoal, acusativo, masc., sing.) avpoktei/nai matar (verbo, infinitivo aoristo, ativo) Verso 25 Vocábulo Tradução kai. E (conj. coordenativa) Labou/sa tomou (verbo, particípio aoristo, ativo, nominativo, fem., sing.) Sepfwra Séfora (nome próprio) yh/fon uma pequena pedra lisa (nome comum, acusativo, fem., sing.) 12 Análise baseada em: BibleWorks 6.0. Software. Norfolk, USA, 2003. 12 | P á g i n a
  • 13. d ^ , s perie,temen para circuncidar (verbo, indicativo, aoristo, ativo, 3ª p. sing.) th.n a (artigo definido, acusativo, fem., sing.) avkrobusti,an incircuncisão (nome comum, acusativo, fem., sing.) tou/ do (artigo definido, genitivo, masc. sing.) ui`ou/ filho (nome comum, genitivo, masc., sing.) auvth/j dela (pronome pessoal, genit., fem., sing.) kai. e (conj. coordenativa) Prose,pesen caiu prostrada diante de (verbo, indicativo aoristo, ativo, 3ª p. sing.) pro.j aos (preposição no acusativo) tou.j os (art.definido, acusativo, masc. pl.) po,daj pés (nome comum, acusativo, masc.pl.) kai. e (conj. coordenativa) Ei=pen disse (verbo, indicativo, aoristo, ativo, 3ª p. sing.) e;sth repousou (verbo, indicativo, aoristo, ativo, 3ª p. sing.) to. o (artigo definido, nominativo, neutro, singular) Ai-ma sangue (nome comum, nominativo, neutro, sing.) th/j da (artigo definido, genitivo, fem., sing.) peritomh/j circuncisão (nome comum, genitivo, fem., sing.) tou/ do (artigo definido, genitivo, neutro, sing.) paidi,ou filho (nome comum, genitivo, neutro, sing.) mou meu (pronome pessoal, genitivo, fem., sing.) 13 | P á g i n a
  • 14. d ^ , s Verso 26 Vocábulo Tradução kai. E (conj. coordenativa) Avph/lqen partiu (verbo, indicativo, aoristo, ativo, 3ª p. sing.) avpV desde (preposição no genitivo) auvtou/ ele (pronome pessoal, genitivo, masc., sing.) dio,ti porque (conj. subordinativa) ei=pen disse (verbo, indicativo, aoristo, ativo, 3ª p. sing.) e;sth repousou (verbo, indicativo, aoristo, ativo, 3ª p. sing.) to. o (artigo definido, nominativo, neutro, sing.) Ai-ma sangue (nome comum, nominativo, neutro, sing.) th/j da (artigo definido, genitivo, fem., sing.) peritomh/j circuncisão (nome comum, genitivo, fem.sing.) tou/ do (artigo definido, genitivo, neutro, sing.) paidi,ou filho (nome comum, genitivo, neutro, sing.) mou meu (pronome pessoal, genitivo, fem., sing.) 3.5. Considerações Críticas sobre a BHS e a LXX A partir da verificação do texto de Êxodo 4.24-26 por meio da BHS e da LXX respectivamente, bem como, após as traduções do mesmo, algumas considerações devem ser feitas. Primeiramente, é importante notar que algumas versões antigas da Septuaginta trazem apenas a palavra a;ggeloj, “anjo”, no verso 24.13 Já a versão padrão da LXX (Rahlfs: 1979)14 traz neste verso a expressão a;ggeloj kuri,ou, isto é, “anjo do Senhor (= Yahweh)” em vez de “Yahweh”. Esta leitura também é 13 Cf. ELLIGER, K. RUDOLPH, W. (eds.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1997, p.91, nota 24b. 14 RAHLFS, Alfred. Septuaginta. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1979. 14 | P á g i n a
  • 15. d ^ , s seguida pelo Targum Onkelos.15 Por último, Áquila (125/130 d.C.), em sua tradução do Tanach para o grego, traz o` qeo.j, “Deus”, neste verso.16 Em segundo lugar, a palavra “pés” encontrada na expressão: Nylfg:ral; , “aos seus pés” (v.25), parece ser usada aqui como um eufemismo para o órgão genital, como aparece, por exemplo, em Is 6.2; 7.20; Ez 16.25 e Dt 28.57.17 Em terceiro lugar, a LXX ao tomar o termo “pés” literalmente, tem Zípora caindo em súplicas pro.j tou.j po,daj , “aos pés” (o contexto aqui e o uso similar em Et 8.3 poderiam estar sugerindo que esta seja uma referência aos “pés” de Yahweh).18 Finalmente, em quarto e último lugar, enquanto o TM diz que o Senhor se apartou WNM,_mi, “dele” (v.26), o Pentateuco Samaritano lê hN|M,_mi, “dela” (uma referência a Zípora).19 Disso tudo, podemos concluir que a perícope de Ex 4.24-26 é um tanto quanto enigmática devido a, pelo menos, três fatores: 1) a concisão da narrativa; 2) a falta de contexto definido; e 3) a indefinição dos pronomes pessoais encontrados na passagem (Moisés não é citado nenhuma vez, tanto na BHS, quanto na LXX).20 15 DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987, p.53. Onkelos foi um prosélito palestino, o qual foi contemporâneo do Rabban Gamaliel II. Ele traduziu o Pentateuco para o aramaico. A partir de então, a sua tradução passou a ser conhecida comoTargum Onkelos. Esse targum é datado do II século a.C. (Cf. COHN-SHERBOK, Dan. A Concise Encyclopedia of Judaism. Oxford, Oneworld Publications, 1998, p.146). 16 BHS, p.91, nota 24b. 17 DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987, p.53. 18 Idem, ibidem. 19 BHS, p.92, nota 26a. 20 Cf. Bíblia de Jerusalém, p.111, nota i. 15 | P á g i n a
  • 16. d ^ , s IV – ÊXODO 4.24-26 EM VÁRIAS VERSÕES DA BÍBLIA Uma vez que já fizemos menção tanto ao texto hebraico quanto ao texto grego de Êx 4.24-26, creio que seja importante citar também algumas de nossas principais versões dessa perícope existentes em português, a fim de que tais versões sejam analisadas à luz dos textos originais (hebraico e grego). Acredito que esse tipo de abordagem poderá contribuir para o alcance de nossos propósitos nesta monografia. Sendo assim, prossigamos em nosso estudo. 4.1. Em Algumas Versões Bíblicas em Português a) ARA (Almeida, Revista e Atualizada) 24 Estando Moisés no caminho, numa estalagem, encontrou-o o Senhor e o quis matar. 25 Então, Zípora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio de seu filho, lançou-o aos pés de Moisés e lhe disse: Sem dúvida, tu és para mim esposo sanguinário. 26 Assim, o Senhor o deixou. Ela disse: Esposo sanguinário, por causa da circuncisão. b) ARC (Almeida, Revista e Corrigida) 24 E aconteceu no caminho, numa estalagem, que o Senhor o encontrou , e o quis matar. 25 Então Zípora tomou uma pedra aguda, e circuncidou o prepúcio de seu filho, e o lançou a seus pés, e disse: Certamente me és esposo sanguinário. 26 E desviou-se dele. Então ela disse: Esposo sanguinário, por causa da circuncisão. 16 | P á g i n a
  • 17. d ^ , s c) BH (Bíblia Hebraica)21 24 E no caminho, na estalagem, o (anjo do) Eterno encontrou-o (a Moisés), e o quis matá-lo. 25 E Tsiporá tomou uma pedra afiada, cortou o prepúcio de seu filho e jogou-o a seus pés (de Moisés) e disse: Tu (quase) ensangüentaste meu esposo! 26 E (o anjo) o deixou; então ela disse: Ensangüentaste meu esposo por causa da circuncisão! d) BJ (Bíblia de Jerusalém) 24 Aconteceu que no caminho, numa hospedaria, Iahweh veio ao seu encontro, e procurava fazê-lo morrer. 25 Séfora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio do seu filho, feriu-lhe os pés, e disse: “Tu és para mim um esposo de sangue”. 26 Então, ele o deixou. Pois ela havia dito “esposo de sangue”, por causa da circuncisão. e) BLH (Bíblia na Linguagem de Hoje) 24 Durante a viagem para o Egito, num lugar onde Moisés e a sua família estavam passando a noite, o Deus Eterno se encontrou com Moisés e procurou matá-lo. 25 Aí Zípora, a sua mulher, pegou uma pedra afiada, cortou o prepúcio do seu filho e com ele tocou o pé de Moisés. E disse: - Você é um marido de sangue para mim. 26 Ela disse isso por causa da circuncisão. E assim o eterno deixou Moisés viver. 21 A tradução utilizada aqui é a de: GORODOVITS, David FRIDLIN, Jairo. Bíblia Hebraica. São Paulo, Editora e Livraria Sêfer Ltda., 2006. 17 | P á g i n a
  • 18. d ^ , s f) BV (Bíblia Viva) 24 Durante a viagem, Moisés parou para passar a noite numa pensão. Ali o Senhor apareceu e ameaçou matar Moisés. 25 Então Zípora circuncidou o filho e lançou a pele cortada aos pés de Moisés. Fez isso e disse: “Que marido sanguinário você ficou!” 26 Disse isto por causa da circuncisão. Aí o Senhor deixou Moisés. g) NVI (Nova Versão Internacional)22 24 Numa hospedaria ao longo do caminho, o SENHOR foi ao encontro de Moisés e procurou matá-lo. 25 Mas Zípora pegou uma pedra afiada, cortou o prepúcio de seu filho e tocou os pés de Moisés. E disse: “Você é para mim um marido de sangue!” 26 Ela disse “marido de sangue”, referindo-se à circuncisão. Nessa ocasião o Senhor o deixou. h) TEB (Tradução Ecumênica da Bíblia) 24 Ora, estando a caminho, no albergue, o SENHOR veio ao seu encontro e procurou matá-lo. 25 Siporá tomou uma pedra afiada, cortou o prepúcio de seu filho e com ele tocou-lhe os pés, dizendo: “És para mim um esposo de sangue”. 26 Então ele o deixou. Ela dizia “esposo de sangue” referindo-se à circuncisão. 4.1. Apontamentos Sobre as Versões de Êx 4.24-26 Essas oito versões de Êx 4.24-26 em português que compreendem, de forma geral, praticamente a totalidade das versões bíblicas usadas pelos leitores cristão-evangélicos no Brasil, nos permitem fazer algumas constatações bem 22 Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo, Editora Vida, 2000. 18 | P á g i n a
  • 19. d ^ , s interessantes. Quando comparadas aos textos originais anteriormente citados, alguns detalhes curiosos podem ser notados. Vejamos quais são eles: a) Apontamentos sobre Êx 4.24 Enquanto que as versões: ARA, BLH, BV e NVI mencionam “Moisés” textualmente no verso 24 como sendo a personagem que o Senhor encontrou no caminho e quis matar (a BH o menciona apenas entre parênteses), o que não aparece na BHS e na LXX, as versões: ARC, BJ e TEB, contudo, omitem o seu nome, preferindo assim a indefinição. Destas versões, chama-nos a atenção o fato de a BH praticamente seguir a LXX, ao mencionar, ainda que entre parênteses, que “o (anjo do) Eterno encontrou-o (a Moisés), e o quis matá-lo”. Além disso, é curioso notar também que tanto a BLH quanto a BV observam que a referida “tentativa de homicídio” protagonizada por Yahweh se deu no período da “noite”, o que é omitido na BHS e na LXX, mas parece ser uma inferência extraída do texto, pelo fato do encontro entre Yahweh/anjo do Senhor e o personagem anônimo de Ex 4.24 ter se dado numa “estalagem”, isto é, um lugar de repouso.23 Por fim, um fato bastante interessante é que entre as versões citadas, a BLH é a única a mencionar o destino da viagem, isto é, o “Egito”, o que não aparece na BHS e nem na LXX! Ela faz isso se baseando no itinerário citado em Ex 4.19. Nos demais aspectos, os versos são muito semelhantes. b) Apontamentos sobre Êx 4.25 Já no que se refere ao verso 25, as divergências de tradução parecem ser mais significativas. As versões: ARA, BH e BV dizem que Zípora cortou o prepúcio de seu filho e o “lançou” aos pés de Moisés (personagem este não identificado na BHS e na LXX). Por outro lado, a ARC não especifica a identidade da pessoa sobre cujos pés Zípora lançou o prepúcio de seu filho. A 23 Keel e Uehlinger mencionam a opinião de Judith M. Hadley, segundo quem a citação da “estalagem” neste verso busca conferir legitimidade à sua instituição. (Cf. KEEL, Othmar UEHLINGER, Christoph. Gods, Goddesses, and Images of God. Minneapolis, Fortress Press, 1996, p.247, nota 130). 19 | P á g i n a
  • 20. d ^ , s BLH e a NVI dizem que Zípora cortou o prepúcio de seu filho e com ele “tocou” aos pés de Moisés. A TEB diz que o prepúcio “tocou-lhe os pés”, sem, porém, revelar a identidade de quem tivera os pés tocados. Por fim, a BJ diz que “Séfora (Zípora) cortou o prepúcio de seu filho, [e] feriu-lhe os pés”, também de forma indefinida. Quanto ao final do verso 25, a BH é a versão que mais diverge das demais. Enquanto as outras sete versões, em linhas gerais e com ligeiras modificações, trazem: “Tu és para mim esposo sanguinário (de sangue)”, esta última traz: “Tu (quase) ensangüentaste meu esposo” (onde o “Tu” indefinido parece ser uma referência ao seu “filho”, ou ao “(anjo do) Eterno”, mencionado no verso anterior, mas jamais uma referência a Moisés). c) Apontamentos sobre Êx 4.26 Por fim, vejamos o verso 26. A ARA, a ARC, a BJ, a NVI e a TEB trazem de forma indefinida o sujeito que fora deixado pelo Senhor no verso 26a, seguindo, assim, a BHS e a LXX (seria Moisés?). Já a BH diz que “(o anjo) o deixou”, acompanhando, dessa forma, algumas versões antigas da LXX.24 E, finalmente, a BLH e a BV dizem que o sujeito deixado pelo “eterno/Senhor”, foi Moisés, o que não concorda com os originais, hebraico e grego. 4.2. Conclusão A partir dessas informações, podemos chegar a algumas conclusões prévias sobre a tamanha disparidade existente entre as versões da Bíblia em português aqui alistadas e a BHS/LXX: a) Entre as versões pesquisadas, a ARC, a BJ e a TEB são aquelas que seguem mais de perto (quase literalmente) a BHS; b) As versões: ARA, BH, BLH, BV e NVI incluem o nome de “Moisés” na perícope por inferência contextual anterior (Êx 4.18-23) e posterior (Êx 4.27-31), e não por seguirem a BHS e/ou a LXX (que não trazem o 24 Cf. a nota 13 (acima). 20 | P á g i n a
  • 21. d ^ , s seu nome), uma vez que o nome de Moisés aparece repetidamente nestes outros versos; c) As versões acima arroladas (item b), embora mencionem o nome de “Moisés” sem seguir o TM, ao fazê-lo, não introduzem mudanças conceituais que comprometem o sentido original do texto bíblico. Pelo contrário, elas levam em conta o contexto imediato da passagem, o qual sugere de forma natural que Moisés seja um dos personagens de Êx 4.24-26; d) Tanto a interpretação mais literal quando a interpretação menos literal, de forma geral, possuem seus pontos positivos e negativos. A interpretação mais literal, por exemplo, é boa quando compreendemos o esquema mental e psicológico daquele que nos propomos a traduzir e interpretar (se é que isso seja absolutamente possível de ser feito), caso contrário, a tradução pode se tornar ininteligível e arcaica. Já a interpretação menos literal, embora possa ser mais contextualizada e até mesmo mais “moderna”, pode, contudo, incorrer no risco de introduzir conceitos e ideologias estranhos aos pretendidos pelo autor original do texto (caso o tradutor não atente para isso). Neste último caso, um dos maiores desafios do tradutor é ser “atual”, sem, contudo, ser anacrônico em sua tradução. e) Finalmente, podemos depreender de tudo isso que todas as versões bíblicas devem ser lidas/seguidas tendo como ponto de partida a sua comparação com o texto original e suas respectivas peculiaridades. 21 | P á g i n a
  • 22. d ^ , s V – INTERPRETAÇÕES SOBRE ÊXODO 4.24-26 Depois de tudo o que vimos até aqui, citaremos agora algumas das principais interpretações sobre esta perícope,25 no intuito de poder melhor compreendê-la, bem como, ofereceremos ao final uma nova proposta de interpretação para esta passagem. 5.1. A Interpretação mais Comum Segundo Hyatt,26 a interpretação mais comum de Êx 4.24-26 é a seguinte: como Moisés e a sua família estavam em jornada até o Egito, Yahweh procurou matá-lo, estando zangado porque Moisés não havia sido circuncidado. Zípora, a fim de impedir tal tragédia, imediatamente circuncidou seu filho. Ela tomou o prepúcio ensangüentado do filho e com ele tocou a genitália de Moisés (motivo pelo qual o eufemismo “seus pés” é usado). Tal ato teve o seu caráter substitutivo (Gerson foi circuncidado no lugar de Moisés). Após a realização desta circuncisão substitutiva, Zípora se dirige, então, a Moisés, com as palavras: “certamente você é um esposo de sangue para mim!”. Então, Yahweh deixou Moisés sozinho. 5.2. A Interpretação de Ronald E. Clements De acordo com Clements,27 a perícope ora em estudo mostra Moisés sendo atacado por uma força maligna do deserto, cujo narrador identificou com o Senhor Deus, uma vez que ele (o autor) considerava todos os poderes divinos 25 Para obter um resumo das várias interpretações sobre esta passagem, veja: DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987, p.57. Crüsemann vê a referência à circuncisão neste relato como forma de comprovação etiológica de um costume jurídico. (Cf. CRÜSEMANN, Frank. A Torá: teologia e história social da lei do Antigo Testamento. [Tradução de Haroldo Reimer]. Petrópolis, Vozes, 2001, p.387). Cf. também: THOMAS, W. H. Griffith. Through the Pentateuch. Grand Rapids, Kregel Publications, 1985, p.80. 26 HYATT, J. P. Exodus. The New Century Bible Commentary. England, Marshall, Morgan Scott, 1971, p.87. 27 CLEMENTS, Ronald E. Exodus. The Cambridge Bible Commentary on the New English Bible. Cambridge, Cambridge University Press, 1972, p.31. 22 | P á g i n a
  • 23. d ^ , s como ligados a ele (Yahweh). A razão sugerida para o ataque é a negligência da circuncisão de Moisés, aparentemente sobre ele mesmo, mas possivelmente também sobre seu filho. Esta interpretação de Clements se baseia, sobretudo, no conceito veterotestamentário da ambivalência divina, segundo a qual, todos os acontecimentos da vida (tanto bons quanto maus) tinham a sua origem em Deus.28 Esses traços da ambivalência divina podem ser vistos, por exemplo, em textos tais como: 1 Sm 1.5,6; 2.6ss; 16.23; Jó 2.10; Is 45.7 etc. 5.3. A Interpretação de Hans Kosmala Já segundo Kosmala,29 esta passagem de Êxodo foi relatada aqui por causa dos versos precedentes que falam da morte do filho primogênito. A ira da divindade, que é um deus do deserto midianita, é dirigida contra a criança porque ela não foi circuncidada. Para aplacar a ira dessa divindade, Zípora corta o prepúcio da criança e toca com o prepúcio as pernas do seu próprio filho, realizando um ritual de sangue, o qual foi usado para afugentar o mal (através da circuncisão que foi realizada). Ela, então, profere uma fórmula ritual à criança: “Um mesmo sangue circuncidado você tem com relação a mim”. A divindade, vendo o sangue e ouvindo as palavras de Zípora, desaparece. 5.4. A Interpretação de Nelson Kilpp Para Nelson Kilpp,30 Javé, o Deus midianita, atacou Moisés, o não- midianita, pelo fato deste último ter invadido o território que estava restringido a 28 Fohrer explica o conceito de ambivalência divina nestes termos: “A crença em demônios foi essencialmente estranha ao verdadeiro javismo. Impressionado pela noção da singularidade de Iahweh, recusou-se a reconhecer quaisquer outros poderes. Fenômenos misteriosos, medonhos e horrificantes foram incorporados à descrição do próprio Deus ou associados a um ser celestial ou espírito enviado por Iahweh. Conseqüentemente, Iahweh assumiu feições ‘demoníacas’ (Gn 32.22-31; Êx 4.24-26) – ou, mais exatamente, veio a aparecer numa luz irracional e numinosa – e o limite entre seres celestiais e demônios ficou obscurecido. Por isso, os demônios são raramente mencionados”. (Cf. FOHRER, Georg. História da Religião de Israel. [Tradução de Josué Xavier]. São Paulo, Academia Cristã / Paulus, 2006, p.228). 29 KOSMALA, Hans. Studies , Essays and Reviews. Cheltenham, Brill Archive, 1978, pp.14-28. 30 KILPP, Nelson. Os Poderes Demoníacos no Antigo Testamento. In: GARMUS, Ludovico. (ed.). Diabo, Demônio e Poderes Satânicos. [Série Estudos Bíblicos]. Petrópolis, Editora Vozes, 2002, p.26. 23 | P á g i n a
  • 24. d ^ , s este povo.31 Quanto a Zípora, ela não é atacada justamente por ser midianita. Além do mais, ela sabe como se portar diante dessa divindade (Javé) já que a conhece. Tal hipótese significa então que o Deus Javé dos midianitas deveria possuir originalmente os traços característicos de um demônio do deserto. Assim, o sangue do prepúcio lançado sobre Moisés conseguiu afastar Javé e fazê-lo desistir de seu intento. Além disso, Kilpp também menciona outra forma de se entender a passagem, segundo a qual a tradição original do texto ainda não tratava de Javé, mas de um demônio do deserto que, no período da noite, atacava os viajantes que paravam na pousada localizada em seu território. Se tal interpretação estiver correta, então, Israel, ao incorporar a tradição pré-israelita em sua própria história com Yahweh, acabou substituindo o desconhecido demônio por Yahweh, atribuindo, assim, a este último, as características de tal demônio. 5.5. A Interpretação de Georg Fohrer A opinião de Fohrer32 é que essa breve narrativa da circuncisão do filho de Moisés por sua mãe, Zípora, tem o propósito de confirmar ou legitimar a mudança da circuncisão, outrora feita em adultos, para a circuncisão de infantes. Além disso, Fohrer sugere ainda que a passagem, originalmente, pudesse se tratar também de um rito de virilidade ou de uma iniciação ao matrimônio (cf. Gn 34.14ss).33 Todavia, diferentemente de Kilpp, Fohrer prefere deixar em aberto a 31 No que diz respeito à duração da estadia de Moisés em Midiã, de acordo com a tradição judaica posterior, os 120 anos de vida de Moisés podem ser divididos em três etapas: Desde o seu nascimento até os 40 anos de idade, ele teria sido um príncipe no Egito; dos 40 aos 80 anos ele viveu exilado em Midiã; e, dos 80 aos 120 anos, ele se tornou líder dos israelitas. (Cf. ASIMOV, Isaac. Asimov’s Guide to the Bible. [The Old and New Testaments]. New York, Wings Books, 1981, pp.129,130). 32 FOHRER, Georg. História da Religião de Israel. [Tradução de Josué Xavier]. São Paulo, Academia Cristã / Paulus, 2006, p.39. 33 FOHRER, Georg. Estruturas Teológicas do Antigo Testamento. [Tradução de Álvaro Cunha]. Santo André, Editora Academia Cristã, 2006, p.192. Estas opiniões de Fohrer também são compartilhadas por Gunneweg. Cf. GUNNEWEG, Antonius H. J. Teologia Bíblica do Antigo Testamento. Vol.1. [Tradução de Werner Fuchs]. São Paulo, Teológica/Loyola, 2005, pp.188,189. 24 | P á g i n a
  • 25. d ^ , s hipótese sobre a narrativa tratar ou não da circuncisão como um elemento de proteção contra os demônios. 5.6. A Interpretação de Hugo Gressmann De acordo com o erudito alemão, H. Gressmann,34 a remoção do prepúcio realizada por Zípora, teve o propósito de evitar um ataque fatal de um demônio sobre Moisés, demônio este mais tarde identificado com Yahweh, o qual exigia o direito do primeiro intercurso sexual com a noiva virgem na noite de núpcias.35 5.7. Nova Interpretação Proposta E foi [Moisés] no caminho, na pousada, e encontrou-lhe Yahweh, e quis matá-lo. (verso 24). Quando Yahweh se encontra com Moisés no caminho e quer matá-lo (Êx 4.24), isto não se deve ao fato de Moisés não ser ainda circuncidado, mas se deve, antes, ao seu homicídio praticado anteriormente (cf. Êx 2.11,12).36 Como Moisés era filho de pais hebreus (Êx 2.1-10), os quais, por sua vez, deveriam ser naturalmente observadores da circuncisão abraâmica (Gn 17.23-27), logo, ele já devia estar circuncidado há bastante tempo a esta altura da sua vida. Além do mais, como a circuncisão também era praticada no Egito, é muito difícil imaginar que Moisés ainda não tivesse sido circuncidado.37 Na verdade, o filho de Moisés 34 GRESSMANN, H. Mose und seine Zeit, pp.55-61. Apud: DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987, p.57. Cf. também: BERGANT, Dianne KARRIS, Robert J. (orgs.). Comentário Bíblico. Vol.1. [Tradução de Barbara Theoto Lambert]. São Paulo, Edições Loyola, 2001, p.96. 35 Essa interpretação de Gressmann reflete o conceito medieval da primae noctis (primeira noite), costume este que reservava ao rei o direito de ter o primeiro intercurso sexual com todas as noivas recém- casadas. 36 Walton, Matthews e Chavalas também entendem que Yahweh deseja matar a Moisés devido ao homicídio que ele praticara em Êx 2.11,12. (Cf. WALTON, John H., MATTHEWS, Victor H. CHAVALAS, Mark W. Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento. [Tradução de Noemi Valéria Altoé]. Belo Horizonte, Editora Atos, 2003, pp.80,81). 37 COLE, R. Alan. Êxodo: introdução e comentário. [Tradução de Carlos Oswaldo Pinto]. São Paulo, Vida Nova / Mundo Cristão, 1990, p.76. Para obter informações mais detalhadas sobre a prática da circuncisão, confira: ROPS, Henri Daniel. A Vida Diária nos Tempos de Jesus. [Tradução de Neyd Siqueira]. São Paulo, Vida Nova, 1991, pp.74-76; VAUX, R. de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. [Tradução de Daniel de Oliveira]. São Paulo, Teológica / Paulus, 2003, pp.69-72. 25 | P á g i n a
  • 26. d ^ , s é quem é circuncidado (cf. v.25).38 Diante disso, a minha proposta é a seguinte: quem, de fato, deseja matar a Moisés aqui é uma divindade (demônio) egípcia dos mortos, (Anúbis/Osíris?), a qual – no caso de Anúbis – era representada pelo chacal, animal que vivia no deserto,39 e que, mais tarde, foi identificado na tradição pré-israelita com Yahweh. Anúbis estaria irritado pelo fato de um não- egípcio, Moisés, matar um egípcio em seu território (Êx 2.11,12), o que seria uma prerrogativa que estaria reservada somente a ele, deus dos mortos. Assim, essa divindade egípcia vai atrás de Moisés, com o propósito de puni-lo pelo seu atrevido ato. A divindade o encontra %rDÞb;, “no caminho”, isto é, presumivelmente já em seu território egípcio (ou bem próximo dele) e então procura matá-lo pelo seu ato insolente. E tomou Zípora uma faca de pedra e cortou o prepúcio de seu filho, e lançou aos seus pés [de Moisés], e disse: certamente esposo de sangues és tu para mim. (verso 25). Aqui, o papel desempenhado por Zípora chama a nossa atenção, pois, ao realizar a circuncisão de seu filho com uma faca de pedra40 e com os gestos que se seguem, ela parece uma espécie de “exorcista”.41 Zípora realiza um gesto metonímico, uma ação mágica apotropaica que irá afugentar a divindade (cf. v.26). Isto parece revelar que as trocas simbólicas da religião mágica no mundo 38 Paul Hoff comenta acertadamente que “se Moisés tivesse se apresentado perante o povo israelita sem haver circuncidado a seu filho, sem haver cumprido o Antigo Concerto, ter-se-ia anulado a sua influência juntos deles”. (Cf. HOFF, Paul. O Pentateuco. [Tradução de Luiz Aparecido Caruso]. Venda Nova, Editora Vida, 1993, p.110). 39 MELLA, Federico A. Arborio. O Egito dos Faraós. São Paulo, Hemus Editora, 1998, p.59. 40 Segundo Propp, “o instrumento de pedra fala sobre a origem primitiva do rito. Mas, na verdade, pedras ainda eram usadas na Idade do Ferro de Israel, para uma variedade de propósitos”. (Cf. PROPP, William H. C. Exodus 1-18. A New Translation with Introduction and Commentary. [The Anchor Bible]. New York, Doubleday, 1998, p.219). 41 Meier chama a nossa atenção para o fato de que nas culturas adjacentes e entre os israelitas, somente os homens realizavam o importante ritual da circuncisão. Ele, então, pergunta: “Como Zípora ousou realizar tal tarefa?”. (Cf. MEIER, Levi. Moisés: o príncipe, o profeta. [Tradução de Ana Glaucia Ceciliato]. São Paulo, Madras Editora Ltda, 2001, p.47). De acordo com Mcrae, Zípora realiza o rito da circuncisão, não porque desejava obedecer ao Deus de Moisés, mas primariamente porque queria salvar o seu marido. (Cf. MCRAE, William J. A Vital Prerequisite for Service: an exposition of Exodus 4:18-6:8. Emmaus Journal. Vol.4:1.1995. p.41). 26 | P á g i n a
  • 27. d ^ , s do antigo Israel, provavelmente estavam especialmente nas mãos das mulheres.42 Embora essa espécie de perspectiva mágico-religiosa do texto seja criticada por enxergar a passagem como uma “curiosa relíquia do folclore e da superstição”,43 todavia, acho muito plausível realizar tal leitura do texto, levando em consideração a antiguidade do mesmo. Após a realização de seu ritual, Zípora então se dirige a Moisés num tom de crítica: “certamente esposo de sangues (sanguinário) és tu para mim”. Neste caso, então, ao chamar Moisés de “esposo sanguinário” (Êx 4.26), Zípora não o está criticando pela sua não-circuncisão (pois Moisés já era circuncidado) e, nem tampouco pela não-circuncisão de seu filho, antes, ela está fazendo referência ao homicídio que Moisés havia praticado anteriormente (Êx 2.11,12) e que, agora, atraiu a vingança de Anúbis, o qual deseja matá-lo pelos motivos descritos no comentário feito ao verso anterior. E [Yahweh] se apartou dele [de Moisés], quando [Zípora] disse: esposo de sangues, por causa da circuncisão. (verso 26). Este verso mostra que o ritual da circuncisão praticado por Zípora, o qual envolveu o derramamento de sangue e o lançamento do prepúcio de seu filho aos pés de Moisés, fez com que a divindade egípcia (posteriormente identificada com Yahweh) fugisse, assim como a aspersão de sangue sobre as vergas das portas havia afastado antes ao “destruidor” das residências dos hebreus no episódio da morte dos primogênitos (cf. Êx 12.13,23).44 Durante a realização da circuncisão, Zípora pronuncia uma espécie de fórmula ritualística: “esposo de sangue, por causa da circuncisão” e, então, a divindade (demônio) é afugentada diante desse ritual e se retira dali. Aliás, seria bem interessante seguir o Pentateuco 42 CORNELLI, Gabriele. “É um Demônio!”: o Jesus histórico e a religião popular. Dissertação de Mestrado, São Bernardo do Campo, Universidade Metodista de São Paulo, 1998, p.112. 43 Esta crítica pode ser encontrada, por exemplo, em: PFEIFFER, Charles F. HARRISON, Everett F. The Wycliffe Bible Commentary. Chicago, Moody Press, 1987, p.56. 44 Kilpp também entende que o “Destruidor” ou “Exterminador” mencionado em Êx 12.21-23, seja uma referência a Javé, o qual acabou absorvendo tradições originalmente vinculadas a poderes maléficos ou demoníacos. (Cf. KILPP, Nelson. Os Poderes Demoníacos no Antigo Testamento. In: GARMUS, Ludovico. (ed.). Diabo, Demônio e Poderes Satânicos. [Série Estudos Bíblicos]. Petrópolis, Editora Vozes, 2002, pp.26,27). 27 | P á g i n a
  • 28. d ^ , s Samaritano neste verso, em vez de seguir a BHS. Digo isso porque em vez de entender que Yahweh (ou a divindade egípcia) “se apartou”/fugiu “de Moisés”, WNM,_mi, “dele” (de acordo com a BHS), a divindade teria fugido, na verdade, hN|M,_mi, “dela”, ou seja, de Zípora (como declara o Pentateuco Samaritano)45. Tal interpretação pode se apoiar no fato de que a divindade foge “dela” (de Zípora), justamente porque é “ela” quem realiza o ritual apotropaico. 45 Cf. a nota 19 (acima). 28 | P á g i n a
  • 29. d ^ , s CONCLUSÃO Em vista de tudo quanto foi dito até aqui, podemos chegar a algumas conclusões em nosso trabalho: 1. A perícope de Êx 4.24-26 é, de fato, uma interpolação, a qual possui um registro muito antigo (talvez o mais antigo) sobre a circuncisão; 2. As indefinições pronominais e verbais existentes na passagem parecem levar em consideração o seu contexto imediato, dentro do qual Moisés aparece como personagem principal e, dessa forma, elas pressupõem que ele é o personagem central do texto; 3. A circuncisão tem um papel de destaque, pois ela faz parte de um ritual apotropaico que parece ser bastante primitivo, o qual é praticado por Zípora; 4. A expressão “esposo (noivo) sanguinário” empregada por Zípora possui ares de “fórmula ritual”, a qual, juntamente com a própria circuncisão, é utilizada para afugentar a divindade (demônio); 5. O texto passou por um interessante processo de elaboração, segundo o qual, a antiga divindade (demônio) teve os seus traços característicos posteriormente compartilhados por Yahweh. Isto significa que Israel introduziu elementos pré-israelitas em sua história, adaptando-os à sua religião monoteísta que, no presente texto, também é teologicamente ambivalente; 6. Yahweh (o demônio) não quer matar a Moisés pela não-circuncisão dele ou de seu filho, mas sim pelo seu homicídio anteriormente praticado (Êx 2.11,12). Moisés ainda permanece culpado diante de Yahweh (demônio) e, portanto, corre perigo de morte; 29 | P á g i n a
  • 30. d ^ , s Finalmente, confesso não saber ao certo se consegui “decifrar” o enigma proposto por esta perícope, ou se não o consegui. Não sei se neste embate em particular foi “Édipo” quem levou a melhor, ou se foi a própria “Esfinge”. Bem, seja como for, uma coisa é certa: este enigmático texto, segundo penso, ainda continuará a desafiar por um longo tempo todos quantos dele se aproximarem na tentativa de interpretá-lo. Nós o “decifraremos” ou seremos por ele “devorados”? Ora, este é um outro enigma que permanece sem solução. 30 | P á g i n a
  • 31. d ^ , s BIBLIOGRAFIA ALLEN, Ronald B. The “Bloody Bridegroom” in Exodus 4:24-26. [Bibliotheca Sacra]. Nº 153. Dallas, Dallas Theological Seminary, 1996. ARA (Versão da Bíblia). Almeida, Revista e Atualizada. ARC (Versão da Bíblia). Almeida, Revista e Corrigida. ASIMOV, Isaac. Asimov’s Guide to the Bible. [The Old and New Testaments]. New York, Wings Books, 1981. BERGANT, Dianne KARRIS, Robert J. (orgs.). Comentário Bíblico. Vol.1. [Tradução de Barbara Theoto Lambert]. São Paulo, Edições Loyola, 2001. BibleWorks 6.0. Software. Norfolk, USA, 2003. BJ – Bíblia de Jerusalém. São Paulo, Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, 1985. BLH (Versão da Bíblia). Bíblia na Linguagem de Hoje. BV (Versão da Bíblia). Bíblia Viva. CHILDS, Brevard S. The Book of Exodus: A Critical, Theological Commentary. Philadelphia, Westminster, 1974. CLEMENTS, Ronald E. Exodus. The Cambridge Bible Commentary on the New English Bible. Cambridge, Cambridge University Press, 1972. COHN-SHERBOK, Dan. A Concise Encyclopedia of Judaism. Oxford, Oneworld Publications, 1998. COLE, R. Alan. Êxodo: introdução e comentário. [Tradução de Carlos Oswaldo Pinto]. São Paulo, Vida Nova / Mundo Cristão, 1990. COMMELIN, P. Mitologia Grega e Romana. [Tradução de Eduardo Brandão]. São Paulo, Martins Fontes, 1997. CORNELLI, Gabriele. “É um Demônio!”: o Jesus histórico e a religião popular. Dissertação de Mestrado, São Bernardo do Campo, Universidade Metodista de São Paulo, 1998. CRÜSEMANN, Frank. A Torá: teologia e história social da lei do Antigo Testamento. [Tradução de Haroldo Reimer]. Petrópolis, Vozes, 2001. 31 | P á g i n a
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