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Entrevista a Mia Couto
E se tivesse a oportunidade de entrevistar um escritor? Os
alunos do Colégio São Luís, em São Paulo, tiveram esta
oportunidade. Há duas semanas, os adolescentes estiveram com
o moçambicano Mia Couto no auditório da escola.
Em duas horas de conversa, os meninos fizeram perguntas
inteligentes e não deixaram espaço para silêncios
constrangedores.
Como é ser escritor em Moçambique?
Vou contar um pequeno episódio que pode ajudar a responder a essa questão. Certo dia, estava chegando a casa
e já estava escuro, já eram umas seis da tarde. Havia um menino sentado no muro à minha espera. Quando cheguei,
ele apresentou-se, mas estava sempre com uma mão atrás das costas. Eu senti medo e a primeira coisa que pensei
é que aquele menino me iria assaltar. Pareceu quase cruel pensar que no mundo em que hoje vivemos podemos ter
medo de uma criança de dez anos. Então ele mostrou o que estava escondendo. Era um livro, um livro meu. Ele
mostrou o livro e disse: “Eu vim aqui devolver uma coisa que o senhor deve ter perdido”. Então ele explicou a história.
Disse que estava no átrio de uma escola, onde vendia amendoins, e, de repente, viu uma estudante entrando na
escola com o livro. Na capa do livro, havia uma foto minha e ele me reconheceu. Então ele pensou: “Essa moça
roubou o livro daquele fulano”. Porque como eu apareço na televisão, as pessoas me conhecem. Então ele
perguntou: Esse livro que você tem não é do Mia Couto?”. E ela respondeu: “Sim, é do Mia Couto”. Então ele pegou
no livro da menina e fugiu.
Essa história é para dizer que, para uma parte dos moçambicanos, a relação com o livro é uma coisa nova. Nós,
escritores moçambicanos, sabemos que escrevemos para uma pequena percentagem da população, que são os que
sabem ler e escrever. O livro tem uma circulação muito restrita. Mas, mesmo assim, as tiragens dos meus livros em
Moçambique giram em torno de 6 mil, 7 mil exemplares, o que é um número alto.
Quais são os maiores problemas de Moçambique hoje?
Antes de responder à pergunta, vou dizer uma coisa. A imagem que nós temos uns dos outros é feita muito
de clichês, de estereótipos. Vocês (brasileiros) também têm uma imagem feita lá fora. A primeira vez que eu vim a
São Paulo, há alguns anos, fui protagonista de uma história engraçada. Quando eu estava a sair de Moçambique,
disseram-me que São Paulo era perigosíssima, que havia balas perdidas, pessoas a serem mortas nas ruas, e eu
comecei a ficar com medo. Na viagem de avião, que dura onze horas, eu vim pensando que era um perigo e que
seria assaltado. Tinham dito para ter cuidado quando chegasse ao aeroporto, porque havia falsos táxis que raptavam
as pessoas.
E, de facto, eu já estava contaminado com aquela coisa. Quando cheguei, havia um motorista da minha editora,
mas ele não estava a usar uniforme e não tinha identificação. Eu perguntei se ele tinha identificação e ele disse:
“Não, eu sou o Pepe”. Começámos a andar por um corredor e ele ia dizendo que o carro estava lá no fundo. E o
carro não era propriamente um táxi. E a ideia de que eu estava sendo raptado começou a soar na minha cabeça.
Quando entrei no carro e me sentei ao lado do motorista, já estava olhando para a frente e pensando “esses são os
últimos momentos da minha vida, vou reviver todo o meu passado, como nos filmes”. Até que o motorista pegou em
algo que estava no porta-luvas. Era uma coisa metálica. Ele estendeu essa coisa e disse: “Aceita uma balinha?”.
Vocês estão a rir, mas eu não tinha nenhuma vontade de rir, porque balinha lá não quer dizer a mesma coisa que
aqui. Quer dizer bala no sentido literal mesmo, projétil de bala. E eu só consegui pensar que estava sendo assaltado,
que aquele homem me iria matar.
Isso é para mostrar como construímos a imagem uns dos outros. A imagem que se tem da África fora da África é
sempre associada à fome, à miséria, à guerra. Mas os africanos não vivem todos assim. Eles são felizes, são
construtores de vida, têm uma vida social riquíssima, têm culturas diversas, é o lugar no mundo onde há mais
diversidade do ponto de vista linguístico e cultural. Os problemas que temos são os mesmos da maior parte dos
países africanos: estão relacionados com a miséria e com o facto da sua própria história ser muito recente.
Moçambique teve uma guerra civil de 16 anos, em que morreram muitas pessoas. Moçambique é ao mesmo tempo
uma grande história de sucesso, porque a guerra acabou em 1992 e, quando eu pensava que nunca mais ia ver a
paz, o governo conseguiu instalar a paz juntamente com a sociedade civil. E hoje Moçambique é um grande parceiro
internacional de investimento e de outros governos.
Com a sua obra, conseguiu apresentar a realidade de um país e até de um continente. Como é a sua relação
com Moçambique?
Eu não me considero representante de Moçambique, considero-me apenas representante de mim mesmo. Tenho
duas dificuldades: sou de um continente em que os brancos são minoria. Num país de 21 milhões, os brancos são 10
ou 20 mil. Portanto, eu não poderia ser o representante de qualquer coisa, se é que existe isso de representatividade.
E a outra dificuldade é que eu tenho nome de mulher. Agora já não acontece tanto, mas antes, quando eu ia visitar
um outro país, muitas vezes estavam esperando uma mulher negra. E eu ficava no aeroporto esperando que alguém
viesse falar comigo e nada. Já tive desentendimentos terríveis.
Uma vez fui visitar Cuba e tinham organizado um presente para cada membro da delegação de jornalistas. Voltei
com uma caixa de presentes. Na época, vivíamos em guerra. E, na guerra em Moçambique, nós vivíamos em uma
situação-limite, não tínhamos nada. Eu estava fascinado com aquela coisa de ter recebido um presente. Quando
cheguei a Maputo e abri a caixa vi que lá estavam vestidos e brincos. Eram coisas para uma mulher, para a senhora
Mia Couto. Então eu não me sinto representante nesse sentido, mas sinto que o facto de ser conhecido hoje fora de
Moçambique me obriga a ter uma responsabilidade para com o meu próprio país. Então, quando estou fora, eu tento
divulgar a cultura de Moçambique e os outros escritores.
E com Portugal?
Eu sou descendente, sou filho de portugueses e tenho uma relação com Portugal muito curiosa, porque não
conhecia Portugal até ser adulto. Só fui a Portugal quando comecei a publicar os meus primeiros livros. E era uma
coisa muito estranha, porque a conceção africana de lugar é que o lugar é nosso quando os nossos mortos estão
enterrados no lugar. E eu não tenho mortos em Moçambique, infelizmente. Então os meus mortos estão enterrados
em algum lugar no norte de Portugal. E eu fui ver esse lugar, pois queria ver justamente porque queria ter essa
relação quase religiosa com o lugar.
O que acontece é que os meus pais imigraram para Moçambique quando eram jovens, tinham 20 anos, e viveram
toda a sua vida lá, nunca mais tiveram relação com Portugal. E eles contavam histórias de um país que, ao mesmo
tempo que me fascinava, mas que era algo muito distante. O que acontecia é que a minha mãe, ao contar histórias
sobre a sua família, os seus tios e avós, trazia para mim e para os meus irmãos uma presença que nos fazia muita
falta, porque todos os meus amigos tinha avós, tios e falavam dos primos. Eu não tinha ninguém. A minha família
eram os meus pais e os meus três irmãos. Então o que a minha mãe fazia ao contar histórias era inventar a família
inteira. Eu precisava ter um sentimento de eternidade que era conferido por essas histórias que a minha mãe
contava.
www.esquerda.net,4 de fevereiro de 2012

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Entrevista a Mia Couto

  • 1. Entrevista a Mia Couto E se tivesse a oportunidade de entrevistar um escritor? Os alunos do Colégio São Luís, em São Paulo, tiveram esta oportunidade. Há duas semanas, os adolescentes estiveram com o moçambicano Mia Couto no auditório da escola. Em duas horas de conversa, os meninos fizeram perguntas inteligentes e não deixaram espaço para silêncios constrangedores. Como é ser escritor em Moçambique? Vou contar um pequeno episódio que pode ajudar a responder a essa questão. Certo dia, estava chegando a casa e já estava escuro, já eram umas seis da tarde. Havia um menino sentado no muro à minha espera. Quando cheguei, ele apresentou-se, mas estava sempre com uma mão atrás das costas. Eu senti medo e a primeira coisa que pensei é que aquele menino me iria assaltar. Pareceu quase cruel pensar que no mundo em que hoje vivemos podemos ter medo de uma criança de dez anos. Então ele mostrou o que estava escondendo. Era um livro, um livro meu. Ele mostrou o livro e disse: “Eu vim aqui devolver uma coisa que o senhor deve ter perdido”. Então ele explicou a história. Disse que estava no átrio de uma escola, onde vendia amendoins, e, de repente, viu uma estudante entrando na escola com o livro. Na capa do livro, havia uma foto minha e ele me reconheceu. Então ele pensou: “Essa moça roubou o livro daquele fulano”. Porque como eu apareço na televisão, as pessoas me conhecem. Então ele perguntou: Esse livro que você tem não é do Mia Couto?”. E ela respondeu: “Sim, é do Mia Couto”. Então ele pegou no livro da menina e fugiu. Essa história é para dizer que, para uma parte dos moçambicanos, a relação com o livro é uma coisa nova. Nós, escritores moçambicanos, sabemos que escrevemos para uma pequena percentagem da população, que são os que sabem ler e escrever. O livro tem uma circulação muito restrita. Mas, mesmo assim, as tiragens dos meus livros em Moçambique giram em torno de 6 mil, 7 mil exemplares, o que é um número alto. Quais são os maiores problemas de Moçambique hoje? Antes de responder à pergunta, vou dizer uma coisa. A imagem que nós temos uns dos outros é feita muito de clichês, de estereótipos. Vocês (brasileiros) também têm uma imagem feita lá fora. A primeira vez que eu vim a São Paulo, há alguns anos, fui protagonista de uma história engraçada. Quando eu estava a sair de Moçambique, disseram-me que São Paulo era perigosíssima, que havia balas perdidas, pessoas a serem mortas nas ruas, e eu comecei a ficar com medo. Na viagem de avião, que dura onze horas, eu vim pensando que era um perigo e que seria assaltado. Tinham dito para ter cuidado quando chegasse ao aeroporto, porque havia falsos táxis que raptavam as pessoas. E, de facto, eu já estava contaminado com aquela coisa. Quando cheguei, havia um motorista da minha editora, mas ele não estava a usar uniforme e não tinha identificação. Eu perguntei se ele tinha identificação e ele disse: “Não, eu sou o Pepe”. Começámos a andar por um corredor e ele ia dizendo que o carro estava lá no fundo. E o carro não era propriamente um táxi. E a ideia de que eu estava sendo raptado começou a soar na minha cabeça. Quando entrei no carro e me sentei ao lado do motorista, já estava olhando para a frente e pensando “esses são os últimos momentos da minha vida, vou reviver todo o meu passado, como nos filmes”. Até que o motorista pegou em algo que estava no porta-luvas. Era uma coisa metálica. Ele estendeu essa coisa e disse: “Aceita uma balinha?”. Vocês estão a rir, mas eu não tinha nenhuma vontade de rir, porque balinha lá não quer dizer a mesma coisa que
  • 2. aqui. Quer dizer bala no sentido literal mesmo, projétil de bala. E eu só consegui pensar que estava sendo assaltado, que aquele homem me iria matar. Isso é para mostrar como construímos a imagem uns dos outros. A imagem que se tem da África fora da África é sempre associada à fome, à miséria, à guerra. Mas os africanos não vivem todos assim. Eles são felizes, são construtores de vida, têm uma vida social riquíssima, têm culturas diversas, é o lugar no mundo onde há mais diversidade do ponto de vista linguístico e cultural. Os problemas que temos são os mesmos da maior parte dos países africanos: estão relacionados com a miséria e com o facto da sua própria história ser muito recente. Moçambique teve uma guerra civil de 16 anos, em que morreram muitas pessoas. Moçambique é ao mesmo tempo uma grande história de sucesso, porque a guerra acabou em 1992 e, quando eu pensava que nunca mais ia ver a paz, o governo conseguiu instalar a paz juntamente com a sociedade civil. E hoje Moçambique é um grande parceiro internacional de investimento e de outros governos. Com a sua obra, conseguiu apresentar a realidade de um país e até de um continente. Como é a sua relação com Moçambique? Eu não me considero representante de Moçambique, considero-me apenas representante de mim mesmo. Tenho duas dificuldades: sou de um continente em que os brancos são minoria. Num país de 21 milhões, os brancos são 10 ou 20 mil. Portanto, eu não poderia ser o representante de qualquer coisa, se é que existe isso de representatividade. E a outra dificuldade é que eu tenho nome de mulher. Agora já não acontece tanto, mas antes, quando eu ia visitar um outro país, muitas vezes estavam esperando uma mulher negra. E eu ficava no aeroporto esperando que alguém viesse falar comigo e nada. Já tive desentendimentos terríveis. Uma vez fui visitar Cuba e tinham organizado um presente para cada membro da delegação de jornalistas. Voltei com uma caixa de presentes. Na época, vivíamos em guerra. E, na guerra em Moçambique, nós vivíamos em uma situação-limite, não tínhamos nada. Eu estava fascinado com aquela coisa de ter recebido um presente. Quando cheguei a Maputo e abri a caixa vi que lá estavam vestidos e brincos. Eram coisas para uma mulher, para a senhora Mia Couto. Então eu não me sinto representante nesse sentido, mas sinto que o facto de ser conhecido hoje fora de Moçambique me obriga a ter uma responsabilidade para com o meu próprio país. Então, quando estou fora, eu tento divulgar a cultura de Moçambique e os outros escritores. E com Portugal? Eu sou descendente, sou filho de portugueses e tenho uma relação com Portugal muito curiosa, porque não conhecia Portugal até ser adulto. Só fui a Portugal quando comecei a publicar os meus primeiros livros. E era uma coisa muito estranha, porque a conceção africana de lugar é que o lugar é nosso quando os nossos mortos estão enterrados no lugar. E eu não tenho mortos em Moçambique, infelizmente. Então os meus mortos estão enterrados em algum lugar no norte de Portugal. E eu fui ver esse lugar, pois queria ver justamente porque queria ter essa relação quase religiosa com o lugar. O que acontece é que os meus pais imigraram para Moçambique quando eram jovens, tinham 20 anos, e viveram toda a sua vida lá, nunca mais tiveram relação com Portugal. E eles contavam histórias de um país que, ao mesmo tempo que me fascinava, mas que era algo muito distante. O que acontecia é que a minha mãe, ao contar histórias sobre a sua família, os seus tios e avós, trazia para mim e para os meus irmãos uma presença que nos fazia muita falta, porque todos os meus amigos tinha avós, tios e falavam dos primos. Eu não tinha ninguém. A minha família eram os meus pais e os meus três irmãos. Então o que a minha mãe fazia ao contar histórias era inventar a família inteira. Eu precisava ter um sentimento de eternidade que era conferido por essas histórias que a minha mãe contava. www.esquerda.net,4 de fevereiro de 2012