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A morte de Ivan Ilitch – Leão
Tolstói
Prof. André Assi Barreto – professor mestre em Filosofia.
Graduado em História. Tradutor, editor, revisor e palestrante.
www.andreassibarreto.org
Dados
 Liev Nikoláievich Tolstói, mais conhecido em português como Leon, Leo ou Liev
Tolstói (em russo: Лев Николаевич Толстой; Governorado de Tula, 9 de
setembro de 1828 — Astapovo, 20 de novembro de 1910).
 Autor também de “Guerra e Paz” (1869) e “Anna Karenina” (1877).
A morte de Ivan
Ilitch
 1886 (posterior a Guerra e Paz e a
Anna Karenina).
 Em agosto de 1883, duas semanas
antes de falecer, o escritor russo Ivan
Turguêniev escreveu a Tolstói: "Faz
muito tempo que não lhe escrevo
porque tenho estado e estou,
literalmente, em meu leito de morte.
Na realidade, escrevo apenas para
lhe dizer que me sinto muito feliz
por ter sido seu contemporâneo, e
também para expressar-lhe minha
última e mais sincera súplica. Meu
amigo, volte para a literatura!".
 O pedido de Turguêniev alude ao fato de que Tolstói havia então abandonado a arte e
renegado toda sua obra pregressa para se dedicar à vida espiritual. Embora não se
possa dizer com certeza em que medida as palavras de Turguêniev repercutiram em
Tolstói, é certo que A morte de Ivan Ilitch, publicada em 1886, foi a primeira obra
literária que ele escreveu após seu retorno às letras e que se trata de um dos textos
mais impressionantes de todos os tempos.
 Retorno às letras após “retiro espiritual”.
 “Socialismo cristão”, não-violência, abandono da igreja “instituída”. Excomungado pela
Igreja Ortodoxa. Torna-se vegetariano.
 Quando jovem Tolstói fora “libertino” (fase estética). Suas leituras mais profundas
espiritualmente: Dom Quixote e Os Miseráveis.
Estrutura de enredo
 “A obra-prima de Tolstói” Otto Maria Carpeaux
 I:
 morte de Ivan Ilitch, Ivan está morto, começo pelo fim (estratégia).
 “Amigos” do sr. juiz Ilitch tomam consciência de sua morte (Foro).
 Questões: quem irá substituí-lo?
 “Aí está, morreu; e não eu” (antes ele do que eu), p. 9.
 Os mais chegados estavam pensando na partida de uíste ainda daquela noite.
 A mulher (Prascóvia) de Ivan considerava o sr. Ivânovitch (companheiro de uíste)
um amigo próximo do marido, ainda assim, preocupavam-lhe as convenções
sociais: “Piotr Ivânovitch sabia que, assim como antes fora necessário fazer o sinal
da cruz, agora, era preciso apertar aquela mão [da mulher] (...)”, p. 12.
 A mulher de Ivan chama o amigo a uma sala cheia de “móveis e bibelôs” (p. 13) e
tenta descobrir com Ivânovitch informações sobre a pensão estatal de viúva que irá
receber e se há meios de aumentar seu valor. Durante o velório.
 Ivan volta a se contentar com o fato de não ser ele a passar por aquilo (p. 15).
 A viúva quer passar aos “assuntos práticos” (p. 15)
 Ao fim de I: Piotr se junta a outros para jogar uíste; não se sente envergonhado
porque é o 5º a adentrar o jogo.
 II:
 A história volta-se a seu início: a vida de Ivan Ilitch (“das mais simples e comuns”).
 Burocracia da Rússia czarista, carreira na área do direito.
 Ivan se forma e vai galgando cargos melhores ao longo dos anos (a expectativa
mais que normal numa extensa burocracia).
 Era um funcionário decente, operava pelas regras, “bom menino” (p.20).
 Depois de um tempo, encontra sua futura esposa, “a moça mais atraente, brilhante
e inteligente do círculo de relações de Ivan Ilitch” (p. 22).
 COMENTÁRIO: todos almejam uma “vida normal”. Estudar para “ser alguém na
vida”. Quem vai descobrir a cura do câncer vs. arrumar a cama antes de querer
revolucionar o mundo.
 Os “primeiros tempos” do casamento de Ivan Ilitch foram normais, agradáveis.
Felicidade e discussão sobre os itens da mobília de sua casa.
 Algum tempo depois, surgem os primeiros desconfortos com a mulher. O trabalho
era a rota de fuga de Ivan.
 “Muito em breve, não mais de um ano após o matrimônio, Ivan Ilitch compreendeu
que o convívio conjugal, embora apresente algumas comodidades para a , é na
realidade algo muito complexo e difícil, com respeito ao qual, se se deseje cumprir
o dever, isto é, levar uma vida decente, aprovada pela sociedade, é preciso
elaborar um tipo determinado de relação, tal como no serviço.
E Ivan Ilitch elaborou para si uma tal relação com a vida a dois. Ele exigia da vida
de família somente as comodidades do jantar, da dona de casa, do leito, comodidades
essas que tal vida podia proporcionar-lhe, e sobretudo aquela decência das
formalidades exteriores determinada pela opinião pública” (p. 25, grifo nosso).
- Enorme preocupação com o SOCIALMENTE ACEITÁVEL, retornaremos a isso.
 Vieram os filhos, 7 anos se passaram, os resmungos da mulher aumentam. O
dinheiro se tornou escasso e a mulher o culpava pelos novos problemas. O
trabalho é refúgio, mas não rende.
 III:
 Passam-se 17 anos de casado e o clima é mais ou menos este (reclamações da
mulher, ninguém o ajuda, o salário é insuficiente etc.).
 Depois, viaja a São Petersburgo e acaba por conseguir uma transferência de
postos, irá ganhar mais.
 A mulher ficou feliz e começaram os novos planos para a nova vida.
 As coisas mais ou menos se acertam e voltam a sua rotina de normalidade.
 Um dos “pontos altos” da obra: o detalhismo na escolha das mobílias, cortinas e
enfeites da nova casa (p. 30 e 31). Inclusive do ambiente em que Ivanôvitch será
recebido no velório de Ivan.
 Preocupação extrema com o supérfluo.
 “Na realidade, havia ali o mesmo que há em casa de todas as pessoas não muito
ricas, mas que desejam parecê-lo” (p. 31).
 Uma guinada favorável: “e assim viveram. O círculo social que formaram era o
melhor possível, visitava-os gente importante e também jovens” (p. 35).
 IV:
 “Gozavam todos de boa saúde” (p. 35), embora Ivan já sinta um gosto estranho
boca e sensação desagradável no estômago.
 A dor aumenta e começa a causar mau humor em Ivan, o que afeta sua
familiar.
 Vai ao médico, sem obter qualquer avaliação conclusiva.
 Toma remédios, tem a impressão de esquecer algo (paranoia), paga o médico
caro e obteve diagnóstico distinto.
 Ivan “lia livros de medicina e se aconselhava com médicos”.
 A doença afeta as relações em casa e no emprego.
 V:
 Passam-se os meses e Ivan decai fisicamente. Se olha no espelho e se vê abatido
pela doença.
 Palavras do cunhado para sua irmã (esposa de Ivan): “Você não vê, mas ele é um
homem morto, veja os seus olhos. Não têm luz” (p. 44-45).
 Começou a se irritar com os olhares bondosos e de pena dos que o cercavam. E
refletir sobre a morte e o que vem depois dela.
 Um resumo da situação de Ivan até aqui por ele próprio:
 “’Alguma coisa não está certa; tenho que me acalmar, tenho que pensar em tudo
desde o começo’. E ele se pôs a pensar. “Sim, o início da doença. Dei uma batida
de lado, mas não percebi grande mudança em mim, nem aquele dia, nem no
seguinte, doeu um pouco, depois mais, depois os médicos, depois o humor
tristonho, a angústia, de novo os médicos; e eu estava caminhando cada vez mais
perto, perto do abismo. As forças diminuíam. Estava cada vez mais perto, mais
perto. E eis que me consumi, não tenho mais luz nos olhos. E aí está a morte, e eu
só penso no meu ceco. Penso em consertar o ceco, mas isto aqui é a morte” (p. 47).
 VI:
 Ivan sente a morte como figura singular, diferente do silogismo. É diferente
quando recai sobre as próprias costas.
 Busca (ainda) refúgio no trabalho, depois na sala de estar (novamente) que
construiu com tanto zelo, mas nada funciona.
 VII:
 A situação piora e como consolo, eis que surge a figura do criado Guerássim (a
presença dos familiares incomodava Ivan e a recíproca era verdadeira). Sua
conversa é agradável e ajuda-o a se posicionar.
 Era o único que se compadecia de Ivan e que o compreendia (p.56).
 VIII:
 Guerássim não participava do fingimento coletivo, o tratava como moribundo.
 Veio o médico para nova visita e só reforça a atmosfera de fingimento.
uma esperança que não existia de fato.
 Enquanto isso, a família tocava sua vida normalmente. A mulher vai a um
espetáculo. A filha está prestes a se casar.
 O aspecto do filho mais novo lhe incomodava; contudo, tinha e impressão que,
junto com o empregado, eram os únicos a entender sua situação
 Todos que o visitaram seguem para sua rotina social.
 IX: solilóquio, “a vida passa num flash” quando se está à beira da morte,
 A mulher volta e lhe oferece ópio; que ele aceita.
 Ivan reflete sobre sua situação e chega a questionar Deus: “para quê fizeste tudo
isto? Para quê me trouxeste aqui? Para quê, para quê me torturas tão
horrivelmente?” (p. 66).
 “Mas o que é isto? Para quê? Não pode ser. A vida não pode ser assim sem
sentido, asquerosa. E se ela foi realmente tão asquerosa e sem sentido, neste
caso, para quê morrer, e ainda morrer sofrendo? Alguma coisa não está certa”
67, grifo nosso).
 “Talvez eu não tenha vivido como se deve – acudia-lhe de súbito à mente. – Mas
como não, se eu fiz tudo como é precis?” (p. 67-8).
 X:
 Passam-se mais duas semanas. Ivan já não deixa mais o divã. Solitário e sempre
com os mesmos pensamentos.
 Os dois estados de espírito em que se dividiram as reflexões de Ivan Ilitch desde
que soube da doença: a reflexão existencial sobre a morte; a reflexão fisiológica
rim, a tripa etc.). Tudo em três meses.
 Agora vivia deitado de bruços no divã, olhando o botão do objeto e com
de infância. E conclui: “não há explicação! O sofrimento, a morte... Para quê?”.
 XI:
 Passassem-se mais duas semanas, a filha de Ivan é proposta em casamento.
 A condição de Ivan piora ainda mais.
 A filha: “tenho pena de papai, mas por que precisa atormentar-nos? (p. 71).
 O médico retorna e alerta a família que apenas o ópio pode trazer algum
agora.
 Narrador: “seus sofrimentos morais eram mais terríveis que os físicos” (p. 71).
 Veio a reflexão: e se tiver vivido “errado”? E se o certo fosse outra coisa?
 “O seu trabalho, o arranjo da sua vida, a sua família, e esses interesses da
sociedade e do serviço, tudo isto podia ser outra coisa. Tentou defender tudo isto
perante si. E de repente sentiu todas a fraqueza daquilo que defendia. E não havia
o que defender” (p. 72).
 Viu na família e nos criados, todos “bem”, o mesmo sentimento que o tomava
antes da doença.
 A mulher acha melhor chamar o padre.
 Disse à mulher que estava melhor, mas a vontade era dizer: “não é isso. Tudo
aquilo de que viveste e de que vives é uma mentira, um embuste, que oculta de ti a
vida e a morte” (p. 73).
 XII:
 Três prolongados dias de agonia. O incômodo dele, pela dor; o incômodo dos
demais, por “ouvir” a dor.
 Leitura das páginas 75 e 76.
 Chega a morte de Ivan Ilitch. O “caminho até a morte” (vida) é mais importante
a morte em si. Ivan vê “a luz”.
 A morte é certa, a questão é o que fazemos em vida. Filmes “você vai morrer em
uma semana”. Superar o tabu que é a morte.
Imaginação moral e níveis de leitura
 Imaginação moral: transposição das verdades das obras para “nós”.
 Pode ser observada na música, parábolas, obras clássicas (mais importante)
 É a ponte entre as verdades eternas e o presente (Russell Kirk). “Democracia dos
mortos”.
 1º nível: literal, o que fizemos até aqui.
 2º nível: figurativo/alegórico, contextos, caracterização dos personagens, etc.
 3º nível: moral, as qualidades humanas de cada personagem.
 4º nível: anagógico/simbólico: significado místico, entendimento da realidade
histórica, espiritual, do cosmo, da alma humana etc.
Obras correlatas
 Primeira que me veio à mente durante a releitura da obra: Memórias Póstumas de
Brás Cubas de Machado de Assis.
 Morte, sentido da vida, pessimismo. Estrutura “de trás para frente”. A obra de
Machado é anterior (1880)/1889 a de Tolstói.
 Obra dedicada ao verme que corroeu o corpo de Brás Cubas. O defunto vira
“autor”.
 Brás Cubas: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa
miséria.
 PRINCIPAL: exposição das hipocrisias da sociedade (burguesa).
 Outro clássico de crítica à
sociedade burguesa: Madame
Bovary (1856), de Flaubert.
 Nicolai Berdiaev (Uma nova
idade média) – crítica mordaz
à burguesia. Filósofo russo.
 Leitura de trechos.
 2, 3 e 4º níveis
 A obra também pode ser associada a outras leituras que me marcaram:
 - O Processo (1925), Kafka: burocracia jurídica.
 - A metamorfose (1915), Kafka: a manutenção das aparências burguesas.
 E, de certa forma, o sentido da existência/da vida. A vida pode ser reduzida a um
processo burocrático? O que você faria caso se tornasse um inseto gigante? O que
faria se a morte fosse iminente?
Questão última: o sentido da vida
 Coisas de que pessoas dizem se arrepender quando estão no seu leito de morte:
 1) Ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira, não a que os outros queriam
que eu vivesse.
 2) Não ter trabalhado tanto.
 3) Ter tido coragem de expressar meus sentimentos.
 4) Ter estado mais em contato com os meus amigos.
 5) Ter me permitido ser mais feliz.
 1 claramente é o arrependimento de Ivan Ilitch.
 Extraído do livro “The top five regrets of
dying” da psicóloga Bronnie Ware.
 Os relatos mostram um ferimento do
primeiro mandamento (“Adorar a Deus e
amá-lo sobre todas as coisas”), as pessoas
abrem mão da sinceridade, fingem ser o que
não são/não queriam ser.
 Clássicos: contém ensimanentos HUMANOS,
são universais e eternos.
 “A morte de Ivan Ilitch” poderia ser usado como parte de uma terapia (“filosofia
clínica”).
 Quem “não sabe o que fazer da vida” precisa ler a obra e tomar consciência que
precisa se encontrar.
 Problema: a maioria das pessoas não sabe que não sabe o que fazer da vida. Pior:
vivemos numa era de relativismo, niilismo, de “tanto faz”.
 Tolstói deixa a porta aberta. Outros, como Albert Camus, fecharam. Ex: o lema do
“herói” de O Estrangeiro (1942) é “tanto faz”. O mito de Sísifo(1942).
Colocar a morte em perspectiva
 Sem colocar a certeza da morte em perspectiva na sua vida, é difícil estabelecer
seu sentido (“a única certeza da vida é a morte”).
 Não se trata de “viver para morrer”, do mesmo jeito que não vivemos para
comer, apesar de não poder viver sem comer.
 A morte é a perspectiva inicial da vida – tem precedência ontológica (embora
não cronológica, evidentemente).
 Apenas quando Ivan Ilitch toma consciência que vai morrer que consegue avaliar
que o que fez em vida não fazia sentido. Se a perspectiva da morte mostra que
aquilo não faz sentido, então não importa.
 A morte é pedagógica e Tolstói um racionalista (!).
Parênteses
 Como eu tento demover as pessoas do seu estado de alienação?
 O conceito de “apeirokalia” em Aristóteles.
 O exercício do necrológio.
 O que você quer realizar na SUA vida? [“problema”: religião. P. ex.: para
Wittgenstein, discutir o sentido da vida é o mesmo que discutir se Deus existe].
 Ou ainda: Viktor Frankl. Ou Jordan Peterson.
Se a morte fosse iminente,
você estaria satisfeito com o
que fez até hoje?
 A Poesia é superior à História porque esta última narra o passado e a primeira
possibilidades de futuro (Aristóteles).

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Aula sobre "A morte de Ivan Ilitch" de Tolstói

  • 1. A morte de Ivan Ilitch – Leão Tolstói Prof. André Assi Barreto – professor mestre em Filosofia. Graduado em História. Tradutor, editor, revisor e palestrante. www.andreassibarreto.org
  • 2. Dados  Liev Nikoláievich Tolstói, mais conhecido em português como Leon, Leo ou Liev Tolstói (em russo: Лев Николаевич Толстой; Governorado de Tula, 9 de setembro de 1828 — Astapovo, 20 de novembro de 1910).  Autor também de “Guerra e Paz” (1869) e “Anna Karenina” (1877).
  • 3.
  • 4. A morte de Ivan Ilitch  1886 (posterior a Guerra e Paz e a Anna Karenina).  Em agosto de 1883, duas semanas antes de falecer, o escritor russo Ivan Turguêniev escreveu a Tolstói: "Faz muito tempo que não lhe escrevo porque tenho estado e estou, literalmente, em meu leito de morte. Na realidade, escrevo apenas para lhe dizer que me sinto muito feliz por ter sido seu contemporâneo, e também para expressar-lhe minha última e mais sincera súplica. Meu amigo, volte para a literatura!".
  • 5.  O pedido de Turguêniev alude ao fato de que Tolstói havia então abandonado a arte e renegado toda sua obra pregressa para se dedicar à vida espiritual. Embora não se possa dizer com certeza em que medida as palavras de Turguêniev repercutiram em Tolstói, é certo que A morte de Ivan Ilitch, publicada em 1886, foi a primeira obra literária que ele escreveu após seu retorno às letras e que se trata de um dos textos mais impressionantes de todos os tempos.  Retorno às letras após “retiro espiritual”.  “Socialismo cristão”, não-violência, abandono da igreja “instituída”. Excomungado pela Igreja Ortodoxa. Torna-se vegetariano.  Quando jovem Tolstói fora “libertino” (fase estética). Suas leituras mais profundas espiritualmente: Dom Quixote e Os Miseráveis.
  • 6. Estrutura de enredo  “A obra-prima de Tolstói” Otto Maria Carpeaux  I:  morte de Ivan Ilitch, Ivan está morto, começo pelo fim (estratégia).  “Amigos” do sr. juiz Ilitch tomam consciência de sua morte (Foro).  Questões: quem irá substituí-lo?  “Aí está, morreu; e não eu” (antes ele do que eu), p. 9.  Os mais chegados estavam pensando na partida de uíste ainda daquela noite.
  • 7.  A mulher (Prascóvia) de Ivan considerava o sr. Ivânovitch (companheiro de uíste) um amigo próximo do marido, ainda assim, preocupavam-lhe as convenções sociais: “Piotr Ivânovitch sabia que, assim como antes fora necessário fazer o sinal da cruz, agora, era preciso apertar aquela mão [da mulher] (...)”, p. 12.  A mulher de Ivan chama o amigo a uma sala cheia de “móveis e bibelôs” (p. 13) e tenta descobrir com Ivânovitch informações sobre a pensão estatal de viúva que irá receber e se há meios de aumentar seu valor. Durante o velório.  Ivan volta a se contentar com o fato de não ser ele a passar por aquilo (p. 15).  A viúva quer passar aos “assuntos práticos” (p. 15)
  • 8.  Ao fim de I: Piotr se junta a outros para jogar uíste; não se sente envergonhado porque é o 5º a adentrar o jogo.  II:  A história volta-se a seu início: a vida de Ivan Ilitch (“das mais simples e comuns”).  Burocracia da Rússia czarista, carreira na área do direito.  Ivan se forma e vai galgando cargos melhores ao longo dos anos (a expectativa mais que normal numa extensa burocracia).  Era um funcionário decente, operava pelas regras, “bom menino” (p.20).
  • 9.  Depois de um tempo, encontra sua futura esposa, “a moça mais atraente, brilhante e inteligente do círculo de relações de Ivan Ilitch” (p. 22).  COMENTÁRIO: todos almejam uma “vida normal”. Estudar para “ser alguém na vida”. Quem vai descobrir a cura do câncer vs. arrumar a cama antes de querer revolucionar o mundo.  Os “primeiros tempos” do casamento de Ivan Ilitch foram normais, agradáveis. Felicidade e discussão sobre os itens da mobília de sua casa.  Algum tempo depois, surgem os primeiros desconfortos com a mulher. O trabalho era a rota de fuga de Ivan.
  • 10.  “Muito em breve, não mais de um ano após o matrimônio, Ivan Ilitch compreendeu que o convívio conjugal, embora apresente algumas comodidades para a , é na realidade algo muito complexo e difícil, com respeito ao qual, se se deseje cumprir o dever, isto é, levar uma vida decente, aprovada pela sociedade, é preciso elaborar um tipo determinado de relação, tal como no serviço. E Ivan Ilitch elaborou para si uma tal relação com a vida a dois. Ele exigia da vida de família somente as comodidades do jantar, da dona de casa, do leito, comodidades essas que tal vida podia proporcionar-lhe, e sobretudo aquela decência das formalidades exteriores determinada pela opinião pública” (p. 25, grifo nosso). - Enorme preocupação com o SOCIALMENTE ACEITÁVEL, retornaremos a isso.
  • 11.  Vieram os filhos, 7 anos se passaram, os resmungos da mulher aumentam. O dinheiro se tornou escasso e a mulher o culpava pelos novos problemas. O trabalho é refúgio, mas não rende.  III:  Passam-se 17 anos de casado e o clima é mais ou menos este (reclamações da mulher, ninguém o ajuda, o salário é insuficiente etc.).  Depois, viaja a São Petersburgo e acaba por conseguir uma transferência de postos, irá ganhar mais.  A mulher ficou feliz e começaram os novos planos para a nova vida.
  • 12.  As coisas mais ou menos se acertam e voltam a sua rotina de normalidade.  Um dos “pontos altos” da obra: o detalhismo na escolha das mobílias, cortinas e enfeites da nova casa (p. 30 e 31). Inclusive do ambiente em que Ivanôvitch será recebido no velório de Ivan.  Preocupação extrema com o supérfluo.  “Na realidade, havia ali o mesmo que há em casa de todas as pessoas não muito ricas, mas que desejam parecê-lo” (p. 31).  Uma guinada favorável: “e assim viveram. O círculo social que formaram era o melhor possível, visitava-os gente importante e também jovens” (p. 35).
  • 13.  IV:  “Gozavam todos de boa saúde” (p. 35), embora Ivan já sinta um gosto estranho boca e sensação desagradável no estômago.  A dor aumenta e começa a causar mau humor em Ivan, o que afeta sua familiar.  Vai ao médico, sem obter qualquer avaliação conclusiva.  Toma remédios, tem a impressão de esquecer algo (paranoia), paga o médico caro e obteve diagnóstico distinto.  Ivan “lia livros de medicina e se aconselhava com médicos”.  A doença afeta as relações em casa e no emprego.
  • 14.  V:  Passam-se os meses e Ivan decai fisicamente. Se olha no espelho e se vê abatido pela doença.  Palavras do cunhado para sua irmã (esposa de Ivan): “Você não vê, mas ele é um homem morto, veja os seus olhos. Não têm luz” (p. 44-45).  Começou a se irritar com os olhares bondosos e de pena dos que o cercavam. E refletir sobre a morte e o que vem depois dela.
  • 15.  Um resumo da situação de Ivan até aqui por ele próprio:  “’Alguma coisa não está certa; tenho que me acalmar, tenho que pensar em tudo desde o começo’. E ele se pôs a pensar. “Sim, o início da doença. Dei uma batida de lado, mas não percebi grande mudança em mim, nem aquele dia, nem no seguinte, doeu um pouco, depois mais, depois os médicos, depois o humor tristonho, a angústia, de novo os médicos; e eu estava caminhando cada vez mais perto, perto do abismo. As forças diminuíam. Estava cada vez mais perto, mais perto. E eis que me consumi, não tenho mais luz nos olhos. E aí está a morte, e eu só penso no meu ceco. Penso em consertar o ceco, mas isto aqui é a morte” (p. 47).
  • 16.  VI:  Ivan sente a morte como figura singular, diferente do silogismo. É diferente quando recai sobre as próprias costas.  Busca (ainda) refúgio no trabalho, depois na sala de estar (novamente) que construiu com tanto zelo, mas nada funciona.  VII:  A situação piora e como consolo, eis que surge a figura do criado Guerássim (a presença dos familiares incomodava Ivan e a recíproca era verdadeira). Sua conversa é agradável e ajuda-o a se posicionar.  Era o único que se compadecia de Ivan e que o compreendia (p.56).
  • 17.  VIII:  Guerássim não participava do fingimento coletivo, o tratava como moribundo.  Veio o médico para nova visita e só reforça a atmosfera de fingimento. uma esperança que não existia de fato.  Enquanto isso, a família tocava sua vida normalmente. A mulher vai a um espetáculo. A filha está prestes a se casar.  O aspecto do filho mais novo lhe incomodava; contudo, tinha e impressão que, junto com o empregado, eram os únicos a entender sua situação  Todos que o visitaram seguem para sua rotina social.
  • 18.  IX: solilóquio, “a vida passa num flash” quando se está à beira da morte,  A mulher volta e lhe oferece ópio; que ele aceita.  Ivan reflete sobre sua situação e chega a questionar Deus: “para quê fizeste tudo isto? Para quê me trouxeste aqui? Para quê, para quê me torturas tão horrivelmente?” (p. 66).  “Mas o que é isto? Para quê? Não pode ser. A vida não pode ser assim sem sentido, asquerosa. E se ela foi realmente tão asquerosa e sem sentido, neste caso, para quê morrer, e ainda morrer sofrendo? Alguma coisa não está certa” 67, grifo nosso).  “Talvez eu não tenha vivido como se deve – acudia-lhe de súbito à mente. – Mas como não, se eu fiz tudo como é precis?” (p. 67-8).
  • 19.  X:  Passam-se mais duas semanas. Ivan já não deixa mais o divã. Solitário e sempre com os mesmos pensamentos.  Os dois estados de espírito em que se dividiram as reflexões de Ivan Ilitch desde que soube da doença: a reflexão existencial sobre a morte; a reflexão fisiológica rim, a tripa etc.). Tudo em três meses.  Agora vivia deitado de bruços no divã, olhando o botão do objeto e com de infância. E conclui: “não há explicação! O sofrimento, a morte... Para quê?”.
  • 20.  XI:  Passassem-se mais duas semanas, a filha de Ivan é proposta em casamento.  A condição de Ivan piora ainda mais.  A filha: “tenho pena de papai, mas por que precisa atormentar-nos? (p. 71).  O médico retorna e alerta a família que apenas o ópio pode trazer algum agora.  Narrador: “seus sofrimentos morais eram mais terríveis que os físicos” (p. 71).  Veio a reflexão: e se tiver vivido “errado”? E se o certo fosse outra coisa?
  • 21.  “O seu trabalho, o arranjo da sua vida, a sua família, e esses interesses da sociedade e do serviço, tudo isto podia ser outra coisa. Tentou defender tudo isto perante si. E de repente sentiu todas a fraqueza daquilo que defendia. E não havia o que defender” (p. 72).  Viu na família e nos criados, todos “bem”, o mesmo sentimento que o tomava antes da doença.  A mulher acha melhor chamar o padre.  Disse à mulher que estava melhor, mas a vontade era dizer: “não é isso. Tudo aquilo de que viveste e de que vives é uma mentira, um embuste, que oculta de ti a vida e a morte” (p. 73).
  • 22.  XII:  Três prolongados dias de agonia. O incômodo dele, pela dor; o incômodo dos demais, por “ouvir” a dor.  Leitura das páginas 75 e 76.  Chega a morte de Ivan Ilitch. O “caminho até a morte” (vida) é mais importante a morte em si. Ivan vê “a luz”.  A morte é certa, a questão é o que fazemos em vida. Filmes “você vai morrer em uma semana”. Superar o tabu que é a morte.
  • 23. Imaginação moral e níveis de leitura  Imaginação moral: transposição das verdades das obras para “nós”.  Pode ser observada na música, parábolas, obras clássicas (mais importante)  É a ponte entre as verdades eternas e o presente (Russell Kirk). “Democracia dos mortos”.  1º nível: literal, o que fizemos até aqui.  2º nível: figurativo/alegórico, contextos, caracterização dos personagens, etc.  3º nível: moral, as qualidades humanas de cada personagem.  4º nível: anagógico/simbólico: significado místico, entendimento da realidade histórica, espiritual, do cosmo, da alma humana etc.
  • 24. Obras correlatas  Primeira que me veio à mente durante a releitura da obra: Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis.  Morte, sentido da vida, pessimismo. Estrutura “de trás para frente”. A obra de Machado é anterior (1880)/1889 a de Tolstói.  Obra dedicada ao verme que corroeu o corpo de Brás Cubas. O defunto vira “autor”.  Brás Cubas: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.  PRINCIPAL: exposição das hipocrisias da sociedade (burguesa).
  • 25.  Outro clássico de crítica à sociedade burguesa: Madame Bovary (1856), de Flaubert.  Nicolai Berdiaev (Uma nova idade média) – crítica mordaz à burguesia. Filósofo russo.  Leitura de trechos.  2, 3 e 4º níveis
  • 26.  A obra também pode ser associada a outras leituras que me marcaram:  - O Processo (1925), Kafka: burocracia jurídica.  - A metamorfose (1915), Kafka: a manutenção das aparências burguesas.  E, de certa forma, o sentido da existência/da vida. A vida pode ser reduzida a um processo burocrático? O que você faria caso se tornasse um inseto gigante? O que faria se a morte fosse iminente?
  • 27. Questão última: o sentido da vida  Coisas de que pessoas dizem se arrepender quando estão no seu leito de morte:  1) Ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira, não a que os outros queriam que eu vivesse.  2) Não ter trabalhado tanto.  3) Ter tido coragem de expressar meus sentimentos.  4) Ter estado mais em contato com os meus amigos.  5) Ter me permitido ser mais feliz.  1 claramente é o arrependimento de Ivan Ilitch.
  • 28.  Extraído do livro “The top five regrets of dying” da psicóloga Bronnie Ware.  Os relatos mostram um ferimento do primeiro mandamento (“Adorar a Deus e amá-lo sobre todas as coisas”), as pessoas abrem mão da sinceridade, fingem ser o que não são/não queriam ser.  Clássicos: contém ensimanentos HUMANOS, são universais e eternos.
  • 29.  “A morte de Ivan Ilitch” poderia ser usado como parte de uma terapia (“filosofia clínica”).  Quem “não sabe o que fazer da vida” precisa ler a obra e tomar consciência que precisa se encontrar.  Problema: a maioria das pessoas não sabe que não sabe o que fazer da vida. Pior: vivemos numa era de relativismo, niilismo, de “tanto faz”.  Tolstói deixa a porta aberta. Outros, como Albert Camus, fecharam. Ex: o lema do “herói” de O Estrangeiro (1942) é “tanto faz”. O mito de Sísifo(1942).
  • 30. Colocar a morte em perspectiva  Sem colocar a certeza da morte em perspectiva na sua vida, é difícil estabelecer seu sentido (“a única certeza da vida é a morte”).  Não se trata de “viver para morrer”, do mesmo jeito que não vivemos para comer, apesar de não poder viver sem comer.  A morte é a perspectiva inicial da vida – tem precedência ontológica (embora não cronológica, evidentemente).  Apenas quando Ivan Ilitch toma consciência que vai morrer que consegue avaliar que o que fez em vida não fazia sentido. Se a perspectiva da morte mostra que aquilo não faz sentido, então não importa.  A morte é pedagógica e Tolstói um racionalista (!).
  • 31. Parênteses  Como eu tento demover as pessoas do seu estado de alienação?  O conceito de “apeirokalia” em Aristóteles.  O exercício do necrológio.  O que você quer realizar na SUA vida? [“problema”: religião. P. ex.: para Wittgenstein, discutir o sentido da vida é o mesmo que discutir se Deus existe].  Ou ainda: Viktor Frankl. Ou Jordan Peterson.
  • 32. Se a morte fosse iminente, você estaria satisfeito com o que fez até hoje?  A Poesia é superior à História porque esta última narra o passado e a primeira possibilidades de futuro (Aristóteles).