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Por uma atuação não-maquinal

     Texto do livro Riscos do Capital Humano (Brasport, 2012), de Luis Adonis Correia

As apresentações de gestores estão carregadas de slides e sentenças que destacam
que, nas empresas, o mais importante é homem. Curiosamente se utilizam de uma
linguagem contábil (ativo principal, capital intelectual) para uma afirmação tão
transcendente. Para marcar posição e não deixar dúvidas, surge ainda a frase “o
computador é só uma ferramenta”, com poucas variações.

Isso não seria tão pernicioso se fosse só demagogia, mas a interpretação de
tecnologia como ferramenta, como um instrumento para “conseguir coisas”, é
inapropriada e denuncia falta de visão sistêmica.

Instrumentos são usados para arrancar objetos da natureza para aproximá-los do
homem, e assim os modificam. São prolongamentos de órgãos do corpo. Dentes,
mãos, dedos, braços. Por serem prolongamentos alcançam mais longe e profundo a
natureza, são mais poderosos e eficientes. Instrumentos simulam o órgão que
prolongam: enxada, dente; flecha, dedo; martelo, punho. Eram inicialmente
empíricos e depois técnicos, quando da revolução industrial, em função das teorias
científicas para simulação.

Os instrumentos, primeiro em função do homem, depois grande parte em função
das máquinas, tornaram-se mais poderosos, caros, gerando produtos mais baratos
e numerosos.

Quando os instrumentos viraram máquinas, a relação com o homem se inverteu.
Antes da revolução industrial, os instrumentos cercavam os homens, depois as
máquinas eram por eles cercadas. O homem era a constante da relação e o
instrumento era a variável; então a máquina passou a ser relativamente constante.

No filme “O Encouraçado Potemkin” há uma sequência que intercala imagens de
braço, corda, corpo, máquina. A teoria de montagem de Eisenstein evidenciou com
brilhantismo a distinção homem-máquina. Isso em 1925. O filme é eterno, mas
essas referências são datadas. Aquela delimitação não é mais nítida, e isso não é
problema da qualidade da cópia nem dos negativos.

Em nosso tempo, o empregado não se encontra cercado de instrumentos como o
artesão pré-industrial , nem está submisso à máquina, como o proletário industrial,
mas encontra-se no interior. É uma função nova, na qual o homem não é constante
nem variável. Homem e computador se confundem. Os limites se esvaecem. É esse
amálgama a representação do mundo contemporâneo.

Computador é o nosso aparelho. Aparelho, etimologicamente, vem de apparatus,
que deriva dos verbos adparare (prontidão para algo, como se estivesse à espreita)
e praeparare (disponibilidade em prol de algo). Produz símbolos, manipula e
armazena. Os resultados são mensagens. Atuamos na permutação de símbolos,
como em um jogo, e oscilamos entre homo faber e homo ludens. Mas isso não é
brincadeira.

A categoria fundamental do terreno industrial e também do pré-industrial é o
trabalho. Instrumentos trabalham: arrancam objetos da natureza e os
transformam. Computadores não trabalham. Não têm intenção de transformar o
mundo, mas modificam a vida dos homens.
Diferentemente das revoluções históricas precedentes, vivenciamos uma revolução
que desqualifica o ser humano diante da perfeição tecnológica. A verdadeira
revolução antropológica, segundo Baudrillard.

Uma decisão tomada por diretrizes tecnológicas, e não por diretrizes humanas,
ocorre quando há a prevalência da instância técnica. Reconhecer essa superioridade
é renunciar ao papel humano. O homem moderno passou a ser medido pela
perfeição de seu aparato tecnológico.

A obsolescência do ser humano diante da máquina é uma revolução que marca o
nascimento de um mundo sem o humano. Também segundo Baudrillard,
aproveitando-se do conceito hegeliano, “se houve o sujeito da História, não haverá
o sujeito do fim da História”.

Nesse cenário de hegemonia tecnológica, qual a finalidade histórica do homem
moderno, tornado obsoleto pela lógica e automatismo da tecnologia? Qual será seu
papel, se há progressivamente uma perda da capacidade de transformação e de
inquietação? Somado a isso, os governos vêm estabelecendo agendas que os
colocam como parceiros ou coadjuvantes comerciais tão-somente. Ignoram suas
missões históricas e tornam medíocre a vida pública. E nós?

A questão principal então não seria mais transformar o mundo, mas entender as
transformações para que estas não ocorram sem a participação humana. Seria? De
qualquer forma, é essa mesma realidade que deve obrigar cada um de nós a se
reposicionar.

Gestores de todo o mundo, uni-vos!

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Por uma Atuação Nao-maquinal

  • 1. Por uma atuação não-maquinal Texto do livro Riscos do Capital Humano (Brasport, 2012), de Luis Adonis Correia As apresentações de gestores estão carregadas de slides e sentenças que destacam que, nas empresas, o mais importante é homem. Curiosamente se utilizam de uma linguagem contábil (ativo principal, capital intelectual) para uma afirmação tão transcendente. Para marcar posição e não deixar dúvidas, surge ainda a frase “o computador é só uma ferramenta”, com poucas variações. Isso não seria tão pernicioso se fosse só demagogia, mas a interpretação de tecnologia como ferramenta, como um instrumento para “conseguir coisas”, é inapropriada e denuncia falta de visão sistêmica. Instrumentos são usados para arrancar objetos da natureza para aproximá-los do homem, e assim os modificam. São prolongamentos de órgãos do corpo. Dentes, mãos, dedos, braços. Por serem prolongamentos alcançam mais longe e profundo a natureza, são mais poderosos e eficientes. Instrumentos simulam o órgão que prolongam: enxada, dente; flecha, dedo; martelo, punho. Eram inicialmente empíricos e depois técnicos, quando da revolução industrial, em função das teorias científicas para simulação. Os instrumentos, primeiro em função do homem, depois grande parte em função das máquinas, tornaram-se mais poderosos, caros, gerando produtos mais baratos e numerosos. Quando os instrumentos viraram máquinas, a relação com o homem se inverteu. Antes da revolução industrial, os instrumentos cercavam os homens, depois as máquinas eram por eles cercadas. O homem era a constante da relação e o instrumento era a variável; então a máquina passou a ser relativamente constante. No filme “O Encouraçado Potemkin” há uma sequência que intercala imagens de braço, corda, corpo, máquina. A teoria de montagem de Eisenstein evidenciou com brilhantismo a distinção homem-máquina. Isso em 1925. O filme é eterno, mas essas referências são datadas. Aquela delimitação não é mais nítida, e isso não é problema da qualidade da cópia nem dos negativos. Em nosso tempo, o empregado não se encontra cercado de instrumentos como o artesão pré-industrial , nem está submisso à máquina, como o proletário industrial, mas encontra-se no interior. É uma função nova, na qual o homem não é constante nem variável. Homem e computador se confundem. Os limites se esvaecem. É esse amálgama a representação do mundo contemporâneo. Computador é o nosso aparelho. Aparelho, etimologicamente, vem de apparatus, que deriva dos verbos adparare (prontidão para algo, como se estivesse à espreita) e praeparare (disponibilidade em prol de algo). Produz símbolos, manipula e armazena. Os resultados são mensagens. Atuamos na permutação de símbolos, como em um jogo, e oscilamos entre homo faber e homo ludens. Mas isso não é brincadeira. A categoria fundamental do terreno industrial e também do pré-industrial é o trabalho. Instrumentos trabalham: arrancam objetos da natureza e os transformam. Computadores não trabalham. Não têm intenção de transformar o mundo, mas modificam a vida dos homens.
  • 2. Diferentemente das revoluções históricas precedentes, vivenciamos uma revolução que desqualifica o ser humano diante da perfeição tecnológica. A verdadeira revolução antropológica, segundo Baudrillard. Uma decisão tomada por diretrizes tecnológicas, e não por diretrizes humanas, ocorre quando há a prevalência da instância técnica. Reconhecer essa superioridade é renunciar ao papel humano. O homem moderno passou a ser medido pela perfeição de seu aparato tecnológico. A obsolescência do ser humano diante da máquina é uma revolução que marca o nascimento de um mundo sem o humano. Também segundo Baudrillard, aproveitando-se do conceito hegeliano, “se houve o sujeito da História, não haverá o sujeito do fim da História”. Nesse cenário de hegemonia tecnológica, qual a finalidade histórica do homem moderno, tornado obsoleto pela lógica e automatismo da tecnologia? Qual será seu papel, se há progressivamente uma perda da capacidade de transformação e de inquietação? Somado a isso, os governos vêm estabelecendo agendas que os colocam como parceiros ou coadjuvantes comerciais tão-somente. Ignoram suas missões históricas e tornam medíocre a vida pública. E nós? A questão principal então não seria mais transformar o mundo, mas entender as transformações para que estas não ocorram sem a participação humana. Seria? De qualquer forma, é essa mesma realidade que deve obrigar cada um de nós a se reposicionar. Gestores de todo o mundo, uni-vos!