O documento descreve aspectos da sociedade medieval portuguesa, incluindo a organização social em três ordens, a importância do clero e da Igreja, e o surgimento das primeiras cantigas trovadorescas em Portugal no final do século XII.
2. CONTEXTO
HISTÓRICO
A Idade Média teria se
iniciado no século V e
terminado no século XV.
A Idade Média também
pode ser subdividida em dois
períodos menores:
Alta Idade Média
Do século V ao século X
Baixa Idade Média
Do século XI ao século XV
4. Por volta de 1.110 d. C.
percebeu-se uma
revolução que combinou:
Renascimento urbano e
comercial
Ampliação de culturas e
fronteiras agrícolas
Crescimento econômico
Desenvolvimento intelectual
e grandes evoluções
tecnológicas
Baixa Idade Média
Do século V ao século X
Começam a ser abertas novas escolas
ao longo de todo o continente,
inclusive em cidades e vilas menores.
Por volta de 1.200, são fundadas as
primeiras universidades – Paris,
Coimbra, Bolonha e Oxford.
5. A SOCIEDADE
FEUDAL
O padre, o cavaleiro e o
camponês são as três figuras
que exprimem o essencial
da Idade Média em termos
de organização social.
Estas três ordens equivalem
a três atividades distintas:
Os que rezam;
O que combatem;
Os que trabalham.
6. O CLERO
Formado pelos sacerdotes,
o clero era a camada mais
importante.
Por que o clero era importante?
Porque acreditava-se que os
sacerdotes possuíam o
poder de comunicar-se com
Deus.
7.
8. OS PLEBEUS
Responsáveis pelo cultivo da
terra, os servos se
submetiam à exploração de
seu senhor feudal em troca
de proteção – em tempos
difíceis, como guerras,
invasões, inimigos.
9. O PENSAMENTO MEDIEVAL
Esta estrutura social se manteve por muito tempo, afinal, configurava-se por
atender aos desígnios e desejos de Deus.
“Para ajudar o homem a se salvar a Igreja passou a condenar o comércio que visava lucros,
pois , segundos os ensinamentos da Igreja, os bens materiais foram dados ao homem como
meios para facilitar sua salvação e não para o seu enriquecimento. A finalidade do trabalho
não era, portanto, a riqueza. Assim, cada um deveria ficar na posição em que se encontrava
e não desejar ser mais do que era ao nascer.”
ARRUDA. José J. História Integrada - vol 2. São Paulo. Ática. 1997.
10.
11. TEOCENTRISMO
A Igreja era a responsável
pela vida cultural e religiosa,
e, portanto, controlava os
valores morais, éticos e
artísticos, evitando a
influência de culturas pagãs
( grega e latina) sobre o
povo ignorante.
Toda e qualquer
manifestação artística era
voltada para o louvor a Deus.
12. AS MANIFESTAÇÕES DO
POVO
As primeiras produções literárias
e artísticas vindas do povo
foram as cantigas.
A importância da cantiga
encontra-se em dois aspectos:
Mudança de língua:
utilização do galego-português
em vez do latim.
Mudança de assunto: da
liturgia católica para o
cotidiano das pessoas.
13. TROVADORISMO
EM PORTUGAL
As primeiras cantigas
trovadorescas lusitanas datam
do final do século XII e são
escritas em galego-português.
A cantiga considerada o marco
inicial da literatura portuguesa
é a Cantiga da Ribeirinha
(também chamada de Cantiga
da Guarvaia), composta por
Paio Soares de Taveirós (1189
ou 1198).
14. Cantiga
da
Ribeirinha“No mundo non me sei
parelha, mentre me for‘
como me vai, ca ja moiro
por vós – e ai –
Mia senhor branca e
vermelha, queredes que vos
retraia quando vos eu vi em
saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!”
No mundo ninguém se
assemelha a
mim, enquanto a vida
continuar como
vai, porque morro por vós
e - ai! -
Minha senhora alva e de
pele rosadas,
Quereis que vos retrate
Quando eu vos vi sem
manto.
Maldito seja o dia em que
me levantei
Composta por Paio
Soares de Taveirós
para a Sra. Maria
Paes Ribeiro ( a
Ribeirinha).
15. Registro Histórico
As cantigas medievais
portuguesa se encontram
reunidas em livros
medievais denominados
cancioneiros, dos quais
se
destacam:
Cancioneiro da Ajuda
Cancioneiro do
Vaticano
Cancioneiro da
Biblioteca Nacional de
Lisboa
16. Os artistas da época medieval
Trovadores: poetas
cultos que
compunham as
letras e a música
das canções.
Menestréis:
músicos-poetas
sedentários, pois
viviam na casa de
um fidalgo.
Jograis: cantores e
tangedores
ambulantes,
geralmente de
Segréis: trovadores
profissionais,
geralmente fidalgos
desqualificados, que
iam de corte em
corte, na companhia
de um jogral.
Jogralesa e
Soldadeira: moças
que acompanhavam,
tocando pandeiro e
dançando.
18. Cantigas Líricas
“Ai, ai flores do verde
pinho
Se sabedes novas do
meu amigo,
Ai, Deus, e u é?”
Essas cantigas tratavam de temas
amorosos e de aventuras de cavaleiros
em busca da honra e do amor de uma
donzela.
19. de Amorde Amigo
Cantigas
Líricas
Eu-lírico feminino
Indireta (fala com um confidente)
Presença de refrão, paralelismo e
leixa-pren
Assunto: lamento da moça cujo
amado está longe (saudade, dúvida)
Ambiente rural
Linguagem: discreta, recatada
Humanização de elementos da
natureza.
Eu-lírico masculino
Direta (fala com a amada)
Ausência de paralelismo e leixa-pren
Assunto: sofrimento por amor não
correspondido (coita)
Ambiente da corte
Linguagem: ousada, conquistadora
Inferiorização do homem,
Vassalagem X Superioridade
feminina.
20. O que é paralelismo?
Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?
Ai, Deus, e u é?
Paralelismo é a repetição
quase total de um verso. A
alteração ocorre no final de
um verso repetido, mas
mantém-se o ritmo e
normalmente usam-se
sinônimos nesta alteração.
O que é refrão?
É a repetição do mesmo trecho ao final de cada
estrofe
21. O que é Leixa-pren?
Ao pé da letra, “leixa-pren”
significa “deixa e pega de
volta” , mas na poesia
medieval é a estratégia de
pegar o 2° verso de uma
estrofe, e repeti-lo em
outra posição (1° verso) na
estrofe intercalada.
Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?
Ai, Deus, e u é?
22. Pois nossas madres van a
San Simon
de Val de Prados candeas
queimar,
nós, as meninhas, punhemos
de andar
con nossas madres, e elas
enton
queimen candeas por nós e por
si
e nós, meninhas, bailaremos i.
Nossos amigos todos lá irán
por nos veer, e andaremos nós
bailando ante eles, fremosas en
cós,
e nossas madres, pois que alá
van,
queimen candeas por nós e por
si
e nós, meninhas, bailaremos i.
Nossos amigos irán por
23. A dona que eu am'e tenho por mia
Senhor mostrade-me-a Deus,
se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes
olhos meus e porque choran
sempr(e) amostrade-me-a
Deus,
se non dade-me-a
morte.
Essa que Vós fezestes melhor
parecerde quantas sei, a Deus,
fazede-me-a veer,
se non dade-me-a
morte.
A Deus, que me-a fizestes mais
amar,mostrade-me-a algo
possa con ela falar,
24. Cantigas Satíricas
São verdadeiros documentos da
vida social, principalmente da
corte. Fazem ecoar reações
públicas a certos fatos políticos:
revelam detalhes da vida íntima
da aristocracia, dos trovadores e
dos jograis, trazendo até nós os
mexericos e os vícios ocultos da
fidalguia medieval portuguesa.
Com o tempo, essas cantigas passaram a ser usadas para cantar
gozações e maledicências
25. Indiretas
Ambíguas
Uso da ironia leve
Intenção de brincadeira
Diretas, revelam o nome de
seu alvo.
Sem equívocos
Ofensivas
Uso de palavrões e
xingamentos
Intenção difamatória
de Maldizerde Escárnio
Cantigas
Satíricas
26.
27. Cantiga de EscárnioAi, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv'en [o] meu
cantar;
mais ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus me
perdon,
pois avedes [a] tan gran
coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito
trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
28. Cantiga de
Maldizer
Conheceis uma donzela
Por quem trovei e a que um dia
Chamei dona Berinjela?
Nunca tamanha porfia
Vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
Chamam-lhe Dona Maria.
Algo me traz enojado,
Assim o céu me defenda:
Um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.
Pois que se tem por formosa
Quanto mais achar-se pode,
Pela Virgem gloriosa!
Um homem que cheira a bode
E cedo morra na forca
Quando lhe cerrava a boca
Chamou-lhe Dona Gondrode.