O documento discute a teoria do conhecimento, incluindo suas principais questões como o que é conhecimento, se é possível, e quais são suas fontes e tipos. Aborda visões como o empirismo, que defende a experiência sensorial como fonte do conhecimento, e o racionalismo, que valoriza a razão. Também discute ceticismo, que questiona a possibilidade do conhecimento, versus dogmatismo, que a defende.
1. ESCOLA DE ENSINO MÉDIO “ SIMÃO JACINTO DOS REIS” Profª.:Elza
Aluno(a)__________________________________________ Série: 1º EG/EJA ____Data___/__/2011
APOSTILA DE FILOSOFIA – 3º e 4º bimestre
ASSUNTO: TEORIA DO CONHECIMENTO
QUESTAO DO CONHECIMENTO, Um terra para muitas discussões.
A história do pensamento ocidental testemunha a atenção que as especulações filosóficas
concentraram em determinados temas. Esses temas, discutidos em diversos períodos, tornaram-se o
que chamamos problemas filosóficos. Entre os principais problemas filosóficos está o do
conhecimento. Para compreender a si e o mundo, homens querem entender a sua própria capacidade
de entender.
Desde a antiguidade grega, quase todos os filósofos se preocuparam com o problema do
conhecimento humano. Problema que envolve questões extremamente importantes, como as
seguintes:
O que é o conhecimento?
É possível o conhecimento?
Qual é o fundamento do conhecimento?
Todas essas questões são, tratadas por uma disciplina filosófica que costuma ser designada por
diversos nomes: teoria do conhecimento, gnosiologia, critica do conhecimento ou epistemologia.
Nesta apostila, utilizaremos a denominação teoria do conhecimento.
AS CONDIÇÕES DO CONHECIMENTO VERDADEIRO.
Em que consiste, então, a teoria do conhecimento?
A teoria do conhecimento pode ser definida como investigação acerca das condições do
conhecimento verdadeiro. Neste sentido, podemos dizer que existem tantas teorias do conhecimento
quanto foram os filósofos que se preocuparam com o problema, pois é impossível constatar uma
coincidência total de concepções mesmo entre filósofos que habitualmente são classificados dentro de
uma mesma escola ou corrente: Dentre as principais questões tematizadas na teoria do conhecimento
podemos citar: as fontes primeiras de todo conhecimento ou ponto de partida; o processo que
com que os dados do se transformem em juízos ou afirmações acerca de algo; maneira como a
considerada a atividade do sujeito frente ao objeto ser conhecido; o âmbito do que pode ser
conhecido segundo as regras da verdade etc. LEOPOLDO E SILVA, Franklin. Teoria do
conhecimento.
A teoria do conhecimento é, em resumo, uma reflexão filosófica com o objetivo de investigar as
origens, as possibilidades, os fundamentos, a extensão e o valor do conhecimento.
Embora o problema do conhecimento tenha preocupado filósofos desde da Antiguidade, a partir da
Idade Moderna a teoria do conhecimento passou a ser tratada como as disciplinas centrais das filosofia.
Nesse processo de valorização da teoria do conhecimento colaboraram, de forma decisiva as obras do
filósofo francês René Descartes (1596-1650), do filósofo inglês John Locke (1632-1704) e do filósofo
alemão Immanuel (1724-1804).
SUJEITO E OBJETO: OS DOIS ELEMENTOS DO PROCESSO DE CONHECIMENTO
O que é, afinal, conhecimento? O filosofo norte-americano contemporâneo Richard Rorty nos traz
a definição mais freqüente dos filósofos para essa questão: "Conhecer é representar cuidadosamente o
que é exterior à mente".
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2. A representação, por sua vez, é o processo pela qual a mente torna presente diante de si a
imagem, a idéia ou o conhecimento de algum objeto.
Portanto, para que exista conhecimento, sempre será necessária a relação entre dois elementos
básicos: um sujeito conhecedor (nossa consciência, nossa mente) e um objeto conhecido (a
realidade, o mundo, os inúmeros fenômenos). Só haverá conhecimento se o sujeito conseguir
apreender o objeto, isto é, conseguir representá-lo mentalmente.
Dependendo da corrente filosófica, será dada, no processo de conhecimento, maior ou menor
importância ao sujeito (é o caso do idealismo) ou o objeto (é o caso realismo ou materialismo).
Para o realismo, as percepções que temos dos objetos correspondem de fato as características
presentes nesses objetos, na realidade. Os objetos são que determinam o conhecimento.
O realismo mais ingênuo acredita que o conhecimento ocorre por uma apreensão imediata das
características do objetos, isto é, o objeto se mostra como realmente é ao sujeito que o percebe,
determinando o conhecimento que então se estabelece.
Já segundo o idealismo, o sujeito é que predomina em relação ao objeto, isto é, a percepção da
realidade é construída pelas nossas idéias, pela nossa consciência. Assim, os objetos seriam
"construídos" de acordo com a capacidade de percepção do sujeito. Consequentemente, o que existiria
como realidade é a representação que o sujeito faz do objeto.
Também no idealismo, há posições mais ou menos radicais em relação a afirmação do sujeito como
elemento determinante na relação de conhecimento.
AS POSSIBILIDADES DO CONHECIMENTO
Somos capazes de conhecer a verdade? E possível ao sujeito apreender o objeto?
Afinal, quais são as possibilidades do conhecimento humano?
As respostas dadas a .essas questões levaram ao surgimento de duas correntes básicas e
antagônicas na filosofia. Uma é o ceticismo, que prega a impossibilidade de conhecermos a verdade.
A outra é o dogmatismo, que defende a possibilidade de conhecermos a verdade.
Vejamos algumas das teses principais correntes do ceticismo e dogmatismo.
Ceticismo Absoluto: Tudo é ilusório e passageiro.
O ceticismo absoluto consiste em negar de forma total nossa possibilidade conhecer verdade.
Assim, para o ceticismo absoluto, o homem nada pode afirmar, pois nada pode conhecer.
Muito acreditam que o filosofo grego Gorgias (485-380 a.C.) o pai do ceticismo absoluto.
Segundo ele: "o ser não existe, se existisse não poderíamos conhecê-lo, não poderíamos comunicá-los
aos outros".
Outros apontam o filosofo grego Pirro (365-275 a.C.) como fundador do ceticismo absoluto. Pirro
afirmava ser impossível ao homem conhecer a verdade devido a duas fontes principais de erro:
Os sentidos - nossos conhecimentos são provenientes dos sentidos (visão, audição, tato,
olfato e paladar). Mas não dignos de confiança, pois podem nos induzir ao erro.
A razão – as diferentes e contrarias opiniões manifestadas pelos homens, sobre os mesmos
assuntos revelam os limites de nossa inteligência. Jamais alcançaremos certeza de qualquer
coisa.
Os críticos do ceticismo absoluto afirmam que ele é uma doutrina radical, estéril contraditória.
Radical porque nega totalmente a possibilidade de conhecer. Estéril porque, não leva nada.
Contraditória porque anula a si própria, pois, ao dizer que nada é verdadeiro, acaba afirmando que
pelos menos existe algo de verdadeiro, isto é, o conhecimento de que nada a verdadeiro.
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3. Ceticismo Relativo: O domínio do aparente e do provável.
O ceticismo relativo consiste Numa posição moderada em relação ao ceticismo absoluto, pois
nega apenas parcialmente nossa capacidade de conhecer a verdade.
Entre as doutrinas que manifestam um ceticismo relativo, destacamos as seguintes:
Subjetivismo - O conhecimento limita-se às idéias e representações elaboradas pelo
sujeito pensante, sendo impossível alcançar a objetividade. A origem do subjetivismo
está no grego Protágoras, sofista do século V a.C., que dizia que "o homem é a medida
de todas as coisas".
Relativismo - entende que não existem verdades absolutas, mas apenas verdades
relativas, que tem uma validade limitada a um certo tempo, a uma situação determinada
etc.
Probabilismo - propõe que nosso conhecimento é incapaz de atingir a certeza plena. O
que podemos alcançar a uma verdade provável. Essa probabilidade pode ser digna de
maior ou menor credibilidade, mais nunca chegará ao nível da certeza completa, da
verdade absoluta.
Pragmatismo - propõe uma concepção dos homens como seres práticos, ativos, e não
apenas como seres pensantes. Por isso, abandonam a pretensão de alcançar a verdade,
entendendo-se verdade como a concordância entre o pensamento e a realidade. Para o
pragmatismo, o conceito de verdade deve ser outro: verdadeiro é aquilo que é útil, que
serve aos interesses das pessoas na sua vida prática.
Dogmatismo: A certeza da verdade.
Uma doutrina é dogmática quando defende, de forma categórica, a possibilidade de atingirmos a
verdade. Dentro do dogmatismo, podemos distinguir duas variantes básicas:
Dogmatismo Ingênuo - predominante no senso comum, consiste o acreditar plenamente
nas possibilidades do nosso conhecimento. O dogmatismo ingênuo não vê problemas na
relação sujeito conhecedor e objeto conhecido. Acredita que, sem grandes dificuldades,
percebemos o mundo tal como ele é;
Dogmatismo crítico - acredita em nossa capacidade de conhecer a verdade mediante
um esforço conjugado de nossos sentidos é de nossa inteligência. Confia que, através
de um trabalho metódico, racional e científico, o ser humano se torna capaz de conhecer a
realidade do mundo.
Criticismo: A superação do ceticismo e dogmatismo.
O criticismo, desenvolvido pela filosofia de Kant, no século XVIII, representa uma tentativa de
superação tanto do ceticismo quanto do dogmatismo, acredita na possibilidade do conhecimento, tal
como o dogmatismo, acredita na possibilidade do conhecimento, mas se pergunta pelas reais
condições nas quais seria possível esse conhecimento. Não se trata mais de uma posição ingênua,
mas de uma posição critica diante da possibilidade de conhecer.
O resultado dessa postura critica leva a uma distinção radical entre o que o nosso entendimento
pode conhecer e o que não pode. Ou seja, o Criticismo admite a possibilidade de conhecer, mas
esse conhecimento é limitado e ocorre sob condições especificas, descrita na obra critica da razão
pura, de Kant.
AS FONTES DO CONHECIMENTO (ORIGEM)
Para aqueles que admitem a possibilidade do conhecimento humano, resta perguntar: De onde se
originam os conhecimentos? De onde originam as idéias, os conceitos, as representações?
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4. De acordo com a resposta dada a esse problema, podemos destacar as seguintes correntes
filosóficas: o empirismo e o racionalismo.
EMPIRISMO: A valorização dos sentidos como fonte primordial.
A palavra empirismo tem sua origem no grego empeiria, que significa "experiência sensorial".
O empirismo defende que todas as nossas idéias são provenientes de nossas percepções
sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato). Em outras palavras, ditas por Locke: ”nada vem a
mente sem ter passado pelos sentidos".
O filósofo empirista inglês John Locke (1632-1704) afirmava também que, ao nascermos, nossa
mente é como um papel em branco, completamente desprovida de idéias. De onde provém, então,
o vasto conjunto de idéias que existe na mente humana? A isso, Locke responde com uma só palavra:
da experiência; que resulta da observação dos dados sensoriais.
RACIONALISMO: A confiança exclusiva na razão.
A palavra racionalismo deriva do latim ratio, que significa "razão". O termo é empregado de
muitas maneiras. Aqui, racionalismo está sendo empregado para designar a doutrina que atribui
exclusiva confiança na razão humana como instrumento capaz de conhecer a verdade. Ou,
recomendou o filósofo racionalista Descartes: “nunca nos devemos deixar persuadir senão pela
evidência de nossa razão”.
Somente a razão humana, trabalhando com os princípios lógicos, podem atingir o conhecimento
verdadeiro, capaz de ser universalmente aceito. Para o racionalismo, os princípios lógicos seriam
inatos, isto é, eles estão na mente do homem desde seu nascimento. Dai porque a razão deve ser
considerada como a fonte básica do conhecimento.
Vimos que o empirismo considera a experiência dos sentidos como base do conhecimento. Já o
racionalismo afirma ser a razão humana a verdadeira forte de conhecimento.
Procurando um meio termo para essas duas visões opostas e radicais, existem outras posições
filosóficas, entre as quais podemos destacar o apriorismo kantiano.
Buscando uma solução para o impasse entre racionalismo e o empirismo, Kant afirma que todo
conhecimento começa com a experiência, mas que a experiência sozinha não nos dá o
conhecimento. Ou seja, é preciso um trabalho do sujeito para organizar os dados da experiência. Para
Kant, portanto, a experiência fornece a matéria do conhecimento (os seres do mundo), enquanto a
razão organizará essa matéria de acordo com suas formas próprias, estruturas existentes a Priori no
pensamento (dai o nome apriorismo).
TIPOS DE CONHECIMENTO
Há muitos modos de conhecer o mundo, que depende da postura do sujeito diante do objeto de
conhecimento: o mito, o senso comum, a ciência, a filosofia e a arte. Todos são formas de
conhecimento, pois cada um, a seu modo, busca desvendar os segredes do mundo, atribuindo-lhe um
sentido.
O mito proporciona um conhecimento que é mágico porque ainda vem permeado pelo desejo de
atrair o bem e afastar o mal, dando segurança ao ser humano.
O senso comum é primeira compreensão racional do mundo resultante da herança do grupo a que
pertencemos é das experiências atuais que continuam sendo efetuadas.
A ciência procura desvendar a natureza a partir, principalmente, das relações de causa e efeito,
aspira pelo conhecimento objetivo; busca o conhecimento lógico, fazendo use de métodos
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5. desenvolvidos para manter a coerência interna de suas afirmações. A aplicação da ciência resulta no
conhecimento tecnológico.
A filosofia, por sua vez, oferece um tipo de conhecimento que busca, com todo rigor, a origem dos
problemas, relacionando-os a outros aspectos da vida humana, sem restringir-se a uma única esfera do
conhecimento ou a um único aspecto do objeto.
A arte nos dá não o conhecimento de um objeto, mas de um mundo, interpretado pela sensibilidade
do artista é traduzido numa obra individual que, pelas suas qualidades estéticas, recupera o vivido e
nos aproxima do concreto.
CONHECIMENTO DO SENSO COMUM
Em nossa conversa diária com as pessoas surge uma serie de opiniões sobre os mais diversos
assuntos. Muitas dessas opiniões frequentemente conseguem um consenso, isto é, obtém a
concordância da maioria das pessoas de um grupo. Essas opiniões podem se tornar concepções
aceitas por diversos segmentos de uma sociedade.
Esse vasto conjunto de concepções geralmente aceitas como .verdadeiras em determinado meio
social recebe o nome de senso comum. Para o filósofo belga Chaim Perelman (1912-1984), o senso
comum consiste em uma série de crenças admitidas por um determinado grupo social, cujos membros
acreditam serem compartilhados por todos os homens.
Muitas das concepções do senso comum de um povo ou de um grupo social transformam-se frases
feitas ou em ditados populares, como, por exemplo:
Deus ajuda a quem cedo madruga .
Quere é poder.
Repetidas irrefletidamente no cotidiano, algumas dessas noções escondem idéias falsas, parciais ou
preconceituosas. Outras podem revelar profunda reflexão sobre a vida o que chamamos “sabedoria
popular”.
No senso comum, ou seja, no entendimento médio, comum, próprio a maioria das pessoas, os
modos de consciência se encontram geralmente emaranhados de tal forma que suas noções se
caracterizam por uma aglutinação acrítica de juízos, provenientes tanto de intuição como do campo
racional ou religioso. Acritica, quer dizer, que falta o reconhecimento exato da origem dos elementos
que compõem essas noções ou conhecimentos. Como resultado, temos a consagração de um dado
conjunto de formulações teóricas que servirão como base de orientarão para a vida prática da pessoa
como se fossem definitivas.
Nesse procedimento comum e cotidiano elevamos a categoria de "verdades definitivas e absolutas"
conhecimento provisórios e parciais.
A CONSCIÊNCIA RELIGIOSA
A consciência religiosa compartilha com a consciência mítica o elemento do sobre natural, a
crença em um poder superior inteligente, isto é, a divindade. No entanto, é uma consciência que,
historicamente, conviveu e debateu com a razão filosófica e cientifica. Sua diferença em relação a
esses saberes está na crença em verdades reveladas pela fé religiosa, enquanto a filosofia e a ciência
se apóiam sobretudo na razão para alcançar o conhecimento.
Os longos debates travados entre os defensores da fé e os da razão, durante a Idade Média, não
conseguiram conciliar satisfatoriamente esses dois termos. No período seguinte, a discussão
prosseguiu entre os filósofos, como, .por exemplo, os franceses René Descartes (1596-1650)
colocando a ênfase na razão a Pascal fazendo o contraponto. ao afirmar que "o coração tem razões
que a razão desconhece", isto é, existem outras possibilidades de conhecimento das qual a razão não
participa.
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6. CONHECIMENTO DA FÉ
Existem fatos que ultrapassam o domínio dos nossos sentidos, do nosso raciocínio, impedindo que
tenham dados intelectuais ou empíricos sobre ele. Não temos conhecimento, com certeza, do que
acontece conosco após a morte biológica.
Como, então, lidar com essas realidades?
Pela crença, que consiste exatamente em aceitar dados na forma como nos são apresentados por
outras pessoas. Quando dizemos: "Após a morte, vou para o céu", estamos aceitando uma
informação que nos foi transmitida por líderes de uma religião que seguimos e com cujos dogmas
concordamos e convivemos. Esse conhecimento baseia-se, portanto, na autoridade de terceiros.
Hegel considera que há três grandes tipos formas de compreensão do mundo seria religião, a arte e
filosofia. A diferença delas estaria no seu modo de consciência enquanto a religião apreende o
mundo com a fé, a arte faz predominantemente intuição e a filosofia, conhecimento racional.
A consciência racional busca a compreensão da realidade por meios de certos princípios
estabelecidos pela razão, como, por exemplo, o de causa e efeito. Essa busca se caracteriza por
pretender alcançar uma adequação entre pensamento e realidade, isto é, entre explicação e aquilo que
se procura explicar.
O conhecimento racional desenvolve um trabalho de abstração e analise. Abstrair significa separar,
isolar as partes essenciais. Analisar significa decompor o todo em suas partes.
Esse procedimento racional, no qual se procura alcançar a "essência" de determinado: fenômeno, é
comum a ciência e a filosofia, que, de fato, se mantiveram ligadas por muitos séculos.No entanto, a
partir da revolução científica, no século XVII esses dois campos do saber foram separados a hoje
guardam características próprias.
A ciência desenvolveu métodos científicos, baseados em experimentações, que permitem a
observação dos dados empíricos e a sua organização em teorias, para alcançar o que é universal em
relação ao fenômeno ou objeto investigado.
A filosofia se distingue da ciência por ser mais teórica, pois não condiciona o objeto de sua analise
a um laboratório de experimentações. Por isso, o dialogo entre filosofia e ciência é fundamental, pois
um lado completa o outro. Nesse dialogo, a filosofia pode vale-se dos resultados alcançados pela
ciência e questioná-los de uma forma global.
Enquanto a ciência procura principalmente, compreender o que são as coisas, ou seja, fornecer a
chave de compreensão da realidade, a filosofia não busca somente a descrição objetiva da realidade,
mas avalia e questiona essa realidade.
O CONHECIMENTO FILOSÒFICO
O saber filosófico abrangia os mais diversos tipos de conhecimento, que hoje entendemos como
pertencentes a matemática, astronomia, física, biologia; lógica, ética etc. Enfim, todo o conjunto dos
conhecimentos racionais integrava o universo do saber filosófico. A filosofia interessava conhecer toda
a realidade sem dividi-la em objetos específicos de estudo.
Na historia do pensamento ocidental, esse significado amplo e universalista do saber filosófico
manteve-se, de modo geral, até a Idade Média. A teologia foi uma que se separou da filosofia e
desenvolveu em estudo específico a respeito de Deus.
Durante a Idade Moderna, entretanto, o vasto campo filosófico entrou num processo de redução. A
realidade a ser conhecida passou a ser dividida, recortada, despertando estudos especializados. Era a
separação entre ciência e filosofa.
Gradativamente, foram conquistando autonomia muitas ciências particulares, que se desprenderam
do tronco comum da árvore do saber filosófico. Ao se constituírem por um processo de especialização,
essas ciências passaram a direcionar suas investigações a certos campos delimitados da realidade, e o
fazem ainda hoje de forma mais “localizada".
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7. Os dias atuais caracterizam-se como a "era dos especialistas". O problema da especialização do
mundo científico é que ela conduz a uma pulverização do saber, à perda de uma visão mais ampla do
conhecimento, a uma restrição mental sistemática.
Neste Contexto, a filosofia passou a desenvolver o trabalho de reflexão sobre os conhecimentos
alcançados por todas as ciências, além da procura de respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da
vida e do mundo. Assim, podemos dizer, que pertence à filosofia o estudo geral dos seres, do nosso
conhecimento e do valor das coisas. Em termos mais específicos, costuma-se situar dentro do
campo filosófico aqueles estudos que se referem a temas como teoria do conhecimento, fundamentos
do saber cientifico, lógica, política, ética, estética, etc.
O CONHECIMENTO ARTÍSTICO
Em sua origem, o termo estética vem da palavra grega aisthetiké, que se refere a tudo aquilo que
pode ser percebido pelos sentidos.
Baseado nessa etimologia, Kant definiu a estética como a ciência que trata das condições da
percepção pesos sentidos. Foi, no entanto, o alemão Alexander Baumgarten (1714-1762) quem
utilizou pela primeira vez no sentido que ela tem hoje, isto é, como teoria do belo e das suas
manifestações através da arte.
Assim, como ciência e teoria do belo, a estética pretende alcançar um tipo especifico de
conhecimento: aquele que é captado pelos sentidos. Por esse motivo, ela difere e se contrapõe
radicalmente à lógica e à matemática. Essas duas disciplinas partem da razão, e não dos sentidos, para
estabelecer um conhecimento que é "claro e distinto", conforme o ideal de saber proposto por
Descartes.
A estética, por sua vez, parte da experiência sensorial, da sensação, da percepção sensível, para
chegar a um resultado que se poderia dizer "confuso" e "obscuro", que não apresenta a mesma clareza
e distinção Iógico-racional. Seu principal objetivo de investigação é a obra de arte.
Ocupando-se, também, da obra de arte encontramos a filosofia da arte, que procura investigar o
desenvolvimento artístico em busca do "sentido" da historia da arte. Assim, poderíamos dizer que os
princípios estéticos são estabelecidos na medida em que existe a obra de arte, a qual, por sua vez, está
de maneira imprescindível inserida num determinado contexto histórico-cultural. Da mesma forma, os
aspectos artístico-culturais se manifestam na medida em que existe a obra de arte; a qual, por sua vez,
esta de maneira imprescindível disposta mediante princípios estéticos. Em suma: em torno da obra de
arte, complementam-se a estética (ou filosofia do belo) e a filosofia da arte (ou ciência geral da arte).
[Bastos, Fernando. Panorama das idéias estéticas no ocidente, p. 13-4].
O CONHECIMENTO, PENSAMENTO E LÓGICA.
Já que, o pensamento é a manifestação do conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade,
é preciso estabelecer algumas regras para que essa meta possa ser atingida.
A lógica é o ramo da filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do pensar correto, sendo,
portanto, um instrumento do prazer.
O principal organizador da lógica clássica foi Aristóteles, com sua obra chamada Órganon; Ele
divide a lógica em: formal e material.
Lógica Formal - é a correção ou incorreção lógica do argumento só depende da relação entre as
premissas e a conclusão.
Dá-se o nome de premissa às proposições que antecedem a conclusão. Premissa maior é a que
contém o termo de maior extensão, e premissa menor, a que contém o termo de menor extensão.
O termo equivalente ao conceito.
A proposição equivalente ao juízo (sentença).
A argumentação equivalente ao raciocínio.
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8. Lógica Material - trata das aplicações das operações do pensamento, segundo a matéria ou a
natureza do objeto a conhecer. Neste caso, a lógica é a própria metodologia de cada ciência. É,
portanto, somente no campo da lógica material que se pode falar da verdade: o argumento é verdadeiro
quando as premissas, são verdadeiras e relacionam-se adequadamente à conclusão.
A lógica de Aristóteles é fundada sobre dois princípios: o da identidade e o da não-contradição.
Segundo o principio da identidade, "o que é, “é", ou seja, uma coisa é o conjunto de seus caracteres
constitutivos: quando afirmamos algo de alguma coisa, estabelecemos uma identidade entre os termos,
entre o sujeito e sob o mesmo aspecto; se A=A, A pode não ser B. Por exemplo, o café não pode estar,
ao mesmo tempo quente e não - quente.
A lógica aristotélica pressupõe uma concepção estética de mundo, na qual a realidade é explicada a
partir das essências imutáveis e eternas.
O Raciocínio Lógico-Formal
Raciocinar ou argumentar é o ato próprio da razão. É o tipo de operação discursiva do
pensamento que consiste em encadear logicamente juízos e deles tirar uma conclusão.
O raciocínio vai de um juízo a outro, passando por vários intermediários. Nesse sentido, podemos
dizer, que o raciocínio é um conhecimento mediato, isto é, intermediado por vários outros, ao contrário
da intuição, que é o conhecimento imediato.
Raciocínio ou argumentos quando colocamos proposições (sentenças) que contenham evidências
em uma ordem tal que necessariamente nos leva a outro juízo, que se conclui. E por juízo ou
proposição entendemos a afirmação ou negação da identidade representativa de dois conceitos ou
termos. Ex.: O cão é amigo do homem.
Quando nossos raciocínios ou argumentos são incorretos, são chamados de falácia ou sofismo.
TIPOS DE RACIOCÍNIO LÓGICO-FORMAL
Podemos raciocinar ou argumentar de três modos diferentes, fazendo use da dedução, da indução
ou analogia.
Raciocínio dedutivo - um tipo de raciocínio que parte de uma proposição geral (referente a
todos os elementos) e conclui outra proposição geral ou particular (referente a parte dos
elementos de um conjunto), que se apresenta como necessária, ou seja, que derive logicamente
das premissas.
Ex.:Todo paraense é brasileiro.
Ex.:Todo metal dilate com o calor.
João é paraense
A prata é um metal.
Logo, João é brasileiro.
Logo, a prata dilata com o calor.
Aristóteles chamava de raciocínio dedutivo de silogismo e o considerava um modelo de rigor
lógico. Entretanto, devemos frisar que a dedução não nos oferece conhecimento novo, uma vez que a
conclusão sempre se apresenta.como um caso particular da lei geral.
A dedução organize e especifica o conhecimento que já temos, mas não é geradora de
conhecimentos novos. Ela tem como ponto de partida o plano do inteligível, ou seja, da verdade geral,
já estabelecida.
Raciocínio indutivo - é o raciocínio que, após considerar um suficiente número de caso
particulares, conclui uma proposição geral. A indução, ao contrario da dedução, parte da
experiência sensível, dos dados particulares.
Ex.: O cobre é condutor de eletricidade, e a prata, e o ouro, e o ferro, e o zinco...
Logo, todo metal é condutor de eletricidade.
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9. É importante que a enumeração de dados (que correspondem a tantas experiências feitas) seja
suficiente para permitir a passagem do particular para o geral. Entretanto; a indução sempre supõe a
probabilidade, isto é, já que tantos se comportam de tal forma, é muito provável que todos se
comportem assim.
Em função desse ''salto", há maior possibilidade de erro nos raciocínios indutivos, uma vez que
basta encontrarmos uma exceção para invalidar a regra geral. Por outro lado, é esse mesmo "salto" em
direção ao provável que torna possível a descoberta, a proposta de novos modos de compreender o
mundo. Por isso, a indução é o tipo de raciocínio mais usado em ciências experimentais.
Outro tipo de raciocínio indutivo utilizado é aquele que se desenvolve a partir do argumento de
autoridade, uma vez que utilizar o testemunho de uma pessoa, instituição ou obra para sustentar uma
conclusão é um modo válido de apresentar evidência.
A autoridade precisa ser honesta, estar informada sobre o assunto considerado, e seu
pronunciamento deve ser baseado em evidências objetivas que possam ser comprovadas por outras
pessoas competentes. Nesse caso, a autoridade é digna de confiança e seu testemunho é evidência
para a conclusão. O argumento será indutivamente correto.
Há, entretanto, muitos empregos incorretos desse tipo de argumento, dando lugar a falácias lógicas
(contra a lógica formal) ou a falácias de falsa premissa (contra lógica material). Vejamos:
A autoridade pode ser erroneamente citada ou interpretada. Por exemplo, quando é feita
uma generalização indevida, isto é, algo que é correto para um grupo restrito de
elementos é organizado para toda a espécie. Nesse caso, temos a falácia falsa
premissa.
A autoridade é popular mais não tem competência para opinar sobre o assunto. Nesse
caso, o apelo utilizado é meramente emocional, uma vez que nenhuma evidencia lógica é
oferecida. Transfere-se o prestígio da autoridade para a conclusão. É um tipo de
argumento incorreto frequentemente usado em propaganda.
A autoridade, reconhecida por sua contribuição em um determinado campo, opina sobre
assuntos que não estão dentro de sua área de competência e, portanto, seu testemunho
não é confiável. Tanto a anterior quanto este são exemplos de falácia lógica.
Por isso é preciso que tomemos grande cuidado ao sustentar nossas conclusões sobre o
argumento de autoridade, pois a confiabilidade de nossa indução dependerá, em grande parte, da
confiabilidade da autoridade utilizada.
Raciocínio analógico - é o raciocínio que se desenvolve a partir da semelhança entre casos
particulares. Através dele não se chega a uma conclusão geral, mas só a outra proposição
particular. Na vida prática, agimos muitas vezes por analogia.
Ex.: A minissaia fica bem na atriz X, logo fica bem em mim;
Tal remédio fez bem para meu amigo, portanto fará bem pra mim.
Fazemos muitas coisas que os outros fazem, com a esperança de obter os mesmos resultados. O
raciocínio analógico não oferece certeza, mas, tão-somente, certa dose de probabilidade, Por outro
lado, porque exige um salto muito grande, abre espaço para a invenção, tanto artística, quanto
cientifica.
Ex.: Gutenberg inventa a imprensa a partir impressão de pegadas deixadas no chão por pés
sujos de suco de uva.
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10. Ex.: Fleming inventa a penicilina ao ver, por acaso, que bactérias cultivadas em laboratórios
morriam em contato com o bolor que se formara.
Raciocínio analogicamente, supõe que bactérias que causavam doenças ao corpo humano também
pudessem ser destruídas por bolor (fungo).
Procurando, pois, saber como podemos conhecer é o que garante a verdade do conhecimento,
percebemos que o ser humano constrói o seu conhecimento de vários modos que cada um depende de
um tipo de raciocínio diferente e chega a uma verdade especifica, ou seja, a verdade mítica, científica,
filosófica e artística são bastante diferentes umas das outras.
RACIOCINIO LÓGICO-DIALÉTICO
O desenvolvimento da ciência a partir do século XVIII resultou em uma transformação no modo de
ver o mundo: é estática e imutável, a realidade passou a ser vista como dinâmica e em constante
mutação.
Contribuíram para essa nova visão a lei da conservação e transformação da energia (a energia não
pode ser criada, nem destruída, só alterada de uma forma para outra. Por exemplo, no motor elétrico, a
eletricidade - um tipo de energia - é transformada em energia mecânica que faz funcionar o motor); e a
teoria da evolução das espécies.
A própria história nos mostra que o mundo não permanece igual a si mesmo. Tudo muda, tudo se
transforma: o estilo de vida, as atividades econômicas, os sistemas políticos, as instituições,
tudo enfim, até os tipos de comida consumidos e a moda que altera aparência das pessoas.
A realidade, encarada com o processo, em constante mudança, exige uma nova lógica. Para dar
conta desse modo de pensar, Hegel, filosofo alemão do século XIX, desenvolve a lógica dialética para
ele, compreender a natureza é representá-la como processo que envolve a passagem de um termo
para a sua negação.
O momento dialético é o momento da passagem, de um termo ao que lhe é antitético
(que forma ou contém antítese) e ao impulso que dá ao espírito a necessidade de ultrapassar essa
contradição.
Por isso o método dialético envolve: a tese (o que é posto, afirmado); a antítese (negação da
afirmação) e a síntese ( negação que supera a contradição). Dando exemplo:
Tese: a árvore.
Antítese: a tora de madeira (a tora de madeira e a árvore morta e, por isso, é a negação da
árvore como ser vegetal vivente; nesse sentido a antítese é uma destruição).
Síntese: a mesa (superação da contradição árvore-madeira através do investimento de uma
nova significação dada pelo trabalho exercitado sobre a madeira).
Vemos, pelo exemplo, que, se de um lado, há uma negação/ destruição da tese pela antítese, por
outro, há também uma conservação de certos aspectos da tese e da antítese na sua superação que é
representada pela síntese: a mesa não é uma árvore, nem uma tora de madeira, mas não existiria se
não fosse por elas.
A lógica dialética não invalida a lógica formal, pois, mesmo que passemos a produzir as idéias
dialeticamente, só podemos exprimi-las formalmente, segundo as regras da linguagem.
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11. A LINGUAGEM
A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM
Na abertura da sua obra Política, Aristóteles afirma que somente o homem é um "animal
político", isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem. Os outros animais,
escreve Aristóteles, possuem voz (phone) e com ela exprimem dor e prazer, mas o homem possui a
palavra (logos) e, com ela, exprime o bom e o mau, o justo e o injusto. Exprimir é possuir em comum
esses valores é o que torna possível a vida social e política e, dela, somente os homens são capazes.
Segue a mesma linha o raciocínio de Rousseau no primeiro capítulo do Ensaio sobre a origem das
línguas:
“A palavra distingue os homens dos animais; a linguagem distingue as nações entre si. Não se
sabe de onde é um homem antes que ele tenha falado”.
Escrevendo sobre a teoria da linguagem, o lingüista Hjelmslev afirma que "a linguagem é
inseparável do homem, segue-o em todos os seus atos", sendo "o instrumento graças ao qual o
homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus
atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base mais profunda da sociedade
humana."
Prosseguindo em sua apreciação sobre a importância da linguagem, Rousseau considera que a
linguagem nasce de uma profunda necessidade de comunicação:
“Desde que um homem foi reconhecido por outro como um ser sensível, pensante e semelhante a si
próprio, o desejo e a necessidade de comunicar-lhe seus sentimentos e pensamentos fizeram-no
buscar meios para isto”.
Gestos e vozes, na busca da expressão e da comunicação, fizeram surgir a linguagem. Por seu
turno, Hjelmslev afirma que a linguagem é "o recurso último e indispensável do homem, seu refúgio
nas horas solitárias em que o espírito luta contra a existência, e quando o conflito se resolve no
monólogo do poeta e na meditação do pensador."
A linguagem, diz ele, está sempre à nossa volta, sempre pronta a envolver nossos pensamentos e
sentimentos, acompanhando-nos em toda a nossa vida. Ela não é um simples acompanhamento do
pensamento, "mas sim um fio profundamente tecido na trama do pensamento", é "o tesouro da
memória e a consciência vigilante transmitida de geração a geração".
A linguagem é, assim, a forma propriamente humana da comunicação, da relação com o mundo
e com os outros, da vida social e política, do pensamento e das artes.
A FORÇA DA LINGUAGEM
Podemos avaliar a força da linguagem tomando como exemplo os mitos e as religiões.A palavra
grega mythos, como já vimos, significa narrativa e, portanto, linguagem. Trata-se da palavra que
narra a origem dos deuses, do mundo, dos homens, das técnicas (o fogo, a agricultura, a caça, a
pesca, o artesanato, a guerra) e da vida do grupo social ou da comunidade. Pronunciados em
momentos especiais - os momentos sagrados ou de relação com o sagrado -, os mitos são mais do que
uma simples narrativa; são a maneira pela qual, através das palavras, os seres humanos organizam a
realidade e a interpretam.
O mito tem o poder de fazer com que as coisas sejam tais como são ditas ou pronunciadas. O
melhor exemplo dessa força criadora da palavra mítica encontra-se na abertura da Gênese, na Bíblia
judaico-cristã, em que Deus cria o mundo do nada, apenas usando a linguagem: "E Deus disse:
faça-se!", e foi feito. Porque Ele disse, foi feito. A palavra divina é criadora.
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12. Também vemos a força realizadora ou concretizadora da linguagem nas liturgias religiosas. Por
exemplo, na missa cristã, o celebrante, pronunciando as palavras "Este é o meu corpo" e "Este é o
meu sangue", realiza o mistério da Eucaristia, isto é, a encarnação de Deus no pão e no vinho.
Também nos rituais indígenas e africanos, os deuses e heróis comparecem e se reúnem aos
mortais quando invocados pelas palavras corretas, pronunciadas pelo celebrante.
A linguagem tem, assim, um poder encantatório, isto é, uma capacidade para reunir o sagrado e o
profano, trazer os deuses e as forças cósmicas para o meio do mundo, ou, como acontece com os
místicos em oração, tem o poder de levar os humanos até o interior do sagrado. Eis por que, em quase
todas as religiões, existem profetas e oráculos, isto é, pessoas escolhidas pela divindade para transmitir
mensagens divinas aos humanos.
Esse poder encantatório da linguagem aparece, por exemplo, quando vemos (ou lemos sobre)
rituais de feitiçaria: a feiticeira ou o feiticeiro tem a força para fazer coisas acontecerem pelo simples
fato de, em circunstâncias certas, pronunciarem determinadas palavras. É assim que, nas lendas sobre
o rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, os feiticeiros Merlin e Morgana decidem o destino das
guerras, pronunciando palavras especiais dotadas de poder. Também nos contos infantis há palavras
poderosas ("Abre-te, Sésamo!", "Shazam!") e encantatórias ("Abracadabra"). Essa dimensão
maravilhosa da linguagem da infância é explorada de maneira belíssima pelo cineasta Federico Fellini
no filme Oito e Meio, quando a personagem adulta pronuncia as palavras "Asa Nisa Nasa", trazendo de
volta o passado.
A ORIGEM DA LINGUAGEM
Perguntar pela origem da linguagem levou a quatro tipos de respostas:
1. a linguagem nasce por imitação, isto é, os humanos imitam, pela voz, os sons da Natureza (dos
animais, dos rios, das cascatas e dos mares, do trovão e do vulcão, dos ventos, etc.). A origem
da linguagem seria, portanto, a onomatopéia ou imitação dos sons animais e naturais;
2. a linguagem nasce por imitação dos gestos, isto é, nasce como uma espécie de pantomima ou
encenação, na qual o gesto indica um sentido. Pouco a pouco, o gesto passou a ser
acompanhado de sons e estes se tornaram gradualmente palavras, substituindo os gestos;
3. a linguagem nasce da necessidade: a fome, a sede, a necessidade de abrigar-se e proteger-se,
a necessidade de reunir-se em grupo para defender-se das intempéries, dos animais e de outros
homens mais fortes levaram à criação de palavras, formando um vocabulário elementar e
rudimentar, que, gradativamente, tornou-se mais complexo e transformou-se numa língua;
4. a linguagem nasce das emoções, particularmente do grito (medo, surpresa ou alegria), do choro
(dor, medo, compaixão) e do riso (prazer, bem-estar, felicidade). Citando novamente Rousseau
em seu Ensaio sobre a origem das línguas.
Não é a fome ou a sede, mas o amor ou o ódio, a piedade, a cólera, que aos primeiros homens lhes
arrancaram as primeiras vozes... Eis por que as primeiras línguas foram cantantes e apaixonadas antes de
serem simples e metódicas.
Assim, para Rousseau, a linguagem, nascendo das paixões, foi primeiro linguagem figurada e por
isso surgiu como poesia e canto, tornando-se prosa muito depois; e as vogais nasceram antes das
consoantes. Assim como a pintura nasceu antes da escrita, assim também os homens primeiro
cantaram seus sentimentos e só muito depois exprimiram seus pensamentos.
Essas teorias não são excludentes. É muito possível que a linguagem tenha nascido de todas essas
fontes ou modos de expressão, e os estudos de Psicologia Genética (isto é, da gênese da percepção,
imaginação, memória, linguagem e inteligência nas crianças) mostra que uma criança se vale de todos
esses meios para começar a exprimir-se. Uma linguagem se constitui quando passa dos meios de
expressão aos de significação, ou quando passa do expressivo ao significativo. Um gesto ou um grito
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13. exprimem, por exemplo, medo; palavras, frases e enunciados significam o que é sentir medo, dão
conteúdo ao medo.
O QUE É A LINGUAGEM?
A linguagem é um sistema de signos ou sinais usados para indicar coisas, para a comunicação
entre pessoas e para a expressão de idéias, valores e sentimentos. Embora tão simples, essa definição
da linguagem esconde problemas complicados com os quais os filósofos têm-se ocupado desde há
muito tempo. Essa definição afirma que:
1. a linguagem é um sistema, isto é, uma totalidade estruturada, com princípios e leis próprios,
sistema esse que pode ser conhecido;
2. a linguagem é um sistema de sinais ou de signos, isto é, os elementos que formam a totalidade
lingüística são um tipo especial de objetos, os signos, ou objetos que indicam outros, designam
outros ou representam outros. Por exemplo, a fumaça é um signo ou sinal de fogo, a cicatriz é
signo ou sinal de uma ferida, manchas na pele de um determinado formato, tamanho e cor são
signos de sarampo ou de catapora, etc. No caso da linguagem, os signos são palavras e os
componentes das palavras (sons ou letras);
3. a linguagem indica coisas, isto é, os signos lingüísticos (as palavras) possuem uma função
indicativa ou denotativa, pois como que apontam para as coisas que significam;
4. a linguagem tem uma função comunicativa, isto é, por meio das palavras entramos em relação
com os outros, dialogamos, argumentamos, persuadimos, relatamos, discutimos, amamos e
odiamos, ensinamos e aprendemos, etc.;
5. a linguagem exprime pensamentos, sentimentos e valores, isto é, possui uma função de
conhecimento e de expressão, sendo neste caso conotativa, ou seja, uma mesma palavra pode
exprimir sentidos ou significados diferentes, dependendo do sujeito que a emprega, do sujeito
que a ouve e lê, das condições ou circunstâncias em que foi empregada ou do contexto em que
é usada. Assim, por exemplo, a palavra água, se for usada por um professor numa aula de
química, conotará o elemento químico que corresponde à fórmula H2O; se for empregada por
um poeta, pode conotar rios, chuvas, lágrimas, mar, líquido, pureza, etc.; se for empregada por
uma criança que chora pode estar indicando uma carência ou necessidade como a sede.
A definição nos diz, portanto, que a linguagem é um sistema de sinais com função indicativa,
comunicativa, expressiva e conotativa.
A LINGÜÍSTICA E A LINGUAGEM
Durante o século XIX, o estudo da linguagem ou lingüística tinha como preocupação encontrar a
origem da linguagem e das línguas, considerando o estado presente ou atual de uma língua como
resultado ou efeito de causas situadas no passado.
A linguagem era estudada sob duas perspectivas: a da filologia, que buscava a história das
palavras pelo estudo das raízes, com o propósito de chegar a uma única língua original, mãe ou matriz
de todas as outras; e a da gramática comparada, que estudava comparativamente as línguas
existentes com o propósito de encontrar famílias lingüísticas e chegar à língua-mãe original.
Nesses estudos, retomava-se a discussão sobre o caráter natural ou convencional da linguagem.
Também era comum aos filólogos e gramáticos a idéia de que as línguas se transformam no tempo e
que as transformações eram causadas por fatores extralingüísticos (migrações, guerras, invasões,
mudanças sociais e econômicas, etc.).
Tais estudos, porém, viram-se diante de problemas que não conseguiam resolver. Um desses
problemas foi o aparecimento do estudo das flexões (tempos verbais, maneira de indicar o plural e o
singular, aumentativos e diminutivos, declinações), revelando que as línguas mudavam por razões
internas e não por fatores externos.
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14. Essa descoberta teve resultados curiosos. Um deles, aparecido na Alemanha, tomava as flexões
como prova de que cada povo tem uma língua diferente porque esta exprimiria o caráter ou o espírito
do povo. Haveria línguas doces e propícias aos sentimentos profundos (como a alemã); línguas rudes e
mais voltadas para a prosa e a guerra (como o latim), etc. Em suma, cada estudioso inventava o
"caráter da língua" segundo as fantasias e ideologias de sua nação e dos nacionalismos da época.
A partir do século XX, uma nova concepção da linguagem foi elaborada pela lingüística e seus pontos
principais são:
a linguagem é constituída pela distinção entre língua e fala ou palavra: a língua é uma
instituição social e um sistema, ou uma estrutura objetiva que existe com suas regras e
princípios próprios, enquanto a fala ou palavra é o ato individual de uso da língua, tendo
existência subjetiva por ser o modo como os sujeitos falantes se apropriam da língua e a
empregam. Assim, por exemplo, temos a língua portuguesa e a palavra ou fala de Camões,
Machado de Assis, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, a sua e a minha; ela é tem signos ou
significantes, tem valor, etc.
A língua é um código (conjunto de regras que permitem produzir informação e comunicação) e se
realiza através de mensagens.
LINGUAGEM SIMBÓLICA E LINGUAGEM CONCEITUAL
A linguagem simbólica (dos mitos, da religião, da poesia, do romance, do teatro) e a linguagem
conceitual (das ciências, da filosofia).
PURIFICAR A LINGUAGEM
Uma dessas correntes filosóficas desenvolveu-se no século passado com o nome de positivismo
lógico. Os positivistas lógicos distinguiram duas linguagens:
a linguagem natural, isto é, aquela que usamos todos os dias e que é imprecisa, confusa,
mescla de elementos afetivos, volitivos, perceptivos e imaginativos;
a linguagem lógica, isto é, uma linguagem purificada, formalizada (ou seja, com enunciados sem
conteúdo e avaliadores do conteúdo das linguagens científicas e filosóficas), inspirada na
matemática e sobretudo na física.
A linguagem cria, interpreta e decifra significações, podendo fazê-lo miticamente ou
logicamente, magicamente ou racionalmente, simbolicamente ou conceitualmente.
A linguagem não traduz imagens verbais de origem motora e sensorial nem representa idéias
feitas por um pensamento silencioso, mas encarna as significações. As palavras têm sentido e criam
sentido.
O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano.
Isaac Newton
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
ARANHA, M° Lucia a Martins M" Helena. filosofando: Introdução a filosofia, São Paulo.
Editora Moderna. 1997 '
ARANHA, Ma Lucia a Martins MI Helena. Temas da Filosofia. São Paulo. Editora Moderna.
1998
CHAUI, M. Convite a Filosofia. S. Paulo. Ed. Atica. 2003
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