O bloco de carnaval na vila de Madalena tocava forró em homenagem a Dominguinhos, com bonecos dele e de Luiz Gonzaga. Chico Buarque gravou um disco em Recife com músicos nordestinos rendendo homenagem a Dominguinhos, e encontrou Paulo Vanderley, grande amigo do mestre, em boa saúde em Fortaleza.
1. mestre dominguinhos:
hoje é o dia de vossa nascença, certo? então
eu resolvi contar um pouco das coisas daqui
mesmo tendo certo que o mestre já está
sabendo de tudo. sempre soube. primeiro dizer
da saudade, imensa. maior do que o bloco de
carnaval do canto da ema que se espalhou
pela vila madalena. tocando forró, acredita?
pois foi. o povo danou-se todo a dançar
arrasta-pé, frevo de sanfona, baião, calango,
até xote. debaixo de chuva, solto e
encangado. e cantando aos urros, e esturros.
uma beleza que só vendo. velho, mulher,
menino e cachorro também. tudo na santa paz.
falando em santa, como vai luzia? alumiada
ela. o bloco de carnaval, voltando ao assunto,
tinha até dois bonecos de olinda: um teu, outro
de gonzaga. conte a ele. foi paulinho que
organizou. o próprio, do canto. o bicho tava
feliz que só pinto no tempo de menino. escrevo
assim pra não ferir os brios dos outros santos
que devem estar lendo a carta por cima de seu
ombro. falando em paulinho, encontrei dia
desses paulo vanderley lá em fortaleza. muito
seu amigo e guardião de sua memória, estava
feliz, uma cara rosada de quem goza de boa
saúde. não se preocupe com ele. mudou-se pra
lá, agora tá carne e unha com valtinho do
2. kukukaya. inseparáveis, mais que antes.
olhe, botei esse retrato seu aí com richard
galliano pra lhe contar que gravei um disco com
ele em dois dias lá em recife, no estúdio
fábrica. foi pei-buf. ensaiei antes com os
meninos da paraíba (helinho medeiros,
sanfoneiro seu fã demais, xisto medeiros,
aquele baixista que gravou num gravador bem
pequenininho umas melodias que o mestre me
passou, e gledson meira, um ritimista de patos,
professor de bateria que criou um método de
zabumba estudando o mestre quartinha).
quando ele chegou parecia um surfista, richard.
uma espécie de jesus cristo que deus me
perdoe só deslizando em cima de nossa onda.
aí foi um tsunami mansinho de música. uma
boniteza, mestre. falamos muito em você,
gravamos coisas nossas, coisas minhas, coisas
dele, coisa sua e uma especial que fizemos em
sua homenagem. pois é, aqui agora é assim:
até no carnaval é são joão e todo dia da
semanaé dominguinhos. um beijo carinhoso
do planeta terra.
ps: tá uma falta d'água da mulesta aqui em são
paulo. o povo daqui é industrioso, até
indústria da seca parece que tão importando do
nordeste antigo. tem caído uma chuvinha mas
peça pra são pedro mirar na cantareira. adoce
3. aí a boca do homem pois dançar forró só
presta cheiroso. fedido não dá, vôte! eita,
saudade! seu, chico.