O documento discute os sistemas simbólicos como estruturas estruturantes e estruturadas e como instrumentos de dominação. Apresenta uma síntese sobre como os símbolos exercem poder simbólico ao mesmo tempo em que são estruturados por relações sociais, podendo ser usados para legitimar a dominação.
1. Prof. MSc Felipe Correa de Mello
Introdução ao estudo dos “sistemas
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simbólicos”
2012
2. Caminhos para a análise dos sistemas simbólicos
1. Sistemas simbólicos como estruturas estruturantes;
2. Sistemas simbólicos como estruturas estruturadas;
3. Primeira síntese;
4. Produções simbólicas como instrumentos de dominação;
5. Segunda síntese;
6. O poder simbólico: dominação e violência simbólica;
7. Apêndice I: Ideologia - conceituações; alcances e limites
teóricos;
8. Apêndice II: Cultura: conceituação
4. Sistemas simbólicos como estruturas estruturantes
•Tradição neo-kantiana (tradição “idealista”);
•Presente nas obras de Durkheim, Cassirer e Panofsky (entre
outros);
•Aspecto ativo do conhecimento;
•Sistemas simbólicos como instrumentos de conhecimento e de
construção do mundo dos objetos;
•Sistemas simbólicos compreendidos como instrumentos de
conhecimento e de comunicação.
5. Objetividade do sentido do mundo defini-se pela concordância das
subjetividades estruturantes .
senso=consenso
6. Sistemas simbólicos como estruturas estruturantes
Para além de Kant: determinante histórico e social das categorias do
conhecimento:
•Poder simbólico é um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma
ordem gnoseológica: o sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social);
•Supõe aquilo que Durkheim chama o conformismo lógico, quer dizer, “uma concepção
homogênea do tempo, do espaço, do número, da causa, que torna possível a concordância
entre as inteligência“(BOURDIEU, 2010: 9);
•Durhkeim se inscreve na tradição kantiana. Porém, para fugir do apriorismo e do
empirismo, lança os fundamentos de uma sociologia das formas simbólicas (formas de
classificação). Deixam de ser formas transcendentais, para se tornarem formas sociais.
• Na mesma linha Panofsky trata esta perspectiva como uma forma história (sem todavia ir
até à reconstrução sistemática das suas condições sociais de produção).
7. Sistemas simbólicos como estruturas estruturadas
•Tradição estruturalista inaugurada por Saussere;
• Nesta linha os sistemas simbólicos são analisados como passíveis de uma
análise estrutural. O objetivo central é o de apreender a lógica específica de
cada uma das “formas simbólicas”;
•Visa a isolar a estrutura imanente a cada produção simbólica;
• Como observa Bourdieu (2007:118), “seu mérito é o de dedicar-se a
resgatar a coerência dos sistemas simbólicos, considerados como tais, isto
é, um dos princípios mais importantes de sua eficácia”;
•Apresentada na obra de Levi-Strauss e no Foucault de As palavras e as
coisas;
•Nesta linha teórica podemos também encontrar a Semiótica, bem como a
hermenêutica de Paul Ricoeur (entre outros).
8. Visão teórica fundamentada na consideração de que as formas
simbólicas são, além de fenômenos sociais contextualizados, algo mais:
construções simbólicas complexas que “em virtude de suas
características estruturais, têm a possibilidade e afirmar representar
algo, dizer algo sobre algo” (J.B THOMPSON, 2004:34).
É, portanto, uma perspectiva que postula análises formais que venham
a iluminar as estruturas propriamente internas das formas simbólicas: seus
padrões e relações imanentes.
9. Primeira síntese:
Os sistemas simbólicos como instrumentos de conhecimento e
comunicação, só podem exercer um poder estruturante porque são
estruturados.
Durkheim (e depois dele, Radcliffe-Brown): função social do
simbolismo: autêntica função política que não se reduz à função de
comunicação dos estruturalistas.
Símbolos como instrumentos por excelência da integração social:
“enquanto instrumentos de conhecimento e de comunicação, eles
tornam possível o consensus acerca do sentido do mundo social que
contribui fundamentalmente para a reprodução da ordem social: a
integração lógica é a condição da integração moral”
(BOURDIEU, 2010: 10)
10. Produções simbólicas como instrumentos de dominação
•Tradição marxista privilegia as funções políticas dos sistemas
simbólicos em detrimento de sua estrutura lógica e da sua função
gnoseológica.;
•Funcionalismo (diverso do estruturo-funcionalismo de Durkheim):
Explica as produções simbólicas relacionando-as com os interesses
da classe dominante.
•Ideologia em oposição ao mito (produto coletivo e coletivamente
apropriado) serve a interesses particulares que tendem a aparecer
como interesses universais;
•Cultura dominante: contribui para a integração real da classe
dominante; para a integração fictícia da sociedade no seu conjunto;
à desmobilização (falsa consciência) das classes dominadas; para a
legitimação da ordem estabelecida por meio do estabelecimento das
distinções (hierarquias) e para a legitimação dessas distinções.
11. “A cultura que une (intermediário de comunicação) é
também a cultura que separa (instrumento de
distinção) e que legitima distinções compelindo
todas as culturas (designadas como subculturas) a
definirem-se pela sua distância em relação à cultura
dominante” (BOURDIEU, 2010:11).
12. Segunda síntese:
Observa o sociólogo Pierre Bourdieu (2010: 11): “é enquanto instrumentos
estruturados e estruturantes de comunicação e de conhecimento que
os „sistemas simbólicos‟ cumprem sua função política de instrumentos de
imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para
assegurar a dominação de uma classe sobre outra(violência simbólica)
dando o reforço da sua própria força às relações de força que as
fundamentam e contribuindo assim, segundo a expressão de
Weber, para a „domesticação dos dominados‟.”
Diferentes classes e frações de classes estão envolvidas numa luta
propriamente simbólica para imporem a definição do mundo social mais
conforme aos seus interesses.
13. Poder simbólico
•“Poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e crer, de confirmar
ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a ação sobre o
mundo, portanto o mundo; poder quase o mágico que permite obter o
equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao
efeito específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer
dizer, ignorado como arbitrário” (BOURDIEU, 2010: 14.)
•Isto significa que o poder simbólico não reside nos „sistemas simbólicos‟, mas
que se define “numa relação determinada --e por meio desta-- entre os que
exercem o poder e os que lhe estão sujeitos, quer dizer, isto é, na própria
estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crença” (idem: 14-15).
•Forma transformada (irreconhecível) transfigurada e legitimada, das outras
formas de poder.
14. Poder simbólico
Produção da crença
“O que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder
de manter a ordem ou a subverter, é a crença na legitimidade
das palavras e daquele que as pronuncia, crença cuja produção
não é a competência das palavras”. (BOURDIEU: 2007)
15. Poder simbólico
•Descrever as leis de transformação que regem a transmutação das
diferentes espécies de capital em capital simbólico;
•“Trabalho de dissimulação e de transfiguração (eufemização) que
garante uma verdadeira transubstanciação das relações de força
fazendo ignorar-reconhecer a violência que elas encerram
objetivamente e transformando-as assim em poder simbólico, capaz de
produzir efeitos reais sem dispêndio aparente de energia”
(BOURDIEU, 2010: 15);
16. Um dos efeitos da violência simbólica é a transfiguração das
relações de dominação e de submissão em relações afetivas.
Transformação do poder em carisma ou encanto.
18. Pierre Bourdieu acerca da noção de ideologia:
“[...] tendo a evitar a palavra “ideologia” porque [...] tem sido com muita
frequência mal utilizada, ou empregada de modo muito vago. Parece
sugerir uma sorte de descrédito [...] Tratei em substituir o conceito de
ideologia por conceitos como “dominação simbólica” ou “poder
simbólico” ou “violência simbólica”, para controlar alguns usos e abusos
ao que este conceito está sujeito. Mediante o conceito de violência
simbólica trato de fazer visível uma forma de violência cotidiana não
percebida [...] o conceito de ideologia tem sido usado e tão abusado
que já não funciona” (entrevista dada a Terry Eagleton in “Doxa y vida
cotidiana: uma entrevista”, 2006: 296)
19. Poder simbólico
Linguagem é mais um instrumento de poder e ação do que
de comunicação. (contra uma “mera semiótica”)
Noção de capital e mercado simbólico importante neste
caminho;
“Muitas coisas não pode ser compreendidas em termos de
pura comunicação, e ao propor minha analogia
econômica somente intento generalizar e dar à reflexão da
filosofia analítica um fundamento sociológico que lhe
carece” (Doxa y vida cotidiana, p. 302. entrevista a T.
eagleton).
Cultura:
Conceituações
20. Na literatura das ciências sociais, o estudo das formas simbólicas
geralmente tem sido feito sob a rubrica do conceito de cultura
(THOMPSON: 2004)
Conceito de cultura possui uma longa história própria, e o sentido
que ele tem hoje é, em certa, medida, um produto desta história
(idem)
21. J.B Thompson (2004) distingue quatro tipos básicos de sentidos atribuídos ao
conceito de cultura:
1. Concepção clássica de cultura: surgido nas primeiras discussões sobre
cultura, especialmente as que tiveram lugar entre filósofos e historiadores
alemães nos séculos XVIII e XIX.
“Nessas discussões, o termo “cultura” era, geralmente, usado para se referir a um
processo que diferia, sob certos aspectos, do de “civilização” (THOMPSON, 2004:
166)
Duas formas antropológicas de cultura:
2. Concepção descritiva
Refere-se a um variado conjunto de
valores, crenças, costumes, convenções, hábitos e práticas características de
uma sociedade específica ou de um período histórico
3. Concepção simbólica
Interesse no simbolismo: “fenômenos culturais [...] são fenomenos simbólicos e o
estudo da cultura está essencialmente interessado na interpretação dos
símbolos e da ação simbólica” (idem: 166)
22. Concepção simbólica é apresentada , sobretudo, na obra do antropólogo
norte-americano Clifford Geertz.
Importância desta concepção: ponto de partida apropriado para o
desenvolvimento de uma abordagem construtiva no estudo dos fenômenos
culturais.
Fraqueza: dá atenção insuficiente às relações sociais estruturadas nas quais
os símbolos e as ações simbólicas estão sempre inseridas.
23. 4. Concepção estrutural de cultura
•Conceito desenvolvido por J.B Thompson ;
•Conceito que vai ao encontro do aporte teórico-metodológico
bourdesiano.
“De acordo com essa concepção, os fenômenos culturais podem
ser entendidos como formas simbólicas em contextos
estruturados; e a análise cultural pode ser pensada como o
estudo da constituição significativa e da contextualização das
formas simbólicas” (THOMPSON, 2004: 166)
24. Thompson encontra Bourdieu
Contextos sociais estruturados
Dizer que um espaço social é estruturado significa considerar que
as posições neste não se equivalem, tampouco são harmônicas.
Significa dizer que são espaços sociais “caracterizados por
assimetrias e diferenças relativamente estáveis em termos de
distribuição de, e acesso a, recursos de vários
tipos, poder, oportunidades e chance na vida” (THOMPSON, 2007:
198).
O espaço social é concebido como um espaço multidimensional
de relações sociais entre agentes que compartilham interesses em
comum, disputam por troféus específicos; mas que não dispõem
dos mesmos recursos e competências. É um espaço de disputa
entre dominantes e dominados
25. Referências bibliográficas
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Betrand, 2010.
BOURDIEU, P. Razões Práticas. São Paulo: Papirus, 2007.
BOURDIEU, P. & EAGLETON, T. “Doxa y vida cotidiana: una entrevista” In Ideología. Un mapa
de la cuestión. ZIZEK, S. (comp.) Barcelona: Fondo Cultural: 2006.
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico.São Paulo: Martins Fontes, 2009.
EAGLETON, T. Ideologia: uma introdução.São Paulo: Boitempo Editorial/ Editora da
UNESP, 2006.
FOUCAULT. M. As palavras e as coisas uma arqueologia das ciências humanas. São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
MICELI, S. “A força do sentido” In BOURDIEU, P. Economia das trocas simbólicas. (seleção e
organização de Sérgio Miceli) São Paulo: Perspectiva, 2010.
PANOFSKY. E. Estudos de iconologia temas humanísticos na arte do renascimento.
Lisboa : Estampa, 1995.
THOMPSON. J.B. Ideologia e Cultura Moderna. Petrópolis: Vozes, 2004.
26. Recomendação de leitura complementar:
Sobre o debate “cultura x civilização”:
EAGLETON, T. A ideia de cultura. São Paulo, SP : UNESP, 2005.
ELIAS, N. O processo civilizador. Vol 1. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 2008
Sobre hermenêutica:
RICOUER, P. Hermenêutica e ideologias. Petrópolis, RJ : Editora Vozes, 2011.
Sobre a “concepção simbólica de cultura”:
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro : LTC, 2008.
Sobre ideologia em Marx:
MARX, K. A ideologia alemã. São Paulo : Expressão Popular, 2010, c200