SlideShare a Scribd company logo
1 of 10
Almeida Garrett
 
Reforma do teatro nacional A revolução de Setembro de 1836 colocou no poder Sá da Bandeira e Passos Manuel, ambos admiradores e amigos pessoais de Garrett.  Pensaram os hábeis políticos em reorganizar o teatro nacional, quase sem vida desde o tempo de Gil Vicente.  Criaram a Inspeção Geral dos Teatros, nomeando primeiro inspetor Almeida Garrett.  Investido no cargo, tratou logo o eminente escritor de estudar as causas da decadência do teatro em Portugal e de o ressuscitar em seguida.
Decadência e reorganização do teatro nacional, segundo o prefácio de «Um Auto de Gil Vicente» a) Causas da decadência.  No prefácio do drama  Um Auto de Gil Vicente , indica Garrett as causas que contribuíram para a decadência do teatro nacional. A primeira e mais importante foi a falta de gosto no público. Não havendo poder de compra, ninguém se arrisca a fabricar artigos. A ação dos governantes é que criou este estado de coisas, o que prova com meia dúzia de factos: 1. D. Sebastião, que só sabia «brigar e rezar», cortou a planta logo à nascença, desprezando as representações teatrais; 2. D. João IV tinha certa inclinação para a arte, mas não passou de músico de igreja; 3. os filhos desse monarca não tinham gosto por coisa nenhuma; D. João V, mecenas das Letras e Artes, só apreciava os grandes livros in folio das Academias; 4. no tempo de D. José, acabaram de estragar o gosto do público com a ópera e, além disso, mataram o Judeu; 5. no reinado de D. Maria I, as mulheres estavam proibidas de pisar o palco; 6. embora depois as Academias tenham estabelecido prémios para os bons autores dramáticos, só se traduziram peças de Racine, Voltaire, Crebillon e Arnaud.
[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object]
Teoria do drama romântico A estética ao drama romântico, tal qual a concebeu Garrett, põe em confronto as normas clássicas e as românticas.
Teatro clássico  1. Absoluta separação do trágico e do cómico. 2. Linguagem seleta e majestosa, sobretudo na tragédia. 3. As personagens são figuras de psicologia geral e abstrata. 4. Exigem-se as unidades de ação, tempo e lugar.
Teatro romântico 1. Inclusão do sublime e do grotesco na mesma obra. 2. Frases conformes à índole dos protagonistas, alheias a preconceitos e a preocupações com o sublime. 3. As personagens devem ser tipos individualizados, revivendo nas cenas a verdade dramática da vida comum. 4. A mesma ação desenvolvida num só dia e num mesmo lugar não convém à agitação passional que fermenta no Romantismo. Só a unidade de ação se admitirá no teatro romântico.
  Teatro romântico Não esqueçamos que o drama «é a luta entre personagens, ou luta dentro da mesma personagem — luta cujo desfecho incerto traz suspensa a curiosidade e a simpatia do espectador». Na tragédia «não há tanto a luta como a expectativa terrífica de um desfecho que se aproxima a passos fatais, e contra o qual não vale astúcia humana, como diria Camões.(A. J. Saraiva, Para a História da Cultura em Portugal, II, Lisboa, 1961, pág. 35). Assim, enquanto os protagonistas da tragédia, por mais que esbracejem, nos surgem impotentes para evitar o desencadear da desgraça, os protagonistas do drama, pelo esforço, inteligência ou manha, podem mudar o curso dos acontecimentos, levando a ação, se calhar, a terminar em apoteose.
Literatura Portuguesa Profª: Helena Maria Coutinho

More Related Content

What's hot

02 o alargamento do conhecimento do mundo
02 o alargamento do conhecimento do mundo02 o alargamento do conhecimento do mundo
02 o alargamento do conhecimento do mundoVítor Santos
 
Sermão de Santo António aos Peixes
Sermão de Santo António aos PeixesSermão de Santo António aos Peixes
Sermão de Santo António aos PeixesDaniel Sousa
 
Sebastianismo - Frei Luís de Sousa
Sebastianismo - Frei Luís de SousaSebastianismo - Frei Luís de Sousa
Sebastianismo - Frei Luís de SousaAntónio Aragão
 
Sermao de santo antonio aos peixes
Sermao de santo antonio aos peixesSermao de santo antonio aos peixes
Sermao de santo antonio aos peixesLiliana Matos
 
sintese_farsa_ines.ppt
sintese_farsa_ines.pptsintese_farsa_ines.ppt
sintese_farsa_ines.pptcnlx
 
Portugal e as dificuldades económicas
Portugal e as dificuldades económicasPortugal e as dificuldades económicas
Portugal e as dificuldades económicasSusana Simões
 
Sermão aos peixes cap. i
Sermão aos peixes   cap. iSermão aos peixes   cap. i
Sermão aos peixes cap. iameliapadrao
 
Frei Luís de Sousa - drama ou tragédia
Frei Luís de Sousa - drama ou tragédiaFrei Luís de Sousa - drama ou tragédia
Frei Luís de Sousa - drama ou tragédiaAntónio Fernandes
 
Sermão aos peixes resumo-esquema por capítulos
Sermão aos peixes   resumo-esquema por capítulosSermão aos peixes   resumo-esquema por capítulos
Sermão aos peixes resumo-esquema por capítulosClaudiaSacres
 
Esparsa ao desconcerto mundo
Esparsa  ao desconcerto mundoEsparsa  ao desconcerto mundo
Esparsa ao desconcerto mundoMaria Góis
 
Cap v repreensões particular
Cap v repreensões particularCap v repreensões particular
Cap v repreensões particularHelena Coutinho
 
Power point "Frei Luís de Sousa"
Power point "Frei Luís de Sousa"Power point "Frei Luís de Sousa"
Power point "Frei Luís de Sousa"gracacruz
 

What's hot (20)

02 o alargamento do conhecimento do mundo
02 o alargamento do conhecimento do mundo02 o alargamento do conhecimento do mundo
02 o alargamento do conhecimento do mundo
 
Auto de gil vicente
Auto de gil vicenteAuto de gil vicente
Auto de gil vicente
 
Sermão de Santo António aos Peixes
Sermão de Santo António aos PeixesSermão de Santo António aos Peixes
Sermão de Santo António aos Peixes
 
Sebastianismo - Frei Luís de Sousa
Sebastianismo - Frei Luís de SousaSebastianismo - Frei Luís de Sousa
Sebastianismo - Frei Luís de Sousa
 
Sermao de santo antonio aos peixes
Sermao de santo antonio aos peixesSermao de santo antonio aos peixes
Sermao de santo antonio aos peixes
 
Cantigas de amor
Cantigas de amorCantigas de amor
Cantigas de amor
 
sintese_farsa_ines.ppt
sintese_farsa_ines.pptsintese_farsa_ines.ppt
sintese_farsa_ines.ppt
 
Portugal e as dificuldades económicas
Portugal e as dificuldades económicasPortugal e as dificuldades económicas
Portugal e as dificuldades económicas
 
Sermão aos peixes cap. i
Sermão aos peixes   cap. iSermão aos peixes   cap. i
Sermão aos peixes cap. i
 
Frei Luís de Sousa - drama ou tragédia
Frei Luís de Sousa - drama ou tragédiaFrei Luís de Sousa - drama ou tragédia
Frei Luís de Sousa - drama ou tragédia
 
Os Maias - análise
Os Maias - análiseOs Maias - análise
Os Maias - análise
 
Frei luís de sousa
Frei luís de sousaFrei luís de sousa
Frei luís de sousa
 
Dedicatória
DedicatóriaDedicatória
Dedicatória
 
Lusiadas 10º ano
Lusiadas 10º anoLusiadas 10º ano
Lusiadas 10º ano
 
Lírica camoniana
Lírica camonianaLírica camoniana
Lírica camoniana
 
Ficha de gramática12º
Ficha de gramática12ºFicha de gramática12º
Ficha de gramática12º
 
Sermão aos peixes resumo-esquema por capítulos
Sermão aos peixes   resumo-esquema por capítulosSermão aos peixes   resumo-esquema por capítulos
Sermão aos peixes resumo-esquema por capítulos
 
Esparsa ao desconcerto mundo
Esparsa  ao desconcerto mundoEsparsa  ao desconcerto mundo
Esparsa ao desconcerto mundo
 
Cap v repreensões particular
Cap v repreensões particularCap v repreensões particular
Cap v repreensões particular
 
Power point "Frei Luís de Sousa"
Power point "Frei Luís de Sousa"Power point "Frei Luís de Sousa"
Power point "Frei Luís de Sousa"
 

Similar to Reforma do teatro nacional por Garrett

Falar Verdade A Mentir
Falar Verdade A MentirFalar Verdade A Mentir
Falar Verdade A MentirMARIA NOGUE
 
O Cinema E O Teatro Nos Anos 20
O Cinema E O Teatro Nos Anos 20O Cinema E O Teatro Nos Anos 20
O Cinema E O Teatro Nos Anos 20valdeniDinamizador
 
Qorpo santo e_gil_vicente_dialogos_possiveis
Qorpo santo e_gil_vicente_dialogos_possiveisQorpo santo e_gil_vicente_dialogos_possiveis
Qorpo santo e_gil_vicente_dialogos_possiveisGladis Maia
 
Diderot e a arte dramática
Diderot e a arte dramáticaDiderot e a arte dramática
Diderot e a arte dramáticaTaís Ferreira
 
Costa, iná camargo. A resistência da crítica ao teatro épico
Costa, iná camargo. A resistência da crítica ao teatro épicoCosta, iná camargo. A resistência da crítica ao teatro épico
Costa, iná camargo. A resistência da crítica ao teatro épicoNome Sobrenome
 
Panorama Do Teatro Ocidental Elisab Oro
Panorama Do Teatro Ocidental Elisab OroPanorama Do Teatro Ocidental Elisab Oro
Panorama Do Teatro Ocidental Elisab OroClaudia Venturi
 
A importância do teatro de william shakespeare para o período elisabetano e p...
A importância do teatro de william shakespeare para o período elisabetano e p...A importância do teatro de william shakespeare para o período elisabetano e p...
A importância do teatro de william shakespeare para o período elisabetano e p...unama
 
A comédia latina e a educação dos filhos
A comédia latina e a educação dos filhosA comédia latina e a educação dos filhos
A comédia latina e a educação dos filhosFrancieli Corbellini
 
O realismo na literatura oitocentista
O realismo na literatura oitocentistaO realismo na literatura oitocentista
O realismo na literatura oitocentistaTina Lima
 
Almeida Garrett
Almeida Garrett Almeida Garrett
Almeida Garrett andreaires
 
Breve História do Teatro
Breve História do TeatroBreve História do Teatro
Breve História do Teatroe- Arquivo
 

Similar to Reforma do teatro nacional por Garrett (20)

Falar Verdade A Mentir
Falar Verdade A MentirFalar Verdade A Mentir
Falar Verdade A Mentir
 
. A obra e o contexto
. A obra e o contexto. A obra e o contexto
. A obra e o contexto
 
Almeida garett
Almeida garettAlmeida garett
Almeida garett
 
..
....
..
 
O Cinema E O Teatro Nos Anos 20
O Cinema E O Teatro Nos Anos 20O Cinema E O Teatro Nos Anos 20
O Cinema E O Teatro Nos Anos 20
 
Qorpo santo e_gil_vicente_dialogos_possiveis
Qorpo santo e_gil_vicente_dialogos_possiveisQorpo santo e_gil_vicente_dialogos_possiveis
Qorpo santo e_gil_vicente_dialogos_possiveis
 
Diderot e a arte dramática
Diderot e a arte dramáticaDiderot e a arte dramática
Diderot e a arte dramática
 
Costa, iná camargo. A resistência da crítica ao teatro épico
Costa, iná camargo. A resistência da crítica ao teatro épicoCosta, iná camargo. A resistência da crítica ao teatro épico
Costa, iná camargo. A resistência da crítica ao teatro épico
 
Panorama Do Teatro Ocidental Elisab Oro
Panorama Do Teatro Ocidental Elisab OroPanorama Do Teatro Ocidental Elisab Oro
Panorama Do Teatro Ocidental Elisab Oro
 
Commédia dell arte
Commédia dell arteCommédia dell arte
Commédia dell arte
 
Teatro contemporâneo
Teatro contemporâneoTeatro contemporâneo
Teatro contemporâneo
 
Commédia dell arte
Commédia dell arteCommédia dell arte
Commédia dell arte
 
A importância do teatro de william shakespeare para o período elisabetano e p...
A importância do teatro de william shakespeare para o período elisabetano e p...A importância do teatro de william shakespeare para o período elisabetano e p...
A importância do teatro de william shakespeare para o período elisabetano e p...
 
O Teatro Romano
O Teatro RomanoO Teatro Romano
O Teatro Romano
 
A comédia latina e a educação dos filhos
A comédia latina e a educação dos filhosA comédia latina e a educação dos filhos
A comédia latina e a educação dos filhos
 
O realismo na literatura oitocentista
O realismo na literatura oitocentistaO realismo na literatura oitocentista
O realismo na literatura oitocentista
 
Almeida Garrett
Almeida Garrett Almeida Garrett
Almeida Garrett
 
Breve História do Teatro
Breve História do TeatroBreve História do Teatro
Breve História do Teatro
 
Cor na teatro
Cor na teatroCor na teatro
Cor na teatro
 
Romantismo 2.0
Romantismo 2.0Romantismo 2.0
Romantismo 2.0
 

More from Helena Coutinho

Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhançasSanto antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhançasHelena Coutinho
 
Cap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralCap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralHelena Coutinho
 
Cap iii louvores particular
Cap iii louvores particularCap iii louvores particular
Cap iii louvores particularHelena Coutinho
 
Contexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieiraContexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieiraHelena Coutinho
 
. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibir. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibirHelena Coutinho
 
Ondados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteOndados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteHelena Coutinho
 
Sete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob serviaSete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob serviaHelena Coutinho
 
Oh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em anoOh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em anoHelena Coutinho
 
O dia em que eu nasci, morra e pereça
O dia em que eu nasci, morra e pereçaO dia em que eu nasci, morra e pereça
O dia em que eu nasci, morra e pereçaHelena Coutinho
 
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Erros  meus, má fortuna, amor ardenteErros  meus, má fortuna, amor ardente
Erros meus, má fortuna, amor ardenteHelena Coutinho
 

More from Helena Coutinho (20)

. Maias simplificado
. Maias simplificado. Maias simplificado
. Maias simplificado
 
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhançasSanto antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
 
Relato hagiografico
Relato hagiograficoRelato hagiografico
Relato hagiografico
 
P.ant vieira bio
P.ant vieira bioP.ant vieira bio
P.ant vieira bio
 
Epígrafe sermao
Epígrafe sermaoEpígrafe sermao
Epígrafe sermao
 
Cap vi
Cap viCap vi
Cap vi
 
Cap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralCap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geral
 
Cap iii louvores particular
Cap iii louvores particularCap iii louvores particular
Cap iii louvores particular
 
Cap ii louvores geral
Cap ii louvores geralCap ii louvores geral
Cap ii louvores geral
 
1. introd e estrutura
1. introd e estrutura1. introd e estrutura
1. introd e estrutura
 
Contexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieiraContexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieira
 
. O texto dramático
. O texto dramático. O texto dramático
. O texto dramático
 
. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibir. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibir
 
Fls figuras reais
Fls figuras reaisFls figuras reais
Fls figuras reais
 
. Enredo
. Enredo. Enredo
. Enredo
 
Ondados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteOndados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzente
 
Sete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob serviaSete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob servia
 
Oh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em anoOh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em ano
 
O dia em que eu nasci, morra e pereça
O dia em que eu nasci, morra e pereçaO dia em que eu nasci, morra e pereça
O dia em que eu nasci, morra e pereça
 
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Erros  meus, má fortuna, amor ardenteErros  meus, má fortuna, amor ardente
Erros meus, má fortuna, amor ardente
 

Reforma do teatro nacional por Garrett

  • 2.  
  • 3. Reforma do teatro nacional A revolução de Setembro de 1836 colocou no poder Sá da Bandeira e Passos Manuel, ambos admiradores e amigos pessoais de Garrett. Pensaram os hábeis políticos em reorganizar o teatro nacional, quase sem vida desde o tempo de Gil Vicente. Criaram a Inspeção Geral dos Teatros, nomeando primeiro inspetor Almeida Garrett. Investido no cargo, tratou logo o eminente escritor de estudar as causas da decadência do teatro em Portugal e de o ressuscitar em seguida.
  • 4. Decadência e reorganização do teatro nacional, segundo o prefácio de «Um Auto de Gil Vicente» a) Causas da decadência. No prefácio do drama Um Auto de Gil Vicente , indica Garrett as causas que contribuíram para a decadência do teatro nacional. A primeira e mais importante foi a falta de gosto no público. Não havendo poder de compra, ninguém se arrisca a fabricar artigos. A ação dos governantes é que criou este estado de coisas, o que prova com meia dúzia de factos: 1. D. Sebastião, que só sabia «brigar e rezar», cortou a planta logo à nascença, desprezando as representações teatrais; 2. D. João IV tinha certa inclinação para a arte, mas não passou de músico de igreja; 3. os filhos desse monarca não tinham gosto por coisa nenhuma; D. João V, mecenas das Letras e Artes, só apreciava os grandes livros in folio das Academias; 4. no tempo de D. José, acabaram de estragar o gosto do público com a ópera e, além disso, mataram o Judeu; 5. no reinado de D. Maria I, as mulheres estavam proibidas de pisar o palco; 6. embora depois as Academias tenham estabelecido prémios para os bons autores dramáticos, só se traduziram peças de Racine, Voltaire, Crebillon e Arnaud.
  • 5.
  • 6. Teoria do drama romântico A estética ao drama romântico, tal qual a concebeu Garrett, põe em confronto as normas clássicas e as românticas.
  • 7. Teatro clássico 1. Absoluta separação do trágico e do cómico. 2. Linguagem seleta e majestosa, sobretudo na tragédia. 3. As personagens são figuras de psicologia geral e abstrata. 4. Exigem-se as unidades de ação, tempo e lugar.
  • 8. Teatro romântico 1. Inclusão do sublime e do grotesco na mesma obra. 2. Frases conformes à índole dos protagonistas, alheias a preconceitos e a preocupações com o sublime. 3. As personagens devem ser tipos individualizados, revivendo nas cenas a verdade dramática da vida comum. 4. A mesma ação desenvolvida num só dia e num mesmo lugar não convém à agitação passional que fermenta no Romantismo. Só a unidade de ação se admitirá no teatro romântico.
  • 9.   Teatro romântico Não esqueçamos que o drama «é a luta entre personagens, ou luta dentro da mesma personagem — luta cujo desfecho incerto traz suspensa a curiosidade e a simpatia do espectador». Na tragédia «não há tanto a luta como a expectativa terrífica de um desfecho que se aproxima a passos fatais, e contra o qual não vale astúcia humana, como diria Camões.(A. J. Saraiva, Para a História da Cultura em Portugal, II, Lisboa, 1961, pág. 35). Assim, enquanto os protagonistas da tragédia, por mais que esbracejem, nos surgem impotentes para evitar o desencadear da desgraça, os protagonistas do drama, pelo esforço, inteligência ou manha, podem mudar o curso dos acontecimentos, levando a ação, se calhar, a terminar em apoteose.
  • 10. Literatura Portuguesa Profª: Helena Maria Coutinho