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SEMINÁRIO DIOCESANO DE SÃO CARLOS
               CURSO DE FILOSOFIA




               POR QUE FILOSOFAR?
O PENSAMENTO FILOSÓFICO NA PERSPECTIVA SOCRÁTICA




                                     Marcos Eduardo Coró




                  SÃO CARLOS
                      2001
SEMINÁRIO DIOCESANO DE SÃO CARLOS
               CURSO DE FILOSOFIA




               POR QUE FILOSOFAR?
O PENSAMENTO FILOSÓFICO NA PERSPECTIVA SOCRÁTICA


                                                 Marcos Eduardo Coró



               Trabalho de Conclusão do Curso de Filosofia do Seminário
                Diocesano de São Carlos, como parte das exigências para
                    obtenção de créditos na disciplina Síntese Filosófica.




                   SÃO CARLOS
                         2001
FICHA CATALOGRÁFICA




CORÓ, Marcos Eduardo.
Por que filosofar? O pensamento filosófico na perspectiva socrática, Marcos
Eduardo Coró. São Carlos: Seminário Diocesano de São Carlos, 2001. 21 p.


Monografia de Conclusão de Curso – Seminário Diocesano de São Carlos,
2001.


1.Filosofia Antiga. 2.Sócrates. 3.Sofistas. 4.Marcos Eduardo Coró. 5. Por
que filosofar? O pensamento filosófico na perspectiva socrática.
___________________________
          Orientadora
       Profª. Diana Cury




___________________________
          Orientador
Prof. Pe. Carlos Alberto Giacone




___________________________
          Orientador
    Prof. Pe. Márcio Coelho
Dedico este trabalho a todos
aqueles que estão em busca de
       algo maior e não estão
acomodados em suas cavernas.
AGRADECIMENTOS


       Nestas poucas, mas sinceras linhas, quero agradecer àqueles que me deram as
condições necessárias para a execução desse trabalho.
       Ao Pe. Márcio Coelho, excelente orientador, que sempre esteve ao meu lado
acompanhando de perto aquele que ele chamava de “nosso trabalho”. De fato, sua atuação
me ajudou a chegar onde eu queria.
       À querida professora Diana Cury, preclara mestra, meus sinceros agradecimentos;
continue sempre assim: amiga, sincera, prestimosa.
       Ao Pe. Carlos Alberto Giacone, que me ajudou a esclarecer os meus objetivos e
para que assim pudesse concluir o meu trabalho de maneira frutuosa.
       Enfim, a todos os professores, diretores espirituais e, não podendo me esquecer, ao
meu prezado reitor Pe. Aimoré Saturnino da Rocha Júnior. A todos, meus sinceros
agradecimentos.
JUSTIFICATIVA


         O motivo que me fez optar por esse tema foi a ânsia de compreender mais
profundamente o sentido da filosofia. No mundo de hoje vemos muito presente o
imediatismo, no qual parar para pensar (filosoficamente) se caracteriza como perda de
tempo.
         Senti então o desejo de adentrar neste tema tendo como inspiração a frase inscrita
no dintel de Delfos e tão meditada por Sócrates:
                                 “Conhece-te a ti mesmo”.
OBJETIVO


       O meu objetivo é justamente responder à questão explícita no tema: Por que
filosofar?
       Tendo como ponto de partida o pensamento socrático pretendo buscar
argumentações plausíveis contra aqueles que não dão à filosofia o devido valor ou a
enxergam de maneira deturpada. O homem precisa filosofar, abrir-se ao autoconhecimento
para, a partir daí, conhecer o mundo em que vive.
RESUMO


       Este trabalho é uma breve reflexão sobre a necessidade do homem de hoje ser
filósofo. Sendo assim temos a seguinte questão: Por que filosofar? Para responder a esta
questão recorri a um dos filósofos que está na origem da filosofia: Sócrates. Utilizei de seu
pensamento e especialmente da frase que muito o inspirou: “Conhece-te a ti mesmo”. Esta
frase ele viu inscrita no Dintel de Delfos e o acompanhou por toda a vida. Este trabalho se
divide em três partes: a primeira parte procura mostrar quem foi Sócrates, onde e quando
ele viveu, côo também a sua influência sobre a sociedade da época; a segunda parte traz
uma relação entre “mito da caverna”, de Platão, e o “conhece-te a ti mesmo”, de Sócrates;
já na terceira parte lança o olhar para os dias de hoje e prega a necessidade do
autoconhecimento. O ser humano deve deixar as cavernas nas quais está preso e caminhar
para a luz do conhecimento.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................01

2 SÓCRATES EO PENSADORES DE SUA ÉPOCA.......................................................04

2.1 Sócrates e Contexto Sociocultural grego.......................................................................04

1.2 Os sofistas......................................................................................................................07

1.3 As Escolas Socráticas....................................................................................................10

3 A MAIÊUTICA E O MITO DA CAVERNA..................................................................12

3.1 O que é maiêutica..........................................................................................................12

3.2 A Relação entre Sócrates e Platão.................................................................................12

3.3 O Mito da Caverna........................................................................................................13

3.3.1 O mundo contemporâneo e suas cavernas..................................................................15

3.3.2 Relação entre o mito da caverna e o “conhece-te a ti mesmo”...................................15

4 O “CONHECE-TE A TI MESMO” E UMA RELEITURA PARA NOSSO DIAS........17

4.1 Os desafios do século XXI para o Pensar Filosófico.....................................................17

4.2 Perspectivas Filosóficas.................................................................................................18

5 CONCLUSÃO..................................................................................................................20

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................21
1 INTRODUÇÃO


                                                                    “Conhece-te a ti mesmo.”
                                                                                    Sócrates


       No Mundo de hoje, vemo-nos diante de muitas situações que exigem, muitas vezes,
respostas imediatas. Já não temos tanto tempo possível para refletir sobre o mundo e sobre
nós mesmos. No entanto, por mais que o ser humano se entregue ao imediatismo, percebe-
se uma clara necessidade de, em certos momentos, refletir sobre determinados assuntos. Há
situações em que todos nós nos tomamos mais pensativos, mas, no entanto, é um
pensamento muito vago. Mais quais os momentos que exigem de nós um pensamento
filosófico? O que é filosofar?
       Somos parte de um mundo e olhar-se num espelho pode ser muito confuso, mas
olhar o mundo sem antes ter observado a si próprio não será uma forma de anular-se dele
sem se dar conta disso? Há pessoas que só buscam julgar mas não se interessam em se
“auto-julgar”. É o que vemos tão presente no cenário mundial (economia, política, religião,
etc) onde o narcisismo é o que move o ser humano. Quem é tão humilde a ponto de, com
sinceridade, reconhecer que nada sabe diante de tudo aquilo que ainda pode ser conhecido
e voltar-se para seu ego, inciando uma viagem ao mais profundo de seu âmago, sem ter
medo de si mesmo? “Conhece-te a ti mesmo”, olhe-se no espelho, contemple-se e veja qual
a sua importância para o mundo de hoje! Isto é filosofar!
       Nesse trabalho de conclusão de curso desejo refletir o pensamento socrático
relacionando-o com a realidade contemporânea e explorando a necessidade do
autoconhecimento para o homem de hoje.
       A Filosofia surge com um questionamento sobre a realidade buscando as raízes dos
problemas. Uma das primeiras coisas que aprendi no curso de Filosofia é que existem três
características próprias da reflexão filosófica:
       a) Rigorosa: segue um método, possui uma estrutura bem definida.
       b) Radical: vai às raízes das questões, não é superficial.
       c) De conjunto: o pensamento filosófico é coerente, não é fragmentado.
       A palavra filosofia teria sido usada pela primeira vez por Pitágoras e significa
“amor à sabedoria”. Isso para mostrar que sábio é somente Deus, já o homem pode ser
amigo da sabedoria. O homem é convidado a cultivá-la. Para Platão, filosofia é a “ciência
da ignorância” ou “saber do não saber”, os deuses, por saberem tudo, não precisam
filosofar.
        Com essa afirmação de Platão podemos concluir que filosofar é reconhecer a
própria ignorância e, a partir disso, investigar, questionar, buscar respostas. A célebre
afirmação de Sócrates, “só sei que nada sei”, ilustra muito bem este fato. Aqueles que
dizem saber tudo negam o exercício filosófico e agem como se fossem perfeitos.
        O homem, desde os seus primórdios, é curioso para desvendar os mistérios que o
cerca. Com os pré-socráticos surgem as indagações cosmológicas 1: qual a origem do
universo, qual o princípio? Como os filósofos posteriores a investigação passa às questões
antropológicas, o universo deixa de ser o centro e é substituído pelo homem.




1
  Cf. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à
Filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1998. p. 93.
2 SÓCRATES E OS PENSADORES DE SUA ÉPOCA


2.1 SÓCRATES E O CONTEXTO SÓCIO-CULTURAL GREGO
        O mundo de Sócrates foi o do século V a. C., chamado o “Século de Ouro”, época
de grande progresso para a civilização grega tanto social, político, como também
militarmente. Período de grandes realizações. Diz Heródoto que com a vitória grega sobre
os persas, a civilização venceu a barbárie. A Grécia era portanto expressão de uma
sociedade evoluída, bem estruturada. É neste período que se consolida a democracia
ateniense surgindo varias formas representativas de poder político como assembléia
popular, eleições diretas, etc. A Grécia tornou-se a pioneira numa nova forma de governo
instalando um poder em prol do povo e de sua liberdade. Da “polis” gregas deriva o termo
política que significa cuidar da organização da sociedade.
        A cultura grega nessa época era exemplar. O teatro e a linguagem foram sendo
cultivados, o diálogo preferível à violência. O berço da filosofia, aos poucos, vai sendo
construído. A reflexão, o prazer de pensar, tornam-se cada vez ais evidentes. Este é o
tempo de grandes oradores e mestres do ensino.
        Apesar de ser uma democracia e campo fértil para tantas realizações (filosofia,
teatro, oratória), a Grécia também deu espaço para a escravidão. No século IV. A. C.,
enquanto a população do país era de 100.000 gregos e 30.000 estrangeiros, os escravos
atingiam a exorbitante contagem de 40.000 pessoas. Ao mesmo tempo que a democracia
pregava a liberdade também pregava a escravidão. A nacionalidade dos escravos era
múltipla, ou seja, vinham de diversos países. Presos e desvinculados de suas famílias e
terras de origem, ficavam sujeitos a uma mistura racial, o que interessava aos escravistas
pois isso ajudava evitar rebeliões.
        Aquilo que os gregos chamavam de democracia, no entanto, mostrava
características um tanto contraditórias, era uma democracia somente para os gregos e não
para os outros povos. Mesmo entre os gregos havia exclusão das mulheres, por exemplo2.
        A Grécia de Sócrates era um “império”, com sua metrópole e colônias. Os gregos
desfrutavam de uma certa liberdade em relação aos outros povos. Não podemos deixar de
lembrar que a filosofia surgiu primeiro nas colônias e só depois na metrópole. Essas
alcançaram um bem estar social privilegiado que lhes proporcionou condições necessárias
para a arte de filosofar.

2
 Cf. LEVI, Peter. Grécia: Berço do Ocidente. Enciclopédia grandes Impérios e Civilizações, vol. II. p.
112-113.
Sócrates era notório pela sua liberdade e simplicidade, dedicava-se à filosofia como
aquele que nada sabe, mas antes busca saber. Diante do tribunal, Sócrates era acusado de
três crimes: Não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novos deuses e corrupção da
juventude. De fato ele falava de “daimonion”, espécie de vozes divinas que o inspiravam e,
a partir disso, tomava suas decisões. Aos jovens ensinou o método da ironia, do
questionamento, que deixaram muitos pais perturbados por seus filhos. Falando aos que
deveriam julgá-lo diz: “Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto
velhos como novos, de que cuideis menos de vossos corpos e de vossos bens do que a
perfeição de vossas almas, e a vos dizer que a virtude que traz a riqueza ou qualquer outra
coisa útil aos homens, quer na vida pública quer na vida privada. Se, dizendo isso, eu estou
a corromper a juventude, tanto pior, mas, se alguém afirmar que digo outra coisa mente”.
       Com estas palavras, descritas na obra “Apologia de Sócrates”, de Platão, Sócrates
diz o quanto a sua intenção é boa, pois conduz á virtude (Arete), coisa que todos deveriam
buscar ao invés das riquezas que passam.
       Sócrates foi condenado por uma margem pequena de votos e poderia receber uma
pena branda, mas acabou bebendo um cálice de cicuta. Preferiu morrer do que declarar-se
culpado de crimes que não cometeu.
       Esta figura singular da história da humanidade nada deixou escrito e sua própria
existência é causa de investigação. O que dele sabemos é por meio daqueles que
escreveram sobre ele.


2.2 OS SOFISTAS
      “ Os que vendem sua sabedoria por dinheiro quem a queira são chamados sofistas.”
                                                                                   Sócrates


   “O homem é a medida de todas as coisas,das coisas que são o que são,e das coisas que
                                                                     não são que não são.”
                                                                                 Protágoras


       A época de Sócrates foi também a época dos sofistas. A palavra sofista deriva das
palavras gregas sophia, sabedoria,e sophos, sábio,Desde antigüidade sophos são aqueles
que têm um conhecimento profundo sobre determinadas coisas. Dessa maneira, por
exemplo, um escritor, como Homero, possuiu Sophia no escrever relatar fatos históricos,
um navegador possui Sophia no pilotar um navio. O sophos é perito naquilo que faz.
Segundo Píndaro, o homem, por essência, é sophos, e não apenas um papagaio que
repete o que aprendeu de outros, é preciso ser original, autêntico. Segundo Ésquilo, não é a
quantidade de reconhecimento que faz o sophos, mas o uso que ele faz deles. Ou seja,
sábio não é aquele que age como se deve, de fato, de que vale saber tanto mas agir de
maneira errada, imoral?
       Diógenes Laércio comenta que as palavras sophos e sophistes (sofistas) já foram
sinônimos antes da palavra sofista receber um sentido pejorativo. Pitágoras e Sólon foram
chamados de sofistas por Heródoto.
       Os sofistas eram chamados de mestres. Este termo era aplicado aos grandes poetas
da antigüidade. Sendo assim, os sofistas passam a ser considerados os grandes poetas da
filosofia, justamente pela sua capacidade de persuasão e domínio das palavras. Parmênides
e Empédocles foram poetas e os grandes dramaturgos do século V a .C. pensavam ter uma
missa educacional.
       Vemos que sofista, antes de assumir um sentido negativo, é todo aquele que tem
uma capacidade de reflexão e criação, pode ser um poeta, um escritor, um navegante um
filósofo, contanto que seja mestre no que faz. O sofista é aquele que realmente sabe e que
ensina o que sabe, é um artista da comunicação. Não é aquele que se perde em seus
próprios pensamentos, teorias, mas possui um claro objetivo, uma meta a atingir.
O termo sofista foi empregado, mais tarde, para designar uma classe particular de
profissionais que se julgavam herdeiros da primitiva tradição educacional dos poetas.
Ensinavam de cidade m cidade aos jovens, a arte da retórica. O serviço não era grátis, pois
isso se cobrava uma taxa. Sofista passa a ser então um profissional distinto. Platão diz que
no seu tempo e em tempos anteriores muitos se dedicavam a esta profissão. Protágoras,
considerado o primeiro sofista, tinha duas classes de alunos: jovens de boa família que
almejavam a política e aqueles que desejavam aprender para também se tornarem sofistas.
       Sócrates critica os sofistas tendo-os como mercadores que oferecem a sabedoria
como mercadoria, e sugere aos jovens que resistam ao desejo de juntar-se a eles. O que
incomodava a muitos era o profissionalismo dos sofistas, que não tinham dificuldade em
encontrar jovens que pagassem suas altas taxas. Eram artistas na persuasão e incomodavam
toda a sociedade de sua época pelo fato de serem tidos como mercenários. Não podemos
nos esquecer que havia, naquela, uma constante luta entre classes. Para Sócrates, não se
devia cobrar para ensinar, essa atitude de cobrança fazia com que o filósofo ficasse preso
aos seus alunos tirando a sua liberdade para ensinar que ele bem quisesse.
Os sofistas eram, normalmente, estrangeiros e não gozavam de muita simpatia entre
os filósofos. Ensinavam em pequenos grupos ou em seminários, tanto em conferências
públicas como em exibições (epideixeis). Seriam os sofistas professores ou atores? Seus
atos, de grandes exibições, não demonstravam que eles gostavam muito mais de um palco
de que a filosofia propriamente dita. E o que dizer, das grandes conferências filosóficas e
dos cafés filosóficos? Talvez o que realmente tornava os sofistas mal itinerantes, que, de
cidades em cidade, atraíam uma multidão que a eles acorriam.
           No século XIX, os sofistas foram reabilitados por Hegel e o seu período foi
chamado de “Aufklärung grega”, justamente pelo seu caráter inovador e audacioso. Entre
os sofistas há uma grande diversidade teórica o que os caracteriza é o fato de serem
conhecidos como sábios ou pedagogos. Deram grande contribuição para a sistematização
do ensino. O currículo de estudos por eles formado: gramática, retórica, e dialética; e por
influência dos Pitágoras, a aritmética, a geometria, a astronomia e a música, será, depois,
retomado no ensino medieval: o trivium (três primeiros) e o quadrivium (os quatro
últimos).
           De fato, os sofistas eram filósofos que saíam da classe média e não tinham,
portanto, os mesmos privilégios dos filósofos nobres, que possuíam uma estabilidade
financeira e por isso não precisavam cobrar para ensinar a arte de filosofar. Os discursos
dos sofistas, muitas vezes tidos como vazios, tinham por base a defesa de idéias, era a arte
da argumentação, da persuasão.
           Seus maiores representantes foram: Protágoras, de Abdera (485-411 a.C); Geórgias,
de Leôncio, na Silícia (485-380); Híppias, de Transímaco; Pródico; Hipódamos.


2.3 AS ESCOLAS SOCRÁTICAS
           Com morte de Sócrates, muitos filósofos teriam continuado a sua arte de refutação
e maiêutica, filósofos como Xenofonte, Esquines, Antístenes, Euclídes, Fédon, Platão,
seriam os sucessores de Sócrates.
           A partir desses filósofos temos diversas escolas que podemos chamar Escolas
Socráticas, das quais destacamos as Escolas Cínica, a Cirenaica, a de Mégara e a de Elida3.
           Antístenes (inicialmente sofista e,mais tarde,tornando-se discípulo de Sócrates),
fundador da Escola Cínica, ressalta as qualidades de Sócrates, principalmente sua
capacidade de vencer o cansaço, o autodomínio, o ânimo. O ideal de autarquia (bastar-se a
si mesmo, não ter necessidade de nada) tornou-se a base da filosofia de Antístenes.
3
    Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia, vol. I. Coleção Filosofia. p.103-109.
Aristipo, fundador da Escola Cirenaica, fixa-se na idéia do bem-estar físico, o
prazer é que dá sentido à vida. Sócrates não condena o prazer, mas é algo que deve ser bem
direcionado. Já Aristipo toma o prazer como um bem em qualquer ocasião, torna-se assim
verdadeiro hedonista, idolatrando o prazer.
       Euclides, fundador da Escola de Mégara, situou-se entre o pensamento socrático e o
eleatismo. Para ele o bem é o Uno, assemelhando-se com a concepção eleata da absoluta
identidade de si consigo mesmo.
       Fédon, fundador da Escola de Elida, pode ser considerado como menos original do
socráticos. A Escola de Elida teve breve duração.




                     3 A MAIÊUTICA E O MITO DA CAVERNA
3.1 O QUE É MAIÊUTICA?
       O termo maiêutica deriva do grego maia (parteira) e tékhné (arte). Para desenvolver
este método, Sócrates inspira-se na profissão de sua mãe, Fenárete, que era parteira.
Enquanto uma se empenhava em fazer nascer novos cidadãos, a outra(a maiêutica) se
ocupava na busca da verdade.A alma está grávida da verdade e é preciso ajudá-la a nascer.
       A maiêutica, portanto, é fazer o homem despertar para a verdade, para o
pensamento correto. Através da refutação, só sei que nada sei, Sócrates questionava seus
discípulos levando-os a reconhecer sua ignorância e buscar o verdadeiro saber.
       Este método pedagógico de Sócrates é descrito por Platão em Teeteto. De fato,
muito do pensamento socrático nos é trazido por Platão, visto que Sócrates não escreveu
nenhuma obra. O método socrático influenciou filósofos posteriores, como Descartes, por
exemplo, que usa da dúvida metódica para melhor conhecer a realidade.


3.2 A RELAÇÃO ENTRE SÓCRATES E PLATÃO
       Sócrates é constantemente citado por Platão em seus diálogos como um dos seus
personagens. Na verdade, Sócrates seria como uma espécie de protagonista das obras de
Platão. Há várias teses de que Sócrates seria uma invenção de Platão através da qual ele
expõe o seu pensamento. Seria uma arma de Platão para atacar os sofistas.
       De fato, há divergências sobre a existência ou não de Sócrates, mas a verdade é que
a doutrina trazida sob o seu nome tem grande utilidade ainda em nossos dias. Diz-se que
Platão teria sido discípulo de Sócrates, mas diante deste impasse que talvez nunca seja
totalmente esclarecido seria mais sensato aceitar a sua existência uma vez que ele é tido
muito mais como um personagem histórico do que como fictício.
       O pensamento platônico gira em torno da teoria do mundo das idéias e do mundo
sensível, este último apenas uma sombra do primeiro, o mundo ideal. Sócrates fala de uma
realidade superior, que vai alem desse mundo físico e, por isso, devemos nos desocupar
das preocupações mundanas buscando algo maior.
       Das figuras importantes para a filosofia ocidental e mundial que convidam também
a nós a sermos verdadeiros filósofos.


3.3 O MITO DA CAVERNA


                       “Quem é capaz de ver o todo, é filósofo; quem não é capaz, não é.”
                                                                                   Platão
No capítulo VII de “A República” (obra escrita por Platão) encontramos o célebre
“mito da caverna”. Este mito fala de um grupo de pessoas que vivem no interior de uma
caverna. Elas vivem acorrentadas e a única visão que têm da realidade são as sombras
produzidas nas paredes da caverna. Sombras daqueles que vivem fora da caverna.
           Imagina-se que uma dessas pessoas é liberta das correntes e é levada para fora da
caverna. Para ela seria um choque terrível, uma experiência dolorosa. Seus olhos
acostumados com a escuridão ficariam ofuscados pela claridade.
           Suponhamos que, este foi libertado e conheceu a verdadeira realidade, volte par o
interior da caverna e conte aos seus companheiros acorrentados a experiência que teve e
que toda realidade não se limita àquela realidade à qual eles estavam acostumados. Ele,
muito provavelmente, seria motivo de riso.
           Este é apenas um dos mitos citados por Platão em sua obra “A Republica” e possui
uma intenção política: despertar a pessoa para a vida publica. Aquele que é libertado,
conhece a realidade e volta para os seus companheiros representa o filósofo político4.
Ao mito da caverna podemos dar quatro significados5:
      a) Representa os graus nos quais se divide ontologicamente a realidade. Das simples
           sombras a realidade de fato;
      b) Num segundo significado, o mito mostra a evolução que ocorre: do conhecimento
           imperfeito ao conhecimento perfeito;
      c) Num terceiro momento, mito representa o aspecto ascético, místico e teológico do
           platonismo: o homem precisa libertar-se das algemas, sair da escuridão;
      d) O quarto significado é o do filósofo-político.


3.3.1 O MUNDO CONTEMPORÂNEO E SUAS CAVERNAS
      No mundo de hoje encontramos muitas cavernas: analfabetismo, trabalho escravo,
pobreza, prostituição, etc. São os porões da humanidade, cavernas escuras na quais são
deixados, por algum motivo, muitos seres humanos.
      A uma dessas cavernas é que quero chamar a atenção: a falta de reflexão. Na verdade
esta caverna engloba todas as outras cavernas e quem vive em qualquer uma delas está
preso, acorrentado, e precisa ser libertado.


4
    Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia, vol. I. Coleção Filosofia. p.168.
5
    Idem
3.3.2 RELAÇÃO ENTRE O MITO DA CAVERNA E O “CONHECE-TE A TI MESMO”.


   Sócrates ensina, com seu método, a arte da refutação e, a partir dela, como chegar ao
verdadeiro conhecimento. Reconhecer que nada sabe é o seu primeiro passo para realmente
chegar ao saber.
   Sócrates mostra que ser filósofo não é ser soberbo, mas humilde. Isto se constata com
as descrições que dele são feitas ao longo da história.
   O mito da caverna pertence a obra de Platão, mas o personagem que diz é Sócrates.
Neste mito, Sócrates ensina que o homem, para chegar ao conhecimento, deve evoluir
através de vários graus, partindo das trevas até alcançar a luz. Partir so “só sei que nada
sei” para chegar a um conhecimento maior. Na verdade, dizendo que nada sabe é
reconhecer que já sabe alguma coisa.
   “Conhece-te a ti mesmo”. Esta é a frase chave deste nosso trabalho. Os homens que
estão presos no interior das cavernas contemporâneas precisam ser libertados, conhecer a
realidade e se autoconhecer. Deixar as trevas nas quais estão envoltos; evoluir pelos
diversos graus de conhecimento; alcançar a luz. Precisam aprender a questionar; não
conformar com aquilo que a sociedade lhes impõe; buscar uma vida plena e digna.




 4 O “CONHECE-TE A TI MESMO” E UMA RELEITURA PARA NOSSOS DIAS


4.1 OS DESAFIOS DO SÉCULO XXI PARA O PENSAR FILOSÓFICO
                                             “No fundo o homem perdeu a fé em seu valor.”
Nietzsche


    “O homem contemporâneo está doente, talvez gravemente. E a origem do ‘mal-estar da
       civilização’ deve ser buscada sobretudo no niilismo que, no final do século passado,
                                                            Nietzsche expressou tão fortemente.”
                                                                                     Giovanni Reale


        Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Por que sou? Estas questões levam o
homem a pensar sobre sua existência buscando uma resposta mais racional possível. O
homem está numa constante busca da verdade. Esta não será alcançada senão por um
incessante questionamento sobre a realidade e sobre si mesmo.
        Tanto no Oriente como Ocidente constatamos esforços da humanidade para chegar
à verdade e se confrontar com ela. As grandes religiões antigas não deixaram de buscá-la.
A verdade é que o homem, desde sua origem, esta numa busca constante de sentido das
coisas. Mas, em cada época, encontramos grandes obstáculos que tornam o homem apático
diante da realidade. Hoje vivemos a época do “homo faber” e o mundo passa por mudanças
tão rápidas que, quem não a acompanha, torna-se obsoleto. Vivemos a era da tecnologia,
das grandes descobertas e invenções e o importante não é o que o individuo é, mas o que
ele produz profissionalmente6.
        Vivemos a era do individualismo, onde o que importa é sua própria vida e
despreza-se, salvo exceções, a alteridade7. “Homens e mulheres de nosso século XX
trocaram o amor de doação pelo amor de aquisição” (Giovanni Reale)


4.2 PERSPECTIVAS FILOSÓFICAS
        Podemos nos perguntar: o que o homem deve fazer para sair dessa apatia diante dos
valores que o cerca, na qual vive mecanicamente e sempre sujeito à depressão e sentmento
de inferioridade? Quais os valores que precisariam ser resgatados?
        O homem precisa voltar-se para si mesmo e buscar se situar no mundo em que vive.
O voltar-se para si mesmo não é no sentido de ser egoísta, mas de olhar-seno espelho e
contemplar-se. Isso pode ser muito assustador e é um desafio para aquele que já se
consideram sábios. Surge, portanto, uma soberba filosófica e cada um defende, e não abre

6
  Cf. REALE, Giovanni.O saber dos amigos: Terapia para os tempos Atuais. Leituras Filosóficas. Tradução
de Silvana Cobucci. São Paulo: Loyola. 1999. p. 159.
7
  Idem, p. 168
mão, seu ponto de vista. O relativismo toma conta da sociedade e a investigação filosófica
cai num ceticismo geral8.
        O exercício filosófico exige boa vontade de que quem o faz. Sem esta boa vontade,
disposição, ficamos presos ao comodismo e vivemos segundo a opinião dos outros; somos
facilmente manipulados. Por isso, o homem de hoje, mais do que nunca precisa buscar um
caminho para superar os males que o aflige.
        O homem de se dar conta que o sentido da vida não esta apenas no fazer, mas
também no ser. Isto é indispensável para que o homem resgate seus valores espirituais;
subornar o exterior ao interior9.
        A filosofia não está extinta, ela precisa apenas ser cultivada. Existem muitas
situações que precisam ser pensadas e repensadas. Uma imensa multidão que é entregue a
robotização e necessitam de libertação.




                                5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


        O ser humano está, cada vez mais, entregando-se a uma vida na qual o importante é
produzir. Quem não produz é considerando inútil.


8
 Cf. JOÃO PAULO II, Papa. Carta Enciclíca “Fides et Ratio”. p. 11.
9
 Cf. REALE, Giovanni.O saber dos amigos: Terapia para os tempos Atuais. Leituras Filosóficas. Tradução
de Silvana Cobucci. São Paulo: Loyola. 1999. p. 159.
Constatamos, portanto, uma redução do homem a mera peça de um grande tabuleiro
de xadrez, pronto para ser comido. Ou você come ou você é comido. Esta é a luta da
sociedade moderna.
       Diante de tal realidade o homem precisa ser reencontrar como um ser de vontade e
liberdade, de pensamentos e sentimentos. Um ser que precisa conhecer a realidade em que
vive e se autoconhecer.
       Precisamos sair das cavernas e viver as nossas vidas como pessoas livres. E não
como instrumentos a serem manipulados pelos grandes sistemas mundiais (empresas,
governos, etc.)
       Qual é a minha caverna? Até que ponto que eu busco me conhecer e conhecer os
outros? Quantas vezes por dia eu faço um momento de reflexão, sobre a minha vida e a
realidade que me cerca, de forma profunda e coerente? Tenho paciência para pensar ou o
agir me é mais importante?
                               “Conhece-te a ti mesmo.”




BIBLIOGRAFIA


ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introdução à Filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1998. 395p.
BENOIT, Hector. Sócrates: o nascimento da razão negativa. Coleção Logos. São Paulo:
Moderna, 1996. 259p.


JOÃO PAULO II, Papa. Carta Enciclíca “Fides et Ratio”.3 ed. São Paulo: Paulinas, 199.
141 p.

REALE, Giovanni.O saber dos amigos: Terapia para os tempos Atuais. Leituras
Filosóficas. Tradução de Silvana Cobucci. São Paulo: Loyola. 1999. 261p.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia, vol. I. Coleção Filosofia. 6
ed. São Paulo: Paulus, 1990. 693p.

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O autoconhecimento de Sócrates e o mito da caverna

  • 1. SEMINÁRIO DIOCESANO DE SÃO CARLOS CURSO DE FILOSOFIA POR QUE FILOSOFAR? O PENSAMENTO FILOSÓFICO NA PERSPECTIVA SOCRÁTICA Marcos Eduardo Coró SÃO CARLOS 2001
  • 2. SEMINÁRIO DIOCESANO DE SÃO CARLOS CURSO DE FILOSOFIA POR QUE FILOSOFAR? O PENSAMENTO FILOSÓFICO NA PERSPECTIVA SOCRÁTICA Marcos Eduardo Coró Trabalho de Conclusão do Curso de Filosofia do Seminário Diocesano de São Carlos, como parte das exigências para obtenção de créditos na disciplina Síntese Filosófica. SÃO CARLOS 2001
  • 3. FICHA CATALOGRÁFICA CORÓ, Marcos Eduardo. Por que filosofar? O pensamento filosófico na perspectiva socrática, Marcos Eduardo Coró. São Carlos: Seminário Diocesano de São Carlos, 2001. 21 p. Monografia de Conclusão de Curso – Seminário Diocesano de São Carlos, 2001. 1.Filosofia Antiga. 2.Sócrates. 3.Sofistas. 4.Marcos Eduardo Coró. 5. Por que filosofar? O pensamento filosófico na perspectiva socrática.
  • 4. ___________________________ Orientadora Profª. Diana Cury ___________________________ Orientador Prof. Pe. Carlos Alberto Giacone ___________________________ Orientador Prof. Pe. Márcio Coelho
  • 5. Dedico este trabalho a todos aqueles que estão em busca de algo maior e não estão acomodados em suas cavernas.
  • 6. AGRADECIMENTOS Nestas poucas, mas sinceras linhas, quero agradecer àqueles que me deram as condições necessárias para a execução desse trabalho. Ao Pe. Márcio Coelho, excelente orientador, que sempre esteve ao meu lado acompanhando de perto aquele que ele chamava de “nosso trabalho”. De fato, sua atuação me ajudou a chegar onde eu queria. À querida professora Diana Cury, preclara mestra, meus sinceros agradecimentos; continue sempre assim: amiga, sincera, prestimosa. Ao Pe. Carlos Alberto Giacone, que me ajudou a esclarecer os meus objetivos e para que assim pudesse concluir o meu trabalho de maneira frutuosa. Enfim, a todos os professores, diretores espirituais e, não podendo me esquecer, ao meu prezado reitor Pe. Aimoré Saturnino da Rocha Júnior. A todos, meus sinceros agradecimentos.
  • 7. JUSTIFICATIVA O motivo que me fez optar por esse tema foi a ânsia de compreender mais profundamente o sentido da filosofia. No mundo de hoje vemos muito presente o imediatismo, no qual parar para pensar (filosoficamente) se caracteriza como perda de tempo. Senti então o desejo de adentrar neste tema tendo como inspiração a frase inscrita no dintel de Delfos e tão meditada por Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”.
  • 8. OBJETIVO O meu objetivo é justamente responder à questão explícita no tema: Por que filosofar? Tendo como ponto de partida o pensamento socrático pretendo buscar argumentações plausíveis contra aqueles que não dão à filosofia o devido valor ou a enxergam de maneira deturpada. O homem precisa filosofar, abrir-se ao autoconhecimento para, a partir daí, conhecer o mundo em que vive.
  • 9. RESUMO Este trabalho é uma breve reflexão sobre a necessidade do homem de hoje ser filósofo. Sendo assim temos a seguinte questão: Por que filosofar? Para responder a esta questão recorri a um dos filósofos que está na origem da filosofia: Sócrates. Utilizei de seu pensamento e especialmente da frase que muito o inspirou: “Conhece-te a ti mesmo”. Esta frase ele viu inscrita no Dintel de Delfos e o acompanhou por toda a vida. Este trabalho se divide em três partes: a primeira parte procura mostrar quem foi Sócrates, onde e quando ele viveu, côo também a sua influência sobre a sociedade da época; a segunda parte traz uma relação entre “mito da caverna”, de Platão, e o “conhece-te a ti mesmo”, de Sócrates; já na terceira parte lança o olhar para os dias de hoje e prega a necessidade do autoconhecimento. O ser humano deve deixar as cavernas nas quais está preso e caminhar para a luz do conhecimento.
  • 10. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................01 2 SÓCRATES EO PENSADORES DE SUA ÉPOCA.......................................................04 2.1 Sócrates e Contexto Sociocultural grego.......................................................................04 1.2 Os sofistas......................................................................................................................07 1.3 As Escolas Socráticas....................................................................................................10 3 A MAIÊUTICA E O MITO DA CAVERNA..................................................................12 3.1 O que é maiêutica..........................................................................................................12 3.2 A Relação entre Sócrates e Platão.................................................................................12 3.3 O Mito da Caverna........................................................................................................13 3.3.1 O mundo contemporâneo e suas cavernas..................................................................15 3.3.2 Relação entre o mito da caverna e o “conhece-te a ti mesmo”...................................15 4 O “CONHECE-TE A TI MESMO” E UMA RELEITURA PARA NOSSO DIAS........17 4.1 Os desafios do século XXI para o Pensar Filosófico.....................................................17 4.2 Perspectivas Filosóficas.................................................................................................18 5 CONCLUSÃO..................................................................................................................20 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................21
  • 11. 1 INTRODUÇÃO “Conhece-te a ti mesmo.” Sócrates No Mundo de hoje, vemo-nos diante de muitas situações que exigem, muitas vezes, respostas imediatas. Já não temos tanto tempo possível para refletir sobre o mundo e sobre nós mesmos. No entanto, por mais que o ser humano se entregue ao imediatismo, percebe- se uma clara necessidade de, em certos momentos, refletir sobre determinados assuntos. Há situações em que todos nós nos tomamos mais pensativos, mas, no entanto, é um pensamento muito vago. Mais quais os momentos que exigem de nós um pensamento filosófico? O que é filosofar? Somos parte de um mundo e olhar-se num espelho pode ser muito confuso, mas olhar o mundo sem antes ter observado a si próprio não será uma forma de anular-se dele sem se dar conta disso? Há pessoas que só buscam julgar mas não se interessam em se “auto-julgar”. É o que vemos tão presente no cenário mundial (economia, política, religião, etc) onde o narcisismo é o que move o ser humano. Quem é tão humilde a ponto de, com sinceridade, reconhecer que nada sabe diante de tudo aquilo que ainda pode ser conhecido e voltar-se para seu ego, inciando uma viagem ao mais profundo de seu âmago, sem ter medo de si mesmo? “Conhece-te a ti mesmo”, olhe-se no espelho, contemple-se e veja qual a sua importância para o mundo de hoje! Isto é filosofar! Nesse trabalho de conclusão de curso desejo refletir o pensamento socrático relacionando-o com a realidade contemporânea e explorando a necessidade do autoconhecimento para o homem de hoje. A Filosofia surge com um questionamento sobre a realidade buscando as raízes dos problemas. Uma das primeiras coisas que aprendi no curso de Filosofia é que existem três características próprias da reflexão filosófica: a) Rigorosa: segue um método, possui uma estrutura bem definida. b) Radical: vai às raízes das questões, não é superficial. c) De conjunto: o pensamento filosófico é coerente, não é fragmentado. A palavra filosofia teria sido usada pela primeira vez por Pitágoras e significa “amor à sabedoria”. Isso para mostrar que sábio é somente Deus, já o homem pode ser amigo da sabedoria. O homem é convidado a cultivá-la. Para Platão, filosofia é a “ciência
  • 12. da ignorância” ou “saber do não saber”, os deuses, por saberem tudo, não precisam filosofar. Com essa afirmação de Platão podemos concluir que filosofar é reconhecer a própria ignorância e, a partir disso, investigar, questionar, buscar respostas. A célebre afirmação de Sócrates, “só sei que nada sei”, ilustra muito bem este fato. Aqueles que dizem saber tudo negam o exercício filosófico e agem como se fossem perfeitos. O homem, desde os seus primórdios, é curioso para desvendar os mistérios que o cerca. Com os pré-socráticos surgem as indagações cosmológicas 1: qual a origem do universo, qual o princípio? Como os filósofos posteriores a investigação passa às questões antropológicas, o universo deixa de ser o centro e é substituído pelo homem. 1 Cf. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1998. p. 93.
  • 13. 2 SÓCRATES E OS PENSADORES DE SUA ÉPOCA 2.1 SÓCRATES E O CONTEXTO SÓCIO-CULTURAL GREGO O mundo de Sócrates foi o do século V a. C., chamado o “Século de Ouro”, época de grande progresso para a civilização grega tanto social, político, como também militarmente. Período de grandes realizações. Diz Heródoto que com a vitória grega sobre os persas, a civilização venceu a barbárie. A Grécia era portanto expressão de uma sociedade evoluída, bem estruturada. É neste período que se consolida a democracia ateniense surgindo varias formas representativas de poder político como assembléia popular, eleições diretas, etc. A Grécia tornou-se a pioneira numa nova forma de governo instalando um poder em prol do povo e de sua liberdade. Da “polis” gregas deriva o termo política que significa cuidar da organização da sociedade. A cultura grega nessa época era exemplar. O teatro e a linguagem foram sendo cultivados, o diálogo preferível à violência. O berço da filosofia, aos poucos, vai sendo construído. A reflexão, o prazer de pensar, tornam-se cada vez ais evidentes. Este é o tempo de grandes oradores e mestres do ensino. Apesar de ser uma democracia e campo fértil para tantas realizações (filosofia, teatro, oratória), a Grécia também deu espaço para a escravidão. No século IV. A. C., enquanto a população do país era de 100.000 gregos e 30.000 estrangeiros, os escravos atingiam a exorbitante contagem de 40.000 pessoas. Ao mesmo tempo que a democracia pregava a liberdade também pregava a escravidão. A nacionalidade dos escravos era múltipla, ou seja, vinham de diversos países. Presos e desvinculados de suas famílias e terras de origem, ficavam sujeitos a uma mistura racial, o que interessava aos escravistas pois isso ajudava evitar rebeliões. Aquilo que os gregos chamavam de democracia, no entanto, mostrava características um tanto contraditórias, era uma democracia somente para os gregos e não para os outros povos. Mesmo entre os gregos havia exclusão das mulheres, por exemplo2. A Grécia de Sócrates era um “império”, com sua metrópole e colônias. Os gregos desfrutavam de uma certa liberdade em relação aos outros povos. Não podemos deixar de lembrar que a filosofia surgiu primeiro nas colônias e só depois na metrópole. Essas alcançaram um bem estar social privilegiado que lhes proporcionou condições necessárias para a arte de filosofar. 2 Cf. LEVI, Peter. Grécia: Berço do Ocidente. Enciclopédia grandes Impérios e Civilizações, vol. II. p. 112-113.
  • 14. Sócrates era notório pela sua liberdade e simplicidade, dedicava-se à filosofia como aquele que nada sabe, mas antes busca saber. Diante do tribunal, Sócrates era acusado de três crimes: Não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novos deuses e corrupção da juventude. De fato ele falava de “daimonion”, espécie de vozes divinas que o inspiravam e, a partir disso, tomava suas decisões. Aos jovens ensinou o método da ironia, do questionamento, que deixaram muitos pais perturbados por seus filhos. Falando aos que deveriam julgá-lo diz: “Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto velhos como novos, de que cuideis menos de vossos corpos e de vossos bens do que a perfeição de vossas almas, e a vos dizer que a virtude que traz a riqueza ou qualquer outra coisa útil aos homens, quer na vida pública quer na vida privada. Se, dizendo isso, eu estou a corromper a juventude, tanto pior, mas, se alguém afirmar que digo outra coisa mente”. Com estas palavras, descritas na obra “Apologia de Sócrates”, de Platão, Sócrates diz o quanto a sua intenção é boa, pois conduz á virtude (Arete), coisa que todos deveriam buscar ao invés das riquezas que passam. Sócrates foi condenado por uma margem pequena de votos e poderia receber uma pena branda, mas acabou bebendo um cálice de cicuta. Preferiu morrer do que declarar-se culpado de crimes que não cometeu. Esta figura singular da história da humanidade nada deixou escrito e sua própria existência é causa de investigação. O que dele sabemos é por meio daqueles que escreveram sobre ele. 2.2 OS SOFISTAS “ Os que vendem sua sabedoria por dinheiro quem a queira são chamados sofistas.” Sócrates “O homem é a medida de todas as coisas,das coisas que são o que são,e das coisas que não são que não são.” Protágoras A época de Sócrates foi também a época dos sofistas. A palavra sofista deriva das palavras gregas sophia, sabedoria,e sophos, sábio,Desde antigüidade sophos são aqueles que têm um conhecimento profundo sobre determinadas coisas. Dessa maneira, por exemplo, um escritor, como Homero, possuiu Sophia no escrever relatar fatos históricos, um navegador possui Sophia no pilotar um navio. O sophos é perito naquilo que faz.
  • 15. Segundo Píndaro, o homem, por essência, é sophos, e não apenas um papagaio que repete o que aprendeu de outros, é preciso ser original, autêntico. Segundo Ésquilo, não é a quantidade de reconhecimento que faz o sophos, mas o uso que ele faz deles. Ou seja, sábio não é aquele que age como se deve, de fato, de que vale saber tanto mas agir de maneira errada, imoral? Diógenes Laércio comenta que as palavras sophos e sophistes (sofistas) já foram sinônimos antes da palavra sofista receber um sentido pejorativo. Pitágoras e Sólon foram chamados de sofistas por Heródoto. Os sofistas eram chamados de mestres. Este termo era aplicado aos grandes poetas da antigüidade. Sendo assim, os sofistas passam a ser considerados os grandes poetas da filosofia, justamente pela sua capacidade de persuasão e domínio das palavras. Parmênides e Empédocles foram poetas e os grandes dramaturgos do século V a .C. pensavam ter uma missa educacional. Vemos que sofista, antes de assumir um sentido negativo, é todo aquele que tem uma capacidade de reflexão e criação, pode ser um poeta, um escritor, um navegante um filósofo, contanto que seja mestre no que faz. O sofista é aquele que realmente sabe e que ensina o que sabe, é um artista da comunicação. Não é aquele que se perde em seus próprios pensamentos, teorias, mas possui um claro objetivo, uma meta a atingir. O termo sofista foi empregado, mais tarde, para designar uma classe particular de profissionais que se julgavam herdeiros da primitiva tradição educacional dos poetas. Ensinavam de cidade m cidade aos jovens, a arte da retórica. O serviço não era grátis, pois isso se cobrava uma taxa. Sofista passa a ser então um profissional distinto. Platão diz que no seu tempo e em tempos anteriores muitos se dedicavam a esta profissão. Protágoras, considerado o primeiro sofista, tinha duas classes de alunos: jovens de boa família que almejavam a política e aqueles que desejavam aprender para também se tornarem sofistas. Sócrates critica os sofistas tendo-os como mercadores que oferecem a sabedoria como mercadoria, e sugere aos jovens que resistam ao desejo de juntar-se a eles. O que incomodava a muitos era o profissionalismo dos sofistas, que não tinham dificuldade em encontrar jovens que pagassem suas altas taxas. Eram artistas na persuasão e incomodavam toda a sociedade de sua época pelo fato de serem tidos como mercenários. Não podemos nos esquecer que havia, naquela, uma constante luta entre classes. Para Sócrates, não se devia cobrar para ensinar, essa atitude de cobrança fazia com que o filósofo ficasse preso aos seus alunos tirando a sua liberdade para ensinar que ele bem quisesse.
  • 16. Os sofistas eram, normalmente, estrangeiros e não gozavam de muita simpatia entre os filósofos. Ensinavam em pequenos grupos ou em seminários, tanto em conferências públicas como em exibições (epideixeis). Seriam os sofistas professores ou atores? Seus atos, de grandes exibições, não demonstravam que eles gostavam muito mais de um palco de que a filosofia propriamente dita. E o que dizer, das grandes conferências filosóficas e dos cafés filosóficos? Talvez o que realmente tornava os sofistas mal itinerantes, que, de cidades em cidade, atraíam uma multidão que a eles acorriam. No século XIX, os sofistas foram reabilitados por Hegel e o seu período foi chamado de “Aufklärung grega”, justamente pelo seu caráter inovador e audacioso. Entre os sofistas há uma grande diversidade teórica o que os caracteriza é o fato de serem conhecidos como sábios ou pedagogos. Deram grande contribuição para a sistematização do ensino. O currículo de estudos por eles formado: gramática, retórica, e dialética; e por influência dos Pitágoras, a aritmética, a geometria, a astronomia e a música, será, depois, retomado no ensino medieval: o trivium (três primeiros) e o quadrivium (os quatro últimos). De fato, os sofistas eram filósofos que saíam da classe média e não tinham, portanto, os mesmos privilégios dos filósofos nobres, que possuíam uma estabilidade financeira e por isso não precisavam cobrar para ensinar a arte de filosofar. Os discursos dos sofistas, muitas vezes tidos como vazios, tinham por base a defesa de idéias, era a arte da argumentação, da persuasão. Seus maiores representantes foram: Protágoras, de Abdera (485-411 a.C); Geórgias, de Leôncio, na Silícia (485-380); Híppias, de Transímaco; Pródico; Hipódamos. 2.3 AS ESCOLAS SOCRÁTICAS Com morte de Sócrates, muitos filósofos teriam continuado a sua arte de refutação e maiêutica, filósofos como Xenofonte, Esquines, Antístenes, Euclídes, Fédon, Platão, seriam os sucessores de Sócrates. A partir desses filósofos temos diversas escolas que podemos chamar Escolas Socráticas, das quais destacamos as Escolas Cínica, a Cirenaica, a de Mégara e a de Elida3. Antístenes (inicialmente sofista e,mais tarde,tornando-se discípulo de Sócrates), fundador da Escola Cínica, ressalta as qualidades de Sócrates, principalmente sua capacidade de vencer o cansaço, o autodomínio, o ânimo. O ideal de autarquia (bastar-se a si mesmo, não ter necessidade de nada) tornou-se a base da filosofia de Antístenes. 3 Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia, vol. I. Coleção Filosofia. p.103-109.
  • 17. Aristipo, fundador da Escola Cirenaica, fixa-se na idéia do bem-estar físico, o prazer é que dá sentido à vida. Sócrates não condena o prazer, mas é algo que deve ser bem direcionado. Já Aristipo toma o prazer como um bem em qualquer ocasião, torna-se assim verdadeiro hedonista, idolatrando o prazer. Euclides, fundador da Escola de Mégara, situou-se entre o pensamento socrático e o eleatismo. Para ele o bem é o Uno, assemelhando-se com a concepção eleata da absoluta identidade de si consigo mesmo. Fédon, fundador da Escola de Elida, pode ser considerado como menos original do socráticos. A Escola de Elida teve breve duração. 3 A MAIÊUTICA E O MITO DA CAVERNA
  • 18. 3.1 O QUE É MAIÊUTICA? O termo maiêutica deriva do grego maia (parteira) e tékhné (arte). Para desenvolver este método, Sócrates inspira-se na profissão de sua mãe, Fenárete, que era parteira. Enquanto uma se empenhava em fazer nascer novos cidadãos, a outra(a maiêutica) se ocupava na busca da verdade.A alma está grávida da verdade e é preciso ajudá-la a nascer. A maiêutica, portanto, é fazer o homem despertar para a verdade, para o pensamento correto. Através da refutação, só sei que nada sei, Sócrates questionava seus discípulos levando-os a reconhecer sua ignorância e buscar o verdadeiro saber. Este método pedagógico de Sócrates é descrito por Platão em Teeteto. De fato, muito do pensamento socrático nos é trazido por Platão, visto que Sócrates não escreveu nenhuma obra. O método socrático influenciou filósofos posteriores, como Descartes, por exemplo, que usa da dúvida metódica para melhor conhecer a realidade. 3.2 A RELAÇÃO ENTRE SÓCRATES E PLATÃO Sócrates é constantemente citado por Platão em seus diálogos como um dos seus personagens. Na verdade, Sócrates seria como uma espécie de protagonista das obras de Platão. Há várias teses de que Sócrates seria uma invenção de Platão através da qual ele expõe o seu pensamento. Seria uma arma de Platão para atacar os sofistas. De fato, há divergências sobre a existência ou não de Sócrates, mas a verdade é que a doutrina trazida sob o seu nome tem grande utilidade ainda em nossos dias. Diz-se que Platão teria sido discípulo de Sócrates, mas diante deste impasse que talvez nunca seja totalmente esclarecido seria mais sensato aceitar a sua existência uma vez que ele é tido muito mais como um personagem histórico do que como fictício. O pensamento platônico gira em torno da teoria do mundo das idéias e do mundo sensível, este último apenas uma sombra do primeiro, o mundo ideal. Sócrates fala de uma realidade superior, que vai alem desse mundo físico e, por isso, devemos nos desocupar das preocupações mundanas buscando algo maior. Das figuras importantes para a filosofia ocidental e mundial que convidam também a nós a sermos verdadeiros filósofos. 3.3 O MITO DA CAVERNA “Quem é capaz de ver o todo, é filósofo; quem não é capaz, não é.” Platão
  • 19. No capítulo VII de “A República” (obra escrita por Platão) encontramos o célebre “mito da caverna”. Este mito fala de um grupo de pessoas que vivem no interior de uma caverna. Elas vivem acorrentadas e a única visão que têm da realidade são as sombras produzidas nas paredes da caverna. Sombras daqueles que vivem fora da caverna. Imagina-se que uma dessas pessoas é liberta das correntes e é levada para fora da caverna. Para ela seria um choque terrível, uma experiência dolorosa. Seus olhos acostumados com a escuridão ficariam ofuscados pela claridade. Suponhamos que, este foi libertado e conheceu a verdadeira realidade, volte par o interior da caverna e conte aos seus companheiros acorrentados a experiência que teve e que toda realidade não se limita àquela realidade à qual eles estavam acostumados. Ele, muito provavelmente, seria motivo de riso. Este é apenas um dos mitos citados por Platão em sua obra “A Republica” e possui uma intenção política: despertar a pessoa para a vida publica. Aquele que é libertado, conhece a realidade e volta para os seus companheiros representa o filósofo político4. Ao mito da caverna podemos dar quatro significados5: a) Representa os graus nos quais se divide ontologicamente a realidade. Das simples sombras a realidade de fato; b) Num segundo significado, o mito mostra a evolução que ocorre: do conhecimento imperfeito ao conhecimento perfeito; c) Num terceiro momento, mito representa o aspecto ascético, místico e teológico do platonismo: o homem precisa libertar-se das algemas, sair da escuridão; d) O quarto significado é o do filósofo-político. 3.3.1 O MUNDO CONTEMPORÂNEO E SUAS CAVERNAS No mundo de hoje encontramos muitas cavernas: analfabetismo, trabalho escravo, pobreza, prostituição, etc. São os porões da humanidade, cavernas escuras na quais são deixados, por algum motivo, muitos seres humanos. A uma dessas cavernas é que quero chamar a atenção: a falta de reflexão. Na verdade esta caverna engloba todas as outras cavernas e quem vive em qualquer uma delas está preso, acorrentado, e precisa ser libertado. 4 Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia, vol. I. Coleção Filosofia. p.168. 5 Idem
  • 20. 3.3.2 RELAÇÃO ENTRE O MITO DA CAVERNA E O “CONHECE-TE A TI MESMO”. Sócrates ensina, com seu método, a arte da refutação e, a partir dela, como chegar ao verdadeiro conhecimento. Reconhecer que nada sabe é o seu primeiro passo para realmente chegar ao saber. Sócrates mostra que ser filósofo não é ser soberbo, mas humilde. Isto se constata com as descrições que dele são feitas ao longo da história. O mito da caverna pertence a obra de Platão, mas o personagem que diz é Sócrates. Neste mito, Sócrates ensina que o homem, para chegar ao conhecimento, deve evoluir através de vários graus, partindo das trevas até alcançar a luz. Partir so “só sei que nada sei” para chegar a um conhecimento maior. Na verdade, dizendo que nada sabe é reconhecer que já sabe alguma coisa. “Conhece-te a ti mesmo”. Esta é a frase chave deste nosso trabalho. Os homens que estão presos no interior das cavernas contemporâneas precisam ser libertados, conhecer a realidade e se autoconhecer. Deixar as trevas nas quais estão envoltos; evoluir pelos diversos graus de conhecimento; alcançar a luz. Precisam aprender a questionar; não conformar com aquilo que a sociedade lhes impõe; buscar uma vida plena e digna. 4 O “CONHECE-TE A TI MESMO” E UMA RELEITURA PARA NOSSOS DIAS 4.1 OS DESAFIOS DO SÉCULO XXI PARA O PENSAR FILOSÓFICO “No fundo o homem perdeu a fé em seu valor.”
  • 21. Nietzsche “O homem contemporâneo está doente, talvez gravemente. E a origem do ‘mal-estar da civilização’ deve ser buscada sobretudo no niilismo que, no final do século passado, Nietzsche expressou tão fortemente.” Giovanni Reale Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Por que sou? Estas questões levam o homem a pensar sobre sua existência buscando uma resposta mais racional possível. O homem está numa constante busca da verdade. Esta não será alcançada senão por um incessante questionamento sobre a realidade e sobre si mesmo. Tanto no Oriente como Ocidente constatamos esforços da humanidade para chegar à verdade e se confrontar com ela. As grandes religiões antigas não deixaram de buscá-la. A verdade é que o homem, desde sua origem, esta numa busca constante de sentido das coisas. Mas, em cada época, encontramos grandes obstáculos que tornam o homem apático diante da realidade. Hoje vivemos a época do “homo faber” e o mundo passa por mudanças tão rápidas que, quem não a acompanha, torna-se obsoleto. Vivemos a era da tecnologia, das grandes descobertas e invenções e o importante não é o que o individuo é, mas o que ele produz profissionalmente6. Vivemos a era do individualismo, onde o que importa é sua própria vida e despreza-se, salvo exceções, a alteridade7. “Homens e mulheres de nosso século XX trocaram o amor de doação pelo amor de aquisição” (Giovanni Reale) 4.2 PERSPECTIVAS FILOSÓFICAS Podemos nos perguntar: o que o homem deve fazer para sair dessa apatia diante dos valores que o cerca, na qual vive mecanicamente e sempre sujeito à depressão e sentmento de inferioridade? Quais os valores que precisariam ser resgatados? O homem precisa voltar-se para si mesmo e buscar se situar no mundo em que vive. O voltar-se para si mesmo não é no sentido de ser egoísta, mas de olhar-seno espelho e contemplar-se. Isso pode ser muito assustador e é um desafio para aquele que já se consideram sábios. Surge, portanto, uma soberba filosófica e cada um defende, e não abre 6 Cf. REALE, Giovanni.O saber dos amigos: Terapia para os tempos Atuais. Leituras Filosóficas. Tradução de Silvana Cobucci. São Paulo: Loyola. 1999. p. 159. 7 Idem, p. 168
  • 22. mão, seu ponto de vista. O relativismo toma conta da sociedade e a investigação filosófica cai num ceticismo geral8. O exercício filosófico exige boa vontade de que quem o faz. Sem esta boa vontade, disposição, ficamos presos ao comodismo e vivemos segundo a opinião dos outros; somos facilmente manipulados. Por isso, o homem de hoje, mais do que nunca precisa buscar um caminho para superar os males que o aflige. O homem de se dar conta que o sentido da vida não esta apenas no fazer, mas também no ser. Isto é indispensável para que o homem resgate seus valores espirituais; subornar o exterior ao interior9. A filosofia não está extinta, ela precisa apenas ser cultivada. Existem muitas situações que precisam ser pensadas e repensadas. Uma imensa multidão que é entregue a robotização e necessitam de libertação. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O ser humano está, cada vez mais, entregando-se a uma vida na qual o importante é produzir. Quem não produz é considerando inútil. 8 Cf. JOÃO PAULO II, Papa. Carta Enciclíca “Fides et Ratio”. p. 11. 9 Cf. REALE, Giovanni.O saber dos amigos: Terapia para os tempos Atuais. Leituras Filosóficas. Tradução de Silvana Cobucci. São Paulo: Loyola. 1999. p. 159.
  • 23. Constatamos, portanto, uma redução do homem a mera peça de um grande tabuleiro de xadrez, pronto para ser comido. Ou você come ou você é comido. Esta é a luta da sociedade moderna. Diante de tal realidade o homem precisa ser reencontrar como um ser de vontade e liberdade, de pensamentos e sentimentos. Um ser que precisa conhecer a realidade em que vive e se autoconhecer. Precisamos sair das cavernas e viver as nossas vidas como pessoas livres. E não como instrumentos a serem manipulados pelos grandes sistemas mundiais (empresas, governos, etc.) Qual é a minha caverna? Até que ponto que eu busco me conhecer e conhecer os outros? Quantas vezes por dia eu faço um momento de reflexão, sobre a minha vida e a realidade que me cerca, de forma profunda e coerente? Tenho paciência para pensar ou o agir me é mais importante? “Conhece-te a ti mesmo.” BIBLIOGRAFIA ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1998. 395p.
  • 24. BENOIT, Hector. Sócrates: o nascimento da razão negativa. Coleção Logos. São Paulo: Moderna, 1996. 259p. JOÃO PAULO II, Papa. Carta Enciclíca “Fides et Ratio”.3 ed. São Paulo: Paulinas, 199. 141 p. REALE, Giovanni.O saber dos amigos: Terapia para os tempos Atuais. Leituras Filosóficas. Tradução de Silvana Cobucci. São Paulo: Loyola. 1999. 261p. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia, vol. I. Coleção Filosofia. 6 ed. São Paulo: Paulus, 1990. 693p.