Atividades de leitura e produção de narrativas de mistério
1. LENDO, COMPREENDENDO, INTERPRETANDO , ILUSTRANDO E PRODUZINDO UMA
NARRATIVA DE TERROR / SUSPENSE / MISTÉRIO.
► PÚBLICO ALVO:
■ Alunos dos 8º anos
► LOCAL:
■ Escola Municipal Luis Lindenberg
►DURAÇÃO:
■ No decorrer do 1º trimestre/2011
► TEXTOS APRESENTADOS PARA ESTUDO
■ TEXTO I: “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe
■ TEXTO II: “O quadro do palhaço”, de Fernando Ferric
►OBJETIVO GERAL:
■ Apresentar aos alunos o gênero narrativo terror / suspense / Mistério, a fim de leválos à
leitura, compreensão e interpretação, bem como a uma discussão literária e a uma reflexão
linguística. Além disso, também levar esses educandos a tecerem comparações entre os textos
em estudo, ilustrálos e a produzirem suas próprias obras literárias.
►OBJETIVOS:
■ Levar o (a) aluno (a) à leitura, compreensão e interpretação oral e escrita do texto “ O retrato
oval”, de Edgar Allan Poe;
■ Entender o que é um Conto de Terror/Suspense/Mistério;
■ Identificar as características de um conto de Terror/Suspense/Mistério;
■ Responder às questões propostas (literárias e gramaticais/linguísticas);
■ Comparar as semelhanças e as diferenças entre os contos “O retrato oval”, de Edgar Allan
Poe e “O quadro do palhaço”, de Fernando Ferric;
■ Ler outros textos de Terror/Suspense/Mistério, a fim de apresentar aos alunos histórias
diferentes desse gênero narrativo em estudo;
■ Ilustrar os contos de terror “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe e “O quadro do palhaço”,
de Fernando Ferric;
■ Produzir um conto de terror/Suspense/Mistério.
2. QUAL É O OBJETIVO DE UM CONTO DE TERROR?
Os contos de terror têm por objetivo despertar no leitor sensações e horror diante da
morte, da loucura e do mal que se escondem na mente humana. Para atingir esse objetivo,
alguns contos apresentam ao leitor elementos sobre os quais não se deixa dúvida: são
sobrenaturais. Assim, as personagens são assombradas por fantasmas e monstros e vivem
experiências extraordinárias. Em outros, a causa do terror se encontra na mente humana.
(Para viver juntos: português, 8º ano: ensino fundamental / Ana Elisa de A. Penteado. Edições
SM, 2009)
TEXTO I
O retrato oval (Edgar Allan Poe)
O castelo em que meu criado se aventurara a forçar entrada, em lugar de deixarme
passar uma noite ao relento, gravemente ferido como eu estava, era um daqueles
edifícios mesclados de soturnidade e grandeza que por muito tempo carranquearam
entre os Apeninos, tanto na realidade quanto na imaginação da Sra. Radcliffe. Ao que
tudo indicava, fora abandonado havia pouco e temporariamente. Acomodamonos num
dos quartos menores e menos suntuosamente mobiliados, que ficava num remoto
torreão do edifício. Sua decoração era rica, porém esfarrapada e antiga. As paredes
estavam forradas com tapeçarias e ornadas com diversos e multiformes troféus
heráldicos, juntamente com um número inusual de espirituosas pinturas modernas em
molduras de ricos arabescos dourados. Por essas pinturas, que pendiam das paredes
não só de suas principais superfícies, mas de muitos recessos que a arquitetura bizarra
do castelo fez necessários, por essas pinturas meu delírio incipiente, talvez, fizerame
tomar interesse profundo; de modo que ordenei a Pedro fechar os pesados postigos do
quarto – visto que já era noite –, acender um alto candelabro que se encontrava à
cabeceira de minha cama e abrir amplamente as cortinas franjadas de veludo negro que
a envolviam. Desejei que tudo isso fosse feito para que pudesse abandonarme, ao
menos alternativamente, se não adormecesse, à contemplação das pinturas e à leitura
atenta de um pequeno volume encontrado sobre o travesseiro que se propunha a criticá
las e descrevêlas.
Por longo, longo tempo li, e com devoção e dedicação contempleias. Rápidas e
gloriosas, as horas voavam e a meianoite profunda veio. A posição do candelabro
desagradavame, e estendendo a mão com dificuldade, em vez de perturbar meu criado
adormecido, ajeiteio a fim de lançar seus raios de luz mais em cheio sobre o livro.
Mas a ação produziu um efeito completamente imprevisto. Os raios das numerosas
velas (pois eram muitas) agora caíam num nicho do quarto que até o momento estivera
mergulhado em profunda sombra por uma das colunas da cama. Assim, vi sob a luz
vívida um quadro não notado antes. Era o retrato de uma jovem, quase mulher feita.
Olhei a pintura apressadamente e fechei os olhos. Não foi a princípio claro para minha
própria percepção por que fiz isso. Todavia, enquanto minhas pálpebras permaneciam
dessa forma fechadas, revi na mente a reação de fechálas. Foi um movimento impulsivo
3. para ganhar tempo para pensar – para certificarme de que minha vista não me enganara
–, para acalmar e dominar minha fantasia para uma observação mais calma e segura. Em
poucos momentos, novamente olhei fixamente a pintura. O que agora via, certamente
não podia e não queria duvidar, pois o primeiro clarão das velas sobre a tela dissipara o
estupor de sonho que me roubava os sentidos, despertandome imediatamente à
realidade.
O retrato, já o disse, era o de uma jovem. Uma mera cabeça e ombros, feitos à
maneira denominada tecnicamente de vinheta, muito ao estilo das cabeças favoritas de
Sully. Os braços, o busto e as pontas dos radiantes cabelos dissolviamse
imperceptivelmente na vaga mas profunda sombra que formava o fundo do conjunto. A
moldura era oval, ricamente dourada e filigranada à mourisca. Como objeto artístico,
nada poderia ser mais admirável do que aquela pintura em si. Mas não seria a
elaboração da obra nem a beleza imortal daquela face o que tão repentinamente e com
veemência comoverame. Tampouco teria minha fantasia, sacudida de seu meiosono,
tomado a cabeça pela de uma pessoa viva. Vi logo que as peculiaridades do desenho, do
vinhetado e da moldura devem ter dissipado instantaneamente tal idéia – e até mesmo
evitado sua cogitação momentânea. Pensando seriamente acerca desses pontos,
permaneci, talvez uma hora, meio sentado, meio reclinado, com minha vista pregada ao
retrato. Enfim, satisfeito com o verdadeiro segredo de seu efeito, caí de costas na cama.
Descobrira o feitiço do quadro numa absoluta naturalidade de expressão, a qual
primeiro espantoume e por fim confundiume, dominoume e aterrorizoume. Com
profundo e reverente temor, recoloquei o candelabro em sua posição anterior. Sendo a
causa de minha profunda agitação colocada assim fora de vista, busquei avidamente o
volume que tratava das pinturas e suas histórias. Dirigindo me ao número que
designava o retrato oval, li as vagas e singulares palavras que se seguem: “Era uma
donzela de raríssima beleza, não mais encantadora do que cheia de alegria. Má foi a
hora em que viu, amou e desposou o pintor. Ele, apaixonado, estudioso, austero, e
tendo já na sua Arte uma esposa; ela, uma donzela de raríssima beleza, não mais
encantadora do que cheia de alegria; toda luz e sorrisos, e travessa como uma corça
nova; amando e acarinhando todas as coisas; odiando apenas a Arte, sua rival; temendo
só a paleta, os pincéis e outros desfavoráveis instrumentos que a privavam do rosto de
seu amado. Era, portanto, uma coisa terrível para essa dama ouvir o pintor falar de seu
desejo de retratar justo sua jovem esposa. No entanto, ela era humilde e obediente, e
posou submissa por muitas semanas na escura e alta câmara do torreão, onde a luz
caía somente do teto sobre a pálida tela. Mas ele, o pintor, glorificavase com sua obra,
que continuava de hora a hora, dia a dia. E era um homem apaixonado, impetuoso e
taciturno, que se perdia em devaneios; de maneira que não queria ver que a luz
espectral que caía naquele torreão isolado debilitava a saúde e a vivacidade de sua
esposa, que definhava visivelmente para todos, exceto para ele. Contudo, ela continuava
a sorrir imóvel, docilmente, porque viu que o pintor (que tinha grande renome) adquiriu
um fervoroso e ardente prazer em sua tarefa, e trabalhava dia e noite para pintar a que
tanto o amava, aquela que a cada dia ficava mais desalentada e fraca. E, em verdade,
alguns que viam o retrato falavam, em voz baixa, de sua semelhança como de uma
poderosa maravilha, e uma prova não só da força do pintor como de seu profundo amor
pela qual ele pintava tão insuperavelmente bem. Finalmente, como o trabalho
aproximavase de sua conclusão, ninguém mais foi admitido no torreão, pois o pintor
enlouquecera com o ardor de sua obra, raramente desviando os olhos da tela, mesmo
4. para olhar o rosto de sua esposa. Não queria ver que as tintas que espalhava na tela
eram tiradas das faces da que posava junto a ele.
E quando muitas semanas nocivas passaram e pouco restava a fazer, salvo uma
pincelada na boca e um tom nos olhos, o espírito da dama novamente bruxuleou como a
chama de uma lanterna. Então, a pincelada foi dada e o tom aplicado, e, por um
momento, o pintor detevese extasiado diante da obra em que trabalhara. Porém, em
seguida, enquanto ainda contemplavaa, ficou trêmulo, muito pálido e espantado,
exclamando em voz alta: ‘Isto é de fato a própria Vida!’ Voltouse repentinamente para
olhar sua amada: estava morta!”O retrato oval (Edgar Allan Poe)
O castelo em que meu criado se aventurara a forçar entrada, em lugar de deixarme
passar uma noite ao relento, gravemente ferido como eu estava, era um daqueles
edifícios mesclados de soturnidade e grandeza que por muito tempo carranquearam
entre os Apeninos, tanto na realidade quanto na imaginação da Sra. Radcliffe. Ao que
tudo indicava, fora abandonado havia pouco e temporariamente. Acomodamonos num
dos quartos menores e menos suntuosamente mobiliados, que ficava num remoto
torreão do edifício. Sua decoração era rica, porém esfarrapada e antiga. As paredes
estavam forradas com tapeçarias e ornadas com diversos e multiformes troféus
heráldicos, juntamente com um número inusual de espirituosas pinturas modernas em
molduras de ricos arabescos dourados. Por essas pinturas, que pendiam das paredes
não só de suas principais superfícies, mas de muitos recessos que a arquitetura bizarra
do castelo fez necessários, por essas pinturas meu delírio incipiente, talvez, fizerame
tomar interesse profundo; de modo que ordenei a Pedro fechar os pesados postigos do
quarto – visto que já era noite –, acender um alto candelabro que se encontrava à
cabeceira de minha cama e abrir amplamente as cortinas franjadas de veludo negro que
a envolviam. Desejei que tudo isso fosse feito para que pudesse abandonarme, ao
menos alternativamente, se não adormecesse, à contemplação das pinturas e à leitura
atenta de um pequeno volume encontrado sobre o travesseiro que se propunha a
criticálas e descrevêlas.
Por longo, longo tempo li, e com devoção e dedicação contempleias. Rápidas e
gloriosas, as horas voavam e a meianoite profunda veio. A posição do candelabro
desagradavame, e estendendo a mão com dificuldade, em vez de perturbar meu criado
adormecido, ajeiteio a fim de lançar seus raios de luz mais em cheio sobre o livro.
Mas a ação produziu um efeito completamente imprevisto. Os raios das numerosas
velas (pois eram muitas) agora caíam num nicho do quarto que até o momento estivera
mergulhado em profunda sombra por uma das colunas da cama. Assim, vi sob a luz
vívida um quadro não notado antes. Era o retrato de uma jovem, quase mulher feita.
Olhei a pintura apressadamente e fechei os olhos. Não foi a princípio claro para minha
própria percepção por que fiz isso. Todavia, enquanto minhas pálpebras permaneciam
dessa forma fechadas, revi na mente a reação de fechálas. Foi um movimento impulsivo
para ganhar tempo para pensar – para certificarme de que minha vista não me enganara
–, para acalmar e dominar minha fantasia para uma observação mais calma e segura. Em
poucos momentos, novamente olhei fixamente a pintura. O que agora via, certamente
não podia e não queria duvidar, pois o primeiro clarão das velas sobre a tela dissipara o
estupor de sonho que me roubava os sentidos, despertandome imediatamente à
realidade.
O retrato, já o disse, era o de uma jovem. Uma mera cabeça e ombros, feitos à
maneira denominada tecnicamente de vinheta, muito ao estilo das cabeças favoritas de
Sully. Os braços, o busto e as pontas dos radiantes cabelos dissolviamse
5. imperceptivelmente na vaga mas profunda sombra que formava o fundo do conjunto. A
moldura era oval, ricamente dourada e filigranada à mourisca. Como objeto artístico,
nada poderia ser mais admirável do que aquela pintura em si. Mas não seria a
elaboração da obra nem a beleza imortal daquela face o que tão repentinamente e com
veemência comoverame. Tampouco teria minha fantasia, sacudida de seu meiosono,
tomado a cabeça pela de uma pessoa viva. Vi logo que as peculiaridades do desenho, do
vinhetado e da moldura devem ter dissipado instantaneamente tal idéia – e até mesmo
evitado sua cogitação momentânea. Pensando seriamente acerca desses pontos,
permaneci, talvez uma hora, meio sentado, meio reclinado, com minha vista pregada ao
retrato. Enfim, satisfeito com o verdadeiro segredo de seu efeito, caí de costas na cama.
Descobrira o feitiço do quadro numa absoluta naturalidade de expressão, a qual
primeiro espantoume e por fim confundiume, dominoume e aterrorizoume. Com
profundo e reverente temor, recoloquei o candelabro em sua posição anterior. Sendo a
causa de minha profunda agitação colocada assim fora de vista, busquei avidamente o
volume que tratava das pinturas e suas histórias. Dirigindome ao número que
designava o retrato oval, li as vagas e singulares palavras que se seguem: “Era uma
donzela de raríssima beleza, não mais encantadora do que cheia de alegria. Má foi a hora
em que viu, amou e desposou o pintor. Ele, apaixonado, estudioso, austero, e tendo já
na sua Arte uma esposa; ela, uma donzela de raríssima beleza, não mais encantadora do
que cheia de alegria; toda luz e sorrisos, e travessa como uma corça nova; amando e
acarinhando todas as coisas; odiando apenas a Arte, sua rival; temendo só a paleta, os
pincéis e outros desfavoráveis instrumentos que a privavam do rosto de seu amado.
Era, portanto, uma coisa terrível para essa dama ouvir o pintor falar de seu desejo de
retratar justo sua jovem esposa. No entanto, ela era humilde e obediente, e posou
submissa por muitas semanas na escura e alta câmara do torreão, onde a luz caía
somente do teto sobre a pálida tela. Mas ele, o pintor, glorificavase com sua obra, que
continuava de hora a hora, dia a dia. E era um homem apaixonado, impetuoso e
taciturno, que se perdia em devaneios; de maneira que não queria ver que a luz
espectral que caía naquele torreão isolado debilitava a saúde e a vivacidade de sua
esposa, que definhava visivelmente para todos, exceto para ele. Contudo, ela continuava
a sorrir imóvel, docilmente, porque viu que o pintor (que tinha grande renome) adquiriu
um fervoroso e ardente prazer em sua tarefa, e trabalhava dia e noite para pintar a que
tanto o amava, aquela que a cada dia ficava mais desalentada e fraca. E, em verdade,
alguns que viam o retrato falavam, em voz baixa, de sua semelhança como de uma
poderosa maravilha, e uma prova não só da força do pintor como de seu profundo amor
pela qual ele pintava tão insuperavelmente bem. Finalmente, como o trabalho
aproximavase de sua conclusão, ninguém mais foi admitido no torreão, pois o pintor
enlouquecera com o ardor de sua obra, raramente desviando os olhos da tela, mesmo
para olhar o rosto de sua esposa. Não queria ver que as tintas que espalhava na tela
eram tiradas das faces da que posava junto a ele.
E quando muitas semanas nocivas passaram e pouco restava a fazer, salvo uma
pincelada na boca e um tom nos olhos, o espírito da dama novamente bruxuleou como a
chama de uma lanterna. Então, a pincelada foi dada e o tom aplicado, e, por um
momento, o pintor detevese extasiado diante da obra em que trabalhara. Porém, em
seguida, enquanto ainda contemplavaa, ficou trêmulo, muito pálido e espantado,
exclamando em voz alta: ‘Isto é de fato a própria Vida!’ Voltouse repentinamente para
olhar sua amada: estava morta!”
6. ATIVIDADE DE FIXAÇÃO
OBSERVAÇÃO:
Esta proposta de atividade foi executada e corrigida em sala de aula com os alunos dos
8º anos
►O texto “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe, foi lido e discutido em sala de aula. Com base
nessa leitura e discussão, faça o que se pede abaixo:
1) O texto “O retrato oval” pode ser dividido em duas partes: na primeira, um homem ferido que
se hospeda em um castelo; na segunda, uma bela jovem casase com um pintor. Perguntase:
a) Qual o foco narrativo da primeira parte?
_____________________________________________________________________
b) Qual o foco narrativo da segunda parte?
_____________________________________________________________________
2)Podemos deduzir que o narrador na primeira parte do texto “O retrato oval” é um homem
rico. Comprove essa afirmativa com uma passagem do texto.
_____________________________________________________________________
3) Na narrativa ocorre um fato inusitado. Perguntase:
a) Que fato é esse?
b) Por que esse fato pode ser considerado inusitado?
_____________________________________________________________________
4) Em “O retrato oval”, uma combinação de fatores cria o suspense, elemento fundamental em
seu enredo. Um desses fatores é a forma de apresentar o espaço ao leitor.
a) Com base nas palavras do narrador, indique as características do castelo.
b) Como eram as paredes desse castelo?
c) Como eram os quadros?
_____________________________________________________________________
d) Como era a iluminação do castelo?
_____________________________________________________________________
e) Como era a cama?
_____________________________________________________________________
5) O autor do texto “O retrato oval” usou a palavra “soturnidade” que é sinônimo de “lúgubre”
com a finalidade de caracterizar o ambiente onde a história se passa. Perguntase:
a) Qual o significado de lúgubre?
8. Lá, lá, lá, lá, lá. Não estou ouvindo nada! – começo a cantar com as mãos
tampando os ouvidos.
André sentiu um forte puxão em seus braços.
Agora você vai ouvir! – disse o palhaço em cima de sua cama.
O garoto não podia acreditar que o palhaço estava na sua frente, não era uma
gravura, era real. Seu rosto era sombrio, sua maquiagem estava desbotada, usava uma
roupa rasgada, fétida. Era um circo de horrores.
Me larga, seu palhaço horroroso! Me larga! – gritou André se debatendo.
O palhaço continuou a segurálo com muita força, e dava gargalhadas. De seus
olhos escorriam um líquido negro. O palhaço ergueu a mão e enfiou com toda força no
peito de André. Ele sentiu o amargo sabor da morte em seus lábios; não podia se deixar
sua vida escapar. De repente um clarão, e uma forte sacudida em seus ombros.
Acorda, filho! Acorda! Calma... Foi apenas um pesadelo. – disse sua mãe.
A mãe de André o deixou dormir no quarto dela. Mas ele sabia que seria só naquela
noite, e teria que enfrentar o quadro novamente.
Na escola, ao contar o que aconteceu, seus amigos lhe deram a ideia de queimar o
quadro.
Com um saco de lixo, eles entraram no quarto sem que a empregada percebesse,
pegaram o quadro e botaram dentro do saco.
Onde vamos queimar? – perguntou André aos seus colegas.
Na minha garagem! Vamos botar fogo nesse palhaço! – respondeu Fernando.
Jogaram muito álcool, pularam em cima do quadro, chutaram a gravura do palhaço,
cuspiram em cima dele, um verdadeiro exorcismo.
Taca fogo, André! Queima ele! – gritou Fernando.
André riscou o fósforo e jogou em cima do quadro. As labaredas consumiram o
quadro, a gravura se desmanchou até não restar mais nada. Todos comemoraram.
Menos a mãe de André que ficou revoltada ao saber que o garoto tinha destruído o
quadro que seu avô lhe dera.
Era festa de aniversário de Fernando. Já tinha passado alguns meses após o
acontecido. Todos os amigos reunidos, inclusive o André. Muitos presentes chegaram.
Carrinho de controle remoto, vídeo game, bola, mas faltava desembrulhar um presente.
Ninguém sabia quem tinha dado aquele que estava encostado na parede, embrulhado
com um papel marrom.
Oba! Vamos ver o que é esse! – gritou Fernando chamando os colegas.
Acho que é um jogo! – disse André.
Não! Eu acho que é um quebracabeça!
E ao desembrulhar, a terrível surpresa... O quadro do Palhaço!
9. COMPARANDO OS TEXTOS: “O RETRATO OVAL”, DE EDGAR ALLAN POE E “O
QUADRO DO PALHAÇO”, DE FERNADO FERRIC
OBSERVAÇÃO
Esta proposta de atividade foi executada e corrigida em sala de aula com os alunos dos
8º anos
► Tomando por base os textos “O retrato oval” e “O quadro do palhaço”, teça semelhanças e
diferenças entre eles, observando os elementos da narrativa e a caracterização dos mesmos,
bem como outros elementos pertinentes.
SEMELHANÇAS DIFERENÇAS
O retrato oval O quadro do palhaço O retrato oval O quadro do
palhaço
10. TEXTOS COMPLEMENTARES
O mistério do homem de preto
(Luiz Lanzieri)
Na delegacia, um homem todo sujo, e com os pulsos machucados, chegou
correndo desesperadamente, procurando por ajuda. Ele começou a se exaltar, e alguns
policiais o levaram a um canto para saber o que se passava. O homem sentouse em
uma cadeira, enquanto falava:
Meu nome é Ross, e o que venho a dizer é de extrema importância.
Pare de delongas e comece logo a dizer o que sabe! – Disse um policial.
Tudo bem. Assim que os Smith foram embora, o homem de preto chegou. Ele
se mudou para lá, mas ninguém jamais o via. Vivia trancafiado em casa e parecia ser
altamente antisocial. Porém, eu sei o que ele é, só eu sei o que ele fez com os Smith!
O delegado, percebendo a exaltação de um homem que ele logo reconheceu
como Ross, seu parceiro de pesca, procurou inteirarse do que estava acontecendo:
Que baderna é essa, Ross? Qual o motivo do escândalo?
Desculpe, delegado, estou falando sobre aquele homem que chegou à nossa
cidade. Eu queria fazer uma denúncia!
Ótimo! Pois então vá logo, também quero saber o que há de tão suspeito com
esse cara.
Como eu ia dizendo, estava realizando meus afazeres, enquanto minha
mulher estava com meus filhos na casa de minha sogra; foi aí que ele bateu à minha
porta.
Que estranho... Os boatos são que ele só vive isolado. Que horas eram? –
Indagou o delegado.
Eram mais ou menos 4:30h da tarde, estava para escurecer. Ele me disse que
em sua casa havia um cano furado. Como eu já havia sido encanador por algum tempo,
oferecime para ajudar.
E completou:
Assim que entrei em sua casa, percebi um cheiro estranho e depois de um
tempinho andando lá, um pano encardido veio ao meu rosto e eu não me lembro de mais
nada. Acho que ele me apagou com clorofórmio.
Continue! O que aconteceu? – Perguntaram os policiais, sobretudo o
delegado.
Acordei, depois, com as mãos amarradas a um cano de ferro na parede.
Percebi que o homem estava com um avental branco sujo de sangue e um cutelo na
mão. Quando abriu a geladeira, percebi que lá havia vários pedaços de carne, e, ao
reparar melhor, percebi uma cabeça, que era da Srª Smith! Desesperado, perguntei a ele
o que ele queria e o que ele havia feito coma família Smith. Ele olhou para mim com uma
cara muito pálida e com olhos brilhantes. E, de maneira muito fria, respondeu:
Pois é, Eles não queriam me vender a casa, e como na cidade de onde vim
eles não aceitam muito antropofagia, eu os usei para servirem a uma causa maior, assim
como você servirá, para matar minha fome.
11. Enquanto falava, retirou o seu avental e limpou as mãos. Veio para perto de
mim e começou a dar uma risadinha forçada. Colocou um tocadisco para funcionar e foi
tomar um banho, eu acho.
Com o pouco que restava de minha força, consegui derrubar o tocadisco.
Quando o disco de vinil caiu, quebrouse todo, e um pedaço caiu perto de minha perna.
Consegui pegálo, cortei a corda, com um ruído não muito alto. Mas o homem deve ter
se alertado e já devia estar se enxugando. Desesperadamente, eu corri até a porta e
tentei abrir. Estava trancada. Peguei a cadeira e quebrei o vidro da janela. Saí por ali
mesmo e vim correndo, até chegar aqui. O delegado olhou para ele com uma cara de
incrédulo e disse:
Ross, eu também não vou com a cara desse cara, nem sei como ele é direito;
mas, olhe só: você está confuso. Faça o seguinte: vá para casa, tome um banho e durma
um pouco. Se amanhã você tiver certeza do que está falando, eu vou dar uma olhada.
Tá bom, eu acho que foi só um pesadelo mesmo.
Poucos dias depois desses acontecimentos, o jornal local exibia a foto de Ross na
seção de desaparecidos. O anúncio dizia que a última vez que fora visto, estava saindo
da delegacia.
12. A PESTE DO BEIJO
Autor: Alessandro Reiffer
A enfermidade surgira há algumas décadas. Seu desconhecimento pela ciência oficial era completo, e
logo a doença tornouse uma pandemia sem controle. Inicialmente, a moléstia incurável ficou conhecida
como Peste Sanguínea, devido ao fato de afetar o aparelho circulatório dos seres humanos, em particular
o sangue, e gradualmente ir causando o apodrecimento do líquido sanguíneo. Com tais características,
logicamente, a Peste Sanguínea era sempre fatal e, uma vez surgidos os primeiros sintomas, quais sejam,
hemorragias e enegrecimento dos vasos sanguíneos, a morte tornavase questão de algumas poucas
semanas.
Verificouse que a enfermidade era causada por um vírus mutante. Com suas incessantes mutações
gênicas, “driblava” todas as tentativas dos cientistas de criar medicamentos ou vacinas contra a moléstia.
No entanto, o problema maior da peste era que o agente causador possuía um período de incubação um
tanto longo, cerca de 5 anos. Dessa forma, as pessoas contaminadas não sabiam que possuíam o vírus e,
durante o tempo de incubação, transmitiamno incontrolavelmente a um número indeterminável de
indivíduos. Como era uma doença do sangue, a transmissão da Peste Sanguínea obviamente ocorria
através do contato direto com o sangue ou por secreções corpóreas a ele relacionadas, como esperma e
leite materno. Relação sexual, uso de drogas injetáveis e transfusões sanguíneas consistiam as principais
formas de contágio.
Um terrível espetáculo dantesco era a contemplação da morte de uma vítima da Peste Sanguínea. Em uma
primeira fase, o enfermo apresentava hemorragias pelas narinas, febre alta e leves dores por todo o corpo,
semelhantes à de uma gripe. Ao mesmo tempo, as veias assumiam gradativamente um tom negro sob a
pele. Na fase secundária da doença, as dores corporais se intensificavam a um nível insuportável, as
hemorragias nasais tornavamse muito freqüentes, sendo que o sangue expulso era negro, viscoso e
fétido. O enfermo agora também expelia profusas quantidades de sangue através de vômitos e diarréias
espantosas, golfadas de um líquido espesso e gosmento, em apodrecimento, de um maucheiro
nauseabundo, de um aspecto repulsivo. Uma tosse constante e insidiosa contribuía para agravar o quadro,
ocasionando a expectoração de um muco negro e sanguinolento.
O enfermo já não se alimentava mais, e a morte vinha com a terceira fase da peste, absolutamente
horrível. Não se passava 5 minutos sem que o enfermo expelisse sangue podre, quer por um impiedoso
ataque de tosse, quer pela diarréia, quer pelo vômito. Enquanto a triste vítima definhava
implacavelmente, e suas veias apresentavamse em uma tonalidade morbidamente escura, um fedor
insuportável e pestilento exalavase de todo seu corpo, uma vez que devido aos freqüentes vômitos e
diarréias, o sangue pútrido acumulavase ao seu redor, e as pessoas temiam limpálo, receando que
pudessem se contaminar. Se o desgraçado não morresse pelas incessantes hemorragias, em um derradeiro
13. estágio surgiam por todo o corpo feridas e chagas infeccionadas, purulentas, sangrando e fedendo
asquerosamente.
Completavase então o quadro funesto, e o doente falecia no horror e no abandono absoluto, esquecido
nos hospitais especialmente construídos para isolar aqueles infelizes do restante da população, locais
estes cada vez mais lotados, posto que uma vez identificado o vírus na vítima, ela era levada aos
mencionados hospitais, ainda que à força.
Um outro aspecto tenebroso da Peste Sanguínea consistia no fato de que o vírus somente podia ser
identificado pelos testes somente 3 anos após o contágio. Ou seja, o indivíduo, durante 3 anos, se
estivesse contaminado, não teria como sabêlo, e poderia alastrar a moléstia de forma assustadora. De
modo que o número de doentes não cessava de aumentar, e nenhuma das medidas adotadas surtiu o efeito
desejado, principalmente no que se relacionava ao uso de preservativos nas relações sexuais. Como é já
sabido, o vírus apresentava uma alta capacidade de mutação, assim, posteriormente comprovouse que o
vírus causador da peste havia reduzido consideravelmente suas já ultramicroscópicas proporções,
tornandose capaz de penetrar através dos “poros” invisíveis do material dos preservativos, contaminando
dessa forma o parceiro.
As autoridades relutaram por muito tempo em tornar pública tal terrível informação, temendo o pânico
generalizado e intentando aperfeiçoar os preservativos, no que foram frustrados. E quando o número de
doentes assumiu proporções catastróficas, não houve outro jeito, tudo foi divulgado. Muitos não
acreditaram e prosseguiram mantendo relações usando as afamadas “camisinhas”, outras mesmo
acreditando na revelação, permitiram que o desejo sexual falasse mais alto, ignorando o perigo da doença
para satisfazêlo. E ainda houve os que foram tomados de um verdadeiro pavor pelo sexo, o que alterou
dramaticamente suas relações sociais.
Muitos indivíduos, temendo contrair a peste, principiaram a manter relações amorosas, digamos, um
pouco mais “castas”, ou seja, contentandose apenas com os beijos e com as carícias, que acabavam
desembocando na masturbação mútua. No entanto, muitas vezes, não conseguiam frear o imperioso
apetite sexual, concretizando então o ato. Porém, mesmo com todos os temores e cautelas, o número de
infectados crescia em progressão geométrica, e já havia povos quase que totalmente dizimados pela Peste
do Sangue.
Já fora dito que o vírus era altamente mutagênico. Pois mais uma mutação deve ter se desencadeado.
Ocorreu que a doença passou a se manifestar bem mais cedo, reduzindo seu período de incubação para
pouco mais de 6 meses. No entanto, ela permanecia fatal somente após 5 anos. Durante o longo tempo
precedente, os sintomas consistiam em chagas e feridas que, gradativamente, iam se espalhando por todo
o corpo. No princípio, surgiam nos órgãos sexuais, nas mãos e nos lábios. Eram como verrugas
arroxeadas e/ou avermelhadas que eventualmente sangravam. Ao longo dos anos, as feridas nodosas
alastravamse pelo restante do corpo e se intensificavam os sangramentos, porém o progresso era lento.
Verdadeiramente horrível e repugnante era contemplar uma vítima da peste tomada de feridas roxas e
vermelhas, ainda que fosse somente no início, quando os lábios assumiam um aspecto monstruoso devido
à concentração de feridas no local. Às vezes, as feridas também exalavam um fétido odor.
Um outro sintoma surgia alguns meses após o aparecimento das primeiras feridas. Tratavase da
impossibilidade dos homens em ter uma ereção completa; o pênis, mesmo durante a mais extremada
excitação, permanecia parcialmente flácido. Já nas mulheres, quando sexualmente excitadas, não mais
ocorria a lubrificação natural do órgão genital, mas era liberado um muco espesso, purulento, e, assim,
como as feridas, um tanto maucheiroso. Tal era o quadro que se prolongava quase sem alteração durante
os quase 5 anos, tempo necessário para a peste ocasionar a morte do enfermo.
Todavia, os leitores devem estar concluindo que se os primeiros sintomas já ocorriam dentro de poucos
meses após o contágio, conseqüentemente haveria pouco tempo para que o infectado transmitisse o vírus.
Assim também pensavam médicos e cientistas; no entanto, para espanto e horror de todos, isso não se
concretizou, isto é, o crescimento do número de casos não se reduziu como se imaginava, mas continuava
crescendo rapidamente. A doença passou então a ser estudada com mais afinco pelos cientistas, até que
16. Autor: Fernando Ferric
Seus olhos brilharam quando ela viu aquele corpo. Com as pontas dos dedos, ela podia sentir a
temperatura e a maciez daquela pele branca totalmente despida. Camille também se despiu e começou a
alisar o peito, os braços, as pernas, sentir cada músculo. Seu corpo tremia de prazer. Com os lábios, sentia
o sabor... Era algo inexplicável. O prazer só dependia dela. Apreciava beijar aqueles lábios frios, lambê
los... Fazia suaves movimentos circulares com a língua. Subiu em cima dele e simulou uma penetração
impossível.
Enquanto se esfregava e gemia de prazer, olhava para o amigo que a assistia no canto da sala, sentado em
uma cadeira. Enquanto fazia isso, tocava suas partes intimas, excitandoas. Marcos adorava ver aquilo.
No entanto, já era tarde. Sussurrando para não ser ouvido, pediu para que ela terminasse, pois os
familiares já estavam na sala ao lado, esperando o ente querido. Ele precisava terminar os preparativos,
maquiar e vestir o falecido. A garota deulhe um beijo de agradecimento por mais uma noite de prazer e
se foi.
Camille e seu amigo agente funerário se conheciam há muito, desde os tempos de colégio. Em certa
época da vida, descobriram o mesmo gosto pela morte. Isso se deu quando ela, curiosa, quis visitar o
local de trabalho do amigo. Ao avistar o corpo másculo de um rapaz, excitouse. A partir dali, convenceu
o amigo a liberar sua entrada no necrotério municipal para suas pequenas orgias. No inicio, Marcos achou
muito estranho, mas, levando em conta o corpo dela, moldado em academias, cedeu, participando
algumas vezes da festa. Geralmente, esses eventos aconteciam à noite. Durante o dia, a garota estudava
em sua casa.
Assim que um corpo de homem que, aos olhos dele, agradaria Camille, dava entrada no necrotério, o
amigo ligava para ela; naquela noite não seria diferente...
Oi – beijouo – E meu falecido. Quem é?
Ele sorriu.
Você vai gostar. – descobriu o lençol branco. O nome dele é Roberto, tinha 23 anos e morreu em um
acidente de moto, mas não ficaram muitas marcas.
Ela o examinou e abriu um largo sorriso.
Hummm, ele parece ser bom. – tocouo – Eu estava precisando me distrair mesmo... Tava de saco cheio
de ficar em casa!
Mas temos que ser rápidos. A família já está na sala ao lado, esperando para o velório.
Ela assentiu com a cabeça. Esses riscos a excitavam. Adorava ser pressionada.
Vou deixar vocês a sós por um tempinho, enquanto preparo a roupa e a maquiagem. – virouse para o
corpo – Seja um bom garoto, Roberto! Faça tudo o que ela mandar... – disse, saindo.
Camille aproximouse do ouvido do falecido e sussurrou:
41. PRODUZINDO UM CONTO DE TERROR / SUSPENSE / MISTÉRIO
Tomando por base os textos “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe e “O quadro do
Palhaço”, de Fernando Ferric, redija um Conto de Terror/Suspense, observando os seguintes
critérios:
► O Conto se concentrará em torno do seguinte elemento:
Turma 800: Um baú velho;
Turma 801: Um espelho;
Turma 802: Um quarto negro;
Turma 803: Um casaco preto.
► Narrador em primeira pessoa (narradorpersonagem) ou em terceira (observador);
► O ambiente deve ser um lugar inusitado;
► O conto deverá ser feito no tempo passado;
► Dê um título bem criativo ao conto;
► O texto deverá ser produzido em dupla;
► O texto deverá ter entre 20 a 40 linhas.
42. PRODUÇÕES TEXTUAIS
O mistério do baú
Num certo dia, fui ao enterro de Paula. Ela era uma professora de inglês. Eu
estava com todos os meus amigos, quando, de repente, Pedro, meu amigo de
infância, mostrou-me uma casa que parecia super aterrorizante. Sua fachada era
de um tom meio cinza, com partas pretas com ar de envelhecida.
Como eu era muito curiosa, chamei o Pedro para irmos lá ver, e ele aceitou
prontamente. Aproximamo-nos da casa. Veio um homem em nossa direção. Ele
falava com um tom de voz meio sinistra que nós não poderíamos nos aproximar
daquela casa porque lá havia coisas misteriosas, que não poderíamos saber. Com
muito medo, eu e Pedro saímos correndo e nos escondemos atrás de uma lápide.
Falei para Pedro que estava ainda mais curiosa do que antes. Mas Pedro estava
com medo e voltamos para casa.
No dia seguinte, fomos lá novamente bem cedinho. Era por volta das seis e
meia da manhã. Chegando perto da casa, vimos um homem dentro dela. Ele era
baixo, gordo e careca e estava com um machado na mão direita e, na esquerda,
uma tesoura. Logo, reconhecemos que era o coveiro que enterrou a Paula. Ficamos
observando por um tempo o homem, achamos que estava se arrumando para o
trabalho. Quando ele saiu, ele não estava mais careca e ficamos surpresos em vê-lo
com um enorme cabelo.
Ao sair da casa, ele escondeu uma chave no mato que tinha em frente da
sua moradia. Pegamos a tal chave e entramos na casa. Entrando, tivemos a
impressão de que estávamos numa história de terror. As paredes de dentro da casa
eram pintadas de preto. A casa era meio gótica. Ao entrar, deparamo-nos com um
estranho corredor que, ao fundo, havia uma porta com um cadeado muito grande,
impossível de abri-lo, já que não tínhamos a chave, pensamos.
Andando pela casa, lembramos da chave que pegamos. Foi perfeito! Ela
também abria aquele cadeado! Abrimos a porta e entramos correndo e nos
deparamos com um baú velho. Fomos até a ele e o abrimos. Ao abri-lo,
desvendamos o mistério: o baú continha um grande número de cabelo de pessoas
mortas, inclusive o cabelo de Paula, a professora de inglês.
(Andressa Novaes e Diana Justo. Alunas do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
43. A Flor Rosa
Certo dia, um grupo de amigos foi acampar em uma pequena floresta perto
de um lago. Com o passar dos dias, uma garota discutiu com o seu namorado.
Irritada, saiu correndo do lago para o acampamento. Já no fim da tarde, ela estava
arrumando as roupas para ir embora e, logo em seguida, saiu. No caminho voltando
para a sua casa, ela achou uma flor rosa e começou a conversar com ela,
desejando muitas coisas ruins para o seu namorado, inclusive que ele morresse e
que a escola onde eles estudavam pegasse fogo, para ter terremoto...
Depois de certo tempo, ela perguntou para sua flor o que estava
acontecendo, porque o seu namorado morreu atropelado, a escola pegou fogo e,
com isso, muitas crianças e professores morreram queimadas. Depois disso, houve
um terremoto e muitas pessoas morreram. Sem resposta, ela se estressou, pegou a
flor e jogou fora, e foi sozinha para o tal acampamento que ficava na pequena
floresta.
Ela passou um bom tempo lá. Achou um baú velho todo sujo com uma
chave brilhosa em cima dele. Abriu-o. Quando olhou, lá estava a flor rosa. Ela
toucou na flor e, do nada, surgiu uma bruxa dizendo que desde quando a tocou
pela primeira vez, os seus desejos já poderiam se considerados realizados. Ela bem
assustada com a bruxa, correu e esta disse que ela ia morrer.
Depois de alguns anos, a garota desapareceu. O irmão dela foi à delegacia
da cidade dar queixa do seu desaparecimento, e informar que em cima da cama
havia uma carta deixada por ela dizendo: Adeus, meu irmão! Um dia eu volto para
te visitar! Pegue a flor rosa que está no baú no acampamento e deseja muito
dinheiro, paz e felicidade... Adeus!
(Matheus Barbosa. Aluno do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
44. O museu aterrorizante
Algum tempo atrás, eu estava com minha amiga e nossos familiares em um
museu que era rodeado de espelhos e bonecos mal assombrados. Todos que
entravam lá eram aterrorizados. Era cada coisa estranha que eu e minha amiga
ficávamos contando os minutos para sair logo de lá, já que não adiantou contar
nada para os nossos familiares, porque eles não acreditaram.
Tinha cada coisa pior do que a outra. Eram absurdas, tanto que quem já
tinha entrado nesse lugar não tinha coragem de entrar novamente. Foi tão horrível,
que quando saímos de lá, estávamos passando mal. Aonde eu ia e encontrava
espelhos, pensava nas piores coisas, mas sabia que era a minha imaginação. Minha
amiga não conseguia dormir sozinha, porque passava várias coisas ruins na cabeça
dela.
No dia seguinte do acontecimento, eu fui para a escola. Chegando nela, eu
minha amiga contamos para todos da classe o que havia acontecido. Poucos
acreditaram, mas tudo bem.
Um mês depois desse acontecimento, estava andando pela rua, quando, de
repente, encontrei um espelho com a imagem de um boneco querendo me puxar
para dentro dele. Imediatamente, liguei para minha amiga e ela foi ao local onde eu
estava. Então vimos que tudo o que havia acontecido era real e decidimos queimar
o espelho. Depois de queimá-lo, fomos para casa e, do nada, por incrível que
pareça, tudo aquilo foi apagando de nossas mentes.
Dois dias depois, minha amiga fez uma festa surpresa em sua casa
comemorando o meu aniversário. Depois que todos foram embora, começamos a
abrir os presentes. De repente, encontrei uma caixa com um bilhete escrito assim:
Feliz Aniversário! Ah, ah, ah, ah!!! Com muito medo, eu e minha amiga abrimos a
caixa e adivinha o que estava lá? O espelho com a imagem do boneco
aterrorizante, querendo nos pegar.
(Jéssica Sampaio e Victória Ramos. Alunas do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg,
2011)
45. A Órfã
Quando eu tinha onze anos, meus pais morreram em um acidente de carro.
Fui adotado por um senhor chamado José e sua família. Morávamos numa linda
mansão afastada da cidade. Vivi anos felizes nela, até que um dia, meus pais
adotaram também uma menina de nome Anna.
A princípio, ela se mostrou amável. Fiquei alegre e meu irmão mais novo
também. Anna chegou com poucos pertences na bolsa e ficou comovida com o
quarto que ganhou.
Mas algo estranho me deixou intrigado. Ela não deixou ninguém mexer em
sua bolsa e, dentro dela tinha apenas uma escova de cabelo, um espelho redondo e
poucos vestidos.
Para a sua idade – doze anos – era muito esperta e inteligente.
Nas brincadeiras, não se mostrou amigável, chegando a provocar acidentes
com meu irmão. Comecei, então, a observá-la. Notei que seus modos eram
dissimulados e estranhos.
Desconfiado, fui até o seu quarto e, investigando os seus pertences, um
ruído me chamou atenção e, com medo, entrei embaixo da cama para esconder-me
e a vi entrando.
Começou a cantar uma melodia estranha que eu não entendia. Pegou a
pequena bolsa e de lá tirou o espelho. Notei que olhava sua imagem refletida com
muita atenção. Quando olhei, não acreditei no que vi: ou a imagem estava
distorcida, ou era outra pessoa com o rosto totalmente envelhecido. Conseguir sair
do quarto e apavorado, contei para a minha mãe que não acreditou. E Anna atrás
da porta ouviu toda a conversa. Começou, então, a me amedrontar.
Até que um dia, eu a desafiei. Peguei o espelho e pedi que ela se olhasse na
frente de meus pais. Ela se negou a fazer, e meus pais disseram por que não. Ela
continuou negando.
Dois dias se passaram. Fomos a um passeio e, no meio do caminho,
avistamos uma pequena igreja. Quando entramos, uma surpresa: cadê Ana? Havia
desaparecido. De repente, ruídos no fundo da igreja me chamaram a atenção.
Quando olhei, Anna estava dentro do espelho com os olhos vermelhos. Ela disse: -
Eu voltarei! Ah, ah, ah, ah!
Passados vinte e quatro anos, pessoas ainda dizem que vê o rosto da órfã
no espelho da igreja.
( Raikom e Rômullo. Alunos do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
46. Olhos no escuro
Lembro-me perfeitamente daquele dia... Foi numa manhã de sábado que
tudo começou.
Chegamos! Bem-vindos ao nosso lar, disse meu pai quando, finalmente,
parou o carro. Da janela do banco de trás, pude ver uma casa antiga, com um ar
sombrio e misterioso, no meio do nada. Peguei minhas coisas e caminhei até à
porta de entrada. Ao entrar, deparei-me com uma enorme teia de aranha. Olhei em
volta e percebi que, praticamente, todas as paredes estavam rachadas. Larguei
minhas coisas ali mesmo e fui para o segundo andar, para o meu quarto.
Os móveis de madeira até que estavam em bom estado, comparados ao
teto e as paredes. Joguei-me em minha cama, escutando um estranho barulho
vindo de trás dela. Levantei-me e fui ver o que era. Deparei-me com uma pequena
porta de madeira. Passei pela pequena passagem que se estendia à minha frente,
deparando-me com um cômodo pouco iluminado.
- É melhor você sair. Sussurrou uma voz que vinha de trás de mim.
- Quem é você?
Dei um salto batendo com a cabeça no teto. Definitivamente, aquele
cômodo era muito pequeno.
- Sair... é melhor... sair... A voz foi ficando cada vez mais baixa, até
desaparecer.
Admito que fiquei com um pouco de medo. Mas a curiosidade falou mais
alto e eu continuei dentro daquele quarto, tateando as paredes, encontrei um
interruptor. A Luz se acendeu, mas, devido às paredes negras, o quarto continuou
mal iluminado. Dei de ombros, decepcionada por não ter nada lá. Virei-me para sair
do pequeno cômodo, quando senti uma mão no meu ombro. A mão me puxou para
o centro do quarto, foi quando vi um rosto. Era de uma garota ruiva, mais ou menos
da minha idade, com a pele fria e pálida. Quando olhei em seus olhos, que estavam
completamente negros, eu me senti estranha. Senti como se minha alma estivesse
saindo do meu corpo. Minha cabeça girava.
Escutei um grito e, talvez por medo, fechei os olhos. Quando os abri,
deparei-me com meu próprio corpo estirado no chão. Tentei gritar, mas nada saiu
de minha boca. Eu sabia o que tinha acontecido. Só não queria acreditar. Não podia
ser verdade.
- Melanie! Cadê você filha? A voz de minha mãe ecoou pelas escadas.
47. Escutei os passos de meus pais subindo as escadas. Logo os vi entrando no
quarto e, depois, entrando no quarto escuro onde meu corpo jazia. Foi só então que
realmente entendi. O quarto era mal assombrado.
Há alguns anos, uma garota havia morado com sua família, até que sua
mãe morreu e seu pai casou-se com outra mulher. Sua madrasta, por ciúmes, a
trancava no quarto e a obrigava a ficar dias e dias sem água ou alimento. A garota
morreu pouco tempo depois. Dizem que o espírito dela continua no quarto onde
morreu: o quarto negro. Toda vez que uma nova família se muda para aquela casa,
um dos filhos acaba descobrindo o quarto e, por isso, morrendo.
Foi o que aconteceu comigo.
(Alexia e Stéphanie. Alunos do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
O misterioso casaco preto
Eu estava passando pelo lixão, quando encontrei um casaco preto em
perfeito estado. Voltei para casa correndo para amostrá-lo para a minha mãe. Ela
gostou muito. Depois, fui amostrar aos meus amigos. Eles também gostaram.
Passei em frente a uma casa que estava em reforma. Era de uma família
rica. Ela estava precisando de um ajudante na obra. Ofereceram-me um trabalho
com um salário razoável. Eu aceitei.
Comecei no dia seguinte. O trabalho foi doloroso, mas consegui ganhar o
meu primeiro salário. Cheguei a casa, dei a metade do dinheiro e, com o resto, fui
comprar algumas roupas para mim. Retornarei a casa bem tarde e, quanto me
deitei em minha cama, ouvi um barulho muito estranho.
Quando olhei para a cozinha, vi que meu casaco preto estava pegando uma
faca. Saí desesperado em direção à porta, só que ela estava trancada. Consegui
sair pela janela. O casaco estava tentando me perseguir, mas cheguei a tempo à
casa de Júnior, meu amigo.
Toquei a campainha diversas vezes, mas não tinha ninguém em casa. Fui
para a casa de Daniel, por sorte ele estava lá, mas não quis me ajudar porque não
acreditou no que eu havia dito. Ele fechou a parta no meu rosto. Saí correndo da
casa de Daniel e fui para a casa de Emanuel, só que ele tinha viajado para o
México.
48. Não tendo para onde correr, fui para a delegacia. Só sei de uma coisa: o
casaco deve está me procurando até hoje atrás de vingança.
(Suzana e Victor Joshua. Alunos do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg,
2011)
O misterioso homem de preto
Há seis meses atrás, em uma vila distante da cidade, um homem misterioso
foi morar numa casa antiga da vila. Em sua mudança, ele pedia para tomar muito
cuidado com suas caixas pesadas. Quando foi para tirar o seu armário, disse:
- Espera! Tenha muito cuidado com esse armário, pois foi herança do meu
avô.
Nesse mesmo dia, ele vestiu um casaco preto e saiu com o seu carro antigo.
Todos da vila achavam estranho o misterioso homem de preto, como era chamado
na vila. Durante o dia, ele ficava em casa; à noite, ele saía com o seu carro antigo
para a balada no centro da cidade. Lá, ele conhecia uma mulher por noite e a
levava para sua casa. Cada uma que entrava, não saía. Até que um dia, uma
mulher desconfiou dele, e toda noite, ela vigiava da janela a atitude do homem.
Certo dia, a tal mulher, chamada Noêmia, falou para o seu marido:
- Jorge, eu estou desconfiada desse nosso vizinho da frente.
- Está desconfiada de quê, Noêmia? Disse o marido dela.
- De dia, ele não sai de casa; e à noite, ele sai e traz uma mulher por noite.
E todas as que entram na casa, não saem mais.
Em um belo dia, Noêmia disse para o seu marido que iria entrar na casa do
André, o misterioso homem de preto.
- Você está louca, ninguém entra lá. Disse o marido dela.
Ela abaixou a cabeça e fez cara de quem tinha concordado com o que o
marido falou, mas, na verdade, ela iria entrar na casa.
Um dia após o outro, a mulher continuava a observar o homem.
49. Até que um dia, Noêmia entrou na casa do tal homem e acabou vendo o
que ela queria ver: o armário misterioso. Quando ela abriu o armário, levou um
susto, pois viu várias armas, facas e machados que eram usados para matar as
mulheres. Em um quarto escuro havia várias caixas pesadas e com um cheiro
estranho. Quando ela abriu uma das caixas, viu pedaços de corpos de mulheres. Ela
ficou assustada e, imediatamente, foi à delegacia. Chegando lá, o delegado falou
para ela:
- Vai para a sua casa, pois você está muito nervosa.
Ela voltou, mas...
Passou um dia, dois dias e nada de Noêmia. O marido dela achou estranho o
desaparecimento da sua mulher. No terceiro dia, o misterioso homem de preto se
mudou da vila.
No dia seguinte, Jorge falou para os vizinhos:
- Vamos entrar na casa desse homem. E quando eles entraram, lá havia
uma caixa fechada e, quando abriram, lá estava Noêmia e, junto do corpo dela, um
bilhete escrito assim: Isso é uma amostra para quem se mete nos meus assuntos.
Assinado: O misterioso homem de preto.
(Flávia e Shayane. Alunas do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
50. Gargalhadas
A tarde estava muito quente e os estudantes esperavam ansiosos pelas férias.
Muitos pensavam em viajar; outros não queriam sair da sua cidade.
Na escola “Aprendiz do Saber”, alguns alunos necessitavam de boas
notas para serem aprovados, principalmente um grupo de meninos: Matheus,
Gustavo, Gabriel, Felipe e Lucas. Todos eram alunos da professora Beth. Eram
os que menos prestavam atenção às aulas.
Beth, cuidadosamente, informou ao grupo que para sair de férias, era
necessário que fizesse um provão com toda a matéria estudada. Então, o grupo
resolveu reunir-se na casa do menos bagunceiro, Matheus, porque a
concentração para o estudo era obrigatória.
Corria tudo muito bem, até que Matheus resolveu ir à cozinha pedir à
sua mãe que preparasse um lanche para os seus amigos. Para surpresa dele,
sua mãe não estava em casa. Para agradar aos colegas, resolveu fazer o lanche.
Percebeu que nada na cozinha funcionava. Preocupado e nervoso, achou melhor
telefonar para sua mãe, porém o telefone também não funcionava.
Com muito medo, Matheus correu até o quarto onde estavam seus
colegas e, chorando, pediu ajuda. Todos riram e zombaram muito dele. De
repente, Carlos parou de rir porque viu um vulto passar pela janela do quarto.
Gabriel, o mais risonho, ouviu um barulho, uma espécie de ruído vindo da porta
principal. Todos ficaram quietos. O silêncio era sepulcral. Ninguém falava.
Ninguém piscava.
A noite estava aproximando-se. Se faltasse energia, não havia velas. O
pânico cada vez mais crescia. Então o grupo resolveu fugir, mas por todos os
lugares da casa se ouviam ruídos e, fugir dali, já não era mais possível.
De repente, a energia acabou, e a porta principal se abriu e do nada
apareceu João, um aluno caprichoso e inteligente, pálido, com os olhos
51. arregalados e com as roupas rasgadas. Os colegas correram para ajudá-lo.
Naquele momento, todos perderam o medo e, quando perguntaram o que havia
acontecido, João respondeu entusiasmado que era dia trinta e um de outubro, dia
das bruxas.
Nesse momento, surgiu a professora Beth, a mãe de Rodolfo e os outros
colegas de classe, todos fantasiados e sorridentes, porque tudo o que estava
acontecendo não passava de uma armação, pois era o aniversário de Matheus.
Acenderam as luzes e todos, felizes, começaram a grande festa. Que
noite! Que maravilha de festa! Parecia um sonho! Bolo, salgadinhos, docinhos de
vários sabores, refrigerantes, sucos e muitas coisas gostosas. A diversão parecia
não ter fim.
A meia noite se aproximava e, com ela, muita euforia.
De repente, num instante quase incalculável, as luzes se apagaram. Na parede
da sala, do lado esquerdo, havia um enorme espelho que a mãe de Matheus
havia ganhado de um misterioso homem que só se vestia com uma capa preta,
que morava em frente à sua casa. Nele, apesar de não ter energia, refletia um
vulto e, como estava tudo muito escuro, não dava para identificá-lo bem. Por um
instante, percebemos que o tal vulto tinha forma humana. Em sua mão esquerda,
tinha um enorme baú velho todo negro cheio de teias de aranha e com muita
poeira.
O vulto se aproximava e, cada vez mais perto de todos, o lugar ia
ficando muito frio e sombrio. De repente, uma gargalhada ecoou, deixando todo o
ambiente enfeitiçado. As pessoas ficaram embriagadas e, num piscar de olhos,
todas estavam no quarto de Matheus.Antes, o quarto dele era pintado com cores
suaves, leves; agora, o espaço era lúgubre. Tudo nele era gótico. Nesse
momento, o vulto saiu de um armário que havia no quarto e com um tom de voz
estranho e macabro disse:
- Vocês me invocaram para uma causa nobre. Aqui estou!
52. Ninguém entendeu nada. E ele novamente disse:
- Chamaram-me. Aqui estou!
Dessa vez, todos entenderam o que o vulto estava dizendo e, com os
olhos arregalados e os corações palpitantes, disseram em coro:
Tudo não passava de uma brincadeira. Volta do lugar de onde veio, de
onde nunca deveria ter saído.
E ele respondeu:
Já estou indo, porém levo comigo, nesse velho baú negro, o que há de
mais sagrado em vocês: suas vidas. Agora, elas são minhas! Farão companhia a
outras milhares que aqui dentro estão, envolvidas no calor eterno.
Nesse instante, um enorme raio de cor roxa envolveu todo o quarto e,
como num passe de mágica, todos nós estávamos novamente na sala. Agora
com as luzes acesas, sorridentes e muito alegres. Afinal, era a festa de
aniversário de Matheus.
Matheus sentiu-se sede. Foi até a cozinha, de seus lábios ecoou um
enorme grito aterrorizante. Todos foram ver o que havia acontecido. Ao chegar à
cozinha, a mesa que nela havia, estava forrada com uma toalha negra com renda
de veludo roxo e, em cima dela, apenas um pedaço de bolo de chocolate, um
copo com suco de boldo e um bilhete escrito no guardanapo: Deliciem-se do
último pedaço de bolo, e do suco, não se preocupem, porque para onde todos
vocês irão, muito suco de boldo beberão. Não pensem que fui embora. Estou
apenas arrumando meu maravilhoso e envolvente casaco preto e arrumando o
meu magnífico baú preto. Aguarde minha gargalhada. Será o fim de todos.
Da sua eterna e infinita companheira: a morte.
Gargalhadas!
(SILVA, Aldeni de Faria. Gargalhadas, 04/2011)