1) Discute os termos hermenêutica e exegese e como eles se relacionam com a interpretação da Bíblia.
2) Explica que a Igreja é o lugar originário da hermenêutica bíblica e que a fé é essencial para a compreensão dos textos sagrados.
3) Aborda os benefícios dos métodos histórico-críticos para o estudo bíblico, mas enfatiza a necessidade de uma abordagem teológica para uma exegese adequada.
2. Esclarecimento Terminológico
Hermenêutica
Etimologicamente vem de hermeneuein, que equivale a
traduzir, declarar, explicar. Relaciona-se com Hermes,
arauto dos deuses e interprete das ordem de Zeus.
Tem significado técnico referente a de ciência e arte da
interpretação. A hermenêutica bíblica é a teoria especifica
da compreensão dos textos da Escritura.
3. Esclarecimento Terminológico
Exegese
A palavra exegese, do grego exageomai (equivalente em
português a conduzir para fora de, guiar, tirar de,
desenvolver, explicar), foi usada durante muito tempo com o
significado de interpretação e, portanto, quase sinônimo de
hermenêutica.
Entretanto, usa-se a expressão “exegese bíblica” para
indicar o modo concreto de interpretar os textos bíblicos
segundo modelos hermenêuticos previamente fixados e
seguido determinado métodos.
4. A Igreja Lugar Originário da
Hermenêutica da Bíblia
A ligação intrínseca entre Palavra e fé põe em evidência
que a autêntica hermenêutica da Bíblia só pode ser feita na
fé eclesial.
A este respeito, São Boaventura afirma que, sem a fé, não
há chave de acesso ao texto sagrado: “Esta é o
conhecimento de Jesus Cristo, do qual têm origem, como de
uma fonte, a segurança e a inteligência de toda a Sagrada
Escritura. Por isso é impossível que alguém possa entrar
para a conhecer, se antes não tiver a fé infusa de Cristo que
é lanterna, porta e também fundamento de toda a
Escritura”.
5. Desenvolvimento da Investigação
Bíblica e o Magistério eclesial
Em primeiro lugar, é preciso reconhecer os benefícios que a
exegese histórico-crítica e os outros métodos de análise do
texto, desenvolvidos em tempos mais recentes, trouxeram
para a vida da Igreja.
Segundo a visão católica da Sagrada Escritura, a atenção
a estes métodos é imprescindível e está ligada ao realismo
da encarnação. O fato histórico é uma dimensão
constitutiva da fé cristã. A história da salvação não é uma
mitologia, mas uma verdadeira história e, por isso, deve-se
estudar com os métodos de uma investigação histórica
séria.
6. A hermenêutica bíblica conciliar
A Escritura deve ser interpretada no mesmo Espírito em
que foi escrita, a Constituição (DV) dogmática indica três
critérios de base para se respeitar a dimensão divina da
Bíblia:
1) interpretar o texto tendo presente a unidade de toda a Escritura;
2) ter presente a Tradição viva de toda a Igreja;
3) observar a analogia da fé.
Somente quando se observam os dois níveis metodológicos,
histórico-crítico e teológico, é que se pode falar de uma
exegese teológica, de uma exegese adequada a este Livro.
7. O dualismo e o secularismo
É preciso sublinhar hoje o grave risco de um dualismo que
se gera ao abordar as Sagradas Escrituras. De facto,
distinguindo os dois níveis da abordagem bíblica, não se
pretende de modo algum separá-los, contrapô-los, ou
simplesmente justapô-los. Só funcionam em reciprocidade.
a) Antes de mais nada, se a atividade exegética se reduz só ao primeiro
nível, consequentemente a própria Escritura torna-se um texto só do
passado.
b) A falta de uma hermenêutica da fé na abordagem da Escritura leva a
convicção de que o Divino não aparece na história humana.
8. Sentido Literal
O sentido literal não deve ser confundido com o sentido
“literalista” ao qual aderem os fundamentalistas. Não é
suficiente traduzir um texto palavra por palavra para obter
seu sentido literal. É preciso compreendê-lo segundo as
convenções literárias da época.
O sentido literal da Escritura é aquele que foi expresso
diretamente pelos autores humanos inspirados. Sendo o
fruto da inspiração, este sentido é também desejado por
Deus, autor principal. Ele é discernido graças a uma
análise precisa do texto, situado em seu contexto literário e
histórico.
9. Sentido Espiritual
O acontecimento pascal, morte e ressurreição de Jesus, deu
origem a um contexto histórico radicalmente novo, que
ilumina de maneira nova os textos antigos e os faz sofrer
uma mutação de sentido.
Em regra geral, pode-se definir o sentido espiritual,
entendido segundo a fé cristã, como o sentido expresso
pelos textos bíblicos, logo que são lidos sob influência do
Espírito Santo no contexto do mistério pascal do Cristo e da
vida nova que resulta dele.
10. Superação da Letra
Para se recuperar a articulação entre os diversos sentidos
da Escritura, torna-se então decisivo identificar a passagem
entre letra e espírito. Não se trata de uma passagem
automática e espontânea; antes, é preciso transcender a
letra: «de fato, a Palavra do próprio Deus nunca se
apresenta na simples literalidade do texto. Para alcançá-la,
é preciso transcender a literalidade num processo de
compreensão, que se deixa guiar pelo movimento interior
do conjunto e, portanto, deve tornar-se também um
processo de vida».
11. Interpretação Fundamentalista
O «literalismo» constitui uma traição tanto do sentido
literal como do espiritual, abrindo caminho a
instrumentalizações de variada natureza.
O aspecto problemático da «leitura fundamentalista é que,
recusando ter em conta o caráter histórico da revelação
bíblica, torna-se incapaz de aceitar plenamente a verdade
da própria Encarnação. O fundamentalismo evita a íntima
ligação do divino e do humano nas relações com Deus. (…)
Por este motivo, tende a tratar o texto bíblico como se fosse
ditado palavra por palavra pelo Espírito e não chega a
reconhecer que a Palavra de Deus foi formulada numa
linguagem e numa fraseologia condicionadas por uma dada
época»
12. Os Santos e a Bíblia
A interpretação da Sagrada Escritura ficaria incompleta se
não se ouvisse também quem viveu verdadeiramente a
Palavra de Deus, ou seja, os Santos. Realmente a
interpretação mais profunda da Escritura provém
precisamente daqueles que se deixaram plasmar pela
Palavra de Deus, através da sua escuta, leitura e meditação
assídua.
O Espírito Santo que inspirou os autores sagrados é o
mesmo que anima os Santos a darem a vida pelo
Evangelho. Entrar na sua escola constitui um caminho
seguro para efectuar uma hermenêutica viva e eficaz da
Palavra de Deus