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RERUM NOVARUM, O ESPÍRITO DO CAPITALISMO E O SURGIMENTO DO
SERVIÇO SOCIAL
Locimar Massalai 1
Resumo
O texto faz um resgate do contexto histórico da época em que foi escrita a Carta Encíclica
Rerum Novarum de Leão XIII, um dos marcos da doutrina social da igreja sobre a condição
dos operários no final do século XIX, provocado pela apreciação do filme “Daens um grito
de justiça” que relata a vida miserável de trabalhadores, mulheres e crianças em uma fábrica
de tecidos na cidade belga de Aalst, metáfora da vida explorada de tantos trabalhadores da
época e no século seguinte. No segundo capítulo o texto resgata os grandes temas da Rerum
Novarum fazendo algumas acentuações críticas de seus paradoxos e contradições. Finaliza
com retomada de alguns pontos históricos do surgimento do Serviço Social dentro da lógica e
do espírito do capitalismo e de como esta profissão conseguiu romper a visão alienada de si
mesma e do seu fazer.
Palavras-chave: Doutrina Social da Igreja. Capitalismo. Serviço Social.
1. À GUISA DE INTRODUÇÃO
Aprendemos desde tempos que, ao se analisar ou retratar uma determinada situação
histórica seja ela qual for, em qual situação se encontrar é sempre necessário que o
investigador leve em consideração o contexto histórico, econômico e cultural. Isto pode soar
simplório com ar de didatismo pedagógico. Porém, colabora para manter o pesquisador em
atitude de humildade científica diante da complexidade de qualquer situação humana a ser
investigada.
O desejo de nos debruçar mais de perto sobre a carta Encíclica de Leão XIII, a “Rerum
Novarum” é fazer a necessidade de aprofundar a visão sobre a própria carta , seu conteúdo e
o contexto da época na ótica dos direitos humanos em especial a tudo o que envolve o mundo
do trabalho. Fomos provocados pela fruição do filme “Daens, um grito por justiça”. A
1 Acadêmico do Curso de Serviço Social do Ceulji/Ulbra
história que o filme retrata se passa na cidade de Aalst, norte da Bélgica, um grupo de
trabalhadores vive em condições desumanas, miseráveis, vítimas da exploração da indústria
de tecidos onde estão empregados.
Apresenta neste contexto a presença da igreja com seus avanços e contradições a partir
do momento que o padre Daens chega na cidade e começa a questionar e ajudar o povo a se
conscientizar, a ler o mundo, parafraseando Paulo Freire na sua luta por justiça e direitos
através da educação. Diríamos que é a história da Rerum Novarum e seu contexto sendo
contada de forma artística e altamente evocativa. A intenção de nos debruçar na Rerum
Novarum e estudá-la sob a ótica dos direitos humanos veio daí. Apenas uma intenção para
suprir uma necessidade nossa de aprofundar.
2. O CONTEXTO SOCIAL E ECONÔMICO DA RERUM NOVARUM
Nossa intenção aqui é estabelecer algumas idéias- chave para compreensão do período que
antecede a publicação a Rerum Novarum e aquele que vem depois caracterizado pelos anos da
primeira grande guerra mundial. Utilizaremos leitura e o posicionamento de Eric. J.
Hobsbawn por ser segundo nosso ponto de vista o que mais se aproxima da leitura que
desejamos fazer do período de 1875 a 1914. À medida que íamos lendo e pesquisando, fomos
percebendo a efervescência deste mundo que preparava aquele que Aldous Huxlei denominou
de “Admirável mundo novo”.
Segundo o historiador Hobsbawn (1988) o período que vai dos anos 1875 a 1914 pode ser
chamado de “A era dos Impérios”, que segundo ele, foi uma era de paz que gerou um período
de guerras mundiais sem comparação na história da humanidade. Entre 1876 e 1915, cerca de
um quarto da superfície continental do globo foi distribuído ou redistribuído, como colônia
entre meia dúzia de Estados. Também classifica este período como de estabilidade social
crescente dentro da zona de economias industriais desenvolvidas e a conquista de vastos
impérios, porém uma era que em sua periferia desenvolveu forças de rebelião e revolução.
Uma era onde os movimentos de massa devidamente organizados da classe dos trabalhadores
assalariados exigiam a derrubada do capitalismo.
Dentro deste contexto, a esperança de vida aumentou muito mas o declínio da
mortalidade infantil, por exemplo, estava apenas no começo.
Segundo Hobsbawn (1980:51),
A maior esperança dos pobres, mesmo nas partes mais “desenvolvidas” da
Europa, era ainda, provavelmente, ganhar o suficiente para manter o corpo e
a alma juntos, ter um teto sobre a cabeça e roupas suficientes, sobretudo nas
idades mais vulneráveis no seu ciclo vital, quando os filhos ainda não
estavam em idade de trabalhar e quando os homens e mulheres e quando os
homens e mulheres envelheciam. Nas partes desenvolvidas da Europa, morrer
de fome já não era uma contingência possível. Mesmo na Espanha, a última
fome de grandes proporções ocorreu nos anos de 1860.
Quando a economia deste período, podemos fazer uma síntese a partir dos seguintes
elementos: em primeiro lugar, foi uma economia com base geográfica muito ampla com
grande aumento da industrialização. O mercado internacional de produtos primários cresceu
aceleradamente entre os anos de 1880 a 1913. Em segundo lugar a economia mundial ganha
um caráter pluralista devida às conquistas coloniais.
A terceira característica e a mais marcante é a revolução tecnológica pois é agregado a
vida cotidiana o telefone, o telégrafo sem fio, o cinema, o automóvel. As pessoas começam a
se familiarizar com um maravilhoso mundo novo.
A quarta característica foi a dupla transformação da empresa capitalista em sua estrutura e
em seu modo de operação que impulsionou para a transformação do mercado e dos bens de
consumo, aliadas a uma tecnologia revolucionária que favoreceu a criação de novos produtos
e serviços para o mercado de massa, como o fogão a gás, a bicicleta e o cinema, somente para
citar alguns, resultando naquilo que os autores convencionariam chamar de produção em
massa.
Após 1875 percebe-se um ceticismo crescente quanto à eficácia da economia de mercado
autônoma e não regulada sem ajuda alguma do Estado e das autoridades publicas. Esta
situação forçou governos a se enveredarem pelo caminho de políticas de reformas e bem-estar
sociais pois embora a economia fornecesse trabalho não proporcionava mais do que um
mínimo alívio à miséria que a maioria dos trabalhadores enfrentava.
O número de assalariados crescia por eles se haverem transferido das oficinas artesanais e
da agricultura que eram como podemos chamar de reservatórios de trabalho pré-industrial. No
mesmo movimento crescia também em ritmo acelerado nas economias que se
industrializavam, o número de proletários, impulsionado pelo apetite aparentemente ilimitado
por força de trabalho nesse período de expansão econômica.
Ao se aproximar o término do século XIX, não havia país industrializado ou em fase de,
que não pudesse deixar de tomar consciência dessas massas de trabalhadores, historicamente
sem precedentes e aparentemente anônimos e desenraizados. Dentro deste contexto,
Hobsbawn (1980:169) explica a situação dizendo que,
O fato é que para os contemporâneos a massa dos operários era enorme e
indiscutivelmente crescia, lançando uma escura sombra sobre a ordem
estabelecida na sociedade e na política. O que aconteceria, na verdade se os
operários se organizassem politicamente como classe? E foi o que aconteceu
inspirado na ideologia revolucionária do socialismo. Isto aconteceu em escala
extraordinária em quase toda a Europa.
Jamais houvera uma época tão repleta de esperanças para aqueles que labutavam com suas
mãos e sem dúvida, o mundo laboral nunca mais foi o mesmo. Como bem ilustra o refrão de
uma canção socialista russa: “Do mundo passado sombrio resplandece a luz brilhante do
futuro”.
3. OS GRANDES TEMAS DA RERUM NOVARUM
A Rerum Novarum foi a mais reevocada sobre as condições dos operários e sobre a justiça
social no mundo novo. Nitidamente se percebe que tem as marcas de seu tempo e
características da Igreja dos fins do século XIX. Na fala de Leão se percebe um
reconhecimento e uma preocupação ao mesmo tempo em que o mundo mudou,
A sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as temnuma
agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera
vizinha da economia social. Efectivamente, os progressos incessantes da indústria, os
novos caminhos emque entraramas artes, a alteração das relações entre os operários e
os patrões, a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da
indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de
si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos
costumes, deu em resultado final um temível conflito. (RN, 1)
Foi uma resposta à situação de miséria do proletariado industrial criticando o laissez-faire,
ao mesmo tempo em que se afasta do marxismo como solução para aquilo que chama a
“questão operária”. Claro que a Igreja sempre tentou conciliar aquilo que os autores chamam
de valores tradicionais (depositum fidei) e modernidade.
É o primeiro grande documento de caráter social da Igreja Católica Romana e causou forte
impacto de acolhida entre os preocupados pela injusta situação dos operários, e de rejeição
nos meios reacionários, em contrapartida, inclusive no interior da própria Igreja como se
percebe bem no filme “Daens, um grito por justiça”. Dentre outros documentos de cunho
social podemos citar: citar alguns outros nomes de documentos oficiais.
A problemática central da carta encíclica é a tensão entre classes sociais disputando a
propriedade dos meios de produção e como não era de se estranhar evidencia um papa que
pensa ser o sentimento religioso o bem único para as leis e as instituições resolver os
problemas daquilo que chama de alterações nas relações entre operários e patrões.
Sempre com um discurso de preservação da ordem e da harmonia do corpo social como
se percebe em parte do discurso do papa na introdução do documento:
O problema nem é fácil de resolver, nem isento de perigos. E difícil,
efectivamente, precisar com exactidão os direitos e os deveres que devemao
mesmo tempo reger a riqueza e o proletariado, o capital e o trabalho. Por
outro lado, o problema não é sem perigos, porque não poucas vezes homens
turbulentos e astuciosos procuram desvirtuar-lhe o sentido e aproveitam-no
para excitar as multidões e fomentar desordens. (introdução à Carta
Encíclica)
A Carta Encíclica2
analisa e denuncia a partir das novas questões sociais impostas pela realidade e
da polêmica entre igreja e socialismo, a exploração a que eram submetidos os operários. Pede-se a
efetiva presença do Estado para tutelar os direitos dos trabalhadores.
Com a Rerum Novarum se instaura uma maneira da Igreja se pronunciar sobre as questões
sociais. É considerado o documento fundador da Doutrina Social da Igreja que se desenvolveu desde
os fins do século XIX, com o despertar do sentido da justiça diante das condições subumanas dos
assalariados. Posteriormente seu campo de visão foi ampliado devido a necessidade de
aggiornamento3
, estendendo-se a aspectos sociais como a paz, as relações entre os povos, a família, a
educação, o consumo e o dialogo entre as religiões sob um grande impulso estes últimos, pelo
Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII e celebrado sob seu pontificado e o de Paulo
VI, que se estendeu de 1962 a 1965 com uma assistência de mais de dois mil bispos de todo mundo.
Foi o Concilio mais representativo dos 21 que se celebraram na história da Igreja Católica
Romana. Por expressa vontade de João XXIII, este Concílio não de dedicou a condenar erros, mas a
buscar a atualização doutrinal da Igreja em relação ao mundo.
2 Documento papal em forma de carta dirigida aos bispos e fiéis ou a todos os homens sobre um determinado
tema em geral de caráter doutrinal. Trata-se de documentos pontifícios importantes, embora não tanto como as
constituições apostólicas ou bulas.
3 Do italiano giorno: dia. Colocação em dia. Atualização.
3.1. A Igreja, socialismo e a propriedade particular
O papa reconhece que aquilo que chama de homens das classes inferiores passam por
uma situação de infortúnio. E critica a divisão social do trabalho já advindas da revolução
industrial e ao expor a realidade diz que
O século passado destruiu semas substituir por coisa alguma, as corporações
antigas que eram para eles uma proteção. (...) Os princípios e o sentimento
religioso desapareceram das leis e das instituições públicas. Assim, os
trabalhadores isolados e sem defesa, têm-se visto entregues à mercê de
senhores desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada. (...)
Pequeno número de ricos e de opulentos, que impõemumjugo quase servil a
uma imensa multidão de proletários. (RN, 2)
Diante desta situação o documento condena a solução socialista para o problema posto
que, segundo o papa, os socialistas querem sanar este mal instigando os pobres ao ódio e a
supressão das propriedades particulares e coletivização dos bens de produção. Aqui se
percebe uma igreja que condena o mal mas não o faz radicalmente.
O texto fala que os socialistas querem curar este mal, referindo-se a exploração à que
trabalhadores são condenados, instigando nos pobres o ódio invejoso e pregando a supressão
das propriedades particulares que deveriam se tornar públicos e ser administrados pelos
municípios ou pelo Estado.“É sumamente injusta, por violar os direitos legítimos dos
proprietários, viciar as funções do Estado e tender para a subversão completa do edifício
social”. (RN, 3). Ainda no número 07 o documento aponta como causa do empobrecimento
os principios nortedadores do comunismo dizendo que,
Além da injustiça do seu sistema, vêem-se bem todas as suas funestas
consequências, a perturbação emtodas as classes da sociedade, uma odiosa e
insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas,
a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade
privados dos seus estímulos, e, como consequência necessária, as riquezas
estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a
igualdade na nudez, na indigência e na miséria. Por tudo o que Nós acabamos
de dizer, se compreende que a teoria socialista da propriedade coletiva deve
absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles membros a que se quer
socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as
funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública. Fique, pois, bem
assente que o primeiro fundamento a estabelecer por todos aqueles que
querem sinceramente o bem do povo é a inviolabilidade da propriedade
particular. (RN, 7)
Em relação à propriedade particular o documento questiona se a conversão da
propriedade particular em coletiva não tornaria a situação dos operários ainda mais precária?
Não iria roubar-lhes a esperança e a possibilidade de engrandecer seu patrimônio e melhorar
sua situação? E afirma o documento categoricamente (RN, 4, 5), que a propriedade particular
é direito natural do homem, porque o Estado é posterior ao homem e este tem o direito de
viver e proteger sua existência. Que a propriedade particular é plenamente conforme à
natureza. E critica o Estado nos moldes socialistas dizendo que, “querer que o poder civil
invada arbitrariamente o santuário da família é um erro grave e funesto, substituindo a
providencia paterna pela do Estado os socialistas vão contra a justiça natural”. (RN, 6).
Defende a intervenção do Estado quando existe situação de pobreza desesperadora e
graves violações dos direitos mútuos. Chama esta intervenção de fortalecimento dos direitos
dos cidadãos.
3.2. A luta de classes, os sindicatos e associações particulares
O discurso do documento quando aborda a luta de classes deixa claro que o desejo da
Igreja era o de acalmar os ânimos e justifica que o homem deve aceitar com paciência sua
condição, sendo impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível. Que
se há quem prometa ao pobre uma vida isenta de sofrimentos e de trabalhos, toda de repouso e
de perpétuos gozos, com toda certeza engana o povo. A melhor solução propõe o documento,
seria ver as coisas como são e segue tecendo considerações através de um discurso da
concórdia, da ordem e da harmonia e que o dever dela enquanto instituição é o de aproximar
ricos de pobres.
Quando fala da aproximação pacifica entre ricos e pobres, aponta obrigações e uns e
de outros. Quanto aos operários, estes devem trabalhar corretamente e suas reivindicações
devem ser feitas isentas de violência. Quanto aos patrões, estes deveriam não deveriam tratar
os operários como escravos, e chama de vergonhoso e desumano usar dos homens como vis
instrumentos do lucro. Proíbe também que os patrões imponham aos seus operários uma
carga de trabalho superior às suas forças ou em desarmonia com sua idade e sexo e que
paguem corretamente seus salários.
Sempre utilizando um discurso de conciliação admoesta que as duas classes, ricos e
pobres se unam por laços de verdadeira amizade a exemplo de Jesus nos Evangelhos.
Dentro deste contexto pode-se aproveitar a fala de Hobsbawn (1980:180) quando
afirma que:
Um modo poderoso de unificar era o da ideologia, amparada pela
organização. Os socialistas e os anarquistas levaram seu novo evangelho às
massas,até então desprezadas porquase todas as instituições, exceto por seus
exploradores e por aqueles que as aconselhavam a se manter silenciosos e
obedientes; e mesmo as escolas primárias se contentavam em inculcar os
deveres cívicos da religião, enquanto as igrejas só muito lentamente entravam
no território proletário ou estavam mal equipadas para lidar com populações
tão diferentes daquelas das comunidades estruturadas das antigas paróquias
rurais ou urbanas. Os operários eram gente desconhecida na proporção em
que formavam um novo grupo social.
Percebe-se que a Igreja Católica, a despeito da profunda hostilidade que nutria para
com a divisão e conflito de classes, foi digamos assim, obrigada a formar ou pelo menos
tolerar sindicatos e até sindicatos e associações de operários católicos. No discurso da Rerum
Novarum se vê justificada a necessidade das associações para proteger o direito natural, a
natural sociabilidade do homem. Porém assevera que quem acompanha estas associações é a
Igreja. Desafia os Estados a proteger as associações católicas, mas que não se intrometa no
seu governo interior. O documento pondera que estas associações precisam ser sábias e
prudentes, buscando antes de tudo o aperfeiçoamento moral e religioso de seus membros e
que estes devem se guiar pelo culto a Deus.
O que se percebe dentro do espírito da Rerum Novarum no que se refere às
associações e sindicatos é que a Igreja queria sim proteger os trabalhadores, mas não foi capaz
de ler com mais profundidade sua exploração e a forma desumana em que viviam. Este salto
de percepção veio somente mais tarde com outros documentos oficiais do papado romano e
com mais radicalidade, com a Teologia da Libertação na América Latina nas décadas de 70 e
90 com uma Igreja mais comprometida com aquilo que ela mesma chamou através dos
documentos oficiais dos bispos da América Latina e do Caribe, de opção preferencial pelos
pobres.
Aqui caberia um capítulo a parte, mas como não é nossa intenção de fazê-lo, apenas
vamos esclarecer que esta escolha era preferente das classes economicamente mais
necessitadas na hora de planificar projetos pastorais, justiçada pela consciência mais aguda
em vista de povos inteiros submersos em condições inumanas ao lado de gente que vive na
opulência. Fizeram pronunciamentos explícitos neste sentido, as Conferências Gerais do
Episcopado Latino-Americano em Medellín, Puebla e Santo Domingo.
4. AS POLÍTICAS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SURGIMENTO DO
SERVIÇO SOCIAL
O capitalismo como um modo de produção profundamente antagônico e cheio de
contradições se tornou um marco na história da sociedade e dos homens. E fez sem dúvida,
um dos espaços mais violentos na história da relação entre capital e trabalho, revelando desde
o início sua força opressora sobre a compra e a venda das forças de trabalho, vendo a classe
trabalhadora como um modo de existência deste, os capitalistas não hesitam em criar forças
coercitivas para recrutar o operariado e em seguida, explorá-lo.
Dentro deste contexto, Martinelli (2003:57), afirma que “a realidade trazida pelo
capitalismo estava posta e imposta: ou o trabalhador se mercantilizava, assumindo a condição
de mercadoria útil ao capital ou se coisificava, assumindo o estado de “coisa pública” que
correspondia a não cidadania”.
Na realidade mencionada acima, dá-se a união da burguesia, Igreja e Estado que unindo-
se num compacto bloco político como força reacionária tenta abafar as manifestações dos
trabalhadores como bem se vê ilustrado no filme “Daens, um gripo por justiça”.
Como uma avalanche, o regime capitalista alterou tudo o que estava à sua volta, impondo
uma nova rede de relações comerciais e um novo ritmo de vida e de trabalho, atingindo a
sociedade como um todo. Traz em seu bojo a marca da desigualdade, da posso privada de
bens e da exploração da força de trabalho e produzira, a acumulação da pobreza e a
generalização da miséria. A pobreza em vários países europeus era um traço tão marcante e
acarretava tão grandes problemas que era encarada por seus governantes com um fator de
risco para o equilíbrio social, ou seja, a manutenção da ordem social.
Indiferente às precárias condições de vida do proletariado e decidida a elevar a
produtividade do trabalho coletivo, a burguesia fazia recair sobre o trabalhador individual o
peso e as conseqüências de sua decisão, submetendo-o a uma abusiva exploração.
Na Inglaterra, a concreticidade do acordo entre Igreja e burguesia levou ao surgimento da
Sociedade de Organização da Caridade em 1869 normatizando a prática da assistência.
Surgiram assim, no cenário histórico os primeiros assistentes sociais como agentes
executores da prática de assistência social, atividade que se profissionalizou sob a
denominação de Serviço Social, claramente acentuando seu caráter de prática de prestação de
serviços.
Podemos afirmar que o Serviço Social nasce marcado de contradições e antagonismos
próprios de sua origem enquanto profissão articulada com o projeto burguês buscando se
afirmar historicamente como prática humanitária sob a chancela do Estado e da Igreja. Torna-
se então um importante instrumento da burguesia que tanto quanto “protegeu-o” das
contradições negando-lhe a possibilidade de construir autênticas formas de prática social. A
burguesia, dentro de um esquema ardiloso e perverso do capitalismo, se apropria não somente
da prática social, mas também de seus agentes, ocultando-lhes as relações sociais e tudo
aquilo que estava subjacente à sua prática.
Dentro deste contexto, a expansão do numero de assistentes sociais foi significativa no
último terço do século XIX na Europa e nos Estados Unidos, impulsionados pelo acúmulo da
pobreza, da generalização da miséria. A mesma indeterminação que a caracterizava, quando
o século XX dava seus primeiros passos, continuava, porém, a envolver a categoria
profissional. Operando sempre com a identidade atribuída pelo capitalismo e realizando uma
prática por ele determinada os assistentes sociais se constituíram enquanto profissionais, de
forma alienada e alienante de si mesmos.
Dentro deste contexto, Martinelli (2003:116) afirma que,
O pensamento conservador, associado ao forte vínculo coma Igreja Católica,
que foi tornando-se presença dominante no Serviço Social europeu, trouxe
para a prática social, ainda com maior ênfase, a dimensão do controle, da
repressão e do ajustamento aos padrões estabelecidos pela sociedade
burguesa constituída. A doutrina social da Igreja, embora proclamada como
humanista, era acentuadamente conservadora, reproduzindo o clima fascista
que se respirava no continente europeu. Se a encíclica Rerum Novarum, de
1891, do papa Leão XIII, tratando das relações capital-trabalho, deixava
entrever um colorido conservador, exortando os trabalhadores a observar a
prudência e a ética cristã.
Como foi acentuado acima, as manifestações necessitavam ser controladas e recuperar
o equilíbrio para garantir a harmonia do corpo social a partir de uma visão funcionalista da
sociedade. E os assistentes sociais representavam o próprio Estado neste contexto. Com
estratégias de controle social e difundindo o modo capitalista de agir, pensar e fazer.
PARA CONCLUIR, CONCLUIR?
Em terras brasileiras, o primeiro passo da longa caminhada do Serviço Social se dá
sob da aliança com a burguesia. A partir das décadas de 70 e 80 é que os assistentes sociais
conseguiram se identificar como um grupo que portava um projeto profissional comum,
construído com base em uma consciência política do papel que desempenhavam e que,
melhor, deveriam desempenhar na totalidade de um processo social, superando sua própria
consciência burguesa e participando agora sim das lutas da classe operária. A partir daí, as
contradições foram assumidas de forma consciente. Somente a partir do momento em se
expandiu a base critica da consciência social dos agentes, através da ruptura, da alienação, é
que eles, os assistentes sociais conseguiram perceber o caráter conservador, subordinado e
burguês de ser e de seu fazer. Foi um olhar histórico, não feito sem medo, sem conflitos
dentro dos próprios assistentes sociais que foram “acostumados” a executar e não ser
protagonistas.
A identidade começou a ganhar um contorno novo com uma força viva de um
movimento permanente de leituras e re-leituras.
Diríamos que houve uma re-significação do ser e do fazer assistência profissional no
Brasil. Mesmo sabendo que contradições continuaram e continuarão havendo, pois é na
dialética do avanço-retrocesso que a vida se faz e acontece.
O serviço social nasceu alienado a partir de uma identidade que lhe foi imposta. Aos
poucos houve um processo todo de desalienação. Os assistentes sociais foram aos poucos
retomando e construindo eles mesmos sua identidade enquanto profissão. Um processo. Um
parto.
REFERÊNCIAS
AUBERT, Roger. SCHOOYANS, Michel. Da Rerum Novarm à Centesimus Annus. São
Paulo: Loyola, 1993.
HOBSBAWN, Eric J. A era dos Impérios 1875-1914. 2a Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1989.
LEÃO XIII. Sobre a condição dos operários. Encíclica Rerum Novarum. 10a Ed. Petrópolis:
Vozes, 1980.
MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. 8a Ed. São Paulo:
Cortez, 2003.
PEDRO, Aquilino de. Dicionário de termos e afins. Aparecida: Editora Santuário, 1993.

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  • 1. RERUM NOVARUM, O ESPÍRITO DO CAPITALISMO E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL Locimar Massalai 1 Resumo O texto faz um resgate do contexto histórico da época em que foi escrita a Carta Encíclica Rerum Novarum de Leão XIII, um dos marcos da doutrina social da igreja sobre a condição dos operários no final do século XIX, provocado pela apreciação do filme “Daens um grito de justiça” que relata a vida miserável de trabalhadores, mulheres e crianças em uma fábrica de tecidos na cidade belga de Aalst, metáfora da vida explorada de tantos trabalhadores da época e no século seguinte. No segundo capítulo o texto resgata os grandes temas da Rerum Novarum fazendo algumas acentuações críticas de seus paradoxos e contradições. Finaliza com retomada de alguns pontos históricos do surgimento do Serviço Social dentro da lógica e do espírito do capitalismo e de como esta profissão conseguiu romper a visão alienada de si mesma e do seu fazer. Palavras-chave: Doutrina Social da Igreja. Capitalismo. Serviço Social. 1. À GUISA DE INTRODUÇÃO Aprendemos desde tempos que, ao se analisar ou retratar uma determinada situação histórica seja ela qual for, em qual situação se encontrar é sempre necessário que o investigador leve em consideração o contexto histórico, econômico e cultural. Isto pode soar simplório com ar de didatismo pedagógico. Porém, colabora para manter o pesquisador em atitude de humildade científica diante da complexidade de qualquer situação humana a ser investigada. O desejo de nos debruçar mais de perto sobre a carta Encíclica de Leão XIII, a “Rerum Novarum” é fazer a necessidade de aprofundar a visão sobre a própria carta , seu conteúdo e o contexto da época na ótica dos direitos humanos em especial a tudo o que envolve o mundo do trabalho. Fomos provocados pela fruição do filme “Daens, um grito por justiça”. A 1 Acadêmico do Curso de Serviço Social do Ceulji/Ulbra
  • 2. história que o filme retrata se passa na cidade de Aalst, norte da Bélgica, um grupo de trabalhadores vive em condições desumanas, miseráveis, vítimas da exploração da indústria de tecidos onde estão empregados. Apresenta neste contexto a presença da igreja com seus avanços e contradições a partir do momento que o padre Daens chega na cidade e começa a questionar e ajudar o povo a se conscientizar, a ler o mundo, parafraseando Paulo Freire na sua luta por justiça e direitos através da educação. Diríamos que é a história da Rerum Novarum e seu contexto sendo contada de forma artística e altamente evocativa. A intenção de nos debruçar na Rerum Novarum e estudá-la sob a ótica dos direitos humanos veio daí. Apenas uma intenção para suprir uma necessidade nossa de aprofundar. 2. O CONTEXTO SOCIAL E ECONÔMICO DA RERUM NOVARUM Nossa intenção aqui é estabelecer algumas idéias- chave para compreensão do período que antecede a publicação a Rerum Novarum e aquele que vem depois caracterizado pelos anos da primeira grande guerra mundial. Utilizaremos leitura e o posicionamento de Eric. J. Hobsbawn por ser segundo nosso ponto de vista o que mais se aproxima da leitura que desejamos fazer do período de 1875 a 1914. À medida que íamos lendo e pesquisando, fomos percebendo a efervescência deste mundo que preparava aquele que Aldous Huxlei denominou de “Admirável mundo novo”. Segundo o historiador Hobsbawn (1988) o período que vai dos anos 1875 a 1914 pode ser chamado de “A era dos Impérios”, que segundo ele, foi uma era de paz que gerou um período de guerras mundiais sem comparação na história da humanidade. Entre 1876 e 1915, cerca de um quarto da superfície continental do globo foi distribuído ou redistribuído, como colônia entre meia dúzia de Estados. Também classifica este período como de estabilidade social crescente dentro da zona de economias industriais desenvolvidas e a conquista de vastos impérios, porém uma era que em sua periferia desenvolveu forças de rebelião e revolução. Uma era onde os movimentos de massa devidamente organizados da classe dos trabalhadores assalariados exigiam a derrubada do capitalismo. Dentro deste contexto, a esperança de vida aumentou muito mas o declínio da mortalidade infantil, por exemplo, estava apenas no começo.
  • 3. Segundo Hobsbawn (1980:51), A maior esperança dos pobres, mesmo nas partes mais “desenvolvidas” da Europa, era ainda, provavelmente, ganhar o suficiente para manter o corpo e a alma juntos, ter um teto sobre a cabeça e roupas suficientes, sobretudo nas idades mais vulneráveis no seu ciclo vital, quando os filhos ainda não estavam em idade de trabalhar e quando os homens e mulheres e quando os homens e mulheres envelheciam. Nas partes desenvolvidas da Europa, morrer de fome já não era uma contingência possível. Mesmo na Espanha, a última fome de grandes proporções ocorreu nos anos de 1860. Quando a economia deste período, podemos fazer uma síntese a partir dos seguintes elementos: em primeiro lugar, foi uma economia com base geográfica muito ampla com grande aumento da industrialização. O mercado internacional de produtos primários cresceu aceleradamente entre os anos de 1880 a 1913. Em segundo lugar a economia mundial ganha um caráter pluralista devida às conquistas coloniais. A terceira característica e a mais marcante é a revolução tecnológica pois é agregado a vida cotidiana o telefone, o telégrafo sem fio, o cinema, o automóvel. As pessoas começam a se familiarizar com um maravilhoso mundo novo. A quarta característica foi a dupla transformação da empresa capitalista em sua estrutura e em seu modo de operação que impulsionou para a transformação do mercado e dos bens de consumo, aliadas a uma tecnologia revolucionária que favoreceu a criação de novos produtos e serviços para o mercado de massa, como o fogão a gás, a bicicleta e o cinema, somente para citar alguns, resultando naquilo que os autores convencionariam chamar de produção em massa. Após 1875 percebe-se um ceticismo crescente quanto à eficácia da economia de mercado autônoma e não regulada sem ajuda alguma do Estado e das autoridades publicas. Esta situação forçou governos a se enveredarem pelo caminho de políticas de reformas e bem-estar sociais pois embora a economia fornecesse trabalho não proporcionava mais do que um mínimo alívio à miséria que a maioria dos trabalhadores enfrentava. O número de assalariados crescia por eles se haverem transferido das oficinas artesanais e da agricultura que eram como podemos chamar de reservatórios de trabalho pré-industrial. No mesmo movimento crescia também em ritmo acelerado nas economias que se industrializavam, o número de proletários, impulsionado pelo apetite aparentemente ilimitado por força de trabalho nesse período de expansão econômica. Ao se aproximar o término do século XIX, não havia país industrializado ou em fase de, que não pudesse deixar de tomar consciência dessas massas de trabalhadores, historicamente
  • 4. sem precedentes e aparentemente anônimos e desenraizados. Dentro deste contexto, Hobsbawn (1980:169) explica a situação dizendo que, O fato é que para os contemporâneos a massa dos operários era enorme e indiscutivelmente crescia, lançando uma escura sombra sobre a ordem estabelecida na sociedade e na política. O que aconteceria, na verdade se os operários se organizassem politicamente como classe? E foi o que aconteceu inspirado na ideologia revolucionária do socialismo. Isto aconteceu em escala extraordinária em quase toda a Europa. Jamais houvera uma época tão repleta de esperanças para aqueles que labutavam com suas mãos e sem dúvida, o mundo laboral nunca mais foi o mesmo. Como bem ilustra o refrão de uma canção socialista russa: “Do mundo passado sombrio resplandece a luz brilhante do futuro”. 3. OS GRANDES TEMAS DA RERUM NOVARUM A Rerum Novarum foi a mais reevocada sobre as condições dos operários e sobre a justiça social no mundo novo. Nitidamente se percebe que tem as marcas de seu tempo e características da Igreja dos fins do século XIX. Na fala de Leão se percebe um reconhecimento e uma preocupação ao mesmo tempo em que o mundo mudou, A sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as temnuma agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social. Efectivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos emque entraramas artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito. (RN, 1) Foi uma resposta à situação de miséria do proletariado industrial criticando o laissez-faire, ao mesmo tempo em que se afasta do marxismo como solução para aquilo que chama a “questão operária”. Claro que a Igreja sempre tentou conciliar aquilo que os autores chamam de valores tradicionais (depositum fidei) e modernidade. É o primeiro grande documento de caráter social da Igreja Católica Romana e causou forte impacto de acolhida entre os preocupados pela injusta situação dos operários, e de rejeição nos meios reacionários, em contrapartida, inclusive no interior da própria Igreja como se
  • 5. percebe bem no filme “Daens, um grito por justiça”. Dentre outros documentos de cunho social podemos citar: citar alguns outros nomes de documentos oficiais. A problemática central da carta encíclica é a tensão entre classes sociais disputando a propriedade dos meios de produção e como não era de se estranhar evidencia um papa que pensa ser o sentimento religioso o bem único para as leis e as instituições resolver os problemas daquilo que chama de alterações nas relações entre operários e patrões. Sempre com um discurso de preservação da ordem e da harmonia do corpo social como se percebe em parte do discurso do papa na introdução do documento: O problema nem é fácil de resolver, nem isento de perigos. E difícil, efectivamente, precisar com exactidão os direitos e os deveres que devemao mesmo tempo reger a riqueza e o proletariado, o capital e o trabalho. Por outro lado, o problema não é sem perigos, porque não poucas vezes homens turbulentos e astuciosos procuram desvirtuar-lhe o sentido e aproveitam-no para excitar as multidões e fomentar desordens. (introdução à Carta Encíclica) A Carta Encíclica2 analisa e denuncia a partir das novas questões sociais impostas pela realidade e da polêmica entre igreja e socialismo, a exploração a que eram submetidos os operários. Pede-se a efetiva presença do Estado para tutelar os direitos dos trabalhadores. Com a Rerum Novarum se instaura uma maneira da Igreja se pronunciar sobre as questões sociais. É considerado o documento fundador da Doutrina Social da Igreja que se desenvolveu desde os fins do século XIX, com o despertar do sentido da justiça diante das condições subumanas dos assalariados. Posteriormente seu campo de visão foi ampliado devido a necessidade de aggiornamento3 , estendendo-se a aspectos sociais como a paz, as relações entre os povos, a família, a educação, o consumo e o dialogo entre as religiões sob um grande impulso estes últimos, pelo Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII e celebrado sob seu pontificado e o de Paulo VI, que se estendeu de 1962 a 1965 com uma assistência de mais de dois mil bispos de todo mundo. Foi o Concilio mais representativo dos 21 que se celebraram na história da Igreja Católica Romana. Por expressa vontade de João XXIII, este Concílio não de dedicou a condenar erros, mas a buscar a atualização doutrinal da Igreja em relação ao mundo. 2 Documento papal em forma de carta dirigida aos bispos e fiéis ou a todos os homens sobre um determinado tema em geral de caráter doutrinal. Trata-se de documentos pontifícios importantes, embora não tanto como as constituições apostólicas ou bulas. 3 Do italiano giorno: dia. Colocação em dia. Atualização.
  • 6. 3.1. A Igreja, socialismo e a propriedade particular O papa reconhece que aquilo que chama de homens das classes inferiores passam por uma situação de infortúnio. E critica a divisão social do trabalho já advindas da revolução industrial e ao expor a realidade diz que O século passado destruiu semas substituir por coisa alguma, as corporações antigas que eram para eles uma proteção. (...) Os princípios e o sentimento religioso desapareceram das leis e das instituições públicas. Assim, os trabalhadores isolados e sem defesa, têm-se visto entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada. (...) Pequeno número de ricos e de opulentos, que impõemumjugo quase servil a uma imensa multidão de proletários. (RN, 2) Diante desta situação o documento condena a solução socialista para o problema posto que, segundo o papa, os socialistas querem sanar este mal instigando os pobres ao ódio e a supressão das propriedades particulares e coletivização dos bens de produção. Aqui se percebe uma igreja que condena o mal mas não o faz radicalmente. O texto fala que os socialistas querem curar este mal, referindo-se a exploração à que trabalhadores são condenados, instigando nos pobres o ódio invejoso e pregando a supressão das propriedades particulares que deveriam se tornar públicos e ser administrados pelos municípios ou pelo Estado.“É sumamente injusta, por violar os direitos legítimos dos proprietários, viciar as funções do Estado e tender para a subversão completa do edifício social”. (RN, 3). Ainda no número 07 o documento aponta como causa do empobrecimento os principios nortedadores do comunismo dizendo que, Além da injustiça do seu sistema, vêem-se bem todas as suas funestas consequências, a perturbação emtodas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos, e, como consequência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria. Por tudo o que Nós acabamos de dizer, se compreende que a teoria socialista da propriedade coletiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles membros a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública. Fique, pois, bem assente que o primeiro fundamento a estabelecer por todos aqueles que querem sinceramente o bem do povo é a inviolabilidade da propriedade particular. (RN, 7) Em relação à propriedade particular o documento questiona se a conversão da propriedade particular em coletiva não tornaria a situação dos operários ainda mais precária?
  • 7. Não iria roubar-lhes a esperança e a possibilidade de engrandecer seu patrimônio e melhorar sua situação? E afirma o documento categoricamente (RN, 4, 5), que a propriedade particular é direito natural do homem, porque o Estado é posterior ao homem e este tem o direito de viver e proteger sua existência. Que a propriedade particular é plenamente conforme à natureza. E critica o Estado nos moldes socialistas dizendo que, “querer que o poder civil invada arbitrariamente o santuário da família é um erro grave e funesto, substituindo a providencia paterna pela do Estado os socialistas vão contra a justiça natural”. (RN, 6). Defende a intervenção do Estado quando existe situação de pobreza desesperadora e graves violações dos direitos mútuos. Chama esta intervenção de fortalecimento dos direitos dos cidadãos. 3.2. A luta de classes, os sindicatos e associações particulares O discurso do documento quando aborda a luta de classes deixa claro que o desejo da Igreja era o de acalmar os ânimos e justifica que o homem deve aceitar com paciência sua condição, sendo impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível. Que se há quem prometa ao pobre uma vida isenta de sofrimentos e de trabalhos, toda de repouso e de perpétuos gozos, com toda certeza engana o povo. A melhor solução propõe o documento, seria ver as coisas como são e segue tecendo considerações através de um discurso da concórdia, da ordem e da harmonia e que o dever dela enquanto instituição é o de aproximar ricos de pobres. Quando fala da aproximação pacifica entre ricos e pobres, aponta obrigações e uns e de outros. Quanto aos operários, estes devem trabalhar corretamente e suas reivindicações devem ser feitas isentas de violência. Quanto aos patrões, estes deveriam não deveriam tratar os operários como escravos, e chama de vergonhoso e desumano usar dos homens como vis instrumentos do lucro. Proíbe também que os patrões imponham aos seus operários uma carga de trabalho superior às suas forças ou em desarmonia com sua idade e sexo e que paguem corretamente seus salários. Sempre utilizando um discurso de conciliação admoesta que as duas classes, ricos e pobres se unam por laços de verdadeira amizade a exemplo de Jesus nos Evangelhos. Dentro deste contexto pode-se aproveitar a fala de Hobsbawn (1980:180) quando afirma que:
  • 8. Um modo poderoso de unificar era o da ideologia, amparada pela organização. Os socialistas e os anarquistas levaram seu novo evangelho às massas,até então desprezadas porquase todas as instituições, exceto por seus exploradores e por aqueles que as aconselhavam a se manter silenciosos e obedientes; e mesmo as escolas primárias se contentavam em inculcar os deveres cívicos da religião, enquanto as igrejas só muito lentamente entravam no território proletário ou estavam mal equipadas para lidar com populações tão diferentes daquelas das comunidades estruturadas das antigas paróquias rurais ou urbanas. Os operários eram gente desconhecida na proporção em que formavam um novo grupo social. Percebe-se que a Igreja Católica, a despeito da profunda hostilidade que nutria para com a divisão e conflito de classes, foi digamos assim, obrigada a formar ou pelo menos tolerar sindicatos e até sindicatos e associações de operários católicos. No discurso da Rerum Novarum se vê justificada a necessidade das associações para proteger o direito natural, a natural sociabilidade do homem. Porém assevera que quem acompanha estas associações é a Igreja. Desafia os Estados a proteger as associações católicas, mas que não se intrometa no seu governo interior. O documento pondera que estas associações precisam ser sábias e prudentes, buscando antes de tudo o aperfeiçoamento moral e religioso de seus membros e que estes devem se guiar pelo culto a Deus. O que se percebe dentro do espírito da Rerum Novarum no que se refere às associações e sindicatos é que a Igreja queria sim proteger os trabalhadores, mas não foi capaz de ler com mais profundidade sua exploração e a forma desumana em que viviam. Este salto de percepção veio somente mais tarde com outros documentos oficiais do papado romano e com mais radicalidade, com a Teologia da Libertação na América Latina nas décadas de 70 e 90 com uma Igreja mais comprometida com aquilo que ela mesma chamou através dos documentos oficiais dos bispos da América Latina e do Caribe, de opção preferencial pelos pobres. Aqui caberia um capítulo a parte, mas como não é nossa intenção de fazê-lo, apenas vamos esclarecer que esta escolha era preferente das classes economicamente mais necessitadas na hora de planificar projetos pastorais, justiçada pela consciência mais aguda em vista de povos inteiros submersos em condições inumanas ao lado de gente que vive na opulência. Fizeram pronunciamentos explícitos neste sentido, as Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano em Medellín, Puebla e Santo Domingo.
  • 9. 4. AS POLÍTICAS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL O capitalismo como um modo de produção profundamente antagônico e cheio de contradições se tornou um marco na história da sociedade e dos homens. E fez sem dúvida, um dos espaços mais violentos na história da relação entre capital e trabalho, revelando desde o início sua força opressora sobre a compra e a venda das forças de trabalho, vendo a classe trabalhadora como um modo de existência deste, os capitalistas não hesitam em criar forças coercitivas para recrutar o operariado e em seguida, explorá-lo. Dentro deste contexto, Martinelli (2003:57), afirma que “a realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta: ou o trabalhador se mercantilizava, assumindo a condição de mercadoria útil ao capital ou se coisificava, assumindo o estado de “coisa pública” que correspondia a não cidadania”. Na realidade mencionada acima, dá-se a união da burguesia, Igreja e Estado que unindo- se num compacto bloco político como força reacionária tenta abafar as manifestações dos trabalhadores como bem se vê ilustrado no filme “Daens, um gripo por justiça”. Como uma avalanche, o regime capitalista alterou tudo o que estava à sua volta, impondo uma nova rede de relações comerciais e um novo ritmo de vida e de trabalho, atingindo a sociedade como um todo. Traz em seu bojo a marca da desigualdade, da posso privada de bens e da exploração da força de trabalho e produzira, a acumulação da pobreza e a generalização da miséria. A pobreza em vários países europeus era um traço tão marcante e acarretava tão grandes problemas que era encarada por seus governantes com um fator de risco para o equilíbrio social, ou seja, a manutenção da ordem social. Indiferente às precárias condições de vida do proletariado e decidida a elevar a produtividade do trabalho coletivo, a burguesia fazia recair sobre o trabalhador individual o peso e as conseqüências de sua decisão, submetendo-o a uma abusiva exploração. Na Inglaterra, a concreticidade do acordo entre Igreja e burguesia levou ao surgimento da Sociedade de Organização da Caridade em 1869 normatizando a prática da assistência. Surgiram assim, no cenário histórico os primeiros assistentes sociais como agentes executores da prática de assistência social, atividade que se profissionalizou sob a denominação de Serviço Social, claramente acentuando seu caráter de prática de prestação de serviços. Podemos afirmar que o Serviço Social nasce marcado de contradições e antagonismos próprios de sua origem enquanto profissão articulada com o projeto burguês buscando se
  • 10. afirmar historicamente como prática humanitária sob a chancela do Estado e da Igreja. Torna- se então um importante instrumento da burguesia que tanto quanto “protegeu-o” das contradições negando-lhe a possibilidade de construir autênticas formas de prática social. A burguesia, dentro de um esquema ardiloso e perverso do capitalismo, se apropria não somente da prática social, mas também de seus agentes, ocultando-lhes as relações sociais e tudo aquilo que estava subjacente à sua prática. Dentro deste contexto, a expansão do numero de assistentes sociais foi significativa no último terço do século XIX na Europa e nos Estados Unidos, impulsionados pelo acúmulo da pobreza, da generalização da miséria. A mesma indeterminação que a caracterizava, quando o século XX dava seus primeiros passos, continuava, porém, a envolver a categoria profissional. Operando sempre com a identidade atribuída pelo capitalismo e realizando uma prática por ele determinada os assistentes sociais se constituíram enquanto profissionais, de forma alienada e alienante de si mesmos. Dentro deste contexto, Martinelli (2003:116) afirma que, O pensamento conservador, associado ao forte vínculo coma Igreja Católica, que foi tornando-se presença dominante no Serviço Social europeu, trouxe para a prática social, ainda com maior ênfase, a dimensão do controle, da repressão e do ajustamento aos padrões estabelecidos pela sociedade burguesa constituída. A doutrina social da Igreja, embora proclamada como humanista, era acentuadamente conservadora, reproduzindo o clima fascista que se respirava no continente europeu. Se a encíclica Rerum Novarum, de 1891, do papa Leão XIII, tratando das relações capital-trabalho, deixava entrever um colorido conservador, exortando os trabalhadores a observar a prudência e a ética cristã. Como foi acentuado acima, as manifestações necessitavam ser controladas e recuperar o equilíbrio para garantir a harmonia do corpo social a partir de uma visão funcionalista da sociedade. E os assistentes sociais representavam o próprio Estado neste contexto. Com estratégias de controle social e difundindo o modo capitalista de agir, pensar e fazer.
  • 11. PARA CONCLUIR, CONCLUIR? Em terras brasileiras, o primeiro passo da longa caminhada do Serviço Social se dá sob da aliança com a burguesia. A partir das décadas de 70 e 80 é que os assistentes sociais conseguiram se identificar como um grupo que portava um projeto profissional comum, construído com base em uma consciência política do papel que desempenhavam e que, melhor, deveriam desempenhar na totalidade de um processo social, superando sua própria consciência burguesa e participando agora sim das lutas da classe operária. A partir daí, as contradições foram assumidas de forma consciente. Somente a partir do momento em se expandiu a base critica da consciência social dos agentes, através da ruptura, da alienação, é que eles, os assistentes sociais conseguiram perceber o caráter conservador, subordinado e burguês de ser e de seu fazer. Foi um olhar histórico, não feito sem medo, sem conflitos dentro dos próprios assistentes sociais que foram “acostumados” a executar e não ser protagonistas. A identidade começou a ganhar um contorno novo com uma força viva de um movimento permanente de leituras e re-leituras. Diríamos que houve uma re-significação do ser e do fazer assistência profissional no Brasil. Mesmo sabendo que contradições continuaram e continuarão havendo, pois é na dialética do avanço-retrocesso que a vida se faz e acontece. O serviço social nasceu alienado a partir de uma identidade que lhe foi imposta. Aos poucos houve um processo todo de desalienação. Os assistentes sociais foram aos poucos retomando e construindo eles mesmos sua identidade enquanto profissão. Um processo. Um parto.
  • 12. REFERÊNCIAS AUBERT, Roger. SCHOOYANS, Michel. Da Rerum Novarm à Centesimus Annus. São Paulo: Loyola, 1993. HOBSBAWN, Eric J. A era dos Impérios 1875-1914. 2a Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. LEÃO XIII. Sobre a condição dos operários. Encíclica Rerum Novarum. 10a Ed. Petrópolis: Vozes, 1980. MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. 8a Ed. São Paulo: Cortez, 2003. PEDRO, Aquilino de. Dicionário de termos e afins. Aparecida: Editora Santuário, 1993.