Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
A inovação na Educação a Distância: Processos administrativos, pedagógicos e tecnológicos
1. A inovação
na educação a
distância: processos
administrativos,
pedagógicos e
tecnológicos
Luciano Sathler Rosa Guimarães
“A crise na educação brasileira não é uma crise: é um
projeto.” – Darcy Ribeiro
As estatísticas oficiais sobre a educação brasileira
revelam incomodamente as raízes da perpetuação
dos fracassos econômicos e institucionais do país.
Desigualdade, injustiça, violência, patrimonialismo e
corrupção se somam a outros fatores para inviabilizar
o pleno desenvolvimento de crianças e jovens, que
não encontram nas escolas e, consequentemente, na
sociedade, as condições para avançar, gerando fortes
impactos negativos no tecido social.
Para podermos nos comparar com outros países
latino-americanos, precisaríamos ter uma população
universitária com mais de 15 milhões de estudantes.
Em 2015, ainda não tínhamos superado a marca dos
8 milhões de matriculados.
Na educação básica, desde a universalização do
acesso recentemente alcançada, o grande desafio é
buscar maior qualidade e, especialmente, combater
a trágica evasão verificada no ensino médio.
A educação a distância (EAD) no Brasil segue o
escopo de atuação encontrado até o presente momento
no restante do mundo, principalmente como uma
modalidade inclusiva que permite avançar na demo-
cratização do acesso à educação superior.
Há experiências de EAD na educação básica, espe-
cialmente no nível da educação de jovens e adul-
tos (EJA) e no chamado ensino híbrido, em que
metodologias e tecnologias comuns à modalidade
são aplicadas em salas de aula físicas como formas
de inovação educacional.
A EAD brasileira proporcionou um conjunto de
inovações por ter possibilitado maior flexibilidade
de tempo (quando estudar), espaço (onde estudar) e
ritmo (o que estudar e a qual tempo). Outros avanços
incluem a incorporação de ferramentas da internet e,
em muitos casos, de comunicação via satélite, o que
ampliou as possibilidades de disseminação do con-
teúdo e interação entre os agentes do processo edu-
cativo – alunos, docentes e equipes administrativas.
Porém, ainda presenciamos o predomínio das aulas
expositivas, transmitidas ao vivo ou transformadas
em videoaulas, e uma forte carga exigida de leituras
individualizadas, com pouca ou nenhuma possibili-
dade de personalização das trilhas de aprendizagem.
Mais preocupante é o que fazem algumas empresas
que atuam na educação, onde parece haver uma ênfase
excessiva na busca de escala, o que leva a modelos
centrados em conteúdos preparados com antecedên-
cia e pouca ou nenhuma interação contextualizada
entre discentes e professores. Nesses casos, por mais
que as tecnologias tragam uma aparente inovação,
fica difícil diferenciar essa atuação em relação a uma
biblioteca digital.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OECD, 2014, p. 23) destaca que as inova-
ções educacionais podem melhorar os resultados de
aprendizagem e a qualidade da educação. A adoção
de metodologias ativas que colaboram com a apren-
dizagem personalizada depende fortemente de novas
formas de organizações escolares e universitárias.
Se a educação é realmente um meio para reduzir a
desigualdade econômica e de oportunidades, as ino-
vações educacionais devem ajudar a avançar rumo a
esses objetivos democráticos. As escolas e instituições
de educação superior estão sob pressão para melhorar
sua eficiência e eficácia, num mundo que vivencia
profundas mudanças em sua matriz econômica, nas
relações sociais e, especialmente, na necessidade de se
reconciliar com a natureza, sob pena de ver inviabili-
zadas as condições de sobrevivência da humanidade
num futuro próximo.
Ao reconhecer a importância e a inevitabilidade da
inovação, a questão que salta aos olhos é: quais são
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2. as estratégias bem-sucedidas para levar a mudanças significativas? Há dois tipos de abordagens de inovação
educacional que podem ser discernidas: substituição e transformação.
A inovação por substituição é caracterizada por passos incrementais.
Já a abordagem transformacional defende um salto dramático, a descontinuidade com base em avanços
tecnológicos, bem como novas perspectivas sobre o que ensinar e com respeito ao perfil dos alunos. Ela sugere
um conjunto de estratégias que incorpora tecnologias emergentes, mudanças pedagógicas e transformações
organizacionais, inclusive nos espaços físicos dedicados à aprendizagem.
Na educação, quem pratica a abordagem da substituição supera em número os transformadores. Verifica-se
que a maior parte das inovações educacionais ainda estão restritas às práticas em sala de aula, por vezes heroi-
cas, com pouco ou nenhum apoio organizacional.
Portanto, para poder inovar de forma estrutural e transformadora em EAD, sem se entregar à tecnofilia ou
aos ditames embasados prioritariamente na maximização do lucro em detrimento da qualidade, é preciso reto-
mar as categorias de análise apresentadas por Mizukami (2011), em seus pressupostos e em suas decorrências,
para criar as bases fundamentais à mudança.
São as concepções quanto a cada categoria apresentada que vão orientar a inovação educacional, seja ela
de caráter incremental ou radical.
Figura 1 – Categorias de análise para a mudança na educação
Escola
Conhecimento
Ensino-Aprendizagem
Ser Humano
Educação
Sociedade –
Cultura Mundo
Avaliação
Tecnologia
Metodologia
04
06
05
03
01
02
Fonte: Adaptado de Mizukami, 2011.
Inovar para transformar. O mundo mudou e tam-
bém as demandas da sociedade sobre as instituições
educacionais. O próximo salto ainda se vislumbra
no horizonte, mas, seja qual for a sua direção, será
preciso realizar uma reflexão autocrítica sobre os
pressupostos relacionados a cada uma das categorias
aqui apresentadas. Senão, o risco é o vazio da máquina
e do ciberespaço, que aprofunda as crises ao invés de
colaborar na sua superação.
■■ Referências
OECD. Measuring innovation in education: A new
perspective. Paris: OECD, 2014.
MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: As abordagens do
processo. São Paulo: E.P.U., 2011.
Censo EAD Brasil 2016
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