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Um conto de António Sérgio
Há muito, muito, muito tempo, vivia no mar a baleia, que comia peixes. Ainda ela, nesse
tempo, podia comer peixes. Comia sardinhas e tainhas, gorazes e roazes, bugios e safios,
pescadas e douradas, bacalhaus e carapaus. Todos os peixes que ia encontrando deitava-
lhes a boca, - ão!
Por fim, só havia no mar um salmonete vermelhete, que nadava sempre atrás da orelha
esquerda da baleia, para ela lhe não fazer mal.
Um dia, a baleia pôs-se a pensar muito séria, e disse assim :
- Tenho fome !
E o salmonete vermelhete, com a sua voz muito agudita, disse à baleia :
- Nobre e generoso cetáceo : já experimentou comer homens?
- Não - respondeu a baleia. - A que sabe? como é?
- Bom, mas traquinas - respondeu o salmonete vermelhete.
- Então, vai-me buscar três dúzias deles - ordenou a baleia.
Basta um de cada vez - disse o salmonete vermelhete. - Se for à latitude 60 graus norte e
longitude 40 graus oeste (isto, amigos, são umas palavras mágicas que o salmonete lá
sabia) encontrará uma jangada feita de tábuas, e sobre a jangada um marinheiro náufrago
de calças de ganga azul, uma faca de ponta aguda, e suspensórios encarnados (não se
esqueçam dos suspensórios!). O marinheiro, devo dizer-lhe, é arguto, astuto, e resoluto.
A baleia, então, foi aonde lhe disse o salmonete vermelhete, e encontrou a jangada e o
marinheiro. Aproximou-se, abriu a bocarra imensa, e engoliu a jangada e o marinheiro, com as
calças de ganga azul, com a faca de ponta aguda e com os suspensórios encarnados (nunca se
esqueçam dos suspensórios!).
E assim a baleia arrecadou tudo na despensa escura, quentinha e fofazinha, que tinha lá dentro
do seu corpanzão. E como gostou, deu três estalos com a língua e três voltas sobre a cauda,
levantando muita espuma.
O marinheiro (que era arguto, astuto, e resoluto) mal se viu dentro da baleia, na despensa
escura, quentinha e fofazinha, pulou, saltou, rebolou, cambaleou, espinoteou, dançou,
sapateou, fandangueou, esperneou, gritou, berrou, cantou, estrondeou tanto, tanto, tanto,
que a baleia se sentiu com enjoos, engulhos e soluços (já se esqueceram dos suspensórios?)
E disse a baleia ao salmonete vermelhete :
- O teu homem é muito traquinas, e dá-me engulhos. Que hei-de eu fazer?
- Diga-lhe que saia cá para fora - respondeu o salmonete vermelhete.
E a baleia gritou pela garganta abaixo:
- Saia cá para fora, homenzinho, e veja se tem juízo!
- Isso é que eu não saio- respondeu o homem. - Leve-me primeiro para a minha terra, e depois
veremos o que se poderá fazer.
E pôs-se outra vez a saltar, a pular, a espinotear e a rebolar.
- O melhor é levá-lo para casa- aconselhou o salmonete vermelhete. - Eu já tinha prevenido a
senhora baleia de que o marinheiro era arguto, astuto e resoluto.
E a baleia nadou, nadou, nadou, dando à cauda e às barbatanas, mas sempre com soluços e muito
enjoada. Quando avistou a terra do marinheiro, nadou para a praia, pôs a boca sobre a areia,
abriu-a muito, e disse:
- Cá chegámos à sua terra!
O marinheiro, que era na verdade arguto, astuto e resoluto, tinha durante a viagem puxado
da sua faca de ponta aguda, e cortado as tábuas da jangada em fasquiazinhas muito
estreitas, que ligou muito bem com tiras dos suspensórios (bem lhes dizia eu que não se
esquecessem dos suspensórios!) e fez com elas uma grade que empurrou, ao sair, contra a
garganta da baleia.
E, deixando a grade bem presa na garganta da baleia, saltou para terra…
…e foi ter com a mãe, com a qual viveu muito contente.
A baleia foi-se embora também muito contente, assim como o salmonete vermelhete; mas a
grade é que nunca mais saiu da garganta da baleia.
E por isso é que a baleia nunca mais pôde comer homens, nem meninos, nem peixes - nem
sardinhas nem tainhas, nem gorazes nem roazes, nem bugios nem safios, nem pescadas
nem douradas -, porque os peixes não podem passar pelas grades da garganta, mas só
bichinhos pequeninos, como, por exemplo, as pulgas-do-mar.
Pouco depois, o marinheiro casou e viveu muito feliz; tinha em casa as calças de ganga azul e a
navalha de ponta aguda; mas não tinha os suspensórios, porque esses ficaram a atar a grade,
muito apertada que só deixa passar bichinhos pequeninos - como as pulguinhas-do-mar - na
garganta da baleia.
FIM
Ano Letivo 2012/2013

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Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
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A História da Baleia

  • 1. Um conto de António Sérgio
  • 2. Há muito, muito, muito tempo, vivia no mar a baleia, que comia peixes. Ainda ela, nesse tempo, podia comer peixes. Comia sardinhas e tainhas, gorazes e roazes, bugios e safios, pescadas e douradas, bacalhaus e carapaus. Todos os peixes que ia encontrando deitava- lhes a boca, - ão!
  • 3. Por fim, só havia no mar um salmonete vermelhete, que nadava sempre atrás da orelha esquerda da baleia, para ela lhe não fazer mal.
  • 4. Um dia, a baleia pôs-se a pensar muito séria, e disse assim : - Tenho fome ! E o salmonete vermelhete, com a sua voz muito agudita, disse à baleia : - Nobre e generoso cetáceo : já experimentou comer homens? - Não - respondeu a baleia. - A que sabe? como é? - Bom, mas traquinas - respondeu o salmonete vermelhete. - Então, vai-me buscar três dúzias deles - ordenou a baleia.
  • 5. Basta um de cada vez - disse o salmonete vermelhete. - Se for à latitude 60 graus norte e longitude 40 graus oeste (isto, amigos, são umas palavras mágicas que o salmonete lá sabia) encontrará uma jangada feita de tábuas, e sobre a jangada um marinheiro náufrago de calças de ganga azul, uma faca de ponta aguda, e suspensórios encarnados (não se esqueçam dos suspensórios!). O marinheiro, devo dizer-lhe, é arguto, astuto, e resoluto.
  • 6. A baleia, então, foi aonde lhe disse o salmonete vermelhete, e encontrou a jangada e o marinheiro. Aproximou-se, abriu a bocarra imensa, e engoliu a jangada e o marinheiro, com as calças de ganga azul, com a faca de ponta aguda e com os suspensórios encarnados (nunca se esqueçam dos suspensórios!).
  • 7. E assim a baleia arrecadou tudo na despensa escura, quentinha e fofazinha, que tinha lá dentro do seu corpanzão. E como gostou, deu três estalos com a língua e três voltas sobre a cauda, levantando muita espuma.
  • 8. O marinheiro (que era arguto, astuto, e resoluto) mal se viu dentro da baleia, na despensa escura, quentinha e fofazinha, pulou, saltou, rebolou, cambaleou, espinoteou, dançou, sapateou, fandangueou, esperneou, gritou, berrou, cantou, estrondeou tanto, tanto, tanto, que a baleia se sentiu com enjoos, engulhos e soluços (já se esqueceram dos suspensórios?)
  • 9. E disse a baleia ao salmonete vermelhete : - O teu homem é muito traquinas, e dá-me engulhos. Que hei-de eu fazer? - Diga-lhe que saia cá para fora - respondeu o salmonete vermelhete.
  • 10. E a baleia gritou pela garganta abaixo: - Saia cá para fora, homenzinho, e veja se tem juízo! - Isso é que eu não saio- respondeu o homem. - Leve-me primeiro para a minha terra, e depois veremos o que se poderá fazer. E pôs-se outra vez a saltar, a pular, a espinotear e a rebolar.
  • 11. - O melhor é levá-lo para casa- aconselhou o salmonete vermelhete. - Eu já tinha prevenido a senhora baleia de que o marinheiro era arguto, astuto e resoluto. E a baleia nadou, nadou, nadou, dando à cauda e às barbatanas, mas sempre com soluços e muito enjoada. Quando avistou a terra do marinheiro, nadou para a praia, pôs a boca sobre a areia, abriu-a muito, e disse: - Cá chegámos à sua terra!
  • 12. O marinheiro, que era na verdade arguto, astuto e resoluto, tinha durante a viagem puxado da sua faca de ponta aguda, e cortado as tábuas da jangada em fasquiazinhas muito estreitas, que ligou muito bem com tiras dos suspensórios (bem lhes dizia eu que não se esquecessem dos suspensórios!) e fez com elas uma grade que empurrou, ao sair, contra a garganta da baleia.
  • 13. E, deixando a grade bem presa na garganta da baleia, saltou para terra…
  • 14. …e foi ter com a mãe, com a qual viveu muito contente.
  • 15. A baleia foi-se embora também muito contente, assim como o salmonete vermelhete; mas a grade é que nunca mais saiu da garganta da baleia.
  • 16. E por isso é que a baleia nunca mais pôde comer homens, nem meninos, nem peixes - nem sardinhas nem tainhas, nem gorazes nem roazes, nem bugios nem safios, nem pescadas nem douradas -, porque os peixes não podem passar pelas grades da garganta, mas só bichinhos pequeninos, como, por exemplo, as pulgas-do-mar.
  • 17. Pouco depois, o marinheiro casou e viveu muito feliz; tinha em casa as calças de ganga azul e a navalha de ponta aguda; mas não tinha os suspensórios, porque esses ficaram a atar a grade, muito apertada que só deixa passar bichinhos pequeninos - como as pulguinhas-do-mar - na garganta da baleia.
  • 18. FIM