1. DISGRAFIA
O QUE É A DISGRAFIA?
A escrita é uma manifestação linguística, especificamente humana que supõe a comunicação
simbólica por meio de um código diferenciado de cultura para cultura. É a forma de linguagem
que leva mais tempo a ser adquirida pelo Homem (Ajuriaguerra, 1974; Pérez, 2001; Fonseca,
1999).
Citoler (1996) refere que os processos léxicos e motores são somente uma parte da explicação
da habilidade de produção da linguagem escrita e das suas dificuldades, uma vez que
aprender a escrever não é unicamente ser capaz de escrever palavras, mas é
fundamentalmente conseguir comunicar através da produção de uma mensagem escrita (Cruz,
1999).
A escrita, para além do controlo grafomotor, depende da perceção auditiva, da discriminação,
da memória sequencial auditiva e da “rechamada”. As dificuldades de aprendizagem ao nível
da escrita subdividem-se em dois tipos, a disgrafia, que envolve somente um problema de
motricidade fina, de coordenação visuo-motora e de memória tátilo-quinestésia (fase de
execução) e a disortografia, que envolve a formulação e codificação que antecede o ato de
escrever (fase de planificação) (Fonseca, 1999).
A caligrafia é o resultado gráfico de processos motores, percetivos e cognitivos utilizados para
representar objetos reais e eventos, e mais tarde para representar a linguagem falada (Addy,
2004). Alguns dos fatores que podem interferir na qualidade da caligrafia são (a) competências
motoras pobres, (b) temperamento instável, (c) dificuldades na perceção visual de letras e
palavras, e (d) dificuldade em reter impressões visuais. Podem ainda ter dificuldade em passar
da modalidade visual para a motora, ser esquerdino ou ter tido uma má instrução das
competências caligráficas (Lerner, 2003).
A disgrafia, perturbação da linguagem escrita que abrange as competências mecânicas da
escrita manifesta-se por uma fraca prestação na escrita em crianças com inteligência pelo
menos na média, que não têm uma desordem neurológica distinta e/ou uma deficiência
sensório-motora” (Hamstra-Bletz & Blöte, 1993).
De forma geral podem-se agrupar os problemas da escrita dos alunos com disgrafia em dois
tipos: (a) problemas com a formação das letras - deformação das letras, espaçamento irregular,
inversões e rotações das letras; (b) problemas com a fluência - escrita muito lenta e laboriosa
(Hallahan, Kauffman & Lloyd, 1999).
Alunos com disgrafia podem apresentar todas, ou algumas das seguintes caraterísticas (Addy,
2004; Bos & Vaughn, 1998; Jones, 1999):
Formação das letras pobre;
Letras muito largas, demasiado pequenas, ou com tamanho inconsistente;
2. Uso incorrecto de letras maiúsculas e minúsculas;
Letras sobrepostas;
Espaçamento inconsistente entre letras;
Alinhamento incorreto;
Inclinação inconsistente;
Falta de fluência na escrita.
De forma geral, as pessoas com disgrafia apresentam, igualmente, uma série de sinais ou
manifestações secundárias de tipo global que acompanham o seu grafismo defeituoso, e que
por sua vez o determinam. Entre estes sinais encontram-se uma postura gráfica incorreta,
forma incorreta de segurar o instrumento com que se escreve, deficiências de preensão e de
pressão, ritmo da escrita muito lento ou excessivamente rápido (Jones, 1999; Torres &
Fernández, 2001).
QUAL A MELHOR INTERVENÇÃO NA DISGRAFIA
Quando um aluno é identificado como tendo disgrafia, o professor deve ter em consideração
três aspectos essenciais, na sala de aula:
a. acomodar, reduzir o impacto que a escrita tem na aprendizagem ou na expressão do
conhecimento, sem modificar substancialmente o processo ou o produto;
b. modificar, alterar os compromissos ou expetativas de forma a ir ao encontro das
necessidades individuais do aluno e
c. intervir, fornecer instruções e oportunidades para melhorar a caligrafia (Jones, 1999).
Existem diversos programas específicos de intervenção na área da disgrafia, no entanto, para
que se considere um programa de intervenção efetivo deve respeitar os seguintes princípios
(Bos & Vaughn, 1998; Hallahan, Kauffman & Lloyd, 1999).
Ensino direto e individualizado.
Utilizar métodos e técnicas variados, indo ao encontro das necessidades individuais do
aluno.
Planear pequenas sessões de escrita (caligrafia), várias vezes por semana (no
contexto da escrita).
As competências caligráficas devem ser ensinadas isoladamente, e depois aplicadas
no contexto e periodicamente verificadas.
Os alunos devem avaliar a sua própria escrita e, quando apropriado, a escrita dos
outros.
O professor deve apresentar a sua escrita como modelo.
Ensinar a caligrafia, não apenas como uma tarefa visual ou motora, mas sim como
ambas (Hagin, 1983 citado por Bos & Vaughn, 1998).
Utilizar ajudas físicas ou verbais, movendo a mão do aluno, ou providenciando
indicadores tais como pontos ou setas nas letras.
3. Fornecer um reforço específico para as letras escritas corretamente e feedbacks de
correção para as letras que necessitam de ser trabalhadas.
Ensinar o aluno a auto-verbalizar a forma das letras.