O documento discute o diagnóstico e intervenção da dislexia. Exige-se uma avaliação extensa envolvendo vários profissionais para diagnosticar a dislexia, considerando as áreas fortes e fracas do indivíduo. Uma intervenção eficaz deve considerar as necessidades individuais e envolver a escola e família, utilizando estratégias comprovadas.
1. DISLEXIA - DIAGNÓSTICO E
INTERVENÇÃO
COMO SE DIAGNOSTICA?
Para se diagnosticar dislexia é necessária uma avaliação extensa, requerendo a colaboração
de vários profissionais. Pretende-se com a avaliação conhecer as áreas fortes e fracas do
indivíduo, os recursos de que dispõe e o envolvimento em que se encontra, para que possa ser
formulado o diagnóstico e sejam elaboradas as recomendações necessárias. É importante ter
em consideração que não existe um teste específico para avaliar a dislexia, devendo o
diagnóstico envolver uma avaliação médica, cognitiva, educacional e psicológica.
A dislexia é diagnosticada quando os resultados do indivíduo em testes de leitura estão
substancialmente abaixo do esperado para a sua idade, escolarização e nível de inteligência e
quando as dificuldades na aquisição e uso da leitura são tão significativas que interferem
significativamente no rendimento escolar e nas atividades da vida diária que exigem
capacidades de leitura. Estas dificuldades são intrínsecas ao indivíduo e devem-se,
presumivelmente, a uma disfunção do sistema nervoso central. A dislexia pode existir em
simultâneo com outras perturbações do desenvolvimento mas deve-se ter em consideração,
durante a avaliação, que as dificuldades na leitura não devem ser uma consequência de
problemas emocionais ou sociais ou falta de condições de ensino apropriadas.
Tipicamente a dislexia é diagnosticada no 2º ano de escolaridade, para garantir que já
existiram oportunidades de aprendizagem. No entanto, é possível ainda no pré-escolar
identificar alguns sinais típicos da dislexia, tornando-se nestes casos importante uma avaliação
para determinar a necessidade de estimular determinadas áreas que são consideradas os
alicerces da leitura, isto não implica que seja feito um diagnóstico, apenas pode ser
recomendada uma intervenção de tipo preventivo. Pode-se avaliar a dislexia ao longo da vida,
mesmo na adolescência e idade adulta, sendo no entanto importante recolherem-se dados
sobre o início da aprendizagem da leitura e da escrita.
É importante que os encarregados de educação estejam conscientes que para um aluno ficar
abrangido pela legislação da educação especial e tenha direito a adequações no ensino e na
avaliação deve ser referenciado até ao 6º ano de escolaridade.
QUE TIPO DE INTERVENÇÃO É MAIS EFICAZ?
Os indivíduos com dislexia, por constituírem um grupo com uma grande variação de
caraterísticas e por apresentarem perfis heterogéneos, podem necessitar de intervenção
específica numa ou mais áreas, devendo ser analisadas as áreas fortes e fracas, bem como as
prioridades, pois nalguns casos pode ser prioritária uma intervenção a nível académico, mas
2. noutros casos pode ser fundamental trabalhar inicialmente aspetos do foro emocional ou
comportamental.
As áreas de intervenção variam também com a faixa etária em que se encontra o indivíduo,
pois em idades mais precoces poderá ser essencial trabalhar a consciência fonológica e a
descodificação da leitura, ao passo que em idades mais avançadas já será mais relevante
trabalhar aspetos como a compreensão e as competências de estudos.
Uma intervenção eficaz deve ter em consideração as necessidades e características de cada
indivíduo, e ainda valorizar o trabalho em equipa com a escola e a família, bem como assentar
na utilização de estratégias consideradas eficazes, tais como fazer avaliações frequentes para
monitorização dos progressos, promover a aquisição de estratégias cognitivas úteis e
proporcionar várias oportunidades de prática, para as treinarem.
COMO AJUDÁ-LO EM CASA A ESTUDAR E A FAZER OS
TPC?
Uma das maiores preocupações dos pais é a execução dos Trabalhos Para Casa,
habitualmente existem sempre queixas, sentimentos negativos de pais e filhos face aos
momentos da sua execução. Os pais sentem-se impotentes para ajudar “Eu não lhe sei
explicar”, “Eu não aprendi assim”, “com o meu outro filho conseguia ajudar, mas com este já
desisti!” ou intolerantes face aos erros dos filhos “Como é que é possível, eu já lhe ter
explicado tantas vezes e ele continuar sem compreender?”, ”Ele não quer saber, não me ouve”,
sentem que prejudica a sua relação com os filhos “Estou farto! Terminamos sempre zangados”,
“Ontem ele disse-me que queria a outra mãe, a mãe dos mimos, que não quer mais a mãe
explicadora”.
Os pais das crianças com dislexia têm que ajudar os seus filhos em múltiplas áreas para a
execução dos trabalhos para casa, não só na aprendizagem (leitura, compreensão), como a
manter a atenção, a organizar o estudo, a utilizar estratégias para a memória, etc. e por vezes
têm de se preocupar em telefonar para os pais de algum colega do filho para confirmar quais
os trabalhos e testes que existem, pois ele pode ter-se esquecido de os passar, ou tê-los
perdido ou pode ser incompreensível o que escreveu. No dia seguinte, terão ainda de confirmar
que o filho não se esquece de levar os trabalhos para a escola... tudo isto, no dia-a-dia, torna-
se altamente desgastante...
Para minimizar estas questões os pais devem conseguir estabelecer rotinas, estruturar e
organizar as suas vidas, uma vez que as crianças com dislexia têm melhores resultados
quando seguem uma rotina e sabem aquilo que se espera. Para favorecer melhores
competências de estudo deve-se garantir um bom ambiente de trabalho, incentivar horário e
plano de estudo ajustado, materiais organizados, ajudar na preparação para os testes e
estabelecer objetivos realistas. Bem como mostrar interesse, ser um modelo, ensinar
estratégias para lidar com TPC, relacionar os TPC com as atividades da vida diária, conhecer a
forma com a professora ensina, recompensar pelo esforço e não só pelos resultados e
participar em atividades da escola.
3. Devem ser escolhidos momentos em que pais e filhos se sintam calmos para trabalharem e os
tornarem agradáveis, os pais devem ser encorajadores e não críticos, fazer pequenas, mas
frequentes sessões de estudo e quando estas terminam, devem parar de desempenhar o papel
de professor (Selikowitz, 2001).
É frequente a ausência de hábitos de estudo regulares ou ajustados, ou seja, não ter um
horário de estudo, calendário e não fazer planos de estudo, ou no caso de serem feitos não
serem realistas (p.ex. planeia estudar demasiadas horas seguidas), o que leva a desistir de
efetuar esses planos impossíveis de cumprir. A inexistência de métodos de estudo, dificuldade
em preparar os materiais, em utilizar diversas fontes de informação, em fazer apontamentos,
resumos e esquemas, em identificar as ideias principais, em aprender truques para memorizar
mais fácil e eficazmente as matérias, etc., tal como o não dominar a utilização de estratégias
para a resolução de testes, leva a que as horas de estudo não sejam eficazes e que os
resultados não correspondam ao seu esforço.
Uma vez que é frequente não terem noção de como e quando usar estratégias para estudar e
quais são mais eficazes justifica-se a necessidade de se ensinar a APRENDER A APRENDER.
Esta é mesmo uma das mais importantes aptidões a transmitir aos alunos com dislexia. Deve-
se sensibilizá-los para a existência de certas técnicas e estratégias, que os poderão ajudar a
atingir o sucesso durante o processo de aprendizagem. Bem como ensinar-lhes que técnicas e
estratégias devem utilizar nas diferentes disciplinas e conteúdos a estudar.
Os pais não têm e não devem ensinar conteúdos, não devem ser os explicadores,
mas devem ser pais presentes, que mostram interesse pelas aprendizagens do seu
filho, devem ser um recurso que os filhos sabem a que podem recorrer em caso de
dificuldade. Devem incentivar e promover situações apropriadas para estudar,
promover a sua autonomia e não a dependência em si para conseguir estudar.
COMO PROMOVER HÁBITOS DE LEITURA?
A promoção dos hábitos de leitura e do gosto pela leitura é feita desde cedo, utilizando não só
os livros, mas também situações do quotidiano que despertam o interesse, curiosidade e
revelam a utilidade da leitura.
Há que ter em consideração a escolha dos livros, proporcionar momentos
agradáveis de leitura e partilhar o interesse por ela.
Os livros devem ter um grau de dificuldade que não seja excessivo, na leitura recreativa o seu
filho deve conseguir ler de forma autónoma, com poucos erros, e deve conseguir compreender
o que lê. Os livros devem ser do seu interesse, nomeadamente o tipo de texto, mais informativo
ou criativo, e sobre temáticas que o entusiasmem. Numa fase inicial de leitura é importante que
o livro tenha imagens e expressões que se repitam ao longo da história para que ele consiga
fazer previsões sobre o que vai ler, sinta o ritmo da leitura e consiga memorizar algumas
palavras, lendo-as de forma automática.
4. É natural as crianças pedirem para repetir múltiplas vezes a leitura do mesmo texto e a
investigação tem comprovado que é importante a leitura repetida. Ao fazê-lo vai aumentar a
confiança do seu filho e vai-lhe permitir compreender melhor o que lê.
Leia sempre para os seus filhos, logo desde pequenos e pode ler-lhe todas as noites tornando
essa uma rotina e uma ocasião especial. Lembre-se que quando lê em voz alta ao seu filho
não só está a transmitir uma experiência positiva de leitura, como também a modelar hábitos
de leitura positiva. Leia diariamente livros em conjunto (alternadamente ou em coro),
permitindo-lhe que acompanhe visualmente o texto lido por si e peça-lhe para tentar ir fazendo
previsões do que se sucederá na história (quer a partir do conteúdo, quer a partir de imagens);
pare frequentemente para irem recontando o que já foi lido e retirarem dúvidas, e no final
verifiquem se as previsões estavam corretas e façam um resumo e uma crítica com opinião
pessoal sobre a história (personagens, enredo, desenlace, sentimentos, conflitos).
É importante que facilite um ambiente emocional que favoreça a leitura. Nunca imponha a
leitura como uma obrigação, ameaça ou castigo. O seu filho irá sentir interesse pela leitura se
tiver experiências agradáveis, se conseguir ler fluentemente e se obtiver a aprovação social.
DEVO CORRIGIR OS ERROS?
Durante os bons momentos de leitura, e não só, os pais necessitam de se ajustar à capacidade
de manutenção da atenção e capacidade de leitura do seu filho. Dar feedback e reforço pelas
respostas corretas e oferecer feedback corretivo às respostas erradas também é uma boa
prática.
Durante o tempo de leitura recreativa, com os pais, quando o filho hesita durante vários
segundos na leitura de uma palavra ou a lê incorretamente, alterando o significado da frase, os
pais devem ler a palavra e de seguida pedir-lhe para repetir a palavra e/ou a frase. É
importante que o seu filho oiça um bom leitor e que receba feedback sobre a sua prestação,
para poder assim melhorar. Uma forma de incentivar é fazer o registo do número de palavras
lidas por minuto, o número de palavras lidas corretamente e gravar as suas leituras, para ele se
autoavaliar. É igualmente importante que enquanto ouve o seu filho a ler, não se mostre
impaciente ou ansioso, nem esteja sempre a corrigi-lo. Diferencie os momentos de leitura de
prazer, daqueles em que estão a ler para as tarefas académicas. Sinta-se satisfeito com os
progressos do seu filho a nível da leitura, elogie-o de forma específica e verdadeira.
O QUE DEVO ESPERAR DA ESCOLA?
Em contexto de sala de aula é essencial serem efetuadas algumas adaptações, para promover
oportunidades de sucesso ao aluno, nomeadamente ao adaptar o envolvimento físico, os
materiais de ensino, a instrução e os procedimentos de avaliação.
Os alunos com dislexia podem ser abrangidos no Decreto-Lei da Educação Especial e
beneficiar das medidas de apoio pedagógico, adequações curriculares e adequações na
avaliação. Para os exames nacionais pode ser preenchida a Ficha A da Dislexia (Júri Nacional
5. de Exames) para que usufrua de algumas condições especiais, nomeadamente a leitura de
prova, reescrita de prova, tempo de realização da prova, realização em sala à parte e
adaptações na cotação das respostas, de forma a não o penalizar pelas suas dificuldades
intrínsecas.