O documento descreve as dificuldades de escrita de Pedro desde tenra idade, incluindo desenhar letras e organizar o texto. Após avaliação, foi diagnosticado com disgrafia. Recebeu apoio especializado focado em aspectos psicomotores e definir cada letra, melhorando gradualmente, embora ainda não perfeito.
1. PEDRO, O MENINO QUE NÃO SABIA DESENHAR AS
LETRAS
Tenho conhecido muitos meninos com dificuldades na escola, em aprender algum aspecto
específico como a leitura, a escrita ou a matemática. O Pedro exemplifica bem as dificuldades
tremendas e implicações que podem advir de não conseguir escrever uma frase sem ficar toda
esborratada, furada, com inúmeros erros ou com as ideias desorganizadas.
É difícil compreender que não consigam aprender a escrever como os seus colegas, mas as
suas dificuldades são reais e por isso estes alunos devem ser encaminhados para uma
avaliação específica e devem ser utilizadas estratégias adequadas, devendo este processo ser
iniciado quando são detetados os primeiros sinais de alerta.
No caso do Pedro, desde muito cedo os pais e a educadora se aperceberam da sua falta de
aptidão para todas as atividades que exigiam maior coordenação na motricidade fina, ele era
aquele menino cujos trabalhos manuais destoavam dos colegas. Os pais não expunham os
seus desenhos em casa e o Pedro demonstrava verdadeiro desagrado pelas tarefas manuais.
Gostava mais de fazer teatros, dançar, conversar, ...
No 1º ciclo, a sua falta de habilidade nos desenhos e recortes, revelou-se também em
dificuldades para desenhar as letras. O Pedro depois de fazer um esforço tremendo para copiar
tudo do quadro, levando muito mais tempo e cansando-se mais do que os colegas nesta
“simples” tarefa. Quando olhava para o seu produto final, ficava com as faces coradas e os
óculos embaciados. Apetecia-lhe chorar... Porque não conseguia ele escrever letras que se
compreendesseme escrever com as palavras alinhadas? Então, tentava corrigir, apagava...
mas ficava esborratado... apagava... mas enganava-se... apagava e a folha rasgava-se. E
então ouvia o triiim do intervalo, os colegas a saírem e ele ali ficava a passar tudo de novo.
Imaginem agora o desespero que ele sentia quando era chamado para ir escrever algo ao
quadro... a vergonha que sentia, por ninguém compreender o que escrevia.
Quandoo Pedro chegou ao CADIn, disse-me que tinha ódio à escrita: “Eu gostode
ler, odeio escrever, fica a doer-me a mão, fica tudomal. Não consigo. Não quero
escrever, nem pintar!”.
As suas letras eram disformes, com características muito próprias, confundiam-se entre si, por
exemplo a letra u e letra v eram iguais (para mim, não para o Pedro!), as palavras ficavam
encavalitadas umas nas outras, as palavras ora subiam, ora desciam das pautas, as margens
eram esquecidas, e por reescrever e apagar, a folha branca lisa ficava cinzenta e
amachucada...
Porquê é fundamental a tomada de consciência das dificuldades para serem ultrapassadas,
nas sessões de acompanhamento, expliquei claramente ao Pedro, os seus erros e realcei os
aspectos positivos que consegui. Estabelecemos um compromisso e metas. Trabalhámos
2. aspectos psicomotores, analisámos cuidadosamente cada letra, e definimos o abecedário do
Pedro, descrevendo cada letra e como se desenha.
Nos exercícios, o Pedro aprendeu a avaliar a sua escrita e registar o número de letras que
conseguia escrever por minuto, o número de letras desenhadas corretamente, e a pouco e
pouco fomos vendo os resultados.
Em casa, o Pedro fazia o seu treino diário de 10 minutos e na escola também, para além de ir
já praticando a utilização do computador para a escrita.
Agora,já vai ao quadro,sem vergonhae a suaescrita já é legível (não perfeita),
cumprindo a sua função de comunicação de mensagens.
Para o ano , com a entrada no 5º ano,vão surgir novos desafios porque a exigência em termos
de velocidade de escrita é superior. As suas dificuldades vão-se tornar muito evidentes na
disciplina de Educação Visual... Mas certamente, com a persistência e determinação do Pedro,
e um trabalho em equipa, efetuando os ajustamentos e adaptações na avaliação, estratégias
e/ou conteúdos, ele irá alcançar o sucesso e vir a ser o “cientista louco” que diz querer ser
quando for grande.
O Pedro tem disgrafia, ouseja, tem uma dificuldade na escrita, que lhe é intrínseca e
permanente. Habitualmente a caligrafia é uma área muito desvalorizadapelos
profissionais, mas não pela criança e pelos pais porque entendem as implicações
que as dificuldades nestaárea podem ter nas restantese mesmo na vida quotidiana.
Como irá este aluno tomar notas numa aula? Fazer um teste no mesmo tempo que os
colegas? Preencher um formulário para abrir conta num banco? Teria qualquer um de nós
disponibilidade para elaborar um texto, se tivesse de estar preocupado em lembrar-se como se
desenha cada letra? Os alunos que apresentam estas dificuldades devem receber um apoio
específico, dado por técnicos especializados, o mais precocemente possível.
Leonor Chaveiro Duarte Ribeiro
Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação
Mestre de Educação Especial, especialização em Dificuldades de Aprendizagem