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CELAM – Conselho Episcopal Latino Americano
Seção Juventude - SEJ
CIVILIZAÇÃO
DO AMOR:
TAREFA E
ESPERANÇA
ORIENTAÇÕES PARA A PASTORAL
DA JUVENTUDE LATINO-
AMERICANA
EDITORA PAULINAS
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM. Seção Juventude.
Civilização do amor: tarefa e esperança: orientações para a pastoral da juventude Latino-Americana / Seção
Juventude; [tradução Hilário Dick]. – São Paulo: Paulinas, 1997. – (Documentos da Igreja na América)
Bibliografia
ISBN 85-7311-776-1
1.Amor 2.Igreja-Trabalho com jovens3.Teologia Pastoral
I.Título.II.Série
97-2429 CDD-253-7
Índices para catálogo sistemático:
1. Jovens : Evangelização: Cristianismo 253.7
2. Pastoral da juventude: Cristianismo 253.7
Digitalizado por
www.pjsorocaba.com.br
TMotta
Título original da obra
CIVILIZACIÓN DEL AMOR – TAREA Y ESPERANZA
© CELAM – Conselho Episcopal Latino-Americano / Seção Juventude, 1995.
Tradução
Pe.Hilário Dick
Revisão e preparação dos originais
Jonas Pereira dos Santos
Paulinas
Av. Indianópolis, 2752
04062-003 – São Paulo – SP
http://www.paulinas.org.br
editora@paulinas.org.br
Telemarketing – Fone: 0800-157412
© Pia Sociedade Filhas de São Paulo – São Paulo – 1997
A Pastoral da Juventude do Brasil faz chegar até você, na versão em português, este precioso livro Civilização
do amor: tarefa e esperança, com orientações para uma pastoral da juventude latino-americana. São quatro grandes
capítulos – o Marco da Realidade, o Marco Doutrinal, o Marco Operacional e o Marco Celebrativo – que nos brindam
com uma riqueza impressionante de elementos, permitindo-nos reavaliar, reorganizar, reafirmar e redescobrir
nossas opções pastorais e pessoais.
A PJ do Brasil, com a 11ª Assembléia Nacional em julho de 1995, redefiniu sua missão e organização. Está em
suas mãos, de fato, o marco referencial da Pastoral da Juventude Latino-Americana e Caribenha e que deve ser o
grande horizonte que orienta também a ação, a formação e a espiritualidade da Pastoral da Juventude do Brasil.
Convido você a mergulhar nessas páginas e descobrir a riqueza e a novidade da experiência vivida pela pastoral da
juventude deste nosso continente: Pátria Grande, Amada Terra, Ameríndia, Amerafro, América Jovem.
Lembro, com saudade e reconhecimento, de Juan Ramón, Daniel Bassano, Hilário, Derry, Alejo, Germán,
Pe.Horácio Penengo, na época assessor da Pastoral da Juventude Latino-Americana, representaram a PJ das quatro
regiões do continente, “trabajaran duro y nos regalaran este maravilhoso documento”1
. Que Deus os recompense
por este serviço.
E termino com uma prece: “Espírito Santo de Deus, ilumine a Pastoral da Juventude do Brasil e todas as
pessoas que amam os jovens, para que se convençam de que a Civilização do Amor é tarefa e esperança a ser
abraçada por todos. Maria, mãe da juventude, dá-nos tua audácia e ternura neste bela e desafiante missão. Amém”.
Com carinho,
Pe.Vilson Basso,dehoniano
Assessor Nacional da PJ do Brasil
1
Trabalharam duro e nos presentearam este maravilhoso documento.
Apresentação da edição brasileira
Foi com satisfação que aceitei o convite de escrever a apresentação da edição brasileira deste livro, Civilização
do Amor, tarefa e esperança. O livro é fruto de uma evolução importante do trabalho pastoral da Igreja latino-
americana com jovens. Tive o privilégio de participar da articulação inicial da pastoral da juventude latino-americana
nos anos 80, como assessor nacional do Brasil. A mola mestra da evolução desse processo foi, e continua sendo, o
encontro anual de responsáveis nacionais da pastoral da juventude. A presença contínua de cerca de vinte países fez
dessa pastoral talvez a mais dinâmica e comprometida do continente. Não era um secretário-executivo no CELAM
fazendo tudo sozinho. Todos assumiram a caminhada; todos participaram das decisões mais importantes. No início,
o desnível de clareza do projeto e metodologia de pastoral. Como em todo início de caminhada, houve tensões e
conflitos.
Depois de vários anos afastados dos encontros latino-americanos, fui convidado para assessorar o XI Encontro
em Porto Rico, em 1996. Foi uma surpresa agradável perceber os delegados de todos os países participando em pé
de igualdade e comungando o mesmo projeto pastoral. Não havia mais as tensões e conflitos anteriores.
Gradualmente, todos haviam chegado ao mesmo nível de reflexão pastoral. Uma mística comum uniu bispos,
padres, irmãs, leigos adultos e jovens em seu entusiasmo e esforço por encontrar caminhos mais eficazes de
evangelização desse grupo social que tem uma presença-chave no continente. Desde o início, a Pastoral da
Juventude do Brasil deu uma contribuição importante.
Não conheço outra pessoa na América Latina que tenha feito uma caminhada tão rica e que tenha conseguido
aprofundar sua reflexão sem sofrer quebras de continuidade. Não conheço também outro continente que tenha
uma experiência pastoral tão significativa.
Como expressão desse avanço em termos de clareza de um projeto consequente de pastoral da juventude foi
publicado, em 1987, o livro Pastoral da juventude, sim à civilização do amor. Essa obra foi logo traduzida para o
português. Participei da equipe de redação desse livro. Foi um grande sucesso e teve papel importante para
solidificar os avanços feitos. Mas a velocidade das mudanças culturais, políticas, econômicas, sociais e religiosas
criou a necessidade de uma nova edição. A juventude de hoje não é mais a juventude dos anos 80. Nasceu este livro,
Civilização do amor, tarefa e esperança, como resposta pastoral aos novos desafios. Os membros da equipe de
redação são todos conhecidos pelo seu nível de reflexão e experiência de trabalho pastoral com jovens. A
bibliografia no final do livro deixa claro que foram recolhidas as melhores experiências e reflexões no continente. O
livro apresenta algo que frequentemente falta aos assessores e coordenadores de pastoral da juventude: uma visão
global. Muitos líderes se fixam em visões parciais e são pouco eficientes porque lhes falta a visão do conjunto.
Todos os temas tratados no livro são importantes; no entanto, gostaria de chamar a atenção para a riqueza de
idéias na análise da realidade, as mudanças culturais, a pedagogia, as etapas dos grupos e a assessoria.
Trata-se de uma leitura importante para quem quer fazer um trabalho pastoral sério com jovens e caminhar
com a Igreja da América Latina. A Pastoral da Juventude do Brasil deu uma contribuição importante para essa
caminhada, mas também tem muito a aprender. Hoje uma crescente consciência latino-americana integra nossa
pastoral na tarefa da construção da Pátria Grande. Somos o único continente católico, e, a partir desta fé, a
juventude é chamada a construir a Civilização do Amor, que é tanto uma tarefa quanto uma esperança.
Jorge Boran
Apresentação da edição brasileira
Na aurora do Terceiro Milênio, os jovens ocupam um lugar especial no coração da Igreja. Não é exagerado
dizer que na geração jovem de hoje se inscreve o futuro da humanidade. O que eles e elas são, hoje, assim serão a
Igreja e a sociedade do próximo milênio. É o que intui, certeiramente, o Santo Padre ao dar aos jovens e às jovens
um lugar tão destacado em seu pontificado. Com eles celebra encontros e jornadas. A eles dedica tempo, cartas e
mensagens. E, quando se encontra no meio da algaravia juvenil, o papa fala sua linguagem e se faz muito sensível a
suas preocupações e expectativas.
Na Igreja da América e do Caribe, os jovens são opção preferencial. Muito se faz para servi-los e há muitíssimo
ainda a ser feito. Não é em vão que a população jovem nos países costuma aproximar-se de 25% do total. Este é
nosso orgulho e nosso desafio: ser um continente jovem. Portanto, com um futuro de esperança.
Em seu serviço às Conferências Episcopais, o CELAM tem procurado traduzir essa opção em encontros e
publicações muito valorizadas. Entre as publicações destaca-se o livro Pastoral da juventude, sim à civilização do
amor, com uma enorme difusão nos diversos países da América Latina e do Caribe. Devido a seu impacto, a Seção
Juventude do CELAM, ouvido o parecer das Comissões Nacionais de Pastoral da Juventude, decidiu reunir um grupo
de especialistas neste campo para atualizá-lo e transformá-lo num obra ainda mais completa. É a que estamos
apresentando agora. Seu título é semelhante ao primeiro: Civilização do amor, tarefa e esperança. Nela se poderá
encontrar desde uma correta tipografia da juventude de nossos países até uma proposta de espiritualidade jovem
que, sem dúvida, será de grande ajuda.
Dada a grande envergadura desta obra, desejo agradecer explicitamente, em nome do CELAM, a todos que
nela colaboraram, sob a orientação do Pe. Hilário Penengo, que acaba de concluir sua missão na Seção Juventude.
Todos eles são pastores e leigos conhecidos por sua contribuição à pastoral da juventude em seus respectivos países
e na América Latina.
A cada um deles, nossa gratidão e bênção. Estou certo de que essa gratidão e bênção aderirão, alegres, todos
os que utilizarem este livro.
D.Jorge Enrique Jiménez Carvajal
Bispo de Zipaquirá
Secretário-geral do CELAM
Apresentação
Há quase vinte anos o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) criava a Seção Juventude. Iniciava-se,
então, um longo caminho de animação e de serviço à evangelização da juventude do continente.
Os esforços iniciais por conhecer os problemas e tendências do mundo jovem e fazer uma reflexão teológica e
pastoral que fornecesse orientações claras para implementar uma Pastoral da Juventude Orgânica viram-se
reforçados a partir de 1983, quando começaram a se realizar os Encontros Latino-Americanos de Responsáveis
Nacionais pela Pastoral da Juventude.
Com o tempo, estes Encontros foram se tornando um espaço privilegiado de comunhão e participação para
bispos, sacerdotes e jovens que trabalham na Pastoral da Juventude da Igreja Latino-Americana. A troca de
experiências e a reflexão a que esses Encontros deram ensejo permitiram a progressiva elaboração de um proposta
global de pastoral da juventude, construtora da civilização do amor; uma pedagogia para acompanhar os processos
de formação humana e cristã dos jovens; uma metodologia adequada para o trabalho de grupo; uma espiritualidade
para o seguimento de Jesus e uma organização participativa que têm dinamizado a ação evangelizadora das
Comissões Episcopais de Pastoral da Juventude dos países do continente.
Um dos frutos mais visíveis desse processo foi a publicação, em abril de 1987, do livro Pastoral da Juventude,
sim à civilização do amor. Sua redação, efetuada após um longo e participativo processo de recopilação e
sistematização de colaborações e experiências, favoreceu a formulação e difusão da proposta da Pastoral da
Juventude Latino-Americana, promoveu uma maior unidade de critérios e impulsionou decisivamente o trabalho
comum e a organização.
Traduzido para o português e o francês, reeditado em sete países, com uma tiragem superior a 27 mil
exemplares, conhecido popularmente como o “livro verde” ou o “livro laranja”, em alusão à cor da capa de algumas
de suas edições mais difundidas, passou a ser referência obrigatória para o trabalho da pastoral da juventude.
A reflexão dos anos posteriores continuou aprofundando aspectos apenas intuídos ou pouco desenvolvidos no
livro anterior. Os processos de educação na fé, a cultura jovem, a assessoria, a espiritualidade e as pastorais
específicas de juventude foram, entre outros, alguns dos capítulos que amadureceram e consolidaram a reflexão e a
proposta.
Ultimamente fez-se sentir, com força cada vez maior, o reclamo dos agentes de pastoral quanto à necessidade
de contar com uma edição atualizada, que recolhesse as novas contribuições refletidas e servisse para apoiar o
trabalho de formação dos coordenadores, animadores e assessores e para orientar melhor os múltiplos esforços da
pastoral da juventude que se realizaram no continente.
A Seção Juventude acolheu essa solicitação e encaminhou um proposta de trabalho inspirada nas mesmas
características de ampla participação, de coleta e de sistematização das contribuições e experiências com que se
preparou a publicação anterior.
Os participantes do 10º Encontro Latino-Americano de Responsáveis Nacionais por Pastoral da Juventude,
realizado em Mogi das Cruzes (Brasil), de 8 a 15 de outubro de 1994, responderam favoravelmente a uma consulta
realizada pela Seção Juventude e propuseram uma lista de nomes de pessoas capacitadas para a redação dos
diferentes capítulos.
Com essas propostas, a Seção integrou uma Comissão Redatora de assessores leigos e sacerdotes,
representativa das quatro Regiões, tendo sido convidados a participar o Pe. Daniel Bazzano, diretor do Instituto
Paulo VI de Montevidéu (Uruguai); o Sr. Juan Ramón Córdova, secretário-executivo da Comissão Episcopal de
Juventude de El Salvador e assessor regional de Pastoral da Juventude do México e da América Central; o Pe.Hilário
Dick SJ, do Instituto de Pastoral da Juventude de Porto Alegre (Brasil); o Pe. Derry Healy, ex-coordenador da
Comissão Nacional de Pastoral da Juventude do Chile; o Pe. Alejandro Londono SJ, da Casa de la Juventud de Santafé
de Bogotá (Colômbia); o Pe. Germán Medina, assessor diocesano de Pastoral da Juventude de Higuey (República
Dominicana), e o Pe. Feliciano Rodríguez, assessor diocesano de Pastoral da Juventude de Caguas (Porto Rico).
Sob a coordenação do P. Horácio G. Penendo SDB, secretário-executivo da Seção Juventude, do CELAM, a
Comissão Redatora reuniu-se na sede do próprio Conselho Episcopal Latino-Americano em Santafé de Bogotá
Prefácio
(Colômbia), de 23 a 30 de abril de 1995. Os participantes apresentaram suas propostas de trabalho, chegou-se a um
esquema geral e cada um se dedicou à redação do capítulo que lhe havia sido designado. As redações formuladas
foram imediatamente revisadas, corrigidas, melhoradas e complementadas por todos, um longo processo que se
iniciou naquela semana e se completou várias semanas depois, até se chegar à presente redação final. Durante esse
período os textos redigidos foram submetidos à apreciação de outros agentes pastorais nos diversos países, com
pedido de opiniões, contribuições e sugestões.
O livro é, portanto, um trabalho coletivo de muitas pessoas. Este é, talvez, seu maior mérito. Não se trata de
reflexões teóricas nem individuais, mas de experiências vividas, recolhidas, partilhadas, organizadas e sistematizadas
para serem oferecidas como orientação para a ação pastoral.
Não é, por conseguinte, um livro terminado. Como se chegou até aqui, deve-se continuar caminhando,
buscando, aprofundando, abrindo horizontes e descobrindo dimensões novas na sempre apaixonante tarefa da
evangelização dos jovens latino-americanos.
Sua apresentação encerra, de algum modo, o período que vai de 1991 a 1995, da Seção Juventude do CELAM.
Queremos expressar um enorme agradecimento a todos os que, de uma forma ou outra, redigindo, corrigindo,
apoiando, estimulando e manifestando suas expectativas pela publicação, tornaram possível transformar esse sonho
em realidade. Oferecemo-lo com muito carinho a todos os agentes da Pastoral da Juventude Latino-Americana e, em
especial, aos que, silenciosamente, em todos os rincões do continente, fazem acontecer, dia a dia, a pastoral da
juventude. Neles pensamos permanentemente durante esses meses de trabalho. Eles são, na verdade, os primeiros
destinatários do esforço que realizamos.
Acreditamos que será uma contribuição para tornar mais efetiva a opção preferencial pelo jovens e,
especialmente, para apresentar uma proposta evangelizadora séria, capaz de responder às exigências das mudanças
culturais do mundo de hoje, entusiasmar os jovens no seguimento de Jesus e tornar real a tão desejada civilização do
amor.
P.Horácio G.Penendo SDB
Secretário-executivo SEJ-CELAM
Parte 1
Com a intenção de sermos fiéis à atitude do Deus de Jesus Cristo, que, com olhar amoroso, está
atento às necessidades de seu povo, escuta seus clamores e dispõe todas as coisas para a sua libertação,
queremos olhar a realidade dos povos do continente latino-americano, e sobretudo do povo jovem, para
escutar seus gritos, reconhecer e compreender suas situações de exclusão e fazer o possível para que, com
a ajuda do Espírito, se realiza a salvação.
Seguindo o exemplo de Jesus, é necessário abrir os olhos para compreender, com razão compassiva,
a vida dos povos. O simples olhar da ciência não é suficiente para explicar sua existência. O estético e suas
diferentes expressões, o poético, o mítico, o utópico, o épico e o trágico são também visões válidas que
podem estar, talvez, mais próximas das suas buscas de sentido e das suas experiências do sagrado e da fé,
tanto dos jovens como dos povos em geral.
É preciso educar a visão da realidade para que se possa descobrir nela o dom de Deus, experimentar
seu chamado a sermos acolhidos e amados, e a encarnar-nos no mundo dos jovens pela solidariedade
humana e evangélica. O contato direto permite ver, ouvir, e se emocionar com suas vidas, seus sinais, suas
sensibilidades e seus sentidos. Conhecer a realidade dos jovens a partir da perspectiva de Jesus exige
estabelecer uma relação de intimidade. Exige dialogar e agir junto com eles. Somente assim será possível
experimentar – “conhecer” – suas necessidades reais e perceber suas verdadeiras alegrias e amarguras.
O desconhecimento da perspectiva dos outros, de suas formas de ver e compreender o mundo, já
gerou demasiada violência na história. A vida não seguirá sendo possível pela via do extermínio de quem
pensa diferente. Deve-se começar por reconhecer e compreender as diferenças e buscar sempre,
razoavelmente, novas e melhores condições de comunicação, compreensão, transformação, justiça e vida.
Ao olhar a realidade da América Latina e, nela, a realidade dos jovens, sente-se o chamado ao
mesmo compromisso apaixonado de Jesus, de realizar sinais de vida que instaurem esperanças,
possibilidades e oportunidade de vida nova, superando os sinais de morte, de decrepitude e da não-vida. A
dupla dimensão morte-vida faz desejar e tornar real, já, a páscoa para e com os jovens do continente.
Santo Domingo confirmou, tanto para a pedagogia como para a metodologia da pastoral da
juventude, caminhos que partem da vida, das experiências e da realidade (SD 119). É a epistemologia, o
modo de acercar-se da realidade e da verdade, vigente nas ciências, na filosofia e na teologia atuais. Segui-
los parece ser o único modo de nos situarmos na cultura atual e nas perspectivas de uma pastoral da
juventude que sintonize com a psicologia dos jovens. Este foi, por outro lado, o modo habitual do agir de
Jesus, que aparece no Evangelho partindo da vida, dos problemas, das necessidades e das aspirações dos
destinatários de sua caridade pastoral.
O grande desafio da pastoral da juventude é olhar o contexto social, econômico, político, cultural e
religioso de forma global e não fragmentária (DP 15). Não fácil nem se pode pretender chegar à certeza e à
verdade plenas. O que se pode, sim, é tentar conhecer, da melhor forma possível, a realidade na qual se
deve intervir, para acertar nos diagnósticos e escolher as melhores alternativas de ação pastoral.
I
1. O CONTEXTO LATINO-AMERICANO DE MUDANÇA
A experiência de mudança vivida pelos homens e pelas mulheres do continente e as mais variadas
análises e estudos especializados realizados nos últimos anos estimulam a percepção e reafirmam a
convicção de que algo novo está ocorrendo em nosso mundo.
Não se trata apenas de novas situações particulares ou de novo elementos que simplesmente se
acrescentam aos já existentes. Trata-se de grandes transformações globais que afetam profundamente a
compreensão e as percepções que as pessoas têm de si mesmas e de suas relações com a natureza, com a
sociedade e com Deus. Está-se dando uma profunda mudança cultural.
Os jovens da América Latina, na variedade de seus processos históricos e de suas diversidades
étnicas e culturais (SD 244), são particularmente sensíveis ao novo que está acontecendo. Eles são, ao
mesmo tempo, filhos e construtores dessa nova realidade cultural que apresenta múltiplas e diversificadas
manifestações que condicionam suas vidas e geram novas e variadas compreensões, relações e formas de
expressão.
Conhecê-las e valorizá-las é um grande desafio para a Igreja e para a pastoral da juventude (SD 253),
que o acolhem como um convite a questionar suas práticas, revisá-las e, sobretudo, a recriar, nesta nova
situação, a experiência da permanente novidade de Jesus Cristo, “o mesmo, ontem, hoje e sempre” (Hb
13,8).
1.1 Algumas manifestações da mudança cultural.
Não se pretende, aqui, uma análise completa dessa nova situação cultural. Quer-se apenas
assinalar algumas de suas principais manifestações, que devem ser particularmente consideradas na
pastoral da juventude.
1.1.1 Mudanças em relação à natureza
São poucos, hoje, os que se espantam diante das descobertas científicas e do desenvolvimento
tecnológico. Entretanto, está-se dando uma crescente tomada de consciência dos limites da ciência e
da tecnologia, insuficientes quando tentam resolver, por si mesmas, os problemas fundamentais da
vida e da pessoa humana. A crescente sensibilidade a esse problema expressa-se na busca de uma
nova relação com o meio ambiente que permita viver mais dignamente neste terra que Deus
entregou ao ser humano para que a trabalhasse e a cuidasse.
1.1.2 Mudança em relação à sociedade
A interdependência da vida social manifesta-se principalmente no caráter transnacional da
economia, dos meios de comunicação social e nos acelerados processos de urbanização. Essa
influência econômica e cultural do chamado “Primeiro Mundo” marca a vida das sociedades e das
pessoas. Molda seus interesses, aspirações e modelos de consumo.
A crise das ideologias e o fracasso dos projetos históricos de transformação social vão dando lugar
ao império do pragmatismo e da ideologia neoliberal, com sua política de mercado. Ela se apresenta
como a aparentemente única racionalidade social e como inquestionável modo de intercâmbio.
Não sem dificuldades, os países latino-americanos estão em transição de regimes autoritários para
sistemas democráticos. Muitos partidos sofreram importantes transformações. Também surgiram
outros, novos. Mudou a política das alianças. O movimento sindical não tem a mesma ressonância de
antes; busca implementar suas demandas através do diálogo com empresários e governos. Mudam
os modos de fazer política e o interesse que se tem por ela. Não é tão claro, hoje, que o Estado, os
políticos ou simplesmente os grupos econômicos sejam os únicos detentores do poder. Também tem
poder, igualmente, quem domina a tecnologia e a informação.
A própria situação de pobreza tem hoje características novas. A pobreza da maioria convive ao
lado do desenvolvimento, do consumo e da modernidade. Os setores populares, e seus modos
históricos de resolver os desafios fundamentais da existência, parecem cada vez menos unidos num
projeto histórico de libertação. As idéias e os movimentos gestados nas décadas passadas já não têm
a força transformadora de então nem constituem um elemento significativo de seu ideário social.
A sociedade manifesta-se cada vez mais pluralista. Crescem a valorização das diferenças e o
chamado ao diálogo num sociedade pluralista. Ao mesmo tempo, porém, esse pluralismo estimula
posturas subjetivistas. Em muitos casos gera atitudes de sincretismo e de grande confusão.
1.1.3 Mudanças na relação com Deus
Apesar das propostas de diversas correntes materialistas que vaticinaram o desaparecimento da
religião e a “morte de Deus”, persiste fortemente a busca de um sentido transcendente e absoluto
para a vida humana e a necessidade de encontrar valores, critérios e normas éticas que a orientem.
As principais ideologias já não parecem ter a força mobilizadora de antes. As principais perguntas
pelo sentido voltam a se fazer presentes.
Essa busca está muito viva nas diversas expressões da religiosidade popular, nas quais o povo
recria suas vivências religiosas em meio às situações que a vida moderna impõe. “O povo resiste às
condições adversas da vida moderna que o marginaliza, recriando espaços de piedade –
peregrinações, novenas, devoção às almas, festas de padroeiro, devoção cotidiana etc. – que
constituem verdadeiras formas de mística popular muito profunda diante do individualismo, da
competição e da lógica mercantil da dominação que pautam a modernização das culturas oficiais”.2
A persistência do sagrado verifica-se também no crescimento sintomático das seitas e das
propostas que recorrem ao esoterismo e à magia como resposta à busca de sentido. Coexistem,
assim, diversas manifestações e “ofertas” religiosas. A Igreja Católica aparece, entre elas, como uma
alternativa a mais, entre as muitas possíveis.
Olhando o conjunto desses elementos, constata-se que se está diante de um novo tempo histórico
no continente latino-americano. Já não se vivem as grandes esperanças revolucionárias, de
profundas mudanças sociais, que caracterizaram a década de 60. Não se vive, igualmente, um tempo
de confrontação violenta, de repressão e de morte que caracterizou a década de 70 e parte da de 80.
Nem se vive tampouco o tempo de recuperação da democracia que caracterizou a década de 80 e
parte dos anos 90.
Muitos poderiam pensar que essa problemática da história recente pouco interfere nos reais
problemas e desafios enfrentados pelos jovens de hoje. Contudo, os jovens de qualquer época
histórica não criam a realidade na qual vivem. Mais ainda: as condições sociais, econômicas, política
e culturais são, para eles, uma realidade que lhes é dada, independentemente de sua vontade. Nessa
realidade se socializaram, foram construindo sua própria identidade e sonharam um futuro melhor.
1.2 Chaves de Leitura
Duas chaves de leitura parecem fundamentais para procurar uma melhor compreensão dos
fenômenos que estão acontecendo: o neoliberalismo, sua repercussão na sociedade e na cultura, e a
pós-modernidade, que impregna todos os ambientes no complexo fenômeno da comunicação.
1.2.1 O neoliberalismo
A sociedade atual é resultado de várias décadas de frustrada tentativas para sair do
subdesenvolvimento. Após a queda do socialismo, o neoliberalismo passou a ser, ao menos no
momento, o único modelo socioeconômico viável. Quando um modelo social não é único e tem que
competir com os demais, necessita suavizar-se e humanizar-se para não ser substituído por outras
alternativas; porém, quando um modelo é único, não precisa ser transigente. É o que acontece com o
neoliberalismo, que está se desenvolvendo de forma quase selvagem na sociedade atual.
2
Cristian Parker. “Lo espiritual de fines de siglo”. Revista Mensaje 423, Santiago do Chile, 1993, p.511.
O neoliberalismo postula a preeminência do mercado e da livre concorrência. Sustenta uma série
de políticas econômicas desregulamentadoras, privatizantes e liberalizadoras das econômias
nacionais e dos protecionismos tradicionais dos países do Terceiro Mundo, impostas pelo organismos
internacionais, dominados pelos Estados Unidos. Essas políticas aplicam-se de modo diversos nos
diferentes espaços nacionais.
Aludindo ao fim do socialismo e seus anseios de uma sociedade sem explorados, o neoliberalismo
afirma que as utopias e os projetos de futuro terminaram: o que conta é a ação imediata. O mercado
capitalista e a democracia liberal surgem como os únicos com possibilidade histórica de realização e
de sucesso. Fala-se do fim das ideologias. Legitimaram-se as propostas neoliberais como as únicas e
as melhores alternativas para a economia mundial.
O neoliberalismo significa, concretamente:
• No econômico: as privatizações e o fortalecimento do capital privado; a desregularização dos
mercados; a orientação da economia em função do mercado internacional e o fomento das
exportações; a abertura ao capital estrangeiro e a internacionalização do mercado interno. Isso
traz, como consequências, graves custos sociais como a queda do salário real, uma maior taxa de
desemprego, uma brecha maior entre os ricos e pobres e a multiplicação das situações de pobreza
extrema.
• No político: a função do Estado se reduz praticamente a ser garantidor do equilíbrio social e
favorecedor da atuação do capital privado. Reduz-se também o papel dos sindicatos e das
organizações populares. Enfraquece-se a real participação do povo e da sociedade civil. A
absolutização do mercado como critério único para regular a atividade econômica nacional e
internacional agudiza a subordinação dos países pobres aos países hegemônicos. Os governos
diminuem drasticamente o gasto público e os investimentos em educação, saúde e seguridade
social. Suas alianças visam, antes, assegurar os privilégios econômicos e integrar-se nos processos
internacionais do que promover o verdadeiro desenvolvimento, o crescimento e o bem-estar dos
povos.
• No cultural: o consumo, a produção e a eficiência, o pragmatismo e o mercado convertem-se nos
valores sociais máximos. A educação, orientada para a produtividade e a competição, conduz
inevitavelmente a um materialismo prático no qual se desenvolvem o individualismo, o
utilitarismo e o hedonismo e do qual estão ausentes as exigências da justiça social e do bem
comum.
• No religioso: o materialismo prático eclipsa o sentido de Deus e da própria pessoa humana.
Apesar disso, muitos querem, inclusive no âmbito católico, legitimar esse sistema em bases
religiosas. Nesses esforços, há uma clara tendência a suavizar o compromisso exigido por Jesus e a
acomodá-lo aos postulados neoliberais, comungando com a Nova Era, a chamada religião do
neoliberalismo.
O neoliberalismo favorece ao máximo o desenvolvimento das empresas transnacionais, que, para
promover o consumo, privilegiam certos modelos de vida – o “american way of life” – e tendem
universalizar e uniformizar, pela propaganda, uma cultura do espetáculo, do ter e do parecer. As
culturas indígenas e autóctones sentem-se esmagadas.
Os processos, as formas concretas e os ritmos com que se vai implementando o modelo neoliberal
dependem do lugar e da orientação que se dá às economias nacionais para se inserirem na economia
mundial. Os países latino-americanos são considerados como centros industriais, produtores de
artigos manufaturados, exportadores de produtos agrícolas e matérias-primas, com particular
interesse na produção petrolífera.
Apesar de a maioria dos planos neoliberais proclamar seus resultados positivos e os grandes
indicadores econômicos, como o crescimento do produto interno bruto, a queda da inflação, o
crescimento econômico, o aumento das exportações e dos investimentos de capital estrangeiro e os
maiores níveis de consumo, serem geralmente favoráveis, na realidade não geraram melhores
condições de vida e, especialmente, não mudaram as formas de distribuição da riqueza produzida,
mantendo, e até mesmo acirrando, as condições de pobreza.
A pobreza extrema de que se aproxima a camada mais fraca da população está produzindo uma
exclusão violenta das grandes maiorias, no que se refere aos benefícios do esforço coletivo dos
povos.
A deterioração ecológica também se faz sentir em todos os aspectos. Os recursos materiais, a
biodiversidade e as riquezas naturais são sacrificados por planos economicamente rentáveis a curto
prazo para as transnacionais, mas de consequências desastrosas para o futuro. Não se teme sacrificar
populações inteiras e aniquilá-las pela fome, pelo desemprego e pela violência, como sucedeu com
muitas comunidade negras, indígenas e camponesas.
O neoliberalismo agride violentamente os estilos de vida e as cosmovisões dos povos latino-
americano. Influi de modo negativo especialmente nos jovens, sobre os quais se concentram seus
efeitos mais dramáticos: profundas carências materiais e de vida digna, desemprego, ocupações
insalubres, mal-remuneradas e sem previdência social; crise do sistema educacional, incapaz de uma
absorção, maior evasão escolar e má qualidade do ensino; inexistência de espaços para as atividades
culturais e de lazer, discriminação dos jovens das camadas populares como grupo social indesejado, a
ponto de legitimar seu extermínio físico; a criminalização de suas tentativas de organização e
expressão; e a ausência de projetos de participação social e de políticas direcionados para essa
camada da população.
1.2.2 A pós-modernidade
A chamada “era pós-moderna” toma consciência dos fracassos e dos limites da modernidade.
Sente que seus ideais humanistas e a absolutização da racionalidade técnico-científica não
engendraram o mundo igualitário, livre e fraterno que sonhava, e sim um mundo de dominantes e
dominados em que o projeto igualitário fracassou. Isso gerou um ambiente de desencanto que se
expressa em vários âmbitos da vida pessoal e coletiva.
A modernidade esperava um futuro grandioso para todos os homens, no qual existiria igualdade
entre as nações e entre os indivíduos; confiava na abolição da guerra, da propriedade e dos
colonialismos; esperava a alfabetização universal, o domínio da natureza, a erradicação das doenças
e o triunfo definitivo da ciência e da tecnologia.
O século XX demonstrou que esses grandes sonhos foram dolorosamente frustadas. O mais
importante agora é procurar sobreviver e fazê-lo da melhor for Deus de cada uma possível. Para as
grandes maiorias já não interessam as utopias. O que importa é o que se vive aqui e agora. Se não há
progresso, se não importa para onde se vai, o que vale então é aproveitar o momento. Se para a
modernidade importava produzir, para a pós-modernidade, importa consumir. “O que dá prazer” e
“o que se sente” passam a ser critério último de verdade e a motivação profunda do agir.
A modernidade deu ênfase especial ao valor da vida e ao bem-estar coletivo. A pós-modernidade
converte a vida privada na medida de todas as coisas. OS problemas dos outros são dos outros e
devem ser enfrentado e solucionados por eles. Predomina a lógica da vida privada: satisfazer os
próprios desejos, comportar-se segundo o estilo de cada um, crer no Deus de cada um.
A pós-modernidade nega a existência de uma lei de caráter universal. Crê que a sociedade não se
fundamenta num pacto social, mas em pequenos acordos que possam ser estabelecidos entre partes
que estão sempre em conflito. Tudo é pergunta. Não há respostas. Se houver, serão formuladas em
termos de novas perguntas.
A pós- modernidade é uma crise no interior da modernidade. Eis algumas de suas principais
características:
• Um neo-individualismo, entendido como afirmação radical de auto determinação e como
desconfiança do coletivo, do solidário, e de tudo o que sugira compromisso com os demais.
Reivindica a autonomia da pessoa humana. Valoriza a criatividade e a subjetividade, tendendo a
construir um pessoa sem sentido histórico, autocentrada, preocupada tão só com o presente e
com sua vida pessoal, facilmente inclinada a sucumbir na solidão, no isolamento e no anonimato.
• Uma nova forma de niilismo que destrói qualquer possível fantasia utópica. Nega-se que a força
das utopias possa chegar a mudar o mundo. É a cultura do grande vazio e da descrença, em que
nada tem fundamento suficiente para orientar globalmente a existência. Recupera a dimensão do
pessoal, do íntimo e do privado em face o público, mas reduz os horizontes, promove o
imediatismo, a ausência de visão de longo prazo e a falta de entusiasmo para trabalhar pela
mudança da realidade. Leva a evitar os compromissos permanentes e a não aderir a propostas de
projetos históricos.
• Uma maior permissividade na conduta moral, fruto do neo-individualismo e consequência da falta
de pontos universais e de valores absolutos. Antes, a família, a educação e a própria religião
impunham as normas de conduta, as formas de pensamento, as evidências coletivas e os
princípios de legitimação. Hoje há uma multiplicidade de âmbitos de vida e de comunicação em
que todos se expressam livremente, sem que haja um poder capaz de impor idéias e condutas a
todos. Promove-se uma ética pessoal em função da qual vale mais o convencimento que a norma;
• Legitima-se a busca de felicidade no tempo presente; reafirma-se a liberdade individual, a
necessidade de ser, sentir e expressar-se segundo a originalidade de cada um e o direito à
diferença. A busca da salvação, contudo, situa-se no presente; debilitam-se e relativizam-se as
convicções éticas; centra-se a atenção mais nos direitos do que nos deveres; desencadeia-se a
crise do amor e da sexualidade e opera-se a perda do sentido de felicidade e do compromisso.
• Um pensamento débil em face das ideologias mais ou menos radicais. Esse pensamento débil quer
pôr abaixo um mundo que tenha consistência em si mesmo e uma consciência capaz de descobrir,
conhecer e expressar o mundo real. Prefere antes experimentar as coisas a discutir teorias;
recupera o valor do cotidiano, o sentido do simbólico e do ritual. Aumenta, no entanto, a
fragmentação da vida, dificulta a elaboração de projetos globais e favorece a manipulação pela
publicidade, pela moda, pelos meios de comunicação de massa e pelas imposições culturais.
Como movimento cultural, o pós-modernismo tem uma mensagem muito simples: “vale-tudo”. Essa
mensagem não é nem conservadora, nem revolucionária nem progressista. Torna irrelevantes as distinções
deste tipo... Todos podem participar dele. Trata-se de um onde em que são possíveis todos os tipos de
movimentos artísticos, políticos e culturais.
Essas fortes correntes culturais, econômicas e políticas, portadoras de uma concepção de sociedade
baseada na eficiência, promovem uma verdadeira cultura da morte. Criam e consolidam autênticas
estruturas de pecado contra a vida, nas quais os jovens ficam envoltos e condicionados.3
Em meio a essa realidade, contudo, os jovens tentam sobreviver com valores que possuem. Lutam
para encontrar um lugar na história. É uma juventude cujo sentido existencial foi em grande parte
destruído pela cultura da morte. Necessita, urgentemente, encontrar uma “boa nova” que lhe devolva o
desejo de viver e lhe abra as portas a uma cultura de vida.
2. CONHECER A JUVENTUDE NÃO É FÁCIL
Hoje em dia, já não é possível falar, simplesmente, de “juventude”. É quase impossível abarcar o
amplíssimo aspecto da realidade e as variadíssimas situações em que os jovens vivem, segundo suas raízes
e origens étnicas, suas influências culturais e suas condições políticas, sociais e econômicas. É necessário
admitir que conhecer e compreender o mundo dos jovens não é tarefa fácil.
Os diferentes estudos realizados sobre a realidade juvenil mostram claramente a grande diversidade
de opiniões existente entre os pesquisadores. Há muita imprecisão sobre o próprio conteúdo do termo e
sobre o que se quer dizer quando se fala de jovens e de juventude. Proliferam idéias, opiniões e
julgamentos, por trás dos quais muitas vezes se ocultam interesses que projetam nos jovens os desejos e
temores dos adultos, deformando a realidade juvenil e promovendo ações pedagógicas corretivas de
comportamentos considerados mais ou menos anti-sociais.
Por outro lado, não é fácil concretizar e expressar as motivações e formas de comportamento de
uma vida em contínua evolução: o jovem é sempre uma incógnita. Um convite a deixar os próprios
3
Cf. João Paulo II, encíclica Evangelium vitae, 12.24.
esquema pré-fabricados e a abandonar-se ao incerto e ao imprevisível. Para poder dizer algo sobre os
jovens, é preciso ser, estar e viver com eles.
A sociedade atual mostra um enorme interesse pelos adolescentes e jovens. Para eles se dirigem
muitos olhares. Embora se trate de tentativas parciais de abordar a realidade deles, são úteis na medida
em que permitem maiores delimitações e precisões. Em todo o caso, trata-se de perspectivas que não
pretendem ser exaustivas.
Em toda aproximação à realidade dos jovens é necessário considerar as variáveis que intervêm e,
muitas vezes, determinam seu universo cultural. O uso da categoria “juventude” deve considerar essa
multiplicidade de diferenças.
2.1 A visão biocronológica
Define a juventude em termo de idade. A juventude é a idade da pessoa em crescimento. Um
período compreendido entre os quinze e os vinte e cinco anos, no qual se toma consciência de estar
vivendo uma realidade vital, distante da infância mas ainda não identificada com o mundo adulto.
Trata-se de uma etapa de transição marcada por grandes mudanças fisiológicas, fruto do
amadurecimento hormonal. O resultado dessas transformações é a consciência e a vivência do próprio ser
corporal. A imagem do corpo e sua valorização são símbolos do eu e da personalidade. A significação do
sexual passa para o primeiro plano. Essa valorização do corpo e da sexualidade expressa-se numa série de
aspectos: psicológicos, como a consciência de sua força e de sua capacidade física; psicossociais, como o
cuidado extremo com a apresentação externa, e psico-biológico-sexuais, como a descoberta do sexo como
estímulo-demanda.
Quando se absolutiza essa forma de olhar os jovens, corre-se o risco de perder de vista os contrastes
e as oposições, de unificar o que é diverso, de eliminar as diferenças e assim diluir e confundir a
marginalização e a riqueza, o rural e o urbano, as diferenças sociais e culturais, os estudante e o e o aluno
que se evade da escola, o homem e a mulher, o trabalhador e o desempregado, o pai a mãe jovens, os
filhos de mães solteiras e os filhos de famílias constituídas etc.
Não se pode desconhecer, além disso, que a juventude, como grupo etário, está sujeita a uma
imagem social e a um processo de construção das características que a definem como tal e assinalam os
limites e as possibilidades de suas práticas, de seu ser e de seu dever-ser como membro de uma
comunidade. Esses elementos definidores criam expectativas de comportamento. Delimitam-se as
características consideradas próprias dessa idade transitória e intermediária entre a infância e a idade
adulta. Elas circulam atráves dos mais diversos espaços sociais.
2.2 A visão psicológica
Identifica a juventude como o período conflitivo da vida da pessoa, em que ela se vê a si mesma com
a vida nas mãos, já não estando na infância mas ainda não sendo adulta, com uma vida afetiva, moral,
cultural e espiritual próprias que devem ser garantidas e construídas mais plenamente. É como um
segundo nascimento. É final e começo: final de uma forma de vida no ambiente protegido da família e
início de algo novo, desconhecido, de um mundo que, muitas vezes, apresenta-se ao mesmo tempo hostil
e perigoso, atraente e estimulante.
É a passagem do mundo interior da família para o mundo exterior das responsabilidade e das
decisões pessoais. Supõe percorrer um caminho estreito, cheio de incertezas, temores e esperanças que
identifica o ser jovem. Um caminho do qual deve se apropriar: passagem de um passado definido, que
deve ser abandonado, para um futuro por identificar e com o qual deve identificar-se.
É uma etapa de busca e crescimento. De construção da identidade e de construção de um novo lugar
no mundo. Não se trata de um processo unívoco nem linear. Pelo contrário, é múltiplo e contraditório,
fruto do tecido das relações com diversas instâncias socializadoras, como a família, a Igreja, a escola, o
grupo de companheiros, a vizinhança, os partidos políticos, os meios de comunicação, etc. A partir do jogo
das inter-relações que se dá entre essas instituições e os jovens, definem-se os papéis, as exigências de
comportamento, os limites e as possibilidades de seu agir , de seu ser e de seu dever-ser. Tudo
condicionado pela pertença dos jovens a um grupo social e cultural determinado e pela biografia de cada
um.
É um tempo de opções e de definição de vocações. É um caminho aberto, onde se dá a possibilidade
de tentativa e erro. É um tempo de valorização do subjetivo, dos sentimentos e da capacidade de agir
moralmente. Um tempo para configurar-se como pessoa, com direitos e deveres no mundo adulto.
Situam-se, aqui, muitos diagnósticos que falam das feridas afetivas e dos desequilíbrios psicológicos
e de personalidade dos jovens. Por circunstância muito variadas, de ordem familiar, social ou econômica,
muitos sofrem hoje uma carência generalizada de afeto e de relações pessoais. Estão sós. Precisam de
amigos. Buscam um grupo ao qual possam pertencer e participar e sentir-se protagonistas. Um refúgio que
os liberte da solidão e os faça sentir-se acolhidos e compreendidos.
João Paulo II afirmou recentemente este caráter pessoal dos problemas vividos pela juventude: ”O
problema essencial da juventude é profundamente pessoal. A juventude é o período da personalização da
vida humana. É, também, o período da comunhão. Os jovens e as jovens sabem que têm de viver para os
demais e com os demais. Sabem que sua vida tem sentido na medida em que se faz dom gratuito para o
próximo”.4
2.3 A visão sociológica
Do ponto de vista da sociologia, a juventude é um grupo social com uma posição determinada dentro
do conjunto da sociedade, caracterizado por um modo peculiar de ver e entender a vida e o mundo,
próprio de quem deixou para trás a dependência total de criança, mas não chegou ainda à
responsabilidade própria do adulto.
É uma etapa substantiva da vida, com identidade e valores próprios, embora mediada pela posição
que a juventude ocupa em cada sociedade e influenciada pelo que essa sociedade aceita ou impõe. Daí a
variedade de seus comportamentos, tanto de submissão aos patrões sociais como de protesto e rebelião
contra toda tentativa de manipulação.
Os modelos econômicos inspirados no neoliberalismo aguçaram a exclusão e a marginalização dos
povos-latinos americanos. Como consequência, “muitos jovens são vítimas do empobrecimento e da
marginalização social, do desemprego e do subemprego, de uma educação que não responde às exigências
de suas vidas, do narco-tráfico, da guerrilha e das gangues. Muitos jovens vivem adormecidos pela
propaganda dos meios de comunicação de massa e alienados por imposições culturais e pelo pragmatismo
imediatista que tem gerado novos problemas em seu amadurecimento afetivo” (SD 112).
“Há, contudo, adolescente e jovens que reagem ao consumismo imperante e se sensibilizem diante
das debilidades do povo e da dor dos mais pobres. Buscam inserir-se na sociedade, rejeitando a corrupção
e gerando espaços de participação genuinamente democráticos... Vão carregados de perguntas vitais.
Representam o desafio de articular um projeto de vida pessoal e comunitário que dê sentido a suas vidas,
logrando assim a realização de suas capacidades” (SD 112).
No conjunto da juventude, considerada como corpo social, surgem setores determinados pela
condições socioeconômicas ou culturais e relacionados com os ambientes em que vivem os jovens. É
importante considerá-los detidamente porque o meio específico no qual se desenvolve a vida dos jovens,
suas necessidades, problemáticas e interesses influem decisivamente na definição da ação pastoral e das
propostas de formação e espiritualidade que se quer desenvolver.
2.3.1. Os jovens da roça e do campo
São jovens que vivem no campo, realizando tarefas agrícolas, ou em povoados onde estudam e/ou
trabalham. Sua relação fundamental se dá com a terra, gerando características culturais particulares e um
especial forma de viver e entender a relação com a vida, a terra e a religião. Apesar da importância que o
trabalho de campo e seus produtos têm para as economias latino-americanas, as estruturas tradicionais do
setor e os condicionamentos da sociedade os impedem de intervir, muitas vezes, como grupo social
coerente no processo de desenvolvimento. Em muitos casos, a terra deixou de ser a “mãe” para tornar-se
fonte de dor e de morte.
Algumas características desse setor são:
4
Cf. João Paulo II, No limiar da esperança
◊ O período juvenil no mundo camponês é muito breve. Os jovens assumem, desde cedo,
responsabilidade próprias do mundo adulto, tanto pelo trabalho como pelo casamento e pela
nova família.
◊ Diferentemente dos que vivem em zonas urbanas, esses jovens têm poucas possibilidades para
expressar-se e progredir. Quando as têm, são muitas vezes manipulados e/ou alienados por
agentes externos às suas comunidades. As organizações sociais e políticas do campo são, com
frequência, fortemente reprimidas, o que dificulta seu funcionamento e sua ação em defesa dos
direitos e da melhoria das condições de vida.
◊ A não propriedade da terra, o alto custo dos insumos agrícolas, o baixo preço que se paga pela
produção e a falta de políticas governamentais para o desenvolvimento do campo obrigam-se a
abandonar a terra e migrar para as cidades em busca de melhores oportunidades. Surgem, assim,
grandes setores de sem-terra, com todas as consequências que esse fenômeno gera.
◊ Embora tenha aumentado a escolaridade, grande número de jovens não tem possibilidades ainda
de ingressar no ensino médio. Muito poucos conseguem chegar à universidade. Os programas
educativos oferecidos os mundo do campo e da roça não respondem, em geral, a seus valores
culturais nem às suas necessidades básicas de desenvolvimento. Muito poucos são bilíngues.
◊ A família continua sendo salvaguarda e potencial básico para o desenvolvimento e o crescimento
dos jovens do campo e da roça. A situação social geral, contudo, incide de tal forma que, pouco a
pouco, também a família do campo e da roça vai se desagregando e sofrendo as consequências da
migração.
◊ As comunidades do campo e da roça mantêm vivos valores humanos, profundos, como a
hospitalidade e a solidariedade. A religiosidade popular e um espírito cristão enraizado dão-lhes
uma sabedoria e uma espiritualidade que se caracterizam pela confiança em Deus, pela
honestidade, pela valorização e pela compreensão dos sofrimentos próprios e , sobretudo, dos
sofrimentos dos outros.
◊ Os jovens do campo e da roça estão abertos ao comunitário e ao cooperativo. Sua experiência e
valorização da pobreza e do sacrifício fazem-nos capazes de tentar novas formas de empresas
comunitárias, guiadas por critérios realmente humanos e não meramente economicistas.
◊ Em maior escala que outros, alguns setores jovens do capo e da roça são pressionados e muitas
vezes utilizados pelo movimentos guerrilheiros, pelos que se dedicam ao cultivo da droga e ao
narcotráfico e pelo Exército.
2.3.2. Os jovens estudantes
Os jovens estudantes do 1º e do 2º grau não recebem, em geral, uma atenção especializada e
diferenciada. Trata-se de um grupo no qual coexistem quem ainda é adolescente e quem já ingressou na
etapa juvenil. Sua caracterização provém de sua localização no ambiente escolar, que continua sendo,
apesar de tudo, um dos meios onde se congrega, normalmente, maior quantidade de jovens.
Algumas características desse setor são:
◊ Valorizam a escola como espaço de encontro, formação, socialização e desenvolvimento pessoal.
Muitos deles, contudo, não sabem para que estudam. Fazem-no por obrigação, para ocupar o
tempo, encontrar-se com seu amigos ou por costume. Muitos estudam procurando chegar a “ter
coisas”, profissionalizar-se, ganhar dinheiro ou vencer na vida. São poucos os que,
conscientemente, buscam a escola como espaço para a cultura, a humanização, a ciência e o
conhecimento.
◊ Apesar do avanço das ciências pedagógicas, os métodos utilizados não respondem, muitas vezes,
os dinamismos reais da vida dos jovens. Continua-se ensinando em relações verticais, e o método
de repetição deixa pouco espaço para a criatividade e a iniciativa. O sistema de aprovação
promove a competição e impulsiona a querer ser mais que os outros. A educação continua sendo
considerada por muitos como um processo de acumulação de conhecimentos. Descuidam-se
outros aspectos importantes da formação integral, como a educação dos sentimentos, o
desenvolvimento da sensibilidade e do sentido ético. Nas aulas, promovem-se práticas e valores
relacionados com o neoliberalismo vigente.
◊ O sistema educacional ainda se mantém vivo alheio à realidade. Não prepara para a vida e os
compromissos na sociedade. Ao terminar seus estudos, muitos se sentem frustrados. Descobrem
que não lhes servirão nem para conseguir um trabalho ou assegurar o futuro.
◊ A crise econômica faz com que os estudantes se vinculem cada vez mais ao mundo do trabalho,
para colaborar economicamente com suas famílias ou para manter-se nos estudos. O tempo
limitado para dedicar-se ao estudo leva a um rendimento acadêmico menor e a menor formação.
◊ Nos primeiros anos das aberturas democráticas, e por influência do espírito pós-moderno, os
estudantes aparecem como grupo apático, desorganizado e com pouca capacidade de ação, até
na estrutura acadêmica. Apesar de tudo, buscam espaços para serem protagonistas, aceitando
propostas fáceis como a violência, as gangues, as drogas e o álcool, ou as respostas construtivas
como os grupos de estudo, o encontro, o esporte, a ação social ou a participação no movimento
estudantil.
◊ Nesse grau de ensino normalmente se abrem ao sentido crítico, à inquietude social e às primeiras
experiências da participação ativa. As atividades solidárias ou comunitárias e o encontro com
situações de maior pobreza movem-nos a querer novos modelos de educação e novas formas de
sociedade.
◊ Têm uma forte influência, imposta ou herdada, da vida de fé de seus pais. Têm, por isso mesmo,
uma atitude de inconsciência e inércia ou de rejeição e questionamento à religião. O sentido da fé
se faz mais vivo, porém, quando os motiva para o compromisso e a solidariedade e quando lhes é
apresentada como resposta às suas buscas de uma religiosidade alegre, espontânea e juvenil.
2.3.3. Os jovens operários/trabalhadores
São jovens das famílias populares de operários, trabalhadores, empregados, subempregos,
desempregados e artesãos. Seu número aumenta cada vez mais como consequência das novas situações
de pobreza geradas pela aplicação de políticas neoliberais.
A maior parte deles tem dificuldades para encontrar trabalho. Quando o encontram, vêem-se
forçados muitas vezes a ser “mão-de-obra barata” e não especializada. Inseguros diante das
transformações que a tecnologia impõe ai trabalho industrial, estão continuamente expostos à
possibilidade de desemprego. São economicamente frágeis e frequentemente não têm possibilidades para
uma realização vocacional verdadeira.
Algumas características desse setor são:
◊ Faltam empregos. Os que existem são instáveis. As exigências de “experiência” e “garantias” que
lhes fazem para dar-lhes uma oportunidade de trabalho estão, na maioria da vezes, muito além de
suas possibilidades. Isso os condena a ficar desempregados ou subempregados e permite que só
uma minoria consiga um trabalho estável e bem-remunerado.
◊ Vivem uma situação crítica pelo baixo nível salarial e pela instabilidade do trabalho. Seu trabalho é
menos considerado que o capital. Muito deles – especialmente as mulheres – são explorados de
diversas formas, com tratamentos desiguais e desumanizantes.
◊ Os sofrimentos, a repressão e o sentido de luta deram aos operários e trabalhadores um espírito
popular autêntico na ação pela verdade e pela justiça, embora, em alguns casos, a politização
distorça a finalidade de suas organizações.
◊ Tentam viver num espírito solidário e de luta por seus direitos. Fazê-lo, no entanto, torna-se cada
vez mais perigoso. As leis trabalhistas são aplicadas arbitrariamente e as organizações sindicais
são mal-vistas limitadas ou reprimidas. Apesar das dificuldades, os sindicatos ainda são um
expressão viva e válida do Movimento Popular.
◊ Com frequência são utilizados pelos partidos políticos, mais para suas finalidades e estratégias do
que para defender seus direitos e responder às suas necessidades. Muitos se prestam a esse jogo
com a esperança de sair de sua situação e superar seus problemas econômicos.
◊ Cansados das difíceis circunstâncias de sua semana de trabalho, procuram esquecer sua situação
de excluídos e divertem-se em busca de algo diferente que nem sempre conseguem identificar.
2.3.4. Os jovens universitários
Os jovens universitários são os que têm mais possibilidades de viver sua juventude. Têm um campo
de ação vital e relacional no qual podem desenvolver ações próprias à sua condição de jovens, como
assembleias, participação no movimento estudantil, participação nos conselhos das Universidades e muitas
outras formas que o meio lhes proporciona.
Algumas características desse setor são:
◊ O crescimento dos espaços físicos e o sistema aberto, implantado nas Universidades nas últimas
décadas, permitiram o acesso ao ensino superior a jovens provenientes dos setores médios da
sociedade e, também, embora em menor medida, os jovens dos setores populares. O ingresso
cada vez mais marcado, contudo, pela competição, pelos altos custos e pelas exigências dos
programas de excelência acadêmica.
◊ Muitos jovens universitários vivem marcados pela insegurança. Seu futuro profissional é incerto.
Com muito esforço, conseguem obter o diploma universitário. Mesmo com o diploma, não
conseguem emprego nem colocação profissional na sociedade. Não são poucos os formados que
se vêem obrigados a realizar trabalhos diferentes e, muitas vezes, até mais bem remunerados que
as próprias profissões.
◊ A realidade universitária leva-os a enfrentar, frequentemente, de maneiras muito diferentes e
com maior ou menor grau de consciência, a relação entre fé e ciência. Nos últimos anos, vem-se
percebendo uma abertura maior aos valores espirituais e religiosos e a todo tipo de experiências –
especialmente orientais e mágicas – em busca do transcendente. Entretanto, nem sempre há
oportunidades para a formação e aprofundamento dos critérios éticos. Por isso, a vida de muitos
jovens universitários está desarticulada. Agem de maneira diferente na Universidade do que com
sua família, seu namorado(a), seus amigos e a Igreja.
◊ O ambiente universitário e os níveis de formação adquiridos provocam em muitos jovens uma
certa atitude de rejeição de seus ambientes e classes de origem. O serviço profissional não é
percebido como ligado à comunidade; nem a atividade profissional a um modo de vida sem busca
de lucro.
◊ A grande maioria dos universitários trabalha e estuda. Isso dificulta sua vida universitária plena e
sua participação como protagonistas nas atividades, na tomada de decisões e nas ações de
extensão e pesquisa da Universidade.
◊ Muitas organizações acadêmicas e políticas de universitários que tiveram, por certo tempo,
importante protagonismo estão atualmente desarticuladas e sem capacidade de ação. É
necessário encontrar formas novas e novos canais de participação. Existe apatia, igualmente,
pelas atividades políticas e partidárias. São consideradas manipuladoras e falsas. Há ceticismo
quanto às propostas de desenvolvimento e de participação comunitária.
◊ Alguns cristãos são reconhecidos pelos valores evangélicos que são capazes de testemunhar e
pela força das opções da Igreja latino-americana pelos pobres, a luta pela justiça e pelos direitos
humanos, a defesa da vida, a promoção social e a transformação das estruturas e situações
injustas. Mas não devem se considerar os únicos que têm esse tipo de compromisso.
2.3.5. Os jovens indígenas
A cultura latino-americana deve boa parte de suas características às culturas indígenas que foram
conhecidas quando do descobrimento e da conquista do continente. Sua sobrevivência constitui um
desafio para a evangelização, não somente porque no contato com a religião dominante – a católica – deu-
se uma forma peculiar de mestiçagem religiosa, mas porque o esmagamento socioeconômico que esses
povos suportam está exigindo uma conscientização libertadora que não pode esquecer o componente
religioso de suas etnias.
Algumas características desse setor são:
◊ Os povos originários têm um sentido de unidade familiar e tribal, caracterizando-os por sua
solidariedade e pelos valores comunitários. Isso os leva a lutar contra a desagregação e o
individualismo que a sociedade neoliberal lhes impõe. Os jovens participam dessa luta de todos os
povos.
◊ Seu sentido religioso expressa sua relação transcendente com Deus a partir das próprias vidas e
da relação que têm com a natureza das coisas. Daí, valores tão genuínos como a contemplação, a
piedade, a sabedoria popular, as festas e a arte expressarem suas íntimas e mais fecundas
vivências espirituais.
◊ A maioria dos povos, despojados de suas terras, marginalizados e vivendo em situações inumanas,
aparece com os mais pobres entre os pobres da América Latina. Sendo os primeiros habitantes e
donos destas terras, devem ser reconhecidos seus direitos a uma justa demarcação e a um espaço
vital que não só garanta sua sobrevivência, mas permita, sobretudo, conservar sua identidade
como grupo humano, como povo e nação. Seu patrimônio cultural e sua participação social dão
vigor renovado ao continente.
◊ Há um crescente despertar para os valores autóctones e para o respeito à originalidade das
culturas e comunidades indígenas. Esse sinal de esperança, contudo, vê-se ameaçado pela
influência dos modelos culturais das sociedades nacionais, majoritárias e dominantes, cujas
formas de vida, critérios e escalas de valores geralmente atentam contra essas culturas.
◊ A defesa da identidade e da cultura de seus povos, a integração com outras culturas e outros
desenvolvimentos sociais e sua própria articulação são alguns dos grandes desafios que estão
sendo colocados nas mãos da juventude indígena.
2.3.6. Os jovens afro-americanos
Constituem uma parte considerável da população juvenil do continente. São um grupo étnico cuja
identidade se estabelece em relação às suas raízes africanas e à sua inserção no continente americano.
Têm sido vítimas da escravidão e de um longo processo de marginalização histórica, social e econômica,
bem como de uma atenção evangelizadora deficiente.
Algumas características desse setor são:
◊ Sua história é marcada pelo desenraizamento do continente africano, de sua cultura, de sua terra
e de sua família. Trezentos anos de escravidão deixaram uma profunda marca de ressentimento e
negatividade em seu estilo de vida e em sua maneira de ser.
◊ O racismo e os preconceitos sociais continuam sendo muito reais. Isso pode ser constatado no
trabalho, ao se perceber que a maioria da população negra trabalha em ocupações manuais com
remuneração muito baixa; na discriminação que os impede de viver como pessoas iguais às
demais e na forma como são tratados por muitos meios de comunicação, que os apresentam
como seres inferiores e perigosos.
◊ É cada vez maior o número de jovens e pessoas que optam por uma reafirmação de sua
identidade cultural e de suas raízes africanas. Assumem sua negritude e lutam para resgatar,
recriar e vivenciar elementos valiosos de sua cultura. Ao mesmo tempo, a manipulação
sociocultural da estrutura dominante lava-os a não assumir a sua cultura, a envergonhar-se de sua
origem e a assumir formas de comportamento próprias de outros grupos culturais.
◊ É cada vez maior o número de jovens e pessoas que optam por uma afirmação de sua identidade
cultural e de suas raízes africanas. Assumem sua negritude e lutam para resgatar, recriar e
vivenciar elementos valiosos de sua cultura. Ao mesmo tempo, a manipulação sociocultural, a
envergonhar-se de sua origem e a assumir formas de comportamento próprio de outros grupos
culturais.
◊ Assim como os jovens indígenas, a defesa da identidade e da cultura de seus povos, a integração
com outras culturas e outros desenvolvimentos sociais e sua própria articulação são alguns dos
grandes desafios que estão nas mãos dos jovens afro-americanos.
2.3.7. Os jovens em situações críticas
Trata-se d setor de jovens que se encontram em situações sociais conflitivas ou em desvantagem
social, não lhes permitindo um pleno desenvolvimento como pessoas.
São consequência das contradições da própria sociedade que, na vida diária, contradiz o significado
original do que é a juventude – etapa de aprendizagem, de opções, de estudos, de incorporação na vida
social e produtiva, de idade do dinamismo, da alegria e da esperança – e mostra um contexto de pobreza,
desigualdade, marginalidade e desumanização. É o que se vem chamando de “cultura da morte”.
Ao falar em situações críticas, deve-se ter em conta que a crise da juventude é uma crise
generalizada. Todo o setor juvenil vive uma situação de desvantagem simplesmente pelo fato de ser jovem
e viver num contexto social conflitivo. É uma crise diversificada que, tendo uma mesma raiz, expressa-se
em diferentes manifestações e condutas, como a toxicomania, a delinquência, a prostituição etc. É uma
crise individualizada. Cada jovem vive sua própria história de sofrimento diferentemente das demais
pessoas.
As situações de crise que a juventude vive não é senão reflexo das crises que a sociedade vive.
Podem ser entendidas como as tensões ou problemáticas agudas do setor juvenil em suas distintas ordens
ou como momentos de ruptura com o estabelecido, mas com infinitas possibilidades de mudança e de
transformação.
Alguns elementos para uma descrição dos jovens em situações críticas podem ser os seguintes:
◊ São os que vivem ou convivem em situações de injustiça, miséria, intolerância, desintegração
familiar e desamor que os levam a situações-limite toxicomania, alcoolismo, prostituição, abuso
sexual, violência, infração à lei, suicídio, uso inadequado da sexualidade, infecção por HIV, etc – e
a atentar contra a sua própria vida e a vida dos que os rodeiam.
◊ São os mais vulneráveis ao envolvimento em alguma situação crítica, por dificuldades pessoais
como a baixa auto-estima, a insegurança, a solidão, a timidez, a ansiedade, o ressentimento e a
pouca capacidade de questionar, analisar e tomar decisões.
◊ São os que, não encontrando espaço em instituições fundamentais como a sociedade, o Estado, a
Igreja, a escola, a família – porque lhes negaram os direitos primordiais para se desenvolver e
crescer como pessoas -, optam por alternativas que os levam a situações limites.
◊ São os que, vítimas da manipulação e da alienação dos meios de comunicação de massa, criam
para si mesmo falsas necessidades que buscam satisfazer de maneira equivocada, a partir de uma
percepção distorcida da realidade, assumindo atitudes e comportamentos que os levam a perder
a sua identidade.
Os jovens em situações críticas não são um grupo específico fácil de delimitar socialmente. Nem
sempre se encontram os grupos com características comuns. A classificação apresentada a seguir ajuda a
localizar o tipo de problemática e a maneira de atendê-los.
a) Os jovens dependentes das drogas
A toxicomania – incluído o álcool – é um problema crescente entre a juventude. A toxicomania é
entendida como um problema de saúde; a pessoa torna-se dependente dos efeitos físicos e psicológicos
produzidos por uma substância alheia a seu organismo. O abuso de tais substância tem efeitos nocivos
para sua vida individual, familiar e social.
A toxicomania tem entre suas causas, a personalidade fraca dos adolescentes e sua baixa auto-
estima; a influência do meio ambiente; as relações com outros jovens consumidores; os interesses
econômicos de quem produz, processa e trafica; a desorganização familiar e a falta de educação que
previna contra os danos causados pela às substância tóxicas.
• Há diferentes tipos jovens consumidores de drogas; os que somente as experimentam por
curiosidade ou por pressão do grupo, os que as usam de maneira frequente, porém mantendo
certo controle; e os que já estão numa etapa em que necessitam da droga para poder viver.
• Caracteristicamente, os jovens dependentes têm problemas afetivos, são manipuladores,
abandonam a escola, evitam a autoridade e rejeitam o cumprimento de normas sociais, como
compromissos familiares, profissionais e políticos. Alguns negam a própria doença; outros a
reconhecem e solicitam apoio para se reabilitar.
• A toxicomania tende a aumentar nas grandes cidades. A idade em que se inicia o consumo é cada
vez menor, o que significa que muitos estão começando a se drogar ainda crianças.
b) Os jovens que delinquem
A delinquência de adolescentes e jovens pode ter diferentes causas. A principal é a pobreza, que os
leva a delinquir para buscar subsistência e ajudar a economia familiar. Também pode ser produzida por
fatores de personalidade, pela dinâmica disfuncional da família, pelo meio ambiente criminógeno e pela
resposta de alguns jovens à repressão ou ao fato de se sentirem vítimas da exploração.
• Deve-se distinguir os jovens que têm alguma conduta anti-social ou delituosa, imprudente ou
pouco grave, daqueles que adotam um estilo de vida totalmente fora das regras sociais ou que já
fazem parte da delinquência organizada. São situações diferentes.
• A maioria dos jovens delinquentes reproduz o modo de vida da sociedade a que pertencem.
Reagem com a mesma violência, desonestidade e corrupção que imperam na sociedade e com as
quais esta os agride. Alguns viveram situações dramáticas. Não tiveram uma socialização
adequada e têm um baixo nível de controle dos impulsos e de tolerância à frustração. A introjeção
de normas e limites é muito deficiente. Os “delinquentes” não surgem de um momento para o
outro. Surgem como consequência de um processo em que as pessoas ou grupos vão se afastando
progressivamente de um comportamento socialmente aceitável.
• São jovens muito sensíveis à crítica e à provação ou desaprovação de quem os rodeia. Por serem
estigmatizados pela sociedade, costumam isolar-se. Suas relações são superficiais. Eliminados os
estigmas sociais, desaparece o sentimento de culpa e aumenta a possibilidade de reintegração à
sociedade, buscando-se uma atividade produtiva honesta e estabelecendo-se relações de
confiança.
• Quando têm problemas com a lei ou estão presos, atemorizam-se, deprimem-se e procuram
mudar. Muitas vezes, porém, sua própria realidade impede a transformação e os leva a problemas
ainda maiores. Por causa das deficiências do sistema judiciário, muitos têm de suportar abusos de
autoridades e a violação de seus direitos. Normalmente, recebem mais castigos que medidas de
orientação e de reintegração social.
c) Os jovens na prostituição
As jovens entram na prostituição geralmente por razões econômicas. Como na situação anterior,
também aqui a pobreza leva a essa forma de atividade como meio de consecução dos recursos
necessários à subsistência. Influem, igualmente, os conflitos familiares, especialmente os
relacionados com a figura do pai ou de algum familiar. Já casos em que a própria família as obriga
a se prostituir. Agem sob pressão de máfias que primeiro as atraem e seduzem, e depois as
exploram até deixa-las enredadas em “obrigações” e “serviços”.
• Caracteristicamente, são mulheres que se valorizam pouco. Desde pequenas tiveram problemas
afetivos ou foram vítimas de abusos sexuais, de maus-tratos físicos ou psicológicos. Normalmente
são desconfiadas. Têm dificuldades para manter relações conjugais estáveis. São inseguras e
necessitam de alguém que as proteja.
• Quando engravidam, costumam proporcionar boa atenção a seus filhos, embora às vezes os
abandonem. Reproduzem os padrões de educação e relacionamento que receberam. Envolvem-se
facilmente no consumo e no tráfico de drogas e são muito sensíveis ao reconhecimento que
recebem da sociedade.
• Nas grandes cidades está aumentando a prostituição masculina, homossexual e infantil que, assim
como a prostituição feminina, consiste no oferecimento de satisfações sexuais em troca de
dinheiro. Acarreta graves consequências a quem a exerce, porque perde o sentido de sua vida e o
valor de sua dignidade. Ficam sujeitos à exploração e ao abuso, além de correrem graves riscos de
saúde e de segurança.
Alguns dos que vivem essa situação aceitam-na e não têm dificuldades para apresentar-se
socialmente como homossexuais. A grande maioria, contudo, sofre por ter de expor-se assim numa
sociedade que não reconhece e castiga a homossexualidade como uma conduta moralmente desviada.
Nos últimos anos têm surgido numerosos movimentos de homossexuais e lésbicas exigindo respeito
à sua condição, proteção a seus direitos humanos e maior participação sócio-política. Como é próprio das
minorias ativas, alguns de seus posicionamentos têm sido assumidos pelo pensamento social. Por isso
encontram-se, especialmente entre os jovens, expressões a favor de uma cultura que seja mais tolerante
com os homossexuais. Esses debates sacodem igualmente a Igreja e repercutem na postura que esta toma
para atender pastoralmente a esse setor, tendo em conta que se trata de um grupo normalmente sensível
ao transcendente e a espiritual.
d) Os jovens soropositivos e doentes de AIDS
Trata-se de um grupo em crescimento, já que a síndrome da imunodeficiência adquirida é uma
doença que avança em ritmo acelerado, particularmente entre os jovens e os adultos em idade produtiva.
A doença tem duas fases. Na primeira, chamada soropositividade assintomática, a pessoa que
incorreu em alguma conduta de risco infectou-se com o vírus da imunodeficiência humana, porém não
desenvolve a doença, embora possa transmiti-la. Na segunda fase, aparecem os diferentes sintomas e
sinais, e a doença se manifesta plenamente até levar à morte.
• Num primeiro momento, procurou-se identificar esses setores com a população homossexual,
com as prostitutas e drogados. Os estudos, no entanto, confirmaram que não se trata de uma
doença exclusiva de quem vive em situações sociais críticas. Qualquer pessoa pode vir a contraí-la,
na medida em que se desenvolva comportamentos de risco como contatos sexuais com troca de
fluxos, promiscuidade, uso compartilhado de seringas de drogas intravenosas, via perineal,
transfusões de sangue, etc.
• Muitas pessoas e, principalmente, muitos jovens, mesmo sem sabê-lo, estão contagiados. Quem
já se sabe contaminado costuma sucumbir ao desespero e à angústia. Os que estão na etapa de
manifestação da doença sofrem de corpo e alma. Desesperam-se porque sabem que por ora não
há cura possível, os remédios que atenuam o processo são muito caros e os serviços de saúde,
insuficientes. Sofrem igualmente porque começam a experimentar a rejeição e a separação de
suas próprias famílias, de seus amigos e comunidades.
• A AIDS abriu espaços para a discussão e para que se suscitassem grandes desafios de natureza
psicossocial, pastoral e moral, relacionados, entre outros, com o uso de preservativos, a
fidelidade, a castidade, os exames de laboratório para a detecção do HIV, o tratamento dos
doentes, o apoio familiar, os direitos dos doentes, as políticas sociais de saúde e a dotação
orçamentária, a educação, a prevenção, a atenção pastoral, os grupos religiosos que, diante desta
situação, procuram se aproximar da população contaminada, etc.
e) Os jovens com deficiências
Trata-se de um setor socialmente desarticulado, mas numerosamente significativo. São jovens
que sofrem algum tipo de invalidez e que têm sérios problemas físicos, psicológicos e sociais,
como paralisia cerebral, síndrome de Down, psicoses e outras doenças mentais, deficiência visual
ou auditiva, paralisia, etc. Muitos sofrem essa situação de desvantagem social desde o nascimento
ou desde a infância. Outros foram acometidos mais recentemente, como é o caso daqueles
gravemente vitimados por intoxicação com drogas ou pela violência e pela guerra.
• Alguns estão sob cuidados de suas famílias. Outros permanecem em hospitais ou centros
especializados. Há quem viva e morra relegado à solidão e ao abandono. Sofrem por suas próprias
doenças e limitações permanentes, pela constante necessidade de receber serviços reabilitadores
de saúde, pela insatisfação existencial, pelo estado psicológico de depressão, angústia familiar,
pela dificuldade de serem reconhecidos e ajudados socialmente e pelos problemas econômicos
que sua situação e recuperação acarreta.
• É particularmente preocupante sua difícil integração à sociedade, de maneira produtiva e auto-
suficiente. O sistema econômico neoliberal exclui os improdutivos, obrigando-os a ser
dependentes, a se tornar um fardo para as suas famílias e a viver sujeitos à assistência e até
mesmo à mendicância.
• Requerem uma atenção especializada em matéria educativa, legal, de saúde, econômic,
trabalhista profissional e, evidentemente, pastoral. Neste campo, as experiências que existem são,
na maioria do tipo assistencial. Não promovem a auto-suficiência nem a participação social e o
compromisso com os deficientes.
• Junto aos deficientes, suscita-se o desafio de acompanhar também os que os atendem e suprem
suas necessidades familiares, amigos, profissionais, agentes de pastoral, homens e mulheres de
boa vontade com um alto espírito de entrega, mas que, ao mesmo tempo, precisam satisfazer
suas próprias necessidades e resolver seus próprios problemas para poder ajudar aos
necessitados.
f) Outras possíveis situações críticas
Com uma situação social tão difícil e com uma juventude tão vulnerável, é bem provável que existam
outras situações críticas que obstaculizem seu pleno desenvolvimento e promoção humana.
Analisando a realidade da juventude e acompanhando de perto os grupos de jovens, será possível
descobrir novas situações críticas que, sem deixar de lado a visão e a ação integral e de conjunto,
podem ser atendidas pastoralmente. É o caso das mães solteiras, das vítimas de abuso sexual, dos
casais novos em crise, dos jovens encarcerados, etc.
2.4 A nova visão cultural-simbólica
A visão cultural simbólica não desconhece as contribuições das visões anteriores para compreender
os jovens. Pelo contrário, integra-as e lhes dá um sentido novo. Busca responder aos questionamentos que
surgem sobretudo quando se olham as aceleradas e profunda mudanças culturais que estamos vivendo.
Não se deve esquecer que a juventude surge, historicamente, como um fenômeno próprio da cultura
emergente, a partir dos processos de urbanização. Desde o começo a juventude aparece pouco
homogênea. Diferentes formas culturais correspondem a uma variada gama de condições juvenis que
evoluem em ritmos próprios. Por isso, pode-se falar de um universo cultural dos jovens, definido por uma
enorme variedade de formas de viver a vida e de encontrar sentido para a existência. Nele se dá um
processo múltiplo e contraditório de formas, fruto do tecido de relações que os jovens vão estabelecendo
com as diversas instâncias socializadoras.
Esse universo se compõe de “culturas jovens” ou espaço sociais de confluência, de encontro, de
identificação, de liberdade entre iguais, que expressam traços semelhantes, como uso do espaço, gostos,
formas expressivas e de significação, linguagens, etc. Apesar das diferenças, todas se caracterizam pela
contestação à cultura tradicional. Põem em xeque e reelaboram as propostas das diferentes instituições.
Constituem fontes de resistência contra toda ordem imposta e de rejeição ao código dominante.
Ultimamente, estão-se compreendendo mais como “ambientes”, “atmosfera”,”sensibilidades”,
“comunidades culturais” geradoras de significação, nas quais coexistem elementos de diferente natureza,
sociais, políticos e econômicos. Para entender essa nova sensibilidade dos jovens, é necessário retomar a
referência à pós-modernidade, que está gerando um fenômeno cultural de polaridades em tensão: de uma
cultura do “uno”, está-se passando para uma cultura do “plural”; do “definido” para o “ambíguo”; do
“linear” para a “rede”.
Nesse sentido amplo, as culturas juvenis referem-se à maneira como as experiências sociais dos
jovens se expressam coletivamente mediante a construção de estilos de vida diferentes, localizados
fundamentalmente no tempo livre ou em espaços intersticiais da vida institucional. Num sentido mais
restrito, são microsociedades com graus significativos de autonomia em relação às instituições adultas.
Os jovens de hoje criaram verdadeiros movimentos culturais que conjugam fatores institucionais com
fatores de ordem subjetiva. Recentes estudos apontam alguns traços das sensibilidades dessas culturas
juvenis. São diversas, não-homogêneas e contra-culturais; têm a ver com atmosferas ou ambientes
geradores de significado que não coexistem nem constituem em período cronológico nem um setor.
Alguns desses ambientes são a irracionalidade, expressa no delírio, na droga e nas seitas; a rebelião
expressa no antiautoritarismo, na não-escola e na evasão; a intimidade, expressa no afetivo-sexual e nas
novas formas de ser família, como as comunidades; a identidade no consumo, expressa nas modas; e a
paz. Expressa no antibelicismo e no não à guerra.
Sua característica comum é a mutabilidade permanente, a instabilidade, o nomadismo e o estar de
passagem. Não obstante seu caráter nômade, podem esboçar-se modas ou horizontes comuns de gostos
que fazem com que se tornem familiares uns aos outros e, ao mesmo tempo, os diferenciam.
Os jovens vivem e apreciam modas que não obedecem a um princípio ordenador da realidade, mas à
possibilidade de correspondência. O “gosto” é a correspondência, mais ou menos conflitiva, de objetos
culturais e valores. A moda é uma forma de expressar publicamente sentidos compartilhados
culturalmente. Na comunicação ou no âmbito dinâmico de circulação de sentidos partilhados, os jovens
tomam objetos culturais de alto consumo (vídeos, músicas, roupas...) e os ressignificam.
Neste contexto, aparece o lúdico como um dos eixos e conceitos explicativos das identidades juvenis.
O lúdico entendido como o território dos estados de disponibilidade e abandono nos quais os jovens se
situam. São estados que escapam a toda intencionalidade utilitária. Levam-nos a uma forte experiência de
ser jovem, cuja raiz está na liberdade do jogo. Um jogo sem regras, nas atividades livres do prazer, na festa,
na criação artística, nos sonhos e na prática do imaginário.
Recupera-se, assim, a dimensão estética da vida, que permite um acesso à totalidade da realidade a
partir de um ângulo que não o da racionalidade iluminista. Trata-se de uma compreensão do mundo a
partir das formas sensíveis. A partir do gosto, da relação mediada por símbolos e do universo dos desejos.
A partir dessa dimensão tomam sentido, para as culturas juvenis, todos os demais assuntos e temas.
Ao observar essas culturas juvenis, não se pode deixar de perceber as notáveis diferenças entre os
jovens das grandes cidades, os jovens dos pequenos povoados ou dos jovens que vivem no campo. Em
todos esses casos, é necessário um especial discernimento das riquezas de sua cultura juvenil.
A visão sociológica, que considera a juventude como corpo social, permitiu reconhecer diferentes
setores, condicionados por distintas características socioeconômicas e culturais. Pela caminhada da
Pastoral da Juventude Latino-Americana e pelo papel decisivo que os fatores socioeconômicos
desempenham no passado, presente e no futuro do continente, deu-se uma ênfase especial à
apresentação da situação social dos jovens em seus respectivos setores. Não se deve desconhecer,
contudo, o papel dessas novas comunidades culturais ou de sentido, as novas sensibilidades a partir das
quais os jovens se apropriam e ressignificam sentidos e modos de ver e de viver. É necessário explorar
melhor as novas sensibilidades que se constituem em novas pistas para conhecer e amar os jovens.
Essa tentativa de olhar de forma mais ampla o juvenil leva a reconhecer a importância da pessoa de
cada jovem, do contexto socioeconômico a partir do qual eles constroem suas identidades e das novas
comunidades culturais ou sensibilidades que impregnam todos os ambientes e setores. Uma pastoral da
juventude que queira responder realmente às necessidades dos jovens não pode desconhecer nenhuma
dessas dimensões.
Ao olhar os jovens hoje, a Igreja percebe que eles não são somente destinatários da evangelização.
Cada geração aporta uma sensibilidade própria à sua vivência cristã, possui a capacidade de descobrir
novas dimensões da fé e revela sinais de vida ainda suficientemente explicitados na experiência cristã
(P1169).
3. CONHECER A JUVENTUDE NÃO É FÁCIL
A fé na presença e na ação libertadora de Deus e de seu Espírito na história leva a reconhecer os
sinais de vida que se manifestam na grande diversidade de realidades nas quais vivem os jovens do
continente. Nesses sinais de vida celebra-se a juventude como um dom especial de Deus para toda a
humanidade.
○ Através de caminhos muito diferentes, os jovens buscam respostas à sua necessidade de Deus e às
suas perguntas pelo sentido. De fato, a imensa maioria diz crer em Deus, e um número
significativo está comprometido com o conhecimento e o seguimento de Jesus.
○ Defendem decididamente seu direito de ser sujeitos e protagonistas de toda proposta que tenha
relação com suas vidas. O valor da pessoa e de sua própria subjetividade é um traço muito
significativo que marca a identidade geracional dos jovens de hoje.
○ A mentalidade técnico-racionalista, adquirida na escolaridade, torna-os menos expostos à
resignação e ao fatalismo. Não se sentem obrigados a repetir modelos pelo simples argumento do
costume ou da tradição. A convicção pessoal tem caráter de critério último para a decisão de suas
opções de vida.
○ Desejam menos distância, menos formalismo e maior espontaneidade no trato entre pais e filhos,
entre professores e alunos, entre leigos e sacerdotes e, em geral, em todas as suas relações.
Agrada-lhes conhecer-se a si mesmos e partilhar suas inquietações e intimidades com seus iguais.
Mantêm a mais democrática relação entre os sexos que já houve na história. Têm muitas ocasiões
para participar das experiências geracionais que reúnem outros jovens de diferentes classes
sociais.
○ Vivem a felicidade do momento presente com um sentido de gratuidade, e não como
consequência de merecimentos ou sacrifícios. Têm um forte sentido e grande admiração pela
celebração e pela festa.
A par dessas, há também situações do mundo juvenil ameaçadas por sinais de morte, que se deve ser
anotados e combatidos no trabalho pastoral que se realiza com os jovens.
o No mundo de hoje, o sentido da vida tornou-se plural. Existe um amplo campo de sentidos da
vida. Supõe-se que cada um possa escolher como, por que e para que viver, com autonomia e
independência pessoal. Contudo, o mercado de sentidos manobra muitos jovens e
frequentemente disfarça de escolha a manipulação publicitária que se faz com eles. As diversas e
contrapostas ofertas de estilo de vida debilitam as certeza de muitos jovens, confundem-nos e,
não poucas vezes, levam-nos a experimentar graves contradições internas. Essa confusão agride
sua saúde espiritual, pois produz sentimentos de divisão e rupturas em sua identidade pessoal.
o Muitos jovens se sentem distantes do mundo adulto da participação social e política e das figuras
de autoridade. Em muitos casos, essa atitude esconde um desinteresse por crescer e amadurecer.
Não são poucos os que sentem a tentação de permanecer como estão e renunciar ao esforço e ao
desafio de superar-se, melhorar e assumir novas responsabilidades.
o Na medida em que os jovens se socializam, são impelidos a considerar os demais rivais.
Incorporam desconfiança e temor para a relação com os outros. São cada vez mais escassas as
possibilidades que têm de fazer experiências de solidariedade e cooperação, embora se sintam
naturalmente inclinados a tanto.
o A dificuldade de ingressar na educação superior e, portanto de entrar com relativo êxito no
mercado de trabalho faz com que muitos jovens incorporem uma espécie de desilusão pelas
ofertas e possibilidades que a sociedade tem para eles. São e se sentem excluídos.
o A cultura pós-moderna tende a desencadear um falso sentido de espontaneidade e da
responsabilidade moral. Na prática, isso se traduz num imaturo sentimento de inocência pessoal
em face do mal cometido e do bem omitido. É necessário ajudar a superar essa falsa consciência
moral.
o A sociedade de consumo multiplica os produtos e, para assegurar seu mercado, exacerba a
capacidade de consumir. Um modo de consegui-lo é fazer com que nenhum produto satisfaça
efetivamente as necessidades mais profundas de quem o adquire. Manipula os consumidores para
que vivam num nível superficial, sem contato com as genuínas motivações. Isso leva,
principalmente os jovens, a uma espécie de incapacidade para vivenciar e para interiorizar. Essa
incapacidade faz recorrer permanentemente a estímulos e a novidades para se chegar a sentir que
se está vivo. É o polo oposto da espontaneidade e da vital expressão da alegria de viver.
o A convicção de que a felicidade pode ser uma experiência do presente, e não somente algo que se
alcançará apenas no futuro, encheu a vida de muitos jovens de uma nova luz. A experiência
demonstra, no entanto, que a felicidade completa só se desfruta quando acompanhada da
capacidade de comprometer as energias em tarefas de longo alcance, com horizonte amplo e
projeção social. Uma visão apenas de curto alcance torna estéril a capacidade de gozar e a esgota.
Todas essas situações convidam a estarmos atentos, a discenir e a não permitir que se debilite o
sentido de Deus, de sua ação e presença que convida a apostar, sempre, na vida. Contra a morte.
4. OS JOVENS E A IGREJA
Não obstante a tendência á privatização do religioso e a criação de campos religiosos próprios, longe
do modelo institucional, os jovens latino-americano estabeleceram um diálogo com a Igreja especialmente
atráves da Pastoral da Juventude. Ela já tem um longo caminho percorrido que deve ser valorizado e
avaliado em todos os seus dinamismos e limitações.
Um momento forte desse diálogo foi o Primeiro Congresso Latino-Americano de Jovens, realizado em
Cochabamba (Bolívia), de 18 de dezembro de 1991 a 5 de janeiro de 1992. Ali os jovens manifestaram sua
consciência sobre as riquezas do continente. Ao mesmo tempo, contudo, denunciaram sua situação de
empobrecimento, manipulação, marginalização e até extermínio, como consequência de “um processo
histórico que violentou nossas culturas, direitos e dignidade humana”5
e os fez dependentes econômica,
política, cultural e socialmente.
Definiram-se como jovens “com rostos muito concretos, de classe popular, urbanos, rurais,
trabalhadores, estudantes, desocupados, mineiros, pescadores... com um caminho comum de lutas e
conquistas... porém necessitados de uma identidade latino-americana que nos dê oportunidades e formas
de protagonismos”6
, unidos pela fé em Jesus Cristo numa “busca de perspectivas comuns para enfrentar a
opressão e a marginalização porque seguimos crendo num Deus que nos faz transmitir vida a partir da
pobreza”7
.
Disseram querer “que a Igreja, especialmente a hierarquia, se faça pobre com os pobres, tenha
contato com o povo que sofre, seja servidora e, através de sua ação, assuma a luta do povo pela libertação,
inserindo-se na dinâmica social; que ela seja profética, denunciando a dependência e a pobreza no
continente e os abusos econômicos e políticos, chamando por seu nome a cada injustiça”8
.
Junto com a denúncia clara da injustiça, consideram “necessário o anúncio de critérios e meios para a
construção da sociedade fraterna, alternativa à falsa liberdade que o neoliberalismo propaga e à falta de
liberdade que fez o socialismo real fracassar. Essa atitude deve brotar da reconciliação da Igreja com o
passado e do pedido de perdão pelas sombras que projetou, valorizando também as luzes geradas na vida
da América Latina”9
.
Propuseram “uma Igreja comunidade de comunidades, fraterna, dialogante, compreensiva,
igualitária e sem distinções, organizada com unidade de critérios e de planos pastorais feitos de forma
participativa com pastores amigos dos jovens, em atitude de escuta e de serviço, com leigos responsáveis
em sua vocação... Uma Igreja que priorize a formação de pequenas comunidades encarnadas no ambiente
cultural dos povos... onde a mulher seja reconhecida e valorizada como dinamizadora do corpo eclesial e
social”10
.
Os bispos, por sua vez, reunidos na IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Santo
Domingo, constataram que “são cada vez mais os adolescentes e jovens que se reúnem em grupos,
movimentos e comunidades eclesiais para rezar e realizar distintos serviços de ação missionária e
apostólica” (SD 112). Reconheceram que “os jovens católicos, organizados em grupos, pedem aos pastores
acompanhamento espiritual e apoio em suas atividades. Necessitam, sobretudo, em cada país, de linhas
pastorais claras que contribuam para uma pastoral Juvenil orgânica” (SD 113).
A Igreja continua tendo um grave problema de comunicação com os jovens. Muitas vezes
desconhece suas linguagens, suas sensibilidades, suas lógicas e seus códigos. A rapidez das mudanças
culturais e a condição instável da cultura e do próprio jovem criam-lhe dificuldades para gerar e
5
I Congresso Latino-Americano de Jovens, Quem somos? Nº1, CCJ, São Paulo, 1992.
6
Idem, nº6.
7
Idem, nº8.
8
Idem, Contribuição à IV Conferência Geral do CELAM, nº22.
9
Idem, nº23.
10
Idem, nº24-25
acompanhar processos de amadurecimento humano e cristão. Assim o expressam os responsáveis
nacionais da pastoral da juventude em seus âmbitos latino-americanos de encontro: “A mentalidade
clerical ainda existente; o medo e a insegurança de muitos pastores, seu desconhecimento e conflito com
as novas gerações e seu frequente afã de controle; a não-aplicação dos documentos do Magistério da
Igreja em relação à vocação específica dos leigos e de maneira dualista de entender a relação Igreja-
mundo; a falta de um plano integral e progressivo para o acompanhamento de todo o processo formativo
dos jovens e o paternalismo de alguns assessores... fazem com que se experimente uma falta de
valorização e de aceitação afetiva e efetiva da pastoral da juventude por parte de diferentes setores da
Igreja, pastores e leigos adultos.”11
.
“A existência de diferentes modelos de Igreja leva à separação que se percebe, muitas vezes entre
uma Igreja que afirma mais os aspectos institucionais e uma Igreja que promove mais seu aspecto de Povo
de Deus... Uma visão demasiadamente institucionalista da Igreja, reforçada por um excessivo clericalismo,
promove frequentemente uma espiritualidade desencarnada, um sacramentalismo sem sentido e uma
tendência excessiva a moralizar a vivência da espiritualidade... Alguns setores do mundo adulto relativizam
ou até mesmo desvalorizam a participação dos jovens na Igreja e no mundo. Como não existe uma busca
de diálogo com eles, desconhece-se o esforço que os jovens realizam pessoal e grupalmente para viver sua
espiritualidade”12
.
Não se pode desconhecer os esforços que a Igreja realizou e realiza por encarnar-se e responder com
fidelidade aos desafios do mundo de hoje. A Pastoral da juventude continua abrindo espaços para que o
jovem se expresse e seja Igreja. A Igreja latino-americana adquire um rosto jovem precisamente pela
presença e pelo protagonismo de milhares de grupos e de jovens que a dinamizam e a renovam com sua
ação.
De todas as formas, é preciso que a opção preferencial pelos jovens seja mais efetiva que afetiva, isto
é, que seja “uma opção concreta por uma pastoral da juventude orgânica em que haja um
acompanhamento e apoio reais com diálogo mútuo entre jovens, pastores e comunidades” e na qual se
destinem efetivamente “maiores recursos pessoais e materiais por parte das paróquias e das dioceses” (SD
114).
“ O que requer hoje é uma Igreja que saiba responder às expectativas dos jovens. Jesus deseja
dialogar com eles e propor-lhes, através de seu corpo que é a Igreja, a perspectiva de uma escolha que
comprometa suas vidas. Como Jesus com os discípulos de Emaús, assim a Igreja deve fazer-se companheira
de viagem dos jovens, com frequência marcados pelas incertezas, resistências e contradições, para
anunciar-lhes a “nova” sempre maravilhosa de Cristo Ressuscitado”13
.
11
SEJ – CELAM, Assessoria e acompanhamento na pastoral da juventude – XI Encontro Latino-Americanos de Responsáveis
Nacionais pela Pastora da Juventude, CCJ, São Paulo, 1993, p.9.
12
Espiritualidad y misión de la pastoral juvenil, Santafé de Bogotá, 1995, pp.22-23.
13
João Paulo II, Mensagem à XXXII Jornada Mundial de Oração pela Vocações, 7 de maio de 1995, nº2.
Civilização do amor tarefa e esperança
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Civilização do amor tarefa e esperança

  • 1. CELAM – Conselho Episcopal Latino Americano Seção Juventude - SEJ CIVILIZAÇÃO DO AMOR: TAREFA E ESPERANÇA ORIENTAÇÕES PARA A PASTORAL DA JUVENTUDE LATINO- AMERICANA EDITORA PAULINAS
  • 2. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM. Seção Juventude. Civilização do amor: tarefa e esperança: orientações para a pastoral da juventude Latino-Americana / Seção Juventude; [tradução Hilário Dick]. – São Paulo: Paulinas, 1997. – (Documentos da Igreja na América) Bibliografia ISBN 85-7311-776-1 1.Amor 2.Igreja-Trabalho com jovens3.Teologia Pastoral I.Título.II.Série 97-2429 CDD-253-7 Índices para catálogo sistemático: 1. Jovens : Evangelização: Cristianismo 253.7 2. Pastoral da juventude: Cristianismo 253.7 Digitalizado por www.pjsorocaba.com.br TMotta Título original da obra CIVILIZACIÓN DEL AMOR – TAREA Y ESPERANZA © CELAM – Conselho Episcopal Latino-Americano / Seção Juventude, 1995. Tradução Pe.Hilário Dick Revisão e preparação dos originais Jonas Pereira dos Santos Paulinas Av. Indianópolis, 2752 04062-003 – São Paulo – SP http://www.paulinas.org.br editora@paulinas.org.br Telemarketing – Fone: 0800-157412 © Pia Sociedade Filhas de São Paulo – São Paulo – 1997
  • 3. A Pastoral da Juventude do Brasil faz chegar até você, na versão em português, este precioso livro Civilização do amor: tarefa e esperança, com orientações para uma pastoral da juventude latino-americana. São quatro grandes capítulos – o Marco da Realidade, o Marco Doutrinal, o Marco Operacional e o Marco Celebrativo – que nos brindam com uma riqueza impressionante de elementos, permitindo-nos reavaliar, reorganizar, reafirmar e redescobrir nossas opções pastorais e pessoais. A PJ do Brasil, com a 11ª Assembléia Nacional em julho de 1995, redefiniu sua missão e organização. Está em suas mãos, de fato, o marco referencial da Pastoral da Juventude Latino-Americana e Caribenha e que deve ser o grande horizonte que orienta também a ação, a formação e a espiritualidade da Pastoral da Juventude do Brasil. Convido você a mergulhar nessas páginas e descobrir a riqueza e a novidade da experiência vivida pela pastoral da juventude deste nosso continente: Pátria Grande, Amada Terra, Ameríndia, Amerafro, América Jovem. Lembro, com saudade e reconhecimento, de Juan Ramón, Daniel Bassano, Hilário, Derry, Alejo, Germán, Pe.Horácio Penengo, na época assessor da Pastoral da Juventude Latino-Americana, representaram a PJ das quatro regiões do continente, “trabajaran duro y nos regalaran este maravilhoso documento”1 . Que Deus os recompense por este serviço. E termino com uma prece: “Espírito Santo de Deus, ilumine a Pastoral da Juventude do Brasil e todas as pessoas que amam os jovens, para que se convençam de que a Civilização do Amor é tarefa e esperança a ser abraçada por todos. Maria, mãe da juventude, dá-nos tua audácia e ternura neste bela e desafiante missão. Amém”. Com carinho, Pe.Vilson Basso,dehoniano Assessor Nacional da PJ do Brasil 1 Trabalharam duro e nos presentearam este maravilhoso documento. Apresentação da edição brasileira
  • 4. Foi com satisfação que aceitei o convite de escrever a apresentação da edição brasileira deste livro, Civilização do Amor, tarefa e esperança. O livro é fruto de uma evolução importante do trabalho pastoral da Igreja latino- americana com jovens. Tive o privilégio de participar da articulação inicial da pastoral da juventude latino-americana nos anos 80, como assessor nacional do Brasil. A mola mestra da evolução desse processo foi, e continua sendo, o encontro anual de responsáveis nacionais da pastoral da juventude. A presença contínua de cerca de vinte países fez dessa pastoral talvez a mais dinâmica e comprometida do continente. Não era um secretário-executivo no CELAM fazendo tudo sozinho. Todos assumiram a caminhada; todos participaram das decisões mais importantes. No início, o desnível de clareza do projeto e metodologia de pastoral. Como em todo início de caminhada, houve tensões e conflitos. Depois de vários anos afastados dos encontros latino-americanos, fui convidado para assessorar o XI Encontro em Porto Rico, em 1996. Foi uma surpresa agradável perceber os delegados de todos os países participando em pé de igualdade e comungando o mesmo projeto pastoral. Não havia mais as tensões e conflitos anteriores. Gradualmente, todos haviam chegado ao mesmo nível de reflexão pastoral. Uma mística comum uniu bispos, padres, irmãs, leigos adultos e jovens em seu entusiasmo e esforço por encontrar caminhos mais eficazes de evangelização desse grupo social que tem uma presença-chave no continente. Desde o início, a Pastoral da Juventude do Brasil deu uma contribuição importante. Não conheço outra pessoa na América Latina que tenha feito uma caminhada tão rica e que tenha conseguido aprofundar sua reflexão sem sofrer quebras de continuidade. Não conheço também outro continente que tenha uma experiência pastoral tão significativa. Como expressão desse avanço em termos de clareza de um projeto consequente de pastoral da juventude foi publicado, em 1987, o livro Pastoral da juventude, sim à civilização do amor. Essa obra foi logo traduzida para o português. Participei da equipe de redação desse livro. Foi um grande sucesso e teve papel importante para solidificar os avanços feitos. Mas a velocidade das mudanças culturais, políticas, econômicas, sociais e religiosas criou a necessidade de uma nova edição. A juventude de hoje não é mais a juventude dos anos 80. Nasceu este livro, Civilização do amor, tarefa e esperança, como resposta pastoral aos novos desafios. Os membros da equipe de redação são todos conhecidos pelo seu nível de reflexão e experiência de trabalho pastoral com jovens. A bibliografia no final do livro deixa claro que foram recolhidas as melhores experiências e reflexões no continente. O livro apresenta algo que frequentemente falta aos assessores e coordenadores de pastoral da juventude: uma visão global. Muitos líderes se fixam em visões parciais e são pouco eficientes porque lhes falta a visão do conjunto. Todos os temas tratados no livro são importantes; no entanto, gostaria de chamar a atenção para a riqueza de idéias na análise da realidade, as mudanças culturais, a pedagogia, as etapas dos grupos e a assessoria. Trata-se de uma leitura importante para quem quer fazer um trabalho pastoral sério com jovens e caminhar com a Igreja da América Latina. A Pastoral da Juventude do Brasil deu uma contribuição importante para essa caminhada, mas também tem muito a aprender. Hoje uma crescente consciência latino-americana integra nossa pastoral na tarefa da construção da Pátria Grande. Somos o único continente católico, e, a partir desta fé, a juventude é chamada a construir a Civilização do Amor, que é tanto uma tarefa quanto uma esperança. Jorge Boran Apresentação da edição brasileira
  • 5. Na aurora do Terceiro Milênio, os jovens ocupam um lugar especial no coração da Igreja. Não é exagerado dizer que na geração jovem de hoje se inscreve o futuro da humanidade. O que eles e elas são, hoje, assim serão a Igreja e a sociedade do próximo milênio. É o que intui, certeiramente, o Santo Padre ao dar aos jovens e às jovens um lugar tão destacado em seu pontificado. Com eles celebra encontros e jornadas. A eles dedica tempo, cartas e mensagens. E, quando se encontra no meio da algaravia juvenil, o papa fala sua linguagem e se faz muito sensível a suas preocupações e expectativas. Na Igreja da América e do Caribe, os jovens são opção preferencial. Muito se faz para servi-los e há muitíssimo ainda a ser feito. Não é em vão que a população jovem nos países costuma aproximar-se de 25% do total. Este é nosso orgulho e nosso desafio: ser um continente jovem. Portanto, com um futuro de esperança. Em seu serviço às Conferências Episcopais, o CELAM tem procurado traduzir essa opção em encontros e publicações muito valorizadas. Entre as publicações destaca-se o livro Pastoral da juventude, sim à civilização do amor, com uma enorme difusão nos diversos países da América Latina e do Caribe. Devido a seu impacto, a Seção Juventude do CELAM, ouvido o parecer das Comissões Nacionais de Pastoral da Juventude, decidiu reunir um grupo de especialistas neste campo para atualizá-lo e transformá-lo num obra ainda mais completa. É a que estamos apresentando agora. Seu título é semelhante ao primeiro: Civilização do amor, tarefa e esperança. Nela se poderá encontrar desde uma correta tipografia da juventude de nossos países até uma proposta de espiritualidade jovem que, sem dúvida, será de grande ajuda. Dada a grande envergadura desta obra, desejo agradecer explicitamente, em nome do CELAM, a todos que nela colaboraram, sob a orientação do Pe. Hilário Penengo, que acaba de concluir sua missão na Seção Juventude. Todos eles são pastores e leigos conhecidos por sua contribuição à pastoral da juventude em seus respectivos países e na América Latina. A cada um deles, nossa gratidão e bênção. Estou certo de que essa gratidão e bênção aderirão, alegres, todos os que utilizarem este livro. D.Jorge Enrique Jiménez Carvajal Bispo de Zipaquirá Secretário-geral do CELAM Apresentação
  • 6. Há quase vinte anos o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) criava a Seção Juventude. Iniciava-se, então, um longo caminho de animação e de serviço à evangelização da juventude do continente. Os esforços iniciais por conhecer os problemas e tendências do mundo jovem e fazer uma reflexão teológica e pastoral que fornecesse orientações claras para implementar uma Pastoral da Juventude Orgânica viram-se reforçados a partir de 1983, quando começaram a se realizar os Encontros Latino-Americanos de Responsáveis Nacionais pela Pastoral da Juventude. Com o tempo, estes Encontros foram se tornando um espaço privilegiado de comunhão e participação para bispos, sacerdotes e jovens que trabalham na Pastoral da Juventude da Igreja Latino-Americana. A troca de experiências e a reflexão a que esses Encontros deram ensejo permitiram a progressiva elaboração de um proposta global de pastoral da juventude, construtora da civilização do amor; uma pedagogia para acompanhar os processos de formação humana e cristã dos jovens; uma metodologia adequada para o trabalho de grupo; uma espiritualidade para o seguimento de Jesus e uma organização participativa que têm dinamizado a ação evangelizadora das Comissões Episcopais de Pastoral da Juventude dos países do continente. Um dos frutos mais visíveis desse processo foi a publicação, em abril de 1987, do livro Pastoral da Juventude, sim à civilização do amor. Sua redação, efetuada após um longo e participativo processo de recopilação e sistematização de colaborações e experiências, favoreceu a formulação e difusão da proposta da Pastoral da Juventude Latino-Americana, promoveu uma maior unidade de critérios e impulsionou decisivamente o trabalho comum e a organização. Traduzido para o português e o francês, reeditado em sete países, com uma tiragem superior a 27 mil exemplares, conhecido popularmente como o “livro verde” ou o “livro laranja”, em alusão à cor da capa de algumas de suas edições mais difundidas, passou a ser referência obrigatória para o trabalho da pastoral da juventude. A reflexão dos anos posteriores continuou aprofundando aspectos apenas intuídos ou pouco desenvolvidos no livro anterior. Os processos de educação na fé, a cultura jovem, a assessoria, a espiritualidade e as pastorais específicas de juventude foram, entre outros, alguns dos capítulos que amadureceram e consolidaram a reflexão e a proposta. Ultimamente fez-se sentir, com força cada vez maior, o reclamo dos agentes de pastoral quanto à necessidade de contar com uma edição atualizada, que recolhesse as novas contribuições refletidas e servisse para apoiar o trabalho de formação dos coordenadores, animadores e assessores e para orientar melhor os múltiplos esforços da pastoral da juventude que se realizaram no continente. A Seção Juventude acolheu essa solicitação e encaminhou um proposta de trabalho inspirada nas mesmas características de ampla participação, de coleta e de sistematização das contribuições e experiências com que se preparou a publicação anterior. Os participantes do 10º Encontro Latino-Americano de Responsáveis Nacionais por Pastoral da Juventude, realizado em Mogi das Cruzes (Brasil), de 8 a 15 de outubro de 1994, responderam favoravelmente a uma consulta realizada pela Seção Juventude e propuseram uma lista de nomes de pessoas capacitadas para a redação dos diferentes capítulos. Com essas propostas, a Seção integrou uma Comissão Redatora de assessores leigos e sacerdotes, representativa das quatro Regiões, tendo sido convidados a participar o Pe. Daniel Bazzano, diretor do Instituto Paulo VI de Montevidéu (Uruguai); o Sr. Juan Ramón Córdova, secretário-executivo da Comissão Episcopal de Juventude de El Salvador e assessor regional de Pastoral da Juventude do México e da América Central; o Pe.Hilário Dick SJ, do Instituto de Pastoral da Juventude de Porto Alegre (Brasil); o Pe. Derry Healy, ex-coordenador da Comissão Nacional de Pastoral da Juventude do Chile; o Pe. Alejandro Londono SJ, da Casa de la Juventud de Santafé de Bogotá (Colômbia); o Pe. Germán Medina, assessor diocesano de Pastoral da Juventude de Higuey (República Dominicana), e o Pe. Feliciano Rodríguez, assessor diocesano de Pastoral da Juventude de Caguas (Porto Rico). Sob a coordenação do P. Horácio G. Penendo SDB, secretário-executivo da Seção Juventude, do CELAM, a Comissão Redatora reuniu-se na sede do próprio Conselho Episcopal Latino-Americano em Santafé de Bogotá Prefácio
  • 7. (Colômbia), de 23 a 30 de abril de 1995. Os participantes apresentaram suas propostas de trabalho, chegou-se a um esquema geral e cada um se dedicou à redação do capítulo que lhe havia sido designado. As redações formuladas foram imediatamente revisadas, corrigidas, melhoradas e complementadas por todos, um longo processo que se iniciou naquela semana e se completou várias semanas depois, até se chegar à presente redação final. Durante esse período os textos redigidos foram submetidos à apreciação de outros agentes pastorais nos diversos países, com pedido de opiniões, contribuições e sugestões. O livro é, portanto, um trabalho coletivo de muitas pessoas. Este é, talvez, seu maior mérito. Não se trata de reflexões teóricas nem individuais, mas de experiências vividas, recolhidas, partilhadas, organizadas e sistematizadas para serem oferecidas como orientação para a ação pastoral. Não é, por conseguinte, um livro terminado. Como se chegou até aqui, deve-se continuar caminhando, buscando, aprofundando, abrindo horizontes e descobrindo dimensões novas na sempre apaixonante tarefa da evangelização dos jovens latino-americanos. Sua apresentação encerra, de algum modo, o período que vai de 1991 a 1995, da Seção Juventude do CELAM. Queremos expressar um enorme agradecimento a todos os que, de uma forma ou outra, redigindo, corrigindo, apoiando, estimulando e manifestando suas expectativas pela publicação, tornaram possível transformar esse sonho em realidade. Oferecemo-lo com muito carinho a todos os agentes da Pastoral da Juventude Latino-Americana e, em especial, aos que, silenciosamente, em todos os rincões do continente, fazem acontecer, dia a dia, a pastoral da juventude. Neles pensamos permanentemente durante esses meses de trabalho. Eles são, na verdade, os primeiros destinatários do esforço que realizamos. Acreditamos que será uma contribuição para tornar mais efetiva a opção preferencial pelo jovens e, especialmente, para apresentar uma proposta evangelizadora séria, capaz de responder às exigências das mudanças culturais do mundo de hoje, entusiasmar os jovens no seguimento de Jesus e tornar real a tão desejada civilização do amor. P.Horácio G.Penendo SDB Secretário-executivo SEJ-CELAM
  • 9. Com a intenção de sermos fiéis à atitude do Deus de Jesus Cristo, que, com olhar amoroso, está atento às necessidades de seu povo, escuta seus clamores e dispõe todas as coisas para a sua libertação, queremos olhar a realidade dos povos do continente latino-americano, e sobretudo do povo jovem, para escutar seus gritos, reconhecer e compreender suas situações de exclusão e fazer o possível para que, com a ajuda do Espírito, se realiza a salvação. Seguindo o exemplo de Jesus, é necessário abrir os olhos para compreender, com razão compassiva, a vida dos povos. O simples olhar da ciência não é suficiente para explicar sua existência. O estético e suas diferentes expressões, o poético, o mítico, o utópico, o épico e o trágico são também visões válidas que podem estar, talvez, mais próximas das suas buscas de sentido e das suas experiências do sagrado e da fé, tanto dos jovens como dos povos em geral. É preciso educar a visão da realidade para que se possa descobrir nela o dom de Deus, experimentar seu chamado a sermos acolhidos e amados, e a encarnar-nos no mundo dos jovens pela solidariedade humana e evangélica. O contato direto permite ver, ouvir, e se emocionar com suas vidas, seus sinais, suas sensibilidades e seus sentidos. Conhecer a realidade dos jovens a partir da perspectiva de Jesus exige estabelecer uma relação de intimidade. Exige dialogar e agir junto com eles. Somente assim será possível experimentar – “conhecer” – suas necessidades reais e perceber suas verdadeiras alegrias e amarguras. O desconhecimento da perspectiva dos outros, de suas formas de ver e compreender o mundo, já gerou demasiada violência na história. A vida não seguirá sendo possível pela via do extermínio de quem pensa diferente. Deve-se começar por reconhecer e compreender as diferenças e buscar sempre, razoavelmente, novas e melhores condições de comunicação, compreensão, transformação, justiça e vida. Ao olhar a realidade da América Latina e, nela, a realidade dos jovens, sente-se o chamado ao mesmo compromisso apaixonado de Jesus, de realizar sinais de vida que instaurem esperanças, possibilidades e oportunidade de vida nova, superando os sinais de morte, de decrepitude e da não-vida. A dupla dimensão morte-vida faz desejar e tornar real, já, a páscoa para e com os jovens do continente. Santo Domingo confirmou, tanto para a pedagogia como para a metodologia da pastoral da juventude, caminhos que partem da vida, das experiências e da realidade (SD 119). É a epistemologia, o modo de acercar-se da realidade e da verdade, vigente nas ciências, na filosofia e na teologia atuais. Segui- los parece ser o único modo de nos situarmos na cultura atual e nas perspectivas de uma pastoral da juventude que sintonize com a psicologia dos jovens. Este foi, por outro lado, o modo habitual do agir de Jesus, que aparece no Evangelho partindo da vida, dos problemas, das necessidades e das aspirações dos destinatários de sua caridade pastoral. O grande desafio da pastoral da juventude é olhar o contexto social, econômico, político, cultural e religioso de forma global e não fragmentária (DP 15). Não fácil nem se pode pretender chegar à certeza e à verdade plenas. O que se pode, sim, é tentar conhecer, da melhor forma possível, a realidade na qual se deve intervir, para acertar nos diagnósticos e escolher as melhores alternativas de ação pastoral. I
  • 10. 1. O CONTEXTO LATINO-AMERICANO DE MUDANÇA A experiência de mudança vivida pelos homens e pelas mulheres do continente e as mais variadas análises e estudos especializados realizados nos últimos anos estimulam a percepção e reafirmam a convicção de que algo novo está ocorrendo em nosso mundo. Não se trata apenas de novas situações particulares ou de novo elementos que simplesmente se acrescentam aos já existentes. Trata-se de grandes transformações globais que afetam profundamente a compreensão e as percepções que as pessoas têm de si mesmas e de suas relações com a natureza, com a sociedade e com Deus. Está-se dando uma profunda mudança cultural. Os jovens da América Latina, na variedade de seus processos históricos e de suas diversidades étnicas e culturais (SD 244), são particularmente sensíveis ao novo que está acontecendo. Eles são, ao mesmo tempo, filhos e construtores dessa nova realidade cultural que apresenta múltiplas e diversificadas manifestações que condicionam suas vidas e geram novas e variadas compreensões, relações e formas de expressão. Conhecê-las e valorizá-las é um grande desafio para a Igreja e para a pastoral da juventude (SD 253), que o acolhem como um convite a questionar suas práticas, revisá-las e, sobretudo, a recriar, nesta nova situação, a experiência da permanente novidade de Jesus Cristo, “o mesmo, ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8). 1.1 Algumas manifestações da mudança cultural. Não se pretende, aqui, uma análise completa dessa nova situação cultural. Quer-se apenas assinalar algumas de suas principais manifestações, que devem ser particularmente consideradas na pastoral da juventude. 1.1.1 Mudanças em relação à natureza São poucos, hoje, os que se espantam diante das descobertas científicas e do desenvolvimento tecnológico. Entretanto, está-se dando uma crescente tomada de consciência dos limites da ciência e da tecnologia, insuficientes quando tentam resolver, por si mesmas, os problemas fundamentais da vida e da pessoa humana. A crescente sensibilidade a esse problema expressa-se na busca de uma nova relação com o meio ambiente que permita viver mais dignamente neste terra que Deus entregou ao ser humano para que a trabalhasse e a cuidasse. 1.1.2 Mudança em relação à sociedade A interdependência da vida social manifesta-se principalmente no caráter transnacional da economia, dos meios de comunicação social e nos acelerados processos de urbanização. Essa influência econômica e cultural do chamado “Primeiro Mundo” marca a vida das sociedades e das pessoas. Molda seus interesses, aspirações e modelos de consumo. A crise das ideologias e o fracasso dos projetos históricos de transformação social vão dando lugar ao império do pragmatismo e da ideologia neoliberal, com sua política de mercado. Ela se apresenta como a aparentemente única racionalidade social e como inquestionável modo de intercâmbio. Não sem dificuldades, os países latino-americanos estão em transição de regimes autoritários para sistemas democráticos. Muitos partidos sofreram importantes transformações. Também surgiram outros, novos. Mudou a política das alianças. O movimento sindical não tem a mesma ressonância de antes; busca implementar suas demandas através do diálogo com empresários e governos. Mudam os modos de fazer política e o interesse que se tem por ela. Não é tão claro, hoje, que o Estado, os políticos ou simplesmente os grupos econômicos sejam os únicos detentores do poder. Também tem poder, igualmente, quem domina a tecnologia e a informação.
  • 11. A própria situação de pobreza tem hoje características novas. A pobreza da maioria convive ao lado do desenvolvimento, do consumo e da modernidade. Os setores populares, e seus modos históricos de resolver os desafios fundamentais da existência, parecem cada vez menos unidos num projeto histórico de libertação. As idéias e os movimentos gestados nas décadas passadas já não têm a força transformadora de então nem constituem um elemento significativo de seu ideário social. A sociedade manifesta-se cada vez mais pluralista. Crescem a valorização das diferenças e o chamado ao diálogo num sociedade pluralista. Ao mesmo tempo, porém, esse pluralismo estimula posturas subjetivistas. Em muitos casos gera atitudes de sincretismo e de grande confusão. 1.1.3 Mudanças na relação com Deus Apesar das propostas de diversas correntes materialistas que vaticinaram o desaparecimento da religião e a “morte de Deus”, persiste fortemente a busca de um sentido transcendente e absoluto para a vida humana e a necessidade de encontrar valores, critérios e normas éticas que a orientem. As principais ideologias já não parecem ter a força mobilizadora de antes. As principais perguntas pelo sentido voltam a se fazer presentes. Essa busca está muito viva nas diversas expressões da religiosidade popular, nas quais o povo recria suas vivências religiosas em meio às situações que a vida moderna impõe. “O povo resiste às condições adversas da vida moderna que o marginaliza, recriando espaços de piedade – peregrinações, novenas, devoção às almas, festas de padroeiro, devoção cotidiana etc. – que constituem verdadeiras formas de mística popular muito profunda diante do individualismo, da competição e da lógica mercantil da dominação que pautam a modernização das culturas oficiais”.2 A persistência do sagrado verifica-se também no crescimento sintomático das seitas e das propostas que recorrem ao esoterismo e à magia como resposta à busca de sentido. Coexistem, assim, diversas manifestações e “ofertas” religiosas. A Igreja Católica aparece, entre elas, como uma alternativa a mais, entre as muitas possíveis. Olhando o conjunto desses elementos, constata-se que se está diante de um novo tempo histórico no continente latino-americano. Já não se vivem as grandes esperanças revolucionárias, de profundas mudanças sociais, que caracterizaram a década de 60. Não se vive, igualmente, um tempo de confrontação violenta, de repressão e de morte que caracterizou a década de 70 e parte da de 80. Nem se vive tampouco o tempo de recuperação da democracia que caracterizou a década de 80 e parte dos anos 90. Muitos poderiam pensar que essa problemática da história recente pouco interfere nos reais problemas e desafios enfrentados pelos jovens de hoje. Contudo, os jovens de qualquer época histórica não criam a realidade na qual vivem. Mais ainda: as condições sociais, econômicas, política e culturais são, para eles, uma realidade que lhes é dada, independentemente de sua vontade. Nessa realidade se socializaram, foram construindo sua própria identidade e sonharam um futuro melhor. 1.2 Chaves de Leitura Duas chaves de leitura parecem fundamentais para procurar uma melhor compreensão dos fenômenos que estão acontecendo: o neoliberalismo, sua repercussão na sociedade e na cultura, e a pós-modernidade, que impregna todos os ambientes no complexo fenômeno da comunicação. 1.2.1 O neoliberalismo A sociedade atual é resultado de várias décadas de frustrada tentativas para sair do subdesenvolvimento. Após a queda do socialismo, o neoliberalismo passou a ser, ao menos no momento, o único modelo socioeconômico viável. Quando um modelo social não é único e tem que competir com os demais, necessita suavizar-se e humanizar-se para não ser substituído por outras alternativas; porém, quando um modelo é único, não precisa ser transigente. É o que acontece com o neoliberalismo, que está se desenvolvendo de forma quase selvagem na sociedade atual. 2 Cristian Parker. “Lo espiritual de fines de siglo”. Revista Mensaje 423, Santiago do Chile, 1993, p.511.
  • 12. O neoliberalismo postula a preeminência do mercado e da livre concorrência. Sustenta uma série de políticas econômicas desregulamentadoras, privatizantes e liberalizadoras das econômias nacionais e dos protecionismos tradicionais dos países do Terceiro Mundo, impostas pelo organismos internacionais, dominados pelos Estados Unidos. Essas políticas aplicam-se de modo diversos nos diferentes espaços nacionais. Aludindo ao fim do socialismo e seus anseios de uma sociedade sem explorados, o neoliberalismo afirma que as utopias e os projetos de futuro terminaram: o que conta é a ação imediata. O mercado capitalista e a democracia liberal surgem como os únicos com possibilidade histórica de realização e de sucesso. Fala-se do fim das ideologias. Legitimaram-se as propostas neoliberais como as únicas e as melhores alternativas para a economia mundial. O neoliberalismo significa, concretamente: • No econômico: as privatizações e o fortalecimento do capital privado; a desregularização dos mercados; a orientação da economia em função do mercado internacional e o fomento das exportações; a abertura ao capital estrangeiro e a internacionalização do mercado interno. Isso traz, como consequências, graves custos sociais como a queda do salário real, uma maior taxa de desemprego, uma brecha maior entre os ricos e pobres e a multiplicação das situações de pobreza extrema. • No político: a função do Estado se reduz praticamente a ser garantidor do equilíbrio social e favorecedor da atuação do capital privado. Reduz-se também o papel dos sindicatos e das organizações populares. Enfraquece-se a real participação do povo e da sociedade civil. A absolutização do mercado como critério único para regular a atividade econômica nacional e internacional agudiza a subordinação dos países pobres aos países hegemônicos. Os governos diminuem drasticamente o gasto público e os investimentos em educação, saúde e seguridade social. Suas alianças visam, antes, assegurar os privilégios econômicos e integrar-se nos processos internacionais do que promover o verdadeiro desenvolvimento, o crescimento e o bem-estar dos povos. • No cultural: o consumo, a produção e a eficiência, o pragmatismo e o mercado convertem-se nos valores sociais máximos. A educação, orientada para a produtividade e a competição, conduz inevitavelmente a um materialismo prático no qual se desenvolvem o individualismo, o utilitarismo e o hedonismo e do qual estão ausentes as exigências da justiça social e do bem comum. • No religioso: o materialismo prático eclipsa o sentido de Deus e da própria pessoa humana. Apesar disso, muitos querem, inclusive no âmbito católico, legitimar esse sistema em bases religiosas. Nesses esforços, há uma clara tendência a suavizar o compromisso exigido por Jesus e a acomodá-lo aos postulados neoliberais, comungando com a Nova Era, a chamada religião do neoliberalismo. O neoliberalismo favorece ao máximo o desenvolvimento das empresas transnacionais, que, para promover o consumo, privilegiam certos modelos de vida – o “american way of life” – e tendem universalizar e uniformizar, pela propaganda, uma cultura do espetáculo, do ter e do parecer. As culturas indígenas e autóctones sentem-se esmagadas. Os processos, as formas concretas e os ritmos com que se vai implementando o modelo neoliberal dependem do lugar e da orientação que se dá às economias nacionais para se inserirem na economia mundial. Os países latino-americanos são considerados como centros industriais, produtores de artigos manufaturados, exportadores de produtos agrícolas e matérias-primas, com particular interesse na produção petrolífera. Apesar de a maioria dos planos neoliberais proclamar seus resultados positivos e os grandes indicadores econômicos, como o crescimento do produto interno bruto, a queda da inflação, o crescimento econômico, o aumento das exportações e dos investimentos de capital estrangeiro e os maiores níveis de consumo, serem geralmente favoráveis, na realidade não geraram melhores condições de vida e, especialmente, não mudaram as formas de distribuição da riqueza produzida, mantendo, e até mesmo acirrando, as condições de pobreza.
  • 13. A pobreza extrema de que se aproxima a camada mais fraca da população está produzindo uma exclusão violenta das grandes maiorias, no que se refere aos benefícios do esforço coletivo dos povos. A deterioração ecológica também se faz sentir em todos os aspectos. Os recursos materiais, a biodiversidade e as riquezas naturais são sacrificados por planos economicamente rentáveis a curto prazo para as transnacionais, mas de consequências desastrosas para o futuro. Não se teme sacrificar populações inteiras e aniquilá-las pela fome, pelo desemprego e pela violência, como sucedeu com muitas comunidade negras, indígenas e camponesas. O neoliberalismo agride violentamente os estilos de vida e as cosmovisões dos povos latino- americano. Influi de modo negativo especialmente nos jovens, sobre os quais se concentram seus efeitos mais dramáticos: profundas carências materiais e de vida digna, desemprego, ocupações insalubres, mal-remuneradas e sem previdência social; crise do sistema educacional, incapaz de uma absorção, maior evasão escolar e má qualidade do ensino; inexistência de espaços para as atividades culturais e de lazer, discriminação dos jovens das camadas populares como grupo social indesejado, a ponto de legitimar seu extermínio físico; a criminalização de suas tentativas de organização e expressão; e a ausência de projetos de participação social e de políticas direcionados para essa camada da população. 1.2.2 A pós-modernidade A chamada “era pós-moderna” toma consciência dos fracassos e dos limites da modernidade. Sente que seus ideais humanistas e a absolutização da racionalidade técnico-científica não engendraram o mundo igualitário, livre e fraterno que sonhava, e sim um mundo de dominantes e dominados em que o projeto igualitário fracassou. Isso gerou um ambiente de desencanto que se expressa em vários âmbitos da vida pessoal e coletiva. A modernidade esperava um futuro grandioso para todos os homens, no qual existiria igualdade entre as nações e entre os indivíduos; confiava na abolição da guerra, da propriedade e dos colonialismos; esperava a alfabetização universal, o domínio da natureza, a erradicação das doenças e o triunfo definitivo da ciência e da tecnologia. O século XX demonstrou que esses grandes sonhos foram dolorosamente frustadas. O mais importante agora é procurar sobreviver e fazê-lo da melhor for Deus de cada uma possível. Para as grandes maiorias já não interessam as utopias. O que importa é o que se vive aqui e agora. Se não há progresso, se não importa para onde se vai, o que vale então é aproveitar o momento. Se para a modernidade importava produzir, para a pós-modernidade, importa consumir. “O que dá prazer” e “o que se sente” passam a ser critério último de verdade e a motivação profunda do agir. A modernidade deu ênfase especial ao valor da vida e ao bem-estar coletivo. A pós-modernidade converte a vida privada na medida de todas as coisas. OS problemas dos outros são dos outros e devem ser enfrentado e solucionados por eles. Predomina a lógica da vida privada: satisfazer os próprios desejos, comportar-se segundo o estilo de cada um, crer no Deus de cada um. A pós-modernidade nega a existência de uma lei de caráter universal. Crê que a sociedade não se fundamenta num pacto social, mas em pequenos acordos que possam ser estabelecidos entre partes que estão sempre em conflito. Tudo é pergunta. Não há respostas. Se houver, serão formuladas em termos de novas perguntas. A pós- modernidade é uma crise no interior da modernidade. Eis algumas de suas principais características: • Um neo-individualismo, entendido como afirmação radical de auto determinação e como desconfiança do coletivo, do solidário, e de tudo o que sugira compromisso com os demais. Reivindica a autonomia da pessoa humana. Valoriza a criatividade e a subjetividade, tendendo a construir um pessoa sem sentido histórico, autocentrada, preocupada tão só com o presente e com sua vida pessoal, facilmente inclinada a sucumbir na solidão, no isolamento e no anonimato. • Uma nova forma de niilismo que destrói qualquer possível fantasia utópica. Nega-se que a força das utopias possa chegar a mudar o mundo. É a cultura do grande vazio e da descrença, em que
  • 14. nada tem fundamento suficiente para orientar globalmente a existência. Recupera a dimensão do pessoal, do íntimo e do privado em face o público, mas reduz os horizontes, promove o imediatismo, a ausência de visão de longo prazo e a falta de entusiasmo para trabalhar pela mudança da realidade. Leva a evitar os compromissos permanentes e a não aderir a propostas de projetos históricos. • Uma maior permissividade na conduta moral, fruto do neo-individualismo e consequência da falta de pontos universais e de valores absolutos. Antes, a família, a educação e a própria religião impunham as normas de conduta, as formas de pensamento, as evidências coletivas e os princípios de legitimação. Hoje há uma multiplicidade de âmbitos de vida e de comunicação em que todos se expressam livremente, sem que haja um poder capaz de impor idéias e condutas a todos. Promove-se uma ética pessoal em função da qual vale mais o convencimento que a norma; • Legitima-se a busca de felicidade no tempo presente; reafirma-se a liberdade individual, a necessidade de ser, sentir e expressar-se segundo a originalidade de cada um e o direito à diferença. A busca da salvação, contudo, situa-se no presente; debilitam-se e relativizam-se as convicções éticas; centra-se a atenção mais nos direitos do que nos deveres; desencadeia-se a crise do amor e da sexualidade e opera-se a perda do sentido de felicidade e do compromisso. • Um pensamento débil em face das ideologias mais ou menos radicais. Esse pensamento débil quer pôr abaixo um mundo que tenha consistência em si mesmo e uma consciência capaz de descobrir, conhecer e expressar o mundo real. Prefere antes experimentar as coisas a discutir teorias; recupera o valor do cotidiano, o sentido do simbólico e do ritual. Aumenta, no entanto, a fragmentação da vida, dificulta a elaboração de projetos globais e favorece a manipulação pela publicidade, pela moda, pelos meios de comunicação de massa e pelas imposições culturais. Como movimento cultural, o pós-modernismo tem uma mensagem muito simples: “vale-tudo”. Essa mensagem não é nem conservadora, nem revolucionária nem progressista. Torna irrelevantes as distinções deste tipo... Todos podem participar dele. Trata-se de um onde em que são possíveis todos os tipos de movimentos artísticos, políticos e culturais. Essas fortes correntes culturais, econômicas e políticas, portadoras de uma concepção de sociedade baseada na eficiência, promovem uma verdadeira cultura da morte. Criam e consolidam autênticas estruturas de pecado contra a vida, nas quais os jovens ficam envoltos e condicionados.3 Em meio a essa realidade, contudo, os jovens tentam sobreviver com valores que possuem. Lutam para encontrar um lugar na história. É uma juventude cujo sentido existencial foi em grande parte destruído pela cultura da morte. Necessita, urgentemente, encontrar uma “boa nova” que lhe devolva o desejo de viver e lhe abra as portas a uma cultura de vida. 2. CONHECER A JUVENTUDE NÃO É FÁCIL Hoje em dia, já não é possível falar, simplesmente, de “juventude”. É quase impossível abarcar o amplíssimo aspecto da realidade e as variadíssimas situações em que os jovens vivem, segundo suas raízes e origens étnicas, suas influências culturais e suas condições políticas, sociais e econômicas. É necessário admitir que conhecer e compreender o mundo dos jovens não é tarefa fácil. Os diferentes estudos realizados sobre a realidade juvenil mostram claramente a grande diversidade de opiniões existente entre os pesquisadores. Há muita imprecisão sobre o próprio conteúdo do termo e sobre o que se quer dizer quando se fala de jovens e de juventude. Proliferam idéias, opiniões e julgamentos, por trás dos quais muitas vezes se ocultam interesses que projetam nos jovens os desejos e temores dos adultos, deformando a realidade juvenil e promovendo ações pedagógicas corretivas de comportamentos considerados mais ou menos anti-sociais. Por outro lado, não é fácil concretizar e expressar as motivações e formas de comportamento de uma vida em contínua evolução: o jovem é sempre uma incógnita. Um convite a deixar os próprios 3 Cf. João Paulo II, encíclica Evangelium vitae, 12.24.
  • 15. esquema pré-fabricados e a abandonar-se ao incerto e ao imprevisível. Para poder dizer algo sobre os jovens, é preciso ser, estar e viver com eles. A sociedade atual mostra um enorme interesse pelos adolescentes e jovens. Para eles se dirigem muitos olhares. Embora se trate de tentativas parciais de abordar a realidade deles, são úteis na medida em que permitem maiores delimitações e precisões. Em todo o caso, trata-se de perspectivas que não pretendem ser exaustivas. Em toda aproximação à realidade dos jovens é necessário considerar as variáveis que intervêm e, muitas vezes, determinam seu universo cultural. O uso da categoria “juventude” deve considerar essa multiplicidade de diferenças. 2.1 A visão biocronológica Define a juventude em termo de idade. A juventude é a idade da pessoa em crescimento. Um período compreendido entre os quinze e os vinte e cinco anos, no qual se toma consciência de estar vivendo uma realidade vital, distante da infância mas ainda não identificada com o mundo adulto. Trata-se de uma etapa de transição marcada por grandes mudanças fisiológicas, fruto do amadurecimento hormonal. O resultado dessas transformações é a consciência e a vivência do próprio ser corporal. A imagem do corpo e sua valorização são símbolos do eu e da personalidade. A significação do sexual passa para o primeiro plano. Essa valorização do corpo e da sexualidade expressa-se numa série de aspectos: psicológicos, como a consciência de sua força e de sua capacidade física; psicossociais, como o cuidado extremo com a apresentação externa, e psico-biológico-sexuais, como a descoberta do sexo como estímulo-demanda. Quando se absolutiza essa forma de olhar os jovens, corre-se o risco de perder de vista os contrastes e as oposições, de unificar o que é diverso, de eliminar as diferenças e assim diluir e confundir a marginalização e a riqueza, o rural e o urbano, as diferenças sociais e culturais, os estudante e o e o aluno que se evade da escola, o homem e a mulher, o trabalhador e o desempregado, o pai a mãe jovens, os filhos de mães solteiras e os filhos de famílias constituídas etc. Não se pode desconhecer, além disso, que a juventude, como grupo etário, está sujeita a uma imagem social e a um processo de construção das características que a definem como tal e assinalam os limites e as possibilidades de suas práticas, de seu ser e de seu dever-ser como membro de uma comunidade. Esses elementos definidores criam expectativas de comportamento. Delimitam-se as características consideradas próprias dessa idade transitória e intermediária entre a infância e a idade adulta. Elas circulam atráves dos mais diversos espaços sociais. 2.2 A visão psicológica Identifica a juventude como o período conflitivo da vida da pessoa, em que ela se vê a si mesma com a vida nas mãos, já não estando na infância mas ainda não sendo adulta, com uma vida afetiva, moral, cultural e espiritual próprias que devem ser garantidas e construídas mais plenamente. É como um segundo nascimento. É final e começo: final de uma forma de vida no ambiente protegido da família e início de algo novo, desconhecido, de um mundo que, muitas vezes, apresenta-se ao mesmo tempo hostil e perigoso, atraente e estimulante. É a passagem do mundo interior da família para o mundo exterior das responsabilidade e das decisões pessoais. Supõe percorrer um caminho estreito, cheio de incertezas, temores e esperanças que identifica o ser jovem. Um caminho do qual deve se apropriar: passagem de um passado definido, que deve ser abandonado, para um futuro por identificar e com o qual deve identificar-se. É uma etapa de busca e crescimento. De construção da identidade e de construção de um novo lugar no mundo. Não se trata de um processo unívoco nem linear. Pelo contrário, é múltiplo e contraditório, fruto do tecido das relações com diversas instâncias socializadoras, como a família, a Igreja, a escola, o grupo de companheiros, a vizinhança, os partidos políticos, os meios de comunicação, etc. A partir do jogo das inter-relações que se dá entre essas instituições e os jovens, definem-se os papéis, as exigências de comportamento, os limites e as possibilidades de seu agir , de seu ser e de seu dever-ser. Tudo condicionado pela pertença dos jovens a um grupo social e cultural determinado e pela biografia de cada um.
  • 16. É um tempo de opções e de definição de vocações. É um caminho aberto, onde se dá a possibilidade de tentativa e erro. É um tempo de valorização do subjetivo, dos sentimentos e da capacidade de agir moralmente. Um tempo para configurar-se como pessoa, com direitos e deveres no mundo adulto. Situam-se, aqui, muitos diagnósticos que falam das feridas afetivas e dos desequilíbrios psicológicos e de personalidade dos jovens. Por circunstância muito variadas, de ordem familiar, social ou econômica, muitos sofrem hoje uma carência generalizada de afeto e de relações pessoais. Estão sós. Precisam de amigos. Buscam um grupo ao qual possam pertencer e participar e sentir-se protagonistas. Um refúgio que os liberte da solidão e os faça sentir-se acolhidos e compreendidos. João Paulo II afirmou recentemente este caráter pessoal dos problemas vividos pela juventude: ”O problema essencial da juventude é profundamente pessoal. A juventude é o período da personalização da vida humana. É, também, o período da comunhão. Os jovens e as jovens sabem que têm de viver para os demais e com os demais. Sabem que sua vida tem sentido na medida em que se faz dom gratuito para o próximo”.4 2.3 A visão sociológica Do ponto de vista da sociologia, a juventude é um grupo social com uma posição determinada dentro do conjunto da sociedade, caracterizado por um modo peculiar de ver e entender a vida e o mundo, próprio de quem deixou para trás a dependência total de criança, mas não chegou ainda à responsabilidade própria do adulto. É uma etapa substantiva da vida, com identidade e valores próprios, embora mediada pela posição que a juventude ocupa em cada sociedade e influenciada pelo que essa sociedade aceita ou impõe. Daí a variedade de seus comportamentos, tanto de submissão aos patrões sociais como de protesto e rebelião contra toda tentativa de manipulação. Os modelos econômicos inspirados no neoliberalismo aguçaram a exclusão e a marginalização dos povos-latinos americanos. Como consequência, “muitos jovens são vítimas do empobrecimento e da marginalização social, do desemprego e do subemprego, de uma educação que não responde às exigências de suas vidas, do narco-tráfico, da guerrilha e das gangues. Muitos jovens vivem adormecidos pela propaganda dos meios de comunicação de massa e alienados por imposições culturais e pelo pragmatismo imediatista que tem gerado novos problemas em seu amadurecimento afetivo” (SD 112). “Há, contudo, adolescente e jovens que reagem ao consumismo imperante e se sensibilizem diante das debilidades do povo e da dor dos mais pobres. Buscam inserir-se na sociedade, rejeitando a corrupção e gerando espaços de participação genuinamente democráticos... Vão carregados de perguntas vitais. Representam o desafio de articular um projeto de vida pessoal e comunitário que dê sentido a suas vidas, logrando assim a realização de suas capacidades” (SD 112). No conjunto da juventude, considerada como corpo social, surgem setores determinados pela condições socioeconômicas ou culturais e relacionados com os ambientes em que vivem os jovens. É importante considerá-los detidamente porque o meio específico no qual se desenvolve a vida dos jovens, suas necessidades, problemáticas e interesses influem decisivamente na definição da ação pastoral e das propostas de formação e espiritualidade que se quer desenvolver. 2.3.1. Os jovens da roça e do campo São jovens que vivem no campo, realizando tarefas agrícolas, ou em povoados onde estudam e/ou trabalham. Sua relação fundamental se dá com a terra, gerando características culturais particulares e um especial forma de viver e entender a relação com a vida, a terra e a religião. Apesar da importância que o trabalho de campo e seus produtos têm para as economias latino-americanas, as estruturas tradicionais do setor e os condicionamentos da sociedade os impedem de intervir, muitas vezes, como grupo social coerente no processo de desenvolvimento. Em muitos casos, a terra deixou de ser a “mãe” para tornar-se fonte de dor e de morte. Algumas características desse setor são: 4 Cf. João Paulo II, No limiar da esperança
  • 17. ◊ O período juvenil no mundo camponês é muito breve. Os jovens assumem, desde cedo, responsabilidade próprias do mundo adulto, tanto pelo trabalho como pelo casamento e pela nova família. ◊ Diferentemente dos que vivem em zonas urbanas, esses jovens têm poucas possibilidades para expressar-se e progredir. Quando as têm, são muitas vezes manipulados e/ou alienados por agentes externos às suas comunidades. As organizações sociais e políticas do campo são, com frequência, fortemente reprimidas, o que dificulta seu funcionamento e sua ação em defesa dos direitos e da melhoria das condições de vida. ◊ A não propriedade da terra, o alto custo dos insumos agrícolas, o baixo preço que se paga pela produção e a falta de políticas governamentais para o desenvolvimento do campo obrigam-se a abandonar a terra e migrar para as cidades em busca de melhores oportunidades. Surgem, assim, grandes setores de sem-terra, com todas as consequências que esse fenômeno gera. ◊ Embora tenha aumentado a escolaridade, grande número de jovens não tem possibilidades ainda de ingressar no ensino médio. Muito poucos conseguem chegar à universidade. Os programas educativos oferecidos os mundo do campo e da roça não respondem, em geral, a seus valores culturais nem às suas necessidades básicas de desenvolvimento. Muito poucos são bilíngues. ◊ A família continua sendo salvaguarda e potencial básico para o desenvolvimento e o crescimento dos jovens do campo e da roça. A situação social geral, contudo, incide de tal forma que, pouco a pouco, também a família do campo e da roça vai se desagregando e sofrendo as consequências da migração. ◊ As comunidades do campo e da roça mantêm vivos valores humanos, profundos, como a hospitalidade e a solidariedade. A religiosidade popular e um espírito cristão enraizado dão-lhes uma sabedoria e uma espiritualidade que se caracterizam pela confiança em Deus, pela honestidade, pela valorização e pela compreensão dos sofrimentos próprios e , sobretudo, dos sofrimentos dos outros. ◊ Os jovens do campo e da roça estão abertos ao comunitário e ao cooperativo. Sua experiência e valorização da pobreza e do sacrifício fazem-nos capazes de tentar novas formas de empresas comunitárias, guiadas por critérios realmente humanos e não meramente economicistas. ◊ Em maior escala que outros, alguns setores jovens do capo e da roça são pressionados e muitas vezes utilizados pelo movimentos guerrilheiros, pelos que se dedicam ao cultivo da droga e ao narcotráfico e pelo Exército. 2.3.2. Os jovens estudantes Os jovens estudantes do 1º e do 2º grau não recebem, em geral, uma atenção especializada e diferenciada. Trata-se de um grupo no qual coexistem quem ainda é adolescente e quem já ingressou na etapa juvenil. Sua caracterização provém de sua localização no ambiente escolar, que continua sendo, apesar de tudo, um dos meios onde se congrega, normalmente, maior quantidade de jovens. Algumas características desse setor são: ◊ Valorizam a escola como espaço de encontro, formação, socialização e desenvolvimento pessoal. Muitos deles, contudo, não sabem para que estudam. Fazem-no por obrigação, para ocupar o tempo, encontrar-se com seu amigos ou por costume. Muitos estudam procurando chegar a “ter coisas”, profissionalizar-se, ganhar dinheiro ou vencer na vida. São poucos os que, conscientemente, buscam a escola como espaço para a cultura, a humanização, a ciência e o conhecimento. ◊ Apesar do avanço das ciências pedagógicas, os métodos utilizados não respondem, muitas vezes, os dinamismos reais da vida dos jovens. Continua-se ensinando em relações verticais, e o método de repetição deixa pouco espaço para a criatividade e a iniciativa. O sistema de aprovação promove a competição e impulsiona a querer ser mais que os outros. A educação continua sendo considerada por muitos como um processo de acumulação de conhecimentos. Descuidam-se outros aspectos importantes da formação integral, como a educação dos sentimentos, o
  • 18. desenvolvimento da sensibilidade e do sentido ético. Nas aulas, promovem-se práticas e valores relacionados com o neoliberalismo vigente. ◊ O sistema educacional ainda se mantém vivo alheio à realidade. Não prepara para a vida e os compromissos na sociedade. Ao terminar seus estudos, muitos se sentem frustrados. Descobrem que não lhes servirão nem para conseguir um trabalho ou assegurar o futuro. ◊ A crise econômica faz com que os estudantes se vinculem cada vez mais ao mundo do trabalho, para colaborar economicamente com suas famílias ou para manter-se nos estudos. O tempo limitado para dedicar-se ao estudo leva a um rendimento acadêmico menor e a menor formação. ◊ Nos primeiros anos das aberturas democráticas, e por influência do espírito pós-moderno, os estudantes aparecem como grupo apático, desorganizado e com pouca capacidade de ação, até na estrutura acadêmica. Apesar de tudo, buscam espaços para serem protagonistas, aceitando propostas fáceis como a violência, as gangues, as drogas e o álcool, ou as respostas construtivas como os grupos de estudo, o encontro, o esporte, a ação social ou a participação no movimento estudantil. ◊ Nesse grau de ensino normalmente se abrem ao sentido crítico, à inquietude social e às primeiras experiências da participação ativa. As atividades solidárias ou comunitárias e o encontro com situações de maior pobreza movem-nos a querer novos modelos de educação e novas formas de sociedade. ◊ Têm uma forte influência, imposta ou herdada, da vida de fé de seus pais. Têm, por isso mesmo, uma atitude de inconsciência e inércia ou de rejeição e questionamento à religião. O sentido da fé se faz mais vivo, porém, quando os motiva para o compromisso e a solidariedade e quando lhes é apresentada como resposta às suas buscas de uma religiosidade alegre, espontânea e juvenil. 2.3.3. Os jovens operários/trabalhadores São jovens das famílias populares de operários, trabalhadores, empregados, subempregos, desempregados e artesãos. Seu número aumenta cada vez mais como consequência das novas situações de pobreza geradas pela aplicação de políticas neoliberais. A maior parte deles tem dificuldades para encontrar trabalho. Quando o encontram, vêem-se forçados muitas vezes a ser “mão-de-obra barata” e não especializada. Inseguros diante das transformações que a tecnologia impõe ai trabalho industrial, estão continuamente expostos à possibilidade de desemprego. São economicamente frágeis e frequentemente não têm possibilidades para uma realização vocacional verdadeira. Algumas características desse setor são: ◊ Faltam empregos. Os que existem são instáveis. As exigências de “experiência” e “garantias” que lhes fazem para dar-lhes uma oportunidade de trabalho estão, na maioria da vezes, muito além de suas possibilidades. Isso os condena a ficar desempregados ou subempregados e permite que só uma minoria consiga um trabalho estável e bem-remunerado. ◊ Vivem uma situação crítica pelo baixo nível salarial e pela instabilidade do trabalho. Seu trabalho é menos considerado que o capital. Muito deles – especialmente as mulheres – são explorados de diversas formas, com tratamentos desiguais e desumanizantes. ◊ Os sofrimentos, a repressão e o sentido de luta deram aos operários e trabalhadores um espírito popular autêntico na ação pela verdade e pela justiça, embora, em alguns casos, a politização distorça a finalidade de suas organizações. ◊ Tentam viver num espírito solidário e de luta por seus direitos. Fazê-lo, no entanto, torna-se cada vez mais perigoso. As leis trabalhistas são aplicadas arbitrariamente e as organizações sindicais são mal-vistas limitadas ou reprimidas. Apesar das dificuldades, os sindicatos ainda são um expressão viva e válida do Movimento Popular. ◊ Com frequência são utilizados pelos partidos políticos, mais para suas finalidades e estratégias do que para defender seus direitos e responder às suas necessidades. Muitos se prestam a esse jogo com a esperança de sair de sua situação e superar seus problemas econômicos.
  • 19. ◊ Cansados das difíceis circunstâncias de sua semana de trabalho, procuram esquecer sua situação de excluídos e divertem-se em busca de algo diferente que nem sempre conseguem identificar. 2.3.4. Os jovens universitários Os jovens universitários são os que têm mais possibilidades de viver sua juventude. Têm um campo de ação vital e relacional no qual podem desenvolver ações próprias à sua condição de jovens, como assembleias, participação no movimento estudantil, participação nos conselhos das Universidades e muitas outras formas que o meio lhes proporciona. Algumas características desse setor são: ◊ O crescimento dos espaços físicos e o sistema aberto, implantado nas Universidades nas últimas décadas, permitiram o acesso ao ensino superior a jovens provenientes dos setores médios da sociedade e, também, embora em menor medida, os jovens dos setores populares. O ingresso cada vez mais marcado, contudo, pela competição, pelos altos custos e pelas exigências dos programas de excelência acadêmica. ◊ Muitos jovens universitários vivem marcados pela insegurança. Seu futuro profissional é incerto. Com muito esforço, conseguem obter o diploma universitário. Mesmo com o diploma, não conseguem emprego nem colocação profissional na sociedade. Não são poucos os formados que se vêem obrigados a realizar trabalhos diferentes e, muitas vezes, até mais bem remunerados que as próprias profissões. ◊ A realidade universitária leva-os a enfrentar, frequentemente, de maneiras muito diferentes e com maior ou menor grau de consciência, a relação entre fé e ciência. Nos últimos anos, vem-se percebendo uma abertura maior aos valores espirituais e religiosos e a todo tipo de experiências – especialmente orientais e mágicas – em busca do transcendente. Entretanto, nem sempre há oportunidades para a formação e aprofundamento dos critérios éticos. Por isso, a vida de muitos jovens universitários está desarticulada. Agem de maneira diferente na Universidade do que com sua família, seu namorado(a), seus amigos e a Igreja. ◊ O ambiente universitário e os níveis de formação adquiridos provocam em muitos jovens uma certa atitude de rejeição de seus ambientes e classes de origem. O serviço profissional não é percebido como ligado à comunidade; nem a atividade profissional a um modo de vida sem busca de lucro. ◊ A grande maioria dos universitários trabalha e estuda. Isso dificulta sua vida universitária plena e sua participação como protagonistas nas atividades, na tomada de decisões e nas ações de extensão e pesquisa da Universidade. ◊ Muitas organizações acadêmicas e políticas de universitários que tiveram, por certo tempo, importante protagonismo estão atualmente desarticuladas e sem capacidade de ação. É necessário encontrar formas novas e novos canais de participação. Existe apatia, igualmente, pelas atividades políticas e partidárias. São consideradas manipuladoras e falsas. Há ceticismo quanto às propostas de desenvolvimento e de participação comunitária. ◊ Alguns cristãos são reconhecidos pelos valores evangélicos que são capazes de testemunhar e pela força das opções da Igreja latino-americana pelos pobres, a luta pela justiça e pelos direitos humanos, a defesa da vida, a promoção social e a transformação das estruturas e situações injustas. Mas não devem se considerar os únicos que têm esse tipo de compromisso. 2.3.5. Os jovens indígenas A cultura latino-americana deve boa parte de suas características às culturas indígenas que foram conhecidas quando do descobrimento e da conquista do continente. Sua sobrevivência constitui um desafio para a evangelização, não somente porque no contato com a religião dominante – a católica – deu- se uma forma peculiar de mestiçagem religiosa, mas porque o esmagamento socioeconômico que esses povos suportam está exigindo uma conscientização libertadora que não pode esquecer o componente religioso de suas etnias.
  • 20. Algumas características desse setor são: ◊ Os povos originários têm um sentido de unidade familiar e tribal, caracterizando-os por sua solidariedade e pelos valores comunitários. Isso os leva a lutar contra a desagregação e o individualismo que a sociedade neoliberal lhes impõe. Os jovens participam dessa luta de todos os povos. ◊ Seu sentido religioso expressa sua relação transcendente com Deus a partir das próprias vidas e da relação que têm com a natureza das coisas. Daí, valores tão genuínos como a contemplação, a piedade, a sabedoria popular, as festas e a arte expressarem suas íntimas e mais fecundas vivências espirituais. ◊ A maioria dos povos, despojados de suas terras, marginalizados e vivendo em situações inumanas, aparece com os mais pobres entre os pobres da América Latina. Sendo os primeiros habitantes e donos destas terras, devem ser reconhecidos seus direitos a uma justa demarcação e a um espaço vital que não só garanta sua sobrevivência, mas permita, sobretudo, conservar sua identidade como grupo humano, como povo e nação. Seu patrimônio cultural e sua participação social dão vigor renovado ao continente. ◊ Há um crescente despertar para os valores autóctones e para o respeito à originalidade das culturas e comunidades indígenas. Esse sinal de esperança, contudo, vê-se ameaçado pela influência dos modelos culturais das sociedades nacionais, majoritárias e dominantes, cujas formas de vida, critérios e escalas de valores geralmente atentam contra essas culturas. ◊ A defesa da identidade e da cultura de seus povos, a integração com outras culturas e outros desenvolvimentos sociais e sua própria articulação são alguns dos grandes desafios que estão sendo colocados nas mãos da juventude indígena. 2.3.6. Os jovens afro-americanos Constituem uma parte considerável da população juvenil do continente. São um grupo étnico cuja identidade se estabelece em relação às suas raízes africanas e à sua inserção no continente americano. Têm sido vítimas da escravidão e de um longo processo de marginalização histórica, social e econômica, bem como de uma atenção evangelizadora deficiente. Algumas características desse setor são: ◊ Sua história é marcada pelo desenraizamento do continente africano, de sua cultura, de sua terra e de sua família. Trezentos anos de escravidão deixaram uma profunda marca de ressentimento e negatividade em seu estilo de vida e em sua maneira de ser. ◊ O racismo e os preconceitos sociais continuam sendo muito reais. Isso pode ser constatado no trabalho, ao se perceber que a maioria da população negra trabalha em ocupações manuais com remuneração muito baixa; na discriminação que os impede de viver como pessoas iguais às demais e na forma como são tratados por muitos meios de comunicação, que os apresentam como seres inferiores e perigosos. ◊ É cada vez maior o número de jovens e pessoas que optam por uma reafirmação de sua identidade cultural e de suas raízes africanas. Assumem sua negritude e lutam para resgatar, recriar e vivenciar elementos valiosos de sua cultura. Ao mesmo tempo, a manipulação sociocultural da estrutura dominante lava-os a não assumir a sua cultura, a envergonhar-se de sua origem e a assumir formas de comportamento próprias de outros grupos culturais. ◊ É cada vez maior o número de jovens e pessoas que optam por uma afirmação de sua identidade cultural e de suas raízes africanas. Assumem sua negritude e lutam para resgatar, recriar e vivenciar elementos valiosos de sua cultura. Ao mesmo tempo, a manipulação sociocultural, a envergonhar-se de sua origem e a assumir formas de comportamento próprio de outros grupos culturais.
  • 21. ◊ Assim como os jovens indígenas, a defesa da identidade e da cultura de seus povos, a integração com outras culturas e outros desenvolvimentos sociais e sua própria articulação são alguns dos grandes desafios que estão nas mãos dos jovens afro-americanos. 2.3.7. Os jovens em situações críticas Trata-se d setor de jovens que se encontram em situações sociais conflitivas ou em desvantagem social, não lhes permitindo um pleno desenvolvimento como pessoas. São consequência das contradições da própria sociedade que, na vida diária, contradiz o significado original do que é a juventude – etapa de aprendizagem, de opções, de estudos, de incorporação na vida social e produtiva, de idade do dinamismo, da alegria e da esperança – e mostra um contexto de pobreza, desigualdade, marginalidade e desumanização. É o que se vem chamando de “cultura da morte”. Ao falar em situações críticas, deve-se ter em conta que a crise da juventude é uma crise generalizada. Todo o setor juvenil vive uma situação de desvantagem simplesmente pelo fato de ser jovem e viver num contexto social conflitivo. É uma crise diversificada que, tendo uma mesma raiz, expressa-se em diferentes manifestações e condutas, como a toxicomania, a delinquência, a prostituição etc. É uma crise individualizada. Cada jovem vive sua própria história de sofrimento diferentemente das demais pessoas. As situações de crise que a juventude vive não é senão reflexo das crises que a sociedade vive. Podem ser entendidas como as tensões ou problemáticas agudas do setor juvenil em suas distintas ordens ou como momentos de ruptura com o estabelecido, mas com infinitas possibilidades de mudança e de transformação. Alguns elementos para uma descrição dos jovens em situações críticas podem ser os seguintes: ◊ São os que vivem ou convivem em situações de injustiça, miséria, intolerância, desintegração familiar e desamor que os levam a situações-limite toxicomania, alcoolismo, prostituição, abuso sexual, violência, infração à lei, suicídio, uso inadequado da sexualidade, infecção por HIV, etc – e a atentar contra a sua própria vida e a vida dos que os rodeiam. ◊ São os mais vulneráveis ao envolvimento em alguma situação crítica, por dificuldades pessoais como a baixa auto-estima, a insegurança, a solidão, a timidez, a ansiedade, o ressentimento e a pouca capacidade de questionar, analisar e tomar decisões. ◊ São os que, não encontrando espaço em instituições fundamentais como a sociedade, o Estado, a Igreja, a escola, a família – porque lhes negaram os direitos primordiais para se desenvolver e crescer como pessoas -, optam por alternativas que os levam a situações limites. ◊ São os que, vítimas da manipulação e da alienação dos meios de comunicação de massa, criam para si mesmo falsas necessidades que buscam satisfazer de maneira equivocada, a partir de uma percepção distorcida da realidade, assumindo atitudes e comportamentos que os levam a perder a sua identidade. Os jovens em situações críticas não são um grupo específico fácil de delimitar socialmente. Nem sempre se encontram os grupos com características comuns. A classificação apresentada a seguir ajuda a localizar o tipo de problemática e a maneira de atendê-los. a) Os jovens dependentes das drogas A toxicomania – incluído o álcool – é um problema crescente entre a juventude. A toxicomania é entendida como um problema de saúde; a pessoa torna-se dependente dos efeitos físicos e psicológicos produzidos por uma substância alheia a seu organismo. O abuso de tais substância tem efeitos nocivos para sua vida individual, familiar e social. A toxicomania tem entre suas causas, a personalidade fraca dos adolescentes e sua baixa auto- estima; a influência do meio ambiente; as relações com outros jovens consumidores; os interesses econômicos de quem produz, processa e trafica; a desorganização familiar e a falta de educação que previna contra os danos causados pela às substância tóxicas.
  • 22. • Há diferentes tipos jovens consumidores de drogas; os que somente as experimentam por curiosidade ou por pressão do grupo, os que as usam de maneira frequente, porém mantendo certo controle; e os que já estão numa etapa em que necessitam da droga para poder viver. • Caracteristicamente, os jovens dependentes têm problemas afetivos, são manipuladores, abandonam a escola, evitam a autoridade e rejeitam o cumprimento de normas sociais, como compromissos familiares, profissionais e políticos. Alguns negam a própria doença; outros a reconhecem e solicitam apoio para se reabilitar. • A toxicomania tende a aumentar nas grandes cidades. A idade em que se inicia o consumo é cada vez menor, o que significa que muitos estão começando a se drogar ainda crianças. b) Os jovens que delinquem A delinquência de adolescentes e jovens pode ter diferentes causas. A principal é a pobreza, que os leva a delinquir para buscar subsistência e ajudar a economia familiar. Também pode ser produzida por fatores de personalidade, pela dinâmica disfuncional da família, pelo meio ambiente criminógeno e pela resposta de alguns jovens à repressão ou ao fato de se sentirem vítimas da exploração. • Deve-se distinguir os jovens que têm alguma conduta anti-social ou delituosa, imprudente ou pouco grave, daqueles que adotam um estilo de vida totalmente fora das regras sociais ou que já fazem parte da delinquência organizada. São situações diferentes. • A maioria dos jovens delinquentes reproduz o modo de vida da sociedade a que pertencem. Reagem com a mesma violência, desonestidade e corrupção que imperam na sociedade e com as quais esta os agride. Alguns viveram situações dramáticas. Não tiveram uma socialização adequada e têm um baixo nível de controle dos impulsos e de tolerância à frustração. A introjeção de normas e limites é muito deficiente. Os “delinquentes” não surgem de um momento para o outro. Surgem como consequência de um processo em que as pessoas ou grupos vão se afastando progressivamente de um comportamento socialmente aceitável. • São jovens muito sensíveis à crítica e à provação ou desaprovação de quem os rodeia. Por serem estigmatizados pela sociedade, costumam isolar-se. Suas relações são superficiais. Eliminados os estigmas sociais, desaparece o sentimento de culpa e aumenta a possibilidade de reintegração à sociedade, buscando-se uma atividade produtiva honesta e estabelecendo-se relações de confiança. • Quando têm problemas com a lei ou estão presos, atemorizam-se, deprimem-se e procuram mudar. Muitas vezes, porém, sua própria realidade impede a transformação e os leva a problemas ainda maiores. Por causa das deficiências do sistema judiciário, muitos têm de suportar abusos de autoridades e a violação de seus direitos. Normalmente, recebem mais castigos que medidas de orientação e de reintegração social. c) Os jovens na prostituição As jovens entram na prostituição geralmente por razões econômicas. Como na situação anterior, também aqui a pobreza leva a essa forma de atividade como meio de consecução dos recursos necessários à subsistência. Influem, igualmente, os conflitos familiares, especialmente os relacionados com a figura do pai ou de algum familiar. Já casos em que a própria família as obriga a se prostituir. Agem sob pressão de máfias que primeiro as atraem e seduzem, e depois as exploram até deixa-las enredadas em “obrigações” e “serviços”. • Caracteristicamente, são mulheres que se valorizam pouco. Desde pequenas tiveram problemas afetivos ou foram vítimas de abusos sexuais, de maus-tratos físicos ou psicológicos. Normalmente são desconfiadas. Têm dificuldades para manter relações conjugais estáveis. São inseguras e necessitam de alguém que as proteja. • Quando engravidam, costumam proporcionar boa atenção a seus filhos, embora às vezes os abandonem. Reproduzem os padrões de educação e relacionamento que receberam. Envolvem-se facilmente no consumo e no tráfico de drogas e são muito sensíveis ao reconhecimento que recebem da sociedade. • Nas grandes cidades está aumentando a prostituição masculina, homossexual e infantil que, assim como a prostituição feminina, consiste no oferecimento de satisfações sexuais em troca de dinheiro. Acarreta graves consequências a quem a exerce, porque perde o sentido de sua vida e o
  • 23. valor de sua dignidade. Ficam sujeitos à exploração e ao abuso, além de correrem graves riscos de saúde e de segurança. Alguns dos que vivem essa situação aceitam-na e não têm dificuldades para apresentar-se socialmente como homossexuais. A grande maioria, contudo, sofre por ter de expor-se assim numa sociedade que não reconhece e castiga a homossexualidade como uma conduta moralmente desviada. Nos últimos anos têm surgido numerosos movimentos de homossexuais e lésbicas exigindo respeito à sua condição, proteção a seus direitos humanos e maior participação sócio-política. Como é próprio das minorias ativas, alguns de seus posicionamentos têm sido assumidos pelo pensamento social. Por isso encontram-se, especialmente entre os jovens, expressões a favor de uma cultura que seja mais tolerante com os homossexuais. Esses debates sacodem igualmente a Igreja e repercutem na postura que esta toma para atender pastoralmente a esse setor, tendo em conta que se trata de um grupo normalmente sensível ao transcendente e a espiritual. d) Os jovens soropositivos e doentes de AIDS Trata-se de um grupo em crescimento, já que a síndrome da imunodeficiência adquirida é uma doença que avança em ritmo acelerado, particularmente entre os jovens e os adultos em idade produtiva. A doença tem duas fases. Na primeira, chamada soropositividade assintomática, a pessoa que incorreu em alguma conduta de risco infectou-se com o vírus da imunodeficiência humana, porém não desenvolve a doença, embora possa transmiti-la. Na segunda fase, aparecem os diferentes sintomas e sinais, e a doença se manifesta plenamente até levar à morte. • Num primeiro momento, procurou-se identificar esses setores com a população homossexual, com as prostitutas e drogados. Os estudos, no entanto, confirmaram que não se trata de uma doença exclusiva de quem vive em situações sociais críticas. Qualquer pessoa pode vir a contraí-la, na medida em que se desenvolva comportamentos de risco como contatos sexuais com troca de fluxos, promiscuidade, uso compartilhado de seringas de drogas intravenosas, via perineal, transfusões de sangue, etc. • Muitas pessoas e, principalmente, muitos jovens, mesmo sem sabê-lo, estão contagiados. Quem já se sabe contaminado costuma sucumbir ao desespero e à angústia. Os que estão na etapa de manifestação da doença sofrem de corpo e alma. Desesperam-se porque sabem que por ora não há cura possível, os remédios que atenuam o processo são muito caros e os serviços de saúde, insuficientes. Sofrem igualmente porque começam a experimentar a rejeição e a separação de suas próprias famílias, de seus amigos e comunidades. • A AIDS abriu espaços para a discussão e para que se suscitassem grandes desafios de natureza psicossocial, pastoral e moral, relacionados, entre outros, com o uso de preservativos, a fidelidade, a castidade, os exames de laboratório para a detecção do HIV, o tratamento dos doentes, o apoio familiar, os direitos dos doentes, as políticas sociais de saúde e a dotação orçamentária, a educação, a prevenção, a atenção pastoral, os grupos religiosos que, diante desta situação, procuram se aproximar da população contaminada, etc. e) Os jovens com deficiências Trata-se de um setor socialmente desarticulado, mas numerosamente significativo. São jovens que sofrem algum tipo de invalidez e que têm sérios problemas físicos, psicológicos e sociais, como paralisia cerebral, síndrome de Down, psicoses e outras doenças mentais, deficiência visual ou auditiva, paralisia, etc. Muitos sofrem essa situação de desvantagem social desde o nascimento ou desde a infância. Outros foram acometidos mais recentemente, como é o caso daqueles gravemente vitimados por intoxicação com drogas ou pela violência e pela guerra. • Alguns estão sob cuidados de suas famílias. Outros permanecem em hospitais ou centros especializados. Há quem viva e morra relegado à solidão e ao abandono. Sofrem por suas próprias doenças e limitações permanentes, pela constante necessidade de receber serviços reabilitadores de saúde, pela insatisfação existencial, pelo estado psicológico de depressão, angústia familiar, pela dificuldade de serem reconhecidos e ajudados socialmente e pelos problemas econômicos que sua situação e recuperação acarreta. • É particularmente preocupante sua difícil integração à sociedade, de maneira produtiva e auto- suficiente. O sistema econômico neoliberal exclui os improdutivos, obrigando-os a ser
  • 24. dependentes, a se tornar um fardo para as suas famílias e a viver sujeitos à assistência e até mesmo à mendicância. • Requerem uma atenção especializada em matéria educativa, legal, de saúde, econômic, trabalhista profissional e, evidentemente, pastoral. Neste campo, as experiências que existem são, na maioria do tipo assistencial. Não promovem a auto-suficiência nem a participação social e o compromisso com os deficientes. • Junto aos deficientes, suscita-se o desafio de acompanhar também os que os atendem e suprem suas necessidades familiares, amigos, profissionais, agentes de pastoral, homens e mulheres de boa vontade com um alto espírito de entrega, mas que, ao mesmo tempo, precisam satisfazer suas próprias necessidades e resolver seus próprios problemas para poder ajudar aos necessitados. f) Outras possíveis situações críticas Com uma situação social tão difícil e com uma juventude tão vulnerável, é bem provável que existam outras situações críticas que obstaculizem seu pleno desenvolvimento e promoção humana. Analisando a realidade da juventude e acompanhando de perto os grupos de jovens, será possível descobrir novas situações críticas que, sem deixar de lado a visão e a ação integral e de conjunto, podem ser atendidas pastoralmente. É o caso das mães solteiras, das vítimas de abuso sexual, dos casais novos em crise, dos jovens encarcerados, etc. 2.4 A nova visão cultural-simbólica A visão cultural simbólica não desconhece as contribuições das visões anteriores para compreender os jovens. Pelo contrário, integra-as e lhes dá um sentido novo. Busca responder aos questionamentos que surgem sobretudo quando se olham as aceleradas e profunda mudanças culturais que estamos vivendo. Não se deve esquecer que a juventude surge, historicamente, como um fenômeno próprio da cultura emergente, a partir dos processos de urbanização. Desde o começo a juventude aparece pouco homogênea. Diferentes formas culturais correspondem a uma variada gama de condições juvenis que evoluem em ritmos próprios. Por isso, pode-se falar de um universo cultural dos jovens, definido por uma enorme variedade de formas de viver a vida e de encontrar sentido para a existência. Nele se dá um processo múltiplo e contraditório de formas, fruto do tecido de relações que os jovens vão estabelecendo com as diversas instâncias socializadoras. Esse universo se compõe de “culturas jovens” ou espaço sociais de confluência, de encontro, de identificação, de liberdade entre iguais, que expressam traços semelhantes, como uso do espaço, gostos, formas expressivas e de significação, linguagens, etc. Apesar das diferenças, todas se caracterizam pela contestação à cultura tradicional. Põem em xeque e reelaboram as propostas das diferentes instituições. Constituem fontes de resistência contra toda ordem imposta e de rejeição ao código dominante. Ultimamente, estão-se compreendendo mais como “ambientes”, “atmosfera”,”sensibilidades”, “comunidades culturais” geradoras de significação, nas quais coexistem elementos de diferente natureza, sociais, políticos e econômicos. Para entender essa nova sensibilidade dos jovens, é necessário retomar a referência à pós-modernidade, que está gerando um fenômeno cultural de polaridades em tensão: de uma cultura do “uno”, está-se passando para uma cultura do “plural”; do “definido” para o “ambíguo”; do “linear” para a “rede”. Nesse sentido amplo, as culturas juvenis referem-se à maneira como as experiências sociais dos jovens se expressam coletivamente mediante a construção de estilos de vida diferentes, localizados fundamentalmente no tempo livre ou em espaços intersticiais da vida institucional. Num sentido mais restrito, são microsociedades com graus significativos de autonomia em relação às instituições adultas. Os jovens de hoje criaram verdadeiros movimentos culturais que conjugam fatores institucionais com fatores de ordem subjetiva. Recentes estudos apontam alguns traços das sensibilidades dessas culturas juvenis. São diversas, não-homogêneas e contra-culturais; têm a ver com atmosferas ou ambientes geradores de significado que não coexistem nem constituem em período cronológico nem um setor. Alguns desses ambientes são a irracionalidade, expressa no delírio, na droga e nas seitas; a rebelião expressa no antiautoritarismo, na não-escola e na evasão; a intimidade, expressa no afetivo-sexual e nas
  • 25. novas formas de ser família, como as comunidades; a identidade no consumo, expressa nas modas; e a paz. Expressa no antibelicismo e no não à guerra. Sua característica comum é a mutabilidade permanente, a instabilidade, o nomadismo e o estar de passagem. Não obstante seu caráter nômade, podem esboçar-se modas ou horizontes comuns de gostos que fazem com que se tornem familiares uns aos outros e, ao mesmo tempo, os diferenciam. Os jovens vivem e apreciam modas que não obedecem a um princípio ordenador da realidade, mas à possibilidade de correspondência. O “gosto” é a correspondência, mais ou menos conflitiva, de objetos culturais e valores. A moda é uma forma de expressar publicamente sentidos compartilhados culturalmente. Na comunicação ou no âmbito dinâmico de circulação de sentidos partilhados, os jovens tomam objetos culturais de alto consumo (vídeos, músicas, roupas...) e os ressignificam. Neste contexto, aparece o lúdico como um dos eixos e conceitos explicativos das identidades juvenis. O lúdico entendido como o território dos estados de disponibilidade e abandono nos quais os jovens se situam. São estados que escapam a toda intencionalidade utilitária. Levam-nos a uma forte experiência de ser jovem, cuja raiz está na liberdade do jogo. Um jogo sem regras, nas atividades livres do prazer, na festa, na criação artística, nos sonhos e na prática do imaginário. Recupera-se, assim, a dimensão estética da vida, que permite um acesso à totalidade da realidade a partir de um ângulo que não o da racionalidade iluminista. Trata-se de uma compreensão do mundo a partir das formas sensíveis. A partir do gosto, da relação mediada por símbolos e do universo dos desejos. A partir dessa dimensão tomam sentido, para as culturas juvenis, todos os demais assuntos e temas. Ao observar essas culturas juvenis, não se pode deixar de perceber as notáveis diferenças entre os jovens das grandes cidades, os jovens dos pequenos povoados ou dos jovens que vivem no campo. Em todos esses casos, é necessário um especial discernimento das riquezas de sua cultura juvenil. A visão sociológica, que considera a juventude como corpo social, permitiu reconhecer diferentes setores, condicionados por distintas características socioeconômicas e culturais. Pela caminhada da Pastoral da Juventude Latino-Americana e pelo papel decisivo que os fatores socioeconômicos desempenham no passado, presente e no futuro do continente, deu-se uma ênfase especial à apresentação da situação social dos jovens em seus respectivos setores. Não se deve desconhecer, contudo, o papel dessas novas comunidades culturais ou de sentido, as novas sensibilidades a partir das quais os jovens se apropriam e ressignificam sentidos e modos de ver e de viver. É necessário explorar melhor as novas sensibilidades que se constituem em novas pistas para conhecer e amar os jovens. Essa tentativa de olhar de forma mais ampla o juvenil leva a reconhecer a importância da pessoa de cada jovem, do contexto socioeconômico a partir do qual eles constroem suas identidades e das novas comunidades culturais ou sensibilidades que impregnam todos os ambientes e setores. Uma pastoral da juventude que queira responder realmente às necessidades dos jovens não pode desconhecer nenhuma dessas dimensões. Ao olhar os jovens hoje, a Igreja percebe que eles não são somente destinatários da evangelização. Cada geração aporta uma sensibilidade própria à sua vivência cristã, possui a capacidade de descobrir novas dimensões da fé e revela sinais de vida ainda suficientemente explicitados na experiência cristã (P1169). 3. CONHECER A JUVENTUDE NÃO É FÁCIL A fé na presença e na ação libertadora de Deus e de seu Espírito na história leva a reconhecer os sinais de vida que se manifestam na grande diversidade de realidades nas quais vivem os jovens do continente. Nesses sinais de vida celebra-se a juventude como um dom especial de Deus para toda a humanidade. ○ Através de caminhos muito diferentes, os jovens buscam respostas à sua necessidade de Deus e às suas perguntas pelo sentido. De fato, a imensa maioria diz crer em Deus, e um número significativo está comprometido com o conhecimento e o seguimento de Jesus. ○ Defendem decididamente seu direito de ser sujeitos e protagonistas de toda proposta que tenha relação com suas vidas. O valor da pessoa e de sua própria subjetividade é um traço muito significativo que marca a identidade geracional dos jovens de hoje.
  • 26. ○ A mentalidade técnico-racionalista, adquirida na escolaridade, torna-os menos expostos à resignação e ao fatalismo. Não se sentem obrigados a repetir modelos pelo simples argumento do costume ou da tradição. A convicção pessoal tem caráter de critério último para a decisão de suas opções de vida. ○ Desejam menos distância, menos formalismo e maior espontaneidade no trato entre pais e filhos, entre professores e alunos, entre leigos e sacerdotes e, em geral, em todas as suas relações. Agrada-lhes conhecer-se a si mesmos e partilhar suas inquietações e intimidades com seus iguais. Mantêm a mais democrática relação entre os sexos que já houve na história. Têm muitas ocasiões para participar das experiências geracionais que reúnem outros jovens de diferentes classes sociais. ○ Vivem a felicidade do momento presente com um sentido de gratuidade, e não como consequência de merecimentos ou sacrifícios. Têm um forte sentido e grande admiração pela celebração e pela festa. A par dessas, há também situações do mundo juvenil ameaçadas por sinais de morte, que se deve ser anotados e combatidos no trabalho pastoral que se realiza com os jovens. o No mundo de hoje, o sentido da vida tornou-se plural. Existe um amplo campo de sentidos da vida. Supõe-se que cada um possa escolher como, por que e para que viver, com autonomia e independência pessoal. Contudo, o mercado de sentidos manobra muitos jovens e frequentemente disfarça de escolha a manipulação publicitária que se faz com eles. As diversas e contrapostas ofertas de estilo de vida debilitam as certeza de muitos jovens, confundem-nos e, não poucas vezes, levam-nos a experimentar graves contradições internas. Essa confusão agride sua saúde espiritual, pois produz sentimentos de divisão e rupturas em sua identidade pessoal. o Muitos jovens se sentem distantes do mundo adulto da participação social e política e das figuras de autoridade. Em muitos casos, essa atitude esconde um desinteresse por crescer e amadurecer. Não são poucos os que sentem a tentação de permanecer como estão e renunciar ao esforço e ao desafio de superar-se, melhorar e assumir novas responsabilidades. o Na medida em que os jovens se socializam, são impelidos a considerar os demais rivais. Incorporam desconfiança e temor para a relação com os outros. São cada vez mais escassas as possibilidades que têm de fazer experiências de solidariedade e cooperação, embora se sintam naturalmente inclinados a tanto. o A dificuldade de ingressar na educação superior e, portanto de entrar com relativo êxito no mercado de trabalho faz com que muitos jovens incorporem uma espécie de desilusão pelas ofertas e possibilidades que a sociedade tem para eles. São e se sentem excluídos. o A cultura pós-moderna tende a desencadear um falso sentido de espontaneidade e da responsabilidade moral. Na prática, isso se traduz num imaturo sentimento de inocência pessoal em face do mal cometido e do bem omitido. É necessário ajudar a superar essa falsa consciência moral. o A sociedade de consumo multiplica os produtos e, para assegurar seu mercado, exacerba a capacidade de consumir. Um modo de consegui-lo é fazer com que nenhum produto satisfaça efetivamente as necessidades mais profundas de quem o adquire. Manipula os consumidores para que vivam num nível superficial, sem contato com as genuínas motivações. Isso leva, principalmente os jovens, a uma espécie de incapacidade para vivenciar e para interiorizar. Essa incapacidade faz recorrer permanentemente a estímulos e a novidades para se chegar a sentir que se está vivo. É o polo oposto da espontaneidade e da vital expressão da alegria de viver. o A convicção de que a felicidade pode ser uma experiência do presente, e não somente algo que se alcançará apenas no futuro, encheu a vida de muitos jovens de uma nova luz. A experiência demonstra, no entanto, que a felicidade completa só se desfruta quando acompanhada da capacidade de comprometer as energias em tarefas de longo alcance, com horizonte amplo e projeção social. Uma visão apenas de curto alcance torna estéril a capacidade de gozar e a esgota.
  • 27. Todas essas situações convidam a estarmos atentos, a discenir e a não permitir que se debilite o sentido de Deus, de sua ação e presença que convida a apostar, sempre, na vida. Contra a morte. 4. OS JOVENS E A IGREJA Não obstante a tendência á privatização do religioso e a criação de campos religiosos próprios, longe do modelo institucional, os jovens latino-americano estabeleceram um diálogo com a Igreja especialmente atráves da Pastoral da Juventude. Ela já tem um longo caminho percorrido que deve ser valorizado e avaliado em todos os seus dinamismos e limitações. Um momento forte desse diálogo foi o Primeiro Congresso Latino-Americano de Jovens, realizado em Cochabamba (Bolívia), de 18 de dezembro de 1991 a 5 de janeiro de 1992. Ali os jovens manifestaram sua consciência sobre as riquezas do continente. Ao mesmo tempo, contudo, denunciaram sua situação de empobrecimento, manipulação, marginalização e até extermínio, como consequência de “um processo histórico que violentou nossas culturas, direitos e dignidade humana”5 e os fez dependentes econômica, política, cultural e socialmente. Definiram-se como jovens “com rostos muito concretos, de classe popular, urbanos, rurais, trabalhadores, estudantes, desocupados, mineiros, pescadores... com um caminho comum de lutas e conquistas... porém necessitados de uma identidade latino-americana que nos dê oportunidades e formas de protagonismos”6 , unidos pela fé em Jesus Cristo numa “busca de perspectivas comuns para enfrentar a opressão e a marginalização porque seguimos crendo num Deus que nos faz transmitir vida a partir da pobreza”7 . Disseram querer “que a Igreja, especialmente a hierarquia, se faça pobre com os pobres, tenha contato com o povo que sofre, seja servidora e, através de sua ação, assuma a luta do povo pela libertação, inserindo-se na dinâmica social; que ela seja profética, denunciando a dependência e a pobreza no continente e os abusos econômicos e políticos, chamando por seu nome a cada injustiça”8 . Junto com a denúncia clara da injustiça, consideram “necessário o anúncio de critérios e meios para a construção da sociedade fraterna, alternativa à falsa liberdade que o neoliberalismo propaga e à falta de liberdade que fez o socialismo real fracassar. Essa atitude deve brotar da reconciliação da Igreja com o passado e do pedido de perdão pelas sombras que projetou, valorizando também as luzes geradas na vida da América Latina”9 . Propuseram “uma Igreja comunidade de comunidades, fraterna, dialogante, compreensiva, igualitária e sem distinções, organizada com unidade de critérios e de planos pastorais feitos de forma participativa com pastores amigos dos jovens, em atitude de escuta e de serviço, com leigos responsáveis em sua vocação... Uma Igreja que priorize a formação de pequenas comunidades encarnadas no ambiente cultural dos povos... onde a mulher seja reconhecida e valorizada como dinamizadora do corpo eclesial e social”10 . Os bispos, por sua vez, reunidos na IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Santo Domingo, constataram que “são cada vez mais os adolescentes e jovens que se reúnem em grupos, movimentos e comunidades eclesiais para rezar e realizar distintos serviços de ação missionária e apostólica” (SD 112). Reconheceram que “os jovens católicos, organizados em grupos, pedem aos pastores acompanhamento espiritual e apoio em suas atividades. Necessitam, sobretudo, em cada país, de linhas pastorais claras que contribuam para uma pastoral Juvenil orgânica” (SD 113). A Igreja continua tendo um grave problema de comunicação com os jovens. Muitas vezes desconhece suas linguagens, suas sensibilidades, suas lógicas e seus códigos. A rapidez das mudanças culturais e a condição instável da cultura e do próprio jovem criam-lhe dificuldades para gerar e 5 I Congresso Latino-Americano de Jovens, Quem somos? Nº1, CCJ, São Paulo, 1992. 6 Idem, nº6. 7 Idem, nº8. 8 Idem, Contribuição à IV Conferência Geral do CELAM, nº22. 9 Idem, nº23. 10 Idem, nº24-25
  • 28. acompanhar processos de amadurecimento humano e cristão. Assim o expressam os responsáveis nacionais da pastoral da juventude em seus âmbitos latino-americanos de encontro: “A mentalidade clerical ainda existente; o medo e a insegurança de muitos pastores, seu desconhecimento e conflito com as novas gerações e seu frequente afã de controle; a não-aplicação dos documentos do Magistério da Igreja em relação à vocação específica dos leigos e de maneira dualista de entender a relação Igreja- mundo; a falta de um plano integral e progressivo para o acompanhamento de todo o processo formativo dos jovens e o paternalismo de alguns assessores... fazem com que se experimente uma falta de valorização e de aceitação afetiva e efetiva da pastoral da juventude por parte de diferentes setores da Igreja, pastores e leigos adultos.”11 . “A existência de diferentes modelos de Igreja leva à separação que se percebe, muitas vezes entre uma Igreja que afirma mais os aspectos institucionais e uma Igreja que promove mais seu aspecto de Povo de Deus... Uma visão demasiadamente institucionalista da Igreja, reforçada por um excessivo clericalismo, promove frequentemente uma espiritualidade desencarnada, um sacramentalismo sem sentido e uma tendência excessiva a moralizar a vivência da espiritualidade... Alguns setores do mundo adulto relativizam ou até mesmo desvalorizam a participação dos jovens na Igreja e no mundo. Como não existe uma busca de diálogo com eles, desconhece-se o esforço que os jovens realizam pessoal e grupalmente para viver sua espiritualidade”12 . Não se pode desconhecer os esforços que a Igreja realizou e realiza por encarnar-se e responder com fidelidade aos desafios do mundo de hoje. A Pastoral da juventude continua abrindo espaços para que o jovem se expresse e seja Igreja. A Igreja latino-americana adquire um rosto jovem precisamente pela presença e pelo protagonismo de milhares de grupos e de jovens que a dinamizam e a renovam com sua ação. De todas as formas, é preciso que a opção preferencial pelos jovens seja mais efetiva que afetiva, isto é, que seja “uma opção concreta por uma pastoral da juventude orgânica em que haja um acompanhamento e apoio reais com diálogo mútuo entre jovens, pastores e comunidades” e na qual se destinem efetivamente “maiores recursos pessoais e materiais por parte das paróquias e das dioceses” (SD 114). “ O que requer hoje é uma Igreja que saiba responder às expectativas dos jovens. Jesus deseja dialogar com eles e propor-lhes, através de seu corpo que é a Igreja, a perspectiva de uma escolha que comprometa suas vidas. Como Jesus com os discípulos de Emaús, assim a Igreja deve fazer-se companheira de viagem dos jovens, com frequência marcados pelas incertezas, resistências e contradições, para anunciar-lhes a “nova” sempre maravilhosa de Cristo Ressuscitado”13 . 11 SEJ – CELAM, Assessoria e acompanhamento na pastoral da juventude – XI Encontro Latino-Americanos de Responsáveis Nacionais pela Pastora da Juventude, CCJ, São Paulo, 1993, p.9. 12 Espiritualidad y misión de la pastoral juvenil, Santafé de Bogotá, 1995, pp.22-23. 13 João Paulo II, Mensagem à XXXII Jornada Mundial de Oração pela Vocações, 7 de maio de 1995, nº2.