1. As TICs na educação:tempos e contratempos na formação docente
Francisco das Chagas de Sena
Maria Tatiany Azevêdo dos Santos
RESUMO
O presente trabalho investiga as políticas públicas de formação de
professores adotadas no município de Tenente Laurentino Cruz/RN, para o uso
das tecnologias da informação e comunicação – TICs na Rede Municipal de
Ensino. Portanto, analisa-se como tem acontecido essa prática política de
reorganização social, seus tempos e contratempos, ou seja, suas ações,
critérios,alternativas, metodologias e mecanismos de formação continuada que
visam àqualificação dos docentes para o trabalho com e por meio das
novastecnologias, aplicadas às mais diferenciadas ferramentas e contextos do
trabalho docente nas escolas para a efetiva inclusão digital.
Palavras-chave: Políticas Públicas.TICs. Formação de Professores.Inclusão
Digital.
1Introdução
O importante papel das Tecnologias da Informação e da Comunicação –
TICs na Educação depende de inúmeros aspectos dentre os quais, a formação
dos professores merece um destaque especial, pois é o docente na sua sala de
aula, quem irá disseminar e orientar a construção do conhecimento e auxiliar
no desenvolvimento intelectual,social e afetivo dos educandos.
Numa sociedade que vive em constantes mudanças impulsionadas pela
evolução tecnológica, a escola encontra o desafio de se superar e de se
mobilizar para acompanhar essa transformação, a qual demanda uma nova
postura dos seus profissionais, que precisam estar dispostos a buscar ou a
receber os conhecimentos necessários para a atualização da sua prática
docente no tocante as TICs, sendo importante a compreensão por parte dos
mesmos, de que eles são os responsáveis em gerir a sua própria formação.
O uso das TICs na Educação não é uma novidade. A utilização de
mídias impressas e audiovisuais como recursos para o ensino-aprendizagem já
é comum nas escolas brasileiras. Porém, há que se considerar que esses
recursos não podem ser apenas método de ensino, como um fim em si mesmo,
eles precisam ser trabalhados de forma mais consciente pelo professor, ou
2. seja, é necessário além do conhecimento técnico para o uso destes, objetivos
claros para a aprendizagem e a criação de um ambiente de aprendizagem
colaborativa e dinâmica, motivadora e rica em informações, que auxilie a
escola a cumprir sua função social, que é formar um cidadão para o mundo,
crítico, participativo e consciente de seus direitos e deveres.
O presente trabalho apresenta os resultados de uma investigação sobre
a política pública de formação dos professores da Rede Municipal de Tenente
Laurentino Cruz/RN para o trabalho com as TICs como recurso pedagógico. O
mesmo foi desenvolvido através de entrevistas orais e escritas e de revisão
bibliográfica acerca do assunto em pauta.A pesquisa foi realizada por
amostragem e a população pesquisada foram 26 (vinte e seis) professores da
Rede Municipal de Ensino que participaram de um curso de
formaçãooferecidopor iniciativa própria da Secretaria Municipal de Educação
(SEMEC), e de formações oferecidas através de parcerias com outros
programas e projetos, também foram entrevistados os professores/formadores
dos referidos cursos e a Coordenação Pedagógica da secretaria.
A temática escolhida partiu da necessidade de se perceber como
acontecea influência e incorporação das TICs nos processos pedagógicos,
seupodermultiplicadoresua aplicabilidadeà vida do educando. Para tanto,
buscou-se analisar a formação oferecida aos professores dareferida rede de
ensino, no tocante a responder as seguintes indagações: Qual o modelo de
formação oferecida ao docente? Este modelo tem atendido aos anseios dos
mesmos? O que precisa ser melhorado? Neste aspecto serão analisados os
critérios, as alternativas, as metodologias e os mecanismos de formação
utilizados pelos programas visando à qualificação dos docentes para o trabalho
nessa área.Este artigo também tem como propósito, elencar as principais
dificuldades apresentadas na introdução das TICs na práxis pedagógica.
2 As TICs na Educação: contexto histórico
Em se tratando das Tecnologias da Informação e Comunicação, as
inovações no campo digital surgiram e tomaram notoriedade e conhecimento
da população, a partir do advento do primeiro computador eletrônico no ano de
1945, conhecido como o ENIAC- Eletronic NumericIntegrator And Calculator,
ressaltando que o mesmo foi apresentado ao mundo em 14 de fevereiro do ano
seguinte.A partir de então, surge uma nova fase na vida das pessoas, com uma
significativa alteração na forma de se viver, de exercer funções profissionais,
bem como na forma de pensar, agir e aprender.
Posteriormente, tem-se a chegada e popularização da Internet no ano de
1993 (nos Estados Unidos) e 1995 (no Brasil),ocasionando significativas
mudanças no mundo das tecnologias, ressaltando que, inicialmente, a Internet
era disponibilizada apenas para o mundo acadêmico das Universidades e
3. Instituições de pesquisa, e a partir de 1993, é que acontece sua abertura para
o mundo, ocasionando uma revolução na vida de todos.
A Internet surge como forma de difundir a informação, de gerenciá-la
(organizá-la, armazená-la e recuperá-la), surgindo também a possibilidade de
análise, apresentação, compartilhamento, além do poder de tomadas de
decisões e soluções de problemas.Em categoria interpessoal como também no
plano público, ela possibilitou mudanças significativas na comunicação das
pessoas.
Desta forma é com propriedade que se pode afirmar que a Internet é
hoje a TIC digital por excelência, muito maior até que o próprio aparelho de
computador em si, uma vez que tornou-se a tecnologia que, dessa vez, operou
como agente revolucionário.É através deste processo de revolução que ela tem
uma atuação na mudança e evolução do processo educacional, seguindo a
trajetória das duas outras TICs que vieram antes dela, a escrita alfabética e o
livro impresso, que também tiveram seus méritos e construíram o seu papel
nesta mudança.
3Políticas de Formação de Professores no município de
Tenente Laurentino Cruz/RN
3.1 Programas de formação oferecidos pelo MEC e outras parcerias
Os programaseducacionais existentes no Brasil, na área datecnologia
educacional sãodistribuídos e aplicados nas redes de ensino municipal,
estadual e federal. Tais programas tem seu formato baseado nas propostasdos
parâmetros curricularesnacionais (PCNs) com o intuito de oferecer condições
de acessibilidade e de conhecimento para todos os estudantes.
No campo das políticas públicas, que estão sendo desenvolvidos e
implementadas no município de Tenente Laurentino Cruz/RN, através da
Secretaria Municipal de Educação, o Proinfo tem um papel relevante. É um
programa federal criado pelo Decreto 6.300, de 12 de dezembro de 2007 do
Ministério da Educação, sendo desenvolvido inicialmente pela secretaria de
Educação a Distância - SEED, por meio do departamento de Infraestrutura
Tecnológica – DITEC, e atualmente, com a extinção da SEED, o programa está
vinculado a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão – SECADI, em parcerias com as secretarias de Educação Estaduais e
Municipais. Seu funcionamento é descentralizado, havendo em cada Unidade
da Federação uma Coordenação Estadual, cuja atribuição principal é a de
introduzir o uso das TICs nas escolas da rede pública, além de subsidiar as
ações desenvolvidas sob a jurisdição, em especial as ações dos Núcleos de
tecnologia Educacional - NTEs. No Rio Grande do Norte a coordenação
estadual funciona em parceria com a UNDIME/RN, tendo como coordenadora a
Professora Maria Aparecida Inácio de Araújo.
4. Éumprograma de cunho educacional que objetivapromover ouso
pedagógicodainformáticanaredepúblicadeeducação básica. OPROINFO além
de oferecer formação continuada para os docentes e gestores,através do
Proinfo
Integrado,
levaàs
escolascomputadores,recursosdigitaiseconteúdoseducacionais.
Emcontrapartida, estados e municípios devem garantir a estrutura adequada
para receber os laboratórios e disponibilizar um professor/formador para
capacitar os educadores.Dentre os critérios para ser formador do Proinfo, o
programa exige um profissional comespecialização em Tecnologias na
Educação – PUC-RIO; Mídias na Educação – UFRN, ou que já tenha cursado
os 03 (três) cursos do Proinfo Integrado (Introdução a Educação Digital,
Ensinando e Aprendendo com as TICs e Elaboração de Projetos).
Segundo Fiorentini(2008, p. 65):
A concepção de formação do Proinfo Integrado tem como base (i) as
noções de subjetividade, isto é, o protagonismo do professor e dos
alunos na ação pedagógica; e (ii) de Epistemologia da Prática, ou
seja, o conjunto de saberes utilizados pelos profissionais da
educação em seu espaço de trabalho cotidiano, para o desempenho
de todas as suas atividades.
Tais fundamentos são as referências principais do programa, pois
retratam a expectativa de uma postura mais ativa dos sujeitos diante das
transformações exigidas no contexto atual no qual essa política se efetiva.
Uma outra parceria que vem dando suporte ao município em formação
para o uso das TICs na Educação éo Projeto de Capacitação em TICs para
professores e professoras atuantes nas áreas rurais do Seridó/RN. O referido
projeto foi criado em 2011 e é desenvolvido pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN) – Campus de Caicó, pelo Centro de Ensino Superior
do Seridó, sob a coordenação da professora Sandra Kelly de Araújo,
responsável pelo Departamento de Geografia. O objetivo do projeto é oferecer
formação aos professores das escolas rurais para o uso das
tecnologiasvoltadas ao ensino.
3.2 Políticas Públicas Municipais
No mês de maio de 2009, como o município já havia sido contemplado
com os equipamentos de informática, surgiu a iniciativa por parte da Secretaria
Municipal de Educação e Cultura de Tenente Laurentino Cruz, em oferecer um
curso de formação para os professores da Rede Municipal de Ensino, tanto da
área urbana quanto rural, o qual era intitulado: Informática para Docentes,
com a finalidade de capacitá-los para o uso das TICs no cotidiano escolar. Dos
96 professores efetivos da Rede Municipal, 25 aderiram à formação, dos quais,
apenas 12 concluíram, equivalendo a menos de 50% (cinquenta porcento) do
total de inscritos.
5. O curso possuía uma carga-horária de 60 horas e era composto de
duas etapas: na primeira, os professores eram orientados quanto à utilização
do computador, conhecendo alguns conceitos básicos sobre a parte física
(hardware) e a parte lógica (softwares), principalmente no uso do Linux
Educacional 2.0, o pacote de escritório Broffice.org (Writer, Calc e impress) e
os navegadores da internet.
No segundo momento, os docentes eram capacitados para utilizarem
na prática, os programas que haviam sido estudados na primeira etapa. Nesse
ponto, a ênfase era dada ao Linux Educacional 2.0, o qual é uma versão de
sistema operacional desenvolvida pelo MEC para ser usada em laboratórios de
informática, com uma identidade visual simples e intuitiva; aplicativos
educacionais personalizados; ferramentas de acesso e busca dos conteúdos
educacionais, além das inúmeras possibilidades de práticas pedagógicas com
o uso dos aplicativos contidos no sistema.
Durante essas atividades práticas, era mostrada a utilidade dos jogos
educacionais, com a possibilidade de trabalhar diversos conteúdos de maneira
divertida. Utilizava-se também, os vídeos do aplicativo TvEscola, os quais os
professores tinham a oportunidade de assistir a debates, documentários e
diversos outros programas cujos conteúdos podiam ser trabalhados em sala de
aula. Com o aplicativo Domínio Público, era apresentado aos educadores os
diferentes tipos de publicações, tais como artigos, livros infantis e infantojuvenis, todos eles possíveis de serem trabalhados de forma interdisciplinar.
Na sequência, era trabalhando junto aos professores à parte prática do
pacote de escritórios broffice.org. Com o editor de textos Writer, trabalhou-se
as diversas possibilidades de formatação de textos, com inserção de imagens,
tabelas e demais recursos. Com o programa de planilhas Calc, era ensinado
aos professores as diversas fórmulas do programa, enfatizando o uso com as
notas bimestrais dos alunos, facilitando o trabalho do professor. Com o
apresentador de slides Impress, viu-se as várias alternativas de criação de
slides, permitindo aos docentes utilizarem como recurso pedagógico em aulas
expositivas.
Por fim, os docentes eram orientados quanto ao uso da Internet. Nesse
momento, os professores conheciam as principais ferramentas da Web,
criavam seus e-mails e finalizando, era mostrada uma variedade de sites que
podiam ser usados pedagogicamentevoltados às especificidades das
disciplinas ministradas por eles.
Para finalizar o curso, era oferecido uma espécie de “estágio”, em que
os professores traziam seus alunos para conhecer o laboratório de informática
e participar de uma aula previamente planejada utilizando os computadores,
aplicando os conteúdos conforme o que estavam sendo ministrados em sala de
aula.
6. O material didático utilizado no Curso era planejado e confeccionado
pela própria equipe da Secretaria de Educação e oferecido em forma de
apostila impressa aos participantes.
Quanto à certificação, também foi emitida pela própria Secretaria
Municipal de Educação e entregue a todos os professores que concluíram o
curso de forma completa.
Quanto aos resultados obtidos, verificou-se que foram satisfatórios do
ponto de vista da inclusão digital, ou seja, muitos professores que se quer
tinham um conhecimento básico de informática e seu uso no cotidiano, se
familiarizaram com os conceitos básicos em relação às TICs e até colocaram
em prática no dia a dia, com o acesso às redes sociais.Todavia, se for
observado no contexto pedagógico, os resultados foram ineficientes, já que
uma minoria dos que concluíram o curso utilizaram as ferramentas aprendidas
na sua prática pedagógica, conforme dados obtidos junto à Secretária de
Educação e as escolas envolvidas nesse projeto.
Ocursofinalizou em agosto do mesmo ano, não dando sequência a
novas turmas, devido a fatores diversificados tais como: desinteresse do
público docente, determinação pela Secretaria de outras atribuições ao
professor que realizava asformações na época, fracionando o seu tempo com
outras atividades, além da falta deempenho da gestão municipal na criação de
outras políticas de fomento ao uso das TICs como recurso pedagógico para o
ensino e aprendizagem.
3.3 Realidade atual
A partir de entrevistas realizadas com o professor/formador do Curso
deInformática para Docentes, realizadono ano de 2009 e com professores
cursistas da época, pôde-se constatar queapesar da Rede de Ensino de
Tenente Laurentino Cruz/RN ter sido contemplada com laboratórios de
informática para a maioria de suas instituições, desde o ano de 2007 e de ter
realizado por iniciativa própria uma formação voltada ao uso das tecnologias
com fins educacionais, não conseguiu dar uma continuidade ao referido
trabalho, pois foram poucos os professores que tiveram acesso a essa
formação, alguns desistiram no decorrer do curso e a maioria realmente
demonstrava pouco interesse em utilizar os novos recursos na sua prática.
Havia uma clara resistência por parte dos docentes em agregar as TICsno dia
a dia da sala de aula, porque não entendiam ainda o papel destas na
educação, o que ocasionou um imenso atraso para a efetiva inclusão digital
nas escolas.
(...) os professores são por vezes profissionais muito rígidos, que têm
dificuldades em abandonar certas práticas, nomeadamente quando
elas foram empregues com sucesso em momentos difíceis da sua
carreira profissional. Muitas vezes nos interrogamos sobre as
7. reformas educativas e o modo como elas mudaram as escolas e os
professores, e, no entanto, esquecemo-nos de referir que foram
quase sempre os professores que mudaram as reformas,
selecionando, alterando ou ignorando as instruções emanadas de
“cima”. (NÓVOA, 1996, p. 26-27).
Por um longo período os laboratórios ficaram praticamente sem uso,
funcionando apenas para pesquisas e acesso às redes sociais pelos
educandos, sem a orientação educacional de um professor, pois os mesmos
em geral, ficavam sob a responsabilidade de técnicos em informática. Houve
uma grande lacuna na formação dos professores, pois as políticas públicas do
governofederal voltadas a formação docente para o uso das TICs na
Educação, apenas chegaram ao município a partir de 2012 com o Proinfo.
O ProinfoIntegrado chegou a Tenente Laurentino Cruz em outubro de
2012. Segundo informações da formadora municipal, um dos fatos pelo qual o
município ficou fora durante tanto tempo da rede de formação do programa, foi
o rigor nos critérios para a escolha do formador, pois no município até então,
não existia um professor efetivo com o perfil solicitado. A formadora municipal é
pedagoga e especialista em Mídias na Educação pela UFRN.
O programa realizou em 2012 a formação de 40 professores no Curso
de Introdução à Educação Digital, com carga-horária de 40 horas, e tem a
previsão de continuidade em abril deste ano, com o Curso Ensinando e
Aprendendo com as TICs, com carga-horária de 100 horas. No mês de março
de 2013, a formadora municipal será capacitada pela Coordenação Estadual
para oferecer no município a segunda formação, com vagas para até 40
professores.
Sobre o Curso de Introdução à Educação Digital, é uma formação que
tem como objetivo familiarizar, motivar e preparar os professores e gestores
escolares da rede pública da Educação Básica para a utilização dos
computadores e seus aplicativos, bem como dos recursos tecnológicos
disponíveis na internet. O mesmo propõe-se a contribuir para a inclusão digital
desses profissionais, não apenas instrumentalizando-os para a utilização dos
recursos dos computadores e da internet, mas também possibilitando uma
reflexão sobre o impacto dessas tecnologias e suas contribuições na vida
cotidiana e na sua prática pedagógica.
No município de Tenente Laurentino Cruz/RN, a formação iniciou-se
com 43 docentes, havendo a desistência de apenas 03 professores. O curso
era realizado semanalmente, com 03 horas de duração por encontro. O
material adotado era o Módulo de Introdução à Educação Digital,
disponibilizado pelo programa ao cursista.
Dentre as dificuldades elencadas pelo formador e cursistas, a questão
da carga-horária, foi um ponto em comum. Ambos, formador e professores
8. afirmam que 40 horas não foi suficiente para os conteúdos sugeridos no
módulo, e que mesmo o formador realizando alguns encontros extra, o tempo
ainda não foi suficiente, pois a maioria dos docentes ainda estava
“engatinhando” no uso do computador, alguns tinham dificuldade até de
conduzir o mouse.
O curso está dividido em 08 unidades: 1ª Tecnologias na sociedade e na
escola, 2ª Navegação, pesquisa na internet e segurança na rede, 3ª Blogs: O
quê? Por quê? Como?, 4ª Elaboração e Edição de textos, 5ª Cooperação (ou
interação) na rede, 6ª Cooperação supõe diálogo!, 7ª Apresentações de slides
digitais na escola e 8ª Resolução de problemas com a planilha eletrônica.
Segundo os professores questionados,a sequência das unidades
também se configurou numa grande dificuldade porque foi complicado navegar
na internet e criar um blog antes de aprender a elaborar e editar textos, para
eles, a unidade 04, deveria ser a primeira e ter uma carga-horária maior do que
as demais, porque a maioria dos cursistas precisava ser realmente
alfabetizados para o uso do computador, iniciando o aprendizado por ligar e
desligar a máquina.
No entanto, a principal reclamação dos professores cursistas, foi com
relação à questão do sistema operacional no qual está baseado o curso, que é
o Linux Educacional, sistema que foi colocado em evidência a partir de sua
utilização nos laboratórios de Informáticas das escolas públicas brasileiras,
através do Proinfo. Os docentes afirmam que a operacionalização do Linux é
mais complicada do que a do Windows, o qual já estão habituados e é o
sistema encontrado na maioria dos computadores da região.
Já na opinião da formadora, o formato modular flexível e aberto do
sistema
Linux
facilitaseudesenvolvimento,
pois
aflexibilidadedosistemapermitequeagregar
novas
facilidadesoumodificálascomomínimodecustos;aarquitetura
abertafacilitaaoprogramador
aincorporação de características adequadas às suas necessidades.A mesma
afirma que durante a formação sempre buscou fazer um paralelo entre o uso
do Linux e do Windows, mostrando as relações entre ambos, e que não houve
dificuldade quanto a esta questão.
Quanto ao Projeto de Capacitação em TICs para professores e
professoras atuantes nas áreas rurais do Seridó/RN, no município tem
funcionado através de oficinas, que por solicitação da Secretaria de Educação,
conta com a participação de professores das áreas rural (público-alvo) e
urbana. No ano de 2012 houve 02 oficinas, a primeira trabalhou o uso do
Google Earth e do Google Map como recursos didáticos e a segunda, trabalhou
o Site Project Noah. Ao serem consultados sobre o impacto do referido projeto
em seu trabalho, os professores relataram que as oficinas são proveitosas,
9. mas são rápidas, durando aproximadamente 03 horas e que as mesmas não
acontecem com frequência.
Os professores pesquisados ainda listaram outras dificuldades, como o
péssimo estado em que se encontram os laboratórios de informática, os quais
precisam de manutenção, o fato de algumas máquinas já estarem obsoletas e
o pequeno número de máquinas para a quantidade dos alunos, além da
questão de que a maioria dos mesmos não possuem computadores e internet
em suas residências, por falta de condições financeiras, o que dificulta sua
aprendizagem e compromete a qualidade do trabalho.
De acordo com levantamento das informações junto aos
docentes,sobreocontextoemqueatuam,dificuldadesenecessidadesenfrentadas,p
rojetos que os apoiam e estratégias desenvolvidas a fim de promover o efetivo
uso das TICs na práxis pedagógica, pôde-se inferir que tais dificuldades,
entretanto, não estão restritas apenas à ação do professor.
Balanskat
e
Blamire(2006,
Apud
PASSERINO,
2010)apresentamalgunsaspectosquecomprometemoprocessode
apropriação
das TICs pelos professores, são barreiras em nível dos próprios professores,
quando estes apresentam poucas competências tecnológicas e falta de
confiança no uso das novas tecnologias, em nível das escolas, as quais tem
um acesso limitado às TICs,falta desoftwares educacionais adequados e
ausência de uma dimensão nas estratégias pedagógicas para a integração das
tecnologias no processo educativo e barreirasemníveldesistemaeducacional,
pois a estrutura rígida de disciplinasou currículo, acabaimpedindo a integração
das TICs na sala de aula, com umensino enciclopédico cujo objetivo seria o
vestibular.
Outro fator que também pode ser apontado como uma dessas barreiras
é a formação inicial dos professores, na qual o espaço para a formação para o
uso das TICs é bastante reduzido, ficando esta formação quase que totalmente
sob a responsabilidade da formação continuada. Apesar deste aspecto não ter
sido apontado pelos docentes durante as entrevistas, há que ser considerado,
pois na era digital, o domínio das TICs são habilidades exigidas para a
docência. Para Delors (1998), o mundo contemporâneo exige que os
profissionais
estejam
continuamente
em
processo
de
formação
(longlifelearning), segundo a ideia de umaeducação permanente, para
quepossam acompanhar o acelerado processo de desenvolvimento científico
e tecnológico.
Neste particular, Valente (1999, p. 03) registrou que:
O preparo do professor não pode ser uma simples oportunidade para
passar informações, mas deve propiciar a vivência de uma
10. experiência. É o contexto da escola, a prática dos professores e a
presença dos seus alunos que determinam o que deve ser abordado
nos cursos de formação. Assim, o processo de formação deve
oferecer condições para o professor construir conhecimento sobre as
técnicas computacionais e entender por que e como integrar o
computador na sua prática pedagógica.
Por último,se faz necessário frisar a importância de que o professor
tenha o real desejo de se capacitar, de acompanhar o ritmo e falar a mesma
linguagem dos seus alunos, os quais fazem parte da “geração Z”¹, peças-chave
nessa evolução tecnológica. Segundo Freire (2001, p. 19): “Não podemos nos
assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da opção, como
sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos
éticos”. É preciso entender e acompanhar as transformações e vivenciar
juntoaos educandos um processo de construção do conhecimento, a partir de
novas possibilidades, deixando-se inserir nesse novo contexto de uma
aprendizagem colaborativa.
4 Considerações Finais
Em respostaas indagações que levaram aessainvestigação, pôde-se
inferir, pelos resultados apresentados, que parcela significativa dos docentes
não recebeu, durante os cursos universitários, formação específica para lidar
com as TICs; tampouco participaram de momentos em que seus mestres
utilizavam esses aparatos. Observa-se, nesse contexto, uma desarticulação
com o contexto histórico e social na formação inicial.
Quanto à formação continuada, apresenta inúmeros problemas de
ordem estrutural dos programas que a oferece, com relação a tempo, espaço,
metodologia, ou seja, na dinâmica do processo propriamente dito. A formação
de professores, como processo sistemático e organizado, precisa ser realizada
de forma crítica e reflexiva, devendo ser constantemente avaliada, pois implica
noatodeaprenderaensinar, o qualrequermetacognição, conhecimento prático,
investigação, trabalho colaborativo e socialização. Para tanto, é preciso tomar
como ponto de partida as experiências do professor, seus distintossaberes, e,
sobretudo, a discussão do papel da tecnologia para o ensino-aprendizagem na
realidade investigada.
__________
¹Jovens que vivem cercados de ferramentas tecnológicas. Dados do Centro de Estudos sobre
as Tecnologias da Informação e Comunicação (CETIC) mostram que os cidadãos entre 10 e 24
anos são maioria na rede, passam em média três horas por dia na frente do computador e
costumam ser usuários habituais de redes sociais.
Durante a pesquisa realizada, foi possível perceber a preocupação dos
professores em superar suas dificuldades, a fim de qualificar sua
açãopedagógica, o que se configura num grande passo para a construção de
11. uma nova prática. Ogrupo apresentou algumas propostas para atuar
pontualmente na questão, tais como:mais cursos e encontros de
aperfeiçoamento eformação de grupos de estudos de acordo com a
experiência. Taissugestões apontampara aurgênciadeapoio especializado, a
necessidade de formação continuada e a preocupação com os níveis de
fluênciadosenvolvidos.Porém,
esta
última,que
inicialmenteaparececomumfatorquefavorece a aprendizagem cooperativa,
também pode ser interpretada como uma forma de segmentação do grupo,
perceptível na proposta de criação de grupos de acordo com a experiência,
portanto, a mesma requer uma análise mais aprofundada.
Transformar a inclusão digital em política pública implica em alguns
pressupostos, dentre eles, o reconhecimento de que a exclusão digital dificulta
o desenvolvimento humano e aaceitação de que a liberdade de
expressãoeodireitodesecomunicarnãopodemserexclusivosàminoriaquetem
acesso a comunicação em rede. Dessa forma, faz-se necessário o
engajamentodo poder público na questão de promover a melhoria do ensino no
país, e para isso, deve propor uma política pública de qualidade, que se
apresente não apenas em teoria e/ou decretos, mas que se efetive eficiente na
prática.
Por fim,a cada educador, cabe discutir e propor caminhos em direção a
sua formação para o uso das tecnologias com vistas educacionais, gerindo e
participando ativamente do seu processo de formação, questionando as
aplicações e as oportunidades que se abrem para uma nova forma de educar
com o uso da TICs, sempre buscando superar suas limitações, a fim de
oferecer um ensino-aprendizagem de excelência. Ao poder público, é valido
reforçar, cabe criar e oferecer políticas públicas, que respeitem a realidade dos
sujeitos envolvidos, teorias que se tornem efetivas práticas, que se configurem
sem exclusão.
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