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COMO A ARTE LITERÁRIA PODE AUXILIAR NO ENSINO DE
HISTÓRIA?
Mylla Christtie Montenegro Bezerra (1); Thiago Acácio Raposo (2); Auricélia Lopes
Pereira (3);
(1) Universidade Estadual da Paraíba – Bolsista PIBID/Capes, E-mail: mmyllac@gmail.com; (2)
EEEF Senador Humberto Lucena – Professor Supervisor PIBID, thiagoraposo20@gmail.com; (3)
Universidade Estadual da Paraíba – Docente, auricelialpereira@hotmail.com
Resumo: O presente artigo propõe um breve estudo acerca da prática de ensino de história dentro da
sala de aula quando se pretende abordar a literatura como método de ensino. Procura-se estudar de que
maneira a arte literária pode auxiliar no ensino de história, como ela pode contextualizar um período
histórico estudado pelos alunos. Em diferentes períodos históricos foram produzidas diferentes
literaturas em divergentes escolas literárias, cada qual procurando abordar a realidade do seu período.
Sendo assim, a história foi abordada além do fazer histórico, ela esta também na ficção literária. A
visão sobre como podemos abordar a arte literária para ensinar história vem da escola dos Annales, foi
com eles que a partir do século XX, com Lucien Febvre e Marc Bloch, que se pensou na possibilidade
de usar a literatura como forma de ensino em história. Contrariando a historiografia até então vigente,
que era a positivista, ou, também chamada tradicionalista – que entendia a história como os grandes
acontecimentos, ou os grandes feitos de homens ilustres -, a escola dos Annales introduz nos seus
estudos visões de outras áreas, como: a antropologia, a sociologia, a geografia, a psicologia, a
economia e etc, estudando arte, música, literatura. A partir da visão de teóricos como: Valdeci
Rezende Borges, José Carlos Reis e Sandra Jatahy Pesavento foi que se pode observar como podemos
utilizar a arte literária para o ensino de história. Sabe-se que o fazer literário é uma ficção, uma criação
do autor, mas dentro daquela fantasia literária está como a sociedade vive, pensa e se comporta. É nas
entrelinhas da ficção que se pode encontrar a “mentalidade” da sociedade da época em que a obra foi
escrita.
Palavras-chave: História, literatura, produção histórica.
Introdução
É a partir da Escola dos Annales, com a história problema e com o questionamento da
história positivista ou tradicional, que se tem uma abertura na historiografia para outras áreas
como a antropologia, a sociologia, a geografia, a psicologia, a economia etc., estudando-se as
artes, a música, a literatura, dentre outras. Também conhecida como “Nova História” ou
“História Problema”, é com a Escola dos Annales que se tem uma renovação na
historiografia, não negando ou subtraindo o que já se havia feito/escrito, mas procurando
olhar com outros olhos – um novo olhar para a escrita/narrativa/pesquisa histórica. Diante
desse novo olhar, o que mudou no estudo historiográfico? Quais eram as novas fontes
históricas e como se deveria abordá-las? Como trazer as novas fontes históricas para dentro da
sala de aula?
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Com a “Nova História”, observou-se que a escrita histórica se parece muito com a
literatura, que a construção histórica vai além dos vestígios dos antepassados, possui uma
intersecção com a imaginação antes de ser escrita, assim como a literatura. O que se procura
no presente artigo é ver como a literatura, pode auxiliar a história no seu desenvolvimento
dentro de sala de aula. Como a literatura pode transmitir história e ajudar os alunos a
entenderem o contexto histórico imposto a eles como estudo?
A escola dos Annales
A escola dos Annales nasce com a crise do paradigma tradicional, com a aproximação
da História com as Ciências Sociais, com a problematização do “fazer” história. A “Nova
História” – assim chamada por muitos historiadores – nasceu para “se opor ao caráter
narrativo da história tradicional” (REIS, 2010, p. 92). Ela tinha a missão de quebrar a visão
positivista, aonde se valorizava apenas os grandes homens e os grandes acontecimentos. Ela
enaltecia a guerra, as batalhas e via o Estado como “superpotência”, excluindo dessa lista os
“miseráveis”, os mais humildes, a grande massa populacional. A “Nova História” queria
escrever a história a partir das mentalidades, de como as pessoas se comportavam, se viam,
pensavam, seus medos, seus costumes e assim por em diante.
Os Annales produziram “uma nova representação do tempo histórico” (REIS, 2000,
p.15) e foi esta que fez com que eles fossem considerados a “Nova História”, através da
interdisciplinaridade. Para além dos documentos oficiais, procuraram outras fontes, se
lançando então sobre as artes: pictóricas, escritas, faladas. A literatura, uma fonte escrita,
acabou sendo observada como uma das artes que melhor explicita como as pessoas pensam
em determinada época, perante seu contexto histórico. Sendo então, dentre as novas fontes
históricas trazidas pelos Annales, a mais estudada.
História X Literatura
A História é considerada a “ciência do homem no tempo” (BLOCH, 2001), a narrativa
dos fatos vividos e experimentados por homens que vivem ou já viveram. É a ciência que
procura descrever o que já aconteceu na humanidade. Ela pode ser uma narrativa/escrita
singular, aonde descreve a história de apenas uma pessoa, como a biografia – muito praticada
pelos historiadores tradicionais -, ou uma narrativa/escrita no
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plural, aonde procura descrever a história de um conjunto de pessoas – este tipo ganha
efervescência com os Annales. Indiferentemente de qual das histórias esteja sendo praticada,
os historiadores procuravam voltar ao passado, através de vestígios - fontes históricas em
busca de uma “verdade” – entendendo que essa é uma construção social/cultural/histórica a
partir das vivências, particularidades e ideologias do historiador que escreve e por isso é
relativa – do que de fato aconteceu. Sabendo que essa verdade é subjetiva, pois existem
verdades, nas palavras de Pesavento: “[...] existem hierarquias de verdade, verdades parciais,
transitórias, pessoais ou sociais, como uma espécie de verdades provisórias, aceitas e
reconhecidas, como tal em uma época dada” (PESAVENTO, 2012, p.70). Desse modo, os
historiadores sabem que existem verdades, mas procuram por meio dos vestígios e da
argumentação provar que a sua verdade é a que está correta. Porém, deve-se lembrar também,
que existem aqueles que relativizam até mesmo o seu relativismo, a sua verdade.
A Literatura é considerada uma forma de arte. A ela juntam-se a música, as artes
cênicas, a pintura, a escultura, a arquitetura, o cinema, a fotografia, as histórias em quadrinhos
etc., e todas essas produções, de formas distintas, estão integradas em um tempo, em uma
cultura, em uma tradição. São produções artísticas que expressam sua época, sua cultura, sua
mentalidade, seu modo de ver e viver a vida. A literatura está inserida nas artes das palavras,
no ato de construir textos, quer sejam verbais, orais ou escritos. Ela traz emoção,
divertimento, alegria, tristeza, permitindo ao leitor sair do mundo real para o mundo ficcional
e vice-versa. A literatura não tem o dever de descrever a realidade, mas pode registrá-la,
fazendo com que os leitores/ouvintes avaliem a vida e seus comportamentos. Ao mesmo
tempo em que ela tem o poder de fazer com que façamos uma reflexão, responde a
inquietações através de construções simbólicas.
Duas formas distintas de escrita – a histórica e a literária -, uma busca “a verdade dos
acontecimentos” e a outra a reflexão da sociedade, da vida, do ser social, possuindo maior
liberdade (quando comparada a história), pois não necessita da existência do evento histórico,
ela é livre para voar aonde quiser e bem entender. Entrelaçadas entre si, principalmente pela
escrita, estão separadas pela redação. José Carlos Reis diz sobre o fazer histórico: “[...]
nenhum historiador oferece ao seu leitor/ouvinte o passado enquanto tal, mas uma narrativa,
um livro, um texto, uma conferência, ‘um artefato verbal não sujeito a controle experimental e
observacional’. A abordagem da história é uma leitura de um texto escrito e assinado por um
autor” (REIS, 2010, p.63-64).
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Ele mostra que a escrita histórica é mais parecida com a literária do que com a
cientifica, que é empírica, observável e experimental. Coisa que o historiador não pode fazer,
pois, na maior parte das vezes, ele não esteve presente nos acontecimentos e quando esteve,
sua subjetividade falará mais alto no ato de escrever. Ele contará os fatos a partir de seu ponto
de vista. Reis diz sobre os historiadores: “[...] sempre relutaram em reconhecer que o que
fazem são ‘textos’ e que as suas narrativas são o que são: ‘ficções verbais cujos conteúdos são
inventados e descobertos, cujas formas têm mais em comum com a literatura do que com a
ciência’” (REIS, 2010, p. 64).
O fazer história vai além da fonte, quer seja escrita ou iconográfica, ela está presente
também na imaginação, de como o homem ver o passado, vivencia o presente e imagina o
futuro. A literatura não está tão distante da história, os seus escritos muitas vezes têm
embasamentos históricos, aqueles vividos pelos autores. Cada autor é fruto de seu tempo e
sobre ele escreverá, quer seja por metáfora, metonímia, sinédoque ou ironia. Ele pode também
apenas fazer uma autobiografia de si, contando o que viveu durante a vida ou relatando algum
acontecimento que vivenciou e que acha importante.
A literatura e a história caminham juntas para desenvolverem e fazerem a sociedade
pensar e repensar a vida, o cotidiano, as relações que vivenciam. A primeira com um sentido
mais subjetivo, a segunda em busca de um objetivo.
Pesavento, de acordo com Valdeci Borges, diz que temos que considerar uma tríade no
conhecimento histórico,
“[...] composta pela escrita, o texto e a leitura. No que se refere à instância da escrita
ou da produção do texto, o historiador volta-se para saber sobre quem fala, de onde
fala e que linguagem usa. Já ao enfocar o texto em si, o que se fala e como se fala
são questões indispensáveis. No trato da recepção, visa abordar a leitura de um
determinado receptor/leitor ou de um grupo de receptores/leitores, tratando das
expectativas de quem recebe o texto, de sua contemplação, ou seu enfrentamento ou
resistência a ele” (PESAVENTO, 2004, p.69-70 apud BORGES, 2010, p.95).
Sobre as narrativas, Borges afirma:
“[...] sejam [elas] históricas ou literárias, ou outras, constroem uma representação
acerca da realidade, procura-se compreender a produção e a recepção dos textos,
entendendo que a escrita, a linguagem e a leitura são indivisíveis e estão contidas no
texto, que é uma instância intermediária entre o produtor e o receptor, articuladora
da comunicação e da veiculação das representações” (Borges, 2010, p.95).
Borges procura fazer uma comparação das narrativas históricas e literárias para saber
aonde elas se aproximam na construção do texto escrito e
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pronuncia que o texto é uma forma de comunicação e de representação, ou seja, o escrito,
quer seja histórico ou literário, é uma representação da sociedade em que o autor vive. Sendo
então a literatura uma das formas escritas que melhor introduz a mentalidade de uma
determinada época, pois o autor estar inserido no momento presente em que as coisas
acontecem.
Literatura, um caminho de estudo.
Um dos caminhos para se estudar a(s) mentalidade(s) de uma determinada época, de
uma determinada classe social ou de uma sociedade, é por meio da literatura. Esta, mesmo
que indiretamente, transmite os costumes da sociedade da época em que a obra foi escrita.
Mesmo que o autor não perceba, ele está disseminando o que a sua época pensa (ou não)
sobre determinado assunto. Ele transmite como as pessoas se comportam, se vestem, pensam,
agem.
Em autores como Machado de Assis, Aluísio Azevedo e José de Alencar, pode-se ver
a sociedade brasileira que os rodeava. Machado de Assis é caracterizado como um “mestre da
observação psicológica”. Enquanto Aluísio Azevedo é um crítico feroz da sociedade e do
racismo. Já José de Alencar possui um perfil crítico da cultura e dos costumes de sua época,
sempre procurando transcrever a história do Brasil, buscando uma identidade nacional ao
descrever a sociedade burguesa do Rio de Janeiro. Autores brasileiros que, ao seu modo e a
partir do seu ponto de vista, escreveram sobre a sociedade, os costumes, a(s) mentalidade(s)
de seus tempos. Contribuições que podem ajudar os alunos a entenderem como as pessoas,
ou, pelo menos, como os autores viam a sua contemporaneidade. Algumas obras literárias
analisam a sociedade ao seu redor.
Em “Um Teto Todo Seu”, Virginia Woolf fala sobre as mulheres e a ficção e com uma
pequena fábula mostra como as mulheres eram vistas dentro das universidades, que eram
lugares vistos como exclusivos para homens. Ela, ao longo de seu livro, discorre sobre como
as mulheres são desencorajadas a serem escritoras e atenta para o fato que sem recursos
financeiros e legitimidade cultural elas não conseguem desenvolver seu talento.
Outra escritora bastante famosa na literatura estrangeira é Jane Austen. Ela retrata a
sociedade ao seu redor e como as mulheres eram vistas dentro desta. Escreve sobre os
cortejos, o casamento e a visão de que as mulheres são inferiores aos homens.
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Voltando-se para uma escritora brasileira, Zélia Gattai, esposa de Jorge Amado, este
mais famoso do que a mulher na literatura brasileira, escreve um ensaio autobiográfico sobre
os italianos no Brasil e como estes viviam e sobreviviam após chegarem a um continente
totalmente desconhecido para eles.
O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, é uma “ficção filosófica”, aonde o autor tem
como tema central o trato sobre a filosofia e seus diversos pensadores, dos Sofistas gregos até
Sigmund Freud, desde o desenvolvimento do mundo até o ultimo pensador que fala sobre a
psicanalise.
Estes autores e tantos outros retrataram em suas obras literárias os seus pensamentos
sobre a sociedade, ora questionando o que não achavam justo, ora discorrendo sobre suas
vidas ou sobre pensamentos. Eles retratam a sociedade que os cercava e os diversos
pensamentos, ou como os Annales queriam analisar, as diversas mentalidades de diversas
épocas. Retratam a cultura de sua época e por vezes questionam o que não acham justo,
mostrando por meio da ficção a verdade. Virginia Woolf diz: “O que era verdade e o que era
ilusão? ” (WOOLF, 2014, p.28).
O que pode ser considerado como verdade ou como ilusão em uma obra literária? Se
até os desenhos animados trazem um pouco de verdade sobre a sociedade, por meio de sátiras
sobre a vida social dos homens. As diversas formas literárias, sejam elas escritas ou faladas,
falam sobre a sociedade, sobre os homens, sobre como pensam, agem, vivem. A literatura é
uma construção que esta implícita “na” e “da” sociedade.
Como abordar a literatura em sala de aula
Dentre diversas opções, podemos escolher a obra literária que vamos estudar/analisar,
por tema/assunto estudado em sala de aula. Por exemplo, quando se quer contextualizar a
história dos negros escravizados, pode-se trabalhar com obras como 12 anos de escravidão ou
Negras Raízes, escritas, respectivamente, por Solomon Northup e Alex Haley. A primeira foi
escrita por um negro – uma autobiografia - no século XIX, que teve sua liberdade “furtada”.
Ele nasceu livre nos Estados Unidos, quando recebe uma proposta de trabalho e é
sequestrado, drogado e comercializado como escravo, tendo passado 12 (doze) anos como
escravo em uma fazenda de algodão. Após ser resgatado, ele escreve como foram seus 12
(doze) anos sendo um “prisioneiro”, retratando e detalhando como era a vida de um escravo.
Solomon Northup escreve sobre duas perspectivas: ter sido um negro livre e culto e um
homem escravizado.
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A segunda obra, Negras Raízes, foi escrita quando a escravidão já havia acabado nos
Estados Unidos da América. O seu autor Alex Haley, que cresceu escutando a história de
Kunta Kinte, seu trisavô, quis relatar a sua genealogia, desde a vinda do primeiro negro da sua
família para a América até ele. A história se inicia na África, onde seu trisavô foi capturado
por traficantes de escravos. Ele retratará o sofrimento sofrido pelos negros no navio negreiro,
a fome, as doenças e as humilhações por qual passavam no navio. Relata as negras que eram
estupradas pelos traficantes, chegando a ficarem na carne viva e como alguns negros eram
jogados para fora do navio para aliviarem a fome dos tubarões.
Duas obras que emocionam e retratam em detalhes como era a vida do negro como
escravo, ou melhor, como sobreviviam numa sociedade escravocrata. Essas duas obras não
são consideradas realistas – lembrando que são obras norte americanas e o realismo que falo
aqui é o brasileiro, no máximo, alcançando o europeu -, mas possuem características dessa
literatura. Suas características são: objetivismo; linguagem culta e direta; narrativa lenta, que
acompanha o tempo psicológico; descrições e adjetivações objetivas, com a finalidade de
captar a realidade de maneira fidedigna; universalismo; sentimentos, sobretudo o amor,
subordinados aos interesses sociais; herói problemático, cheio de fraquezas; e a não
idealização da mulher.
O principal autor brasileiro dessa escola literária no Brasil é Machado de Assis, a sua
obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicada em 1881, é considerada como o primeiro
romance realista brasileiro. Considerado como um mestre da observação psicológica, ele
escreve a história a partir de um narrador-observador-personagem. Brás Cubas é um defunto
que decide contar a sua história, analisando a sociedade que o cercava, julgando as atitudes
das personagens de quem fala. As memórias de Brás Cubas permitem que se tenha acesso a
sociedade carioca do século XIX. O próprio personagem relata como era a elite carioca no
tempo em que viveu, descrevendo a sociedade. Pode-se perceber que pelas características da
escola literária realista e pela sua principal obra, que a literatura “tendenciou” a escrever sobre
a sociedade e como esta se comportava, pensava, vivia.
A arte literária é uma criação do seu tempo, ela pode ser analisada de diversos pontos
de vista, desde como o negro era visto a como a sociedade vivia, de como as mulheres se
comportavam a como elas eram tratadas pelos homens.
Cada professor de história deve analisar se a obra que pretende utilizar esta de acordo
com o tema que foi abordado e estudado pelos alunos, deve também analisar se estes (os
alunos) tem maturidade para ler e entender a obra. O docente
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também pode trazer trechos da(s) obra(s) para analisa-las junto com os alunos – talvez, quem
sabe, não desperte o interesse do aluno para ler a obra completa, já que o tempo de aula é
curto até mesmo para se trabalhar o livro didático, quem dirá uma obra de literatura.
Foram abordados aqui 3 (três) obras que podem ser trabalhadas em sala de aula, mas
existem diversas outras, cabendo ao professor de História saber qual obra utilizar e como
aborda-la para ajudar o aluno a entender o contexto histórico em que ele está trabalhando.
O professor de história
O professor de história deve estar disposto a trabalhar com a literatura e as suas
diversas correntes, sempre explicando ao alunado que são histórias fictícias escritas por um
autor que não tem a obrigação de transcrever nos seus livros a “verdade” histórica, mas a de
representar a história de seu tempo, de um tempo precedente ou posterior. Contudo, deve-se
mostrar ao aluno, que as obras fictícias também trazem “verdades” da sociedade, da história
do autor, que podem ser retiradas e analisadas por todos.
Como já citado, existem diversas obras que podem ser analisadas, quer sejam
brasileiras ou estrangeiras. Os temas também são diversificados, entre eles está à história da
mulher, do negro, da população pobre e como esta vivia, dos homens ricos, de como a
sociedade se comportava, etc. Coloca-se o termo “história”, mas o que se realmente que
retirar da literatura é a “mentalidade” das diversas épocas, como viviam e sobreviviam. Ao
analisar essa fonte histórica, os historiadores – e os alunos também poderão fazer isso -
procuram ir além de fatos concretos, como o ano em que determinada pessoa nasceu ou
morreu ou com quem se casou. O que se procura saber é como a pessoa viveu, o que comia,
como eram suas relações com a família e com os amigos, quais eram os seus gostos ou
preferencias. E é isso o que a literatura demonstra, entre linhas. Lá estão os gostos da
sociedade, das pessoas que viviam em determinado tempo.
É isso o que o professor de história pode retirar da literatura para demonstrar ao seu
alunado, para fazer com que os mesmos façam uma analise de determinada época, de um
determinado contexto histórico, que ele não esteve presente, mas que pode imaginar como
era.
O professor de história também deve lembrar ao seu aluno, que o pensamento do seu
tempo não pode julgar o de tempo precedente, pois as coisas mudam, enquanto outras
permanecem as mesmas de tempos atrás. O docente tem que estar preparado para fazer
analogias, explicar, tirar as dúvidas dos alunos e, antes de
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qualquer coisa, ele tem que ver se o aluno tem capacidade, naquele momento, de entender os
diversos tempos históricos e como eles mudam. Mostrando as mudanças e as permanências da
história, podendo-se utilizar da literatura para isso. O professor antes de qualquer coisa tem
que está disposto a fugir do modo operatis tradicional, para incluir outras fontes e mostrar ao
aluno como se utiliza estas.
Conclusão
O escrito histórico é por vezes muito parecido com o literário, mas se separa deste pela
investigação precedente que faz através de vestígios e argumentos para mostrar o que de
“fato” aconteceu no passado, enquanto que o literário é uma fábula, um conto, uma invenção,
é uma narrativa que era para ser considerada irreal, sem verdades para a sociedade, no
entanto, muitas vezes aborda a sociedade melhor do que muitos livros históricos, que apenas
apresentam teorias. A obra literária acaba mostrando como as pessoas pensam e vivenciam o
seu tempo. A literatura acaba se apresentando “como uma configuração poética do real”
(BORGES, 2010, p. 108). A literatura não existe sem que a vida real exista, pois é a partir do
mundo real que se é escrito os contos, as fábulas. É através do que o autor vivencia no mundo
real que ele pode criar, imaginar, inventar o ficcional. Um autor só pode falar do que ele sabe
que existe ou do que ele supõe que pode existir algum dia. A mentalidade de uma época está
nas entrelinhas da história literária e na imaginação do autor, que é fruto do seu tempo. A
literatura é a vida presente de quem escreve.
Referências bibliográficas
BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2001.
BORGES, Valdeci Rezende. História e Literatura: Algumas Considerações. Revista de
Teoria da História, Ano 1, Número3, junho/2010. Universidade Federal de Goiás ISSN:
21755892.
BURKE, Peter (org.). A Escrita da história: novas perspectivas. Tradução de Magda
Lopes. – São Paulo: Editora da UNESP 1992. – (Biblioteca básica).
REIS, José Carlos. Escola dos Annales - A inovação em História. São Paulo: Paz e Terra,
2000.
______________. O desafio historiográfico. – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010. 160P.
(Coleção FGV de bolso. Série História).
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WOOLF, Virginia. Um Teto Todo Seu. Tradução: Bia Nunes de Sousa, Glauco Mattoso. 1.
Ed. – São Paulo: Tordesilhas, 2014.

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ARTIGO – COMO A ARTE LITERÁRIA PODE AUXILIAR NO ENSINO DE HISTÓRIA?.

  • 1. www.conedu.com.br COMO A ARTE LITERÁRIA PODE AUXILIAR NO ENSINO DE HISTÓRIA? Mylla Christtie Montenegro Bezerra (1); Thiago Acácio Raposo (2); Auricélia Lopes Pereira (3); (1) Universidade Estadual da Paraíba – Bolsista PIBID/Capes, E-mail: mmyllac@gmail.com; (2) EEEF Senador Humberto Lucena – Professor Supervisor PIBID, thiagoraposo20@gmail.com; (3) Universidade Estadual da Paraíba – Docente, auricelialpereira@hotmail.com Resumo: O presente artigo propõe um breve estudo acerca da prática de ensino de história dentro da sala de aula quando se pretende abordar a literatura como método de ensino. Procura-se estudar de que maneira a arte literária pode auxiliar no ensino de história, como ela pode contextualizar um período histórico estudado pelos alunos. Em diferentes períodos históricos foram produzidas diferentes literaturas em divergentes escolas literárias, cada qual procurando abordar a realidade do seu período. Sendo assim, a história foi abordada além do fazer histórico, ela esta também na ficção literária. A visão sobre como podemos abordar a arte literária para ensinar história vem da escola dos Annales, foi com eles que a partir do século XX, com Lucien Febvre e Marc Bloch, que se pensou na possibilidade de usar a literatura como forma de ensino em história. Contrariando a historiografia até então vigente, que era a positivista, ou, também chamada tradicionalista – que entendia a história como os grandes acontecimentos, ou os grandes feitos de homens ilustres -, a escola dos Annales introduz nos seus estudos visões de outras áreas, como: a antropologia, a sociologia, a geografia, a psicologia, a economia e etc, estudando arte, música, literatura. A partir da visão de teóricos como: Valdeci Rezende Borges, José Carlos Reis e Sandra Jatahy Pesavento foi que se pode observar como podemos utilizar a arte literária para o ensino de história. Sabe-se que o fazer literário é uma ficção, uma criação do autor, mas dentro daquela fantasia literária está como a sociedade vive, pensa e se comporta. É nas entrelinhas da ficção que se pode encontrar a “mentalidade” da sociedade da época em que a obra foi escrita. Palavras-chave: História, literatura, produção histórica. Introdução É a partir da Escola dos Annales, com a história problema e com o questionamento da história positivista ou tradicional, que se tem uma abertura na historiografia para outras áreas como a antropologia, a sociologia, a geografia, a psicologia, a economia etc., estudando-se as artes, a música, a literatura, dentre outras. Também conhecida como “Nova História” ou “História Problema”, é com a Escola dos Annales que se tem uma renovação na historiografia, não negando ou subtraindo o que já se havia feito/escrito, mas procurando olhar com outros olhos – um novo olhar para a escrita/narrativa/pesquisa histórica. Diante desse novo olhar, o que mudou no estudo historiográfico? Quais eram as novas fontes históricas e como se deveria abordá-las? Como trazer as novas fontes históricas para dentro da sala de aula?
  • 2. www.conedu.com.br Com a “Nova História”, observou-se que a escrita histórica se parece muito com a literatura, que a construção histórica vai além dos vestígios dos antepassados, possui uma intersecção com a imaginação antes de ser escrita, assim como a literatura. O que se procura no presente artigo é ver como a literatura, pode auxiliar a história no seu desenvolvimento dentro de sala de aula. Como a literatura pode transmitir história e ajudar os alunos a entenderem o contexto histórico imposto a eles como estudo? A escola dos Annales A escola dos Annales nasce com a crise do paradigma tradicional, com a aproximação da História com as Ciências Sociais, com a problematização do “fazer” história. A “Nova História” – assim chamada por muitos historiadores – nasceu para “se opor ao caráter narrativo da história tradicional” (REIS, 2010, p. 92). Ela tinha a missão de quebrar a visão positivista, aonde se valorizava apenas os grandes homens e os grandes acontecimentos. Ela enaltecia a guerra, as batalhas e via o Estado como “superpotência”, excluindo dessa lista os “miseráveis”, os mais humildes, a grande massa populacional. A “Nova História” queria escrever a história a partir das mentalidades, de como as pessoas se comportavam, se viam, pensavam, seus medos, seus costumes e assim por em diante. Os Annales produziram “uma nova representação do tempo histórico” (REIS, 2000, p.15) e foi esta que fez com que eles fossem considerados a “Nova História”, através da interdisciplinaridade. Para além dos documentos oficiais, procuraram outras fontes, se lançando então sobre as artes: pictóricas, escritas, faladas. A literatura, uma fonte escrita, acabou sendo observada como uma das artes que melhor explicita como as pessoas pensam em determinada época, perante seu contexto histórico. Sendo então, dentre as novas fontes históricas trazidas pelos Annales, a mais estudada. História X Literatura A História é considerada a “ciência do homem no tempo” (BLOCH, 2001), a narrativa dos fatos vividos e experimentados por homens que vivem ou já viveram. É a ciência que procura descrever o que já aconteceu na humanidade. Ela pode ser uma narrativa/escrita singular, aonde descreve a história de apenas uma pessoa, como a biografia – muito praticada pelos historiadores tradicionais -, ou uma narrativa/escrita no
  • 3. www.conedu.com.br plural, aonde procura descrever a história de um conjunto de pessoas – este tipo ganha efervescência com os Annales. Indiferentemente de qual das histórias esteja sendo praticada, os historiadores procuravam voltar ao passado, através de vestígios - fontes históricas em busca de uma “verdade” – entendendo que essa é uma construção social/cultural/histórica a partir das vivências, particularidades e ideologias do historiador que escreve e por isso é relativa – do que de fato aconteceu. Sabendo que essa verdade é subjetiva, pois existem verdades, nas palavras de Pesavento: “[...] existem hierarquias de verdade, verdades parciais, transitórias, pessoais ou sociais, como uma espécie de verdades provisórias, aceitas e reconhecidas, como tal em uma época dada” (PESAVENTO, 2012, p.70). Desse modo, os historiadores sabem que existem verdades, mas procuram por meio dos vestígios e da argumentação provar que a sua verdade é a que está correta. Porém, deve-se lembrar também, que existem aqueles que relativizam até mesmo o seu relativismo, a sua verdade. A Literatura é considerada uma forma de arte. A ela juntam-se a música, as artes cênicas, a pintura, a escultura, a arquitetura, o cinema, a fotografia, as histórias em quadrinhos etc., e todas essas produções, de formas distintas, estão integradas em um tempo, em uma cultura, em uma tradição. São produções artísticas que expressam sua época, sua cultura, sua mentalidade, seu modo de ver e viver a vida. A literatura está inserida nas artes das palavras, no ato de construir textos, quer sejam verbais, orais ou escritos. Ela traz emoção, divertimento, alegria, tristeza, permitindo ao leitor sair do mundo real para o mundo ficcional e vice-versa. A literatura não tem o dever de descrever a realidade, mas pode registrá-la, fazendo com que os leitores/ouvintes avaliem a vida e seus comportamentos. Ao mesmo tempo em que ela tem o poder de fazer com que façamos uma reflexão, responde a inquietações através de construções simbólicas. Duas formas distintas de escrita – a histórica e a literária -, uma busca “a verdade dos acontecimentos” e a outra a reflexão da sociedade, da vida, do ser social, possuindo maior liberdade (quando comparada a história), pois não necessita da existência do evento histórico, ela é livre para voar aonde quiser e bem entender. Entrelaçadas entre si, principalmente pela escrita, estão separadas pela redação. José Carlos Reis diz sobre o fazer histórico: “[...] nenhum historiador oferece ao seu leitor/ouvinte o passado enquanto tal, mas uma narrativa, um livro, um texto, uma conferência, ‘um artefato verbal não sujeito a controle experimental e observacional’. A abordagem da história é uma leitura de um texto escrito e assinado por um autor” (REIS, 2010, p.63-64).
  • 4. www.conedu.com.br Ele mostra que a escrita histórica é mais parecida com a literária do que com a cientifica, que é empírica, observável e experimental. Coisa que o historiador não pode fazer, pois, na maior parte das vezes, ele não esteve presente nos acontecimentos e quando esteve, sua subjetividade falará mais alto no ato de escrever. Ele contará os fatos a partir de seu ponto de vista. Reis diz sobre os historiadores: “[...] sempre relutaram em reconhecer que o que fazem são ‘textos’ e que as suas narrativas são o que são: ‘ficções verbais cujos conteúdos são inventados e descobertos, cujas formas têm mais em comum com a literatura do que com a ciência’” (REIS, 2010, p. 64). O fazer história vai além da fonte, quer seja escrita ou iconográfica, ela está presente também na imaginação, de como o homem ver o passado, vivencia o presente e imagina o futuro. A literatura não está tão distante da história, os seus escritos muitas vezes têm embasamentos históricos, aqueles vividos pelos autores. Cada autor é fruto de seu tempo e sobre ele escreverá, quer seja por metáfora, metonímia, sinédoque ou ironia. Ele pode também apenas fazer uma autobiografia de si, contando o que viveu durante a vida ou relatando algum acontecimento que vivenciou e que acha importante. A literatura e a história caminham juntas para desenvolverem e fazerem a sociedade pensar e repensar a vida, o cotidiano, as relações que vivenciam. A primeira com um sentido mais subjetivo, a segunda em busca de um objetivo. Pesavento, de acordo com Valdeci Borges, diz que temos que considerar uma tríade no conhecimento histórico, “[...] composta pela escrita, o texto e a leitura. No que se refere à instância da escrita ou da produção do texto, o historiador volta-se para saber sobre quem fala, de onde fala e que linguagem usa. Já ao enfocar o texto em si, o que se fala e como se fala são questões indispensáveis. No trato da recepção, visa abordar a leitura de um determinado receptor/leitor ou de um grupo de receptores/leitores, tratando das expectativas de quem recebe o texto, de sua contemplação, ou seu enfrentamento ou resistência a ele” (PESAVENTO, 2004, p.69-70 apud BORGES, 2010, p.95). Sobre as narrativas, Borges afirma: “[...] sejam [elas] históricas ou literárias, ou outras, constroem uma representação acerca da realidade, procura-se compreender a produção e a recepção dos textos, entendendo que a escrita, a linguagem e a leitura são indivisíveis e estão contidas no texto, que é uma instância intermediária entre o produtor e o receptor, articuladora da comunicação e da veiculação das representações” (Borges, 2010, p.95). Borges procura fazer uma comparação das narrativas históricas e literárias para saber aonde elas se aproximam na construção do texto escrito e
  • 5. www.conedu.com.br pronuncia que o texto é uma forma de comunicação e de representação, ou seja, o escrito, quer seja histórico ou literário, é uma representação da sociedade em que o autor vive. Sendo então a literatura uma das formas escritas que melhor introduz a mentalidade de uma determinada época, pois o autor estar inserido no momento presente em que as coisas acontecem. Literatura, um caminho de estudo. Um dos caminhos para se estudar a(s) mentalidade(s) de uma determinada época, de uma determinada classe social ou de uma sociedade, é por meio da literatura. Esta, mesmo que indiretamente, transmite os costumes da sociedade da época em que a obra foi escrita. Mesmo que o autor não perceba, ele está disseminando o que a sua época pensa (ou não) sobre determinado assunto. Ele transmite como as pessoas se comportam, se vestem, pensam, agem. Em autores como Machado de Assis, Aluísio Azevedo e José de Alencar, pode-se ver a sociedade brasileira que os rodeava. Machado de Assis é caracterizado como um “mestre da observação psicológica”. Enquanto Aluísio Azevedo é um crítico feroz da sociedade e do racismo. Já José de Alencar possui um perfil crítico da cultura e dos costumes de sua época, sempre procurando transcrever a história do Brasil, buscando uma identidade nacional ao descrever a sociedade burguesa do Rio de Janeiro. Autores brasileiros que, ao seu modo e a partir do seu ponto de vista, escreveram sobre a sociedade, os costumes, a(s) mentalidade(s) de seus tempos. Contribuições que podem ajudar os alunos a entenderem como as pessoas, ou, pelo menos, como os autores viam a sua contemporaneidade. Algumas obras literárias analisam a sociedade ao seu redor. Em “Um Teto Todo Seu”, Virginia Woolf fala sobre as mulheres e a ficção e com uma pequena fábula mostra como as mulheres eram vistas dentro das universidades, que eram lugares vistos como exclusivos para homens. Ela, ao longo de seu livro, discorre sobre como as mulheres são desencorajadas a serem escritoras e atenta para o fato que sem recursos financeiros e legitimidade cultural elas não conseguem desenvolver seu talento. Outra escritora bastante famosa na literatura estrangeira é Jane Austen. Ela retrata a sociedade ao seu redor e como as mulheres eram vistas dentro desta. Escreve sobre os cortejos, o casamento e a visão de que as mulheres são inferiores aos homens.
  • 6. www.conedu.com.br Voltando-se para uma escritora brasileira, Zélia Gattai, esposa de Jorge Amado, este mais famoso do que a mulher na literatura brasileira, escreve um ensaio autobiográfico sobre os italianos no Brasil e como estes viviam e sobreviviam após chegarem a um continente totalmente desconhecido para eles. O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, é uma “ficção filosófica”, aonde o autor tem como tema central o trato sobre a filosofia e seus diversos pensadores, dos Sofistas gregos até Sigmund Freud, desde o desenvolvimento do mundo até o ultimo pensador que fala sobre a psicanalise. Estes autores e tantos outros retrataram em suas obras literárias os seus pensamentos sobre a sociedade, ora questionando o que não achavam justo, ora discorrendo sobre suas vidas ou sobre pensamentos. Eles retratam a sociedade que os cercava e os diversos pensamentos, ou como os Annales queriam analisar, as diversas mentalidades de diversas épocas. Retratam a cultura de sua época e por vezes questionam o que não acham justo, mostrando por meio da ficção a verdade. Virginia Woolf diz: “O que era verdade e o que era ilusão? ” (WOOLF, 2014, p.28). O que pode ser considerado como verdade ou como ilusão em uma obra literária? Se até os desenhos animados trazem um pouco de verdade sobre a sociedade, por meio de sátiras sobre a vida social dos homens. As diversas formas literárias, sejam elas escritas ou faladas, falam sobre a sociedade, sobre os homens, sobre como pensam, agem, vivem. A literatura é uma construção que esta implícita “na” e “da” sociedade. Como abordar a literatura em sala de aula Dentre diversas opções, podemos escolher a obra literária que vamos estudar/analisar, por tema/assunto estudado em sala de aula. Por exemplo, quando se quer contextualizar a história dos negros escravizados, pode-se trabalhar com obras como 12 anos de escravidão ou Negras Raízes, escritas, respectivamente, por Solomon Northup e Alex Haley. A primeira foi escrita por um negro – uma autobiografia - no século XIX, que teve sua liberdade “furtada”. Ele nasceu livre nos Estados Unidos, quando recebe uma proposta de trabalho e é sequestrado, drogado e comercializado como escravo, tendo passado 12 (doze) anos como escravo em uma fazenda de algodão. Após ser resgatado, ele escreve como foram seus 12 (doze) anos sendo um “prisioneiro”, retratando e detalhando como era a vida de um escravo. Solomon Northup escreve sobre duas perspectivas: ter sido um negro livre e culto e um homem escravizado.
  • 7. www.conedu.com.br A segunda obra, Negras Raízes, foi escrita quando a escravidão já havia acabado nos Estados Unidos da América. O seu autor Alex Haley, que cresceu escutando a história de Kunta Kinte, seu trisavô, quis relatar a sua genealogia, desde a vinda do primeiro negro da sua família para a América até ele. A história se inicia na África, onde seu trisavô foi capturado por traficantes de escravos. Ele retratará o sofrimento sofrido pelos negros no navio negreiro, a fome, as doenças e as humilhações por qual passavam no navio. Relata as negras que eram estupradas pelos traficantes, chegando a ficarem na carne viva e como alguns negros eram jogados para fora do navio para aliviarem a fome dos tubarões. Duas obras que emocionam e retratam em detalhes como era a vida do negro como escravo, ou melhor, como sobreviviam numa sociedade escravocrata. Essas duas obras não são consideradas realistas – lembrando que são obras norte americanas e o realismo que falo aqui é o brasileiro, no máximo, alcançando o europeu -, mas possuem características dessa literatura. Suas características são: objetivismo; linguagem culta e direta; narrativa lenta, que acompanha o tempo psicológico; descrições e adjetivações objetivas, com a finalidade de captar a realidade de maneira fidedigna; universalismo; sentimentos, sobretudo o amor, subordinados aos interesses sociais; herói problemático, cheio de fraquezas; e a não idealização da mulher. O principal autor brasileiro dessa escola literária no Brasil é Machado de Assis, a sua obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicada em 1881, é considerada como o primeiro romance realista brasileiro. Considerado como um mestre da observação psicológica, ele escreve a história a partir de um narrador-observador-personagem. Brás Cubas é um defunto que decide contar a sua história, analisando a sociedade que o cercava, julgando as atitudes das personagens de quem fala. As memórias de Brás Cubas permitem que se tenha acesso a sociedade carioca do século XIX. O próprio personagem relata como era a elite carioca no tempo em que viveu, descrevendo a sociedade. Pode-se perceber que pelas características da escola literária realista e pela sua principal obra, que a literatura “tendenciou” a escrever sobre a sociedade e como esta se comportava, pensava, vivia. A arte literária é uma criação do seu tempo, ela pode ser analisada de diversos pontos de vista, desde como o negro era visto a como a sociedade vivia, de como as mulheres se comportavam a como elas eram tratadas pelos homens. Cada professor de história deve analisar se a obra que pretende utilizar esta de acordo com o tema que foi abordado e estudado pelos alunos, deve também analisar se estes (os alunos) tem maturidade para ler e entender a obra. O docente
  • 8. www.conedu.com.br também pode trazer trechos da(s) obra(s) para analisa-las junto com os alunos – talvez, quem sabe, não desperte o interesse do aluno para ler a obra completa, já que o tempo de aula é curto até mesmo para se trabalhar o livro didático, quem dirá uma obra de literatura. Foram abordados aqui 3 (três) obras que podem ser trabalhadas em sala de aula, mas existem diversas outras, cabendo ao professor de História saber qual obra utilizar e como aborda-la para ajudar o aluno a entender o contexto histórico em que ele está trabalhando. O professor de história O professor de história deve estar disposto a trabalhar com a literatura e as suas diversas correntes, sempre explicando ao alunado que são histórias fictícias escritas por um autor que não tem a obrigação de transcrever nos seus livros a “verdade” histórica, mas a de representar a história de seu tempo, de um tempo precedente ou posterior. Contudo, deve-se mostrar ao aluno, que as obras fictícias também trazem “verdades” da sociedade, da história do autor, que podem ser retiradas e analisadas por todos. Como já citado, existem diversas obras que podem ser analisadas, quer sejam brasileiras ou estrangeiras. Os temas também são diversificados, entre eles está à história da mulher, do negro, da população pobre e como esta vivia, dos homens ricos, de como a sociedade se comportava, etc. Coloca-se o termo “história”, mas o que se realmente que retirar da literatura é a “mentalidade” das diversas épocas, como viviam e sobreviviam. Ao analisar essa fonte histórica, os historiadores – e os alunos também poderão fazer isso - procuram ir além de fatos concretos, como o ano em que determinada pessoa nasceu ou morreu ou com quem se casou. O que se procura saber é como a pessoa viveu, o que comia, como eram suas relações com a família e com os amigos, quais eram os seus gostos ou preferencias. E é isso o que a literatura demonstra, entre linhas. Lá estão os gostos da sociedade, das pessoas que viviam em determinado tempo. É isso o que o professor de história pode retirar da literatura para demonstrar ao seu alunado, para fazer com que os mesmos façam uma analise de determinada época, de um determinado contexto histórico, que ele não esteve presente, mas que pode imaginar como era. O professor de história também deve lembrar ao seu aluno, que o pensamento do seu tempo não pode julgar o de tempo precedente, pois as coisas mudam, enquanto outras permanecem as mesmas de tempos atrás. O docente tem que estar preparado para fazer analogias, explicar, tirar as dúvidas dos alunos e, antes de
  • 9. www.conedu.com.br qualquer coisa, ele tem que ver se o aluno tem capacidade, naquele momento, de entender os diversos tempos históricos e como eles mudam. Mostrando as mudanças e as permanências da história, podendo-se utilizar da literatura para isso. O professor antes de qualquer coisa tem que está disposto a fugir do modo operatis tradicional, para incluir outras fontes e mostrar ao aluno como se utiliza estas. Conclusão O escrito histórico é por vezes muito parecido com o literário, mas se separa deste pela investigação precedente que faz através de vestígios e argumentos para mostrar o que de “fato” aconteceu no passado, enquanto que o literário é uma fábula, um conto, uma invenção, é uma narrativa que era para ser considerada irreal, sem verdades para a sociedade, no entanto, muitas vezes aborda a sociedade melhor do que muitos livros históricos, que apenas apresentam teorias. A obra literária acaba mostrando como as pessoas pensam e vivenciam o seu tempo. A literatura acaba se apresentando “como uma configuração poética do real” (BORGES, 2010, p. 108). A literatura não existe sem que a vida real exista, pois é a partir do mundo real que se é escrito os contos, as fábulas. É através do que o autor vivencia no mundo real que ele pode criar, imaginar, inventar o ficcional. Um autor só pode falar do que ele sabe que existe ou do que ele supõe que pode existir algum dia. A mentalidade de uma época está nas entrelinhas da história literária e na imaginação do autor, que é fruto do seu tempo. A literatura é a vida presente de quem escreve. Referências bibliográficas BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. BORGES, Valdeci Rezende. História e Literatura: Algumas Considerações. Revista de Teoria da História, Ano 1, Número3, junho/2010. Universidade Federal de Goiás ISSN: 21755892. BURKE, Peter (org.). A Escrita da história: novas perspectivas. Tradução de Magda Lopes. – São Paulo: Editora da UNESP 1992. – (Biblioteca básica). REIS, José Carlos. Escola dos Annales - A inovação em História. São Paulo: Paz e Terra, 2000. ______________. O desafio historiográfico. – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010. 160P. (Coleção FGV de bolso. Série História).
  • 10. www.conedu.com.br WOOLF, Virginia. Um Teto Todo Seu. Tradução: Bia Nunes de Sousa, Glauco Mattoso. 1. Ed. – São Paulo: Tordesilhas, 2014.