O documento discute o suicídio como o problema filosófico fundamental sobre se a vida vale a pena ser vivida. Apresenta brevemente as visões sobre suicídio ao longo da história em culturas como a grega, romana, idade média e renascimento. Também aborda fatores de risco, classificações e abordagens para prevenção do comportamento suicida.
O problema filosófico do suicídio segundo Albert Camus
1.
2. ““Só existe um problema filosófico realmente sério: é oSó existe um problema filosófico realmente sério: é o
suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena sersuicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser
vivida é responder a questão fundamental da filosofia.vivida é responder a questão fundamental da filosofia.
O resto, se o mundo tem três ou quatro dimensões, seO resto, se o mundo tem três ou quatro dimensões, se
o espírito tem nove ou doze categorias, vêm emo espírito tem nove ou doze categorias, vêm em
seguida.”seguida.”
Albert CamusAlbert Camus
3. Etimologicamente a palavra suicídio tem suas
origens no latim Sui = si mesmo e Caedes = ação de
matar. É a morte auto-inflingida, provocada por um
ato voluntário e intencional.
4. O tema do suicídio é
recorrente de vários
estudos, apesar de se tratar
de um tema difícil, obscuro
e um tanto misterioso da
condição humana, deve ser
tratado como um sério
problema de saúde pública.
5. O suicídio é um fenômeno exclusivamente
humano, ocorrendo em todas as culturas,
variando, contudo, o valor e a interpretação que
se dá a tal ato.
Há registros
muito antigos de
casos de suicídio,
desde os tempos
mais remotos da
história.
6. Na Roma antiga, os conceitos acerca do suicídio, eram
parecidas com as dos gregos. O suicídio era reprovado como
forma de enfraquecimento do grupo social, e o interessado
em tirar a própria vida, deveria apresentar suas razões para o
senado, que analisaria o caso.
Na fase histórica grega, o
suicídio inautorizado era
considerado uma
transgressão. Sócrates
foi um filósofo
condenado ao suicídio,
por ter que ingerir
cicuta.
7. Na idade média, uma repugnância ao ato suicída tomou
proporções exageradas, com puniçõesao cadáver do suicida,
como a negativa de sepultamento em solo sagrado, as
mutilações de partes do corpo e mesmo rituais estranhos,
derivados de várias superstições.
Para o islamismo, religião fundada pelo profeta Maomé, o
suicídio é fortemente repudiado, mais do que em qualquer
outra religião, sendo penalizada, inclusive, a família do suicida,
que passa a ser desonrada e marginalizada (RIBEIRO, 2004).
Com o renascimento, e seu apelo à razão, diminui-se a
repressão ao suicídio, considerando equivocadas as censuras
religiosas a esse fenômeno. Os primeiros registros de que o
suicídio era considerado como doença mental, apareceram na
época do positivismo
8.
9. Segundo os dados da organização mundial de saúde,
a questão do suicídio vem se agravando nos últimos
anos, fato que pode ser comprovado pelo número de
mortes auto-infligidas em termos globais, que para o
ano de 2003 girou em torno de 900.000 pessoas.
Dentre os países que apresentam as maiores taxas de
suicídio destacam-se principalmente o Japão, a
Rússia, os países do leste europeu, os Estados Unidos
e Índia. Na América latina destacam-se, Uruguai,
Chile, Argentina e Guianas.
10. No Brasil as taxas de suicídio são consideradas baixas,
variando entre 3,9 a 4,5 para cada 100 mil habitantes,
mas por ser um pais muito populoso está entre os dez
países em números absolutos de suicídios.
Porém, existem variações consideráveis entre as
regiões brasileiras e seus respectivos estados, como
podemos observar na comparação entre a região sul
com taxas de 8,6 chegando a 9,8 no Rio Grande do
Sul, e a região norte com taxas de 3,17, porém os
estado com menor taxa de suicídio são o Maranhão e
a Bahia com taxas de 1,6 e 1,9 respectivamente.
11. No período entre 2005 e 2009, ocorreram 53 tentativas
de suicídio e 23 suicídios (fonte, Delegacia de Polícia
Cívil).
12.
13. A psicanálise compreende o suicídio como sendo um ato.
Pode-se classificar o ato suicida como Acting Out, ou Passagem ao
Ato.
No Acting Out o ato é dirigido ao outro; é um apelo, uma demanda
de amor e de reconhecimento, onde o sujeito cria a cena e se incluí
nela.
Na Passagem ao Ato o sujeito se identifica com o resto, o dejeto do
mundo; o sujeito não consegue, não suporta manter a cena, pois a
angústia é insuportável.
14.
15. A estrutura histérica tende, em seus cenários, sempre
incluir o outro, seja por idealizá-lo, ou culpabilizá-lo,
ou ambos. Nesse sentido, na histeria é mais freqüente o
“acting” suicida.
Na obsessão, porém, dada a relação dessa estrutura
com a formação de ideais rígidos, frente aos quais o
sujeito está sempre em dívida e culpabilizado, a
tendência a estados melancólicos de autodepreciação
são mais freqüentes e levam mais facilmente o sujeito à
passagem ao ato.
16. Em relação à estruturação psicótica torna-se mais
complexo antever qual será a significação do ato
suicida ou mesmo quando e como esse ato pode vir à
tona no cenário psicótico. O ato suicida se torna
imprevisível, podendo vir a tona a qualquer momento,
devido a sua produção delirante.
O indivíduo de estrutura perversa muito dificilmente
chega a consumar o suicídio, ou mesmo tentá-lo, a
não ser que o ato de se auto-exterminar sirva como
um corolário de seus atos de perversidade.
17. Pulsão de Vida (Eros) Pulsão de Morte (Tânatos)
(Pulsão responsável
pelos instintos
de conservação)
(Pulsão responsável
pelos instintos
destrutivos)
18. Transtornos mentais:Transtornos mentais: Depressão, transtornos de
personalidade; Esquizofrenia, Transtornos de ansiedade;
Comorbidades.
Sociodemográficos:Sociodemográficos: Sexo masculino; entre 15 e 35, e acima
de 75 anos; estratos econômicos extremos;
desempregados; aposentados; isolament; migrantes.
Psicológicos:Psicológicos: perdas recentes e de figuras parentais na
infância; dinâmica familiar conturbada; datas importantes;
Personalidade com traços significativos de impulsividade,
agressividade, humor lábil.
Condições clínicas incapacitantes:Condições clínicas incapacitantes: doenças orgânicas
incapacitantes; dor crônica; lesões desfigurantes perenes;
epilepsia; trauma medular; neoplasias malignas; aids.
19. Os principais fatores de risco queOs principais fatores de risco que
podem desencadear o suicídio são:podem desencadear o suicídio são:
•• História de tentativa de suicídio;História de tentativa de suicídio;
•• Transtorno mental.Transtorno mental.
Os principais fatores de risco queOs principais fatores de risco que
podem desencadear o suicídio são:podem desencadear o suicídio são:
•• História de tentativa de suicídio;História de tentativa de suicídio;
•• Transtorno mental.Transtorno mental.
20. O comportamento suicida pode serO comportamento suicida pode ser
dividido nas seguinte situações:dividido nas seguinte situações:
Ideação suicida:Ideação suicida: seria a motivação intelectual que leva
ao suicídio .
Ato suicida:Ato suicida: seria uma alteração na conduta do
indivíduo, que faz com que ele aja, intencionalmente
buscando provocar a própria morte.
Tentativa de suicídio:Tentativa de suicídio: é a situação onde o indivíduo
não morre em decorrência do ato suicida.
Risco de suicídio:Risco de suicídio: é a probabilidade de que a ideação
suicida leve ao ato suicida.
21. Fluxograma de caracterização dasFluxograma de caracterização das
situações envolvidas no suicídiosituações envolvidas no suicídio
Ideação suicidaIdeação suicida
Ato suicidaAto suicida
MorteMorte
SuicídioSuicídio
Não-morteNão-morte
Tentativa de suicídioTentativa de suicídio
22. Regra dos 4DRegra dos 4D
São quatro os sentimentos principais de quem pensa
em se matar. Todos começam com a letra “D”:
Depressão;Depressão;
Desesperança;Desesperança;
Desamparo;Desamparo;
Desespero.Desespero.
Frases de alerta + 4D,Frases de alerta + 4D,
é preciso investigaré preciso investigar
cuidadosamente ocuidadosamente o
risco de suicídio.risco de suicídio.
Frases de alerta + 4D,Frases de alerta + 4D,
é preciso investigaré preciso investigar
cuidadosamente ocuidadosamente o
risco de suicídio.risco de suicídio.
23. 01. Pessoas que falam que vão se matar não se suicidam realmente,
porque quem quer se matar o faz sem avisar.
MITO
02. Falar sobre suicídio pode vir a influenciar, incentivar a pessoa a
praticá-lo.
MITO
03 . Homens cometem mais suicídio que as mulheres.
VERDADE
04. A maioria dos suicidas estão indecisos sobre se matar ou
continuar vivendo.
VERDADE
25. É preciso encontrar um local adequado onde haja
privacidade para o atendimento.
É preciso reservar o tempo que for necessário para o
atendimento.
Ouvir o paciente de forma efetiva.
Ouvir sem recriminações.
Utilizar uma abordagem calma.
26. Dicas de como se comunicar:Dicas de como se comunicar:
Ouvir atentamente e com calma;
Entender os sentimentos da pessoa (empatia);
Dar mensagens não verbais de aceitação e respeito;
Expressar respeito pelas opiniões e pelos valores da
pessoa;
Conversar honestamente e com autenticidade;
Mostrar sua preocupação, seu cuidado e sua afeição;
Focalizar nos sentimentos da pessoa.
27. Dicas de comoDicas de como nãonão se comunicar:se comunicar:
Interromper muito freqüentemente;
Ficar chocado ou muito emocionado;
Dizer que você está ocupado;
Fazer o problema parecer trivial;
De formas que coloquem o paciente em posição inferior;
Dizer simplesmente que tudo vai ficar bem;
Fazer perguntas indiscretas;
Emitir julgamentos (certo x errado);
Tentar doutrinar, emitir discursos religiosos.
28. As perguntas devem ser feitas com cautela,
demonstrando compaixão e empatia para com o
paciente.
Deve-se tentar desde o início estabelecer um vínculo
que garanta a confiança e a colaboração do paciente.
Respeitando a condição emocional e a situação de
vida que o levou a pensar sobre suicídio.
29. Quando e como encaminhar o pacienteQuando e como encaminhar o paciente
para a equipe de saúde mentalpara a equipe de saúde mental
É necessário ter disposição de tempo para explicar à pessoa a
razão do encaminhamento à saúde mental.
Marcar a consulta, de preferência com rapidez.
Esclarecer que o encaminhamento não significa que o
profissional está lavando as mãos em relação ao problema.
Veja a pessoa depois da consulta.
Tente obter uma contra-referência do atendimento.
Mantenha contato periódico.
30. O profissional de psicologia pode exercer um papel
fundamental no que concerne a compreensão e prevenção do
comportamento suicida, quer seja atuando como um agente
desmistificador do ato suicida e trabalhando na sua
prevenção, quer seja atuando como um canalizador do
discurso, criando canais terapêuticos que auxiliem indivíduos
potencialmente suicidas ou que já tentaram suicídio a
encontrar outros meios para expressar a sua dor.
31.
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