1. Ao Lado da Riqueza, a Pobreza
Extraído do Jornal da Globo, por Tonico Ferreira, 19/05/2010
O Jornal da Globo exibiu uma série de reportagens mostrando uma Amazônia diferente, a que
está no subsolo. Tonico Ferreira esteve em Parauapebas, Serra Pelada e Carajás, produziu
reportagem que mostra as diferentes realidades na área da mineração nessa região que é
responsável por 1/4 de todo o minério produzido pelo Brasil.
No centro de uma grande província
mineral, Parauapebas tem crescimento
de 20% ao ano, o dobro da China, e já é a
4º cidade que mais exporta no País.
Além dos indicadores citados acima, Parauapebas foi o município que registrou o
maior superávit na balança comercial brasileira no primeiro trimestre de 2013, com
US$ 2,107 bilhões.
A reportagem mostra que ao lado da riqueza da mina de Carajás surgiu uma cidade sem
infraestrutura, e com muita pobreza.
Parauapebas é uma cidade improvisada: cheia de favelas e áreas ocupadas irregularmente que
nasceu na porta da mina de Carajás. É a pobreza ao lado da riqueza do minério.
“Até mesmo a abertura de ruas era feita a Deus Dará. Cada um falava: bom, vamos abrir a rua
por aqui e iam abrindo a rua mais pra lá e fazendo sua casa, e assim as ruas foram acontecendo”.
Hoje a cidade tem 153 mil habitantes. Apenas 13 por cento das casas têm acesso à rede de esgoto.
O fornecimento de água sofre duas interrupções por dia. Isso numa cidade com alta arrecadação.
A mina de Carajás é responsável por mais da metade das receitas do município e o PIB per capita,
de R$ 23.029, é semelhante ao do Rio de Janeiro.
Por que a infraestrutura de Parauapebas é tão precária se tem um PIB per capita semelhante ao
da cidade do Rio de Janeiro?
“O recurso que nós temos hoje ele é considerável se você comparar com outros municípios.
Porém ele não é suficiente para atender toda a demanda social gerada pela grande migração que
vem para o nosso município, que cresce 18% ao ano”, explica Darci Lermen, prefeito de
Parauapebas.
Visão de cidadãos Parauapebenses:
Será que os migrantes, ou melhor, a migração é realmente a explicação para a conjuntura em
que se encontra Parauapebas pela situação infraestrutura decadente em que que se encontram
seus bairros periferias? Convenhamos, é grande realmente o número de migrantes que aqui
chegam em função dos projetos minerais e do franco desenvolvimento que apresenta por conta
da situação mineral. Essas pessoas que aqui chegam não se abrigam no bojo da caridade da
política que os mantém. Elas procuram variáveis de trabalho como: Empresas que terceirizam
serviços à Vale. Outros trabalham diretamente na Vale, além do mais, são centenas de empresas,
lojas e empreendimentos formais e empreendimentos informais que se espalham pela cidade. O
município já tem um quadro definido anual que emprega e ademais seriam sua influência por
meio das empresas que lhe prestam serviços. Só um ato de honestidade e transparência por parte
do governo em Audiência Pública ou auditoria iria revelar a incógnita. Gasto orçamentário em
obras? Ao que se vê, não há um canteiro de obras espalhadas nem mínguas (exíguas) de cunho
2. municipal que revele esse dinamismo político que o justifique como tal. O que é contraditório.
Saneamento básico e infraestrutura é o que mais falta nos bairros e periferias do município.
O geógrafo João Márcio Palheta, da Universidade Federal do Pará, tem outra explicação. Ele diz
que cidades como Parauapebas não sabem aproveitar a riqueza que tem.
“Esses municípios têm que criar capacidade de usar a mineração, não como fim, mas como meio
pra atingir outros tipos de atividade econômica, de serviço, de saúde, de educação”.
O engenheiro que criou Carajás, Eliezer Batista concorda. Ele reconhece que houve um erro
estratégico no projeto: não prever um polo industrial ao lado da mina.
“A ideia original nossa não era só vender minério de ferro, nós sempre acreditamos que você tem
que agregar valor em todo produto. Nenhum país fica rico vendendo matérias-primas ou
commodities”.
O geólogo que descobriu Carajás, Breno Augusto dos Santos, no meio da mata virgem em
1967 e que vê hoje a mina transformada numa ilha de excelência cercada por terra arrasada,
está desolado.
“Aqui desmata tudo. Beira de rio, crista de montanha. Tudo. Quer dizer, é uma ocupação desordenada. É
um saque que esta sendo feito na região. Podia ter fazendeiro, podia ter o pequeno proprietário, desde que
tivesse havido políticas, desde o governo militar até hoje, que tivesse feito uma ocupação planejada. Aqui
não, a ocupação é na base do faroeste. Quer dizer é o mais forte, o mais poderoso, fica com a terra”.
http://economia.ig.com.br/. Parauapebas ao lado da mina de Carajás, cidade sofre com ocupação desordenada, 19/05/2010.
Contraste visível: periferia (s)... Centro
Bairro Altamira Centro
Para Arinaldo 39 anos, (Cidadão parauapebense), “num município como Parauapebas, com toda
arrecadação que possui, a política pública não pode nem deve se restringir apenas em pintar
sarjetas,
3. roçar gramados e promover festas – para entreter”. Nem tão pouco seus cidadãos devem se
conformar com o modelo “político do queima três anos e se reconquista no quarto ano
eleitoreiro.”*.
Para Padre Dário em “Justiça nos trilhos” (07/2009), “A cidade está imbuchando”, é a expressão
na boca de muitos. Já existe em Parauapebas 40 mil famílias sem casa, alojadas em ocupações,
morros, áreas de preservação permanente e em outros locais impróprios (e de riscos) para residir.
Ao conversar com políticos locais e intelectuais que conhecem o potencial econômico de
arrecadação da cidade, há uma visão unânime de que:
“O potencial de arrecadação de Parauapebas é compatível para torná-lo uma cidade modelo a
nível nacional”.