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Darth Vader does his best Mark Zuckerberg… by The Universe: http://goo.gl/H9f18


Advertência. Esta versão (de 18/12/2011) é um draft. Possivelmente
na versão final serão eliminadas (ou pelo menos reduzidas) as
extensas citações. Algumas partes, que são repetitivas, devem ser
retiradas (ou reescritas). Trata-se por enquanto (do que em cinema
os espanhóis chamam) de um “copión de trabajo”. Sua divulgação
nesta fase preliminar de elaboração tem como objetivo receber
críticas e sugestões que possam corrigir ou melhorar o texto. O autor
agradece, antecipadamente, a toda colaboração nesse sentido.



                                      1
No final de setembro de 2011 abri uma página no Facebook intitulada
Código de Defesa do Usuário de Midias Sociais. A descrição da página
era a seguinte:

    Nada melhor do que usar o Facebook para construir um Código de
    Defesa do Usuário do Facebook (e de outras mídias sociais), não?

    Urge pensar uma espécie de Código de Defesa do usuário de
    mídias sociais (como o #FB). O fato de serem gratuitas não
    autoriza a manipulação. Se quiser colaborar, deixe aqui suas
    sugestões de artigos para este código.

Algumas (poucas) pessoas deixaram suas sugestões:

   Fica definitivamente proibida toda e qualquer forma de publicidade
    ou propaganda sem aprovação expressa e preliminar do usuário
    (Paulo Araújo).

   Dados postados pelo usuário serão de sua exclusiva propriedade e
    poderão ser colhidos e transferidos a outras redes (Bruno Ayres).

   Ao optar por deixar uma rede o usuário poderá solicitar que esta
    não mantenha seus dados armazenados em seus servidores por
    um período maior do que ‘xy’ dias (Bruno Ayres).

   O usuário deve poder configurar o que aparece em sua página (no
    caso de plataformas egonetizadas, como o Facebook) e não ficar
    sujeito a um algoritmo ocultado (se um algoritmo faz isso, seu
    código deve poder ser conhecido) (Augusto de Franco).

   As plataformas não podem vender ou usar com fins lucrativos ou
    promocionais os dados dos usuários a não ser com sua
    concordância (Augusto de Franco).

   As regras de comportamento ou acordos de convivência com os
    quais um usuário deve concordar para se registrar em uma
    plataforma devem estar explícitos, de modo legível, no ato de
    registro. Novas normas não podem ser aduzidas posteriormente e
    aplicadas top down, sem a concordância explícita do usuário
    (Augusto de Franco).


                                  2
   Os usuários têm o direito de conviver e interagir com pessoas e
    quando empresas utilizam as plataformas com fins transacionais
    de atendimento ou marketing elas devem deixar claramente
    identificada o nome da pessoa que está falando em nome da
    organização (Daniel Souza).

   A autorização para a troca de informação entre plataformas deve
    ser mais clara e seriamente consentida pelo usuário, não
    camuflada como pedido de acesso às suas “informações básicas”
    (Clissia Morais).

   As plataformas deveriam: Permitir integração com outras mídias
    sociais / Não limitar visualização do histórico dos posts / Não
    limitar número de caracteres do post / Não bloquear "adicionar
    amigo" depois de adicionar um número máximo arbitrariamente
    estabelecido (sem dizer qual é) / Permitir inserir fotos e vídeos
    diretamente nas respostas / Não limitar "número de amigos" / Não
    criar filtros sem que o usuário saiba / Permitir que grupos abertos
    sejam abertos de fato (sem exigir que alguém tenha que convidar)
    / Permitir que se adicione de uma única vez os ainda "não-amigos"
    em um grupo (Sérgio Venuto).

Tudo isso gerou também alguma discussão, inclusive sobre se seria
correto ficar criando normas. Fui obrigado a esclarecer:

    O Código de Defesa do Usuário de Midias Sociais não é norma
    estatal e sim social. Na verdade é um pretexto para levantar os
    abusos cometidos pelas plataformas proprietárias, p-based e
    egonetizadas (como o Facebook e outras). Não é para salvar nada,
    nem tem causa alguma: é para ensejar a interação entre pessoas
    que têm opiniões sobre a manipulação das mídias. As pessoas
    devem dizer isso para os Darth Zuckerbergs trancadores de
    códigos, que floresceram regressivamente após a geração
    libertária que pensou a Internet. Por outro lado, está claro que as
    mídias sociais não são as redes sociais. Do contrário nem
    estaríamos usando a abominável palavra "usuários".

Bem... aí comecei a usar a expressão Darth Zuckerberg (ou,
abreviadamente, Darth Zucker) para caracterizar a geração dos



                                   3
trancadores que sucedeu a geração dos distribuidores (que talvez
pudesse ser representada simbolicamente pelo Jedi Tim Berners-Lee).

Um slide da minha apresentação, intitulada Desobedeça (2011), no
TEDxCuritiba (1), ilustrava essa importante contraposição:




        Slide da apresentação do autor no TEDxCuritiba (16/07/2011)



É claro que se as sugestões listadas acima, apresentadas pelos que
interagiram na página que abri no Facebook, fossem acatadas, o
Facebook não poderia existir. O que significa que elas jamais serão
implementadas.

Mas o que significa também que as pessoas sabem como deveria ser
(ou melhor, como não deveria ser) uma plataforma, ainda quando
possam não saber exatamente o significado do engenho malicioso
arquitetado por Mark Zuckerberg e não consigam avaliar todas as
consequências nefastas que o seu uso generalizado pode acarretar.



                                    4
A questão é complexa. Em Fluzz (2011) escrevi:

     Os visionários do ciberespaço, herdeiros do sonho mcluhiano da
     aldeia global (segundo Tom Wolfe), acreditando que a Força
     estava com eles, usaram-na para construir seus mainframes:
     seus programas e produtos proprietários, suas caixas-pretas
     para trancar – esconder dos outros em vez de compartilhar – os
     algoritmos que inventavam, seus bunkers organizativos e suas
     fortunas pessoais.

     Todavia, há uma diferença entre o que fizeram Vinton Cerf e
     Robert Kahn (1975) com o Protocolo TCP/IP, Tim Berners-Lee e
     Robert Cailliau (1990) com a World Wide Web, Linus Torvalds
     (1991) e a multidão com o Linux e Rob McColl (1995) e a
     multidão com o Apache, e o que fizeram Bill Gates e Paul Allen
     com a Microsoft (1975) e o Windows (1985), Steve Jobs e
     Steve Wozniak com a Apple (1976) e o Mac OS (1984), Larry
     Page e Sergey Brin (e Eric Shmidt) (1998) com o Google, Mark
     Zuckerberg e Dustin Moskovitz (2004) com o Facebook e Evan
     Willians e Biz Stone (e Jack Dorsey) (2006) com o Twitter.
     Estamos verificando agora em que medida eles estavam no
     contra-fluzz ou com-fluzz, o curso que não pode ser aprisionado
     por qualquer mainframe (2).

E mais adiante:

     Os Highly Connected Worlds tendem a ser inumeráveis, assim
     como serão inumeráveis os interworlds, miríades de interfaces
     conectando miríades de mundos e “explodindo como uma
     ramada de neurônios”, para lembrar um artigo seminal de
     Pierre Lèvy (1998) (3).

     Em termos tecnológico-sociais, o grande desafio hoje, ao
     contrário do que reza a metafísica que esse Mark Zuckerberg –
     o chefe do Facebook – quer nos empulhar, para torná-la, a sua
     plataforma proprietária única, a própria rede e não mais uma
     ferramenta, é construir os inumeráveis interworlds que serão as
     novas internets.




                                 5
O Facebook tem mais de 500 milhões de usuários? É ruim.
     Seria melhor ter 500 mil plataformas com mil usuários cada
     uma, conversando entre si... Tudo que não precisamos agora é
     reeditar a ilusão hierárquica de um mundo único. Uma
     sociedade em rede é uma configuração de miríades de Highly
     Connected Worlds interagentes. Essa é a única mudança
     verdadeiramente sustentável: tudo que é sustentável tem o
     padrão de rede porque rede é redundância de processos e
     abundância (diversidade) de caminhos.

     A mudança-que-é-a-rede é fractal, não unitária. A mudança não
     é a emergência de muitos mundos locais (que, de resto,
     sempre existiram), mas os múltiplos caminhos (que não
     puderam existir nas civilizações hierárquicas) entre o local e o
     global. E ela não se consumará sem essas “zonas de transição”
     que são interworlds (4).

Isso escrevi no final do ano passado. Hoje diz-se que o Facebook já
conta com 800 milhões de usuários. O que só reforça o argumento.

Aliás, o próprio Berners-Lee, em artigo publicado no ano passado na
Scientific American (22/12/2010), intitulado Long live the Web: a call
for continued open standards and neutrality, coloca um dos
problemas principais (que é o problema da recentralização da rede):

     Several threats to the Web’s universality have arisen recently.
     Cable television companies that sell Internet connectivity are
     considering whether to limit their Internet users to downloading
     only the company’s mix of entertainment. Social-networking
     sites present a different kind of problem. Facebook, LinkedIn,
     Friendster and others typically provide value by capturing
     information as you enter it: your birthday, your e-mail address,
     your likes, and links indicating who is friends with whom and
     who is in which photograph. The sites assemble these bits of
     data into brilliant databases and reuse the information to
     provide value-added service — but only within their sites. Once
     you enter your data into one of these services, you cannot
     easily use them on another site. Each site is a silo, walled off
     from the others. Yes, your site’s pages are on the Web, but
     your data are not. You can access a Web page about a list of


                                  6
people you have created in one site, but you cannot send that
     list, or items from it, to another site.

     The isolation occurs because each piece of information does not
     have a URI. Connections among data exist only within a site. So
     the more you enter, the more you become locked in. Your
     social-networking site becomes a central platform—a closed silo
     of content, and one that does not give you full control over your
     information in it. The more this kind of architecture gains
     widespread use, the more the Web becomes fragmented, and
     the less we enjoy a single, universal information space.

     A related danger is that one social-networking site — or one
     search engine or one browser — gets so big that it becomes a
     monopoly, which tends to limit innovation. As has been the
     case since the Web began, continued grassroots innovation may
     be the best check and balance against any one company or
     government that tries to undermine universality. GnuSocial and
     Diaspora are projects on the Web that allow anyone to create
     their own social network from their own server, connecting to
     anyone on any other site. The Status.net project, which runs
     sites such as identi.ca, allows you to operate your own Twitter-
     like network without the Twitter-like centralization (5).

A crítica de Berners-Lee ao monopólio que o Facebook está querendo
criar – assim como a Apple, com o iTunes, que estimula a publicação
de conteúdo em aplicativos e não na própria WWW –, ilhando a
informação, focaliza apenas um dos problemas.

Então, antes de avançarmos, convém fazer uma lista dos problemas.
Há o problema da recentralização da rede, já mencionado. Temos
também os problemas relacionados ao design das plataformas:
Facebook (assim como Google+ e congêneres) é uma mídia social
egonetizada, proprietária e p-based (quer dizer, baseada em
participação e não em interação). Facebook imagina que seres
humanos em rede são indivíduos usuários de uma plataforma e não
pessoas interagindo com outras pessoas por meio (ou não) de uma
(ou várias) plataforma(s). Facebook, ao que tudo indica, desconhece
a fenomenologia da interação e, com certeza, não é um ambiente
adequado à manifestação dos fenômenos próprios das redes mais


                                 7
distribuídas do que centralizadas. Facebook não confia na auto-
organização. E, por último, há o problema que chamei de Cavalo de
Troia, que levou à redação do presente texto.



RECENTRALIZAÇÃO DA REDE

O problema da recentralização da rede foi abordado corretamente por
David de Ugarte, em um post intitulado El “futuro de las redes
sociales” (15/11/2011):

     Los últimos cinco años los libros de caras [ele se refere,
     obviamente, a Facebook e assemelhados] han utilizado la
     etiqueta de «red social» para impulsar una verdadera
     recentralización de la red en sus servidores...

     La llamada web 2.0 fue en realidad un proceso de
     recentralización de las topologías de red que sustentaban la
     socialización en Internet. Pasamos del modelo distribuido de la
     blogsfera y la interacción, al descentralizado de la Wikipedia y
     Digg con sus oligarquías participativas y su cultura de la
     participación y finalmente al centralizado de Facebook, Twitter y
     Google+ con su cultura de la adhesión. En 5 años Internet
     anduvo para atrás lo que en 200 años la estructura de poder
     había ido hacia adelante, desde las postas centralizadas y sus
     consecuencias (el mundo centralista de la monarquía absoluta y
     el jacobinismo) al telégrafo (el mundo descentralizado de las
     naciones y el pluralismo) y finalmente el propio Internet (la
     promesa de un mundo distribuido sin poder de filtro ni rentas).

     Pareció en algún momento todo un «fin de la Historia». Pero en
     los últimos dos años están apareciendo nuevas ofertas, nuevas
     herramientas libres...      que proponen    romper    con    la
     recentralización de la red...

     Si la evolución a servicios centralizados masivos fue paralela al
     desarrollo de grandes infraestructuras de servidores y sus
     tecnologías (la «nube»), la redescentralización e incluso
     redistribución que apuntan para el futuro estas nuevas
     alternativas [Bazar, Diaspora, Identi.ca e o planejado Lupus]


                                 8
apuntan hacia la revalorización de pequeños servidores
     comunitarios e incluso de los netbooks y teléfonos celulares de
     los usuarios. Redistribuir supone desarrollar autonomía, y en
     primer lugar autonomía de las infraestructuras ajenas.

     Lo que viene es una reedición de aquella batalla, hoy tan
     lejana, en la que Sun ensayaba el «software as a service» y
     Microsoft le respondía con un «todo el poder para tu PC». Solo
     que ahora el PC ya no es un monopolio de Bill Gates. Y lo que
     está en juego no es sólo elegir un modelo dentro de
     alternativas privativas y corralitos informáticos, sino el
     verdadero «sistema operativo» de las formas de socialización
     de nuestra época...(6)

Em artigo anterior, do mesmo ano, intitulado Facebook, el “efecto
boy scout” y la necesidad de dar um canal articulado a la adhesión,
Ugarte (03/04/2011) escreveu:

     El efecto negativo de los libros de cromos [Facebook, Google+
     etc.] no es estructurar la adhesión, sino romper el paso de esta
     a la participación y la interacción...

     El problema de los libros de cromos como facebook, es que han
     intentado sustituir y competir con la red en su conjunto
     generando    un    modelo de      socialización autolimitativo,
     empobrecedor y controlable. Facebook ayuda a construir los
     dos escalones inferiores de la pirámide del compromiso tanto
     como sirve de freno al desarrollo de la participación y la
     interacción. Se trata de un «efecto boyscout» perseguido
     intencionalmente en la búsqueda del control y la monetización
     máxima (7).

Para bom entendedor, está dito quase tudo. Quase, porque a questão
é mais complexa. Tem a ver com o que esperamos de uma mídia
social como ferramenta de netweaving de verdadeiras redes sociais. É
claro que tudo isso só faz sentido para quem já entendeu o óbvio
(que os proprietários de plataformas proprietárias não sabem e, se
sabem, querem esconder), ou seja: a) que descentralização não é o
mesmo que distribuição; b) que participação não é o mesmo que
interação; e c) que o site da rede não é a rede.


                                 9
Tentei explicar de maneira sucinta essas diferenças no artigo É o
social, estúpido! Três confusões que dificultam o entendimento das
redes sociais (2011) e a leitura desse pequeno texto talvez seja
condição necessária para entender o meu ponto de vista e sobre que
vem a seguir (8).



PLATAFORMAS EGONETIZADAS

Facebook (assim como seus congêneres, e. g., Orkut, Google+) é
uma plataforma egonetizada. Plataformas egonetizadas deseducam
seus usuários para as redes sociais distribuídas.

Em vez de fluxo, “meu quadrado” (9): a pessoa tende a achar que a
sua página é o seu espaço proprietário, a partir do qual ela vai
supostamente interagir. Em vez de se jogar no fluxo, ela se aboleta
no seu bunker (chamado às vezes de “Minha Página” mesmo e, no
Facebook, de Mural). É então induzida a achar que ali pode colocar
todas as “suas” coisas. E fica até ofendida quando alguém lhe lembra
de que o concurso de Miss Universo não tem muito a ver com
astrofísica... Ou seja, ela não se conectou a uma rede, regida por
uma lógica coletiva, mas simplesmente se registrou numa plataforma
genérica como um eu-sozinho e não quer nem saber o que pensam
as outras pessoas sobre a rede propriamente dita. Obedece sem
questionar, isto sim, aos regulamentos arbitrados pelo dono da
plataforma, mas não está nem aí para seus pares e fica contrariada
quando algum desses faz qualquer observação sobre o seu
comportamento. – Rede, ora, que rede? Eu não entrei em rede
nenhuma. Entrei numa plataforma virtual que chamam de rede
social.



PLATAFORMAS PROPRIETÁRIAS

Facebook é uma plataforma proprietária. Plataformas proprietárias
são urdidas pelos trancadores de códigos. Ao construírem caixas-
pretas para esconder seus algoritmos ou para montar seus alçapões
de dados, os Darth Zuckers erigem, na verdade, pirâmides para
proteger suas operações centralizadoras da rede social. Não é por
acaso que essas plataformas, desenhadas a partir de uma instância


                                10
proprietária, tentem sempre disciplinar a interação, cavando sulcos
por onde o rio deve passar. O nome disso é: centralização.

Como é uma plataforma proprietária, o Facebook opera na lógica das
coisas proprietárias, a começar por dar a sensação aos seus usuários
de que eles são os proprietários das suas páginas, como já
comentamos ao examinar seu caráter egonético. Todo mundo ali é
proprietário de alguma coisa (da qual, a rigor, já era, como seu perfil
e seus dados), mas é o dono do Facebook que é o verdadeiro
proprietário de tudo ao reservar para si – e negar a todos os outros –
o poder de se apropriar das coisas alheias. As pessoas tendem a
achar que isso é natural, pois, afinal, ele não é o dono?

Mano Zuck só aprendeu a “varrer para dentro”. Ele deixa até a
replicação, no Facebook, de algumas interações efetuadas em outras
plataformas (como tweets, por exemplo). Mas não gosta que saia
nada do seu cercado. E estabelece suas regras unilaterais (no caso,
se você tuita demais seguidamente, o algoritmo que ele bolou pode
interpretar que algo não está certo – onde já se viu? – e suspender a
publicação). Claro, ele quer protegê-lo. Protegê-lo da interação!



PLATAFORMAS        BASEADAS      EM    PARTICIPAÇÃO,        NÃO    EM
INTERAÇÃO

Facebook é uma plataforma de adesão com pretensões participativas.
Pode chegar, no máximo, a ser uma plataforma p-based (baseada em
participação), mas jamais será uma plataforma i-based (baseada em
interação) (10).

Plataformas p-based envolvem sempre algum tipo de escolha de
preferências geradora de escassez. E suas funcionalidades estão
voltadas ao arquivamento de passado: publicar, curtir, comentar,
compartilhar – tudo para aumentar o repositório ao qual somente
seus proprietários têm pleno acesso, na medida em que só eles
podem programá-las sem restrições. Nelas você não pode interagir
livremente, quer dizer atuar nos seus próprios termos e sim nas
condições já estabelecidas por alguém antes da interação. O nome
disso é: participação.



                                  11
Você pode curtir, mas não pode descurtir (ou curtir mais ou menos).
Você não pode saber quem está, num determinado momento,
interessado – estudando, pesquisando ou trabalhando – nos mesmos
assuntos que você, você não pode interagir com essas pessoas da
maneira como gostaria, mas tem que se ajustar às disposições
disciplinadoras do ambiente participativo que promovem o
arrebanhamento de indivíduos e ensejam a sua condução segundo
regras estabelecidas de antemão.

É claro que esse problema não é apenas do Facebook, mas de todas
as plataformas ditas “de rede” que confundem a mídia (ferramenta
digital) com a rede (social: pessoas interagindo).

Eis o ponto! Essa é a razão pela qual plataformas como Facebook
maltratam as redes: seus arquitetos imaginam que existem
indivíduos usuários e não pessoas interagindo.



UM PROBLEMA DE CONCEPÇÃO

Sim, no fundo, a origem de todos esses problemas das plataformas
egonetizadas, proprietárias e p-based, que as tornam inadequadas ao
netweaving, é um problema de concepção: o que está por trás de
tudo isso é a idéia de que o indivíduo é o átomo social, quando, na
verdade, para ser social é preciso ser molécula. Redes sociais são
redes de pessoas e pessoas são produtos de interação e não unidades
anteriores à interação.



DESCONHECIMENTO DA FENOMENOLOGIA DA INTERAÇÃO

E há – por incrível que pareça – muita ignorância mesmo. Em geral
os que se metem a construir plataformas de rede não conhecem (não
estudam, não investigam) a nova ciência das redes e não estão
familiarizados com a fenomenologia da interação.

O exemplo mais recente pode ser fornecido pelos Círculos do Google+
– a nova mídia social egonetizada, proprietária e p-based – que o
Google lançou para ter o seu próprio “facebook”. Os Círculos são
clusters não conformados por clustering e sim por escolha efetuada


                                12
ex ante à interação. Construir um Círculo é assim como gerenciar
uma agenda de contatos. Isso significa: não-deixar a clusterização
exercer o seu papel.

Se uma plataforma de rede não enseja a manifestação dos
fenômenos próprios da interação – como o clustering, o swarming, o
cloning e o crunching –, então ela não é uma plataforma de rede
(11). Desse mal, entretanto, não padece apenas o Facebook, como já
foi dito.



DESCONFIANÇA DA AUTO-ORGANIZAÇÃO

Tudo que interage clusteriza. Tudo que interage pode enxamear.
Tudo que interage enseja a imitação (que é uma clonagem). Tudo
que interage se aproxima.

É por meio desses fenômenos (e de outros que não serão
mencionados aqui por amor à brevidade) que acontece a auto-
organização, a organização bottom up, por emergência. Se
deixarmos.

E por meio desses fenômenos que se manifesta a inteligência coletiva
(que é uma swarm intelligence). Se deixarmos.

Tuitei certa vez que se Darth Zucker estivesse regulando o
comportamento dos cupins eles nunca dariam conta de construir seus
formidáveis cupinzeiros. E os cupins conseguem realizar aquelas
construções tão complexas não porque somam suas inteligências
individuais (o que daria um resultado desprezível em termos de
inteligência agregada), mas porque clusterizam, enxameiam, imitam
uns aos outros (introduzindo variações cuja distribuição gera ordem
emergente) e porque vivem num small-world.

Se os cupins tivessem um facebook como principal meio de
comunicação eles continuariam, como indivíduos da sua espécie, tão
inteligentes como sempre foram. Mas com certeza a inteligência
coletiva que manifestam quando interagem dificilmente se
precipitaria. Se Zuckerberg conseguisse presentear os peixes com um
facebook eles não teriam a fantástica experiência do shoaling. E as


                                13
aves não poderiam vivenciar o murmuration (12) nem os mamíferos
o herding. Em suma, nada de flocking. E, consequentemente, nada
de auto-organização.

Mas os Darth Zuckers – como todos os construtores de pirâmides –
desconfiam da auto-organização. Sobre eles, escrevi em Fluzz
(2011):

     Replicadores e trancadores são construtores de pirâmides.
     Replicadores são todos os que se dedicam a repetir uma ordem
     pretérita. São, portanto, ensinadores (“estações repetidoras” do
     que foi forjado, em geral, pelos codificadores de doutrinas).
     Para exercer tal        papel, entretanto, eles constroem,
     invariavelmente, estruturas centralizadas ou verticalizadas –
     sejam escolas, sociedades, maçonarias e assemelhadas,
     partidos ou corporações ou qualquer outra burocracia que viva
     da repetição e da inculcação de um conjunto de ideias ou visões
     de mundo urdidas para prorrogar passado – e, nesse sentido,
     são construtores de pirâmides.

     Trancadores são os que privatizam bens que poderiam ser
     comuns (ou que não poderiam ser trancados, como o
     conhecimento). Trancadores de conhecimento são, por
     exemplo, os que defendem o domínio privado sobre o
     conhecimento, como as leis de patentes e o famigerado
     copyright.

     Um dos tipos contemporâneos de trancadores – relevante pelo
     efeito devastador que sua atividade provoca na antessala de
     uma época-fluzz – são os trancadores de códigos, que estão
     entre os mais bem-sucedidos inventores de softwares
     proprietários da atualidade Ao construírem caixas-pretas para
     esconder seus algoritmos (como fazem os donos do Google ou
     do Twitter) ou para montar seus alçapões de dados (como faz o
     dono do Facebook), eles acabam tendo que construir pirâmides
     para proteger suas operações centralizadoras da rede social...

     A solução para tal problema não é “fugir para trás”, voltando
     aos blogs, como sonham alguns. Ainda que a blogosfera seja de
     fato, no seu conjunto, uma rede distribuída, os blogs, em si,


                                14
não se estruturam de modo distribuído. Em geral são
     organizações fechadas, que não admitem interação a não ser
     com aprovação prévia dos seus donos (por meio da chamada
     “mediação de comentários”). Mesmo quando são abertos a
     qualquer comentário, os blogs são piramidezinhas, espécies de
     reinados do eu-sozinho. Não são bons instrumentos de
     netweaving de redes sociais distribuídas na medida em que não
     são, eles próprios, redes distribuídas.

     Não existem tecnologias de netweaving capazes de colocar um
     conjunto de blogs em um meio eficaz de interação. Ademais, a
     mentalidade dos bloggers não acompanhou a inovação que,
     objetivamente, sua atividade representa. E muitos daqueles
     que fazem o proselitismo das redes distribuídas nos seus blogs,
     organizam, lá no seu quadrado, suas igrejinhas hiper-
     centralizadas, algumas vezes quase-monárquicas. Ou seja, são
     também construtores de pirâmides (13).



POR QUE CAVALO DE TROIA

Tuitei em 11/12/2011:

     O Facebook é um cavalo de troia. Quando é que a galera vai
     entender isso?

Muitas pessoas ficaram curiosas e começaram a me perguntar por
quê.

Usei a expressão “Cavalo de Troia” no sentido corrente de “presente
de grego” e não no sentido estritamente técnico contemporâneo de
um malware (trojan horse), programa malicioso usado para controlar
um computador, ainda que, em qualquer caso, um “Cavalo de Troia”
induz aquele que o recebe a abrir suas defesas, possibilitando uma
invasão, a destruição do seu ambiente ou o saque: a apropriação de
bens que lhe pertencem contra sua vontade.

O Facebook pode ser comparado lato sensu a um cavalo de troia na
medida em que é (aparentemente) gratuito, você não paga nada para



                                15
nele se registrar, mas seus dados são capturados e usados com fins
lucrativos pelos donos do engenho ardiloso.

Por certo, essa leitura da metáfora não é suficiente para justificar o
juízo de que o Facebook é um cavalo de troia. Pode-se argumentar
que boa parte das plataformas web e de outras ferramentas,
programas e aplicativos, também faz isso (como as disponibilizadas
pelo Google, por exemplo, a começar pelos seus programas de busca
e e-mail). Dentro de certos limites esse comportamento seria
aceitável na Internet. Mas... vejamos o que realmente acontece.

Você é induzido a aceitar o presente. O presente é um engenho. O
engenho é ardiloso. O ardil é perverso. A perversidade consiste em
fazê-lo acreditar que você está num ambiente (pelo menos) tão free
como a web, quando, na verdade, você está sendo arrebanhado para
interagir em um ambiente privado, no qual você está sendo
observado, seus dados estão sendo capturados, suas informações
estão sendo usadas e suas interações estão sendo monitoradas e
reguladas a partir de regras que você não pode conhecer nem
modificar.

Nada disso é realmente free. Tudo está organizado para que você não
tenha consciência de que foi transformado de pessoa em “indivíduo
usuário”, de usuário em produtor de bens que não lhe pertencerão,
pois você será alienado da sua produção ao jogar seus conteúdos
num alçapão de dados. E, repetindo mais uma vez, só os donos da
plataforma podem programar a plataforma para ter acesso a tais
conteúdos. Você não.

Tudo foi organizado para que você continue trabalhando de graça
para os donos da plataforma.

Você é induzido a aceitar o presente recebido pelo chamado efeito-
rede: todo mundo está lá, seus amigos e parentes, professores e
alunos, chefes, colegas de trabalho e subordinados, ídolos e fãs,
atuais e potenciais empregadores, financiadores, clientes e
consumidores, parceiros, namorados, namoradas, maridos, esposas...
sim, todo mundo está lá (ou você acha que está; ou acha que há
grande probabilidade de estar, o que dá no mesmo). Inclusive
pessoas com as quais você não se relaciona há muito tempo e das


                                 16
quais perdeu o paradeiro, quem sabe um filho que saiu de casa e não
deu mais notícia. Não é como em um site de busca porque agora
você pode interagir com a pessoa no mesmo ambiente. Você pode
até, talvez, reatar importantes relacionamentos, cobrar dívidas e
recuperar empréstimos que imaginava perdidos, aliviar sua
consciência tendo a oportunidade de pedir desculpas por graves
ofensas ou simples desatenções cometidas no passado... Como é que
você pode ficar fora disso?

É claro que não pode. Então você entra achando que vai ser um livre
usuário, que usará a plataforma quando quiser, que vai poder sair
dela quando quiser e voltar quando quiser. A plataforma, aliás, lhe dá
essa garantia. Ela não apaga seu perfil e seu histórico, dando-lhe a
segurança de que você pode sempre voltar, e sair de novo, e entrar
de novo. É o melhor dos mundos, não? Além de não pagar nada, você
pode exercer em plenitude seu livre arbítrio.

Aparentemente. O que você não vê é que você vê apenas o que a
plataforma escolheu para você ver. Você não pode conhecer (muito
menos modificar) os algoritmos que determinam o que constrói o seu
feed de notícias. Você não pode conhecer (muito menos modificar) a
infinidade de regras já estabelecidas sobre o que é ou não é
permitido. Você não conhece (nem pode modificar) as normas que
regem as relações com os aplicativos que aceitou sem saber direito o
que de fato autorizou, você não sabe quais os filtros que foram
acionados para selecionar o que você verá e o que os outros verão do
que você postar.

É óbvio que ninguém deveria ter o direito de decidir sobre o que nós
podemos ver (ou devemos não ver). Pensando um pouco, ninguém
discordará disso. Mas não adianta concordar com isso. Pois você não
pode, simplesmente não pode, reclamar com ninguém. É tudo
automático. Os algoritmos rodam sozinhos. Na prática – nessa Matrix
– ninguém é responsável pelo que acontece.

Agora vem o mais tenebroso. Se você teve acesso à web por meio do
Facebook (e são muitas as pessoas, aliás, cada vez mais pessoas,
nessa condição), então você tende a achar que o mundo é assim
mesmo. Como é que alguém vai reclamar da lei da gravidade? As



                                 17
coisas caem porque caem, ora bolas. É assim que funciona. O mesmo
vale para a Internet.

Como disse Evgeny Morozov (2011), um analista perspicaz, em geral
meio chato, mas que acertou em cheio nesse particular em recente
artigo intitulado “O Facebook está contra a alegria”:

     Uma das ideias mais influentes e perigosas, e menos
     consideradas, a surgir neste final de ano no Vale do Silício é a
     de "compartilhamento sem fricção". Articulada por Mark
     Zuckerberg, o fundador do Facebook, em setembro, a ideia
     pode reformular a cultura da internet tal como a conhecemos -
     e não para melhor.

     O princípio que embasa o "compartilhamento sem fricção" é
     enganosamente simples e atraente: em lugar de perguntar aos
     usuários se eles desejam compartilhar com os amigos seus
     produtos favoritos - os filmes a que assistem online, a música
     que ouvem, os livros e artigos que leem -, por que não registrar
     automaticamente todas as suas escolhas, livrá-los da tarefa de
     compartilhar essas informações e permitir que seus amigos
     descubram mais conteúdo interessante de forma automática?
     Se Zuckerberg conseguir o que quer, cada artigo que leiamos e
     cada canção que viermos a escutar seria automaticamente
     compartilhada com os outros - sem que tivéssemos nem de
     apertar aqueles irritantes botões de "curtir".

     É precisamente isso que o Facebook deseja fazer com sua ideia
     de aplicativos sociais, que rastreiam tudo que uma pessoa
     consuma no site (e, nem seria preciso dizer, consumimos mais
     e mais informações sem sair do Facebook). Não é impensável
     que o Facebook em breve venha a desenvolver aplicativos
     capazes de rastrear também o que fazemos fora de seu site. E
     a essa altura, não estamos mais falando de uma questão de
     tecnologia, mas sim de uma questão de ideologia - fazer com
     que     esse   "compartilhamento     sem     fricção" pareça
     completamente normal, e até desejável...

     Mas os problemas não se limitam à monitoração em larga
     escala. E se empresas que fazem negócios com o Facebook


                                18
desenvolverem o hábito de usar os estereótipos surgidos dos
dados que revelamos a elas a fim de nos enquadrar em suas
estreitas categorias - por exemplo, "hipster de nível
universitário que gosta de música indie e vota na esquerda"?
Isso não seria tão terrível se essas empresas não utilizassem
essas categorias para formatar ofertas personalizadas de
conteúdo dirigidas a nós.

No entanto, devido ao "compartilhamento sem fricção", essas
empresas terminam operando com aquilo que o jornalista
tecnológico norte-americano Eli Pariser define como "má teoria
de personalidade": elas partem de suposições incompletas
sobre quem somos baseadas em livros, filmes e músicas que já
consumimos, e tentam descobrir em que categoria pré-
existente de marketing nos enquadramos, para nos fornecer
conteúdo que outros usuários enquadrados na mesma categoria
apreciam.

O perigo disso é bastante claro: nós, usuários de Internet, logo
estaremos privados de espaço para crescimento intelectual,
porque seremos bombardeados por links para material que
provavelmente apreciaremos...

Mas existe algo de ainda mais repelente nessa ideia. O motivo
para que compartilhemos links deliberadamente, na rede, é
acreditarmos que esses links conduzam a conteúdo
interessante, estimulante, divertido, perigoso ou horrivelmente
ruim. Temos de fazer julgamentos sobre o que vimos, temos de
avaliar - artigos, livros, canções. A maior parte dessas
avaliações é rasa, claro, mas ainda assim nos forçam a
exercitar nossa faculdade crítica, a operar como curadores -
mesmo que para uma audiência formada por apenas 10
amigos...

No entanto, a ideologia do "compartilhamento sem fricção" quer
promover um envolvimento muito diferente com a Internet, nos
termos do qual os usuários não são imaginados como críticos
prontos a discriminar entre tipos diferentes de conteúdo, mas
sim como robôs sem alma cuja função única é consumir
conteúdo e produzir gráficos, tendências e bancos de dados


                           19
para que ainda mais conteúdo lhes possa ser vendido. Já não
     compartilharemos aquilo que gostamos de modo consciente;
     em lugar disso, o Facebook compartilhará tudo - bom, ruim,
     interessante ou chato - em nosso nome.

     É hora de percebermos que o Facebook está eliminando a
     alegria, o caos e a natureza idiossincrática da Internet, e
     substituindo tudo isso por sorrisos artificiais, eficiência tediosa
     (e portanto "sem fricção") e uma interação abrangente mas
     branda e inane com a cultura...(14)

Bem... para interpretar o Facebook como um cavalo de troia temos
que pensar no coletivo, nos emaranhados que chamamos de pessoas,
não nos indivíduos usuários. A rigor o Facebook não é um presente
de grego para cada indivíduo que nele se registra – e a comparação,
nesse caso, seria mesmo um pouco forçada – e sim para a
humanidade.

À medida que as pessoas vão entrando na Internet via Facebook, elas
se deixam impregnar pela ideologia de um mundo único, um mundo
artificialmente construído segundo as regras dos donos do Facebook.
Os “programas maliciosos” que estão dentro do cavalo de troia
destruirão seus mundos, seus emaranhados construídos pelas suas
livres conexões, na web e para além da web (como nas redes mesh e
nas government-less internets que estão surgindo e tendem a
proliferar) para reificar a ilusão de que só existe aquele mundo único
construído por Darth Zucker.

Nosso grande desafio, ao contrário do que pretende o Facebook, é
construir inumeráveis interworlds (que serão as novas internets).
Interworlds = "zonas de transição", interfaces entre os muitos
mundos altamente conectados: milhões de plataformas e milhões de
interfaces, explodindo como uma ramada de neurônios.




                                  20
Notas e referências


(1) FRANCO, Augusto (2011). Desobedeça. Apresentação no TEDxCuritiba
em 16/07/2011. Disponível em:

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/desobedea-tedxcuritiba>

(2) FRANCO, Augusto (2011). Fluzz: vida humana e convivência social nos
novos mundos altamente conectados do terceiro milênio. São Paulo: Escola
de Redes, 2011. Versão preliminar digital disponível em:

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/fluzz-book-ebook>

(3) LÉVY, Pierre (1998). “Uma ramada de neurônios” in Folha de São Paulo:
15/11/1998. Cf. ainda Caderno Mais da Folha de S. Paulo: 15/11/2002 (p.
5-3). O texto está disponível em:

<http://escoladeredes.ning.com/profiles/blogs/uma-ramada-de-neuronios>

(4) Idem.

(5) BERNERS-LEE, Tim (2010). “Long Live the Web: A Call for Continued
Open Standards and Neutrality in Scientific American Maganize, December
2010. O texto está disponível em:

<http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=long-live-the-web>

(6) UGARTE, David (2011). El “futuro de las redes sociales”. Disponível em:

<http://lasindias.coop/el-futuro-de-las-redes-sociales/>

(7) UGARTE, David (2011). Facebook, el “efecto boy scout” y la necesidad
de dar un canal articulado a la adhesión. Disponível em:

<http://lasindias.coop/facebook-el-%C2%ABefecto-boy-scout%C2%BB-y-
la-necesidad-de-dar-un-canal-articulado-a-la-adhesion/>

(8) FRANCO, Augusto (2011). É o social, estúpido! Três confusões que
dificultam o entendimento das redes sociais. Disponível em:

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/o-social-estpido>




                                    21
(9) Cf. FRANCO, Augusto (2009). Cada um no seu quadrado: algumas notas
sobre o difícil aprendizado das redes sociais nas organizações hierárquicas.
Disponível em:

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/cada-um-no-seu-quadrado-
3215261>

(10) Cf. FRANCO, Augusto (2010). Redes são ambientes de interação, não
de participação. Disponível em:

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/redes-so-ambientes-de-
interao-no-de-participao>

(11) Cf. FRANCO, Augusto (2011). É o social, estúpido! Ed. cit.

(12) Cf. TAPSCOTT, Don (2010). Macrowikinomics Murmuration (vídeo).
Edição legendada em português disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=o4QRouhIKwo>

(13) FRANCO, Augusto (2011). Fluzz. Ed. cit.

(14) MOROZOV, Evgeny (2011). O Facebook está contra a alegria. Artigo
publicado na Folha.com em 28/11/2011. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/evgenymorozov/1010856-o-
facebook-esta-contra-a-alegria.shtml>




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Facebook: Darth Zuckerberg e seu cavalo de troia

  • 1. Darth Vader does his best Mark Zuckerberg… by The Universe: http://goo.gl/H9f18 Advertência. Esta versão (de 18/12/2011) é um draft. Possivelmente na versão final serão eliminadas (ou pelo menos reduzidas) as extensas citações. Algumas partes, que são repetitivas, devem ser retiradas (ou reescritas). Trata-se por enquanto (do que em cinema os espanhóis chamam) de um “copión de trabajo”. Sua divulgação nesta fase preliminar de elaboração tem como objetivo receber críticas e sugestões que possam corrigir ou melhorar o texto. O autor agradece, antecipadamente, a toda colaboração nesse sentido. 1
  • 2. No final de setembro de 2011 abri uma página no Facebook intitulada Código de Defesa do Usuário de Midias Sociais. A descrição da página era a seguinte: Nada melhor do que usar o Facebook para construir um Código de Defesa do Usuário do Facebook (e de outras mídias sociais), não? Urge pensar uma espécie de Código de Defesa do usuário de mídias sociais (como o #FB). O fato de serem gratuitas não autoriza a manipulação. Se quiser colaborar, deixe aqui suas sugestões de artigos para este código. Algumas (poucas) pessoas deixaram suas sugestões:  Fica definitivamente proibida toda e qualquer forma de publicidade ou propaganda sem aprovação expressa e preliminar do usuário (Paulo Araújo).  Dados postados pelo usuário serão de sua exclusiva propriedade e poderão ser colhidos e transferidos a outras redes (Bruno Ayres).  Ao optar por deixar uma rede o usuário poderá solicitar que esta não mantenha seus dados armazenados em seus servidores por um período maior do que ‘xy’ dias (Bruno Ayres).  O usuário deve poder configurar o que aparece em sua página (no caso de plataformas egonetizadas, como o Facebook) e não ficar sujeito a um algoritmo ocultado (se um algoritmo faz isso, seu código deve poder ser conhecido) (Augusto de Franco).  As plataformas não podem vender ou usar com fins lucrativos ou promocionais os dados dos usuários a não ser com sua concordância (Augusto de Franco).  As regras de comportamento ou acordos de convivência com os quais um usuário deve concordar para se registrar em uma plataforma devem estar explícitos, de modo legível, no ato de registro. Novas normas não podem ser aduzidas posteriormente e aplicadas top down, sem a concordância explícita do usuário (Augusto de Franco). 2
  • 3. Os usuários têm o direito de conviver e interagir com pessoas e quando empresas utilizam as plataformas com fins transacionais de atendimento ou marketing elas devem deixar claramente identificada o nome da pessoa que está falando em nome da organização (Daniel Souza).  A autorização para a troca de informação entre plataformas deve ser mais clara e seriamente consentida pelo usuário, não camuflada como pedido de acesso às suas “informações básicas” (Clissia Morais).  As plataformas deveriam: Permitir integração com outras mídias sociais / Não limitar visualização do histórico dos posts / Não limitar número de caracteres do post / Não bloquear "adicionar amigo" depois de adicionar um número máximo arbitrariamente estabelecido (sem dizer qual é) / Permitir inserir fotos e vídeos diretamente nas respostas / Não limitar "número de amigos" / Não criar filtros sem que o usuário saiba / Permitir que grupos abertos sejam abertos de fato (sem exigir que alguém tenha que convidar) / Permitir que se adicione de uma única vez os ainda "não-amigos" em um grupo (Sérgio Venuto). Tudo isso gerou também alguma discussão, inclusive sobre se seria correto ficar criando normas. Fui obrigado a esclarecer: O Código de Defesa do Usuário de Midias Sociais não é norma estatal e sim social. Na verdade é um pretexto para levantar os abusos cometidos pelas plataformas proprietárias, p-based e egonetizadas (como o Facebook e outras). Não é para salvar nada, nem tem causa alguma: é para ensejar a interação entre pessoas que têm opiniões sobre a manipulação das mídias. As pessoas devem dizer isso para os Darth Zuckerbergs trancadores de códigos, que floresceram regressivamente após a geração libertária que pensou a Internet. Por outro lado, está claro que as mídias sociais não são as redes sociais. Do contrário nem estaríamos usando a abominável palavra "usuários". Bem... aí comecei a usar a expressão Darth Zuckerberg (ou, abreviadamente, Darth Zucker) para caracterizar a geração dos 3
  • 4. trancadores que sucedeu a geração dos distribuidores (que talvez pudesse ser representada simbolicamente pelo Jedi Tim Berners-Lee). Um slide da minha apresentação, intitulada Desobedeça (2011), no TEDxCuritiba (1), ilustrava essa importante contraposição: Slide da apresentação do autor no TEDxCuritiba (16/07/2011) É claro que se as sugestões listadas acima, apresentadas pelos que interagiram na página que abri no Facebook, fossem acatadas, o Facebook não poderia existir. O que significa que elas jamais serão implementadas. Mas o que significa também que as pessoas sabem como deveria ser (ou melhor, como não deveria ser) uma plataforma, ainda quando possam não saber exatamente o significado do engenho malicioso arquitetado por Mark Zuckerberg e não consigam avaliar todas as consequências nefastas que o seu uso generalizado pode acarretar. 4
  • 5. A questão é complexa. Em Fluzz (2011) escrevi: Os visionários do ciberespaço, herdeiros do sonho mcluhiano da aldeia global (segundo Tom Wolfe), acreditando que a Força estava com eles, usaram-na para construir seus mainframes: seus programas e produtos proprietários, suas caixas-pretas para trancar – esconder dos outros em vez de compartilhar – os algoritmos que inventavam, seus bunkers organizativos e suas fortunas pessoais. Todavia, há uma diferença entre o que fizeram Vinton Cerf e Robert Kahn (1975) com o Protocolo TCP/IP, Tim Berners-Lee e Robert Cailliau (1990) com a World Wide Web, Linus Torvalds (1991) e a multidão com o Linux e Rob McColl (1995) e a multidão com o Apache, e o que fizeram Bill Gates e Paul Allen com a Microsoft (1975) e o Windows (1985), Steve Jobs e Steve Wozniak com a Apple (1976) e o Mac OS (1984), Larry Page e Sergey Brin (e Eric Shmidt) (1998) com o Google, Mark Zuckerberg e Dustin Moskovitz (2004) com o Facebook e Evan Willians e Biz Stone (e Jack Dorsey) (2006) com o Twitter. Estamos verificando agora em que medida eles estavam no contra-fluzz ou com-fluzz, o curso que não pode ser aprisionado por qualquer mainframe (2). E mais adiante: Os Highly Connected Worlds tendem a ser inumeráveis, assim como serão inumeráveis os interworlds, miríades de interfaces conectando miríades de mundos e “explodindo como uma ramada de neurônios”, para lembrar um artigo seminal de Pierre Lèvy (1998) (3). Em termos tecnológico-sociais, o grande desafio hoje, ao contrário do que reza a metafísica que esse Mark Zuckerberg – o chefe do Facebook – quer nos empulhar, para torná-la, a sua plataforma proprietária única, a própria rede e não mais uma ferramenta, é construir os inumeráveis interworlds que serão as novas internets. 5
  • 6. O Facebook tem mais de 500 milhões de usuários? É ruim. Seria melhor ter 500 mil plataformas com mil usuários cada uma, conversando entre si... Tudo que não precisamos agora é reeditar a ilusão hierárquica de um mundo único. Uma sociedade em rede é uma configuração de miríades de Highly Connected Worlds interagentes. Essa é a única mudança verdadeiramente sustentável: tudo que é sustentável tem o padrão de rede porque rede é redundância de processos e abundância (diversidade) de caminhos. A mudança-que-é-a-rede é fractal, não unitária. A mudança não é a emergência de muitos mundos locais (que, de resto, sempre existiram), mas os múltiplos caminhos (que não puderam existir nas civilizações hierárquicas) entre o local e o global. E ela não se consumará sem essas “zonas de transição” que são interworlds (4). Isso escrevi no final do ano passado. Hoje diz-se que o Facebook já conta com 800 milhões de usuários. O que só reforça o argumento. Aliás, o próprio Berners-Lee, em artigo publicado no ano passado na Scientific American (22/12/2010), intitulado Long live the Web: a call for continued open standards and neutrality, coloca um dos problemas principais (que é o problema da recentralização da rede): Several threats to the Web’s universality have arisen recently. Cable television companies that sell Internet connectivity are considering whether to limit their Internet users to downloading only the company’s mix of entertainment. Social-networking sites present a different kind of problem. Facebook, LinkedIn, Friendster and others typically provide value by capturing information as you enter it: your birthday, your e-mail address, your likes, and links indicating who is friends with whom and who is in which photograph. The sites assemble these bits of data into brilliant databases and reuse the information to provide value-added service — but only within their sites. Once you enter your data into one of these services, you cannot easily use them on another site. Each site is a silo, walled off from the others. Yes, your site’s pages are on the Web, but your data are not. You can access a Web page about a list of 6
  • 7. people you have created in one site, but you cannot send that list, or items from it, to another site. The isolation occurs because each piece of information does not have a URI. Connections among data exist only within a site. So the more you enter, the more you become locked in. Your social-networking site becomes a central platform—a closed silo of content, and one that does not give you full control over your information in it. The more this kind of architecture gains widespread use, the more the Web becomes fragmented, and the less we enjoy a single, universal information space. A related danger is that one social-networking site — or one search engine or one browser — gets so big that it becomes a monopoly, which tends to limit innovation. As has been the case since the Web began, continued grassroots innovation may be the best check and balance against any one company or government that tries to undermine universality. GnuSocial and Diaspora are projects on the Web that allow anyone to create their own social network from their own server, connecting to anyone on any other site. The Status.net project, which runs sites such as identi.ca, allows you to operate your own Twitter- like network without the Twitter-like centralization (5). A crítica de Berners-Lee ao monopólio que o Facebook está querendo criar – assim como a Apple, com o iTunes, que estimula a publicação de conteúdo em aplicativos e não na própria WWW –, ilhando a informação, focaliza apenas um dos problemas. Então, antes de avançarmos, convém fazer uma lista dos problemas. Há o problema da recentralização da rede, já mencionado. Temos também os problemas relacionados ao design das plataformas: Facebook (assim como Google+ e congêneres) é uma mídia social egonetizada, proprietária e p-based (quer dizer, baseada em participação e não em interação). Facebook imagina que seres humanos em rede são indivíduos usuários de uma plataforma e não pessoas interagindo com outras pessoas por meio (ou não) de uma (ou várias) plataforma(s). Facebook, ao que tudo indica, desconhece a fenomenologia da interação e, com certeza, não é um ambiente adequado à manifestação dos fenômenos próprios das redes mais 7
  • 8. distribuídas do que centralizadas. Facebook não confia na auto- organização. E, por último, há o problema que chamei de Cavalo de Troia, que levou à redação do presente texto. RECENTRALIZAÇÃO DA REDE O problema da recentralização da rede foi abordado corretamente por David de Ugarte, em um post intitulado El “futuro de las redes sociales” (15/11/2011): Los últimos cinco años los libros de caras [ele se refere, obviamente, a Facebook e assemelhados] han utilizado la etiqueta de «red social» para impulsar una verdadera recentralización de la red en sus servidores... La llamada web 2.0 fue en realidad un proceso de recentralización de las topologías de red que sustentaban la socialización en Internet. Pasamos del modelo distribuido de la blogsfera y la interacción, al descentralizado de la Wikipedia y Digg con sus oligarquías participativas y su cultura de la participación y finalmente al centralizado de Facebook, Twitter y Google+ con su cultura de la adhesión. En 5 años Internet anduvo para atrás lo que en 200 años la estructura de poder había ido hacia adelante, desde las postas centralizadas y sus consecuencias (el mundo centralista de la monarquía absoluta y el jacobinismo) al telégrafo (el mundo descentralizado de las naciones y el pluralismo) y finalmente el propio Internet (la promesa de un mundo distribuido sin poder de filtro ni rentas). Pareció en algún momento todo un «fin de la Historia». Pero en los últimos dos años están apareciendo nuevas ofertas, nuevas herramientas libres... que proponen romper con la recentralización de la red... Si la evolución a servicios centralizados masivos fue paralela al desarrollo de grandes infraestructuras de servidores y sus tecnologías (la «nube»), la redescentralización e incluso redistribución que apuntan para el futuro estas nuevas alternativas [Bazar, Diaspora, Identi.ca e o planejado Lupus] 8
  • 9. apuntan hacia la revalorización de pequeños servidores comunitarios e incluso de los netbooks y teléfonos celulares de los usuarios. Redistribuir supone desarrollar autonomía, y en primer lugar autonomía de las infraestructuras ajenas. Lo que viene es una reedición de aquella batalla, hoy tan lejana, en la que Sun ensayaba el «software as a service» y Microsoft le respondía con un «todo el poder para tu PC». Solo que ahora el PC ya no es un monopolio de Bill Gates. Y lo que está en juego no es sólo elegir un modelo dentro de alternativas privativas y corralitos informáticos, sino el verdadero «sistema operativo» de las formas de socialización de nuestra época...(6) Em artigo anterior, do mesmo ano, intitulado Facebook, el “efecto boy scout” y la necesidad de dar um canal articulado a la adhesión, Ugarte (03/04/2011) escreveu: El efecto negativo de los libros de cromos [Facebook, Google+ etc.] no es estructurar la adhesión, sino romper el paso de esta a la participación y la interacción... El problema de los libros de cromos como facebook, es que han intentado sustituir y competir con la red en su conjunto generando un modelo de socialización autolimitativo, empobrecedor y controlable. Facebook ayuda a construir los dos escalones inferiores de la pirámide del compromiso tanto como sirve de freno al desarrollo de la participación y la interacción. Se trata de un «efecto boyscout» perseguido intencionalmente en la búsqueda del control y la monetización máxima (7). Para bom entendedor, está dito quase tudo. Quase, porque a questão é mais complexa. Tem a ver com o que esperamos de uma mídia social como ferramenta de netweaving de verdadeiras redes sociais. É claro que tudo isso só faz sentido para quem já entendeu o óbvio (que os proprietários de plataformas proprietárias não sabem e, se sabem, querem esconder), ou seja: a) que descentralização não é o mesmo que distribuição; b) que participação não é o mesmo que interação; e c) que o site da rede não é a rede. 9
  • 10. Tentei explicar de maneira sucinta essas diferenças no artigo É o social, estúpido! Três confusões que dificultam o entendimento das redes sociais (2011) e a leitura desse pequeno texto talvez seja condição necessária para entender o meu ponto de vista e sobre que vem a seguir (8). PLATAFORMAS EGONETIZADAS Facebook (assim como seus congêneres, e. g., Orkut, Google+) é uma plataforma egonetizada. Plataformas egonetizadas deseducam seus usuários para as redes sociais distribuídas. Em vez de fluxo, “meu quadrado” (9): a pessoa tende a achar que a sua página é o seu espaço proprietário, a partir do qual ela vai supostamente interagir. Em vez de se jogar no fluxo, ela se aboleta no seu bunker (chamado às vezes de “Minha Página” mesmo e, no Facebook, de Mural). É então induzida a achar que ali pode colocar todas as “suas” coisas. E fica até ofendida quando alguém lhe lembra de que o concurso de Miss Universo não tem muito a ver com astrofísica... Ou seja, ela não se conectou a uma rede, regida por uma lógica coletiva, mas simplesmente se registrou numa plataforma genérica como um eu-sozinho e não quer nem saber o que pensam as outras pessoas sobre a rede propriamente dita. Obedece sem questionar, isto sim, aos regulamentos arbitrados pelo dono da plataforma, mas não está nem aí para seus pares e fica contrariada quando algum desses faz qualquer observação sobre o seu comportamento. – Rede, ora, que rede? Eu não entrei em rede nenhuma. Entrei numa plataforma virtual que chamam de rede social. PLATAFORMAS PROPRIETÁRIAS Facebook é uma plataforma proprietária. Plataformas proprietárias são urdidas pelos trancadores de códigos. Ao construírem caixas- pretas para esconder seus algoritmos ou para montar seus alçapões de dados, os Darth Zuckers erigem, na verdade, pirâmides para proteger suas operações centralizadoras da rede social. Não é por acaso que essas plataformas, desenhadas a partir de uma instância 10
  • 11. proprietária, tentem sempre disciplinar a interação, cavando sulcos por onde o rio deve passar. O nome disso é: centralização. Como é uma plataforma proprietária, o Facebook opera na lógica das coisas proprietárias, a começar por dar a sensação aos seus usuários de que eles são os proprietários das suas páginas, como já comentamos ao examinar seu caráter egonético. Todo mundo ali é proprietário de alguma coisa (da qual, a rigor, já era, como seu perfil e seus dados), mas é o dono do Facebook que é o verdadeiro proprietário de tudo ao reservar para si – e negar a todos os outros – o poder de se apropriar das coisas alheias. As pessoas tendem a achar que isso é natural, pois, afinal, ele não é o dono? Mano Zuck só aprendeu a “varrer para dentro”. Ele deixa até a replicação, no Facebook, de algumas interações efetuadas em outras plataformas (como tweets, por exemplo). Mas não gosta que saia nada do seu cercado. E estabelece suas regras unilaterais (no caso, se você tuita demais seguidamente, o algoritmo que ele bolou pode interpretar que algo não está certo – onde já se viu? – e suspender a publicação). Claro, ele quer protegê-lo. Protegê-lo da interação! PLATAFORMAS BASEADAS EM PARTICIPAÇÃO, NÃO EM INTERAÇÃO Facebook é uma plataforma de adesão com pretensões participativas. Pode chegar, no máximo, a ser uma plataforma p-based (baseada em participação), mas jamais será uma plataforma i-based (baseada em interação) (10). Plataformas p-based envolvem sempre algum tipo de escolha de preferências geradora de escassez. E suas funcionalidades estão voltadas ao arquivamento de passado: publicar, curtir, comentar, compartilhar – tudo para aumentar o repositório ao qual somente seus proprietários têm pleno acesso, na medida em que só eles podem programá-las sem restrições. Nelas você não pode interagir livremente, quer dizer atuar nos seus próprios termos e sim nas condições já estabelecidas por alguém antes da interação. O nome disso é: participação. 11
  • 12. Você pode curtir, mas não pode descurtir (ou curtir mais ou menos). Você não pode saber quem está, num determinado momento, interessado – estudando, pesquisando ou trabalhando – nos mesmos assuntos que você, você não pode interagir com essas pessoas da maneira como gostaria, mas tem que se ajustar às disposições disciplinadoras do ambiente participativo que promovem o arrebanhamento de indivíduos e ensejam a sua condução segundo regras estabelecidas de antemão. É claro que esse problema não é apenas do Facebook, mas de todas as plataformas ditas “de rede” que confundem a mídia (ferramenta digital) com a rede (social: pessoas interagindo). Eis o ponto! Essa é a razão pela qual plataformas como Facebook maltratam as redes: seus arquitetos imaginam que existem indivíduos usuários e não pessoas interagindo. UM PROBLEMA DE CONCEPÇÃO Sim, no fundo, a origem de todos esses problemas das plataformas egonetizadas, proprietárias e p-based, que as tornam inadequadas ao netweaving, é um problema de concepção: o que está por trás de tudo isso é a idéia de que o indivíduo é o átomo social, quando, na verdade, para ser social é preciso ser molécula. Redes sociais são redes de pessoas e pessoas são produtos de interação e não unidades anteriores à interação. DESCONHECIMENTO DA FENOMENOLOGIA DA INTERAÇÃO E há – por incrível que pareça – muita ignorância mesmo. Em geral os que se metem a construir plataformas de rede não conhecem (não estudam, não investigam) a nova ciência das redes e não estão familiarizados com a fenomenologia da interação. O exemplo mais recente pode ser fornecido pelos Círculos do Google+ – a nova mídia social egonetizada, proprietária e p-based – que o Google lançou para ter o seu próprio “facebook”. Os Círculos são clusters não conformados por clustering e sim por escolha efetuada 12
  • 13. ex ante à interação. Construir um Círculo é assim como gerenciar uma agenda de contatos. Isso significa: não-deixar a clusterização exercer o seu papel. Se uma plataforma de rede não enseja a manifestação dos fenômenos próprios da interação – como o clustering, o swarming, o cloning e o crunching –, então ela não é uma plataforma de rede (11). Desse mal, entretanto, não padece apenas o Facebook, como já foi dito. DESCONFIANÇA DA AUTO-ORGANIZAÇÃO Tudo que interage clusteriza. Tudo que interage pode enxamear. Tudo que interage enseja a imitação (que é uma clonagem). Tudo que interage se aproxima. É por meio desses fenômenos (e de outros que não serão mencionados aqui por amor à brevidade) que acontece a auto- organização, a organização bottom up, por emergência. Se deixarmos. E por meio desses fenômenos que se manifesta a inteligência coletiva (que é uma swarm intelligence). Se deixarmos. Tuitei certa vez que se Darth Zucker estivesse regulando o comportamento dos cupins eles nunca dariam conta de construir seus formidáveis cupinzeiros. E os cupins conseguem realizar aquelas construções tão complexas não porque somam suas inteligências individuais (o que daria um resultado desprezível em termos de inteligência agregada), mas porque clusterizam, enxameiam, imitam uns aos outros (introduzindo variações cuja distribuição gera ordem emergente) e porque vivem num small-world. Se os cupins tivessem um facebook como principal meio de comunicação eles continuariam, como indivíduos da sua espécie, tão inteligentes como sempre foram. Mas com certeza a inteligência coletiva que manifestam quando interagem dificilmente se precipitaria. Se Zuckerberg conseguisse presentear os peixes com um facebook eles não teriam a fantástica experiência do shoaling. E as 13
  • 14. aves não poderiam vivenciar o murmuration (12) nem os mamíferos o herding. Em suma, nada de flocking. E, consequentemente, nada de auto-organização. Mas os Darth Zuckers – como todos os construtores de pirâmides – desconfiam da auto-organização. Sobre eles, escrevi em Fluzz (2011): Replicadores e trancadores são construtores de pirâmides. Replicadores são todos os que se dedicam a repetir uma ordem pretérita. São, portanto, ensinadores (“estações repetidoras” do que foi forjado, em geral, pelos codificadores de doutrinas). Para exercer tal papel, entretanto, eles constroem, invariavelmente, estruturas centralizadas ou verticalizadas – sejam escolas, sociedades, maçonarias e assemelhadas, partidos ou corporações ou qualquer outra burocracia que viva da repetição e da inculcação de um conjunto de ideias ou visões de mundo urdidas para prorrogar passado – e, nesse sentido, são construtores de pirâmides. Trancadores são os que privatizam bens que poderiam ser comuns (ou que não poderiam ser trancados, como o conhecimento). Trancadores de conhecimento são, por exemplo, os que defendem o domínio privado sobre o conhecimento, como as leis de patentes e o famigerado copyright. Um dos tipos contemporâneos de trancadores – relevante pelo efeito devastador que sua atividade provoca na antessala de uma época-fluzz – são os trancadores de códigos, que estão entre os mais bem-sucedidos inventores de softwares proprietários da atualidade Ao construírem caixas-pretas para esconder seus algoritmos (como fazem os donos do Google ou do Twitter) ou para montar seus alçapões de dados (como faz o dono do Facebook), eles acabam tendo que construir pirâmides para proteger suas operações centralizadoras da rede social... A solução para tal problema não é “fugir para trás”, voltando aos blogs, como sonham alguns. Ainda que a blogosfera seja de fato, no seu conjunto, uma rede distribuída, os blogs, em si, 14
  • 15. não se estruturam de modo distribuído. Em geral são organizações fechadas, que não admitem interação a não ser com aprovação prévia dos seus donos (por meio da chamada “mediação de comentários”). Mesmo quando são abertos a qualquer comentário, os blogs são piramidezinhas, espécies de reinados do eu-sozinho. Não são bons instrumentos de netweaving de redes sociais distribuídas na medida em que não são, eles próprios, redes distribuídas. Não existem tecnologias de netweaving capazes de colocar um conjunto de blogs em um meio eficaz de interação. Ademais, a mentalidade dos bloggers não acompanhou a inovação que, objetivamente, sua atividade representa. E muitos daqueles que fazem o proselitismo das redes distribuídas nos seus blogs, organizam, lá no seu quadrado, suas igrejinhas hiper- centralizadas, algumas vezes quase-monárquicas. Ou seja, são também construtores de pirâmides (13). POR QUE CAVALO DE TROIA Tuitei em 11/12/2011: O Facebook é um cavalo de troia. Quando é que a galera vai entender isso? Muitas pessoas ficaram curiosas e começaram a me perguntar por quê. Usei a expressão “Cavalo de Troia” no sentido corrente de “presente de grego” e não no sentido estritamente técnico contemporâneo de um malware (trojan horse), programa malicioso usado para controlar um computador, ainda que, em qualquer caso, um “Cavalo de Troia” induz aquele que o recebe a abrir suas defesas, possibilitando uma invasão, a destruição do seu ambiente ou o saque: a apropriação de bens que lhe pertencem contra sua vontade. O Facebook pode ser comparado lato sensu a um cavalo de troia na medida em que é (aparentemente) gratuito, você não paga nada para 15
  • 16. nele se registrar, mas seus dados são capturados e usados com fins lucrativos pelos donos do engenho ardiloso. Por certo, essa leitura da metáfora não é suficiente para justificar o juízo de que o Facebook é um cavalo de troia. Pode-se argumentar que boa parte das plataformas web e de outras ferramentas, programas e aplicativos, também faz isso (como as disponibilizadas pelo Google, por exemplo, a começar pelos seus programas de busca e e-mail). Dentro de certos limites esse comportamento seria aceitável na Internet. Mas... vejamos o que realmente acontece. Você é induzido a aceitar o presente. O presente é um engenho. O engenho é ardiloso. O ardil é perverso. A perversidade consiste em fazê-lo acreditar que você está num ambiente (pelo menos) tão free como a web, quando, na verdade, você está sendo arrebanhado para interagir em um ambiente privado, no qual você está sendo observado, seus dados estão sendo capturados, suas informações estão sendo usadas e suas interações estão sendo monitoradas e reguladas a partir de regras que você não pode conhecer nem modificar. Nada disso é realmente free. Tudo está organizado para que você não tenha consciência de que foi transformado de pessoa em “indivíduo usuário”, de usuário em produtor de bens que não lhe pertencerão, pois você será alienado da sua produção ao jogar seus conteúdos num alçapão de dados. E, repetindo mais uma vez, só os donos da plataforma podem programar a plataforma para ter acesso a tais conteúdos. Você não. Tudo foi organizado para que você continue trabalhando de graça para os donos da plataforma. Você é induzido a aceitar o presente recebido pelo chamado efeito- rede: todo mundo está lá, seus amigos e parentes, professores e alunos, chefes, colegas de trabalho e subordinados, ídolos e fãs, atuais e potenciais empregadores, financiadores, clientes e consumidores, parceiros, namorados, namoradas, maridos, esposas... sim, todo mundo está lá (ou você acha que está; ou acha que há grande probabilidade de estar, o que dá no mesmo). Inclusive pessoas com as quais você não se relaciona há muito tempo e das 16
  • 17. quais perdeu o paradeiro, quem sabe um filho que saiu de casa e não deu mais notícia. Não é como em um site de busca porque agora você pode interagir com a pessoa no mesmo ambiente. Você pode até, talvez, reatar importantes relacionamentos, cobrar dívidas e recuperar empréstimos que imaginava perdidos, aliviar sua consciência tendo a oportunidade de pedir desculpas por graves ofensas ou simples desatenções cometidas no passado... Como é que você pode ficar fora disso? É claro que não pode. Então você entra achando que vai ser um livre usuário, que usará a plataforma quando quiser, que vai poder sair dela quando quiser e voltar quando quiser. A plataforma, aliás, lhe dá essa garantia. Ela não apaga seu perfil e seu histórico, dando-lhe a segurança de que você pode sempre voltar, e sair de novo, e entrar de novo. É o melhor dos mundos, não? Além de não pagar nada, você pode exercer em plenitude seu livre arbítrio. Aparentemente. O que você não vê é que você vê apenas o que a plataforma escolheu para você ver. Você não pode conhecer (muito menos modificar) os algoritmos que determinam o que constrói o seu feed de notícias. Você não pode conhecer (muito menos modificar) a infinidade de regras já estabelecidas sobre o que é ou não é permitido. Você não conhece (nem pode modificar) as normas que regem as relações com os aplicativos que aceitou sem saber direito o que de fato autorizou, você não sabe quais os filtros que foram acionados para selecionar o que você verá e o que os outros verão do que você postar. É óbvio que ninguém deveria ter o direito de decidir sobre o que nós podemos ver (ou devemos não ver). Pensando um pouco, ninguém discordará disso. Mas não adianta concordar com isso. Pois você não pode, simplesmente não pode, reclamar com ninguém. É tudo automático. Os algoritmos rodam sozinhos. Na prática – nessa Matrix – ninguém é responsável pelo que acontece. Agora vem o mais tenebroso. Se você teve acesso à web por meio do Facebook (e são muitas as pessoas, aliás, cada vez mais pessoas, nessa condição), então você tende a achar que o mundo é assim mesmo. Como é que alguém vai reclamar da lei da gravidade? As 17
  • 18. coisas caem porque caem, ora bolas. É assim que funciona. O mesmo vale para a Internet. Como disse Evgeny Morozov (2011), um analista perspicaz, em geral meio chato, mas que acertou em cheio nesse particular em recente artigo intitulado “O Facebook está contra a alegria”: Uma das ideias mais influentes e perigosas, e menos consideradas, a surgir neste final de ano no Vale do Silício é a de "compartilhamento sem fricção". Articulada por Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, em setembro, a ideia pode reformular a cultura da internet tal como a conhecemos - e não para melhor. O princípio que embasa o "compartilhamento sem fricção" é enganosamente simples e atraente: em lugar de perguntar aos usuários se eles desejam compartilhar com os amigos seus produtos favoritos - os filmes a que assistem online, a música que ouvem, os livros e artigos que leem -, por que não registrar automaticamente todas as suas escolhas, livrá-los da tarefa de compartilhar essas informações e permitir que seus amigos descubram mais conteúdo interessante de forma automática? Se Zuckerberg conseguir o que quer, cada artigo que leiamos e cada canção que viermos a escutar seria automaticamente compartilhada com os outros - sem que tivéssemos nem de apertar aqueles irritantes botões de "curtir". É precisamente isso que o Facebook deseja fazer com sua ideia de aplicativos sociais, que rastreiam tudo que uma pessoa consuma no site (e, nem seria preciso dizer, consumimos mais e mais informações sem sair do Facebook). Não é impensável que o Facebook em breve venha a desenvolver aplicativos capazes de rastrear também o que fazemos fora de seu site. E a essa altura, não estamos mais falando de uma questão de tecnologia, mas sim de uma questão de ideologia - fazer com que esse "compartilhamento sem fricção" pareça completamente normal, e até desejável... Mas os problemas não se limitam à monitoração em larga escala. E se empresas que fazem negócios com o Facebook 18
  • 19. desenvolverem o hábito de usar os estereótipos surgidos dos dados que revelamos a elas a fim de nos enquadrar em suas estreitas categorias - por exemplo, "hipster de nível universitário que gosta de música indie e vota na esquerda"? Isso não seria tão terrível se essas empresas não utilizassem essas categorias para formatar ofertas personalizadas de conteúdo dirigidas a nós. No entanto, devido ao "compartilhamento sem fricção", essas empresas terminam operando com aquilo que o jornalista tecnológico norte-americano Eli Pariser define como "má teoria de personalidade": elas partem de suposições incompletas sobre quem somos baseadas em livros, filmes e músicas que já consumimos, e tentam descobrir em que categoria pré- existente de marketing nos enquadramos, para nos fornecer conteúdo que outros usuários enquadrados na mesma categoria apreciam. O perigo disso é bastante claro: nós, usuários de Internet, logo estaremos privados de espaço para crescimento intelectual, porque seremos bombardeados por links para material que provavelmente apreciaremos... Mas existe algo de ainda mais repelente nessa ideia. O motivo para que compartilhemos links deliberadamente, na rede, é acreditarmos que esses links conduzam a conteúdo interessante, estimulante, divertido, perigoso ou horrivelmente ruim. Temos de fazer julgamentos sobre o que vimos, temos de avaliar - artigos, livros, canções. A maior parte dessas avaliações é rasa, claro, mas ainda assim nos forçam a exercitar nossa faculdade crítica, a operar como curadores - mesmo que para uma audiência formada por apenas 10 amigos... No entanto, a ideologia do "compartilhamento sem fricção" quer promover um envolvimento muito diferente com a Internet, nos termos do qual os usuários não são imaginados como críticos prontos a discriminar entre tipos diferentes de conteúdo, mas sim como robôs sem alma cuja função única é consumir conteúdo e produzir gráficos, tendências e bancos de dados 19
  • 20. para que ainda mais conteúdo lhes possa ser vendido. Já não compartilharemos aquilo que gostamos de modo consciente; em lugar disso, o Facebook compartilhará tudo - bom, ruim, interessante ou chato - em nosso nome. É hora de percebermos que o Facebook está eliminando a alegria, o caos e a natureza idiossincrática da Internet, e substituindo tudo isso por sorrisos artificiais, eficiência tediosa (e portanto "sem fricção") e uma interação abrangente mas branda e inane com a cultura...(14) Bem... para interpretar o Facebook como um cavalo de troia temos que pensar no coletivo, nos emaranhados que chamamos de pessoas, não nos indivíduos usuários. A rigor o Facebook não é um presente de grego para cada indivíduo que nele se registra – e a comparação, nesse caso, seria mesmo um pouco forçada – e sim para a humanidade. À medida que as pessoas vão entrando na Internet via Facebook, elas se deixam impregnar pela ideologia de um mundo único, um mundo artificialmente construído segundo as regras dos donos do Facebook. Os “programas maliciosos” que estão dentro do cavalo de troia destruirão seus mundos, seus emaranhados construídos pelas suas livres conexões, na web e para além da web (como nas redes mesh e nas government-less internets que estão surgindo e tendem a proliferar) para reificar a ilusão de que só existe aquele mundo único construído por Darth Zucker. Nosso grande desafio, ao contrário do que pretende o Facebook, é construir inumeráveis interworlds (que serão as novas internets). Interworlds = "zonas de transição", interfaces entre os muitos mundos altamente conectados: milhões de plataformas e milhões de interfaces, explodindo como uma ramada de neurônios. 20
  • 21. Notas e referências (1) FRANCO, Augusto (2011). Desobedeça. Apresentação no TEDxCuritiba em 16/07/2011. Disponível em: <http://www.slideshare.net/augustodefranco/desobedea-tedxcuritiba> (2) FRANCO, Augusto (2011). Fluzz: vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio. São Paulo: Escola de Redes, 2011. Versão preliminar digital disponível em: <http://www.slideshare.net/augustodefranco/fluzz-book-ebook> (3) LÉVY, Pierre (1998). “Uma ramada de neurônios” in Folha de São Paulo: 15/11/1998. Cf. ainda Caderno Mais da Folha de S. Paulo: 15/11/2002 (p. 5-3). O texto está disponível em: <http://escoladeredes.ning.com/profiles/blogs/uma-ramada-de-neuronios> (4) Idem. (5) BERNERS-LEE, Tim (2010). “Long Live the Web: A Call for Continued Open Standards and Neutrality in Scientific American Maganize, December 2010. O texto está disponível em: <http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=long-live-the-web> (6) UGARTE, David (2011). El “futuro de las redes sociales”. Disponível em: <http://lasindias.coop/el-futuro-de-las-redes-sociales/> (7) UGARTE, David (2011). Facebook, el “efecto boy scout” y la necesidad de dar un canal articulado a la adhesión. Disponível em: <http://lasindias.coop/facebook-el-%C2%ABefecto-boy-scout%C2%BB-y- la-necesidad-de-dar-un-canal-articulado-a-la-adhesion/> (8) FRANCO, Augusto (2011). É o social, estúpido! Três confusões que dificultam o entendimento das redes sociais. Disponível em: <http://www.slideshare.net/augustodefranco/o-social-estpido> 21
  • 22. (9) Cf. FRANCO, Augusto (2009). Cada um no seu quadrado: algumas notas sobre o difícil aprendizado das redes sociais nas organizações hierárquicas. Disponível em: <http://www.slideshare.net/augustodefranco/cada-um-no-seu-quadrado- 3215261> (10) Cf. FRANCO, Augusto (2010). Redes são ambientes de interação, não de participação. Disponível em: <http://www.slideshare.net/augustodefranco/redes-so-ambientes-de- interao-no-de-participao> (11) Cf. FRANCO, Augusto (2011). É o social, estúpido! Ed. cit. (12) Cf. TAPSCOTT, Don (2010). Macrowikinomics Murmuration (vídeo). Edição legendada em português disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=o4QRouhIKwo> (13) FRANCO, Augusto (2011). Fluzz. Ed. cit. (14) MOROZOV, Evgeny (2011). O Facebook está contra a alegria. Artigo publicado na Folha.com em 28/11/2011. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/evgenymorozov/1010856-o- facebook-esta-contra-a-alegria.shtml> 22