Roteiro de Consulta de Puericultura - Unidade de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente - Hospital Universitário Onofre Lopes- HUOL - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal/Brasil - Autora: Drª Devani Ferreira Pires.
1. ROTEIRO DE CONSULTA DE PUERICULTURA – UNIDADE DE ATENÇÃO À SAÚDE DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES – UFRN.
DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR
Leis que regem o desenvolvimento infantil: céfalo-caudal, próximo-distal, flexores-extensores e
geral-específico.
Avaliação dos Reflexos próprios de recém-nascido na consulta do primeiro trimestre.
Aquisição de marcos motores: 0 - 03, 03 - 06, 06 - 09, 09 - 12; 12 – 18; 18 - 24 meses.
Avaliação do desenvolvimento visual, auditivo e aquisição de linguagem a cada consulta.
Comportamento adaptativo: habilidade para utilizar a capacidade motora na solução de
problemas práticos; coordenação de movimentos oculares e manuais para alcançar e
manipular objetos; capacidade de adaptação frente a problemas.
Comportamento pessoal-social correspondente à faixa etária.
Estimulação adequada (mãe/pai/cuidador/família): contato visual, falar, cantar, ler e brincar.
Sinais de alerta ao término do primeiro trimestre: ausência do controle cervical, não realiza
fixação visual, não segue com o olhar, apresenta dificuldade de sucção e ou deglutição,
hipotonia ou hipertonia, ausência de sorriso social.
Sinais de alerta ao término do segundo trimestre: ausência de aquisição de marcos da etapa
anterior e não se interessa pelas pessoas e objetos a sua volta, não se volta para o estímulo
sonoro, não pega objetos, não rola, não eleva o tronco quando em decúbito ventral.
Sinais de alerta aos 12 meses: não explora objetos, não fica de pé com apoio, não realiza
preensão em pinça, não usa ambas as mãos, não fala, não demonstra interesse pelas pessoas.
OBSERVAR VÍNCULO
Competência parenteral quanto aos cuidados dispensados ao bebê no primeiro trimestre:
reconhecimento de sinais de fome, manuseio frente ao choro, cólica e interações.
TRIAGEM DO PERÍODO NEONATAL:
Metabólica: fenilcetonúria (PKU), hipotireoidismo congênito (TSH), hemoglobinopatias (HB),
fibrose cística (IRT), hiperplasia adrenal congênita (17 OHP), deficiência de biotinidase (BIO).
Ocular: Teste do Reflexo Vermelho (após 24 horas de vida na maternidade (alojamento
conjunto ou Unidade Neonatal) ou na consulta do 5º dia na UBS. Caso não tenha realizado
no período neonatal, pode ser efetuado na primeira consulta com Pediatra ou
Oftalmologista e repetido aos 06 meses e 12 meses; recomenda-se duas avaliações no
segundo ano de vida e pelo menos uma vez ao ano do 3º ao 5º ano de vida.
Fundo de olho (FO): para a triagem da Retinopatia da Prematuridade (ROP), o primeiro
exame deverá ser realizado entre 04 a 06 semanas de vida por Oftalmologista Retinólogo, a
periodicidade da reavaliação será definida pelo especialista. O FO deverá ser realizado
também nos diagnósticos de infecções congênitas como toxoplasmose, sífilis, HIV, CMV,
rubéola, herpes, síndrome da infecção congênita pelo vírus Zika; malformações do SNC,
doenças genéticas; exposição a drogas: álcool e drogas ilícitas; medicações: talidomida,
2. ROTEIRO DE CONSULTA DE PUERICULTURA – UNIDADE DE ATENÇÃO À SAÚDE DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES – UFRN.
misoprostol, benzodiazepínicos; radiação; fatores nutricionais e metabólicos.
Teste da Oximetria de pulso: realizar a aferição da oximetria de pulso, em todo recém-
nascido aparentemente saudável com idade gestacional > 34 semanas, entre 24 e 48 horas
de vida, antes da alta da Unidade Neonatal.
Emissões otoacústicas: A Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU) deve ser realizada,
preferencialmente, nos primeiros dias de vida (entre 24h a 48h) na maternidade, se não
realizado na maternidade, orientar para providenciar a triagem durante o primeiro mês de
vida. Lactentes e crianças com indicadores de risco para deficiência auditiva (Irda) devem
seguir o protocolo de monitoramento audiológico através do BERA ou PEATE nos primeiros
02 a 03 anos. O diagnóstico de perda auditiva deve ocorrer o mais precoce possível,
preferencialmente até o sexto mês de vida.
Avaliação morfofuncional da língua e frênulo lingual. O exame da cavidade oral deve ser
realizado na maternidade, e no seguimento ambulatorial, observando-se também a
integridade do lábio e palato.
Neurossonografia (USGTF): Conforme indicação clínica (prematuridade, rastreamento de
hemorragia intracraniana, hidrocefalia, malformações do SNC).
CRESCIMENTO - AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
Parâmetros analisados: utilizar a curva de crescimento da OMS/2006 (faixa etária entre 0 a 05
anos) e OMS/2007 (faixa etária entre 05 a 19 anos).
Peso para a idade;
Comprimento para a idade;
Perímetro cefálico para a idade;
Índice de Massa Corpórea (IMC) para a idade.
Ganho ponderal:
1º trimestre: 700 g/mês – 25 a 30 g/dia;
• 2º trimestre: 600 g/mês – 20 g/dia;
• 3º trimestre: 500 g/mês – 15 g/dia;
• 4º trimestre: 300 g/mês – 10 g/dia;
12 a 24 meses: 180 g/mês – 06 g/dia.
Acima de 24 meses: o ganho de peso é em média 2 Kg/ano até a idade de 08 anos de idade.
Perímetro cefálico:
A medição do perímetro cefálico deve ser feita com fita métrica não-extensível, na altura das
arcadas supraorbitárias, anteriormente, e da maior proeminência do osso occipital,
posteriormente. Quando aferir: dentro da primeira semana de vida (após 24 horas de vida até
06 dias e 23 horas).
3. ROTEIRO DE CONSULTA DE PUERICULTURA – UNIDADE DE ATENÇÃO À SAÚDE DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES – UFRN.
Microcefalia: recém-nascidos com um perímetro cefálico inferior a -2 desvios-padrão.
Microcefalia grave: recém-nascidos com um perímetro cefálico inferior a -3 desvios-
padrão, abaixo da média para idade gestacional e sexo.
Parâmetro de microcefalia para menino: a medida igual ou inferior a 31,9 cm.
Parâmetro de microcefalia menina: medida igual ou inferior a 31,5 cm.
Crescimento: 1º trimestre: 02cm/mês; 2º trimestre: 01cm/mês; 2º semestre: 0,5cm/mês.
Fontanela: inspeção, formato, tamanho, palpação e ausculta.
COMPRIMENTO: o lactente cresce em média 25 cm nos primeiros 12 meses, sendo 15 cm no
primeiro semestre e 10 cm no segundo semestre.
• 0 a 03 meses de vida: aumento de 3,5 cm/mês;
• 04 a 06 meses: aumento de 02 cm/mês;
• 07 a 0 9 meses: aumento de 1,5 cm/mês;
• 10 a 12 meses: aumento de 1,2 cm/mês;
No segundo ano de vida: cresce em média 10 a 12 centímetros ao ano.
AVALIAR / ORIENTAR: IMUNIZAÇÃO
Conferir calendário vacinal.
CUIDADOS DE ROTINA
Sono: rotina; dorme no berço? Investigar coleito com pais, irmãos ou outros; decúbito dorsal.
Banho: frequência / uso de sabonete; volume da água na banheira e temperatura.
Unhas cortadas e limpas; higiene oral; troca de fraldas e lavagem da roupa.
ASPECTOS PSICOSSOCIAIS
Mãe/pai adolescentes?
Moradia: tipo de habitação, número de cômodos, número de pessoas na residência.
Situação econômica da família: pai ou mãe ou ambos trabalham? Responsável financeiro do
núcleo familiar (Pais? Avós?).
Quem cuida da criança?
História de violência doméstica? Uso de álcool e ou drogas ilícitas? Transtorno psíquico?
PREVENÇÃO DE INJURIAS
Transporte em automóvel: tipo de dispositivo adequado à faixa etária e peso da criança.
Prevenção de queda, queimadura, asfixia, síndrome do torniquete, intoxicação, afogamento.
Prevenção de arboviroses: utilização de barreira física e repelente, se acima de 06 meses.
4. ROTEIRO DE CONSULTA DE PUERICULTURA – UNIDADE DE ATENÇÃO À SAÚDE DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES – UFRN.
CUIDADO AMBIENTAL
Evitar exposição à fumaça de cigarro, poluição ambiental, ingesta ou contato com chumbo,
produtos químicos, inseticidas.
FOTOPROTEÇÃO SOLAR
Bebês até os 6 meses: não é recomendado exposição solar prolongada, nem o uso de filtro;
Evitar exposição solar especialmente entre às 10:00 e 16:00 h;
Até os seis meses a proteção deve ser feita com roupas, bonés e sombra;
A água, areia e neve refletem os raios UV 10%, 15% e 80% respectivamente e por isso na praia
pode ocorrer queimadura mesmo na “sombra” ou dentro da água.
O filtro solar é um produto aplicado sobre a pele que vai absorver ou refletir os raios UV.
Subdividem-se em filtros químicos, que absorvem a UV, e os físicos (bloqueadores), que
refletem a UV;
Para a faixa etária entre 06 meses e 02 anos, indicar filtros do tipo físicos - “baby” (óxido de
zinco e dióxido de titânio), com FPS 30;
O filtro solar deve ser aplicado 15 a 30 minutos antes da exposição, o filtro deve ser reaplicado
a cada 02 horas ou após transpiração intensa, natação e a cada duas horas de exposição solar.
ANAMNESE - HISTÓRIA CLÍNICA
Consulta de primeira vez: anamnese, pré-natal, condições do nascimento, APGAR (necessidade
de reanimação, internação, diagnósticos e tratamentos); idade gestacional, peso, comprimento
e perímetro cefálico ao nascimento.
Exame físico segmentar e neurológico.
HISTÓRIA ALIMENTAR
Aleitamento materno exclusivo nos primeiros 06 meses: importância da técnica de AM.
ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR
FAIXA ETÁRIA TIPO DE ALIMENTO
Até 06 meses Leite Materno Exclusivo / fórmula infantil s/n
Ao completar 06 meses Leite materno, iniciar a papinha de frutas; almoço:
arroz + feijão + legumes + proteína (carne bovina ou
peito de frango ou ovo cozido); à tarde: segunda
papa de fruta; leite materno à tarde e à noite; água
nos intervalos da dieta. Temperos permitidos: alho,
cebola, coentro ou salsinha em pequena quantidade.
Ao completar 07 meses Introduzir a segunda refeição principal, equivalente
ao jantar, similar ao almoço.
5. ROTEIRO DE CONSULTA DE PUERICULTURA – UNIDADE DE ATENÇÃO À SAÚDE DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES – UFRN.
09 meses - 12 meses Gradativamente passar para a alimentação da
família, respeitando a fase de desenvolvimento do
lactente.
EVITAR Alimentos industrializados, doces, sal, açúcar,
frituras, refrigerantes, alimentos com corantes e/ou
conservantes.
NECESSIDADE DE ÁGUA 0 a 06 meses: 700 mL/dia (LME é suficiente);
07 a 12 meses: 800 mL/dia (LM + alimentos
complementares + água à vontade);
01 a 03 anos: 1300 ml/dia.
RECOMENDAÇÕES NA CONSULTA DE
PUERICULTURA
Promover a saúde e a segurança.
Valorizar os aspectos positivos do cuidado que a
família já esteja adotando.
Priorizar as preocupações e evitar sobrecarregar
a mãe ou responsável com excesso de
informações.
Orientar o plano de cuidado que seja compatível
com a realidade sociocultural e econômica da
família.
Fornecer conselhos claros e simples e
estabelecer as consultas de retorno.
Elaborar o plano de cuidado em parceria com a
família.
Suplementação de vitaminas e ferro.
Cuidado compartilhado com a Atenção Primária
à Saúde. A família deve ser acompanhada com a
equipe da UBS/ESF. Compete ao serviço
especializado cumprir o papel de apoio matricial.
SUPLEMENTAÇÃO VITAMÍNICA E FERRO
VITAMINA D A SBP recomenda a suplementação profilática de 400 UI/dia no
primeiro ano, e de 600 UI/dia no segundo ano.
VITAMINA A DIÁRIA RNPT: a partir de 07 dias de vida, a dose depende da idade
gestacional, peso ao nascimento e intercorrências clínicas.
6. ROTEIRO DE CONSULTA DE PUERICULTURA – UNIDADE DE ATENÇÃO À SAÚDE DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES – UFRN.
Necessidade normal de vitamina A: 0 a 06 meses: 1333 UI/dia; 06
a 12 meses: 1667 UI/dia; 01 a 03 anos: 1000 UI/dia.
VITAMINA A
SEMESTRAL
(MEGADOSE)
06 a 11 meses: 100.000 UI – 01 dose por via oral (VO)
15 a 59 meses: 200.000 UI – 01 dose a cada 06 meses (VO)
SUPLEMENTAÇÃO
PROFILÁTICA DE FERRO
RN Termo: iniciar ferro elementar 01 mg/Kg/dia (VO) a partir de
06 meses de idade até 24 meses.
RNPT < 1000g: ferro elementar 04 mg/Kg/dia (VO) até 12
meses, conforme avaliação clínica e laboratorial.
RNPT com peso de nascimento entre 1000 a 1499g: 3
mg/Kg/dia (VO), conforme avaliação clínica e laboratorial.
RNPT com peso de nascimento entre 1500 a 2499g: 2
mg/Kg/dia (VO), conforme avaliação clínica e laboratorial s/n.
A partir de 12 meses: 1 mg/Kg/dia até 24 meses.
ELABORAÇÃO: DEVANI FERREIRA PIRES / DATA: 10/02/2017
Fontes:
1. Manual de orientação para a alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do
adolescente e na escola/Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de
Nutrologia, 3ª. ed. Rio de Janeiro, RJ: SBP, 2012.
2. DIAS MCAP. Recomendações para alimentação complementar de crianças menores de
dois anos. Rev. Nutr. vol.23 no
.3 Campinas May/June 2010.
3. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar
/ Ministério da Saúde – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009.
4. Virgínia Resende Silva Weffort. Importância da nutrição adequada na primeira infância.
Pediatria moderna – vol. XLIX-Nº 6 – junho/2013.
5. Brasil. Manual de condutas gerais do Programa Nacional de Suplementação de
Vitamina A. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
6. Brasil. Programa Nacional de Suplementação de Ferro: manual de condutas gerais /
Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
7. Brasil. Diretrizes de Atenção à Saúde Ocular na Infância: detecção e intervenção
precoce para prevenção de deficiências visuais. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
8. Guideline: Sugars intake for adults and children. Geneva: World Health Organization;
2015.
9. Avaliação Nutrológica no Consultório. Departamento Científico de Nutrologia da
Sociedade Brasileira de Pediatria, novembro de 2016.