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tecnologia
32 Cidade Nova • Julho 2013 • nº 7
cibele lana
cibele@cidadenova.org.br
Vendo
o mundo com
o Google
Glass
INOVAÇÃO Óculos inteligentes do Google levantam discussões
entre especialistas sobre os benefícios de dispositivos tecnológicos
“vestíveis” e suas implicações no comportamento humano
tirar fotos, gravar vídeos, acessar o
GPS, participar de videoconferên-
cias, fazer ligações, enviar mensa-
gens, tudo por comando de voz.
Basta uma ordem do tipo “OK,
Glass, grave um vídeo” e imediata-
mente a cena à sua frente começa
a ser armazenada. O Glass também
conversará com o usuário, transmi-
tindo o som para o ouvido da pes-
soa por meio de microvibrações em
determinados ossos da cabeça. Essa
tecnologia permite que ninguém à
sua volta escute o que o óculos está
lhe dizendo. Além do sistema de
som, o eletrônico também impres-
siona pela qualidade da tela proje-
tada, com 640x360 pixels de reso-
lução, o equivalente a um monitor
de 25 polegadas de alta definição
colocado a 2,5 metros do espec-
tador. A capacidade de armazena-
mento será de 16 GB e a câmera de
5 megapixels.
Riscos que já conhecemos
O especialista em tecnologia, Fe-
lipe Faletti, esteve em São Francisco,
nos Estados Unidos, para participar
do evento “Google I/O” para desen-
volvedores e lá teve a oportunida-
de de experimentar o Glass. Felipe
explicou que a conexão é feita por
meio da tecnologia bluetooth do
smartphone, que faz um reconhe-
cimento e ativa a conexão com os
óculos. Em um ambiente com in-
ternet sem fio, é possível conectar o
Glass diretamente na internet.
O cofundador do Google, Sergey
Brin chegou a afirmar em evento na
ós ainda nem bem nos
acostumamos com os celu­
lares inteligentes, sensíveis­
ao to­que e cheios de apli­
cativos­e logo mais veremos des-
pontar nas prateleiras um novo
dispositivo que trará a tecnologia
interativa literal­mente para a frente
dos nossos olhos. A gigante Goo-
gle já anunciou o lançamento, em
2014, do Google Glass (óculos Goo-
gle), que está em processo de aper-
feiçoamento e sendo testado por de­
senvolvedores de sistemas.
Trata-se de um acessório em for-
mato de óculos que projeta conteú-
dos por meio de uma tela transpa-
rente bem à frente do olho direito,
permitindo interação em realidade
aumentada. Com ele é possível, por
exemplo, fazer buscas no Google,
N
Divulgação
33Cidade Nova • Julho 2013 • nº 7
Califórnia (EUA), que o Glass pode
reverter o vício que a sociedade tem
hoje de usar os smartphones, um
vício que carrega consigo alguns
reflexos no comportamento como
o visível isolamento das pessoas ao
interagir com os celulares. Felipe
discorda dessa afirmação de Brin:
“A minha experiência é que isso
não se cumpriu. Precisei focar mi-
nha atenção no Glass e ele também
me isolou das pessoas”, disse.
O psicólogo e mestre em co-
municação e semiótica pela PUC-
-SP, Pedro del Picchia assegura que
o Glass “é só mais um dispositivo.
Um dispositivo novo, mas que não
é moderno. É dependente de um
smartphone e não traz nada de ino-
vação”, já que todas as suas funções
também estão disponíveis no celu-
lar. No entanto, cada novo apare-
lho que entra no mercado traz uma
necessidade de adaptação por parte
da sociedade, especialmente em se
tratando de dispositivos “vestíveis”.
O psicólogo nos lembra do exemplo
dos primeiros filmes produzidos
para cinema, que continham cenas
de trens em movimento. As pessoas­
tinham uma resposta biológica e na-
turalmente tentavam afastar o corpo
da tela. Pedro questiona: “Qual será
nossa resposta biológica ao Glass?
Será que vamos criar o “tique” de
olhar para cima [referindo-se à pro-
jeção da tela no canto superior do
olho direito]? A chance de acontecer
isso é muito alta”, finaliza.
O professor universitário e dou-
torando na Universidade de Coim-
bra, Gustavo Cavalheiros, acredita,
no entanto, que o “Google Glass é
mais do que uma simples prótese
comunicativa. Chega a ser uma pos-
sível tendência de interpretação do
mundo, em um olhar avatarizado
[por avatar se entende uma repre-
sentação de si mesmo em ambien-
tes virtuais]. Quem sabe é o início
da disponibilidade de vivenciar o
mundo para além dos cinco senti-
dos naturais, trazendo as formas
eletrônicas para o seu campo de vi-
são e para a operação cotidiana de
apreensão do mundo”, reflete.
Adeus privacidade?
Viver o cotidiano com o Google
Glass pode ser sinônimo de uma
vida bem mais confortável por con-
ta da tecnologia, mas também alvo
de preocupações e neuroses. Ao mes­
mo tempo em que seria muito útil
estar em uma cidade desconhecida
e poder utilizar a ferramenta de geo­
localização do Google para pegar o
sentido certo do ônibus ou do me-
trô, imagine os cidadãos à sua vol-
ta pensando: “Será que ele está me
gravando? Será que ele tirou uma
foto e vai postar na internet?”. Para
Pedro, neste sentido a “privacidade
já foi para o espaço. Não existe mais
a barreira entre ser on-line e ser off-
-line”, completou.
Alerta
O Glass nem foi lançado ainda
nos Estados Unidos e um outro pro-
blema já começa a ser debatido: o uso
do óculos no trânsito. Gary Howell,
legislador do partido republicano da
Virgínia Ocidental, está propondo
uma lei tornando ilegal dirigir en-
quanto se usa os óculos do Google.
No entanto, os entusiastas da tec­
nologia estão ansiosos para experi-
mentar o Glass e acreditam em seu
potencial para além desses proble-
mas. Kauê Lima, designer de games,
diz que sempre sonhou com este
tipo de interface flutuante. “Acre-
dito que em pouco tempo teremos
aplicações que serão realmente rele-
vantes para o cotidiano, como, por
exemplo, a capacidade de reconhe-
cer códigos de barra em um super-
mercado e ir fazendo a conta da sua
compra enquanto adiciona itens ao
seu carrinho. Há alguns anos, mui-
to se fala em trazer o mundo físi-
co para o mundo digital. O Google
Glass proporcionará o inverso, a
edição de uma camada digital no
mundo físico”, prevê.
Outro aspecto a ser ressaltado é o
do poder que transferimos ao Goo-
gle, ou a outras empresas que podem
utilizar a mesma tecnologia, com o
uso destes dispositivos, sempre vin-
culados às nossas informações pes-
soais. O publicitário e professor de
Storytelling e Transmídia da Escola
de Comunicação e Artes da Univer-
sidade de São Paulo, Bruno Scartoz­
zoni, afirma que mensagens com
anúncios no “meio” do conteúdo e
“janelas” de propagandas serão inevi-
táveis. Nesse sentido, Gustavo Cava-
lheiros também alerta para o poder
de uma informação filtrada pelos
interesses de uma empresa, essen-
cialmente focados no lucro.
Apesar das controvérsias, o Goo-
gle Glass é uma ferramenta inova-
dora e suas aplicações serão depen-
dentes do uso que o ser humano
fará de suas funcionalidades. Neste
sentido, Felipe conclui: “O desenvol-
vimento da tecnologia é inevitável e
não pode ser detido. O Google Glass
pode ter aplicações positivas, como
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físicas”. Agora é esperar para ver.
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  • 1. tecnologia 32 Cidade Nova • Julho 2013 • nº 7 cibele lana cibele@cidadenova.org.br Vendo o mundo com o Google Glass INOVAÇÃO Óculos inteligentes do Google levantam discussões entre especialistas sobre os benefícios de dispositivos tecnológicos “vestíveis” e suas implicações no comportamento humano tirar fotos, gravar vídeos, acessar o GPS, participar de videoconferên- cias, fazer ligações, enviar mensa- gens, tudo por comando de voz. Basta uma ordem do tipo “OK, Glass, grave um vídeo” e imediata- mente a cena à sua frente começa a ser armazenada. O Glass também conversará com o usuário, transmi- tindo o som para o ouvido da pes- soa por meio de microvibrações em determinados ossos da cabeça. Essa tecnologia permite que ninguém à sua volta escute o que o óculos está lhe dizendo. Além do sistema de som, o eletrônico também impres- siona pela qualidade da tela proje- tada, com 640x360 pixels de reso- lução, o equivalente a um monitor de 25 polegadas de alta definição colocado a 2,5 metros do espec- tador. A capacidade de armazena- mento será de 16 GB e a câmera de 5 megapixels. Riscos que já conhecemos O especialista em tecnologia, Fe- lipe Faletti, esteve em São Francisco, nos Estados Unidos, para participar do evento “Google I/O” para desen- volvedores e lá teve a oportunida- de de experimentar o Glass. Felipe explicou que a conexão é feita por meio da tecnologia bluetooth do smartphone, que faz um reconhe- cimento e ativa a conexão com os óculos. Em um ambiente com in- ternet sem fio, é possível conectar o Glass diretamente na internet. O cofundador do Google, Sergey Brin chegou a afirmar em evento na ós ainda nem bem nos acostumamos com os celu­ lares inteligentes, sensíveis­ ao to­que e cheios de apli­ cativos­e logo mais veremos des- pontar nas prateleiras um novo dispositivo que trará a tecnologia interativa literal­mente para a frente dos nossos olhos. A gigante Goo- gle já anunciou o lançamento, em 2014, do Google Glass (óculos Goo- gle), que está em processo de aper- feiçoamento e sendo testado por de­ senvolvedores de sistemas. Trata-se de um acessório em for- mato de óculos que projeta conteú- dos por meio de uma tela transpa- rente bem à frente do olho direito, permitindo interação em realidade aumentada. Com ele é possível, por exemplo, fazer buscas no Google, N Divulgação
  • 2. 33Cidade Nova • Julho 2013 • nº 7 Califórnia (EUA), que o Glass pode reverter o vício que a sociedade tem hoje de usar os smartphones, um vício que carrega consigo alguns reflexos no comportamento como o visível isolamento das pessoas ao interagir com os celulares. Felipe discorda dessa afirmação de Brin: “A minha experiência é que isso não se cumpriu. Precisei focar mi- nha atenção no Glass e ele também me isolou das pessoas”, disse. O psicólogo e mestre em co- municação e semiótica pela PUC- -SP, Pedro del Picchia assegura que o Glass “é só mais um dispositivo. Um dispositivo novo, mas que não é moderno. É dependente de um smartphone e não traz nada de ino- vação”, já que todas as suas funções também estão disponíveis no celu- lar. No entanto, cada novo apare- lho que entra no mercado traz uma necessidade de adaptação por parte da sociedade, especialmente em se tratando de dispositivos “vestíveis”. O psicólogo nos lembra do exemplo dos primeiros filmes produzidos para cinema, que continham cenas de trens em movimento. As pessoas­ tinham uma resposta biológica e na- turalmente tentavam afastar o corpo da tela. Pedro questiona: “Qual será nossa resposta biológica ao Glass? Será que vamos criar o “tique” de olhar para cima [referindo-se à pro- jeção da tela no canto superior do olho direito]? A chance de acontecer isso é muito alta”, finaliza. O professor universitário e dou- torando na Universidade de Coim- bra, Gustavo Cavalheiros, acredita, no entanto, que o “Google Glass é mais do que uma simples prótese comunicativa. Chega a ser uma pos- sível tendência de interpretação do mundo, em um olhar avatarizado [por avatar se entende uma repre- sentação de si mesmo em ambien- tes virtuais]. Quem sabe é o início da disponibilidade de vivenciar o mundo para além dos cinco senti- dos naturais, trazendo as formas eletrônicas para o seu campo de vi- são e para a operação cotidiana de apreensão do mundo”, reflete. Adeus privacidade? Viver o cotidiano com o Google Glass pode ser sinônimo de uma vida bem mais confortável por con- ta da tecnologia, mas também alvo de preocupações e neuroses. Ao mes­ mo tempo em que seria muito útil estar em uma cidade desconhecida e poder utilizar a ferramenta de geo­ localização do Google para pegar o sentido certo do ônibus ou do me- trô, imagine os cidadãos à sua vol- ta pensando: “Será que ele está me gravando? Será que ele tirou uma foto e vai postar na internet?”. Para Pedro, neste sentido a “privacidade já foi para o espaço. Não existe mais a barreira entre ser on-line e ser off- -line”, completou. Alerta O Glass nem foi lançado ainda nos Estados Unidos e um outro pro- blema já começa a ser debatido: o uso do óculos no trânsito. Gary Howell, legislador do partido republicano da Virgínia Ocidental, está propondo uma lei tornando ilegal dirigir en- quanto se usa os óculos do Google. No entanto, os entusiastas da tec­ nologia estão ansiosos para experi- mentar o Glass e acreditam em seu potencial para além desses proble- mas. Kauê Lima, designer de games, diz que sempre sonhou com este tipo de interface flutuante. “Acre- dito que em pouco tempo teremos aplicações que serão realmente rele- vantes para o cotidiano, como, por exemplo, a capacidade de reconhe- cer códigos de barra em um super- mercado e ir fazendo a conta da sua compra enquanto adiciona itens ao seu carrinho. Há alguns anos, mui- to se fala em trazer o mundo físi- co para o mundo digital. O Google Glass proporcionará o inverso, a edição de uma camada digital no mundo físico”, prevê. Outro aspecto a ser ressaltado é o do poder que transferimos ao Goo- gle, ou a outras empresas que podem utilizar a mesma tecnologia, com o uso destes dispositivos, sempre vin- culados às nossas informações pes- soais. O publicitário e professor de Storytelling e Transmídia da Escola de Comunicação e Artes da Univer- sidade de São Paulo, Bruno Scartoz­ zoni, afirma que mensagens com anúncios no “meio” do conteúdo e “janelas” de propagandas serão inevi- táveis. Nesse sentido, Gustavo Cava- lheiros também alerta para o poder de uma informação filtrada pelos interesses de uma empresa, essen- cialmente focados no lucro. Apesar das controvérsias, o Goo- gle Glass é uma ferramenta inova- dora e suas aplicações serão depen- dentes do uso que o ser humano fará de suas funcionalidades. Neste sentido, Felipe conclui: “O desenvol- vimento da tecnologia é inevitável e não pode ser detido. O Google Glass pode ter aplicações positivas, como no caso de pessoas com deficiências físicas”. Agora é esperar para ver. Divulgação