O documento resume o conto "O Barão" de António José Branquinho da Fonseca. Descreve as personagens principais, o Inspetor e o Barão, e analisa a obra como uma metáfora sobre o choque entre o presente e o passado. Destaca também a personagem enigmática e fascinante do Barão, que domina a narrativa e deixa o leitor com muitas perguntas.
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
O Barão de Branquinho da Fonseca
1. Agrupamento de Escolas Nuno Álvares
Ano letivo de 2013-14
Relatório de Leitura
Nome: Carolina Maria Cunha Carreira nº: 09 Turma: 10ºD
Data de entrega: 24/03/2014
I. O autor
António José Branquinho da Fonseca (1905-1974) nasceu em Mortágua e faleceu em Cascais.
Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo aí convivido com escritores como João
Gaspar Simões e José Régio. É com estes que funda a revista “Presença”(1927).
Branquinho da Fonseca revela o seu virtuosismo de expressão verbal em Poemas (1926) e Mar
Coalhado (1932), e o de efabulação em diversas tentativas dramáticas, mas a sua melhor obra reside
nas coleção de contos.
Foi por sua iniciativa que foi criado o Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste
Gulbenkian, que dirigiu até à sua morte.
São várias as fontes que apontam “O Barão“como a obra-prima de Branquinho da Fonseca e,
também, como uma das mais notáveis espécimes da novelística portuguesa de todos os tempos.
II. A obra
O conto “O Barão” de Branquinho da Fonseca foi publicado em 1942 sob o pseudónimo de António
Madeira.
Escolhi este conto devido às diversas interpretações que permite. É uma obra aparentemente e
estruturalmente simples, mas esconde uma complexidade intrínseca. Também escolhi esta obra por
ser um marco do neo-realismo e realismo fantástico em Portugal.
III. Categoria da narrativa
Para categoria da narrativa elegi as personagens pois elas são extremamente complexas. Todo o livro
se foca na misticidade do Barão, que é a personagem central e dominante deste conto. Não poderia
falar neste livro sem uma reflexão sobre o que esta personagem significa.
O Barão apesar de ser tudo o que se pode considerar ignóbil (bruto, rude, dominador, primitivo,
anacrónico), seduz o leitor e fascina-o. Ao longo da história, o Barão, mostra tantas facetas como
estados de espírito numa aparente bipolaridade de valores.
2. IV. Sinopse
Um Inspector das escolas de instrução primária é, por imposição das suas funções, coagido ao
nomadismo: viajar por diversas localidades. Em O Barão conta a inesquecível viagem que o leva a um
lugar de província onde o Barão se condenara a um sedentarismo solitário e dramático. Personagem
intrigante e contraditória que oscila entre a tirania e o sentimentalismo, o Barão, apodera-se do
Inspector e obriga-o a partilhar o seu mundo durante uma noite alucinante marcada por confidências
delirante e cenas imprevistas.
V. Personagens
O Inspetor - É o narrador, porém sendo uma personagem secundária, surge bem viva junto do Barão
nas suas narrações e reflexões. Representa no conto a realidade, o racional e o presente.
O Barão – Personagem central do conto. O Inspetor vai jantar a casa deste fidalgo de província. É
uma figura excêntrica, despótica, arrogante e curiosa e que mostra desde o início hábitos poucos
ortodoxos e estranhos ao narrador. Representa o etéreo, o sonho, e o passado.
“Era uma figura que intimidava. Ainda novo, com pouco mais de 40 anos, tinha aspecto brutal,
os gestos lentos, como se tudo parasse à sua volta durante o tempo que fosse preciso. O ar de
dono de tudo. “
Ela – A amada do Barão. A “Única” e talvez a responsável pela decadência daquele fidalgo
desmantelado. Aquela pela qual ele faria tudo. A “Bela Adormecida” a mais perfeita e digna das
mulheres. A eterna esperança nunca alcançada. O amor inatingível com o qual podemos fazer um
paralelismo com o amor impossível de “Romeu e Julieta”.
VI. Excerto
“Mas o que restava de individual em cada um reagiu. O Barão recomeçou a procurar, agora, uma rosa.
Eu fui também cortando rosas e ensanguentando as mãos nos espinhos, sem intenção nenhuma, pois
não tinha ninguém a quem oferecer aquelas flores.”
Escolhi este excerto, pois para além de espelhar todo o domínio do Barão sobre o ambiente e
personagens, também denota a subjectividade da obra, tal como as rosas, o amor, a embriaguez em
que ambos se encontravam. Tudo isto nesta passagem sugere um ambiente sombrio e inquietante
em que os personagens se movimentam.
3. VII. Apreciação crítica
Para mim todo o livro é uma metáfora. É o choque de dois mundos. Representa o presente e o
passado. A narrativa oscila entre o real e o fantástico dissertando sobre sentimentos e vivências. Sob
o efeito da embriaguez tudo parece raro e estranho. Deixa-nos também com outra metáfora, a do
“amor contrariado e impossível” com a escalada difícil do Barão até à beira de uma janela para deixar
uma singela rosa a repousar no parapeito d’Ela, a sua amada. Tudo isto contribui para a poeticidade
do mistério em que está envolto o Barão.
O autor descreve um ambiente sinistro de enigmáticas e fascinantes sombras. Um cenário onde em
vez de Drácula, somos colocados perante um proprietário sedutor e misterioso, de um título, de
terras, e de um castelo. Afinal um símbolo anacrónico de uma pomposa autoridade desfasada no
tempo, ante o poder emergente, o Inspetor, e todavia presente porque resistente ou esquecida ou
ainda, envolta em mistério.
Claramente, trata-se da reconstituição do tema do hóspede, que, sendo recebido por quem lhe dá
conforto, calor, que comer e beber, e que dormir, o trava na antecâmara de alguma história antiga,
um mistério adivinhado, um fascínio terrífico, sublime, e pavoroso.
Recomendo a leitura d’O Barão, um conto que me manteve acordada e envolta em pensamentos e
perguntas retóricas e intimas. O primordial pensamento de identificação com as vivências do Barão.
Este sentimento está presente em toda a obra, o Barão é tudo. É o mal, é o bem, é uma luta
constante. Podia escrever páginas sobre esta personagem tão enigmática que me faz questionar
todas as outras.