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Escola Secundária Sá       de Miranda

          As Personagens: Caracterização                               transmitem, são também a denúncia do absurdo a que a
                                                                       intolerância e a violência dos homens conduzem.
Gomes Freire: homem instruído, letrado ("um estrangeirado"), um
militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça. É        Sousa Falcão: é o amigo de todas as horas, é o amigo fiel em quem
também o símbolo da modernidade e do progresso, adepto das             se pode confiar e que está sempre pronto a exprimir a sua
novas ideias liberais e, por isso, considerado subversivo e perigoso   solidariedade e amizade. No entanto, ele próprio tem consciência
para o poder instituído. Assim, quando é necessário encontrar          de que, muitas vezes, não actuou de forma consentânea com os
uma vítima que simbolize uma situação de revolta que se adivinha,      seus ideais, faltando-lhe coragem para passar à acção.
Gomes Freire é a personagem ideal. Ele é o símbolo da luta pela
                                                                       Vicente, o traidor: elemento do povo, trai os seus iguais,
liberdade, da defesa intransigente dos ideais, daí que a sua
                                                                       chegando mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua
presença se torne incómoda não só para os "reis do Rossio", mas
                                                                       ascensão político-social. Apesar da repulsa/antipatia que as
também para os senhores do regime fascizante dos anos 60. A sua
                                                                       atitudes de Vicente possam provocar ao público/leitor, o que é
morte, duplamente aviltante para um militar (ele é enforcado e
                                                                       facto é que não se lhe pode negar nem lucidez nem acuidade na
depois queimado, quando a sentença para um militar seria o
                                                                       análise que faz da sua situação de origem e da força corruptora do
fuzilamento), servirá de lição a todos aqueles que ousem afrontar
                                                                       poder. Vicente é uma personagem incómoda, talvez porque nos
o poder político e também, de certa forma, económico,
                                                                       faça olhar para dentro de nós próprios, acordando más
representado pela tença que Beresford recebe (16.000$00 anuais,
                                                                       consciências adormecidas.
uma fortuna para a época!) e que se arriscaria a perder se Gomes
Freire chegasse ao poder.                                              Manuel, Rita: símbolos do povo oprimido e esmagado, têm
                                                                       consciência da injustiça em que vivem, sabem que são simples
Matilde de Sousa: companheira de todas as horas de Gomes
                                                                       joguetes nas mãos dos poderosos, mas sentem-se impotentes
Freire, é ela que dá voz à injustiça sofrida pelo seu homem. As suas
                                                                       para alterar a situação. Vêem em Gomes Freire uma espécie de
falas, imbuídas de dor e revolta, constituem também uma
                                                                       Messias e daí, talvez, a sua agressividade em relação a Matilde,
denúncia da falsidade e da hipocrisia do Estado e da Igreja. Todas
                                                                       após a prisão do general, quando ela lhes pede que se revoltem e
as tiradas de Matilde revelam uma clara lucidez e uma verdadeira
                                                                       que a ajudem a libertar o seu homem. A prisão de Gomes Freire é
coragem na análise que faz de toda a teia que envolve a prisão e
                                                                       uma espécie de traição à esperança que o povo nele depositava.
condenação de Gomes Freire. No entanto, a consciência da
                                                                       Podem também simbolizar a desesperança, a desilusão, a
inevitabilidade do martírio do seu homem (e daí o carácter épico
                                                                       frustração de toda uma legião de miseráveis face à quase
da personagem de Gomes Freire) arrasta-a para um delírio final em
                                                                       impossibilidade de mudança da situação opressiva em que vivem.
que, envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris
(símbolo de esperança num futuro diferente?), Matilde dialoga          Beresford: personagem cínica e controversa, aparece como
com Gomes Freire vivendo momentos de alucinação intensa e              alguém que, desassombradamente, assume o processo de Gomes
dramática. Estes momentos finais, pelo carácter surreal que            Freire, não como um imperativo nacional ou militar, mas apenas


    Português 12º ano                                                                Luís de Sttau Monteiro – Felizmente há Luar
Escola Secundária Sá   de Miranda
motivado por interesses individuais: a manutenção do seu posto e              Gomes Freire, pela coragem, determinação e defesa
da sua tença anual. A sua posição face a toda a trama que envolve              intransigente dos ideais de liberdade;
Gomes Freire é nitidamente de distanciamento crítico e irónico,              Matilde de Melo, pela nobreza moral, pelo conflito que vive
acabando por revelar a sua antipatia face ao catolicismo caduco e
                                                                               entre os seus "humanos" sentimentos e a progressiva
ao exercício incompetente do poder, que marcam a realidade
portuguesa.                                                                    consciencialização do seu dever de verdadeira patriota.
                                                                        A simplicidade da acção e o despojamento cénico.
D. Miguel: é o protótipo do pequeno tirano, inseguro e                  O desenlace final: o martírio e a morte de Gomes Freire.
prepotente, avesso ao progresso, insensível à injustiça e à miséria.
Todo o seu discurso gira em torno de uma lógica oca e                   Aspectos simbólicos
demagógica, construindo verdades falsas em que talvez acabe             A moeda de cinco réis: a moeda que Matilde pede a Rita assume,
mesmo por acreditar. Os argumentos do "ardor patriótico", da            assim, um valor simbólico, teatralmente simbólico. Assinala o
construção de "um Portugal próspero e feliz, com um povo                reencontro de personagens em busca da História, por um lado, e,
simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra,       por outro, é o penhor de honra que Matilde, emblematicamente,
com os olhos postos no Senhor", são o eco fiel do discurso político     usará ao peito, como "uma medalha".
dos anos 60. D. Miguel e o Principal Sousa são talvez as duas           A fogueira não era destinada à execução de militares. No entanto,
personagens mais execráveis de todo o texto pela falsidade e            Gomes Freire, após ser enforcado, foi queimado. Contudo, aquilo
hipocrisia que veiculam.                                                que inicialmente é aviltante acaba por assumir um carácter
                                                                        redentor. Na verdade, o fogo simboliza também a purificação, a
Principal Sousa: para além da hipocrisia e da falta de valores éticos
                                                                        morte da "velha ordem" e o ponto de partida para um mundo
que esta personagem transmite, o Principal Sousa simboliza
                                                                        novo e diferente.
também o conluio entre a igreja, enquanto instituição, e o poder e
                                                                        O título: a frase "Felizmente há luar" é proferida por duas
a demissão da primeira em relação à denúncia das verdadeiras
                                                                        personagens de "mundos" diferentes: por D. Miguel, símbolo do
injustiças. Nas palavras do Principal Sousa é igualmente possível
                                                                        Poder (Acto II, pág. 131), e por Matilde, símbolo da resistência (no
detectar os fundamentos da política do "orgulhosamente sós" dos
                                                                        final do Acto II, pág. 140). Assim, e tendo em conta a estrutura
anos 60.
                                                                        dual que organiza o texto, será fácil detectar a importância do luar
Andrade Corvo e Morais Sarmento: são os delatores por                   para cada uma das personagens. Para D. Miguel, o luar permitirá
excelência, aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos             que o clarão da fogueira atemorize todos aqueles que queiram
ideais, para servirem obscuros "propósitos patrióticos".                lutar pela liberdade; para Matilde, o luar sublinhará a intensidade
                                                                        do fogo que simboliza a coragem e a força de um homem, que
Carácter Apoteótico                                                     morreu para defender a liberdade.
Carácter excepcional das personagens:

    Português 12º ano                                                                  Luís de Sttau Monteiro – Felizmente há Luar
Escola Secundária Sá   de Miranda

Paralelismo passado/condições históricas dos anos 60                     Povo reprimido e explorado;
              Tempo da História (século XIX - 1817)                      Miséria, medo e analfabetismo;
     Agitação social que levou à revolta liberal de 1820 -              Obscurantismo, mas crença nas mudanças;
      conspirações internas; revolta contra a presença da Corte          Luta contra o regime totalitário e ditatorial;
      no Brasil e influência do exército britânico;                      Agitação social e política com militares antifascistas a
     Regime absolutista e tirânico                                       protestarem;
     Classes sociais fortemente hierarquizadas;                         Perseguições da PIDE;
     Classes dominantes com medo de perder privilégios;                 Denúncias dos chamados "bufos", que surgem na sombra e
     Povo oprimido e resignado;                                          se disfarçam, para colher informações e denunciar;
     A "miséria, o medo e a ignorância";                                Censura à imprensa;
     Obscurantismo, mas "felizmente há luar";                           Prisão e duras medidas de repressão e de tortura;
     Luta contra a opressão do regime absolutista;                      Condenação em processos sem provas.
     Manuel, "o mais consciente dos populares", denuncia a
      opressão e a miséria;                                       Tempo
                                                                  Tempo histórico: século XIX.
     Perseguições dos agentes de Beresford;
                                                                  Tempo da escrita: 1961, época dos conflitos entre a oposição e o
     As denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais
                                                                  regime salazarista.
      Sarmento que, hipócritas e sem escrúpulos, denunciam;
                                                                  Tempo da representação: 1h30m/2h.
     Censura;
                                                                  Tempo da acção dramática: a acção está concentrada em 2 dias.
     Severa repressão dos conspiradores;
                                                                  Tempo da narração: informações respeitantes a eventos não
     Processos sumários e pena de morte;
                                                                  dramatizados, ocorridos no passado, mas importantes para o
     Execução do General Gomes Freire.
                                                                  desenrolar da acção.
               Tempo da escrita (século XX - 1961)
     Agitação social dos anos 60 - conspirações internas;        Espaço
                                                                  Espaço físico: a acção desenrola-se em diversos locais, exteriores
      principal irrupção da guerra colonial;
                                                                  e interiores, mas não há nas indicações cénicas referentes a
     Regime ditatorial de Salazar;
                                                                  cenários diferentes.
     Maior desigualdade entre abastados e pobres;
     Classes exploradas, com reforço do seu poder;

     Português 12º ano                                                           Luís de Sttau Monteiro – Felizmente há Luar
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Espaço social: meio social em que estão inseridas as personagens,     Para Matilde, estas palavras são fruto de um sofrimento
havendo vários espaços sociais, distinguindo-se uns dos outros        interiorizado reflectido, são a esperança e o não conformismo
pelo vestuário e pela linguagem das várias personagens.               nascidos após a revolta, a luz que vence as trevas, a vida que
                                                                      triunfa da morte. A luz do luar (liberdade) vencerá a escuridão da
O título                                                              noite (opressão) e todos poderão contemplar, enfim, a injustiça
O título da peça aparece duas vezes ao longo da peça, ora inserido    que está a ser praticada e tirar dela ilação.
nas falas de um dos elementos do poder - D. Miguel - ora inserido     Há que imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer não
na fala final de Matilde. Em primeiro lugar é curioso e simbólico o   à opressão e falta de liberdade, há que seguir a luz redentora e
facto de o título coincidir com as palavras finais da obra, o que     trilhar um caminho novo.
desde logo lhe confere circularidade.
                                                                      Elementos simbólicos
       Página 131 - D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das    Saia verde: encontra-se associada à felicidade e foi comprada
        execuções, querendo que o castigo de Gomes Freire se          numa terra de liberdade: Paris, no Inverno, com o dinheiro da
        torne num exemplo;                                            venda de duas medalhas. "Alegria no reencontro"; a saia é uma
       Página 140 - Matilde: na altura da execução são proferidas    peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à
        palavras de coragem e estímulo, para que o povo se revolte    esperança de que um dia se reponha a justiça. Sinal do amor
        contra a tirania.                                             verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo
                                                                      aparentemente a dor e revolta iniciais, comunica aos outros
Num primeiro momento, o título representa as trevas e o               esperança através desta simples peça de vestuário. O verde é a cor
obscurantismo; num segundo momento, representa a caminhada            predominante na natureza e dos campos na Primavera,
da sociedade em busca da liberdade.                                   associando-se à força, à fertilidade e à esperança.
Como facilmente se constata a mesma frase é proferida por             Título: duas vezes mencionado, inserido nas falas das personagens
personagens pertencentes a mundos completamente opostos: D.           (por D.Miguel, que salienta o efeito dissuador das execuções e por
Miguel, símbolo do poder, e Matilde, símbolo da resistência e do      Matilde, cujas palavras remetem para um estímulo para que o
anti-poder. Porém o sentido veiculado pelas mesmas palavras           povo se revolte).
altera-se em virtude de uma afirmação dar lugar a uma eufórica        A luz: como metáfora do conhecimento dos valores do futuro
exclamação.                                                           (igualdade, fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso
Para D. Miguel, o luar permitiria que as pessoas vissem mais          do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta de
facilmente o clarão da fogueira, isso faria com que elas ficassem     liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do
atemorizadas e percebessem que aquele é o fim último de quem          luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não
afronta o regime. A fogueira teria um efeito dissuasor.               obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se encontra


       Português 12º ano                                                            Luís de Sttau Monteiro – Felizmente há Luar
Escola Secundária Sá   de Miranda
associada à vida, à saúde e à felicidade, a noite e as trevas
relacionam-se com o mal, a infelicidade, o castigo, a perdição e a
morte. A luz representa a esperança num momento trágico.
Noite: mal, castigo, morte, símbolo do obscurantismo.
Lua: simbolicamente, por estar privada de luz própria, na
dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma,
representa: dependência, periodicidade. A luz da lua, devido aos
ciclos lunares, também se associa à renovação. A luz do luar é a
força extraordinária que permite o conhecimento e a lua poderá
simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que
aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte.
Luar: duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão
avisadas e para os oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir
essa luz e lutar pela liberdade.
Fogueira: D. Miguel Forjaz - ensinamento ao povo; Matilde - a
chama mantém-se viva e a liberdade há-de chegar. O fogo é um
elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e
regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela
do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e
escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.
Moeda de cinco reis: símbolo do desrespeito que os mais
poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os
mandamentos de Deus.
Tambores: símbolo da repressão sempre presente.




    Português 12º ano                                                           Luís de Sttau Monteiro – Felizmente há Luar

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  • 1. Escola Secundária Sá de Miranda As Personagens: Caracterização transmitem, são também a denúncia do absurdo a que a intolerância e a violência dos homens conduzem. Gomes Freire: homem instruído, letrado ("um estrangeirado"), um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça. É Sousa Falcão: é o amigo de todas as horas, é o amigo fiel em quem também o símbolo da modernidade e do progresso, adepto das se pode confiar e que está sempre pronto a exprimir a sua novas ideias liberais e, por isso, considerado subversivo e perigoso solidariedade e amizade. No entanto, ele próprio tem consciência para o poder instituído. Assim, quando é necessário encontrar de que, muitas vezes, não actuou de forma consentânea com os uma vítima que simbolize uma situação de revolta que se adivinha, seus ideais, faltando-lhe coragem para passar à acção. Gomes Freire é a personagem ideal. Ele é o símbolo da luta pela Vicente, o traidor: elemento do povo, trai os seus iguais, liberdade, da defesa intransigente dos ideais, daí que a sua chegando mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua presença se torne incómoda não só para os "reis do Rossio", mas ascensão político-social. Apesar da repulsa/antipatia que as também para os senhores do regime fascizante dos anos 60. A sua atitudes de Vicente possam provocar ao público/leitor, o que é morte, duplamente aviltante para um militar (ele é enforcado e facto é que não se lhe pode negar nem lucidez nem acuidade na depois queimado, quando a sentença para um militar seria o análise que faz da sua situação de origem e da força corruptora do fuzilamento), servirá de lição a todos aqueles que ousem afrontar poder. Vicente é uma personagem incómoda, talvez porque nos o poder político e também, de certa forma, económico, faça olhar para dentro de nós próprios, acordando más representado pela tença que Beresford recebe (16.000$00 anuais, consciências adormecidas. uma fortuna para a época!) e que se arriscaria a perder se Gomes Freire chegasse ao poder. Manuel, Rita: símbolos do povo oprimido e esmagado, têm consciência da injustiça em que vivem, sabem que são simples Matilde de Sousa: companheira de todas as horas de Gomes joguetes nas mãos dos poderosos, mas sentem-se impotentes Freire, é ela que dá voz à injustiça sofrida pelo seu homem. As suas para alterar a situação. Vêem em Gomes Freire uma espécie de falas, imbuídas de dor e revolta, constituem também uma Messias e daí, talvez, a sua agressividade em relação a Matilde, denúncia da falsidade e da hipocrisia do Estado e da Igreja. Todas após a prisão do general, quando ela lhes pede que se revoltem e as tiradas de Matilde revelam uma clara lucidez e uma verdadeira que a ajudem a libertar o seu homem. A prisão de Gomes Freire é coragem na análise que faz de toda a teia que envolve a prisão e uma espécie de traição à esperança que o povo nele depositava. condenação de Gomes Freire. No entanto, a consciência da Podem também simbolizar a desesperança, a desilusão, a inevitabilidade do martírio do seu homem (e daí o carácter épico frustração de toda uma legião de miseráveis face à quase da personagem de Gomes Freire) arrasta-a para um delírio final em impossibilidade de mudança da situação opressiva em que vivem. que, envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris (símbolo de esperança num futuro diferente?), Matilde dialoga Beresford: personagem cínica e controversa, aparece como com Gomes Freire vivendo momentos de alucinação intensa e alguém que, desassombradamente, assume o processo de Gomes dramática. Estes momentos finais, pelo carácter surreal que Freire, não como um imperativo nacional ou militar, mas apenas Português 12º ano Luís de Sttau Monteiro – Felizmente há Luar
  • 2. Escola Secundária Sá de Miranda motivado por interesses individuais: a manutenção do seu posto e  Gomes Freire, pela coragem, determinação e defesa da sua tença anual. A sua posição face a toda a trama que envolve intransigente dos ideais de liberdade; Gomes Freire é nitidamente de distanciamento crítico e irónico,  Matilde de Melo, pela nobreza moral, pelo conflito que vive acabando por revelar a sua antipatia face ao catolicismo caduco e entre os seus "humanos" sentimentos e a progressiva ao exercício incompetente do poder, que marcam a realidade portuguesa. consciencialização do seu dever de verdadeira patriota. A simplicidade da acção e o despojamento cénico. D. Miguel: é o protótipo do pequeno tirano, inseguro e O desenlace final: o martírio e a morte de Gomes Freire. prepotente, avesso ao progresso, insensível à injustiça e à miséria. Todo o seu discurso gira em torno de uma lógica oca e Aspectos simbólicos demagógica, construindo verdades falsas em que talvez acabe A moeda de cinco réis: a moeda que Matilde pede a Rita assume, mesmo por acreditar. Os argumentos do "ardor patriótico", da assim, um valor simbólico, teatralmente simbólico. Assinala o construção de "um Portugal próspero e feliz, com um povo reencontro de personagens em busca da História, por um lado, e, simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, por outro, é o penhor de honra que Matilde, emblematicamente, com os olhos postos no Senhor", são o eco fiel do discurso político usará ao peito, como "uma medalha". dos anos 60. D. Miguel e o Principal Sousa são talvez as duas A fogueira não era destinada à execução de militares. No entanto, personagens mais execráveis de todo o texto pela falsidade e Gomes Freire, após ser enforcado, foi queimado. Contudo, aquilo hipocrisia que veiculam. que inicialmente é aviltante acaba por assumir um carácter redentor. Na verdade, o fogo simboliza também a purificação, a Principal Sousa: para além da hipocrisia e da falta de valores éticos morte da "velha ordem" e o ponto de partida para um mundo que esta personagem transmite, o Principal Sousa simboliza novo e diferente. também o conluio entre a igreja, enquanto instituição, e o poder e O título: a frase "Felizmente há luar" é proferida por duas a demissão da primeira em relação à denúncia das verdadeiras personagens de "mundos" diferentes: por D. Miguel, símbolo do injustiças. Nas palavras do Principal Sousa é igualmente possível Poder (Acto II, pág. 131), e por Matilde, símbolo da resistência (no detectar os fundamentos da política do "orgulhosamente sós" dos final do Acto II, pág. 140). Assim, e tendo em conta a estrutura anos 60. dual que organiza o texto, será fácil detectar a importância do luar Andrade Corvo e Morais Sarmento: são os delatores por para cada uma das personagens. Para D. Miguel, o luar permitirá excelência, aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos que o clarão da fogueira atemorize todos aqueles que queiram ideais, para servirem obscuros "propósitos patrióticos". lutar pela liberdade; para Matilde, o luar sublinhará a intensidade do fogo que simboliza a coragem e a força de um homem, que Carácter Apoteótico morreu para defender a liberdade. Carácter excepcional das personagens: Português 12º ano Luís de Sttau Monteiro – Felizmente há Luar
  • 3. Escola Secundária Sá de Miranda Paralelismo passado/condições históricas dos anos 60  Povo reprimido e explorado; Tempo da História (século XIX - 1817)  Miséria, medo e analfabetismo;  Agitação social que levou à revolta liberal de 1820 -  Obscurantismo, mas crença nas mudanças; conspirações internas; revolta contra a presença da Corte  Luta contra o regime totalitário e ditatorial; no Brasil e influência do exército britânico;  Agitação social e política com militares antifascistas a  Regime absolutista e tirânico protestarem;  Classes sociais fortemente hierarquizadas;  Perseguições da PIDE;  Classes dominantes com medo de perder privilégios;  Denúncias dos chamados "bufos", que surgem na sombra e  Povo oprimido e resignado; se disfarçam, para colher informações e denunciar;  A "miséria, o medo e a ignorância";  Censura à imprensa;  Obscurantismo, mas "felizmente há luar";  Prisão e duras medidas de repressão e de tortura;  Luta contra a opressão do regime absolutista;  Condenação em processos sem provas.  Manuel, "o mais consciente dos populares", denuncia a opressão e a miséria; Tempo Tempo histórico: século XIX.  Perseguições dos agentes de Beresford; Tempo da escrita: 1961, época dos conflitos entre a oposição e o  As denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais regime salazarista. Sarmento que, hipócritas e sem escrúpulos, denunciam; Tempo da representação: 1h30m/2h.  Censura; Tempo da acção dramática: a acção está concentrada em 2 dias.  Severa repressão dos conspiradores; Tempo da narração: informações respeitantes a eventos não  Processos sumários e pena de morte; dramatizados, ocorridos no passado, mas importantes para o  Execução do General Gomes Freire. desenrolar da acção. Tempo da escrita (século XX - 1961)  Agitação social dos anos 60 - conspirações internas; Espaço Espaço físico: a acção desenrola-se em diversos locais, exteriores principal irrupção da guerra colonial; e interiores, mas não há nas indicações cénicas referentes a  Regime ditatorial de Salazar; cenários diferentes.  Maior desigualdade entre abastados e pobres;  Classes exploradas, com reforço do seu poder; Português 12º ano Luís de Sttau Monteiro – Felizmente há Luar
  • 4. Escola Secundária Sá de Miranda Espaço social: meio social em que estão inseridas as personagens, Para Matilde, estas palavras são fruto de um sofrimento havendo vários espaços sociais, distinguindo-se uns dos outros interiorizado reflectido, são a esperança e o não conformismo pelo vestuário e pela linguagem das várias personagens. nascidos após a revolta, a luz que vence as trevas, a vida que triunfa da morte. A luz do luar (liberdade) vencerá a escuridão da O título noite (opressão) e todos poderão contemplar, enfim, a injustiça O título da peça aparece duas vezes ao longo da peça, ora inserido que está a ser praticada e tirar dela ilação. nas falas de um dos elementos do poder - D. Miguel - ora inserido Há que imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer não na fala final de Matilde. Em primeiro lugar é curioso e simbólico o à opressão e falta de liberdade, há que seguir a luz redentora e facto de o título coincidir com as palavras finais da obra, o que trilhar um caminho novo. desde logo lhe confere circularidade. Elementos simbólicos  Página 131 - D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das Saia verde: encontra-se associada à felicidade e foi comprada execuções, querendo que o castigo de Gomes Freire se numa terra de liberdade: Paris, no Inverno, com o dinheiro da torne num exemplo; venda de duas medalhas. "Alegria no reencontro"; a saia é uma  Página 140 - Matilde: na altura da execução são proferidas peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à palavras de coragem e estímulo, para que o povo se revolte esperança de que um dia se reponha a justiça. Sinal do amor contra a tirania. verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo aparentemente a dor e revolta iniciais, comunica aos outros Num primeiro momento, o título representa as trevas e o esperança através desta simples peça de vestuário. O verde é a cor obscurantismo; num segundo momento, representa a caminhada predominante na natureza e dos campos na Primavera, da sociedade em busca da liberdade. associando-se à força, à fertilidade e à esperança. Como facilmente se constata a mesma frase é proferida por Título: duas vezes mencionado, inserido nas falas das personagens personagens pertencentes a mundos completamente opostos: D. (por D.Miguel, que salienta o efeito dissuador das execuções e por Miguel, símbolo do poder, e Matilde, símbolo da resistência e do Matilde, cujas palavras remetem para um estímulo para que o anti-poder. Porém o sentido veiculado pelas mesmas palavras povo se revolte). altera-se em virtude de uma afirmação dar lugar a uma eufórica A luz: como metáfora do conhecimento dos valores do futuro exclamação. (igualdade, fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso Para D. Miguel, o luar permitiria que as pessoas vissem mais do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta de facilmente o clarão da fogueira, isso faria com que elas ficassem liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do atemorizadas e percebessem que aquele é o fim último de quem luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não afronta o regime. A fogueira teria um efeito dissuasor. obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se encontra Português 12º ano Luís de Sttau Monteiro – Felizmente há Luar
  • 5. Escola Secundária Sá de Miranda associada à vida, à saúde e à felicidade, a noite e as trevas relacionam-se com o mal, a infelicidade, o castigo, a perdição e a morte. A luz representa a esperança num momento trágico. Noite: mal, castigo, morte, símbolo do obscurantismo. Lua: simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma, representa: dependência, periodicidade. A luz da lua, devido aos ciclos lunares, também se associa à renovação. A luz do luar é a força extraordinária que permite o conhecimento e a lua poderá simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte. Luar: duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas e para os oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade. Fogueira: D. Miguel Forjaz - ensinamento ao povo; Matilde - a chama mantém-se viva e a liberdade há-de chegar. O fogo é um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade. Moeda de cinco reis: símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus. Tambores: símbolo da repressão sempre presente. Português 12º ano Luís de Sttau Monteiro – Felizmente há Luar