2. Poesia revolucionária
Sobre a Missão Revolucionária da Poesia
“A poesia moderna é a voz da Revolução.
Que importa que a palavra não pareça
poética às vestais literárias do culto da arte
pela arte? No ruído espantoso do desabar
dos Impérios e das Religiões há ainda uma
harmonia grave e profunda para quem a
escutar com a alma penetrada do terror
santo deste mistério que é o destino das
Sociedades!”
(Antero de Quental, Posfácio às Odes Modernas)
O livro “Odes modernas”, de Antero e Quental, é considerado o marco inicial do Realismo
português (1865). O realismo português cronologicamente durou cerca de 25 anos, período
marcado por renovações ideológicas, culturais, políticas e científicas.
3. Manifestou seu “entusiasmo pelos movimentos
sociais” através de sua poesia . Nota-se grande
influência do discurso socialista em suas palavras.
“Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!”
(A um poeta)
Em especial, Antero de Quental aprecia a leitura de
filósofos de sua época, como Proudhon (socialista
utópico) e Hegel (idealismo alemão).
Antero de Quental é um dos 3 maiores sonetistas
portugueses (ao lado de Camões e Bocage) e teve
seus sonetos traduzidos para o alemão.
4. Obras
“Odes "Raios de "Primaveras "Sonetos" "Prosas" "Cartas"
Modernas” Extinta Românticas"
Luz"
Antero também escrevia panfletos, ensaios e artigos (sobre assuntos sociais e literários) para o
"Jornal do Comércio" e o "Diário Popular“ (de Lisboa) e para "O Primeiro de Janeiro" (do Porto).
Também escrevia para os periódicos "A República" e "Pensamento Social”.
5. Sofria de uma doença mental, identificada
por alguns como psicose maníaco-
depressiva, hoje chamada de transtorno
bipolar, pela moderna psiquiatria. Em função
desse distúrbio, caracterizado por períodos
de delírio alternados com profunda
depressão, torna-se quase inválido, o que faz
diminuir seu ativismo político em prol de um
nacionalismo ibérico e do socialismo.
Seu último ensaio filosófico,
"A Filosofia da Natureza dos Naturalistas“
, foi publicado em 1884, na Revista de “Matéria e espírito, determinismo
Portugal, editada por Eça de Queirós. e liberdade, evolução e
(UOL Educação) finalidade, não são ideias
contraditórias senão na
aparência: de facto são só duas
esferas diferentes da
compreensão, tese e antítese, cuja
síntese é a razão.”
6. Assista
Telefilme produzido
pela RTP, disponível
no youtube.
http://www.youtube.com/watch?v=oso0rHw0CkE&feature=related
7. Mais Luz
Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam, mudos e impassíveis,
À borda dos abismos silenciosos...
Tu, Lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-os, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!
Eu amarei a santa madrugada,
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.
Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro Sol, amigo dos heróis!
8. A um poeta
Surge et ambula!
Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,
Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
9. Cesário Verde (1855-1886) é um desses
artistas que se localizam no entroncamento
entre várias escolas estéticas, jamais se
identificando integralmente com uma ou
outra;mas tratando de temas da predileção
dos realistas, Cesário nasceu em
Lisboa, filho de um comerciante, e
frequentou a Universidade de Coimbra por
pouco tempo, quando sentiu os primeiros
sintomas de tuberculose.
(L&PM editores)
10. Seus poemas, que tratam da vida de Lisboa
e da vida agrícola dos arredores da capital
portuguesa, foram desprezados pela crítica
da época. No ano seguinte à sua morte,
Silva Pinto, amigo de Cesário Verde, reuniu
e publicou a sua obra, esparsa, densa e
vigorosa, sob o título de O livro de Cesário
Verde.
(L&PM editores)
11. Assista
Matéria produzida pela SIC.
Data 02/11/07
Duração 00:02:16
http://videos.sapo.pt/8Fbl9l4M6CO94Yi5aLaG
12. •Apelo às sensações (Sinestesia)
•Recursos visuais (cores)
•Visão objetiva
•Adjetivação
Lembras-te tu do sábado passado,
Do passeio que demos, devagar,
Entre um saudoso gás amarelado
E as carícias leitosas do luar?
Bem me lembro das altas ruazinhas,
Que ambos nós percorremos de mãos dadas:
As janelas palravam as vizinhas;
Tinham lívidas luzes as fachadas.
(Noite Fechada)
Woman sitting in a garden painting, Monet
13. “Aquela, cujo amor me causa alguma pena,
Põe o chapéu ao lado, abre o cabelo à banda,
E com a forte voz cantada com que ordena,
Lembra-me, de manhã, quando nas praias anda,
Por entre o campo e o mar, bucólica, morena,
Uma pastora audaz da religiosa Irlanda.”
(Manhãs Brumosas)
E como na minha alma a luz era uma aurora,
A aragem ao passar parece que me trouxe
O som da tua voz, metálica, sonora,
E o teu perfume forte, o teu perfume doce.
(Flores Velhas)
Mulher com sombrinha, Monet.
14. “(...) Cesário Verde é o único poeta do grupo
tido como realista que consegue superar, de
facto, a herança romântica. Em [seus]
poemas,(...) não se nos deparam os vagos
operários e prostitutas do progressismo verboso
de certos contemporâneos, nem o oco
pessoalismo ultra-romântico. Ele é o poeta cuja
neurastenia se retrata e ironiza num quarto
real, à vista do drama concreto dos vizinhos;
que, perceptivelmente, deambula e namora em
Lisboa, ou examina o campo com o olhar
penetrante de proprietário rural. Assim tudo
ganha volume: o sonho não diminui a vida:
alimenta-se dela e a ela volta, a tonificar-se
“Lavo, refresco, limpo os meus sentidos
E tangem-me excitados, sacudidos,
O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto”.
(António José Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura
Portuguesa, 8ª edição, Porto Editora, 1975)
Jacky McDonald
15. NUM BAIRRO MODERNO
A Manuel Ribeiro
Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada. (...)
E rota, pequenina, azafamada,
Notei de costas uma rapariga,
Que no xadrez marmóreo duma escada,
Como um retalho da horta aglomerada
Pousara, ajoelhando, a sua giga.
E eu, apesar do sol, examinei-a:
Pôs-se de pé; ressoam-lhe os tamancos;
E abre-se-lhe o algodão azul da meia
Se ela se curva, esguelhada, feia,
E pendurando os seus bracinhos brancos.
Do patamar responde-lhe um criado:
"Se te convém, despacha; não converses.
Eu não dou mais." E muito descansado,
Atira um cobre lívido, oxidado,
Que vem bater nas faces duns alperces.
16. Subitamente - que visão de artista! -
Se eu transformasse os simples vegetais,
A luz do Sol, o intenso colorista
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?!
Bóiam aromas, fumos de cozinha;
Com o cabaz às costas, e vergando,
Sobem padeiros, claros de farinha;
E às portas, uma ou outra campainha
Toca, frenética, de vez em quando.
E eu recompunha, por anatomia,
Um novo corpo orgânico, aos bocados.
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injetados.
As azeitonas, que nos dão o azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos - ossos nus, da cor do leite,
E os cachos de uvas - os rosários de olhos.
Jacky McDonald
17. Há colos, ombros, bocas, um semblante E enquanto sigo para o lado oposto,
Nas posições de certo frutos. E entre E ao longe rodam umas carruagens,
As hortaliças, túmido, fragante, A pobre, afasta-se, ao calor de agosto,
Como alguém que tudo aquilo jante, Descolorida nas maçãs do rosto,
Surge um melão, que me lembrou um ventre. E sem quadris na saia de ramagens.
E como um feto, enfim, que se dilate, Um pequerrucho rega a trepadeira
Vi nos legumes carnes tentadoras, Duma janela azul; e, com o ralo
Sangue na ginja vivida, escarlate, Do regador, parece que joeira
Bons corações pulsando no tomate Ou que borrifa estrelas; e a poeira
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras. Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.
O Sol dourava o céu. E a regateira, Chegam do gigo emanações sadias,
Como vendera a sua fresca alface Ouço um canário - que infantil chilrada!
E dera o ramo de hortelã que cheira, Lidam ménages entre as gelosias,
Voltando-se, gritou-me, prazenteira: E o sol estende, pelas frontarias,
"Não passa mais ninguém!... Se me ajudasse?!...“ Seus raios de laranja destilada.
Eu acerquei-me dela, sem desprezo; E pitoresca e audaz, na sua chita,
E, pelas duas asas a quebrar, O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
Nós levantamos todo aquele peso Duma desgraça alegre que me incita,
Que ao chão de pedra resistia preso, Ela apregoa, magra, enfezadita,
Com um enorme esforço muscular. As suas couves repolhudas, largas.
"Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!" E, como as grossas pernas dum gigante,
E recebi, naquela despedida, Sem tronco, mas atléticas, inteiras,
As forças, a alegria, a plenitude, Carregam sobre a pobre caminhante,
Que brotam dum excesso de virtude Sobre a verdura rústica, abundante,
Ou duma digestão desconhecida. Duas frugais abóboras carneiras.
18. E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!
Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova! (...)
(…) E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
(in Contrariedades)
Degas
19. Milady, é perigoso contemplá-la,
Quando passa aromática e normal,
Com seu tipo tão nobre e tão de sala,
Com seus gestos de neve e de metal.
(…)
Em si tudo me atrai como um tesouro:
O seu ar pensativo e senhoril,
A sua voz que tem um timbre de ouro
E o seu nevado e lúcido perfil!
(…)
(Deslumbramentos)
Talvez já te esquecesses, ó bonina,
Que viveste no campo só comigo,
Que te osculei a boca purpurina,
E que fui o teu sol e o teu abrigo. Dans La Prairie, 1876, Monet.
(Setentrional)
21. Fontes
•CEREJA, William Roberto. Português: Linguagens. Vol II.3a ed. rev. e ampl- São Paulo: Atual, 1999.
•http://educacao.uol.com.br/biografias/antero-de-quental.jhtm
•http://faroldasletras.no.sapo.pt/sonetos_antero.html
•http://www.vidaslusofonas.pt/cesario_verde.htm
•http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/cesarioverde/poesias.htm
•http://www.infoescola.com/movimentos-literarios/realismo-portugues/
•SARAIVA,António José e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, 8ª edição, Porto Editora, 1975.
•http://phi.no.sapo.pt/ARTIGOS/quental.htm
•http://www.lpm-editores.com.br/site/default.asp?Template=../livros/layout_produto.asp&CategoriaID=7
Pesquisa e organização
Profa. Cláudia Heloísa C. Andria
Graduada em Letras – Unisantos
Contato: clauheloisa@yahoo.com.br