Palestra no I Seminário Diálogos Biblioo 24 junho 2015
Palestra gustavo freire
1. A
competência
em
informação
na
pesquisa
cien4fica:
uma
reflexão
Gustavo
Henrique
de
Araújo
Freire
Doutor
em
Ciência
da
Informação
CBG/FACC/UFRJ
Organização:
Curso
de
Biblioteconomia
e
Gestão
de
Unidades
de
Informação
da
UFRJ
e
Escola
de
Bibliotecnomia
da
UNIRIO
2. A
sociedade
contemporânea
tem
na
informação
a
matéria-‐prima
para
o
desenvolvimento
social
e
econômico.
Se
antes
o
progresso
dos
países
dependiam
do
acesso,
tratamento
e
uso
de
bens
tangíveis,
na
sociedade
atual,
as
aMvidades
relacionadas
à
coleta,
organização
e
uso
da
informação
são
fundamentais
para
o
desenvolvimento
social
e
humano.
3. Nossa
sociedade
exige
cada
vez
mais
dos
indivíduos
habilidades
para
localizar,
avaliar
e
usar
efeMvamente
um
volume
crescente
de
informações.
4. Essa
questão
foi
percebida
por
Zurkowski
(1974),
então
presidente
da
Associação
das
Indústrias
de
Informação
dos
Estados
Unidos,
originando
um
movimento
denominado
informa(on
literacy.
As
competências
em
informação
consMtuem
uma
extensão
ou
evolução
das
iniciaMvas
de
educação
de
usuários
de
bibliotecas,
pois
ultrapassam
a
busca
e
recuperação
de
informação
dos
serviços
bibliotecários
tradicionais.
5. Para
o
autor,
a
infraestrutura
que
apoiava
o
cenário
dos
serviços
de
informação
transcendia
as
bibliotecas
tradicionais,
os
editores
e
as
escolas.
E
mais,
em
um
momento
de
constantes
mudanças,
a
abundância
das
informações
disponíveis
ultrapassa
a
capacidade
dos
indivíduos
de
avaliá-‐las
e,
consequentemente,
assimilá-‐las,
uma
vez
que
6. • Os
procedimentos
de
busca
de
informação
dos
indivíduos
são
diferentes,
em
tempos
diferenciados,
com
propósitos
diferentes;
• A
mulMplicidade
dos
caminhos
de
acesso
e
fontes,
em
resposta
às
mais
variadas
necessidades
de
informação
dos
indivíduos;
• Cada
vez
mais
os
eventos
e
artefatos
produzidos
pelos
seres
humanos
estão
relacionados
à
informação,
exigindo
um
retreinamento
de
toda
a
população.
7. A
parMr
da
década
de
1980,
a
preocupação
tradicional
dos
bibliotecários
com
a
educação
ou
instrução
de
usuários
amplia-‐se
para
a
formação
de
cidadãos
aptos
a
atuar
em
uma
sociedade
baseada
em
informação,
originando
um
movimento
internacional
pelo
desenvolvimento
de
competências
em
informação
(informa(on
literacy).
Trata-‐se
de
uma
abordagem
de
aprendizado
baseada
em
um
conjunto
de
habilidades
para
localizar,
manipular,
avaliar
e
usar
a
informação,
eficientemente
e
eMcamente,
para
uma
larga
variedade
de
objeMvos
e,
assim,
tornar-‐se
apto
para
desempenhar
aMvidades
na
sociedade
da
informação
e
do
conhecimento.
(PINTO;
CÓRDÓN;
GOMEZ
DIAZ,
2010).
8. No
processo
de
desenvolvimento
dessas
habilidades
é
importante
ressaltar
dois
elementos
fundamentais:
• O
educacional
-‐
que
envolve
os
sistemas
de
aprendizagem
voltados
para
ações
de
capacitação;
• O
contextual
–
que
depende
dos
objeMvos
envolvidos
no
desenvolvimento
de
competências
em
informação,
sejam
cien4ficos
ou
práMcos.
9. As
problemáMcas
enfrentas
nos
processos
de
busca
de
informação
cien4ficas
podem,
de
um
modo
geral,
serem
enfrentadas
com
base
em
duas
perspecMvas:
pela
regulação
e
educação.
(WALSH,
2010)
As
ações
educacionais
são
consideradas
a
melhor
solução,
entendidas
no
conceito
genérico
de
treinamentos.
10. No
contexto
da
pesquisa
cien4fica,
em
geral
os
estudiosos
em
competências
em
informação
apresentam
os
treinamentos
como
uma
forma
de
promover
a
capacitação
do
indivíduo
em
habilidades
específicas
em
informação,
negligenciadas
pelos
processos
educacionais
formais.
Os
treinamentos
são,
diferentemente
do
ensino
tradicional,
oferecidos
de
acordo
com
demandas
específicas.
11. A
tendência
dos
treinamentos
também
pode
ser
verificada
no
atual
movimento
mundial
pelas
competências
em
informação
através
do
projeto
da
UNESCO
“Training
The
Trainers”
(TTT).
Em
2009
foram
realizados
workshops
em
diversos
países,
capacitando
profissionais
da
informação
para
serem
formadores
(trainers)
e
líderes
no
espaço
produMvo
das
sociedades
baseadas
no
conhecimento,
onde
o
acesso
à
informação
é
fundamental
para
capacitação
das
pessoas
e
no
melhoramento
das
suas
vidas.
(STERN;
KAUR,
2010)
12. O
objeMvo
geral
do
TTT
foi
formar
um
quadro
promissor
e
qualificado
de
formadores
em
competências
em
informação
―
docentes
de
universidades,
bibliotecários,
arquivistas,
especialistas
em
mídia,
dentre
outros
―
em
cada
principal
região
geográfica
do
mundo,
tornando-‐os
formadores
de
outros
formadores
nas
suas
respecMvas
regiões
de
origem.
13. Para
Stern
e
Kaur
(2010),
o
ensino
formal
é
a
base
para
os
treinamentos
curtos,
compreendidos
como
formas
dinâmicas
de
aprendizado
fundamentadas
na
práMca,
mais
do
que
na
teoria
e
abstração
que
são
caracterísMcas
do
ensino
formal.
14. Belluzzo
(2006),
em
trabalho
sobre
a
questão
da
educação
na
sociedade
contemporânea,
afirma
que
a
“gestão
da
informação
—
nos
diferentes
níveis:
pessoais,
organizacionais
e
sociais
—
é
o
grande
desafio
dos
tempos
atuais,
consMtuindo-‐se
no
próximo
estágio
de
alfabeMzação
do
homem”.
A
autora
destaca
que
o
processo
de
ensino-‐
aprendizagem
deveria
centrar-‐se
“na
fluência
cien4fica
e
tecnológica
e
no
saber
uMlizar
a
informação,
criando
novo
conhecimento”.
15.
A
autora
lembra
que
“[..]
a
competência,
de
modo
geral,
é
um
composto
de
duas
dimensões
disMntas:
a
primeira,
um
domínio
de
saberes
e
de
habilidades
de
diversas
naturezas,
permite
a
intervenção
práMca
na
realidade,
e
a
segunda,
uma
visão
críMca
do
alcance
das
ações
e
o
compromisso
com
as
necessidades
mais
concretas
que
emergem
e
caracterizam
o
atual
contexto
social”.
(BELLUZZO,
2006)
16. Nesse
senMdo,
na
nossa
sociedade,
onde
a
necessidade
de
informação
ultrapassa
setores
tradicionais
de
usuários
―
como
pesquisadores
e
professores
―,
todos
precisam
desenvolver
habilidades
informacionais
que
facilitem
o
objeMvo
maior
de
todo
indivíduo,
em
seu
grupo
e
na
sociedade:
transformar
informação
em
conhecimento.
17. Ao
contrário
do
Brasil,
que
tem
que
superar
grandes
desafios
no
desenvolvimento
de
modelos
de
informa(on
literacy
(DUDZIAK,
2008),
os
americanos
lideram
as
iniciaMvas
nessa
área.
Foram
os
pioneiros
na
criação
de
padrões
internacionais
para
o
desenvolvimento
de
competências
em
informação,
através
da
American
Library
AssociaMon
(ALA).
18. Atualmente,
o
mais
referenciado
documento
em
competências
em
informação
é
o
Informa(on
Literacy
Competency
Standards
for
Higher
Educa(on
(2000),
que
tem
sua
origem
no
contexto
acadêmico.
(HOYER,
2011).
19. Nesse
documento,
a
competência
em
informação
é
definida
como
“[...]
um
conjunto
de
habilidades
desejáveis
aos
indivíduos
para
reconhecer
quando
uma
informação
é
necessária,
assim
como
habilidades
para
localizar,
avaliar
e
uMlizar
efeMvamente
a
informação
necessitada”.
20. Assim,
reforça-‐se
a
ideia
de
que
as
implicações
dos
preceitos
da
competência
em
informação
não
afetam
apenas
a
vida
acadêmica,
mas
a
sociedade
como
um
todo.
21. Assim,
o
indivíduo
competente
em
informação,
nos
mais
variados
contextos,
é
capaz
de:
• Determinar
a
natureza
e
a
extensão
de
uma
necessidade
de
informação;
• Acessar
a
informação
necessitada
de
modo
eficiente
e
eficaz;
22. • Avaliar
a
informação
e
suas
fontes
criMcamente
e
incorporar
a
informação
selecionada
em
sua
base
de
conhecimento
e
sistema
de
valor;
• Usar
a
informação
efeMvamente
para
alcançar
um
objeMvo
específico;
• Entender
o
contexto
econômico,
legal
e
social
relacionado
ao
uso
da
informação,
e
acessa
e
usa
a
informação
de
modo
éMco
e
legal.
(ASSOCIATION
OF
COLLEGE
&
RESEARCH
LIBRARIES,
2000)
23. AMvidades
relacionadas
aos
7
pilares
da
competência
em
informação
(SCONUL,
1999)
• Reconhecer
uma
necessidade
de
informação;
• IdenMficar
o
fosso
informacional
sobre
o
que
se
sabe
e
o
que
se
precisa
saber;
• Construir
estratégias
para
a
busca
da
informação;
• Localizar
e
acessar
a
informação;
• Avaliar
a
informação;
• Usar
e
comunicar
a
informação
(com
atenção
para
os
aspectos
éMcos
e
legais);
• SinteMzar
e
criar
novo
conhecimento.
(GUMULAK;
WEBBER,
2011)
24. O
Presidente
dos
EUA,
Barack
Obama,
em
2009
declarou
outubro
como
o
mês
de
conscienMzação
nacional
para
a
competência
em
informação
(Na^onal
Informa^on
Literacy
Awareness
Month),
iniciaMva
que
visa
promover
o
desenvolvimento
de
um
conjunto
de
habilidades
informacionais
frente
aos
desafios
informacionais
da
atualidade.
25. Em
seu
discurso,
Obama
destaca
que
todos
os
dias
os
americanos
são
inundados
por
informações:
no4cias
24
horas
por
dia,
milhares
de
redes
televisivas
e
de
rádio,
junto
à
imensa
coleção
de
fontes
on-‐line,
desafiam
o
modo
como
as
informações
são
gerenciadas.
E,
conMnua,
Obama,
mais
do
que
a
posse
de
dados
necessita-‐se
de
novas
habilidades
para
adquirir,
coletar
e
avaliar
informações
para
situações
diversas,
convergindo
para
um
novo
Mpo
de
alfabeMzação
(literacy),
a
competência
em
informação
(informaMon
literacy),
que
também
requer
indivíduos
competentes
nas
tecnologias
da
comunicação,
incluindo
computadores
e
disposiMvos
móveis
que
auxiliam
o
processo
diário
de
tomadas
de
decisões.
26. Ainda
não
há
um
consenso
na
literatura
em
CI
brasileira
sobre
a
tradução
do
termo
informa(on
literacy,
podendo
ser
compreendido
como
competência
informacional,
ou
alfabeMzação
informacional
ou
da
informação,
dentre
outros.
(DUDZIAK,
2008)
27. É
importante
ressaltar
que
as
tentaMvas
de
traduzir
a
ideia
infoma(on
literacy
pelos
países
que
não
falam
a
Língua
Inglesa
deu
origem
a
uma
variada
terminologia,
observada
em
diversos
estudos:
•
Competência
Informacional
• Competência
em
Informação
•
AlfabeMzação
Digital
•
Letramento
informacional
•
Competências
em
informação
28. Nesse
contexto,
é
importante
descobrir
qual
o
padrão
que
une
todas
essas
abordagens,
para
que
se
possa
usá-‐
lo.
Assim,
apresentamos
alguns
pontos
para
reflexão
:
• Quais
os
termos
uMlizados
no
Brasil
que
representam
as
habilidades/competências
em
informação?
Existe
uma
rede
conceitual
específica
que
fundamenta
a
escolha
de
um
determinado
termo?
Quais
os
autores
mais
representaMvos
e
respecMvos
PPGs?
• O
que
existe
em
comum
entre
essas
várias
abordagens?
• Construir
o
mapa
de
uma
Rede
de
Aprendizagem
Virtual
(RVA)
que
venha
a
facilitar
a
construção
de
um
conhecimento
coleMvo
acerca
da
temáMca
InformaMon
Literacy
29. Essa
temáMca
,
independente
da
terminologia
uMlizada,
já
tem
seu
espaço
no
campo
dos
estudos
e
práMcas
da
Ciência
da
Informação,
haja
vista
o
número
de
eventos
que
vêm
acontecendo
nessa
área.
Assim,
é
importante
descobrir/revelar
a
existência
de
um
atrator
conceitual
que
una
essa
terminologia,
revelando
também
a
rede
conceitual
e
de
autoria
que
sustenta/apoia
esses
conceitos.
30. REFERÊNCIAS
ASSOCIATION
COLLEGE
OF
RESEARCH
LIBRARIES.
InformaMon
literacy
competency
standards
for
higher
educaMon.
Illinois,
2000.
BELLUZZO,
R.C.B.
Uso
de
mapas
conceituais
e
mentais
como
tecnologia
de
apoio
à
gestão
da
informação
e
da
comunicação:
uma
área
interdisciplinar
da
competência
em
informação.
Revista
Brasileira
de
Biblioteconomia
e
Documentação:
Nova
Série,
São
Paulo,
v.2,
n.2,
p.
78-‐89,
dez.
2006.
DUDZIAK,
E.A.
Os
faróis
da
sociedade
da
informação:
uma
análise
crí^ca
sobre
a
atuação
da
competência
em
informação
no
Brasil.
Inf.
&
Soc:
estudos,
João
Pessoa,
v.
18,
n.
2,
p.
41-‐53,
maio-‐ago.
2008.
GUMULAK,
Sabina;
WEBBER,
Sheila.
Playing
video
games:
learning
and
informa^on
literacy.
Aslib
Proceedings:
New
Informa^on
Perspec^ves,
v.
63,
n.
2/3,
p.
241-‐255,
2011.
HOYER,
Jennifer.
Informa^on
is
social:
informa^on
literacy
in
context.
Reference
Services
Review,
v.
39,
n.
1,
p.
10-‐23,
2011
OBAMA,
Barack.
Na^onal
Informa^on
literacy
awareness
month
2009
by
The
President
of
the
United
States
of
America
a
proclama^on.
The
InternaMonal
InformaMon
&
Library
Review,
v.
41,
p.
316,
2009.
PINTO,
Maria;
CORDÓN,
José
Antonio;
DÍAZ,
Raquel
Gómez.
Thirty
years
of
informa^on
literacy
(1977-‐2007):
a
terminological,
conceptual
and
sta^s^cal
analysis.
Journal
of
Librarianship
and
InformaMon
Science,
v.
42,
n.
1,
p.
3-‐19,
mar.
2010.
STERN,
Caroline;
KAUR,
Trishanjit.
Developing
theory-‐based,
prac^cal
informa^on
Literacy
training
for
adults.
The
InternaMonal
InformaMon
&
Library
Review,
v.
42,
p.
69-‐74,
2010.
WALSH,
John.
Librarians
and
controlling
disinforma^on:
is
mul^-‐literacy
instruc^on
the
answer?.
Library
Review,
v.
59,
n.
7,
p.
498-‐511,
2010.
ZURKOWSKI,
Paul
G.
The
InformaMon
Service
Environment
RelaMonships
and
PrioriMes:
related
paper
nº
5.
Washington:
Na^onal
Commission
on
Libraries
and
Informa^on
Science,
1974.
Disponível
em:
<hvp://www.eric.ed.gov/ERICWebPortal/
contentdelivery/servlet/
ERICServlet?accno=ED10039>.
Acesso
em:
23
out.
2009.
31. Agradeço
a
atenção
de
todos!
Gustavo
Freire
ghafreire@gmail.com
Facebook:
Gustavo
Freire