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Santo Agostinho
VIDA, OBRA E O CONTEXTO DA QUESTÃO
DO TEMPO EM SUA OBRA.
“...apenas a obra de Platão, na história intelectual
do mundo antigo, pode ser posta em paralelo com a
obra de Agostinho”
O tempo
Um dos seus êxitos
mais originais
consiste,
precisamente, nas
intuições geniais
sobre a
problemática do
tempo.

Com efeito, fora levado a esta questão pela
epígrafe do Gênesis: “no Princípio, criou Deus o“no Princípio, criou Deus o
céu e a terra.céu e a terra.

Agostinho foi argüido pelos heresiarcas e curiosos
do seu tempo, sobre “o que fazia Deus antes de
criar o céu e a terra?”, foi conduzido a fazer“(...)
uma análise do tempo”, que o “(...) conduziu a
soluções geniais, que se tornaram muito famosas”
A Vida e a Obra de Agostinho
> Aurélio Agostinho
nasceu em Tagaste, na
Numídia (África), a 13
de novembro de 354.
> Seu pai, Patrício, era um
pequeno proprietário de
terras que, ligado ainda
ao paganismo, só iria
converter-se ao
cristianismo no final de
sua vida19.
> Já Mônica, sua mãe, era
cristã fervorosa.
Foi quando morava Roma que começa a se
distanciar da seita maniquéia,maniquéia, questiona-lhe os
dogmas, até aderir, por um curto período de tempo,
ao ceticismo da Academia.
No mesmo ano, novamente muda de cidade, e
chega a Milão, onde a pedido de Símaco, que lhe
oferecera a cátedra de Retórica na faculdade,
começa a ensinar, e aí permanece de 384 a 386.
Maniqueísmo
O Maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e
dualística que divide o mundo entre Bem, ou Deus, e
Mal, ou o Diabo.
A matéria é intrinsecamente má, e o espírito,
intrinsecamente bom.
Com a popularização do termo, maniqueísta passou a
ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois
princípios opostos do Bem e do Mal.
Em Milão, Agostinho
lê Plotino, e fica
fascinado pela
doutrina do
neoplatonismo a
respeito da
incorporeidade de
Deus e da
imaterialidade da
alma.
De cético, havia-
se tornado então
neoplatônico.
Neoplatonismo
“O neoplatônico mais importante foi
“Plotino” (por volta de 205-270 d.C.), que
estudou filosofia em Alexandria, e se transferiu
posteriormente para Roma.
Plotino levou consigo para Roma uma
doutrina de salvação que se tornaria uma séria
concorrente do cristianismo que começava a
afirmar-se. Mas o neoplatonismo também haveria
de exercer uma forte influência na
teologia cristã.
Plotino via o mundo
separado em dois pólos. Num extremo está a luz
divina, que ele designava por “Uno”.
Por vezes, chamava-lhe também “Deus”.
No outro extremo reina a escuridão total
que a luz do Uno não alcança. Mas para Plotino,
essa escuridão não existe de fato. É apenas
uma ausência de luz - sim, não é. A única coisa que
existe é Deus ou o Uno, mas tal como uma fonte
luminosa se perde progressivamente na escuridão,
também há um limite para o
alcance dos raios divinos.”
“Tudo é UNO porque tudo é Deus.”
O mundo de SofiaO mundo de Sofia
No entanto, através dos sermões do Bispo
Ambrósio, que a princípio só lhe interessara por
causa da fina retórica do orador, e, também, em
virtude das cartas de São Paulo, convence-se,
afinal, de que só no cristianismo se encontra a
verdade que tanto buscara.
Continuando a história...
Enfim, nas últimas décadas da sua vida,
dedica-se quase inteiramente às obras de
cunho pastoral.
São deste período, pois, as suas obras teológico-
exegéticas mais
importantes.
Versam tais obras, sobretudo, a respeito da fé
católica, já lhe guardando a pureza na
exposição, já ainda polemizando contra os que se
lhe opunham: os heréticos e cismáticos.
As controvérsias com os maniqueus, donatistas e
pelagianos, valeram-lhe a fama de
ortodoxia, que lhe faria legar a posteridade, o título
de Doutor da Igreja latina.
Faleceu Agostinho em
28 de agosto de 430,
quando Hipona estava
sendo invadida pelos
vândalos, após um
cerco de três meses,
sob o comando de
Genserico.
OBRAS
Dentre as obras de Agostinho, merecem nossa
especial atenção, porquanto inauguram novos
gêneros literários, a sua obra mais famosa,
Confessiones (Confissões)Confessiones (Confissões), autobiografia escrita
em 13 tomos, durante o ano de 397, e, finalmente,
as Retractationesas Retractationes, obra em dois livros, escrita entre
426 e 427, onde o autor se retrata dos erros que lhe
parecem figurar nas suas obras anteriores.
Confissões
No que se refere às ConfissõesConfissões, importa que
discriminemos mais detidamente como esta obra se
divide, já que ela será a principal fonte do nosso
trabalho.
> Esta obra foi escrita em 13 livros.> Esta obra foi escrita em 13 livros.
Podemos ainda dividi-la em três partes.em três partes.
Na primeira, trata Agostinho de literalmentetrata Agostinho de literalmente
confessar os seus pecadosconfessar os seus pecados, por meio de uma
autobiografia, na qual descreve aos leitores, os
principais acontecimentos da sua vida.
A partir do livro 10, o Doutor de Hipona começa
a falar aos seus leitores do seu presente estado defalar aos seus leitores do seu presente estado de
alma.alma.
Finalmente, dos livros 11 a 13, faz umafaz uma
reflexão sobre a criação do mundo, sempre areflexão sobre a criação do mundo, sempre a
partir do trato que teve com os primeiros capítulospartir do trato que teve com os primeiros capítulos
do Gênesis, alternando a isso, momentosdo Gênesis, alternando a isso, momentos
de doxologia, em reverência à bondade do Deusde doxologia, em reverência à bondade do Deus
que o salvara em Jesus Cristoque o salvara em Jesus Cristo.
A obra como um todo transita em torno do
reconhecimento das fraquezas inerentes a todo
gênero humano – em virtude da queda do pecado –
da contingência das criaturas, e da transitoriedade
da vida presente.
Contexto da Questão do Tempo na
Obra de Agostinho
Estar sujeito à mutabilidade é estar inserido, de
algum modo, naquilo
que chamamos tempo, já que “a essência do tempo
é ter somente uma existência fragmentária
(...)”.
De maneira que como as criaturas são
mutáveis, exatamente porque são criaturas, e
“como o tempo passa, porque é mutável (...)”, “o
tempo também é uma criatura e, por isso,
teve um princípio e não é coeterno com Deus”.
Donde, da mesma forma como seria
contraditório alguém se tornar verdadeiramente
feliz, por desejar ou possuir um bem criado, tendo
em vista que tal bem pode ser perdido,
igualmente, seria contraditório afirmar que se pode
haver uma definitiva felicidade temporal,
pois tudo o que é temporal, estando sujeito ao
tempo, é mutável e passageiro, quer dizer, pode
ser perdido.
Reflexão sobre Felicidade
Como o que define Deus como Deus é a sua
eternidade, que procede do seu ser
imutável, assim também o que define a criatura
enquanto tal é a sua mutabilidade, que a
coloca também sujeita ao tempo, tempo que
incessantemente flui em virtude também da sua
própria natureza de criatura contingente.
A Criação no Tempo
Com respeito à criação, só havia duas hipóteses:
ou Deus a houvera tirado do nada (ex nihilo)(ex nihilo), ou
tivera ela emanado da sua própria substância.
No entanto, o segundo postulado implica
imaginar que a própria substância divina,
infinita e imutável em si mesma, se tornara,
inobstante isto, finita e mutável nas criaturas;
sujeita, pois, a alterações e até destruições.
Ele se refere a esta hipótese e às suas
consequências sacrílegas, quando condena os que a
defendem, enquanto a aplicam à natureza
da alma humana:
„No entanto, quem duvida que a natureza da
alma pode sofrer mudança para pior ou para
melhor? Por isso, é uma opinião sacrílega crer
que ela e Deus são dotados de uma única
substância. Portanto, que outra coisa se crê desse
modo senão que Deus seja mutável?“
Confissões. IV, 16, 31.Confissões. IV, 16, 31.
Ora, se a segunda hipótese é assim contraditória,
resta-nos apenas uma, que passa a ser
a única afirmação veraz, qual seja, a de que Deus
criou o universo do nada.
“Meu Deus, como fizeste o céu e a terra?
Evidentemente não criaste o céu e a terra no céu e na
terra, nem no ar ou na água, porque também estes
pertencem ao céu e à terra. Nem criaste o universo no
universo, pois, antes de o criares, não havia espaço
onde ele pudesse existir. Nem tinhas à mão matéria
alguma com que modelaste o céu e a terra. E para
fazer alguma coisa, de onde terias tomado o que ainda
não tinhas feito? Que criatura existe, senão porque tu
existes?”
AGOSTINHO. Confissões. XI, 5, 7.AGOSTINHO. Confissões. XI, 5, 7.
O QUE É CRIAR DO NADA?
Na verdade, o Deus de Agostinho não é o
Demiurgo platônico,
ou seja, não é, pois, como um artesão humano que
trabalha a partir de uma matéria preexistente que já
lhe fora dada.
Ao contrário, o Deus
criador criou até
mesmo a própria
matéria. De modo
que o ato criador
engloba todas as
coisas que são.
> CrCriariar diferencia-se de gerar,gerar, porque, nana
geraçãogeração, aquilo que é gerado
deriva da própria substância daquele que o gera,
como o filho deriva da própria substância do
pai.
CriarCriar, diferencia-se, ainda, de uma mera
fabricação, pois uma coisa é fabricada a
partir de algo preexistente a ela.
Por que Deus Quis Criar as
Coisas?
“foi pela plenitude da tua bondade que a criatura
recebeu a existência, a fim de que não deixasse de
existir um bem(...)”.
AGOSTINHO. Confissões. XIII, 2, 2.AGOSTINHO. Confissões. XIII, 2, 2.
Refere-se a isto mesmo, o fato de ter Deus, após
o término da sua criação, contemplado toda a sua
obra e visto que ela é boa.
Deus não quis, em virtude da sua própria
bondade também, que a sua boa obra ficasse no
nada.
Mas Como as Criaturas Saíram de
Deus?
Finalmente chegamos, após a breve e necessária
exposição acima, ao momento em
que os dois temas se entrelaçam, quais sejam, a
criação e o tempo.criação e o tempo.
De fato, ao perguntar-se
sobre o modo como as criaturas procederam de
Deus, a primeira questão que Agostinho se
coloca – e a que nos interessa mais de perto – é
justamente o problema relativo ao momento
da criação.
O próprio tempo se inclui
dentro do bojo daquelas coisas que tiveram um
começo, ou seja, um princípio.
Por conseguinte, o tempo, como todas as criaturas,
não é eterno: “houve, portanto, um começo e,
por conseqüência, nem as coisas que duram nem o
tempo são eternos”.
“Portanto, sendo tu o Criador de todos os tempos
– se é que existiu algum tempo antes da criação
do céu e da terra – como se pode dizer que
cessavas de agir? De fato, foste tu que criaste o
próprio tempo, e ele não podia decorrer antes de o
criares. Mas se antes da criação do céu e da terra
não havia tempo, para que perguntar o que fazias
então? Não podia existir um ‘então’ onde não
havia tempo.”
Confissões. XI, 13, 15Confissões. XI, 13, 15
A Suposição de o Mundo Ter
Sempre Existido
A fim de tornar clara a impossibilidade de um
tempo eterno, perseveremos ainda por
um momento na suposição acima.
Postulemos, desta sorte, que o mundo tenha
existido
sempre no passado.
É da essência do tempo, ter uma
existência fragmentária, pois o passado de algo já
não existe mais, e o futuro que o aguarda,
também ainda não é. O próprio presente que se lhe
apresenta, não é senão um instante
indivisível, que escoa e se nos escapa sempre,
transformando-se em passado, e dando lugar a
um futuro:
“Se pudéssemos conceber um espaço de tempo
que não seja suscetível de ser dividido em
minúsculas partes de momentos, só a este
poderíamos chamar tempo presente.
Esse, porém, passa tão velozmente do futuro ao
passado, que não tem nenhuma duração. Se
tivesse alguma duração, dividir-se-ia em passado
e futuro. Logo, o tempo presente não tem extensão
alguma.”
AGOSTINHO. Confissões. XI, 15, 20AGOSTINHO. Confissões. XI, 15, 20
“Agora está claro e evidente para mim que o
futuro e o passado não existem, e que não é exato
falar de três tempos – passado, presente e futuro.
Seria talvez justo dizer que os tempos são três, isto
é, o presente dos fatos passados, o presente dos
fatos presentes, o presente dos fatos futuros. E
estes três tempos estão na mente e não os vejo em
outro lugar. O presente do passado é a memória.
O presente do presente é a visão. O presente do
futuro é a espera.”
Confissões XI, 20, 26Confissões XI, 20, 26
O tempo, em si mesmo, é somente tempo
presente – que é a visão – enquanto que o passado
só existe na memória e o futuro na espera.
Para melhor definir dever-se-ia, então, assim
denominar os tempos: presente do presente,
presente do pretérito e presente do futuro.
O Tempo e Suas Divisões
“Onde se encontra então o tempo que possa ser
chamado de longo? O futuro? Não dizemos certamente
que é longo, porque não existe ainda.
Dizemos, sim, que será longo. E quando será? Se esse
tempo ainda agora está por vir, não será longo, pois
ainda não existe nele aquilo que seja capaz de ser
longo. Mas só o poderá começar a ser, no instante em
que nascer desse futuro – que ainda não existe – e se
tornar tempo presente, porque só então será capaz de
ser longo. Mas, pelo que dissemos até aqui, o presente
clama que não pode ser longo.”
Confissões. XI, 15, 20Confissões. XI, 15, 20
O tempo, esta realidade que se nos domina, é
antes de tudo um mistério para nós.
Na verdade, toda a sua substância, em si mesma,
não é senão um instante indivisível ao qual
denominamos presente.
Indivisível e, portanto, imensurável enquanto tal.
De fato, como é possível medi-lo, se não pode
ser mais longo ou mais curto, sem que
deixe antes de ser.
Com efeito, quando o presente parece se tornar
mais longo para nós, é
porque já é passado e não existe mais, e quando o
vislumbramos à frente, é porque é futuro e
ainda não existe
Como medimos o tempo?
O tempo não é movimento dos corpos!O tempo não é movimento dos corpos!
“Portanto, o movimento do corpo é diferente da
medida de sua duração. E quem não entende qual
destas duas realidades deva ser chamada de
tempo? Se um corpo, ora se move de maneira
desigual, ora está parado, medimos com o tempo,
não só o seu movimento, mas também o seu
repouso, e dizemos: “Esteve tanto tempo parado
quanto em movimento”;...”
“... ou “Esteve parado o dobro ou o triplo do
tempo em que esteve em movimento”; ou
qualquer outro intervalo de tempo, que
aproximadamente tenhamos calculado ou
avaliado. Em conclusão, o tempo não é o
movimento dos corpos.”
Confissões XI, 24, 31Confissões XI, 24, 31
Supondo que um corpo permaneça simplesmente
imóvel, nós, todavia,
sempre poderemos medir o tempo em que ele
permanece imóvel.
Tendo em vista que o tempo independe
do movimento dos corpos, e não pode ser, pura e
simplesmente, identificado com ele.
Medimos o tempo pelo tempo?
Será que o medimos por ele mesmo, isto é, um
tempo por outro?
Não é isso exatamente o que acontece, quando, por
exemplo, ao recitarmos um poema,
qualificamos um verso de mais longo e outro de
mais breve?
Porém, ainda aqui confundimos o tempo com o
movimento.
De fato, um verso
mais curto, pode ser declinado num tempo mais
longo, e vice-versa. De modo que, o mesmo
verso pode ser recitado em tempos diversos, ou
seja, com extensões diversas.
Logo, os versos
de um poema, inclusive as próprias sílabas deste
mesmo verso devem ser medidas, tomando-
se por medida elas próprias, não o tempo. É o que
conclui Agostinho:
“Todavia, nem desse modo chegamos à noção
exata da medida do tempo, porque pode suceder
que um verso breve, recitado lentamente, dure
mais tempo que um verso mais longo recitado
apressadamente. O mesmo acontece a um poema,
a um só pé ou a uma sílaba.”
Confissões XI, 26, 33.Confissões XI, 26, 33.
O Tempo é uma Distensão da Alma
Com as afirmações das quais já estamos de posse,
podemos concluir com Agostinho
“(...) que o tempo nada mais é do que uma
extensão” .
Todavia, o que seja esta extensão,
resta-nos ainda determinar.
Para explicá-la, Agostinho recorre a um termo
que chama de “distensão”. De sorte que
o tempo é um distentio animidistentio animi (distensão da alma),
que consiste em permitir, a coexistência no
presente, do passado e do futuro.
De resto, é esta distensão que lhe dá precisamente
uma extensão, que nos permite então medi-lo.
O tempo é, pois, resumindo: “a extensão da“a extensão da
própria alma”própria alma”
“Com efeito, medimos o tempo, mas não o que
ainda não existe, nem o que já não existe, nem o
que não tem extensão, nem o que não tem limites.
Em outras palavras, não medimos o futuro, nem o
passado, nem o presente, nem o tempo que está
passando. E no entanto, medimos o tempo.”
Confissões XI, 27, 34Confissões XI, 27, 34
Entretanto, se transferimos o tempo à alma,
conforme já havíamos dito em outro lugar,
então é possível, de algum modo, medi-lo,
sobretudo no que toca ao passado.
Com efeito, o
que não existe mais em si mesmo, existe na
memória.
As impressões que guardamos das coisas
passageiras sobrevivem à sua
transitoriedade, em nossa lembrança. E enquanto
podemos compará-las, somos capazes de
verificar os intervalos que lhes sucedem, podendo
assim avaliar, se são mais longos ou mais
curtos:
“É em ti, meu espírito, que eu meço o tempo. Não me
perturbes, ou melhor, não te perturbes com o tumulto
de tuas impressões. É em ti, repito, que meço os
tempos. Meço, enquanto está presente, a impressão
que as coisas gravam em ti no momento em que
passam, e que permanece mesmo depois de passadas, e
não as coisas que passaram para que a impressão as
reproduzisse...”
“....É essa impressão que meço, quando meço o
tempo. Portanto, ou essa impressão é o tempo, ou
não meço o tempo.”
Confissões XI, 27, 36.Confissões XI, 27, 36.
Para que melhor o compreendamos assim, a saber,
o presente, é
preciso entendê-lo reportado à alma, como uma
atenção que se desloca, simultaneamente,
para o futuro através da espera, e para o passado
mediante a lembrança.
Tal é o presente na alma: como um lugar onde
ocorre a passagem daquilo que se
espera para aquilo que já passou.
Com efeito, é desde este ponto de vista, isto é, a
partir da análise da existência do tempo na alma,partir da análise da existência do tempo na alma,
concebido como uma atenção no presente, uma
espera do futuro e a lembrança do passado, que ele
adquire então uma extensão, e pode enfim
ser medido:
Como o homem possui uma alma, assim acontece a
história.
A história de cada homem e a história de todas as
gerações humanas.
Por conseguinte, a história é, pois, um
fenômeno humano, já que é o homem que possui
uma alma que o torna capaz de estar,
simultaneamente, atento ao presente, na expectativa
do futuro, e dilatando-se na recordação do passado.
Por isso, o homem é capaz de fazer história, de
construir e perceber a beleza de um
poema, e de compreender o significado das suas
ações e até da sua própria vida.
Coisas, a princípio inteiramente dispersas e alheias,
ganham-lhe sentido; arroladas, tornam-se coesas e
inteligíveis, passíveis afinal de admiração, em
virtude desta mesma distensão da alma, que
recolhe numa certa unidade os acontecimentos;
fazendo-os coexistir de algum modo, torna-os
também correlatos e harmoniosos de alguma forma.
Conclusão
O fato é que as relações entre eternidade e
temporalidade, inclusive como esta procede
daquela e é por ela governada, tocam o mistério,
esbarram no inexprimível, e, conquanto nos
estimulem sempre o pensamento, nunca poderão
ser expressas exaustivamente:
“Quem poderá deter o coração do homem, a fim
de que pare e veja como a eternidade, não
passada nem futura, sempre imóvel, determina o
futuro e o passado? Será minha mão capaz de
tanto, ou poderá minha boca obter efeito
semelhante através da palavra?”
AGOSTINHO. Confissões. XI, 11, 13AGOSTINHO. Confissões. XI, 11, 13
Por Aline Tabosa VazPor Aline Tabosa Vaz
Cuiabá, 2009Cuiabá, 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO-UFMT
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS-ICHS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

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Agostinho e a questão do tempo

  • 1. Santo Agostinho VIDA, OBRA E O CONTEXTO DA QUESTÃO DO TEMPO EM SUA OBRA.
  • 2. “...apenas a obra de Platão, na história intelectual do mundo antigo, pode ser posta em paralelo com a obra de Agostinho”
  • 3. O tempo Um dos seus êxitos mais originais consiste, precisamente, nas intuições geniais sobre a problemática do tempo.
  • 4.  Com efeito, fora levado a esta questão pela epígrafe do Gênesis: “no Princípio, criou Deus o“no Princípio, criou Deus o céu e a terra.céu e a terra.  Agostinho foi argüido pelos heresiarcas e curiosos do seu tempo, sobre “o que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?”, foi conduzido a fazer“(...) uma análise do tempo”, que o “(...) conduziu a soluções geniais, que se tornaram muito famosas”
  • 5. A Vida e a Obra de Agostinho
  • 6. > Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, na Numídia (África), a 13 de novembro de 354. > Seu pai, Patrício, era um pequeno proprietário de terras que, ligado ainda ao paganismo, só iria converter-se ao cristianismo no final de sua vida19. > Já Mônica, sua mãe, era cristã fervorosa.
  • 7. Foi quando morava Roma que começa a se distanciar da seita maniquéia,maniquéia, questiona-lhe os dogmas, até aderir, por um curto período de tempo, ao ceticismo da Academia. No mesmo ano, novamente muda de cidade, e chega a Milão, onde a pedido de Símaco, que lhe oferecera a cátedra de Retórica na faculdade, começa a ensinar, e aí permanece de 384 a 386.
  • 8. Maniqueísmo O Maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística que divide o mundo entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois princípios opostos do Bem e do Mal.
  • 9. Em Milão, Agostinho lê Plotino, e fica fascinado pela doutrina do neoplatonismo a respeito da incorporeidade de Deus e da imaterialidade da alma. De cético, havia- se tornado então neoplatônico.
  • 10. Neoplatonismo “O neoplatônico mais importante foi “Plotino” (por volta de 205-270 d.C.), que estudou filosofia em Alexandria, e se transferiu posteriormente para Roma. Plotino levou consigo para Roma uma doutrina de salvação que se tornaria uma séria concorrente do cristianismo que começava a afirmar-se. Mas o neoplatonismo também haveria de exercer uma forte influência na teologia cristã.
  • 11. Plotino via o mundo separado em dois pólos. Num extremo está a luz divina, que ele designava por “Uno”. Por vezes, chamava-lhe também “Deus”. No outro extremo reina a escuridão total que a luz do Uno não alcança. Mas para Plotino, essa escuridão não existe de fato. É apenas uma ausência de luz - sim, não é. A única coisa que existe é Deus ou o Uno, mas tal como uma fonte luminosa se perde progressivamente na escuridão, também há um limite para o alcance dos raios divinos.”
  • 12. “Tudo é UNO porque tudo é Deus.” O mundo de SofiaO mundo de Sofia
  • 13. No entanto, através dos sermões do Bispo Ambrósio, que a princípio só lhe interessara por causa da fina retórica do orador, e, também, em virtude das cartas de São Paulo, convence-se, afinal, de que só no cristianismo se encontra a verdade que tanto buscara. Continuando a história...
  • 14. Enfim, nas últimas décadas da sua vida, dedica-se quase inteiramente às obras de cunho pastoral. São deste período, pois, as suas obras teológico- exegéticas mais importantes.
  • 15. Versam tais obras, sobretudo, a respeito da fé católica, já lhe guardando a pureza na exposição, já ainda polemizando contra os que se lhe opunham: os heréticos e cismáticos. As controvérsias com os maniqueus, donatistas e pelagianos, valeram-lhe a fama de ortodoxia, que lhe faria legar a posteridade, o título de Doutor da Igreja latina.
  • 16. Faleceu Agostinho em 28 de agosto de 430, quando Hipona estava sendo invadida pelos vândalos, após um cerco de três meses, sob o comando de Genserico.
  • 17. OBRAS Dentre as obras de Agostinho, merecem nossa especial atenção, porquanto inauguram novos gêneros literários, a sua obra mais famosa, Confessiones (Confissões)Confessiones (Confissões), autobiografia escrita em 13 tomos, durante o ano de 397, e, finalmente, as Retractationesas Retractationes, obra em dois livros, escrita entre 426 e 427, onde o autor se retrata dos erros que lhe parecem figurar nas suas obras anteriores.
  • 18. Confissões No que se refere às ConfissõesConfissões, importa que discriminemos mais detidamente como esta obra se divide, já que ela será a principal fonte do nosso trabalho. > Esta obra foi escrita em 13 livros.> Esta obra foi escrita em 13 livros.
  • 19. Podemos ainda dividi-la em três partes.em três partes. Na primeira, trata Agostinho de literalmentetrata Agostinho de literalmente confessar os seus pecadosconfessar os seus pecados, por meio de uma autobiografia, na qual descreve aos leitores, os principais acontecimentos da sua vida.
  • 20. A partir do livro 10, o Doutor de Hipona começa a falar aos seus leitores do seu presente estado defalar aos seus leitores do seu presente estado de alma.alma.
  • 21. Finalmente, dos livros 11 a 13, faz umafaz uma reflexão sobre a criação do mundo, sempre areflexão sobre a criação do mundo, sempre a partir do trato que teve com os primeiros capítulospartir do trato que teve com os primeiros capítulos do Gênesis, alternando a isso, momentosdo Gênesis, alternando a isso, momentos de doxologia, em reverência à bondade do Deusde doxologia, em reverência à bondade do Deus que o salvara em Jesus Cristoque o salvara em Jesus Cristo.
  • 22. A obra como um todo transita em torno do reconhecimento das fraquezas inerentes a todo gênero humano – em virtude da queda do pecado – da contingência das criaturas, e da transitoriedade da vida presente.
  • 23. Contexto da Questão do Tempo na Obra de Agostinho
  • 24. Estar sujeito à mutabilidade é estar inserido, de algum modo, naquilo que chamamos tempo, já que “a essência do tempo é ter somente uma existência fragmentária (...)”. De maneira que como as criaturas são mutáveis, exatamente porque são criaturas, e “como o tempo passa, porque é mutável (...)”, “o tempo também é uma criatura e, por isso, teve um princípio e não é coeterno com Deus”.
  • 25. Donde, da mesma forma como seria contraditório alguém se tornar verdadeiramente feliz, por desejar ou possuir um bem criado, tendo em vista que tal bem pode ser perdido, igualmente, seria contraditório afirmar que se pode haver uma definitiva felicidade temporal, pois tudo o que é temporal, estando sujeito ao tempo, é mutável e passageiro, quer dizer, pode ser perdido. Reflexão sobre Felicidade
  • 26. Como o que define Deus como Deus é a sua eternidade, que procede do seu ser imutável, assim também o que define a criatura enquanto tal é a sua mutabilidade, que a coloca também sujeita ao tempo, tempo que incessantemente flui em virtude também da sua própria natureza de criatura contingente.
  • 27. A Criação no Tempo Com respeito à criação, só havia duas hipóteses: ou Deus a houvera tirado do nada (ex nihilo)(ex nihilo), ou tivera ela emanado da sua própria substância.
  • 28. No entanto, o segundo postulado implica imaginar que a própria substância divina, infinita e imutável em si mesma, se tornara, inobstante isto, finita e mutável nas criaturas; sujeita, pois, a alterações e até destruições. Ele se refere a esta hipótese e às suas consequências sacrílegas, quando condena os que a defendem, enquanto a aplicam à natureza da alma humana:
  • 29. „No entanto, quem duvida que a natureza da alma pode sofrer mudança para pior ou para melhor? Por isso, é uma opinião sacrílega crer que ela e Deus são dotados de uma única substância. Portanto, que outra coisa se crê desse modo senão que Deus seja mutável?“ Confissões. IV, 16, 31.Confissões. IV, 16, 31.
  • 30. Ora, se a segunda hipótese é assim contraditória, resta-nos apenas uma, que passa a ser a única afirmação veraz, qual seja, a de que Deus criou o universo do nada.
  • 31. “Meu Deus, como fizeste o céu e a terra? Evidentemente não criaste o céu e a terra no céu e na terra, nem no ar ou na água, porque também estes pertencem ao céu e à terra. Nem criaste o universo no universo, pois, antes de o criares, não havia espaço onde ele pudesse existir. Nem tinhas à mão matéria alguma com que modelaste o céu e a terra. E para fazer alguma coisa, de onde terias tomado o que ainda não tinhas feito? Que criatura existe, senão porque tu existes?” AGOSTINHO. Confissões. XI, 5, 7.AGOSTINHO. Confissões. XI, 5, 7.
  • 32. O QUE É CRIAR DO NADA?
  • 33. Na verdade, o Deus de Agostinho não é o Demiurgo platônico, ou seja, não é, pois, como um artesão humano que trabalha a partir de uma matéria preexistente que já lhe fora dada.
  • 34. Ao contrário, o Deus criador criou até mesmo a própria matéria. De modo que o ato criador engloba todas as coisas que são.
  • 35. > CrCriariar diferencia-se de gerar,gerar, porque, nana geraçãogeração, aquilo que é gerado deriva da própria substância daquele que o gera, como o filho deriva da própria substância do pai. CriarCriar, diferencia-se, ainda, de uma mera fabricação, pois uma coisa é fabricada a partir de algo preexistente a ela.
  • 36. Por que Deus Quis Criar as Coisas? “foi pela plenitude da tua bondade que a criatura recebeu a existência, a fim de que não deixasse de existir um bem(...)”. AGOSTINHO. Confissões. XIII, 2, 2.AGOSTINHO. Confissões. XIII, 2, 2.
  • 37. Refere-se a isto mesmo, o fato de ter Deus, após o término da sua criação, contemplado toda a sua obra e visto que ela é boa. Deus não quis, em virtude da sua própria bondade também, que a sua boa obra ficasse no nada.
  • 38. Mas Como as Criaturas Saíram de Deus?
  • 39. Finalmente chegamos, após a breve e necessária exposição acima, ao momento em que os dois temas se entrelaçam, quais sejam, a criação e o tempo.criação e o tempo. De fato, ao perguntar-se sobre o modo como as criaturas procederam de Deus, a primeira questão que Agostinho se coloca – e a que nos interessa mais de perto – é justamente o problema relativo ao momento da criação.
  • 40. O próprio tempo se inclui dentro do bojo daquelas coisas que tiveram um começo, ou seja, um princípio. Por conseguinte, o tempo, como todas as criaturas, não é eterno: “houve, portanto, um começo e, por conseqüência, nem as coisas que duram nem o tempo são eternos”.
  • 41. “Portanto, sendo tu o Criador de todos os tempos – se é que existiu algum tempo antes da criação do céu e da terra – como se pode dizer que cessavas de agir? De fato, foste tu que criaste o próprio tempo, e ele não podia decorrer antes de o criares. Mas se antes da criação do céu e da terra não havia tempo, para que perguntar o que fazias então? Não podia existir um ‘então’ onde não havia tempo.” Confissões. XI, 13, 15Confissões. XI, 13, 15
  • 42. A Suposição de o Mundo Ter Sempre Existido
  • 43. A fim de tornar clara a impossibilidade de um tempo eterno, perseveremos ainda por um momento na suposição acima. Postulemos, desta sorte, que o mundo tenha existido sempre no passado.
  • 44. É da essência do tempo, ter uma existência fragmentária, pois o passado de algo já não existe mais, e o futuro que o aguarda, também ainda não é. O próprio presente que se lhe apresenta, não é senão um instante indivisível, que escoa e se nos escapa sempre, transformando-se em passado, e dando lugar a um futuro:
  • 45. “Se pudéssemos conceber um espaço de tempo que não seja suscetível de ser dividido em minúsculas partes de momentos, só a este poderíamos chamar tempo presente. Esse, porém, passa tão velozmente do futuro ao passado, que não tem nenhuma duração. Se tivesse alguma duração, dividir-se-ia em passado e futuro. Logo, o tempo presente não tem extensão alguma.” AGOSTINHO. Confissões. XI, 15, 20AGOSTINHO. Confissões. XI, 15, 20
  • 46. “Agora está claro e evidente para mim que o futuro e o passado não existem, e que não é exato falar de três tempos – passado, presente e futuro. Seria talvez justo dizer que os tempos são três, isto é, o presente dos fatos passados, o presente dos fatos presentes, o presente dos fatos futuros. E estes três tempos estão na mente e não os vejo em outro lugar. O presente do passado é a memória. O presente do presente é a visão. O presente do futuro é a espera.” Confissões XI, 20, 26Confissões XI, 20, 26
  • 47. O tempo, em si mesmo, é somente tempo presente – que é a visão – enquanto que o passado só existe na memória e o futuro na espera. Para melhor definir dever-se-ia, então, assim denominar os tempos: presente do presente, presente do pretérito e presente do futuro.
  • 48. O Tempo e Suas Divisões
  • 49. “Onde se encontra então o tempo que possa ser chamado de longo? O futuro? Não dizemos certamente que é longo, porque não existe ainda. Dizemos, sim, que será longo. E quando será? Se esse tempo ainda agora está por vir, não será longo, pois ainda não existe nele aquilo que seja capaz de ser longo. Mas só o poderá começar a ser, no instante em que nascer desse futuro – que ainda não existe – e se tornar tempo presente, porque só então será capaz de ser longo. Mas, pelo que dissemos até aqui, o presente clama que não pode ser longo.” Confissões. XI, 15, 20Confissões. XI, 15, 20
  • 50. O tempo, esta realidade que se nos domina, é antes de tudo um mistério para nós. Na verdade, toda a sua substância, em si mesma, não é senão um instante indivisível ao qual denominamos presente. Indivisível e, portanto, imensurável enquanto tal.
  • 51. De fato, como é possível medi-lo, se não pode ser mais longo ou mais curto, sem que deixe antes de ser. Com efeito, quando o presente parece se tornar mais longo para nós, é porque já é passado e não existe mais, e quando o vislumbramos à frente, é porque é futuro e ainda não existe
  • 52. Como medimos o tempo? O tempo não é movimento dos corpos!O tempo não é movimento dos corpos!
  • 53. “Portanto, o movimento do corpo é diferente da medida de sua duração. E quem não entende qual destas duas realidades deva ser chamada de tempo? Se um corpo, ora se move de maneira desigual, ora está parado, medimos com o tempo, não só o seu movimento, mas também o seu repouso, e dizemos: “Esteve tanto tempo parado quanto em movimento”;...”
  • 54. “... ou “Esteve parado o dobro ou o triplo do tempo em que esteve em movimento”; ou qualquer outro intervalo de tempo, que aproximadamente tenhamos calculado ou avaliado. Em conclusão, o tempo não é o movimento dos corpos.” Confissões XI, 24, 31Confissões XI, 24, 31
  • 55. Supondo que um corpo permaneça simplesmente imóvel, nós, todavia, sempre poderemos medir o tempo em que ele permanece imóvel. Tendo em vista que o tempo independe do movimento dos corpos, e não pode ser, pura e simplesmente, identificado com ele.
  • 56. Medimos o tempo pelo tempo? Será que o medimos por ele mesmo, isto é, um tempo por outro? Não é isso exatamente o que acontece, quando, por exemplo, ao recitarmos um poema, qualificamos um verso de mais longo e outro de mais breve?
  • 57. Porém, ainda aqui confundimos o tempo com o movimento. De fato, um verso mais curto, pode ser declinado num tempo mais longo, e vice-versa. De modo que, o mesmo verso pode ser recitado em tempos diversos, ou seja, com extensões diversas.
  • 58. Logo, os versos de um poema, inclusive as próprias sílabas deste mesmo verso devem ser medidas, tomando- se por medida elas próprias, não o tempo. É o que conclui Agostinho:
  • 59. “Todavia, nem desse modo chegamos à noção exata da medida do tempo, porque pode suceder que um verso breve, recitado lentamente, dure mais tempo que um verso mais longo recitado apressadamente. O mesmo acontece a um poema, a um só pé ou a uma sílaba.” Confissões XI, 26, 33.Confissões XI, 26, 33.
  • 60. O Tempo é uma Distensão da Alma Com as afirmações das quais já estamos de posse, podemos concluir com Agostinho “(...) que o tempo nada mais é do que uma extensão” . Todavia, o que seja esta extensão, resta-nos ainda determinar.
  • 61. Para explicá-la, Agostinho recorre a um termo que chama de “distensão”. De sorte que o tempo é um distentio animidistentio animi (distensão da alma), que consiste em permitir, a coexistência no presente, do passado e do futuro. De resto, é esta distensão que lhe dá precisamente uma extensão, que nos permite então medi-lo. O tempo é, pois, resumindo: “a extensão da“a extensão da própria alma”própria alma”
  • 62. “Com efeito, medimos o tempo, mas não o que ainda não existe, nem o que já não existe, nem o que não tem extensão, nem o que não tem limites. Em outras palavras, não medimos o futuro, nem o passado, nem o presente, nem o tempo que está passando. E no entanto, medimos o tempo.” Confissões XI, 27, 34Confissões XI, 27, 34
  • 63. Entretanto, se transferimos o tempo à alma, conforme já havíamos dito em outro lugar, então é possível, de algum modo, medi-lo, sobretudo no que toca ao passado. Com efeito, o que não existe mais em si mesmo, existe na memória.
  • 64. As impressões que guardamos das coisas passageiras sobrevivem à sua transitoriedade, em nossa lembrança. E enquanto podemos compará-las, somos capazes de verificar os intervalos que lhes sucedem, podendo assim avaliar, se são mais longos ou mais curtos:
  • 65. “É em ti, meu espírito, que eu meço o tempo. Não me perturbes, ou melhor, não te perturbes com o tumulto de tuas impressões. É em ti, repito, que meço os tempos. Meço, enquanto está presente, a impressão que as coisas gravam em ti no momento em que passam, e que permanece mesmo depois de passadas, e não as coisas que passaram para que a impressão as reproduzisse...”
  • 66. “....É essa impressão que meço, quando meço o tempo. Portanto, ou essa impressão é o tempo, ou não meço o tempo.” Confissões XI, 27, 36.Confissões XI, 27, 36.
  • 67. Para que melhor o compreendamos assim, a saber, o presente, é preciso entendê-lo reportado à alma, como uma atenção que se desloca, simultaneamente, para o futuro através da espera, e para o passado mediante a lembrança.
  • 68. Tal é o presente na alma: como um lugar onde ocorre a passagem daquilo que se espera para aquilo que já passou. Com efeito, é desde este ponto de vista, isto é, a partir da análise da existência do tempo na alma,partir da análise da existência do tempo na alma, concebido como uma atenção no presente, uma espera do futuro e a lembrança do passado, que ele adquire então uma extensão, e pode enfim ser medido:
  • 69. Como o homem possui uma alma, assim acontece a história. A história de cada homem e a história de todas as gerações humanas. Por conseguinte, a história é, pois, um fenômeno humano, já que é o homem que possui uma alma que o torna capaz de estar, simultaneamente, atento ao presente, na expectativa do futuro, e dilatando-se na recordação do passado.
  • 70. Por isso, o homem é capaz de fazer história, de construir e perceber a beleza de um poema, e de compreender o significado das suas ações e até da sua própria vida. Coisas, a princípio inteiramente dispersas e alheias, ganham-lhe sentido; arroladas, tornam-se coesas e inteligíveis, passíveis afinal de admiração, em virtude desta mesma distensão da alma, que recolhe numa certa unidade os acontecimentos; fazendo-os coexistir de algum modo, torna-os também correlatos e harmoniosos de alguma forma.
  • 71. Conclusão O fato é que as relações entre eternidade e temporalidade, inclusive como esta procede daquela e é por ela governada, tocam o mistério, esbarram no inexprimível, e, conquanto nos estimulem sempre o pensamento, nunca poderão ser expressas exaustivamente:
  • 72. “Quem poderá deter o coração do homem, a fim de que pare e veja como a eternidade, não passada nem futura, sempre imóvel, determina o futuro e o passado? Será minha mão capaz de tanto, ou poderá minha boca obter efeito semelhante através da palavra?” AGOSTINHO. Confissões. XI, 11, 13AGOSTINHO. Confissões. XI, 11, 13
  • 73. Por Aline Tabosa VazPor Aline Tabosa Vaz Cuiabá, 2009Cuiabá, 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO-UFMT INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS-ICHS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA