SlideShare a Scribd company logo
1 of 10
Download to read offline
1
                                            Nomes
                                                                            Ester Maria Dreher Heuser
                                                                                  Luciana Alves Pinto
                                                                             Michelle Silvestre Cabral

                                   A literatura é a exploração do nome: Proust fez sair todo um mundo
                                  desses poucos sons: Guermantes. No fundo, o escritor tem sempre em
                                   si a crença de que os signos não são arbitrários e que o nome é uma
                                   propriedade natural da coisa: os escritores estão ao lado de Cratilo,
                                                                                   não de Hermógenes.
                                                                                        Roland Barthes


          Desenvolver uma reflexão sobre o conceito de nome é tanto desafiador quanto
provocador; sobretudo por se tratar de um tema já plenamente naturalizado, algo já
demasiadamente comum e prosaico. Poder-se-ia perguntar: Qual a importância de um
questionamento como este em meio a tantos conteúdos previstos pelo currículo do
Ensino Fundamental? Talvez, o mérito maior esteja justamente em estimular um apetite
que parece estar presente na maior parte das crianças: o impulso questionante. Tal
impulso, constitui-se, muitas vezes, num inconveniente para a sociedade atual: por que
se perguntar sobre uma coisa dada? Coisas comuns, ordinárias, há muito
consensualizadas? Quais as razões para que as coisas tenham nome? Esta não é uma
pergunta que tenha utilidade ou finalidade para a comunidade escolar ou para a vida nos
dias de hoje.
          Talvez, sob a sombra dessa recusa iminente, se encontre assaz velado o legado
que persiste subjacente ao problema de como conceber o ato de educar. O ideal
utilitarista e objetivista, erigido na modernidade, ainda causa fortes influências e se
imiscui, de modo oculto, nas concepções de sujeito aprendiz e professor mestre que
pautam a relação estudante-professor na escola atualmente. Problematizar tais
concepções, desnaturalizar as relações, descortinar os pressupostos implicados nas
formulações mais arraigadas, entre outras coisas, constituem-se ocupações propriamente
filosóficas. Neste sentido, partir de conceitos aparentemente banais pode ser o início de
um caminho profícuo para distender, alargar, desdobrar a atitude crítica diante de um
mundo aparentemente já dado.
          A oficina Nomes1 foi inventada com o objetivo de abrir um caminho de

1
  Esta oficina faz parte do Projeto Escrileituras: um modo de ler e escrever em meio à vida e foi
desenvolvida numa turma de 3º ano do ensino fundamental da Escola Municipal André Zênere, localizada
na cidade de Toledo-PR.
2
reflexão filosófica a partir da problematização de um conceito, retirado do cotidiano
das crianças, e considerado algo necessário, inquestionável. A discussão em torno dos
elementos implicados no conceito de nomes aparece já na Grécia Antiga no diálogo
Crátilo de Platão2. Como já tradicionalmente aceito, o diálogo platônico versa sobre a
adequação, a justeza dos nomes (orthotês onomatôn), dando origem as posteriores
investigações sobre o conceito de proposição e a construção dos discursos. No diálogo,
a personagem Sócrates examina as teses divergentes de Hermógenes e Crátilo. De
acordo com Hermógenes, os nomes seriam resultado de pura convenção, acordo, ou
seja, resultado do costume e da tradição. Contrapondo-se a este, Crátilo3 defende que,


                            (...) existe uma denominação exata e justa para cada um dos seres; um nome
                            não é a designação que, segundo um acordo, algumas pessoas dão a um
                            objeto, assinalando-o com uma parte de sua linguagem, senão que
                            naturalmente existe tanto para os gregos como para os bárbaros uma maneira
                            exata de denominar os seres que é idêntica para todos4.


          De acordo, portanto, com Crátilo, os nomes espelham a natureza das coisas e,
seguindo a tradição heraclitiana de interpretação, esta consiste em ser um fluxo
constante. Tais teses apontam para dois caminhos divergentes: o relativismo de
Hermógenes e o ceticismo resultante da doutrina heraclitiana a respeito da mutabilidade
das coisas defendido por Crátilo. Diante de tais divergências, Sócrates é convidado a
participar do debate e auxiliar a encontrar uma saída adequada para a questão. Sócrates,
então, apresenta a tese (supostamente ensejada por Platão) de que os nomes espelham
sim a natureza das coisas, mas que esta consiste em ser, essencialmente, permanência e
não fluxo, como queria Crátilo na esteira de Heráclito.
          A discussão desdobra-se na questão de determinar o desmembramento ou não
da associação entre linguagem e conhecimento, ou seja, em determinar a possibilidade
ou não da linguagem dizer as coisas tais como estas são. Se os nomes, pensados
enquanto imitações da realidade, abarcam ambiguidade de significados, poderiam tanto
significar a imagem de uma realidade que é puro fluxo quanto uma que se constitui
como permanência do mesmo. Como resultado, tornar-se-ia impossível determinar um
critério legítimo capaz de nortear a demarcação da verdade, o que colocaria em risco a


2
  PLATÃO, 1972.
3
  Crátilo foi discípulo de Heráclito e mestre de Platão, anteriormente a Sócrates.
4
  PLATÃO, 1972, p. 508.
3
própria possibilidade do conhecimento. Do resultado desta discussão depende toda a
dimensão dialógica e pedagógica da filosofia e do conhecimento como um todo, na
medida em que este depende do elemento linguístico para se concretizar e garantir sua
universalidade e objetividade.
          No Crátilo, Platão desenvolve a tese de que para falar bem é necessário atender
às normas que determinam a maneira e os meios que as coisas têm de expressar e de ser
expressas por meio da palavra. O ato de falar nomeando é um ato que se refere às
coisas, pois nomear um objeto é uma parte da ação de falar. Para nomear um objeto é
necessário um nome, por isso um nome é o instrumento apropriado para nomear,
permitindo distinguir, separar (diakritikôs) e ensinar (didaskalilkôs) a essência das
coisas5. Neste sentido, para que possa cumprir sua função de instruir, o nome deve ser
usado de forma apropriada, conveniente e o dialético é apresentado como aquele que
sabe fazê-lo, de modo mais adequado.
        Assim, os nomes enquanto instrumentos, são fabricados por um legislador de
nomes: o nomoteta. O bom instrutor (dialético) utiliza a obra do legislador (nomoteta)
servindo-se do nome. Mas nem todo homem pode legislar: o legislador deve ser aquele
que sabe impor aos sons e às sílabas o nome apropriado a cada objeto, que sabe o que é
o nome em si mesmo, de modo a poder criar e estabelecer todos os nomes segundo o
que é preciso. De acordo com Montenegro, comentando o diálogo Crátilo:


                            A seção dedicada às etimologias vem justamente ilustrar aquilo que, no plano
                            interno do diálogo, Sócrates acaba de obter de Hermógenes: 1) a renúncia ao
                            convencionalismo em prol da tese segundo a qual os nomes têm uma
                            correção por natureza (tese defendida por Crátilo!); 2) a anuência quanto à
                            idéia de que a atividade de nomear não se estende a todos, estando restrita a
                            alguns (...). Por meio do método de perguntas e respostas, Sócrates – que
                            encarna o papel do filósofo/dialético –, acaba por subverter os sentidos
                            comumente atribuídos aos nomes, admitindo a supressão ou o acréscimo de
                            letras e sílabas, a fim de obter o sentido filosófico almejado 6.


          O diálogo chega ao final sem que Sócrates defina uma posição clara em favor
das teses apresentadas por Hermógenes, que vê os nomes como o resultado de uma
convenção, nem das de Crátilo que afirma que os nomes são estabelecidos em


5
  Tal definição parece coincidir com a definição de dialética apresentada no Sofista: divisão por gêneros,
de modo a não tomar por outra uma forma que é a mesma, nem pela mesma uma forma que é outra
(PLATÃO apud MONTENEGRO, 2007, p. 371).
6
  Ibidem.
4
conformidade com o fluxo essencial das coisas. Para muitos comentadores, isto apenas
ilustra o caráter aporético das obras platônicas. Contra tal tese, Montenegro defende que
Platão oferece saídas para tais aporias, justamente na parte do diálogo dedicada às
etimologias. Neste sentido, afirma:


                       Lembremos que um dos últimos termos que Sócrates toma para análise é
                       justamente o termo "conhecimento" (epistêmê), aquilo que se supunha ser
                       tarefa da filosofia viabilizar pela linguagem. Mediante a análise, tem-se que,
                       ao invés de ser o movimento da alma que acompanha o movimento das
                       coisas, o conhecimento consiste naquilo que fixa (histêsin) a nossa alma nas
                       coisas (Crátilo 437a). Logo em seguida, acrescenta que o sentido de “relato”,
                       (historia) e, por conseguinte, algo que compete ao lógos, é o de fixar o fluxo
                       (histêsitonrhoun – 437b). Conhecer, portanto, significaria apreender, pelo
                       relato, a natureza das coisas, entendendo natureza como princípio, essência.
                       Desse modo, o conhecimento é o acesso àquilo que permanece como é.
                       Contrariamente ao que parecem apontar as aporias no final do Crátilo, tem-
                       se, a partir do próprio diálogo, sobretudo no exame das etimologias,
                       elementos para se pensar que o acesso ao conhecimento só pode se dar pelo
                       lógos, portanto, pela linguagem.7


          Haveria que se levar em conta, segundo Montenegro, uma possível associação
entre a concepção platônica de significação e uma ontologia das formas e da alma,
presente na referida parte do diálogo Crátilo. Os nomes, sendo os instrumentos para o
conhecimento (que possibilitam o separar e o ensinar), serviriam à função última da
dialética, que coincide com a tarefa da filosofia. E, compreendendo o conhecimento
como aquilo que fixa nossa alma nas coisas, a linguagem representaria a possibilidade
mesma de tal fixação8. A viabilização de tal procedimento, portanto, implica o contexto
de uma relação mestre-discípulo, a qual se caracteriza, de acordo com o pensamento
platônico, eminentemente no âmbito da linguagem.
          De acordo com o propósito desta oficina, contudo, importa destacar uma
característica intrínseca ao discurso platônico sobre a linguagem e a atividade
pedagógica, qual seja, de que para cada alma, em sentido estrito, deve haver um
discurso que melhor lhe convenha. Concordando com Montenegro, "não pode haver
conhecimento sem a intervenção da linguagem. Consequentemente, não pode haver
linguagem sem a possibilidade da polissemia"9. O cenário aporético sob o qual é
desenvolvida a reflexão platônica sobre a justeza dos nomes, portanto, talvez constitua


7
  Idem, p. 374.
8
  Ibidem.
9
  Idem, p. 376.
5
um elemento necessário à perspectiva da filosofia enquanto atividade e não meramente
transmissão de doutrinas. Neste sentido, o modelo dialético do pensamento platônico
serve como ilustração e orientação numa proposta de discussão sobre o conceito de
nomes na contemporaneidade.


Meios
          Num primeiro momento da oficina, a intenção será de instigar os estudantes a
refletirem sobre a relação entre os nomes e os objetos que estes indicam de modo a
inserir o questionamento sobre o caráter natural ou convencional dessa relação. Num
segundo momento, aprofundando o problema, proporemos algumas dinâmicas10 que
estimulem a criação de nomes para diferentes objetos/imagens, problematizando a
questão sobre a necessidade ou não de que o nome indique uma característica do objeto
nomeado. Em seguida, numa terceira etapa, pretende-se inserir a dimensão da
significação como terceiro elemento a complementar a estrutura da linguagem. Nesta
fase, as dinâmicas terão como foco a reflexão sobre os diferentes sentidos que um
mesmo nome pode assumir de acordo com o contexto. Segue abaixo a exposição dos
elementos necessários à realização da oficina, bem como a descrição sintética das
dinâmicas.


Objetivos:
    Investigar filosoficamente os elementos semânticos e linguísticos implicados num
     nome;
    Propiciar estratégias de diálogos investigativos que instiguem os participantes a
     desnaturalizar suas concepções sobre o conceito de nome;
    Oportunizar e incitar disposições criativas e inventivas que possibilitem a
     reinvenção de nomes já dados e pré-fixados;
    Desenvolver nos participantes o pensamento reflexivo, crítico, criativo e cuidadoso.
    Estimular o hábito de apresentar razões para os argumentos através de
     questionamentos bem orientados;

10
   Todas as dinâmicas foram concebidas com intuito de possibilitar a agregação entre o rigor da reflexão
filosófica e o universo lúdico das crianças, buscando proporcionar um encontro (tradicionalmente
negado) entre estas duas dimensões. Acredita-se que tal realização, ao contrário do que em geral se
postula, possa gerar um enriquecimento positivo para ambas as partes.
6

Procedimentos metodológicos:
   Leitura, em conjunto, de obras de literatura infanto-juvenil que tratem do tema
    proposto;
   Realização de atividades que promovam a compreensão de noções como grupo,
    equipe, união, cooperação, colaboração, segurança, etc.
   Desenvolvimento de diálogos reflexivos que proporcionem o aprimoramento do
    pensamento crítico, criativo e ético;


Produção:
   Produção de textos curtos a partir dos diálogos e reflexões sobre os conceitos
    apresentados;
   Elaboração de acrósticos, nos quais as letras dos nomes dos participantes são
    utilizadas para compor nomes de características suas.
   Texto descritivo, a partir da observação de diferentes objetos de uso cotidiano.
   Criação de texto coletivo.


Materiais:
   Diversos objetos que tenham dois ou mais nomes dentro de uma bolsa (por exemplo
    bonecos de algum personagem conhecido, óculos de sol ou colorido, alimentos
    como bergamota [mexerica, tangerina], mandioca [aipim, macaxeira]; cédula de
    dinheiro; miniaturas de monumentos; etc.).
   Pompom, bolinha ou qualquer objeto que possa ser utilizado como moderador da
    discussão, determinando quem está de posse da palavra naquele momento.
   Lápis de cor, lápis preto, borracha; canetas hidrográficas;;
   Textos de literatura selecionados;
   Folhas sulfite e/ou fichas de cartolina (para registro das questões que orientarão os
    diálogos);
   Imagens (pessoas famosas, personagens conhecidos, obras artísticas, etc.);
7


Artifícios

                    I – Mais de um nome/ Quantos nomes você tem? 11

Procedimento:

Parte 1

    Dispor um recipiente (bolsa ou mochila ou sacola) contendo alguns objetos no
     centro do círculo no qual os participantes estão dispostos e pedir que algo de dentro
     do recipiente. Perguntar: “Isto tem nome?”. Registrar, numa folha de sulfite, os
     nomes que forem sugeridos. Repetir o procedimento até que todos os objetos
     tenham sido nomeados. O intuito é ressaltar o fato de que, com frequência, os
     objetos têm mais de um nome, embora, em geral, isto não seja notado ou observado,
     não constituindo, portanto, um movedor do pensamento.

    Em seguida, pedir que os participantes escrevam numa folha seus nomes completos.
     Peça, também, que escrevam seus apelidos.

Parte 2

    Leitura, em conjunto, da história Marcelo, marmelo, martelo, de Ruth Rocha;

    Dialogar com os participantes sobre as questões suscitadas pela leitura do livro.
     Concomitantemente, podem ser distribuídas fichas com questionamentos pré-
     elaborados diante dos participantes e solicitado que escolham uma. Após respondê-
     las devem abrir a discussão para que todos possam participar concordando ou
     discordando das posições apresentadas e formulando razões para suas afirmações.
     Sugestões de questões:

      Você tem mais de um nome? Explique. / Se alguém tem o mesmo nome que você,
       isso faz com que sejam a mesma pessoa? / Se você tivesse um nome diferente,
       seria uma pessoa diferente? / Um nome pode indicar como a pessoa é? / Um
       nome pode ajudar a identificar algo ou alguém? Como? / Você usa seu nome
       quando conversa consigo mesmo? / Todas as coisas têm nome? / Tudo poderia
       ter o mesmo nome? / Podemos chamar a cadeira de Maria? / Dá para comprar
       um novo nome? E para vender seu nome? / Será que os nomes têm histórias?/ O
       nome pode guardar a história de quem nomeia? Como?


11
   Algumas atividades foram inspiradas em sugestões encontradas nos Manuais do Professor que
acompanham as novelas lipmanianas (redigidos por Lipman e seus colaboradores), bem como nas
valiosas sugestões feitas por Jackson e Oho (1998) no artigo “Preparando-se para filosofar”. Como toda
apropriação, o processo implicou, necessariamente, reelaborações, reformulações, re-adaptações,
transformações, etc. (Conf. CORAZZA, 2011, pp. 66-69).
8
Parte 3

   Pedir aos participantes que registrem numa folha sua compreensão sobre as
    questões: "Para que servem os nomes?", "Como surgem os nomes?", "Em que
    consiste o nome?".


                                    II – Acróstico

Procedimento:
 Escrever o nome de cada participante numa folha de sulfite e pedir que eles façam
   um acróstico, no qual cada letra de seu nome deverá compor o nome de uma
   característica sua.

                III – Relacionando características e nomes a animais

Procedimento:

   Entregar aos participantes uma lista com nomes de alguns animais e outra com
    algumas sugestões de nomes para estes (os nomes podem sugerir uma característica
    de cada um). Pedir que pensem e registrem os critérios para determinar a adequação
    dos nomes aos animais nomeados. Em seguida, solicitar que recortem e colem o
    nome escolhido em frente ao nome do animal. Sugestões:

     Lista de animais: elefante, tatu, morcego, tamanduá, girafa, castor, cobra,
      cachorro, cervo, rato, tucano, gato, lesma.

     Lista de nomes: Lustrosa, Dentão, Cavernoso, Bicudo, Bicuço, Cascão, Latildo,
      Bichento, Rabicho, Narigão, Pontas, Pescoçuda, Enrolada.



                   IV – Relação entre nome e objeto/pessoa nomeada

Procedimento:

Parte 1

   Leitura do livro A velhinha que dava nome às coisas, de Cynthia Rylant;

   Propor aos participantes que façam perguntas ao texto, de modo a determinar os
    aspectos que lhes pareceram mais significativos. Tais questionamentos, após
    registrados e compartilhados, podem servir de ponto de partida para a
    problematização filosófica dos temas e idéias suscitados pela leitura, garantindo,
    assim, que a discussão se constitua de maneira expressiva às experiências singulares
9
     de cada um12. O docente, neste momento, deve assumir o papel de mero orientador
     para que haja uma participação ampla e repartida de todos os integrantes e para que
     o foco da discussão seja o exame dos pressupostos, das razões e das implicações
     contidas nas opiniões expostas. O objetivo não será alcançar uma resposta
     adequada ou uma solução ideal; ao contrário, consiste unicamente em desenvolver
     o diálogo cooperativo e exploratório.

Parte 2

    Dividir os participantes em grupos e entregar algumas imagens (pessoas famosas,
     personagens conhecidos, obras artísticas, etc.); pedir que eles sugiram nomes para
     elas e os registrem. Ao terminar, cada grupo apresenta suas imagens e seus
     respectivos nomes para os outros participantes, esclarecendo as razões para as
     escolhas. Dialogar sobre o significado dos nomes para aquelas pessoas e
     personagens (relação da imagem com o nome/história de cada um).



                                    V – Descrevendo objetos

Procedimentos:

Parte 1

    Dividir os participantes em dois grupos (Grupo A e grupo B), de modo que um não
     possa ver o outro.

    Apresentar, para os dois grupos, alguns objetos e permitir que cada participante
     escolha qual deseja descrever. Pedir que observem atentamente seu objeto e
     registrem numa folha suas características, descrevendo-o; sem, contudo, dizer seu
     nome. Ao final, recolher as folhas e os objetos.

    Reunir os dois grupos e os objetos no mesmo local. Dispor os objetos em local que
     todos possam vê-los. Distribuir as folhas com as descrições realizadas pelo grupo A
     para o grupo B e, assim, novamente, as descrições do grupo B, para o grupo A.
     Pedir que cada um faça a leitura da descrição que recebeu, tentando identificar qual
     objeto esta indica. Caso o participante não consiga identificá-lo, os outros poderão



12
  Conforme nos inspira a pensar Deleuze (1988, p. 259): "Fazem-nos acreditar, ao mesmo tempo, que os
problemas são dados já feitos e que eles desaparecem nas respostas ou na solução; (...) seriam apenas
quimeras. Fazem-nos acreditar que a atividade de pensar, assim como o verdadeiro e o falso em relação a
esta atividade, só começa com a procura de soluções, só concerne às soluções. (...) É um preconceito
infantil, segundo o qual o mestre apresenta um problema, sendo nossa a tarefa de resolvê-lo e sendo o
resultado desta tarefa qualificado de verdadeiro ou de falso por uma autoridade poderosa. (...) Como se
não continuássemos escravos enquanto não dispusermos dos próprios problemas, de uma participação nos
problemas, de um direito aos problemas, de uma gestão dos problemas".
10
    ajudá-lo, de modo que, ao final da atividade, todos os objetos tenham sido
    relacionados à sua descrição.

   Dialogar sobre as dificuldades encontradas ao realizar as descrições e solicitar a
    sugestão de alternativas que poderiam ser adotadas para facilitar a tarefa.

Parte 2

 Leitura do livro Maneco, caneco, chapéu de funil, de Luiz Camargo;

 Conversar com os participantes sobre as diferentes maneiras pelas quais pode ser
  interpretado um mesmo objeto (sua utilidade, uso, finalidade, etc.) e como isso pode
  refletir no modo de compreensão do mesmo. Assim como um objeto pode ser
  descrito através de distintos nomes/características, também pode abarcar uma
  diversidade de usos e significações.

 Após a discussão, propor a elaboração de um texto coletivo envolvendo os objetos
  descritos: cada participante apresenta seu objeto e todos colaboram para a criação da
  história.

Referências
BARTHES, Roland. Crítica e Verdade. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1970.
CAMARGO, Luiz. Maneco, caneco, chapéu de funil. São Paulo: Ática, 1980.
CORAZZA, Sandra Mara. Notas. In: HEUSER, Ester Maria Dreher (org.). Caderno de
     Notas 1: projeto, notas & ressonâncias. Cuiabá: EdUFMT, 2011.
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
JACKSON, Tom; OHO, Linda E. Preparando-se para filosofar. In: KOHAN, Walter
     Omar; WAKSMAN, Vera (orgs.). Filosofia para crianças: na prática escolar. Vol.
     2. Petrópolis: Vozes, 1998.
KOHAN, Walter Omar; WAKSMAN, Vera (orgs.). Filosofia e infância: possibilidades
     de um encontro. Vol. 3. Petrópolis: Vozes, 1999.
______. Filosofia para crianças: a tentativa pioneira de Matthew Lipman. Vol. 1.
     Petrópolis: Vozes, 1998.
MONTENEGRO, Maria Aparecida de Paiva. Linguagem e conhecimento no Crátilo de
     Platão. Kriterion, Belo Horizonte, v. 48, n. 116, dez, 2007. Disponível em: <
     http://www.scielo.br/pdf/kr/v48n116/a0648116.pdf>. Acesso em: 18/01/2012.
PLATÃO. Crátilo: Obra Completa. Madrid: Aguilar, 1972.
ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo. Ilustrações de Adalberto Cornacava. – 3.
     ed. – Guarulhos: Salamandra, 2007.
RYLANT, Cynthia. A velhinha que dava nome às coisas. Ilustrado por Kathryn Brown.
     Tradução de Gilda de Aquinol. São Paulo: BRINQUE-BOOK, 1997.

More Related Content

What's hot

Apostila redacao
Apostila redacaoApostila redacao
Apostila redacaoresolvidos
 
Enemem100dias apostila-redacao
Enemem100dias apostila-redacaoEnemem100dias apostila-redacao
Enemem100dias apostila-redacaoJosé De Oliveira
 
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO ENSINO MÉDIO
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO ENSINO MÉDIOPLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO ENSINO MÉDIO
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO ENSINO MÉDIOIFMA
 
ESCREVER É PRECISO livro de Osório Marques
ESCREVER É PRECISO   livro de Osório MarquesESCREVER É PRECISO   livro de Osório Marques
ESCREVER É PRECISO livro de Osório MarquesFrancione Brito
 
ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques
ESCREVER É PRECISO livro Osório MarquesESCREVER É PRECISO livro Osório Marques
ESCREVER É PRECISO livro Osório MarquesFrancione Brito
 
Tipos de texto caracteristicas
Tipos de texto   caracteristicasTipos de texto   caracteristicas
Tipos de texto caracteristicasRebeca Kaus
 
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO DO ENSINO MÉDIO
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO DO ENSINO MÉDIOPLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO DO ENSINO MÉDIO
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO DO ENSINO MÉDIOIFMA
 
Prova de língua portuguesa e literatura brasileira a , manhã
Prova de língua portuguesa e literatura brasileira  a , manhãProva de língua portuguesa e literatura brasileira  a , manhã
Prova de língua portuguesa e literatura brasileira a , manhãma.no.el.ne.ves
 
Palestra leitura um convite ao conhecimento_final
Palestra leitura um convite ao conhecimento_finalPalestra leitura um convite ao conhecimento_final
Palestra leitura um convite ao conhecimento_finalElaine Campideli Hoyos
 
Slides a leitura professora elzimar oliveira
Slides a leitura   professora elzimar oliveiraSlides a leitura   professora elzimar oliveira
Slides a leitura professora elzimar oliveiraElzimar Oliveira
 
O que são memórias literárias
O que são memórias literáriasO que são memórias literárias
O que são memórias literáriasEloy Souza
 
Prova b de língua portuguesa e literatura, ufmg 2013
Prova b de língua portuguesa e literatura, ufmg 2013Prova b de língua portuguesa e literatura, ufmg 2013
Prova b de língua portuguesa e literatura, ufmg 2013ma.no.el.ne.ves
 
Tipologia textual
Tipologia textualTipologia textual
Tipologia textualVera Pinho
 
Lingua portuguesa a pesquisa e o trabalho em sala de aula
Lingua portuguesa a pesquisa e o trabalho em sala de aulaLingua portuguesa a pesquisa e o trabalho em sala de aula
Lingua portuguesa a pesquisa e o trabalho em sala de auladlpemacao
 

What's hot (20)

Apostila redacao
Apostila redacaoApostila redacao
Apostila redacao
 
Enemem100dias apostila-redacao
Enemem100dias apostila-redacaoEnemem100dias apostila-redacao
Enemem100dias apostila-redacao
 
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO ENSINO MÉDIO
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO ENSINO MÉDIOPLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO ENSINO MÉDIO
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO ENSINO MÉDIO
 
ESCREVER É PRECISO livro de Osório Marques
ESCREVER É PRECISO   livro de Osório MarquesESCREVER É PRECISO   livro de Osório Marques
ESCREVER É PRECISO livro de Osório Marques
 
ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques
ESCREVER É PRECISO livro Osório MarquesESCREVER É PRECISO livro Osório Marques
ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques
 
Texto e textualidade
Texto e textualidadeTexto e textualidade
Texto e textualidade
 
1. sequências textuais
1. sequências textuais1. sequências textuais
1. sequências textuais
 
Tipos de texto caracteristicas
Tipos de texto   caracteristicasTipos de texto   caracteristicas
Tipos de texto caracteristicas
 
Ppt tipos texto[1]
Ppt tipos texto[1]Ppt tipos texto[1]
Ppt tipos texto[1]
 
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO DO ENSINO MÉDIO
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO DO ENSINO MÉDIOPLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO DO ENSINO MÉDIO
PLANO DIDÁTICO ANUAL LITERATURA 1º ANO DO ENSINO MÉDIO
 
Prova de língua portuguesa e literatura brasileira a , manhã
Prova de língua portuguesa e literatura brasileira  a , manhãProva de língua portuguesa e literatura brasileira  a , manhã
Prova de língua portuguesa e literatura brasileira a , manhã
 
425
425425
425
 
Palestra leitura um convite ao conhecimento_final
Palestra leitura um convite ao conhecimento_finalPalestra leitura um convite ao conhecimento_final
Palestra leitura um convite ao conhecimento_final
 
Slides a leitura professora elzimar oliveira
Slides a leitura   professora elzimar oliveiraSlides a leitura   professora elzimar oliveira
Slides a leitura professora elzimar oliveira
 
O que são memórias literárias
O que são memórias literáriasO que são memórias literárias
O que são memórias literárias
 
Tga
TgaTga
Tga
 
Prova b de língua portuguesa e literatura, ufmg 2013
Prova b de língua portuguesa e literatura, ufmg 2013Prova b de língua portuguesa e literatura, ufmg 2013
Prova b de língua portuguesa e literatura, ufmg 2013
 
Tipologia textual
Tipologia textualTipologia textual
Tipologia textual
 
Lingua portuguesa a pesquisa e o trabalho em sala de aula
Lingua portuguesa a pesquisa e o trabalho em sala de aulaLingua portuguesa a pesquisa e o trabalho em sala de aula
Lingua portuguesa a pesquisa e o trabalho em sala de aula
 
texto sobre mitologia amazonica -
texto sobre mitologia amazonica - texto sobre mitologia amazonica -
texto sobre mitologia amazonica -
 

Viewers also liked

Projeto Escrileituras:um modo de ler-escrever em meio à vida
Projeto Escrileituras:um modo de ler-escrever em meio à vidaProjeto Escrileituras:um modo de ler-escrever em meio à vida
Projeto Escrileituras:um modo de ler-escrever em meio à vidaEscola Andre Zenere
 
Artigo congresso universidad cuba 2012 - 15-12-2011 (2)
Artigo congresso universidad cuba   2012 - 15-12-2011 (2)Artigo congresso universidad cuba   2012 - 15-12-2011 (2)
Artigo congresso universidad cuba 2012 - 15-12-2011 (2)Escola Andre Zenere
 
Cantos de atividades
Cantos de atividades Cantos de atividades
Cantos de atividades vivianelima
 
Projeto identidade
Projeto identidadeProjeto identidade
Projeto identidadeGraça Sousa
 
A velhinha e os animais amigos do ambiente
A velhinha e os animais amigos do ambienteA velhinha e os animais amigos do ambiente
A velhinha e os animais amigos do ambientePaulaGil6
 
Variações da Língua
Variações da LínguaVariações da Língua
Variações da LínguaJomari
 
Presentacion td en grupo
Presentacion td en grupoPresentacion td en grupo
Presentacion td en grupovivi0231
 
Texto complementar o que e cientifico
Texto complementar   o que e cientificoTexto complementar   o que e cientifico
Texto complementar o que e cientificoFabio Santos
 
Celebrity Caricatures
Celebrity CaricaturesCelebrity Caricatures
Celebrity CaricaturesMeball17
 
Toda criança do mundo
Toda criança do mundoToda criança do mundo
Toda criança do mundoAline Cruz
 
TODA CRIANÇA DO MUNDO MORA EM MEU CORAÇÃO
TODA CRIANÇA DO MUNDO MORA EM MEU CORAÇÃOTODA CRIANÇA DO MUNDO MORA EM MEU CORAÇÃO
TODA CRIANÇA DO MUNDO MORA EM MEU CORAÇÃOMarisa Seara
 

Viewers also liked (19)

Projeto Escrileituras:um modo de ler-escrever em meio à vida
Projeto Escrileituras:um modo de ler-escrever em meio à vidaProjeto Escrileituras:um modo de ler-escrever em meio à vida
Projeto Escrileituras:um modo de ler-escrever em meio à vida
 
Projeto Meio Ambiente
Projeto Meio AmbienteProjeto Meio Ambiente
Projeto Meio Ambiente
 
Artigo congresso universidad cuba 2012 - 15-12-2011 (2)
Artigo congresso universidad cuba   2012 - 15-12-2011 (2)Artigo congresso universidad cuba   2012 - 15-12-2011 (2)
Artigo congresso universidad cuba 2012 - 15-12-2011 (2)
 
Pensar entre vidas...
Pensar entre vidas... Pensar entre vidas...
Pensar entre vidas...
 
Atos de Leitura
Atos de Leitura Atos de Leitura
Atos de Leitura
 
Cantos de atividades
Cantos de atividades Cantos de atividades
Cantos de atividades
 
Projeto identidade
Projeto identidadeProjeto identidade
Projeto identidade
 
A velhinha e os animais amigos do ambiente
A velhinha e os animais amigos do ambienteA velhinha e os animais amigos do ambiente
A velhinha e os animais amigos do ambiente
 
Variações da Língua
Variações da LínguaVariações da Língua
Variações da Língua
 
Presentacion td en grupo
Presentacion td en grupoPresentacion td en grupo
Presentacion td en grupo
 
Texto complementar o que e cientifico
Texto complementar   o que e cientificoTexto complementar   o que e cientifico
Texto complementar o que e cientifico
 
Familiarizando a Adoção nas Escolas
Familiarizando a Adoção nas EscolasFamiliarizando a Adoção nas Escolas
Familiarizando a Adoção nas Escolas
 
Celebrity Caricatures
Celebrity CaricaturesCelebrity Caricatures
Celebrity Caricatures
 
Em gostos e-preferências
Em gostos e-preferênciasEm gostos e-preferências
Em gostos e-preferências
 
A menina que tinha um céu na boca
A menina que tinha um céu na bocaA menina que tinha um céu na boca
A menina que tinha um céu na boca
 
Toda criança do mundo
Toda criança do mundoToda criança do mundo
Toda criança do mundo
 
Amigos
AmigosAmigos
Amigos
 
TODA CRIANÇA DO MUNDO MORA EM MEU CORAÇÃO
TODA CRIANÇA DO MUNDO MORA EM MEU CORAÇÃOTODA CRIANÇA DO MUNDO MORA EM MEU CORAÇÃO
TODA CRIANÇA DO MUNDO MORA EM MEU CORAÇÃO
 
Mamãe botou um ovo
Mamãe botou um ovoMamãe botou um ovo
Mamãe botou um ovo
 

Similar to Reflexões sobre o conceito de nome a partir do diálogo Crátilo de Platão

SLIDE-DIALÉTICA-PDF mestrado seleção Profept
SLIDE-DIALÉTICA-PDF mestrado seleção ProfeptSLIDE-DIALÉTICA-PDF mestrado seleção Profept
SLIDE-DIALÉTICA-PDF mestrado seleção Profeptconcurseirosefazce20
 
Filosofia unidade IV (Elvira)
Filosofia unidade IV (Elvira)Filosofia unidade IV (Elvira)
Filosofia unidade IV (Elvira)joao paulo
 
Conhecimento no crátilo
Conhecimento no crátiloConhecimento no crátilo
Conhecimento no crátiloMarliQLeite
 
Artigo. Luan Martins
Artigo. Luan MartinsArtigo. Luan Martins
Artigo. Luan MartinsArthur Iven
 
Dogmatica Metodologia
Dogmatica MetodologiaDogmatica Metodologia
Dogmatica Metodologiacelsorocca
 
TCC Filosofia da Linguagem.pdf
TCC Filosofia da Linguagem.pdfTCC Filosofia da Linguagem.pdf
TCC Filosofia da Linguagem.pdfAline Mehedin
 
20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao
20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao
20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacaoVinicius O Resiliente
 
A linguagem marilena chauí
A linguagem   marilena chauíA linguagem   marilena chauí
A linguagem marilena chauíGerson Vicente
 
Mundos distópico e corpos pós humanos final
Mundos distópico e corpos pós humanos finalMundos distópico e corpos pós humanos final
Mundos distópico e corpos pós humanos finalSandra Mina
 
Hermenêutica Jurídica - Slides das Aulas do Prof. Luís Rodolfo de Souza Dantas
Hermenêutica Jurídica - Slides das Aulas do Prof. Luís Rodolfo de Souza DantasHermenêutica Jurídica - Slides das Aulas do Prof. Luís Rodolfo de Souza Dantas
Hermenêutica Jurídica - Slides das Aulas do Prof. Luís Rodolfo de Souza DantasLuís Rodolfo A. de Souza Dantas
 
Filosofia de Platão
Filosofia de PlatãoFilosofia de Platão
Filosofia de PlatãoJorge Barbosa
 
o que é arché
o que é archéo que é arché
o que é archépuenzo
 
Conceitos, classes ou universais: com o que é que se constrói uma ontologia?
Conceitos, classes ou universais: com o que é que se constrói uma ontologia?Conceitos, classes ou universais: com o que é que se constrói uma ontologia?
Conceitos, classes ou universais: com o que é que se constrói uma ontologia?Patrícia Cunha França
 
A cerca do letramento
A cerca do letramentoA cerca do letramento
A cerca do letramentoUFAC
 
Intertextualidades no processo de reconstrução de textos de escólios
Intertextualidades no processo de reconstrução de textos de escóliosIntertextualidades no processo de reconstrução de textos de escólios
Intertextualidades no processo de reconstrução de textos de escóliosEdilson A. Souza
 

Similar to Reflexões sobre o conceito de nome a partir do diálogo Crátilo de Platão (20)

SLIDE-DIALÉTICA-PDF mestrado seleção Profept
SLIDE-DIALÉTICA-PDF mestrado seleção ProfeptSLIDE-DIALÉTICA-PDF mestrado seleção Profept
SLIDE-DIALÉTICA-PDF mestrado seleção Profept
 
Filosofia unidade IV (Elvira)
Filosofia unidade IV (Elvira)Filosofia unidade IV (Elvira)
Filosofia unidade IV (Elvira)
 
Conhecimento no crátilo
Conhecimento no crátiloConhecimento no crátilo
Conhecimento no crátilo
 
Artigo Luan Martins
Artigo Luan MartinsArtigo Luan Martins
Artigo Luan Martins
 
Artigo. Luan Martins
Artigo. Luan MartinsArtigo. Luan Martins
Artigo. Luan Martins
 
Origem e natureza dos nomes no Crátilo de Platão - Arlindo Rocha -
Origem e natureza dos nomes no Crátilo de Platão - Arlindo Rocha - Origem e natureza dos nomes no Crátilo de Platão - Arlindo Rocha -
Origem e natureza dos nomes no Crátilo de Platão - Arlindo Rocha -
 
Dogmatica Metodologia
Dogmatica MetodologiaDogmatica Metodologia
Dogmatica Metodologia
 
TCC Filosofia da Linguagem.pdf
TCC Filosofia da Linguagem.pdfTCC Filosofia da Linguagem.pdf
TCC Filosofia da Linguagem.pdf
 
Fedro de Platão
Fedro de PlatãoFedro de Platão
Fedro de Platão
 
Princípios teóricos de toponímia e antroponímia
Princípios teóricos de toponímia e antroponímiaPrincípios teóricos de toponímia e antroponímia
Princípios teóricos de toponímia e antroponímia
 
20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao
20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao
20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao
 
A linguagem marilena chauí
A linguagem   marilena chauíA linguagem   marilena chauí
A linguagem marilena chauí
 
Mundos distópico e corpos pós humanos final
Mundos distópico e corpos pós humanos finalMundos distópico e corpos pós humanos final
Mundos distópico e corpos pós humanos final
 
Hermenêutica Jurídica - Slides das Aulas do Prof. Luís Rodolfo de Souza Dantas
Hermenêutica Jurídica - Slides das Aulas do Prof. Luís Rodolfo de Souza DantasHermenêutica Jurídica - Slides das Aulas do Prof. Luís Rodolfo de Souza Dantas
Hermenêutica Jurídica - Slides das Aulas do Prof. Luís Rodolfo de Souza Dantas
 
Filosofia de Platão
Filosofia de PlatãoFilosofia de Platão
Filosofia de Platão
 
o que é arché
o que é archéo que é arché
o que é arché
 
20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao
20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao
20110826 fidalgo antonio-logica_comunicacao
 
Conceitos, classes ou universais: com o que é que se constrói uma ontologia?
Conceitos, classes ou universais: com o que é que se constrói uma ontologia?Conceitos, classes ou universais: com o que é que se constrói uma ontologia?
Conceitos, classes ou universais: com o que é que se constrói uma ontologia?
 
A cerca do letramento
A cerca do letramentoA cerca do letramento
A cerca do letramento
 
Intertextualidades no processo de reconstrução de textos de escólios
Intertextualidades no processo de reconstrução de textos de escóliosIntertextualidades no processo de reconstrução de textos de escólios
Intertextualidades no processo de reconstrução de textos de escólios
 

More from Escola Andre Zenere (20)

Varal Literário: Todas as Leituras
Varal Literário: Todas as LeiturasVaral Literário: Todas as Leituras
Varal Literário: Todas as Leituras
 
Rel.agosto 2012
Rel.agosto 2012Rel.agosto 2012
Rel.agosto 2012
 
Relatório julho 2012
Relatório julho 2012Relatório julho 2012
Relatório julho 2012
 
Rel.junho 2012
Rel.junho 2012Rel.junho 2012
Rel.junho 2012
 
Relatório maio.2012
Relatório maio.2012Relatório maio.2012
Relatório maio.2012
 
Relatório abril 2012
Relatório abril 2012 Relatório abril 2012
Relatório abril 2012
 
Relatorio.março.2012
Relatorio.março.2012Relatorio.março.2012
Relatorio.março.2012
 
Relatório.fevereiro.2012
Relatório.fevereiro.2012Relatório.fevereiro.2012
Relatório.fevereiro.2012
 
Rel.janeiro.2012
Rel.janeiro.2012Rel.janeiro.2012
Rel.janeiro.2012
 
Relatório de agosto
Relatório de agostoRelatório de agosto
Relatório de agosto
 
Relatório de julho
Relatório de julhoRelatório de julho
Relatório de julho
 
Relatório de junho
Relatório de junhoRelatório de junho
Relatório de junho
 
Relatório maio
Relatório maioRelatório maio
Relatório maio
 
Relatório abril
Relatório abrilRelatório abril
Relatório abril
 
Relatório março
Relatório marçoRelatório março
Relatório março
 
Rel.agosto2012
Rel.agosto2012Rel.agosto2012
Rel.agosto2012
 
Relatório do mês de abril
Relatório do mês de abril Relatório do mês de abril
Relatório do mês de abril
 
Relatório do mês de março
Relatório do mês de marçoRelatório do mês de março
Relatório do mês de março
 
Relatório do mês de janeiro
Relatório do mês de janeiroRelatório do mês de janeiro
Relatório do mês de janeiro
 
8° Congresso Universidad 2012 Havana - Cuba
 8° Congresso Universidad 2012  Havana - Cuba 8° Congresso Universidad 2012  Havana - Cuba
8° Congresso Universidad 2012 Havana - Cuba
 

Reflexões sobre o conceito de nome a partir do diálogo Crátilo de Platão

  • 1. 1 Nomes Ester Maria Dreher Heuser Luciana Alves Pinto Michelle Silvestre Cabral A literatura é a exploração do nome: Proust fez sair todo um mundo desses poucos sons: Guermantes. No fundo, o escritor tem sempre em si a crença de que os signos não são arbitrários e que o nome é uma propriedade natural da coisa: os escritores estão ao lado de Cratilo, não de Hermógenes. Roland Barthes Desenvolver uma reflexão sobre o conceito de nome é tanto desafiador quanto provocador; sobretudo por se tratar de um tema já plenamente naturalizado, algo já demasiadamente comum e prosaico. Poder-se-ia perguntar: Qual a importância de um questionamento como este em meio a tantos conteúdos previstos pelo currículo do Ensino Fundamental? Talvez, o mérito maior esteja justamente em estimular um apetite que parece estar presente na maior parte das crianças: o impulso questionante. Tal impulso, constitui-se, muitas vezes, num inconveniente para a sociedade atual: por que se perguntar sobre uma coisa dada? Coisas comuns, ordinárias, há muito consensualizadas? Quais as razões para que as coisas tenham nome? Esta não é uma pergunta que tenha utilidade ou finalidade para a comunidade escolar ou para a vida nos dias de hoje. Talvez, sob a sombra dessa recusa iminente, se encontre assaz velado o legado que persiste subjacente ao problema de como conceber o ato de educar. O ideal utilitarista e objetivista, erigido na modernidade, ainda causa fortes influências e se imiscui, de modo oculto, nas concepções de sujeito aprendiz e professor mestre que pautam a relação estudante-professor na escola atualmente. Problematizar tais concepções, desnaturalizar as relações, descortinar os pressupostos implicados nas formulações mais arraigadas, entre outras coisas, constituem-se ocupações propriamente filosóficas. Neste sentido, partir de conceitos aparentemente banais pode ser o início de um caminho profícuo para distender, alargar, desdobrar a atitude crítica diante de um mundo aparentemente já dado. A oficina Nomes1 foi inventada com o objetivo de abrir um caminho de 1 Esta oficina faz parte do Projeto Escrileituras: um modo de ler e escrever em meio à vida e foi desenvolvida numa turma de 3º ano do ensino fundamental da Escola Municipal André Zênere, localizada na cidade de Toledo-PR.
  • 2. 2 reflexão filosófica a partir da problematização de um conceito, retirado do cotidiano das crianças, e considerado algo necessário, inquestionável. A discussão em torno dos elementos implicados no conceito de nomes aparece já na Grécia Antiga no diálogo Crátilo de Platão2. Como já tradicionalmente aceito, o diálogo platônico versa sobre a adequação, a justeza dos nomes (orthotês onomatôn), dando origem as posteriores investigações sobre o conceito de proposição e a construção dos discursos. No diálogo, a personagem Sócrates examina as teses divergentes de Hermógenes e Crátilo. De acordo com Hermógenes, os nomes seriam resultado de pura convenção, acordo, ou seja, resultado do costume e da tradição. Contrapondo-se a este, Crátilo3 defende que, (...) existe uma denominação exata e justa para cada um dos seres; um nome não é a designação que, segundo um acordo, algumas pessoas dão a um objeto, assinalando-o com uma parte de sua linguagem, senão que naturalmente existe tanto para os gregos como para os bárbaros uma maneira exata de denominar os seres que é idêntica para todos4. De acordo, portanto, com Crátilo, os nomes espelham a natureza das coisas e, seguindo a tradição heraclitiana de interpretação, esta consiste em ser um fluxo constante. Tais teses apontam para dois caminhos divergentes: o relativismo de Hermógenes e o ceticismo resultante da doutrina heraclitiana a respeito da mutabilidade das coisas defendido por Crátilo. Diante de tais divergências, Sócrates é convidado a participar do debate e auxiliar a encontrar uma saída adequada para a questão. Sócrates, então, apresenta a tese (supostamente ensejada por Platão) de que os nomes espelham sim a natureza das coisas, mas que esta consiste em ser, essencialmente, permanência e não fluxo, como queria Crátilo na esteira de Heráclito. A discussão desdobra-se na questão de determinar o desmembramento ou não da associação entre linguagem e conhecimento, ou seja, em determinar a possibilidade ou não da linguagem dizer as coisas tais como estas são. Se os nomes, pensados enquanto imitações da realidade, abarcam ambiguidade de significados, poderiam tanto significar a imagem de uma realidade que é puro fluxo quanto uma que se constitui como permanência do mesmo. Como resultado, tornar-se-ia impossível determinar um critério legítimo capaz de nortear a demarcação da verdade, o que colocaria em risco a 2 PLATÃO, 1972. 3 Crátilo foi discípulo de Heráclito e mestre de Platão, anteriormente a Sócrates. 4 PLATÃO, 1972, p. 508.
  • 3. 3 própria possibilidade do conhecimento. Do resultado desta discussão depende toda a dimensão dialógica e pedagógica da filosofia e do conhecimento como um todo, na medida em que este depende do elemento linguístico para se concretizar e garantir sua universalidade e objetividade. No Crátilo, Platão desenvolve a tese de que para falar bem é necessário atender às normas que determinam a maneira e os meios que as coisas têm de expressar e de ser expressas por meio da palavra. O ato de falar nomeando é um ato que se refere às coisas, pois nomear um objeto é uma parte da ação de falar. Para nomear um objeto é necessário um nome, por isso um nome é o instrumento apropriado para nomear, permitindo distinguir, separar (diakritikôs) e ensinar (didaskalilkôs) a essência das coisas5. Neste sentido, para que possa cumprir sua função de instruir, o nome deve ser usado de forma apropriada, conveniente e o dialético é apresentado como aquele que sabe fazê-lo, de modo mais adequado. Assim, os nomes enquanto instrumentos, são fabricados por um legislador de nomes: o nomoteta. O bom instrutor (dialético) utiliza a obra do legislador (nomoteta) servindo-se do nome. Mas nem todo homem pode legislar: o legislador deve ser aquele que sabe impor aos sons e às sílabas o nome apropriado a cada objeto, que sabe o que é o nome em si mesmo, de modo a poder criar e estabelecer todos os nomes segundo o que é preciso. De acordo com Montenegro, comentando o diálogo Crátilo: A seção dedicada às etimologias vem justamente ilustrar aquilo que, no plano interno do diálogo, Sócrates acaba de obter de Hermógenes: 1) a renúncia ao convencionalismo em prol da tese segundo a qual os nomes têm uma correção por natureza (tese defendida por Crátilo!); 2) a anuência quanto à idéia de que a atividade de nomear não se estende a todos, estando restrita a alguns (...). Por meio do método de perguntas e respostas, Sócrates – que encarna o papel do filósofo/dialético –, acaba por subverter os sentidos comumente atribuídos aos nomes, admitindo a supressão ou o acréscimo de letras e sílabas, a fim de obter o sentido filosófico almejado 6. O diálogo chega ao final sem que Sócrates defina uma posição clara em favor das teses apresentadas por Hermógenes, que vê os nomes como o resultado de uma convenção, nem das de Crátilo que afirma que os nomes são estabelecidos em 5 Tal definição parece coincidir com a definição de dialética apresentada no Sofista: divisão por gêneros, de modo a não tomar por outra uma forma que é a mesma, nem pela mesma uma forma que é outra (PLATÃO apud MONTENEGRO, 2007, p. 371). 6 Ibidem.
  • 4. 4 conformidade com o fluxo essencial das coisas. Para muitos comentadores, isto apenas ilustra o caráter aporético das obras platônicas. Contra tal tese, Montenegro defende que Platão oferece saídas para tais aporias, justamente na parte do diálogo dedicada às etimologias. Neste sentido, afirma: Lembremos que um dos últimos termos que Sócrates toma para análise é justamente o termo "conhecimento" (epistêmê), aquilo que se supunha ser tarefa da filosofia viabilizar pela linguagem. Mediante a análise, tem-se que, ao invés de ser o movimento da alma que acompanha o movimento das coisas, o conhecimento consiste naquilo que fixa (histêsin) a nossa alma nas coisas (Crátilo 437a). Logo em seguida, acrescenta que o sentido de “relato”, (historia) e, por conseguinte, algo que compete ao lógos, é o de fixar o fluxo (histêsitonrhoun – 437b). Conhecer, portanto, significaria apreender, pelo relato, a natureza das coisas, entendendo natureza como princípio, essência. Desse modo, o conhecimento é o acesso àquilo que permanece como é. Contrariamente ao que parecem apontar as aporias no final do Crátilo, tem- se, a partir do próprio diálogo, sobretudo no exame das etimologias, elementos para se pensar que o acesso ao conhecimento só pode se dar pelo lógos, portanto, pela linguagem.7 Haveria que se levar em conta, segundo Montenegro, uma possível associação entre a concepção platônica de significação e uma ontologia das formas e da alma, presente na referida parte do diálogo Crátilo. Os nomes, sendo os instrumentos para o conhecimento (que possibilitam o separar e o ensinar), serviriam à função última da dialética, que coincide com a tarefa da filosofia. E, compreendendo o conhecimento como aquilo que fixa nossa alma nas coisas, a linguagem representaria a possibilidade mesma de tal fixação8. A viabilização de tal procedimento, portanto, implica o contexto de uma relação mestre-discípulo, a qual se caracteriza, de acordo com o pensamento platônico, eminentemente no âmbito da linguagem. De acordo com o propósito desta oficina, contudo, importa destacar uma característica intrínseca ao discurso platônico sobre a linguagem e a atividade pedagógica, qual seja, de que para cada alma, em sentido estrito, deve haver um discurso que melhor lhe convenha. Concordando com Montenegro, "não pode haver conhecimento sem a intervenção da linguagem. Consequentemente, não pode haver linguagem sem a possibilidade da polissemia"9. O cenário aporético sob o qual é desenvolvida a reflexão platônica sobre a justeza dos nomes, portanto, talvez constitua 7 Idem, p. 374. 8 Ibidem. 9 Idem, p. 376.
  • 5. 5 um elemento necessário à perspectiva da filosofia enquanto atividade e não meramente transmissão de doutrinas. Neste sentido, o modelo dialético do pensamento platônico serve como ilustração e orientação numa proposta de discussão sobre o conceito de nomes na contemporaneidade. Meios Num primeiro momento da oficina, a intenção será de instigar os estudantes a refletirem sobre a relação entre os nomes e os objetos que estes indicam de modo a inserir o questionamento sobre o caráter natural ou convencional dessa relação. Num segundo momento, aprofundando o problema, proporemos algumas dinâmicas10 que estimulem a criação de nomes para diferentes objetos/imagens, problematizando a questão sobre a necessidade ou não de que o nome indique uma característica do objeto nomeado. Em seguida, numa terceira etapa, pretende-se inserir a dimensão da significação como terceiro elemento a complementar a estrutura da linguagem. Nesta fase, as dinâmicas terão como foco a reflexão sobre os diferentes sentidos que um mesmo nome pode assumir de acordo com o contexto. Segue abaixo a exposição dos elementos necessários à realização da oficina, bem como a descrição sintética das dinâmicas. Objetivos:  Investigar filosoficamente os elementos semânticos e linguísticos implicados num nome;  Propiciar estratégias de diálogos investigativos que instiguem os participantes a desnaturalizar suas concepções sobre o conceito de nome;  Oportunizar e incitar disposições criativas e inventivas que possibilitem a reinvenção de nomes já dados e pré-fixados;  Desenvolver nos participantes o pensamento reflexivo, crítico, criativo e cuidadoso.  Estimular o hábito de apresentar razões para os argumentos através de questionamentos bem orientados; 10 Todas as dinâmicas foram concebidas com intuito de possibilitar a agregação entre o rigor da reflexão filosófica e o universo lúdico das crianças, buscando proporcionar um encontro (tradicionalmente negado) entre estas duas dimensões. Acredita-se que tal realização, ao contrário do que em geral se postula, possa gerar um enriquecimento positivo para ambas as partes.
  • 6. 6 Procedimentos metodológicos:  Leitura, em conjunto, de obras de literatura infanto-juvenil que tratem do tema proposto;  Realização de atividades que promovam a compreensão de noções como grupo, equipe, união, cooperação, colaboração, segurança, etc.  Desenvolvimento de diálogos reflexivos que proporcionem o aprimoramento do pensamento crítico, criativo e ético; Produção:  Produção de textos curtos a partir dos diálogos e reflexões sobre os conceitos apresentados;  Elaboração de acrósticos, nos quais as letras dos nomes dos participantes são utilizadas para compor nomes de características suas.  Texto descritivo, a partir da observação de diferentes objetos de uso cotidiano.  Criação de texto coletivo. Materiais:  Diversos objetos que tenham dois ou mais nomes dentro de uma bolsa (por exemplo bonecos de algum personagem conhecido, óculos de sol ou colorido, alimentos como bergamota [mexerica, tangerina], mandioca [aipim, macaxeira]; cédula de dinheiro; miniaturas de monumentos; etc.).  Pompom, bolinha ou qualquer objeto que possa ser utilizado como moderador da discussão, determinando quem está de posse da palavra naquele momento.  Lápis de cor, lápis preto, borracha; canetas hidrográficas;;  Textos de literatura selecionados;  Folhas sulfite e/ou fichas de cartolina (para registro das questões que orientarão os diálogos);  Imagens (pessoas famosas, personagens conhecidos, obras artísticas, etc.);
  • 7. 7 Artifícios I – Mais de um nome/ Quantos nomes você tem? 11 Procedimento: Parte 1  Dispor um recipiente (bolsa ou mochila ou sacola) contendo alguns objetos no centro do círculo no qual os participantes estão dispostos e pedir que algo de dentro do recipiente. Perguntar: “Isto tem nome?”. Registrar, numa folha de sulfite, os nomes que forem sugeridos. Repetir o procedimento até que todos os objetos tenham sido nomeados. O intuito é ressaltar o fato de que, com frequência, os objetos têm mais de um nome, embora, em geral, isto não seja notado ou observado, não constituindo, portanto, um movedor do pensamento.  Em seguida, pedir que os participantes escrevam numa folha seus nomes completos. Peça, também, que escrevam seus apelidos. Parte 2  Leitura, em conjunto, da história Marcelo, marmelo, martelo, de Ruth Rocha;  Dialogar com os participantes sobre as questões suscitadas pela leitura do livro. Concomitantemente, podem ser distribuídas fichas com questionamentos pré- elaborados diante dos participantes e solicitado que escolham uma. Após respondê- las devem abrir a discussão para que todos possam participar concordando ou discordando das posições apresentadas e formulando razões para suas afirmações. Sugestões de questões:  Você tem mais de um nome? Explique. / Se alguém tem o mesmo nome que você, isso faz com que sejam a mesma pessoa? / Se você tivesse um nome diferente, seria uma pessoa diferente? / Um nome pode indicar como a pessoa é? / Um nome pode ajudar a identificar algo ou alguém? Como? / Você usa seu nome quando conversa consigo mesmo? / Todas as coisas têm nome? / Tudo poderia ter o mesmo nome? / Podemos chamar a cadeira de Maria? / Dá para comprar um novo nome? E para vender seu nome? / Será que os nomes têm histórias?/ O nome pode guardar a história de quem nomeia? Como? 11 Algumas atividades foram inspiradas em sugestões encontradas nos Manuais do Professor que acompanham as novelas lipmanianas (redigidos por Lipman e seus colaboradores), bem como nas valiosas sugestões feitas por Jackson e Oho (1998) no artigo “Preparando-se para filosofar”. Como toda apropriação, o processo implicou, necessariamente, reelaborações, reformulações, re-adaptações, transformações, etc. (Conf. CORAZZA, 2011, pp. 66-69).
  • 8. 8 Parte 3  Pedir aos participantes que registrem numa folha sua compreensão sobre as questões: "Para que servem os nomes?", "Como surgem os nomes?", "Em que consiste o nome?". II – Acróstico Procedimento:  Escrever o nome de cada participante numa folha de sulfite e pedir que eles façam um acróstico, no qual cada letra de seu nome deverá compor o nome de uma característica sua. III – Relacionando características e nomes a animais Procedimento:  Entregar aos participantes uma lista com nomes de alguns animais e outra com algumas sugestões de nomes para estes (os nomes podem sugerir uma característica de cada um). Pedir que pensem e registrem os critérios para determinar a adequação dos nomes aos animais nomeados. Em seguida, solicitar que recortem e colem o nome escolhido em frente ao nome do animal. Sugestões:  Lista de animais: elefante, tatu, morcego, tamanduá, girafa, castor, cobra, cachorro, cervo, rato, tucano, gato, lesma.  Lista de nomes: Lustrosa, Dentão, Cavernoso, Bicudo, Bicuço, Cascão, Latildo, Bichento, Rabicho, Narigão, Pontas, Pescoçuda, Enrolada. IV – Relação entre nome e objeto/pessoa nomeada Procedimento: Parte 1  Leitura do livro A velhinha que dava nome às coisas, de Cynthia Rylant;  Propor aos participantes que façam perguntas ao texto, de modo a determinar os aspectos que lhes pareceram mais significativos. Tais questionamentos, após registrados e compartilhados, podem servir de ponto de partida para a problematização filosófica dos temas e idéias suscitados pela leitura, garantindo, assim, que a discussão se constitua de maneira expressiva às experiências singulares
  • 9. 9 de cada um12. O docente, neste momento, deve assumir o papel de mero orientador para que haja uma participação ampla e repartida de todos os integrantes e para que o foco da discussão seja o exame dos pressupostos, das razões e das implicações contidas nas opiniões expostas. O objetivo não será alcançar uma resposta adequada ou uma solução ideal; ao contrário, consiste unicamente em desenvolver o diálogo cooperativo e exploratório. Parte 2  Dividir os participantes em grupos e entregar algumas imagens (pessoas famosas, personagens conhecidos, obras artísticas, etc.); pedir que eles sugiram nomes para elas e os registrem. Ao terminar, cada grupo apresenta suas imagens e seus respectivos nomes para os outros participantes, esclarecendo as razões para as escolhas. Dialogar sobre o significado dos nomes para aquelas pessoas e personagens (relação da imagem com o nome/história de cada um). V – Descrevendo objetos Procedimentos: Parte 1  Dividir os participantes em dois grupos (Grupo A e grupo B), de modo que um não possa ver o outro.  Apresentar, para os dois grupos, alguns objetos e permitir que cada participante escolha qual deseja descrever. Pedir que observem atentamente seu objeto e registrem numa folha suas características, descrevendo-o; sem, contudo, dizer seu nome. Ao final, recolher as folhas e os objetos.  Reunir os dois grupos e os objetos no mesmo local. Dispor os objetos em local que todos possam vê-los. Distribuir as folhas com as descrições realizadas pelo grupo A para o grupo B e, assim, novamente, as descrições do grupo B, para o grupo A. Pedir que cada um faça a leitura da descrição que recebeu, tentando identificar qual objeto esta indica. Caso o participante não consiga identificá-lo, os outros poderão 12 Conforme nos inspira a pensar Deleuze (1988, p. 259): "Fazem-nos acreditar, ao mesmo tempo, que os problemas são dados já feitos e que eles desaparecem nas respostas ou na solução; (...) seriam apenas quimeras. Fazem-nos acreditar que a atividade de pensar, assim como o verdadeiro e o falso em relação a esta atividade, só começa com a procura de soluções, só concerne às soluções. (...) É um preconceito infantil, segundo o qual o mestre apresenta um problema, sendo nossa a tarefa de resolvê-lo e sendo o resultado desta tarefa qualificado de verdadeiro ou de falso por uma autoridade poderosa. (...) Como se não continuássemos escravos enquanto não dispusermos dos próprios problemas, de uma participação nos problemas, de um direito aos problemas, de uma gestão dos problemas".
  • 10. 10 ajudá-lo, de modo que, ao final da atividade, todos os objetos tenham sido relacionados à sua descrição.  Dialogar sobre as dificuldades encontradas ao realizar as descrições e solicitar a sugestão de alternativas que poderiam ser adotadas para facilitar a tarefa. Parte 2  Leitura do livro Maneco, caneco, chapéu de funil, de Luiz Camargo;  Conversar com os participantes sobre as diferentes maneiras pelas quais pode ser interpretado um mesmo objeto (sua utilidade, uso, finalidade, etc.) e como isso pode refletir no modo de compreensão do mesmo. Assim como um objeto pode ser descrito através de distintos nomes/características, também pode abarcar uma diversidade de usos e significações.  Após a discussão, propor a elaboração de um texto coletivo envolvendo os objetos descritos: cada participante apresenta seu objeto e todos colaboram para a criação da história. Referências BARTHES, Roland. Crítica e Verdade. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1970. CAMARGO, Luiz. Maneco, caneco, chapéu de funil. São Paulo: Ática, 1980. CORAZZA, Sandra Mara. Notas. In: HEUSER, Ester Maria Dreher (org.). Caderno de Notas 1: projeto, notas & ressonâncias. Cuiabá: EdUFMT, 2011. DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1988. JACKSON, Tom; OHO, Linda E. Preparando-se para filosofar. In: KOHAN, Walter Omar; WAKSMAN, Vera (orgs.). Filosofia para crianças: na prática escolar. Vol. 2. Petrópolis: Vozes, 1998. KOHAN, Walter Omar; WAKSMAN, Vera (orgs.). Filosofia e infância: possibilidades de um encontro. Vol. 3. Petrópolis: Vozes, 1999. ______. Filosofia para crianças: a tentativa pioneira de Matthew Lipman. Vol. 1. Petrópolis: Vozes, 1998. MONTENEGRO, Maria Aparecida de Paiva. Linguagem e conhecimento no Crátilo de Platão. Kriterion, Belo Horizonte, v. 48, n. 116, dez, 2007. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/kr/v48n116/a0648116.pdf>. Acesso em: 18/01/2012. PLATÃO. Crátilo: Obra Completa. Madrid: Aguilar, 1972. ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo. Ilustrações de Adalberto Cornacava. – 3. ed. – Guarulhos: Salamandra, 2007. RYLANT, Cynthia. A velhinha que dava nome às coisas. Ilustrado por Kathryn Brown. Tradução de Gilda de Aquinol. São Paulo: BRINQUE-BOOK, 1997.