3. A Antropologia Estrutural nasce na década de 1940. Lévi-Strauss
é o seu grande teórico e defende que existem regras
estruturantes das culturas na mente humana. Desta forma estas
regras constroem pares de oposição para organizar o sentindo.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
4. O estudo e uso da antropologia nas ações missionárias é
relativamente novo e possivelmente recebeu seu primeiro forte
impulso a partir da publicação do artigo de Malinowski
intitulado Practical Anthropology (Antropologia Prática) em
1929, ironicamente ele mesmo um opositor à atuação
missionária, com algumas exceção.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
5. Um dos pioneiros no incentivo do uso da antropologia nas ações
missionárias foi Edwin Smith (1876-1957), filho de missionários e
nascido na África do Sul, tendo servido também como
missionário entre 1902 e 1915 entre o povo Baila-Batonga na
Zâmbia.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
6. Apesar de se considerar apenas um antropólogo amador, sua
constribuição nesta área junto aos movimentos missionários foi
marcante, bem como o reconhecimento que recebeu da
comunidade antropológica internacional da época, sendo
membro da Royal Anthropological Institute of Great Britain de
1909 até sua morte e tendo atuado por alguns anos como
presidente da mesma.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
8. ANTROPÓLOGOS VERSUS MISSIONÁRIOS
Utilizo ‘versus’ de forma exploratória, expondo uma realidade
vivida, porém não desejada. Antropólogos e missionários
possuem nas últimas décadas uma história de encontros e
desencontros devido a vários fatores, conceituais e
metodológicos, e talvez especialmente à própria natureza de
suas funções na relação com a sociedade.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
9. Ao passo que antropólogos se propõe à produção de
conhecimento, a partir de uma abordagem de pesquisa e
reflexão, missionários se dedicam principalmente à produção de
serviço, em ações de relação e intervenção. Antropólogos se
aproximam dos grupos humanos com a pergunta “o que
significa?”, enquanto missionários o fazem indagando “qual é o
sofrimento?”. A primeira pergunta induz à pesquisa e a segunda
à evangelização e/ou um projeto social.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
10. Esta diferença funcional explica também as raízes da mútua
frustração. Antropólogos percebem as ações missionárias como
sendo intervencionistas, geradoras de mudanças e, em uma
perspectiva relativista, nocivas ao grupo.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
11. Por outro lado, missionários percebem as pesquisas
antropológicas como sendo estéreis, com desencanto por não se
associarem diretamente às necessidades do segmento humano
estudado. Não é incomum observar antropólogos questionando
a base do conhecimento teórico de missionários em relação à
antropologia e cultura (“são despreparados para a interpretação
cultural”), como missionários questionando a utilidade da
pesquisa antropológica, sobretudo em áreas de grave sofrimento
humano (“são dedicados à pesquisa de interesse próprio, mas
insensíveis ao outro”).
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12. MISSIONÁRIOS-ANTROPÓLOGOS
É ainda incipiente a presença de missionários-antropólogos no
universo missionário mundial, porém não é nova esta função.
Desde 1868 até nossos dias diversos acadêmicos missionários
desenvolveram pesquisas e elaboraram estudos motivados pela
produção de uma linha de treinamento antropológico e
missionário.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
13. Ainda que haja grandes controvérsias a respeito da antropologia
aplicada é indiscutível a invariável tendência mundial
instrumentalista a qual caminha para, cada vez mais, utilizar a
antropologia como área do conhecimento humano aplicada nas
soluções dos problemas sociais.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
14. A antropologia aplicada é reconhecida como a união entre o
conhecimento e a ação, a pesquisa e a atividade. A antropologia
missionária pode ser vista, portanto, como a antropologia
aplicada às pesquisas e ações missionárias.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
15. ANTROPOLOGIA DA COMUNICAÇÃO E AS DEMANDAS
MISSIONÁRIAS
Há contínua necessidade da Antropologia missionária prosseguir
em outros degraus de estudo, pesquisa e aplicação. Por um lado,
devido a sua ênfase etnográfica estudos foram feitos em
milhares de grupos e segmentos sociais nos últimos 150 anos
envolvendo cosmovisão, organização social e análise linguística.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
16. Se a experiência de campo é um ponto forte entre a comunidade
missionária mundial, a ausência de métodos de pesquisa tem
sido um de seus desafios. Diversos métodos surgiram no intuito
de fornecer ao segmento missionário ferramentas de pesquisa,
estudo e comunicação em contexto intercultural, especialmente
ligados às sociedades missionárias no século 19 e início do
século 20.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
17. Outros, com maior rigor científico, surgiram a partir da década
de 60. Basicamente são métodos em três áreas distintas: a
antropologia (métodos etnográficos e de registro cultural), a
linguística (métodos de análise linguística e tradução da Bíblia), e
a missiologia (métodos de evangelização transcultural e plantio
de igrejas culturalmente relevantes).
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
18. De forma geral poderíamos afirmar que o contexto de
treinamento missionário necessita passar de sua fase etnográfica
e adentrar a etnológica. É preciso não se contentar tão somente
na coleta sistemática de dados culturais, mas também em sua
análise e compreensão, e nesta direção há duas áreas de forte
carência de atenção nos estudos e preparo missionário mundial:
o estudo da identidade cultural e a comunicação intercultural.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
19. Teorias antropológicas
No século XIX surge o evolucionismo unilinear, que aplica a
teoria da evolução na culturalidade e gera o pressuposto que o
homem passaria por estágios de evolução cultural: da selvageria
à barbárie, da barbárie à civilização e da civilização ao estado de
perfeição relativa.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
20. Tais estudos se basearam na observação de culturas
ultramarinas, a partir do gabinete e não do campo, de forma
distante e pouco aprofundada. São estudos etnocêntricos e
comparativos, relegando às etnias minoritárias diferentes graus
de primitivismo tendo a cultura européia como ponto de
referência do processo civilizatório.
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21. Conceituando Cultura
Vivíamos, no século XVIII, a era do determinismo geográfico
onde toda diferença cultural e lingüística era considerada a partir
das diferenças regionais.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
22. A atenção na incipiente etnologia da época passou a se
concentrar nos ambientes onde “clima, condições de
subsistência, alimento, acesso à água potável, qualidade do ar e
distanciamento de outros ajuntamentos humanos determinam
em larga escala a identidade de uma pessoa e seu grupo”. Era
uma visão parcial da identidade humana que viria a receber
novos questionamentos.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
23. Em face desta crescente influência cultural analítica, no fim do
século XVIII e início do XIX era ampla a utilização do termo kultur
ao se referir ao bojo de valores espirituais em um povo ou
nação.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
24. Paralelamente civilization era um termo francês que transmitia a
ideia do desenvolvimento estrutural de uma nação. Edward Tylor
(1832-1917) sintetizou as duas expressões na nomenclatura
inglesa culture a partir da qual várias escolas foram fundadas e
pensamentos se distinguiram no estudo e pesquisa das
distinções e semelhanças do homem em seus diversos
segmentos.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
25. Inicialmente se conceituou cultura como “todo comportamento
aprendido, assimilado, avaliado e sujeito a progressos; tudo
aquilo que independe de uma transmissão genética”.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
26. A partir de 1920 antropólogos como Boas, Wissler e Kroeber
passaram a desenvolver um estudo antropológico a partir da
análise das ideias e não dos ambientes. Vieram a questionar o
determinismo geográfico a partir da observação de que grupos
historicamente habitantes do mesmo território se desenvolviam
culturalmente de forma distinta.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
27. De forma geral, portanto, poderíamos citar Paul Hiebert e
conceituar cultura como “os sistemas mais ou menos integrados
de ideias, sentimentos, valores e seus padrões associados de
comportamento e produtos, compartilhados por um grupo de
pessoas que organiza e regulamenta o que pensa, sente e faz”28.
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28. Os Padrões Ético, Êmico e Êmico-Teológico
A Etnologia é normalmente estudada como um ramo
antropológico que está ligado às formulações da identidade
cultural de um segmento ou agrupamento39. Usando-a como
ponto de partida para a avaliação cultural sugerimos três
distintas formas de abordar o homem e suas interações, ou seja,
de avaliá-lo em razão do desenvolvimento de sua existência
social, que são os padrões ético, êmico e êmicoteológico.
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
29. Estes primeiros padrões (ético e êmico) já têm sido largamente
utilizados na abordagem antropológica para avaliação de um fato
ou ideia.
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31. Ao longo de 1 século e meio de publicações antropológicas com
aplicabilidade missionária podemos observar o grande valor que
antigos missionários, bem como sociedades missionárias, deram
ao uso da antropologia para o direcionamento de suas
abordagens de campo e o treinamento das novas gerações.
Pontuo alguns valores da antropologia missionária:
ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA
32. 1. Leva a perceber os diferentes contextos no qual se está
inserido, e prepara para neles transitar.
2. Expõe a importância e complexidade da cultura, bem como as
possibilidades científicas de interpretá-la.
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33. 3. Identifica os mecanismos sociais que colaboram para melhor
aquisição linguística e integração pessoal no grupo abordado.
4. Conscientiza que todo encontro cultural é um processo de
troca e, como tal, ao mesmo tempo rico e sensível.
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34. 5. Destaca a relevância da compreensão da cultura para o
desenvolvimento de ações comunitárias que evitem o
paternalismo, o assistencialismo e o imposicionismo.
6. Colabora na identificação, com o grupo, das áreas de carência
e demanda social e as possibilidades de ações de minimização
do sofrimento humano.
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