1) O documento discute as grandes revoluções científicas, econômicas e sociais ao longo da história da humanidade, incluindo a Revolução Científica, a Revolução Industrial e as mudanças sociais.
2) Essas revoluções mudaram significativamente a visão de mundo, o conhecimento, a cultura e a sociedade, especialmente na Europa, e levaram a avanços como satélites, computadores e internet.
3) No entanto, essas revoluções também trouxeram problemas como desigualdade
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
As grandes revoluções científicas, econômicas e sociais e o progresso da humanidade
1. 1
AS GRANDES REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS E O
PROGRESSO DA HUMANIDADE
Fernando Alcoforado*
O termo revolução refere-se a toda e qualquer mudança radical que atinja drasticamente
os mais variados aspectos da vida de uma sociedade. A revolução é uma mudança ou
transformação radical em relação ao passado, que pode ocorrer em distintos âmbitos
(científico, econômico, social, etc.). Ao longo da história da humanidade, ocorreram três
tipos de grandes revoluções que mudaram o mundo: 1) científica; 2) econômica; e, 3)
social. É oportuno observar que as mudanças revolucionárias podem ser graduais ou
súbitas que levam a uma quebra de paradigma nos âmbitos científico, econômico e
social. A quebra de paradigma no âmbito científico ocorre quando antigas leis da
natureza e na sociedade são desafiadas e substituídas por novas leis mais avançadas que
as precedentes. No âmbito econômico, antigos sistemas de produção são substituídos
por novos mais avançados do que os precedentes. No âmbito social, antigos sistemas
políticos e sociais são substituídos por novos mais avançados do que os precedentes.
O termo Revolução Científica é considerado como um processo de evolução que leva
em conta as mudanças científicas ao longo da história da humanidade que
desencadearam o surgimento das ciências modernas e impactaram promovendo
mudanças sobre a economia e a sociedade como um todo. O termo Revolução
Econômica diz respeito ao processo de desenvolvimento das forças produtivas que
aconteceram graças às revoluções científicas e às revoluções sociais ocorridas no
âmbito da sociedade e impactaram sobre as esferas científica e econômica. Por sua vez,
o termo Revolução Social leva em conta mudanças abruptas no poder político e/ou na
organização estrutural de uma sociedade que resultaram de revoluções nas esferas
científica e econômica.
As revoluções científicas ocorreram no que hoje é chamado de ciências exatas e da
natureza e nas ciências sociais. Através das revoluções científicas, foram identificadas
as leis que governam a natureza e a sociedade. Assim, as revoluções científicas
contribuíram decisivamente para gerar o "pensamento do mundo moderno" quando o
conhecimento, a visão de mundo, a cultura e a sociedade começaram a mudar
especialmente na Europa, berço da Revolução Científica no século XV. Os efeitos
das revoluções científicas são incontáveis porque mudaram significativamente a história
da humanidade.
Originalmente, as revoluções científicas ocorriam com base em iniciativas individuais.
Posteriormente, sobretudo a partir da 1ª Revolução Industrial, indivíduos isoladamente
e, também, os vinculados a empresas e/ou Universidades promoveram quebras de
paradigmas nos campos científico e tecnológico. Mais tarde, sobretudo no século XX,
os avanços científicos e tecnológicos ocorreram sob os auspícios dos governos. Todos
os avanços científicos contribuíram decisivamente para as revoluções econômicas
ocorridas ao longo da história da humanidade. As grandes revoluções científicas
contribuiram para o advento de grandes revoluções econômicas ao promover o
desenvolvimento das forças produtivas ao longo dos séculos e das grandes revoluções
sociais ao contribuirem para as mudanças na concepção do mundo.
2. 2
O termo Revolução Econômica diz respeito ao processo de desenvolvimento das forças
produtivas ocorrido graças aos avanços científicos que, associados às revoluções sociais
ocorridas no âmbito das sociedades, contribuíram para a realização de transformações
na organização da produção de suas atividades econômicas e, também, nos modos de
produção econômica. Por sua vez, Revolução Social é uma mudança abrupta no poder
político e/ou na organização estrutural de uma sociedade que resulta da superação de
uma gigantesca contradição entre o estágio de desenvolvimento das forças produtivas da
sociedade e as relações sociais de produção e, também, da gigantesca contradição entre
os interesses do Estado e da grande maioria da Sociedade Civil que estariam a exigir
mudanças na esfera econômica, nas superestruturas política e jurídica e na sociedade
como um todo.
As grandes revoluções científicas, econômicas e sociais e o progresso da
humanidade
O progresso da humanidade é o resultado das grandes revoluções científicas,
econômicas e sociais. É importante observar que o conceito de progresso é bem recente.
O iluminismo trouxe a idéia de que o progresso é necessário e só pode acontecer com o
uso da razão. A efetiva ideia de progresso no pensamento social veio com a Revolução
Industrial ocorrida no século XVIII. Do século XVIII ao século XX, passou-se a
acreditar que os únicos meios confiáveis para o melhoramento da condição humana
provêm das novas máquinas, substâncias químicas e das mais diversas técnicas.
Inclusive os problemas sociais e do meio ambiente que têm acompanhado os avanços
científicos e tecnológicos raras vezes têm afetado esta fé. Há uma crença generalizada
de que existe um laço positivo entre desenvolvimento técnico/ econômico e o bem-estar
humano e de que a próxima onda de inovações científicas, econômicas e sociais
proporcionará um progresso ainda maior.
Ressalte-se que Auguste Comte, ideólogo do positivismo, e Karl Marx, ideólogo do
socialismo e comunismo, perseguiam o progresso econômico, político e social, porém
com caminhos diferentes. Comte, buscava a reorganização da sociedade através da
sociologia cientifica, considerada uma base sólida para um estudo da humanidade, que
deve encerrar o estado de crise em que se encontram há longo tempo as nações mais
civilizadas. Marx, acreditava que, através de revoluções sociais pelas quais a
humanidade teria de atravessar ao longo de sua história, seria alcançado o progresso
desejado. Apesar de caminhos diferentes, pode-se identificar que ambos têm uma
concepção de progresso para a humanidade com idéias de desenvolvimento. Claude
Lévi-Strauss, antropólogo, professor e filósofo francês, considerado fundador da
antropologia estruturalista, afirma que tendemos a encarar o progresso como uma
escada a qual toda sociedade deveria subir. As que não subiram passam a ser atrasadas
ou estáticas. A moderna teoria do progresso tomou forma na querela entre antigos e
modernos, em especial na segunda metade do século XVII.
Alguns séculos foram transcorridos e a humanidade passou a dispor de satélites
artificiais monitorando nosso planeta e outros do espaço sideral, chegou à Lua, tem
supercomputadores, utiliza a internet, sequencia o DNA dos organismos e troca genes
entre eles. Tem geladeira, micro-ondas, ar condicionado, telefone celular, GPS, viaja de
avião e frequenta cinemas 3D. Foram realizadas descobertas na medicina que
aumentaram bastante nossa expectativa de vida. Certamente temos uma vida muito mais
confortável do que Comte e seus contemporâneos tiveram, e isso é fruto do
3. 3
investimento que a humanidade fez no progresso científico, econômico e social. Mas,
apesar desse progresso, a humanidade teve que lidar, também, com a exclusão social, a
concentração de renda, o subdesenvolvimento e graves danos ambientais, agredindo e
restringindo direitos humanos essenciais, além de levar o sistema global à bancarrota e a
guerras infindáveis.
Este artigo sintetiza o conteúdo do livro As grandes revoluções científicas, econômicas
e sociais que mudaram o mundo de nossa autoria, publicado pela Editora CRV de
Curitiba, cujo lançamento ocorreu no dia 15/09/2016 em Salvador, Bahia. Este livro
consta de três partes seguintes: 1) As grandes revoluções científicas que mudaram o
mundo; 2) As grandes revoluções econômicas que mudaram o mundo; e, 3) As grandes
revoluções sociais que mudaram o mundo.
As grandes revoluções científicas que mudaram o mundo
As grandes revoluções científicas na história da humanidade apresentadas no livro
acima citado contemplam os avanços ocorridos no campo da metodologia científica
como os que relatam a quebra do paradigma aristotélico à evolução dos métodos
científicos na história da ciência e a evolução da Matemática da Antiguidade à era
contemporânea com sua contribuição ao avanço da Ciência. Neste livro, estão
apresentadas também, as mudanças na concepção do mundo resultantes dos avanços nas
ciências físicas e químicas quando se evoluiu, por exemplo, da teoria Geocêntrica para a
Heliocêntrica, dos parcos conhecimentos da Física ao desenvolvimento da Mecânica
Clássica, da Alquimia à Química Moderna, dos paradigmas estabelecidos na Mecânica
Clássica aos novos paradígmas resultantes da Teoria da Relatividade, dos paradígmas
deterministicos da Mecânica Clássica newtoniana aos novos paradígmas probabilísticos
resultantes da Mecânica Quântica, do determinismo científico criado pelas Ciências
Clássicas à Teoria do Caos e do conhecimento parcial sobre o Universo até a descoberta
da matéria e da energia escura.
Ainda com relação às grandes revoluções científicas na história da humanidade
apresentadas neste livro são contempladas as mudanças na concepção do mundo com os
avanços nas ciências da saúde quando se evoluiu, por exemplo, dos parcos
conhecimentos em Medicina à Medicina Moderna, da crença religiosa na criação divina
à teoria da evolução das espécies de Charles Darwin e do desconhecimento dos genes
do corpo humano (DNA) ao mapeamento de todos os genes através do Projeto Genoma
Humano. Neste livro, estão apresentadas, também, as mudanças na concepção do
mundo com os avanços nas ciências sociais quando se evoluiu da tradição da Psicologia
como ciência da consciência estudada exclusivamente por filósofos ao status de ciência,
dos parcos conhecimentos em Economia até a descoberta das leis que governam os
sistemas econômicos e dos parcos conhecimentos sobre a realidade social à
transformação da Sociologia em ciência social.
Finalmente, na parte relativa às grandes revoluções científicas, foram contempladas as
mudanças na concepção do mundo com os avanços nas ciências da sustentabilidade
ambiental e social quando se evoluiu, por exemplo, do uso do fogo nos primórdios da
humanidade e da utilização dos combustíveis fósseis como fonte de energia às
modernas fontes renováveis de energia e do insustentável modelo de desenvolvimento
atual ao modelo de desenvolvimento sustentável a inaugurar. Foram consideradas as
mudanças na concepção do mundo com os avanços na ciência da educação quando se
4. 4
evoluiu da educação tradicional baseada na fragmentação do ensino à sua substituição
pelo ensino transdisciplinar e integral e as mudanças na concepção do mundo com os
avanços na ciência da informação com a evolução dos sistemas de informação desde a
invenção da imprensa com Gutenberg até o surgimento da Internet no século XXI.
As grandes revoluções econômicas que mudaram o mundo
As grandes revoluções econômicas ocorridas desde os primórdios de evolução da
humanidade até a era contemporânea são as seguintes: 1) 1ª Revolução Agrícola (6000
a.C.); 2) 2ª Revolução Agrícola (entre os séculos XII e XV na Baixa Idade Média); 3)
Revolução Comercial (entre o século XII e o século XVIII); 4) 3ª Revolução Agrícola
(nos séculos XVII e XVIII na Inglaterra); 5) 1ª Revolução Industrial (1780-1830); 6) 2ª
Revolução Industrial (1860-1900); 7) 4ª Revolução Agrícola (entre as décadas de 1960
e 1970 do século XX com a Revolução Verde); 8) 3ª Revolução Industrial (década de
1970); e, 9) Revolução Informacional ou Pós-Industrial (após a década de 1970).
A 1ª Revolução Agrícola (6000 a.C.) contribuiu para a fixação dos seres humanos em
determinadas regiões e para o surgimento das grandes civilizações como a Egípcia na
Antiguidade e a 2ª Revolução Agrícola promoveu entre os séculos XII e XV na Baixa
Idade Média mudanças nas relações de trabalho no campo, além de contribuir para a
desintegração do sistema feudal de produção. A Revolução Comercial foi fruto dos
novos tempos vividos na Europa, entre os séculos XII e o XVIII, como resultado da
transição do período medieval para o Moderno, da expansão ultramarina e
do mercantilismo preparando o advento do moderno capitalismo. A 3ª Revolução
Agrícola ocorrida entre os séculos XVII e XVIII na Inglaterra foi um fator importante
no desencadeamento da 1ª Revolução Industrial (1780-1830) que lançou as bases da
indústria que se disseminou por todo o mundo se apoiando em invenções que
promoveram mudanças extraordinárias nos setores produtivos e de transportes. A 2ª
Revolução Industrial (1860-1900) tem suas bases nos ramos metalúrgico e químico, o
aço torna-se um material básico, a indústria automobilística assume grande importância
e o sistema fordista de produção se tornou o paradigma de regulação técnica e do
trabalho em todo o mundo industrial.
A 4ª Revolução Agrícola ou Revolução Verde ocorrida entre as décadas de 1960 e 1970
do século XX contribuiu para a invenção e disseminação de novas sementes e práticas
agrícolas que permitiram um vasto aumento na produção agrícola, sobretudo em países
capitalistas periféricos. A 3ª Revolução Industrial ocorrida na década de 1970 é técnico-
científica inspirada no toyotismo cujas características foram desenvolvidas pelos
engenheiros da Toyota, indústria automobilística japonesa, cujo método consistiu em
abolir a função de trabalhadores profissionais especializados para torná-los especialistas
multifuncionais. A tecnologia característica desse período é a microeletrônica, a
informática, a máquina CNC (Controle Numérico Computadorizado), o robô, o sistema
integrado à telemática (telecomunicações informatizadas) e a biotecnologia. A
Revolução Informacional ou Pós-Industrial ocorrida após a década de 1970 tem como
uma de suas principais características o rápido crescimento do setor de serviços, em
oposição ao manufatureiro e o uso em larga escala da tecnologia da informação tendo o
conhecimento e a criatividade como as matérias primas cruciais das economias pós-
industriais.
As grandes revoluções sociais que mudaram o mundo
5. 5
As grandes revoluções sociais apresentadas no livro As grandes revoluções científicas,
econômicas e sociais que mudaram o mundo que contribuiram decisivamente para a
evolução política e social além das fronteiras dos países onde elas foram realizadas,
estão descritas a seguir: 1) Revolução Gloriosa na Inglaterra (1689); 2) Revolução
Americana (1776); 3) Revolução Francesa (1789); 4) Revolução Meiji no Japão (1868);
5) Revolução Russa (1917); 6) Revolução Escandinava (1930); 7) Revolução Chinesa
(1949); e, 8) Revolução Cubana (1959). A Revolução Gloriosa na Inglaterra, a
Revolução Francesa e a Revolução Meiji no Japão foram realizadas para abolir o
feudalismo e implantar o capitalismo liberal. A Revolução Americana foi uma luta de
libertação nacional da burguesia colonial contra a dominação britânica que fez avançar
o capitalismo liberal nos Estados Unidos. A Revolução Russa, a Revolução Chinesa e a
Revolução Cubana foram realizadas para implantar o socialismo, respectivamente, na
Rússia, China e Cuba de acordo com a ideologia marxista e a Revolução Escandinava
foi realizada nos países nórdicos com o objetivo de implantar a social democracia que é
um modelo de sociedade que incorpora aspectos do capitalismo e do socialismo. À
exceção da Revolução Gloriosa na Inglaterra e da Revolução Escandinava, as demais
foram realizadas com o uso da violência. Essas revoluções sociais desobstruíram os
caminhos para os avanços da ciência e dos sistemas econômicos onde elas se
realizaram.
Esperamos que o livro As grandes revoluções científicas, econômicas e sociais que
mudaram o mundo contribua para a humanidade refletir sobre seu passado e inventar
um futuro que leve efetivamente ao progresso científico, econômico e social em novas
bases.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.