O documento discute o desenvolvimento local no Rio Grande do Sul sob três perspectivas: 1) A resiliência dos sistemas produtivos locais e os bloqueios ao desenvolvimento; 2) A política industrial e a economia territorial; 3) O papel da ciência, tecnologia e inovação e a importância da abordagem territorial e da prospectiva para o planejamento estratégico.
2. Roteiro
1. Sobre desenvolvimento, resiliência e bloqueios
2. Política industrial e economia territorial
3. Onde se encaixam CT&I?
4. Em favor do território e da prospectiva
3. Sobre desenvolvimento, resiliência e
bloqueios
“(...) desenvolvimento é a combinação de
transformações de ordem mental e social
de uma população que lhe possibilitem o
aumento cumulativo e duradouro de seu
produto real global.” (Perroux, 1964)
• Quando se analisa a formação do RS e a estruturação de sua
economia, é fácil identificar os grandes traços que hoje têm
suas regiões, as especializações produtivas, as infraestruturas
e assim por diante.
• No período mais recente, de 1980 para cá, houve poucas
transformações reais de estrutura produtiva. Obviamente,
setores novos aparecem (informática, eletrônica, automóveis),
mas nada que altere as tendências fortes.
4. • Existe uma grande inércia nas localizações das
atividades humanas. Mesmo sofrendo crises, as
atividades não se dispersam. Podem ter seu tamanho
reduzido, mas permanecem presentes.
• Essa resiliência dos sistemas localizados é tanto maior
quanto maior for o sucesso da especialização. Isso se
deve à criação histórica das condições de
competitividade e autonomia da produção especializada.
• O sucesso pode levar ao bloqueio.
6. SETOR OBSERVAÇÕES
Indústria Oceânica e Polo Naval Há poucas informações sistematizadas. Os Cadernos não
apresentam o tamanho do mercado num horizonte mais longo,
não há menção a competidores.
Reciclagem e Despoluição Poucas informações. Setor pouco estruturado (os segmentos
são unidos pela origem da matéria-prima)
Equipamentos para Indústria de Além do Plano da Petrobrás, o Caderno não traz muitas
Petróleo e Gás informações. Como o setor é estruturado, há estudos e outras
fontes de informação.
Calçados e Artefatos Setor bem estudado. Há muitas informações.
Eletrônica, Automação, Setor estruturado em APL, facilitando a obtenção das
Comunicações informações
Software Setor bem estudado, com associações atuantes
Petroquímica, Produtos de Setor estruturado em torno do Pólo Petroquímico. Entretanto,
Borracha e Artefatos de Borracha há poucas informações sobre a chamada terceira geração
Madeira, Celulose e Móveis Cadeia extensa. O segmento Móveis tem estrutura de APL nas
principais regiões produtoras. O segmento Celulose tem vários
estudos. A Madeira é mais dispersa e menos conhecido.
7. Máquinas e Implementos Setor bem conhecido, mas as condições de competitividade
Agrícolas locacional carecem de análises mais aprofundadas
Automotivo e Implementos Setor bem estudado. No Caderno, não fica claro o
Rodoviários posicionamento competitivo da produção gaúcha.
Agroindústria (sete segmentos) Há dados gerais sobre produção e consumo, mas faltam
análises sobre a demanda e sobre os problemas (competição
com outras localizações, produtividade, entre outros)
Indústria de Criatividade Os dados apresentados são de estudo da Firjan. Trata-se de
setor extenso e complexo, do qual se sabe pouco no âmbito do
RS
Saúde Avançada e Há estudos disponíveis no estado
Medicamentos
Energia Eólica Há estudos (mapa dos ventos, etc)
Semicondutores Cadeia pequena no RS, com poucos players. Informações
abundantes
Biocombustíveis Tem estudos e informações
8. • Nos Cadernos Setoriais aparecem muitas lacunas de
informações importantes, tanto para o desenvolvimento
dos setores no RS, quanto para o desenvolvimento dos
locais onde os setores estão ou estarão.
• Ou seja, a política industrial não está completa.
• Ela só se completará com o aprofundamento do que foi
feito até agora: padrão de localização, padrão de
competição, elementos de infraestrutura necessários e
localizados e assim por diante.
9. Atividades emergentes “localizadas”
• Metade Sul
• Indústria naval em Rio Grande – o impacto é maior para Rio
Grande e Pelotas (aliás, para a Aglomeração Urbana do Sul) do
que para o resto da região. => desenvolvimento de fornecedores,
formação de pessoal, mercado de habitação, atividades de lazer e
outros serviços às famílias.
• Silvicultura – por si, não cria empregos. As possíveis atividades a
jusante é que poderão os criar. As fábricas de celulose são de
processo => poucos empregos também. As fábricas de móveis
tendem a criar mais empregos e puxarem uma cadeia mais longa
de fornecedores locais e regionais.
•
Outra questão sobre a silvicultura é que sua expansão pode
auxiliar a destruição do Bioma Pampa.
10. • Norte
• Laticínios – pode aumentar a diversificação, mas tem pouca
amplitude. O produtor, que já está no mercado do leite, terá
benefício. O novo terá alguma dificuldade para amortizar os
investimentos necessários (um tambo para “dar certo” exige um
investimento inicial em torno de 500 mil – vacas, equipamentos,
instalações, giro – com uma baixa taxa de retorno).
As pragas da soja resistentes ao glifosato talvez sejam um impulso
maior para a diversificação (pois exigem rotação de culturas para
seu controle => passa a ser vantagem plantar grãos de alto risco
(trigo) ou de pouco mercado (canola, girassol)).
11. Onde se encaixam CT&I?
• Nos últimos 30 anos, CT&I se tornaram incontornáveis
nas discussões sobre desenvolvimento.
• O RS não tem estratégia de inovação consequente =>
discurso + $$
• As atividades promissoras estão ligadas às novas
tecnologias, que dependem da disponibilidade de pessoal
qualificado, de apoio em qualidade e metrologia, de
capacidade de P&D e de financiamento adequado.
• Neste ano de 2012, a Fapergs vai investir em torno de 36
milhões. Para o ano que vem, estão previstos 46 milhões.
A Fapemig investiu 284 milhões em 2010.
12. Em favor do território e da prospectiva
• A passagem do sistema produtivo nacional para o
território visto como unidade de análise de novas
estratégias de desenvolvimento constitui uma novidade
essencial na percepção dos sistemas de organização da
economia.
• Em primeiro lugar, o território não é somente um espaço
delimitado, no qual se desenvolvem dinâmicas
específicas sob a égide das autoridades locais. O
território é, também, o resultado de um processo de
construção e de delimitação efetivado pelos atores.
• Em segundo lugar, a valorização das atividades
econômicas nas dinâmicas territoriais implica a existência
de inputs (ativos que são utilizados para a criação de
produtos), os “recursos territoriais”.
13. • Se a existência do território pressupõe uma construção
histórica de longa duração da parte dos atores, isso significa
que as externalidades territoriais criadas pelos atores resultam
de um processo situado à montante, que integra um mundo
não comercial.
• Trata-se do sentido de uma distinção crucial que deve ser feita
entre recursos e ativos. O ativo é um fator “em atividade”, quer
dizer, valorizado no mercado. O recurso, diferentemente do
ativo, constitui uma reserva, um potencial latente e mesmo
virtual, que pode se transformar em ativo se as condições de
produção ou de criação de tecnologia assim o permitirem.
• Dessa forma, a expressão da variável territorial busca, nas
condições de elaboração de recursos à montante, a expressão
do trabalho de uma sociedade e, mais precisamente, do
próprio território relativamente à manifestação de sua
identidade.
14. • Nessa perspectiva, a relação local/global muda. A
estratégia local segue a dinâmica dos atores locais,
escapando da competitividade como estratégia
dominante.
• Planejar passa a significar orientar a ação da sociedade
para a obtenção de objetivos que ela mesma se dá.
• Como método, não basta olhar o passado e buscar as
tendências. É necessário olhar o futuro possível com o
filtro do território.
• Abordagem territorial e prospectiva podem fazer a
diferença num estado como o RS, cujos desafios
econômicos, sociais e ambientais não serão vencidos
com as receitas de sempre.