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UMA PUBLICAÇÃO DA COLGATE-PALMOLIVE PARA PROMOVER A EDUCAÇÃO CONTINUADA AOS PROFISSIONAIS DE ODONTOLOGIA



                                                           ANO 2 | NÚMERO 4 - JANEIRO 2010




                   EVIDÊNCIAS
            PARA O USO DE FLUORETOS
                EM ODONTOLOGIA




                 JAIME APARECIDO CURY                                      LIVIA MARIA ANDALÓ TENUTA
                 Professor Titular de Bioquímica                           Professora Doutora de Bioquímica
                 da Faculdade de Odontologia                               da Faculdade de Odontologia de
                 de Piracicaba – UNICAMP                                   Piracicaba – UNICAMP




                                                                                Uma publicação conjunta
Apresentação

    O flúor é hoje um dos mais populares agentes preventivos contra a cárie dentária. No entanto, seu
    mecanismo de ação é por diversas vezes interpretado de forma errônea, dando margem, inclusive, a
    interpretações incorretas sobre suas reais propriedades na manutenção da saúde oral.

    Elucidar todos os pontos sobre o uso do flúor é o objetivo desta quarta edição do Odontologia
    Baseada em Evidências. Aqui, reunimos informações a respeito da importância do uso de fluoreto
    em odontologia, seu mecanismo de ação e seus meios de uso. Além disso, também são tratadas suas
    limitações de uso, abordando, inclusive, o tema da fluorose.

    Esperamos que os profissionais da odontologia brasileira possam encontrar neste material um suporte
    para enriquecer ainda mais seu conhecimento.



    Boa leitura!

    Equipe de Relações Profissionais
    Colgate-Palmolive Brasil




2
Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia




Prefácio

A atuação dos profissionais da Odontologia nos dias atuais se volta cada vez mais à satisfação dos
pacientes de forma plena. Aqueles que necessitam de cuidados procuram cada vez mais informações
prévias sobre como e com quem fazer seus tratamentos, muitas vezes testando os conhecimentos
profissionais, mesmo que de uma forma leiga.

O profissional por sua vez tem que estar antenado com o que há de mais atual, sempre buscando
evidência científica para a sua atuação se tornar efetiva e ter o reconhecimento desejado. Esta
edição do Odontologia Baseado em Evidências, publicado pela Colgate, em parceria com a ABO
NACIONAL, é fruto de um trabalho conjunto que vem de longa data, sempre com o objetivo de levar
o melhor para os cirurgiões-dentistas de todo o Brasil.

O tema Flúor e sua utilização racional sempre foi motivo de dúvidas. Possibilitar o entendimento de
forma clara e segura do mecanismo de ação, meios de utilização, concentração e limitações do uso,
possibilitando ao profissional decidir o melhor caminho a seguir para cada caso específico é a nossa
meta. Para tanto escolhemos os Professores Jayme Aparecido Cury e Lívia Maria Andaló Tenuta,
professores que se destacam nacional e internacionalmente nos estudos sobre o tema.



Desejamos uma excelente leitura!

Norberto Francisco Lubiana
Presidente da ABO NACIONAL




                                                                                                       3
AUTORES




> Jaime Aparecido Cury                                                                                > Livia Maria Andaló Tenuta
Professor Titular de Bioquímica da Faculdade                                                          Professora Doutora de Bioquímica da Faculdade
de Odontologia de Piracicaba – UNICAMP                                                                de Odontologia de Piracicaba – UNICAMP
jcury@fop.unicamp.br                                                                                  litenuta@fop.unicamp.br




índice
Parte I: Por que usar fluoreto em Odontologia e seu mecanismo de ação anticárie ................................................................. 05
Parte II: Meios de usar fluoreto em Odontologia.................................................................................................................................... 08
          Meios de uso de fluoreto................................................................................................................................................................. 07
             Coletivos ....................................................................................................................................................................................... 08
             Individuais . .................................................................................................................................................................................. 09
             Profissionais . ............................................................................................................................................................................... 10
          Conclusão ............................................................................................................................................................................................. 12
Parte III: Limitações do uso de fluoreto em Odontologia..................................................................................................................... 13
Bibliografia recomendada................................................................................................................................................................................ 18


                                               Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia
                                                         Uma publicação conjunta Colgate e ABO.
                            Colgate-Palmolive Comercial Ltda. Rua Rio Grande, 752 - Vila Mariana - São Paulo/SP - CEP 04018-002.
        Tel. (11) 5088-5000. www.colgate.com.br | www.colgateprofissional.com.br. Coordenação: Patricia Bella Costa. Presidente da ABO: Dr. Norberto
               Francisco Lubiana. Produção: Cadaris Comunicação | cadaris.com.br. Proibida reprodução total ou parcial sem prévia autorização.

Todas as informações e opiniões expressas nestes artigos são de total responsabilidade de seus autores.
Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia




Parte I:



Por que usar fluoreto em Odontologia
e seu mecanismo de ação anticárie
Dentre os mais diversos agentes preventivos           que o mineral fluorapatita (FA) é menos solúvel
ou terapêuticos de sucesso, que causaram um           do que a hidroxiapatita (HA) da estrutura dental
impacto importante na saúde e qualidade de            para entender o mecanismo de ação. Quando
vida das pessoas, talvez seja difícil encontrar       as primeiras observações foram feitas de que
um que se assemelhe ao íon flúor (fluoreto =          populações que consumiam água naturalmente
F-). Não há quem não saiba, mesmo entre os            fluoretada apresentavam um menor índice de
indivíduos com menor acesso ao conhecimento           cárie, acreditou-se que o mineral FA incorpo-
gerado no meio científico, que “o flúor protege       rado ao dente seria importante para diminuir a
os dentes das cáries”. Por outro lado, o meca-        sua solubilidade. Essa idéia perdurou por mais
nismo de ação é muitas vezes interpretado de          de meio século, e ainda hoje vemos tal des-
forma inadequada, não sendo raro encontrar            crição em divulgações sobre o mecanismo de
descrições incorretas ou inapropriadas como:          ação do flúor. No entanto, mesmo que o dente
fortalece os dentes, inibe a produção de ácidos       seja enriquecido com uma grande quantidade
produzidos pelas bactérias da placa dental, mé-       de FA, a porcentagem em relação ao mineral
todo sistêmico de uso de flúor, entre outras, que     total não chega a 10%. Portanto, a menor solu-
muitas vezes dificultam a adequada indicação          bilidade do mineral FA não muda significativa-
deste íon na prevenção das cáries.                    mente a solubilidade do dente enriquecido com
                                                      ela. Portanto, não é necessário incorporar F- no
Frente aos mais diversos meios de uso e novos         dente em formação (efeito sistêmico) para que
produtos lançados no mercado diariamente,             ele tenha efeito anticárie.
fica difícil indicar o mais adequado, em nível
populacional ou individual, sem que a real ação       Mas afinal, como o F- controla a cárie dental?
do íon na cavidade bucal seja conhecida. O ob-        Para entender, voltamos ao conceito de que
jetivo dessa série intitulada “Evidências para o      FA é um mineral menos solúvel do que a HA.
uso de F- em Odontologia” é discutir os mais di-      Sendo menos solúvel, a FA é um mineral que
versos aspectos do uso do íon na prevenção das        tende a se precipitar mais facilmente do que a
cáries, desde seu mecanismo de ação (Parte I),        HA em meio contendo cálcio e fosfato inorgâ-
os meios de utilização (Parte II) e as limitações     nico, minerais esses presentes na saliva e placa
de seu uso, em termos de toxicidade aguda e           (biofilme) dental. Assim, havendo F- presente
crônica (Parte III).                                  na cavidade bucal, toda perda mineral ocorren-
                                                      do sob o biofilme dental cariogênico tenderá a
O primeiro conceito importante: o mecanismo           ser parcialmente revertida pela precipitação no
de ação do íon flúor é sempre o mesmo, inde-          dente do mineral menos solúvel FA. Com isso,
pendente do meio de utilização. Água fluoreta-        a perda mineral líquida é reduzida, uma vez
da, dentifrícios, bochechos, produtos para apli-      que parte dos minerais perdidos é reposta no-
cação profissional, materiais odontológicos que       vamente na estrutura dental. Assim, é comum a
liberam fluoreto, todos agem da mesma forma:          descrição de que o fluoreto diminui a desmine-
fornecem íons flúor para a cavidade bucal. É          ralização e ativa a remineralização do esmalte
necessário mais do que o simples conceito de          e da dentina.

                                                                                                         5
A diminuição da desmineralização diz respeito à        biofilme acumulado sobre os dentes e sendo este
    precipitação de minerais na forma de FA quando         exposto a açúcares, mesmo na presença de F- ha-
    a HA da estrutura dental está sendo solubilizada       verá a produção de ácidos e o mineral do dente
    pelo baixo pH gerado no biofilme dental exposto        terá a tendência de se dissolver. O F- no meio am-
    a carboidratos fermentáveis. A ativação da remi-       biente bucal será importante para reverter, como
    neralização sugere que, quando o pH do biofilme        descrito acima, parte desses minerais perdidos,
    dental volta a subir, ou quando este é removido        embora sempre alguma perda mineral ocorrerá.
    pela escovação expondo a estrutura dental à capa-
    cidade remineralizadora da saliva, a precipitação      Portanto, focar medidas preventivas no uso iso-
    de mineral nos locais onde ele foi perdido será ati-   lado de F-, como descrito acima, sem um con-
    vada se houver F- presente no meio ambiente bu-        trole dos demais fatores necessários para que a
    cal. Portanto, mais importante do que ter F- incor-    doença cárie se desenvolva, não é suficiente,
    porado na estrutura mineral do dente, é ter fluoreto   uma vez que isoladamente o fluoreto não im-
    disponível na cavidade bucal para ser incorpora-       pede o desenvolvimento de cárie (Diagrama 1).
    do na estrutura mineral do dente quando o mine-        Por outro lado, a reversão parcial da perda mine-
    ral mais solúvel HA está sendo dissolvido como         ral que ocorre na presença de F- é extremamente
    consequência do processo de cárie. Portanto,           importante, pois aumenta muito o tempo neces-
    uma maior concentração de F- no dente é conse-         sário para que algum sinal clínico de desmine-
    quência desses eventos, e não a causa da menor         ralização seja visível. Em outras palavras, desde
    perda mineral que ocorre na presença deste íon.        que o desafio cariogênico não seja excessivo, o
    O segundo conceito importante diz respeito à           F- disponível na cavidade bucal poderá reverter
    palavra parcialmente, descrita acima para refletir     as pequenas perdas minerais que ocorrem dia-
    a reversão da perda mineral pelo F-. Nesse sen-        riamente, de tal forma que nenhum sinal clínico
    tido, a causa da perda mineral no processo de          de desmineralização será observado.
    cárie dental é a presença de um biofilme dental        Clinicamente, este é o mecanismo de ação do F-.
    cariogênico, que produz ácidos quando exposto          Um indivíduo “zero placa” não terá cárie, mas
    a carboidratos fermentáveis (sacarose, principal-      existe tal indivíduo? Biofilmes sempre se forma-
    mente), causando a desmineralização dental na          rão sobre a superfície dental, e em algum local
    interface dente-biofilme. Assim, a presença de         negligenciado pela escovação ele poderá per-
    biofilme e sua exposição ao açúcar são fatores         manecer. Daí a importância de sempre manter
    indispensáveis para o desenvolvimento de cárie         o íon na cavidade bucal, independente da idade
    e infelizmente o F- tem pouco efeito sobre esses       do indivíduo, pois o processo de cárie corre em
    dois fatores. Embora ele possa apresentar algum        indivíduos de todas as idades, seja no esmalte
    efeito antimicrobiano, diminuindo a produção de        ou na superfície radicular exposta. Assim, a as-
    ácidos por bactérias, este só foi demonstrado em       sociação entre higiene bucal e fluoreto é a ma-
    laboratório, sob exposição a altas concentrações
                                                           neira mais racional de controlar a cárie dental.
    de F-, que não ocorrem regularmente na cavida-
    de bucal (mínimo 10 ppm F-). Assim, havendo            Iniciamos este texto dizendo que todos os

6
Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia




meios de utilização do fluoreto agem da mesma                        constantemente no meio ambiente bucal eram
forma, fornecendo íons para a cavidade bucal.                        classificados em métodos sistêmicos e tópicos
Resta saber como meios aparentemente diferen-                        de uso de flúor, fazendo com que até hoje per-
tes de utilização de F-, indo desde água fluore-                     dure o conceito de que não existindo água flu-
tada, passando pelos dentifrícios e chegando à                       oretada numa cidade devemos fazer suplemen-
aplicação profissional de F-, atendem esse re-                       tação medicamentosa de F-, pré ou pós-natal.
quisito. No passado esses meios de manter F-                         Qual é a evidência?




Diagrama 1- Ilustração do efeito do fluoreto na dinâmica do desenvolvimento de cárie dental e o consequente resultado clinico




                                                                                                                                7
Parte II:



    Meios de usar fluoreto
    em Odontologia
    Na seção anterior, abordamos o mecanismo de             de fluoreto, o que não necessariamente signifi-
    ação anticárie do fluoreto (íon flúor, F-) e a im-      ca que precisem de mais fluoreto.
    portância da manutenção desse íon na cavidade
                                                          4. Quem esteve com o processo de cárie sob con-
    bucal para interferir com o processo de desmi-
                                                             trole na presença de fluoreto, ficará sujeito a
    neralização e remineralização dental. No entan-
                                                             cárie na sua ausência. Como o importante é
    to, mesmo conhecendo o mecanismo de ação,
                                                             a manutenção de fluoreto na cavidade bucal,
    a variedade de meios de utilização de fluoreto
                                                             uma vez que o uso de fluoreto seja interrompi-
    disponíveis gera dúvidas: afinal, qual(is) meio(s)
                                                             do, seu efeito anticárie também será.
    de utilização de fluoreto devo recomendar para
    meu paciente?                                         Todos os meios de utilização de fluoreto objeti-
                                                          vam aumentar a concentração do íon na cavidade
    Infelizmente, não há uma resposta simples para        bucal. Considerando que o mecanismo de ação é
    esse questionamento. E mesmo que houvesse para        sempre o mesmo (“tópico”), classificar os meios
    os produtos disponíveis atualmente, novos pode-       de uso de fluoreto de acordo com sua exposição
    riam surgir e com eles novas dúvidas. Assim, o im-    sistêmica é um erro, pois sugere que na ausência
    portante é conhecer os fundamentos de cada meio       de água fluoretada algum outro meio de uso “sis-
    de utilização de fluoreto, como ele fornece íons      têmico” de fluoreto deveria ser utilizado, o que
    F- para a cavidade bucal e como diferentes meios      não se justifica atualmente. Assim, a classificação
    poderiam ser associados de acordo com a necessi-      mais racional para os meios de uso de fluoreto in-
    dade de cada paciente.                                clui sua abrangência e modo de aplicação, como
                                                          descrito a seguir:
    Nesse sentido, cabe recordar alguns conceitos im-
    portantes na indicação clínica de uso de fluoreto:

    1. Quem não está sujeito a cárie, não precisa de
       fluoreto. De fato, “falta de fluoreto” não cau-    Meios de uso de fluoreto
       sa cárie, mas sim acúmulo de placa (biofilme)
       dental e exposição frequente a carboidratos fer-   1. Coletivos
       mentáveis.                                         A fluoretação das águas de abastecimento públi-
                                                          co é um importante meio coletivo de uso de fluo-
    2. Quem está sujeito a cárie, precisa de fluoreto.    reto no Brasil. E é lei: toda cidade com estação de
       E qualquer indivíduo está sujeito a cárie, desde   tratamento de água deve agregar fluoreto na sua
       que acumule placa dental e tenha uma alta fre-     água (Lei Federal 6.050, de 24/5/74). A importân-
       quência de exposição a carboidratos – ‘quantos     cia dessa medida fica clara quando observamos
       cafezinhos com açúcar tomamos por dia; quan-       que a prevalência de cárie é menor em cidades
       tas bolachas recheadas; quantos refrigerantes?’    com água fluoretada em comparação com aque-
                                                          las sem fluoretação.
    3. Quem está mais sujeito a cárie, precisa mais de
       fluoreto. Observe que indivíduos sob alto desa-    Ao contrário do que se pensava no passado, não
       fio cariogênico são aqueles que mais precisam      é o fluoreto incorporado ao dente que diminui a

8
Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia




solubilidade da estrutura mineral do dente, como        letiva é a solução fluoretada para bochecho sema-
já abordado em nosso artigo anterior. Quando in-        nal usada em programas preventivos em escolas,
gerimos água fluoretada, o fluoreto absorvido e         como a solução de NaF a 0,2% (900 ppm de F-).
circulando pelo sangue irá atingir as glândulas sa-     Sua efetividade como método de prevenção da
livares, sendo secretado na saliva. Indivíduos que      cárie dental está suportada por estudos clínicos
vivem em região de água fluoretada apresentam           de qualidade. Os bochechos, assim como os den-
cerca de 0,02 ppm de F na saliva, contra 0,01           tifrícios fluoretados, promovem um aumento da
ppm de F em média em indivíduos que não vivem           concentração de fluoreto na saliva e no biofilme
em região de água fluoretada. No biofilme den-          dental, como será discutido no próximo item. A
tal, a diferença na concentração de fluoreto pode       recomendação de programas de uso semanal de
chegar a 10 vezes. Essa diferença tem efeitos mar-      bochecho deve levar em consideração a atividade
cantes em termos de físico-química, diminuindo a        de cárie do grupo populacional alvo (ver adiante).
tendência de desmineralização dental e ativando
a remineralização.

E não apenas o consumo de água fluoretada cau-          2. Individuais
sa esse efeito: alimentos cozidos com essa água,
                                                        Dentre todos os meios de utilização de fluoreto,
como arroz e feijão, por exemplo, trarão o mesmo
                                                        o dentifrício fluoretado é o mais racional, pois as-
benefício. Assim, mesmo que não consumam a
                                                        socia a desorganização do biofilme dental, cujo
água de abastecimento público fluoretada, indiví-
                                                        acúmulo é necessário para o desenvolvimento de
duos que vivem em regiões fluoretadas são bene-
                                                        cárie, à exposição da cavidade bucal ao fluoreto.
ficiados pelos alimentos preparados com ela.
                                                        De fato, existe evidência científica sólida de que
Assim, dois pontos importantes surgem para nos-         a escovação com dentifrícios fluoretados resulta
sa reflexão: 1. indivíduos que vivem em região de       em significativa diminuição do desenvolvimento
água fluoretada e se mudam para região de água          de cárie, com base em revisões sistemáticas de
não fluoretada não mais serão beneficiados pelo         estudos clínicos controlados de alta qualidade.
fluoreto, pois em alguns dias ou semanas a con-         Dentifrício fluoretado é, portanto, um meio de
centração de fluoreto na saliva será semelhante à       utilização de fluoreto que deve ser recomendado
dos indivíduos da região não fluoretada. Portanto,      para todos os indivíduos, de todas as idades.
água fluoretada só beneficia aqueles que a estão
                                                        Quando escovamos os dentes com dentifrício
continuamente ingerindo; 2. Para indivíduos que
                                                        fluoretado, a concentração de fluoreto na saliva
vivem em regiões não fluoretadas, a indicação de
                                                        aumenta, permanecendo alta por uma a duas ho-
outro meio de uso de fluoreto que envolva sua
                                                        ras. O fluoreto reagirá com as superfícies dentais
ingestão não se justifica atualmente, pois o efeito
                                                        limpas pela escovação formando produtos de rea-
do fluoreto é local, e o uso freqüente de dentifrí-
                                                        ção tipo fluoreto de cálcio (CaF2), e nos remanes-
cios fluoretados deverá ser o meio de escolha para
                                                        centes de biofilme não removidos devido a uma
manter fluoreto na cavidade bucal.
                                                        escovação imperfeita, a concentração de fluoreto
Outro meio de uso de fluoreto de abrangência co-        também permanecerá alta devido a difusão do

                                                                                                               9
fluoreto e sua retenção em reservatórios orgâni-       Soluções fluoretadas para bochecho diário,
     cos e inorgânicos no biofime. Mesmo 12 horas           como a solução de NaF a 0,05% (225 ppm F -)
     após a escovação, o biofilme remanescente em           também têm comprovada evidência científica de
     indivíduos utilizando dentifrício fluoretado duas      ação anticárie. Nesse caso, uma dúvida frequen-
     a três vezes ao dia terá maior concentração de         te é: quando indicar tais soluções? É importante
     fluoreto do que o biofilme de indivíduos não uti-      ter em mente que indivíduos utilizando dentifrí-
     lizando o dentifrício. A manutenção de fluoreto        cio fluoretado duas a três vezes ao dia já estão
     no biofilme remanescente é importante, pois este       levando fluoreto para a cavidade bucal durante
     é o local onde ele mais é necessário, onde poderá      essas ocasiões. Essa associação dentifrício + bo-
     ocorrer perda mineral da estrutura dental pela ex-     checho é importante? Veja abaixo no item Com-
     posição a carboidratos fermentáveis.                   binação de meios.
     A evidência científica existente para o efeito an-     Com relação ao uso de medicamentos com flúor,
     ticárie dos dentifrícios fluoretados está embasada     conhecidos como suplementos pré e pós-natal,
     por estudos utilizando dentifrícios com concen-        enquanto não há nenhuma evidência da efici-
     tração convencional de fluoreto, de 1.000 a 1.500      ência anticárie na prescrição para gestantes, há
     ppm F. A eficácia anticárie desses dentifrícios in-    muito pouca evidência da indicação para crian-
     dependente do tipo de composto fluoretado adi-         ças. Em acréscimo, com o objetivo de manter
     cionado aos dentifrícios, NaF ou MFP (monofluor-       fluoreto constante na cavidade bucal, escovar
     fosfato de sódio). O NaF é agregado a dentifrícios     os dentes com dentifrício fluoretado é a medida
     contendo a sílica como abrasivo, normalmente na        mais racional.
     concentração de 1.000 a 1.100 ppm F. Já o MFP é
     compatível quimicamente com o abrasivo carbo-
     nato de cálcio, o principal sistema abrasivo utili-
     zado em dentifrícios brasileiros. Com o envelhe-       3. Profissionais
     cimento, parte do fluoreto presente no dentifrício     Produtos contendo alta concentração de flu-
     contendo MFP/carbonato de cálcio pode se tornar        oreto para aplicação profissional (géis, ver-
     insolúvel (inativo contra cárie) pela reação com o     niz tipo Duraphat) também já demonstraram
     cálcio do abrasivo, e para compensar essa perda,       sua eficiência clínica em estudos controlados.
     esses dentifrícios normalmente possuem em tor-         Esses produtos, além de aumentarem a con-
     no de 1.500 ppm F, garantindo uma concentração         centração de fluoreto na cavidade bucal no
     suficiente de F ativo contra cárie. As evidências      momento da aplicação, têm um adicional:
     atuais sobre o efeito anticárie dos dentifrícios com   formam reservatório de CaF 2. Esse mineral se
     menor concentração de fluoreto (500 ppm F), que        forma pelo contato do fluoreto, em alta con-
     têm sido indicados para diminuir o risco de fluo-      centração no produto, com íons cálcio dispo-
     rose em crianças pequenas, serão discutidas na         níveis na cavidade bucal. Assim, a formação
     parte III desta publicação.                            do CaF2 é maior quando se utiliza um produto



10
Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia




acidulado, pois a liberação de íons cálcio da         deração não só a atividade ou risco de cárie do
superfície dental aumenta a reatividade com o         paciente, como principalmente se esse já está
fluoreto do produto. O CaF 2 também poderá se         usando frequentemente dentifrício fluoretado.
formar no biofilme dental remanescente, mas
sendo o biofilme indispensável para o desen-
volvimento de cárie, a limpeza dental deverá          4. Combinações de meios de uso de fluoreto
sempre ser recomendada antes da aplicação
de tais produtos pelo profissional. Além disso,       Talvez a maior dúvida dos profissionais no uso
a formação de CaF 2 é maior em dentes com             de fluoreto seja essa: quando associar meios?
lesões de cárie incipientes, onde a porosida-         Inicialmente, devemos considerar que os meios
de da estrutura dental é maior e aumenta-se a         coletivos são extremamente importantes para
área para reação do fluoreto. Assim, quando           o Brasil, pois buscam minimizar diferenças de
é feita uma aplicação tópica de fluoreto serão        acesso a outros meios de uso de fluoreto. Além
beneficiadas não só as superfícies dentais que        disso, como já descrito anteriormente, a utili-
apresentam lesões ativas de cárie, mas também         zação de dentifrícios fluoretados deve ser reco-
outras superfícies nas quais a lesão ainda não        mendada para todos os indivíduos, de todas as
está visível.                                         idades. Resta a dúvida: quais meios adicionais
                                                      devo indicar para o paciente?
O CaF 2 depositado no dente funciona como
um reservatório de fluoreto, liberando o íon          É importante lembrar que precisará de meios
para o meio bucal para interferir com o pro-          adicionais apenas quem está mais sujeito a cá-
cesso de cárie. Assim, a utilização de produtos       rie. Assim, indicar bochechos diários ou realizar
de alta concentração de fluoreto pelo profis-         aplicação profissional de fluoreto em indivíduos
sional visa não apenas o aumento momentâ-             que controlam cárie pelo uso de água e denti-
neo da concentração de fluoreto na cavida-            frício fluoretados não trará nenhum benefício.
de bucal, mas promover sua lenta liberação a          Por outro lado, indivíduos que não controlam
partir de reservatórios formados na cavidade          o processo de cárie, seja devido a uma alta fre-
bucal, tentando compensar a falta de autouso
                                                      quência de exposição a carboidratos fermentá-
de fluoreto pelo paciente.
                                                      veis, pela diminuição do fluxo salivar por me-
Outro meio de uso de fluoreto profissional são        dicamentos ou pela dificuldade de remoção do
os selantes e materiais restauradores liberadores     biofilme dental pela instalação de dispositivos
de fluoreto. Embora esses materiais se enqua-         ortodônticos, precisam de meios adicionais. A
drem perfeitamente nos conceitos da impor-            escolha do meio adicional de uso de fluoreto
tância de meio para manutenção de fluoreto            caberá ao profissional, de acordo com sua expe-
constante no meio ambiente bucal, a relevância        riência clínica e conhecimento do comprometi-
clínica da sua indicação deve levar em consi-         mento do paciente com o protocolo escolhido.



                                                                                                          11
Conclusão                                                          fluorose e água otimamente fluoretada, já foi dito
                                                                        e aceito que ‘seria preferível fluorose a cárie’. Em-
     As recomendações de meios de uso de fluo-                          bora o declínio de cárie dental, ocorrida tanto em
     reto para as quais há evidência científica de                      países desenvolvidos como no Brasil, seja atribuí-
     redução de cárie dental estão sumarizadas na                       do ao amplo uso de fluoretos, fluorose dental tem
     tabela abaixo.                                                     sido hoje questionada, o que será abordado na
     Embora nenhum país tenha conseguido contro-                        parte III deste texto, lembrando que:
     lar cárie da sua população a não ser usando flu-                   1. Qualquer F- mantido constante no meio am-
     oreto de alguma forma, uma série de polêmicas                        biente bucal (saliva-biofilme) tem potencial an-
     surge frequentemente sobre os riscos de seu uso                      ticárie
     em Odontologia, envolvendo desde toxicidade
     aguda (de vômitos a morte) até toxicidade crô-                     2. Qualquer F- absorvido pelo organismo e circu-
     nica (fluorose dental). Casos letais ocorreram no                     lando pelo sangue terá potencial de manifestar
     passado pela ingestão inadvertida de comprimi-                        algum efeito colateral
     dos de flúor e do uso inadvertido de produtos em
                                                                        “O que diferencia o veneno do remédio é a dose”
     consultórios. No que diz respeito à relação entre
                                                                        Paracelsus (1493-1541)


                                                recomendações de uso de fluoretos

                                                         Uso                 Uso
              Meios             Uso coletivo                                                            Recomendações
                                                      individual         profissional

        Água otimamente
                                       X                                                                   Sem restrições
           fluoretada

       Dentifrício fluoretado                                                                  Diariamente para todos os indivíduos,
                                                           X
        (1000-1500 ppm F)                                                                   supervisionado em crianças de pouca idade

         Soluções F para                                                                    De acordo com o risco ou atividade de cárie,
                                   NaF 0,2%            NaF 0,05%
            bochecho                                                                          mas restritos a idade acima de seis anos

                                                                                             Indicação individual ou coletiva, de acordo
            Gel, verniz                                                         X
                                                                                                  com o risco ou atividade de cárie

           Combinações
                                                De acordo com o risco ou atividade de cárie individual ou populacional
           destes meios

     Tenuta & Cury. Fluoreto na prática de promoção de saúde, individual e coletiva. Cadernos da ABOPREV IV, 2005.




12
Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia




Parte III:



Limitações do uso de fluoreto
em Odontologia
Nas seções prévias discorremos sobre uma impor-            pode ser usado no tratamento da intoxicação aguda,
tante premissa envolvida no controle de cárie dental       pela administração via oral de compostos contendo
baseada no uso de fluoreto (íon flúor, F-):                cálcio ou alumínio, que formam sais de baixa solubi-
Qualquer F- mantido constante no meio ambiente             lidade com o F-, diminuindo sua absorção.
bucal (saliva-biofilme) tem potencial anticárie
                                                           Usando esse mesmo raciocínio, se a ingestão de F-
Após descrevermos como os diferentes meios de uso          ocorrer com estômago vazio, a absorção será total;
de fluoretos mantêm F- na cavidade bucal, nos depa-        no entanto, a ingestão feita até 15 minutos após as re-
ramos com o “outro lado da moeda”, relacionado à           feições diminui em até 40% a absorção, seja devido
limitação de seu uso:                                      ao efeito mecânico do bolo alimentar, restringindo a
Qualquer F- absorvido pelo organismo e circulan-           superfície de mucosa gástrica em contato com o F-,
do pelo sangue terá potencial de manifestar algum          seja devido à complexação do F- com cátions como
efeito colateral                                           o cálcio presentes no alimento, formando comple-
                                                           xos insolúveis que não serão absorvidos.
Os efeitos colaterais dependem da dose absorvida e do
tipo de exposição. Dessa forma, separamos a descrição      O F- não solúvel é excretado pelas fezes devido à não
da toxicidade do F- em efeitos agudos ou crônicos.         absorção no trato gastrointestinal. O solúvel cai no
                                                           sangue, é distribuído por todo o organismo se fixan-
Tanto a toxicidade aguda como a crônica são efei-          do nos tecidos em mineralização (ossos e dentes).
tos sistêmicos do F- e, portanto, é necessário revisar     O não incorporado é eliminado principalmente por
de forma sucinta o metabolismo do F- no organismo,         excreção renal. Em termos toxicológicos esse conhe-
para um melhor entendimento das consequências              cimento é importante porque os efeitos agudos ou
da intoxicação, prevenção e possível reversão ou           mesmo crônicos serão função da concentração de
tratamento. Ao se ingerir F-, seja pela água fluoretada    F- não só atingida no sangue ou mantida nesse após
(ou alimentos cozidos com ela), seja pela ingestão         a ingestão, como de uma eficiente excreção renal.
inadvertida de dentifrício fluoretado ou de gel de
aplicação profissional de fluoreto, em 30-45 minutos       a) Toxicidade aguda
90% do ingerido cai em corrente sanguínea, pois sua
                                                           É aquela devida à ingestão de uma quantidade ex-
absorção ocorre principalmente no estômago (o pH
                                                           cessiva de F-, em uma única dose. Os sintomas mais
ácido facilita o transporte do fluoreto, na forma de
                                                           leves incluem mal estar gástrico e vômitos, e depen-
ácido fluorídrico [HF], através das células da muco-
                                                           dendo da dose, a intoxicação pode levar à morte.
sa gástrica). Esse conhecimento é importante, pois:
a) Para ser absorvido o F- precisa estar solúvel; b) Ab-   Ao ser ingerido em alta quantidade, o F- inicialmen-
sorção pode ser reduzida dependendo do conteúdo            te causará mal estar gástrico devido à irritação da
gástrico; c) Qualquer medida voltada a diminuir a          mucosa do estômago, podendo ocasionar inclusive
absorção do F- deve ser realizada rapidamente.             vômitos. Ao ser absorvido pelo organismo, o F- de-
                                                           sencadeia uma série de sintomas, desde não espe-
Assim, considerando que para ser absorvido o fluore-       cíficos, como hipersalivação e suor frio, até aque-
to deve estar na forma de íon F- (para haver a forma-      les oriundos de sua ligação com o cálcio sanguíneo
ção de HF e posterior difusão), a ingestão de flúor na     (hipocalcemia) alterações celulares (hipercalemia),
forma de sais de baixa solubilidade, como fluoreto de      queda de pressão, depressão respiratória, arritmia
cálcio, por exemplo, reduz a absorção. Esse princípio      cardíaca, desorientação ou coma e morte.

                                                                                                                     13
Devido a casos letais por doses de F- inferiores às              Em casos de ingestão acima da DPT, o paciente
     consideradas no passado como seguramente tolera-                 deve ser encaminhado ao hospital para cuidados
     das, a partir da década de 90 foi estabelecido em                médicos adicionais.
     Odontologia que a dose de 5 mg F-/kg de peso cor-
     poral, chamada de dose provavelmente tóxica (DPT)                b) Toxicidade crônica (fluorose dental)
     deve ser considerada como limite máximo de risco.
                                                                      Os benefícios anticárie do fluoreto foram descober-
     Assim, considerando os produtos de uso odontoló-                 tos indiretamente pela fluorose dental quando, ao
     gico, o profissional deve ficar atento àqueles que               se relacionar a concentração de fluoreto natural na
     possuem maior concentração de F-, ou seja, aqueles               água utilizadas por crianças e a ocorrência de flu-
     que contém uma grande quantidade de F- mesmo                     orose e cárie nos seus dentes, foi encontrada uma
     em pequenas porções do produto. Nesse caso, é im-                concentração, chamada de ‘ótima’ a qual produzia
     portante conhecer as unidades de concentração para               o máximo de redução de cárie (benefício) com o
     estabelecer qual a DPT de acordo com o peso do pa-               mínimo de efeito colateral (fluorose dental estetica-
     ciente. A tabela abaixo apresenta alguns exemplos:               mente aceitável).
     Embora a tabela demonstre a segurança de uso                     Somente após ter sido comprovado que fluorose
     dos produtos odontológicos, o profissional deve                  dental era o único efeito colateral da utilização de
     estar ciente dos riscos oriundos do manejo des-                  água otimamente fluoretada, não estando envolvi-
     ses produtos, evitando ao máximo sua ingestão.                   do nenhum outro efeito de saúde geral, se iniciou
     Há relato de casos letais oriundos da ingestão de                a agregação de F- ao tratamento das águas de abas-
     comprimidos de flúor por crianças e do uso inad-
                                                                      tecimento público. Na época, devido à severida-
     vertido de produtos em consultórios.
                                                                      de da cárie e aos benefícios em termos de saúde
     Ao identificar a ingestão acidental desses produtos              pública da fluoretação da água, a fluorose dental
     fluoretados, o profissional deve estimar a dose in-              consequente foi considerada como o ‘preço’ a ser
     gerida e agir rapidamente para evitar a absorção do              pago pela prevenção de cárie. Entretanto, no presen-
     F- no estômago, administrando leite (contém cál-                 te fluorose dental voltou a ser discutida porque hou-
     cio) ou antiácidos, como hidróxido de alumínio.                  ve um declínio mundial de cárie dental e também
                                                                                                    Quantidade de produto
                Produto
                                       Concentração    Quantidade de       Quantidade de produto
                                                                                                   correspondente à DPT para
                                           de F        F- em 1 ml ou 1 g   normalmente utilizada
                                                                                                   criança de 20 kg (5 a 6 anos)

      Flúor fosfato acidulado em gel    12.300 ppm         12,3 mg             2,5 g/moldeira                  8,1 g
            Verniz fluoretado           22.000 ppm          22 mg                   0,5 g                      4,5 g
          Dentifrício fluoretado         1.100 ppm         1,1 mg              0,5 g/escovação          90 g (uma bisnaga)
           Solução NaF 0,05%
                                         225 ppm          0,225 mg             10 mL/bochecho                 444 ml
            (bochecho diário)
            Solução NaF 0,2%
                                          900 ppm          0,9 mg              10 mL/bochecho                 111 ml
           (bochecho semanal)
              Suplemento
                                             1 mg F/comprimido                1 comprimido/dia           100 comprimidos
       (2,21 mg NaF/ comprimido)

                  Água                     0,7 ppm       0,0007 mg                    -                     143 litros



14
Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia




por relatos de aumento da prevalência de fluorose,       07. Apenas os dentes em processo de formação do
mesmo em regiões sem água fluoretada. Assim, an-             esmalte dental estão sujeitos a fluorose. Assim, a
tes aceita pacificamente pela maioria, fluorose den-         idade de risco para o desenvolvimento de fluo-
tal passou a ser questionada almejando-se não só             rose em dentes permanentes anteriores é dos 20
manter o atual declínio de cárie como sem nenhuma            aos 30 meses de idade.
preocupação com algum grau de fluorose que possa
comprometer a estética dental.                           08. Entretanto, a duração da exposição a determina-
                                                             da dose é mais relevante e assim, por exemplo,
Entretanto, alguns conceitos básicos são importantes         a prevalência e severidade da fluorose em uma
para iniciar a discussão:                                    criança que bebe água com 1,4 ppm de F- ape-
                                                             nas 1 dia por mês será inferior a daquela exposta
01. Fluorose dental é um efeito sistêmico, portanto o
                                                             diariamente a concentração ótima de 0,7 ppm F-.
     grau de fluorose provocado nos dentes depen-
     derá da concentração de F- no sangue, a qual        09. Para a fluorose ser visível clinicamente, a expo-
     depende da dose de ingestão diária e da exposi-          sição ao fluoreto precisa ser crônica (afetando
     ção prévia a fluoreto.                                   o esmalte em formação durante determinado
                                                              período). Portanto, produtos de uso profissio-
02. Apenas o fluoreto absorvido e circulando no or-
                                                              nal como géis e vernizes não estão relaciona-
    ganismo terá potencial de causar fluorose den-
                                                              dos ao desenvolvimento de fluorose, embora
    tal. Assim, não apenas a quantidade ingerida
                                                              cuidados devam ser tomados quanto ao risco
    deve ser avaliada, mas sim a quantidade real-
                                                              de intoxicação aguda.
    mente absorvida.
                                                         10. O dente com fluorose não é mais suscetível a
03. Qualquer fluoreto absorvido terá potencial de
                                                             cárie por ser menos mineralizado que o não
    causar fluorose dental, independentemente da
                                                             fluorótico; também, ele não é mais resistente a
    fonte (água fluoretada, dentifrício fluoretado,
                                                             cárie por possuir mais flúor. Em acréscimo, se
    alimentos etc).
                                                             o paciente estiver em risco ou atividade de cá-
04. O F- presente no sangue afeta o esmalte em for-          rie a aplicação tópica profissional de flúor é re-
    mação, mas o efeito não é celular no metabolis-          comendável sem qualquer risco de aumentar a
    mo do ameloblasto, mas extracelular no proces-           fluorose, ocorrida anos atrás durante a formação
    so de maturação do esmalte.                              do esmalte.

05. Há uma relação linear entre o grau fluorose ob-      11. O esmalte não fluorótico é translúcido e a fluo-
    servado e a dose de exposição a fluoreto pela            rose se manifesta através de diferentes graus de
    água (mg F/kg/dia), sugerindo que sempre haverá          aumento de opacidade do esmalte, caracteriza-
    algum grau de fluorose quando da exposição a             dos através de linhas brancas transversais que
    fluoreto.                                                podem se fundir tornando o dente todo branco.
                                                             Como o esmalte é poroso, a opacidade se torna
06. Tem sido sugerido que 0,05 a 0,07 mg F/kg/dia            mais visível se o dente estiver seco.
    deve ser a dose máxima aceitável em termos do
    balanço riscos/benefícios de exposição a fluore-     12. Flúor não provoca manchamento nos dentes em
    to, sem ainda nenhuma evidência experimental.            formação; estes quando irrompem podem estar

                                                                                                                  15
totalmente esbranquiçados (fluorose moderada) e    1. Água otimamente fluoretada tem potencial de cau-
         a pigmentação é pós-eruptiva devido a produtos        sar fluorose, mas restrita aos níveis muito leve e
         da dieta que penetram na porosidade do esmalte.       leve, que não comprometem a estética dos indiví-
                                                               duos. Assim, a recomendação de uso de dentifrí-
     13. Fluorose é um efeito sistêmico, portanto dentes       cio não fluoretado não assegura que a criança não
         formados no mesmo período devem apresentar            apresente fluorose nos dentes permanentes se ela
         o mesmo grau de alteração e deve haver homo-          viver em região com água otimamente fluoretada.
         logia (jamais haverá fluorose em apenas um dos
         incisivos ou molares).                             2. A prevalência de fluorose dental encontrada em
                                                               crianças não expostas a água fluoretada é menor
     14. Os casos de fluorose com comprometimento              do que a esperada com base na dose de ingestão
         estético (relatado pelo paciente, não pelo den-       de dentifrício, sugerindo que esta dose está sendo
         tista) podem ser eficazmente tratados com mi-         superestimada, pois:
         croabrasão ácida porque a camada de esmalte
                                                              a. A dose de exposição é calculada pela quanti-
         alterada é superficial.
                                                                 dade de dentifrício ingerido pela criança mul-
     15. Como há uma relação linear entre dose de ex-            tiplicado pelo número de escovações diárias
         posição a fluoreto e fluorose dental, quando            relatadas pela mãe ou responsável, que pode
         fluoreto é ingerido compulsoriamente (via água          estar inflacionado;
         fluoretada) ou involuntariamente (quando da es-
                                                              b. Nem todo fluoreto ingerido com o dentifrício
         covação com dentifrício fluoretado) não está em         será absorvido. Fatores que diminuem a absor-
         discussão o efeito biológico inevitável da fluo-        ção do fluoreto incluem a presença de alimen-
         rose, mas sim se o grau de fluorose decorrente          tos no estômago (a escovação após as refeições
         é aceitável ou não considerando o beneficio do          é desejável) e abrasivos a base de cálcio pre-
         controle da cárie em termos de saúde pública.           sentes nos dentifrícios mais vendidos no Brasil.
     A discussão atual sobre fluorose está centrada na      3. Crianças que ingerem uma grande quantidade de
     estimada dose de risco de 0,07 mg F/kg de peso            dentifrício a cada escovação continuam sob risco
     corporal/dia (ver item 6 acima) e estudos longi-          aumentado de desenvolver fluorose, mesmo uti-
     tudinais têm mostrado que a quantidade de flu-            lizando um dentifrício de baixa concentração de
     oreto ingerida por uma criança jovem pela dieta           flúor. Em acréscimo, a recomendação de uso de
     e pelo dentifrício fluoretado não corresponde ao          dentifrícios não fluoretado ou com concentração
     desfecho de fluorose observada anos depois, sen-          reduzida de fluoreto, além da redução do efeito
     do a fluorose sempre menos prevalente e menos             anticárie, pode gerar a idéia de que esses dentifrí-
     severa do que o esperado. É importante que esse           cios são mais seguros para serem ingeridos.
     ponto seja enfatizado, pois a recomendação da
                                                            4. Crianças expostas a água otimamente fluoretada
     diminuição de concentração de fluoreto em den-
                                                               não terão risco aumentado de fluorose se elas usa-
     tifrícios ou mesmo da utilização de dentifrícios
                                                               rem uma pequena quantidade de pasta fluoretada
     não fluoretados por crianças de pouca idade têm
                                                               para escovar os dentes.
     sido feitas com base da dose estimada de exposi-
     ção. Assim, alguns pontos devem ser enaltecidos:       5. Embora não haja grandes preocupações com o

16
Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia




  grau de fluorose por dentifrícios em crianças vi-      nada não mostrou insatisfação pelos efeitos do flúor
  vendo em região de água não fluoretada, uma pe-        da água de Piracicaba-SP, e do dentifrício fluoretado
  quena quantidade de pasta fluoretada deverá ser        por ela usado, mas sim se disse insatisfeita com sua
  sempre recomendada (segura e econômica).               mordida aberta. Nessa mesma idade no passado, in-
                                                         satisfeitos com as cáries nos seus dentes, os pais des-
6. Supervisionar a escovação dos dentes de crian-        sa criança seguramente procuraram um profissional
   ças para usarem pequena quantidade de pasta           dentista para tratamento restaurador. Essa criança de
   e estimulando a expectoração da espuma é um           uma escola pública de Piracicaba hoje almeja um
   processo educativo objetivando ter filhos inde-       tratamento ortodôntico porque cárie não é a sua pre-
   pendentes e responsáveis, capazes de no futuro        ocupação principal.
   próximo se autocuidarem.
                                                         Assim como no uso de flúor, em que buscamos o
Em conclusão, nesta série de artigos sobre o uso de      balanço entre seus benefícios e riscos, esperamos
fluoretos em Odontologia nos baseamos em evidên-         ter tido equilíbrio na dosagem desses três artigos,
cias científicas para discutir o mecanismo de contro-    não tendo sido as informações superficiais ou muito
le da cárie dental a partir de diversos meios de uso     profundas. Teremos enorme prazer de sermos mais
de fluoretos e os cuidados que devem ser tomados         úteis, mesmo que virtualmente pela internet pelos
para minimizar efeitos colaterais. Considerando a        nossos e-mails, mas antes queremos passar a última
importância central do uso de fluoretos no controle      mensagem:
da cárie dental no Brasil e no mundo, água fluore-
tada e dentifrício fluoretado poderão continuar sa-      Os mecanismos pelos quais o fluoreto diminui cá-
tisfazendo o binômio de benefícios x riscos de utili-    rie e aumenta fluorose são totalmente distintos e do
zação de fluoreto desde que a água fluoretada seja       ponto de vista farmacológico enquanto o efeito do
utilizada na concentração ótima e que uma pequena        primeiro é local, portanto concentração dependen-
quantidade de dentifrício fluoretado seja utilizada      te, o do segundo é sistêmico, logo dose dependente.
para escovar os dentes. Embora a fluorose decorren-      Maximizar os benefícios do fluoreto enquanto mini-
te desperte a atenção de um profissional (foto abai-     mizando seus riscos é um desafio permanente da-
xo, índice 3 de fluorose), a criança quando questio-     queles comprometidos com saúde pública.




                                                                                                                   17
Bibliografia recomendada

     Livros e publicações avulsas:                                               9. Marinho VC, Higgins JP, Sheiham A, Logan S. Combinations of
                                                                                 topical fluoride (toothpastes, mouthrinses, gels, varnishes) versus
     1. Cury JA. Uso do flúor e controle da cárie como doença. In: Baratieri
                                                                                 single topical fluoride for preventing dental caries in children and
     LN et al. Odontologia Restauradora: fundamentos e possibilidades.
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18
Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia




                                                    19
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Por que usar fluoreto

  • 1. UMA PUBLICAÇÃO DA COLGATE-PALMOLIVE PARA PROMOVER A EDUCAÇÃO CONTINUADA AOS PROFISSIONAIS DE ODONTOLOGIA ANO 2 | NÚMERO 4 - JANEIRO 2010 EVIDÊNCIAS PARA O USO DE FLUORETOS EM ODONTOLOGIA JAIME APARECIDO CURY LIVIA MARIA ANDALÓ TENUTA Professor Titular de Bioquímica Professora Doutora de Bioquímica da Faculdade de Odontologia da Faculdade de Odontologia de de Piracicaba – UNICAMP Piracicaba – UNICAMP Uma publicação conjunta
  • 2. Apresentação O flúor é hoje um dos mais populares agentes preventivos contra a cárie dentária. No entanto, seu mecanismo de ação é por diversas vezes interpretado de forma errônea, dando margem, inclusive, a interpretações incorretas sobre suas reais propriedades na manutenção da saúde oral. Elucidar todos os pontos sobre o uso do flúor é o objetivo desta quarta edição do Odontologia Baseada em Evidências. Aqui, reunimos informações a respeito da importância do uso de fluoreto em odontologia, seu mecanismo de ação e seus meios de uso. Além disso, também são tratadas suas limitações de uso, abordando, inclusive, o tema da fluorose. Esperamos que os profissionais da odontologia brasileira possam encontrar neste material um suporte para enriquecer ainda mais seu conhecimento. Boa leitura! Equipe de Relações Profissionais Colgate-Palmolive Brasil 2
  • 3. Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia Prefácio A atuação dos profissionais da Odontologia nos dias atuais se volta cada vez mais à satisfação dos pacientes de forma plena. Aqueles que necessitam de cuidados procuram cada vez mais informações prévias sobre como e com quem fazer seus tratamentos, muitas vezes testando os conhecimentos profissionais, mesmo que de uma forma leiga. O profissional por sua vez tem que estar antenado com o que há de mais atual, sempre buscando evidência científica para a sua atuação se tornar efetiva e ter o reconhecimento desejado. Esta edição do Odontologia Baseado em Evidências, publicado pela Colgate, em parceria com a ABO NACIONAL, é fruto de um trabalho conjunto que vem de longa data, sempre com o objetivo de levar o melhor para os cirurgiões-dentistas de todo o Brasil. O tema Flúor e sua utilização racional sempre foi motivo de dúvidas. Possibilitar o entendimento de forma clara e segura do mecanismo de ação, meios de utilização, concentração e limitações do uso, possibilitando ao profissional decidir o melhor caminho a seguir para cada caso específico é a nossa meta. Para tanto escolhemos os Professores Jayme Aparecido Cury e Lívia Maria Andaló Tenuta, professores que se destacam nacional e internacionalmente nos estudos sobre o tema. Desejamos uma excelente leitura! Norberto Francisco Lubiana Presidente da ABO NACIONAL 3
  • 4. AUTORES > Jaime Aparecido Cury > Livia Maria Andaló Tenuta Professor Titular de Bioquímica da Faculdade Professora Doutora de Bioquímica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba – UNICAMP de Odontologia de Piracicaba – UNICAMP jcury@fop.unicamp.br litenuta@fop.unicamp.br índice Parte I: Por que usar fluoreto em Odontologia e seu mecanismo de ação anticárie ................................................................. 05 Parte II: Meios de usar fluoreto em Odontologia.................................................................................................................................... 08 Meios de uso de fluoreto................................................................................................................................................................. 07 Coletivos ....................................................................................................................................................................................... 08 Individuais . .................................................................................................................................................................................. 09 Profissionais . ............................................................................................................................................................................... 10 Conclusão ............................................................................................................................................................................................. 12 Parte III: Limitações do uso de fluoreto em Odontologia..................................................................................................................... 13 Bibliografia recomendada................................................................................................................................................................................ 18 Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia Uma publicação conjunta Colgate e ABO. Colgate-Palmolive Comercial Ltda. Rua Rio Grande, 752 - Vila Mariana - São Paulo/SP - CEP 04018-002. Tel. (11) 5088-5000. www.colgate.com.br | www.colgateprofissional.com.br. Coordenação: Patricia Bella Costa. Presidente da ABO: Dr. Norberto Francisco Lubiana. Produção: Cadaris Comunicação | cadaris.com.br. Proibida reprodução total ou parcial sem prévia autorização. Todas as informações e opiniões expressas nestes artigos são de total responsabilidade de seus autores.
  • 5. Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia Parte I: Por que usar fluoreto em Odontologia e seu mecanismo de ação anticárie Dentre os mais diversos agentes preventivos que o mineral fluorapatita (FA) é menos solúvel ou terapêuticos de sucesso, que causaram um do que a hidroxiapatita (HA) da estrutura dental impacto importante na saúde e qualidade de para entender o mecanismo de ação. Quando vida das pessoas, talvez seja difícil encontrar as primeiras observações foram feitas de que um que se assemelhe ao íon flúor (fluoreto = populações que consumiam água naturalmente F-). Não há quem não saiba, mesmo entre os fluoretada apresentavam um menor índice de indivíduos com menor acesso ao conhecimento cárie, acreditou-se que o mineral FA incorpo- gerado no meio científico, que “o flúor protege rado ao dente seria importante para diminuir a os dentes das cáries”. Por outro lado, o meca- sua solubilidade. Essa idéia perdurou por mais nismo de ação é muitas vezes interpretado de de meio século, e ainda hoje vemos tal des- forma inadequada, não sendo raro encontrar crição em divulgações sobre o mecanismo de descrições incorretas ou inapropriadas como: ação do flúor. No entanto, mesmo que o dente fortalece os dentes, inibe a produção de ácidos seja enriquecido com uma grande quantidade produzidos pelas bactérias da placa dental, mé- de FA, a porcentagem em relação ao mineral todo sistêmico de uso de flúor, entre outras, que total não chega a 10%. Portanto, a menor solu- muitas vezes dificultam a adequada indicação bilidade do mineral FA não muda significativa- deste íon na prevenção das cáries. mente a solubilidade do dente enriquecido com ela. Portanto, não é necessário incorporar F- no Frente aos mais diversos meios de uso e novos dente em formação (efeito sistêmico) para que produtos lançados no mercado diariamente, ele tenha efeito anticárie. fica difícil indicar o mais adequado, em nível populacional ou individual, sem que a real ação Mas afinal, como o F- controla a cárie dental? do íon na cavidade bucal seja conhecida. O ob- Para entender, voltamos ao conceito de que jetivo dessa série intitulada “Evidências para o FA é um mineral menos solúvel do que a HA. uso de F- em Odontologia” é discutir os mais di- Sendo menos solúvel, a FA é um mineral que versos aspectos do uso do íon na prevenção das tende a se precipitar mais facilmente do que a cáries, desde seu mecanismo de ação (Parte I), HA em meio contendo cálcio e fosfato inorgâ- os meios de utilização (Parte II) e as limitações nico, minerais esses presentes na saliva e placa de seu uso, em termos de toxicidade aguda e (biofilme) dental. Assim, havendo F- presente crônica (Parte III). na cavidade bucal, toda perda mineral ocorren- do sob o biofilme dental cariogênico tenderá a O primeiro conceito importante: o mecanismo ser parcialmente revertida pela precipitação no de ação do íon flúor é sempre o mesmo, inde- dente do mineral menos solúvel FA. Com isso, pendente do meio de utilização. Água fluoreta- a perda mineral líquida é reduzida, uma vez da, dentifrícios, bochechos, produtos para apli- que parte dos minerais perdidos é reposta no- cação profissional, materiais odontológicos que vamente na estrutura dental. Assim, é comum a liberam fluoreto, todos agem da mesma forma: descrição de que o fluoreto diminui a desmine- fornecem íons flúor para a cavidade bucal. É ralização e ativa a remineralização do esmalte necessário mais do que o simples conceito de e da dentina. 5
  • 6. A diminuição da desmineralização diz respeito à biofilme acumulado sobre os dentes e sendo este precipitação de minerais na forma de FA quando exposto a açúcares, mesmo na presença de F- ha- a HA da estrutura dental está sendo solubilizada verá a produção de ácidos e o mineral do dente pelo baixo pH gerado no biofilme dental exposto terá a tendência de se dissolver. O F- no meio am- a carboidratos fermentáveis. A ativação da remi- biente bucal será importante para reverter, como neralização sugere que, quando o pH do biofilme descrito acima, parte desses minerais perdidos, dental volta a subir, ou quando este é removido embora sempre alguma perda mineral ocorrerá. pela escovação expondo a estrutura dental à capa- cidade remineralizadora da saliva, a precipitação Portanto, focar medidas preventivas no uso iso- de mineral nos locais onde ele foi perdido será ati- lado de F-, como descrito acima, sem um con- vada se houver F- presente no meio ambiente bu- trole dos demais fatores necessários para que a cal. Portanto, mais importante do que ter F- incor- doença cárie se desenvolva, não é suficiente, porado na estrutura mineral do dente, é ter fluoreto uma vez que isoladamente o fluoreto não im- disponível na cavidade bucal para ser incorpora- pede o desenvolvimento de cárie (Diagrama 1). do na estrutura mineral do dente quando o mine- Por outro lado, a reversão parcial da perda mine- ral mais solúvel HA está sendo dissolvido como ral que ocorre na presença de F- é extremamente consequência do processo de cárie. Portanto, importante, pois aumenta muito o tempo neces- uma maior concentração de F- no dente é conse- sário para que algum sinal clínico de desmine- quência desses eventos, e não a causa da menor ralização seja visível. Em outras palavras, desde perda mineral que ocorre na presença deste íon. que o desafio cariogênico não seja excessivo, o O segundo conceito importante diz respeito à F- disponível na cavidade bucal poderá reverter palavra parcialmente, descrita acima para refletir as pequenas perdas minerais que ocorrem dia- a reversão da perda mineral pelo F-. Nesse sen- riamente, de tal forma que nenhum sinal clínico tido, a causa da perda mineral no processo de de desmineralização será observado. cárie dental é a presença de um biofilme dental Clinicamente, este é o mecanismo de ação do F-. cariogênico, que produz ácidos quando exposto Um indivíduo “zero placa” não terá cárie, mas a carboidratos fermentáveis (sacarose, principal- existe tal indivíduo? Biofilmes sempre se forma- mente), causando a desmineralização dental na rão sobre a superfície dental, e em algum local interface dente-biofilme. Assim, a presença de negligenciado pela escovação ele poderá per- biofilme e sua exposição ao açúcar são fatores manecer. Daí a importância de sempre manter indispensáveis para o desenvolvimento de cárie o íon na cavidade bucal, independente da idade e infelizmente o F- tem pouco efeito sobre esses do indivíduo, pois o processo de cárie corre em dois fatores. Embora ele possa apresentar algum indivíduos de todas as idades, seja no esmalte efeito antimicrobiano, diminuindo a produção de ou na superfície radicular exposta. Assim, a as- ácidos por bactérias, este só foi demonstrado em sociação entre higiene bucal e fluoreto é a ma- laboratório, sob exposição a altas concentrações neira mais racional de controlar a cárie dental. de F-, que não ocorrem regularmente na cavida- de bucal (mínimo 10 ppm F-). Assim, havendo Iniciamos este texto dizendo que todos os 6
  • 7. Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia meios de utilização do fluoreto agem da mesma constantemente no meio ambiente bucal eram forma, fornecendo íons para a cavidade bucal. classificados em métodos sistêmicos e tópicos Resta saber como meios aparentemente diferen- de uso de flúor, fazendo com que até hoje per- tes de utilização de F-, indo desde água fluore- dure o conceito de que não existindo água flu- tada, passando pelos dentifrícios e chegando à oretada numa cidade devemos fazer suplemen- aplicação profissional de F-, atendem esse re- tação medicamentosa de F-, pré ou pós-natal. quisito. No passado esses meios de manter F- Qual é a evidência? Diagrama 1- Ilustração do efeito do fluoreto na dinâmica do desenvolvimento de cárie dental e o consequente resultado clinico 7
  • 8. Parte II: Meios de usar fluoreto em Odontologia Na seção anterior, abordamos o mecanismo de de fluoreto, o que não necessariamente signifi- ação anticárie do fluoreto (íon flúor, F-) e a im- ca que precisem de mais fluoreto. portância da manutenção desse íon na cavidade 4. Quem esteve com o processo de cárie sob con- bucal para interferir com o processo de desmi- trole na presença de fluoreto, ficará sujeito a neralização e remineralização dental. No entan- cárie na sua ausência. Como o importante é to, mesmo conhecendo o mecanismo de ação, a manutenção de fluoreto na cavidade bucal, a variedade de meios de utilização de fluoreto uma vez que o uso de fluoreto seja interrompi- disponíveis gera dúvidas: afinal, qual(is) meio(s) do, seu efeito anticárie também será. de utilização de fluoreto devo recomendar para meu paciente? Todos os meios de utilização de fluoreto objeti- vam aumentar a concentração do íon na cavidade Infelizmente, não há uma resposta simples para bucal. Considerando que o mecanismo de ação é esse questionamento. E mesmo que houvesse para sempre o mesmo (“tópico”), classificar os meios os produtos disponíveis atualmente, novos pode- de uso de fluoreto de acordo com sua exposição riam surgir e com eles novas dúvidas. Assim, o im- sistêmica é um erro, pois sugere que na ausência portante é conhecer os fundamentos de cada meio de água fluoretada algum outro meio de uso “sis- de utilização de fluoreto, como ele fornece íons têmico” de fluoreto deveria ser utilizado, o que F- para a cavidade bucal e como diferentes meios não se justifica atualmente. Assim, a classificação poderiam ser associados de acordo com a necessi- mais racional para os meios de uso de fluoreto in- dade de cada paciente. clui sua abrangência e modo de aplicação, como descrito a seguir: Nesse sentido, cabe recordar alguns conceitos im- portantes na indicação clínica de uso de fluoreto: 1. Quem não está sujeito a cárie, não precisa de fluoreto. De fato, “falta de fluoreto” não cau- Meios de uso de fluoreto sa cárie, mas sim acúmulo de placa (biofilme) dental e exposição frequente a carboidratos fer- 1. Coletivos mentáveis. A fluoretação das águas de abastecimento públi- co é um importante meio coletivo de uso de fluo- 2. Quem está sujeito a cárie, precisa de fluoreto. reto no Brasil. E é lei: toda cidade com estação de E qualquer indivíduo está sujeito a cárie, desde tratamento de água deve agregar fluoreto na sua que acumule placa dental e tenha uma alta fre- água (Lei Federal 6.050, de 24/5/74). A importân- quência de exposição a carboidratos – ‘quantos cia dessa medida fica clara quando observamos cafezinhos com açúcar tomamos por dia; quan- que a prevalência de cárie é menor em cidades tas bolachas recheadas; quantos refrigerantes?’ com água fluoretada em comparação com aque- las sem fluoretação. 3. Quem está mais sujeito a cárie, precisa mais de fluoreto. Observe que indivíduos sob alto desa- Ao contrário do que se pensava no passado, não fio cariogênico são aqueles que mais precisam é o fluoreto incorporado ao dente que diminui a 8
  • 9. Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia solubilidade da estrutura mineral do dente, como letiva é a solução fluoretada para bochecho sema- já abordado em nosso artigo anterior. Quando in- nal usada em programas preventivos em escolas, gerimos água fluoretada, o fluoreto absorvido e como a solução de NaF a 0,2% (900 ppm de F-). circulando pelo sangue irá atingir as glândulas sa- Sua efetividade como método de prevenção da livares, sendo secretado na saliva. Indivíduos que cárie dental está suportada por estudos clínicos vivem em região de água fluoretada apresentam de qualidade. Os bochechos, assim como os den- cerca de 0,02 ppm de F na saliva, contra 0,01 tifrícios fluoretados, promovem um aumento da ppm de F em média em indivíduos que não vivem concentração de fluoreto na saliva e no biofilme em região de água fluoretada. No biofilme den- dental, como será discutido no próximo item. A tal, a diferença na concentração de fluoreto pode recomendação de programas de uso semanal de chegar a 10 vezes. Essa diferença tem efeitos mar- bochecho deve levar em consideração a atividade cantes em termos de físico-química, diminuindo a de cárie do grupo populacional alvo (ver adiante). tendência de desmineralização dental e ativando a remineralização. E não apenas o consumo de água fluoretada cau- 2. Individuais sa esse efeito: alimentos cozidos com essa água, Dentre todos os meios de utilização de fluoreto, como arroz e feijão, por exemplo, trarão o mesmo o dentifrício fluoretado é o mais racional, pois as- benefício. Assim, mesmo que não consumam a socia a desorganização do biofilme dental, cujo água de abastecimento público fluoretada, indiví- acúmulo é necessário para o desenvolvimento de duos que vivem em regiões fluoretadas são bene- cárie, à exposição da cavidade bucal ao fluoreto. ficiados pelos alimentos preparados com ela. De fato, existe evidência científica sólida de que Assim, dois pontos importantes surgem para nos- a escovação com dentifrícios fluoretados resulta sa reflexão: 1. indivíduos que vivem em região de em significativa diminuição do desenvolvimento água fluoretada e se mudam para região de água de cárie, com base em revisões sistemáticas de não fluoretada não mais serão beneficiados pelo estudos clínicos controlados de alta qualidade. fluoreto, pois em alguns dias ou semanas a con- Dentifrício fluoretado é, portanto, um meio de centração de fluoreto na saliva será semelhante à utilização de fluoreto que deve ser recomendado dos indivíduos da região não fluoretada. Portanto, para todos os indivíduos, de todas as idades. água fluoretada só beneficia aqueles que a estão Quando escovamos os dentes com dentifrício continuamente ingerindo; 2. Para indivíduos que fluoretado, a concentração de fluoreto na saliva vivem em regiões não fluoretadas, a indicação de aumenta, permanecendo alta por uma a duas ho- outro meio de uso de fluoreto que envolva sua ras. O fluoreto reagirá com as superfícies dentais ingestão não se justifica atualmente, pois o efeito limpas pela escovação formando produtos de rea- do fluoreto é local, e o uso freqüente de dentifrí- ção tipo fluoreto de cálcio (CaF2), e nos remanes- cios fluoretados deverá ser o meio de escolha para centes de biofilme não removidos devido a uma manter fluoreto na cavidade bucal. escovação imperfeita, a concentração de fluoreto Outro meio de uso de fluoreto de abrangência co- também permanecerá alta devido a difusão do 9
  • 10. fluoreto e sua retenção em reservatórios orgâni- Soluções fluoretadas para bochecho diário, cos e inorgânicos no biofime. Mesmo 12 horas como a solução de NaF a 0,05% (225 ppm F -) após a escovação, o biofilme remanescente em também têm comprovada evidência científica de indivíduos utilizando dentifrício fluoretado duas ação anticárie. Nesse caso, uma dúvida frequen- a três vezes ao dia terá maior concentração de te é: quando indicar tais soluções? É importante fluoreto do que o biofilme de indivíduos não uti- ter em mente que indivíduos utilizando dentifrí- lizando o dentifrício. A manutenção de fluoreto cio fluoretado duas a três vezes ao dia já estão no biofilme remanescente é importante, pois este levando fluoreto para a cavidade bucal durante é o local onde ele mais é necessário, onde poderá essas ocasiões. Essa associação dentifrício + bo- ocorrer perda mineral da estrutura dental pela ex- checho é importante? Veja abaixo no item Com- posição a carboidratos fermentáveis. binação de meios. A evidência científica existente para o efeito an- Com relação ao uso de medicamentos com flúor, ticárie dos dentifrícios fluoretados está embasada conhecidos como suplementos pré e pós-natal, por estudos utilizando dentifrícios com concen- enquanto não há nenhuma evidência da efici- tração convencional de fluoreto, de 1.000 a 1.500 ência anticárie na prescrição para gestantes, há ppm F. A eficácia anticárie desses dentifrícios in- muito pouca evidência da indicação para crian- dependente do tipo de composto fluoretado adi- ças. Em acréscimo, com o objetivo de manter cionado aos dentifrícios, NaF ou MFP (monofluor- fluoreto constante na cavidade bucal, escovar fosfato de sódio). O NaF é agregado a dentifrícios os dentes com dentifrício fluoretado é a medida contendo a sílica como abrasivo, normalmente na mais racional. concentração de 1.000 a 1.100 ppm F. Já o MFP é compatível quimicamente com o abrasivo carbo- nato de cálcio, o principal sistema abrasivo utili- zado em dentifrícios brasileiros. Com o envelhe- 3. Profissionais cimento, parte do fluoreto presente no dentifrício Produtos contendo alta concentração de flu- contendo MFP/carbonato de cálcio pode se tornar oreto para aplicação profissional (géis, ver- insolúvel (inativo contra cárie) pela reação com o niz tipo Duraphat) também já demonstraram cálcio do abrasivo, e para compensar essa perda, sua eficiência clínica em estudos controlados. esses dentifrícios normalmente possuem em tor- Esses produtos, além de aumentarem a con- no de 1.500 ppm F, garantindo uma concentração centração de fluoreto na cavidade bucal no suficiente de F ativo contra cárie. As evidências momento da aplicação, têm um adicional: atuais sobre o efeito anticárie dos dentifrícios com formam reservatório de CaF 2. Esse mineral se menor concentração de fluoreto (500 ppm F), que forma pelo contato do fluoreto, em alta con- têm sido indicados para diminuir o risco de fluo- centração no produto, com íons cálcio dispo- rose em crianças pequenas, serão discutidas na níveis na cavidade bucal. Assim, a formação parte III desta publicação. do CaF2 é maior quando se utiliza um produto 10
  • 11. Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia acidulado, pois a liberação de íons cálcio da deração não só a atividade ou risco de cárie do superfície dental aumenta a reatividade com o paciente, como principalmente se esse já está fluoreto do produto. O CaF 2 também poderá se usando frequentemente dentifrício fluoretado. formar no biofilme dental remanescente, mas sendo o biofilme indispensável para o desen- volvimento de cárie, a limpeza dental deverá 4. Combinações de meios de uso de fluoreto sempre ser recomendada antes da aplicação de tais produtos pelo profissional. Além disso, Talvez a maior dúvida dos profissionais no uso a formação de CaF 2 é maior em dentes com de fluoreto seja essa: quando associar meios? lesões de cárie incipientes, onde a porosida- Inicialmente, devemos considerar que os meios de da estrutura dental é maior e aumenta-se a coletivos são extremamente importantes para área para reação do fluoreto. Assim, quando o Brasil, pois buscam minimizar diferenças de é feita uma aplicação tópica de fluoreto serão acesso a outros meios de uso de fluoreto. Além beneficiadas não só as superfícies dentais que disso, como já descrito anteriormente, a utili- apresentam lesões ativas de cárie, mas também zação de dentifrícios fluoretados deve ser reco- outras superfícies nas quais a lesão ainda não mendada para todos os indivíduos, de todas as está visível. idades. Resta a dúvida: quais meios adicionais devo indicar para o paciente? O CaF 2 depositado no dente funciona como um reservatório de fluoreto, liberando o íon É importante lembrar que precisará de meios para o meio bucal para interferir com o pro- adicionais apenas quem está mais sujeito a cá- cesso de cárie. Assim, a utilização de produtos rie. Assim, indicar bochechos diários ou realizar de alta concentração de fluoreto pelo profis- aplicação profissional de fluoreto em indivíduos sional visa não apenas o aumento momentâ- que controlam cárie pelo uso de água e denti- neo da concentração de fluoreto na cavida- frício fluoretados não trará nenhum benefício. de bucal, mas promover sua lenta liberação a Por outro lado, indivíduos que não controlam partir de reservatórios formados na cavidade o processo de cárie, seja devido a uma alta fre- bucal, tentando compensar a falta de autouso quência de exposição a carboidratos fermentá- de fluoreto pelo paciente. veis, pela diminuição do fluxo salivar por me- Outro meio de uso de fluoreto profissional são dicamentos ou pela dificuldade de remoção do os selantes e materiais restauradores liberadores biofilme dental pela instalação de dispositivos de fluoreto. Embora esses materiais se enqua- ortodônticos, precisam de meios adicionais. A drem perfeitamente nos conceitos da impor- escolha do meio adicional de uso de fluoreto tância de meio para manutenção de fluoreto caberá ao profissional, de acordo com sua expe- constante no meio ambiente bucal, a relevância riência clínica e conhecimento do comprometi- clínica da sua indicação deve levar em consi- mento do paciente com o protocolo escolhido. 11
  • 12. Conclusão fluorose e água otimamente fluoretada, já foi dito e aceito que ‘seria preferível fluorose a cárie’. Em- As recomendações de meios de uso de fluo- bora o declínio de cárie dental, ocorrida tanto em reto para as quais há evidência científica de países desenvolvidos como no Brasil, seja atribuí- redução de cárie dental estão sumarizadas na do ao amplo uso de fluoretos, fluorose dental tem tabela abaixo. sido hoje questionada, o que será abordado na Embora nenhum país tenha conseguido contro- parte III deste texto, lembrando que: lar cárie da sua população a não ser usando flu- 1. Qualquer F- mantido constante no meio am- oreto de alguma forma, uma série de polêmicas biente bucal (saliva-biofilme) tem potencial an- surge frequentemente sobre os riscos de seu uso ticárie em Odontologia, envolvendo desde toxicidade aguda (de vômitos a morte) até toxicidade crô- 2. Qualquer F- absorvido pelo organismo e circu- nica (fluorose dental). Casos letais ocorreram no lando pelo sangue terá potencial de manifestar passado pela ingestão inadvertida de comprimi- algum efeito colateral dos de flúor e do uso inadvertido de produtos em “O que diferencia o veneno do remédio é a dose” consultórios. No que diz respeito à relação entre Paracelsus (1493-1541) recomendações de uso de fluoretos Uso Uso Meios Uso coletivo Recomendações individual profissional Água otimamente X Sem restrições fluoretada Dentifrício fluoretado Diariamente para todos os indivíduos, X (1000-1500 ppm F) supervisionado em crianças de pouca idade Soluções F para De acordo com o risco ou atividade de cárie, NaF 0,2% NaF 0,05% bochecho mas restritos a idade acima de seis anos Indicação individual ou coletiva, de acordo Gel, verniz X com o risco ou atividade de cárie Combinações De acordo com o risco ou atividade de cárie individual ou populacional destes meios Tenuta & Cury. Fluoreto na prática de promoção de saúde, individual e coletiva. Cadernos da ABOPREV IV, 2005. 12
  • 13. Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia Parte III: Limitações do uso de fluoreto em Odontologia Nas seções prévias discorremos sobre uma impor- pode ser usado no tratamento da intoxicação aguda, tante premissa envolvida no controle de cárie dental pela administração via oral de compostos contendo baseada no uso de fluoreto (íon flúor, F-): cálcio ou alumínio, que formam sais de baixa solubi- Qualquer F- mantido constante no meio ambiente lidade com o F-, diminuindo sua absorção. bucal (saliva-biofilme) tem potencial anticárie Usando esse mesmo raciocínio, se a ingestão de F- Após descrevermos como os diferentes meios de uso ocorrer com estômago vazio, a absorção será total; de fluoretos mantêm F- na cavidade bucal, nos depa- no entanto, a ingestão feita até 15 minutos após as re- ramos com o “outro lado da moeda”, relacionado à feições diminui em até 40% a absorção, seja devido limitação de seu uso: ao efeito mecânico do bolo alimentar, restringindo a Qualquer F- absorvido pelo organismo e circulan- superfície de mucosa gástrica em contato com o F-, do pelo sangue terá potencial de manifestar algum seja devido à complexação do F- com cátions como efeito colateral o cálcio presentes no alimento, formando comple- xos insolúveis que não serão absorvidos. Os efeitos colaterais dependem da dose absorvida e do tipo de exposição. Dessa forma, separamos a descrição O F- não solúvel é excretado pelas fezes devido à não da toxicidade do F- em efeitos agudos ou crônicos. absorção no trato gastrointestinal. O solúvel cai no sangue, é distribuído por todo o organismo se fixan- Tanto a toxicidade aguda como a crônica são efei- do nos tecidos em mineralização (ossos e dentes). tos sistêmicos do F- e, portanto, é necessário revisar O não incorporado é eliminado principalmente por de forma sucinta o metabolismo do F- no organismo, excreção renal. Em termos toxicológicos esse conhe- para um melhor entendimento das consequências cimento é importante porque os efeitos agudos ou da intoxicação, prevenção e possível reversão ou mesmo crônicos serão função da concentração de tratamento. Ao se ingerir F-, seja pela água fluoretada F- não só atingida no sangue ou mantida nesse após (ou alimentos cozidos com ela), seja pela ingestão a ingestão, como de uma eficiente excreção renal. inadvertida de dentifrício fluoretado ou de gel de aplicação profissional de fluoreto, em 30-45 minutos a) Toxicidade aguda 90% do ingerido cai em corrente sanguínea, pois sua É aquela devida à ingestão de uma quantidade ex- absorção ocorre principalmente no estômago (o pH cessiva de F-, em uma única dose. Os sintomas mais ácido facilita o transporte do fluoreto, na forma de leves incluem mal estar gástrico e vômitos, e depen- ácido fluorídrico [HF], através das células da muco- dendo da dose, a intoxicação pode levar à morte. sa gástrica). Esse conhecimento é importante, pois: a) Para ser absorvido o F- precisa estar solúvel; b) Ab- Ao ser ingerido em alta quantidade, o F- inicialmen- sorção pode ser reduzida dependendo do conteúdo te causará mal estar gástrico devido à irritação da gástrico; c) Qualquer medida voltada a diminuir a mucosa do estômago, podendo ocasionar inclusive absorção do F- deve ser realizada rapidamente. vômitos. Ao ser absorvido pelo organismo, o F- de- sencadeia uma série de sintomas, desde não espe- Assim, considerando que para ser absorvido o fluore- cíficos, como hipersalivação e suor frio, até aque- to deve estar na forma de íon F- (para haver a forma- les oriundos de sua ligação com o cálcio sanguíneo ção de HF e posterior difusão), a ingestão de flúor na (hipocalcemia) alterações celulares (hipercalemia), forma de sais de baixa solubilidade, como fluoreto de queda de pressão, depressão respiratória, arritmia cálcio, por exemplo, reduz a absorção. Esse princípio cardíaca, desorientação ou coma e morte. 13
  • 14. Devido a casos letais por doses de F- inferiores às Em casos de ingestão acima da DPT, o paciente consideradas no passado como seguramente tolera- deve ser encaminhado ao hospital para cuidados das, a partir da década de 90 foi estabelecido em médicos adicionais. Odontologia que a dose de 5 mg F-/kg de peso cor- poral, chamada de dose provavelmente tóxica (DPT) b) Toxicidade crônica (fluorose dental) deve ser considerada como limite máximo de risco. Os benefícios anticárie do fluoreto foram descober- Assim, considerando os produtos de uso odontoló- tos indiretamente pela fluorose dental quando, ao gico, o profissional deve ficar atento àqueles que se relacionar a concentração de fluoreto natural na possuem maior concentração de F-, ou seja, aqueles água utilizadas por crianças e a ocorrência de flu- que contém uma grande quantidade de F- mesmo orose e cárie nos seus dentes, foi encontrada uma em pequenas porções do produto. Nesse caso, é im- concentração, chamada de ‘ótima’ a qual produzia portante conhecer as unidades de concentração para o máximo de redução de cárie (benefício) com o estabelecer qual a DPT de acordo com o peso do pa- mínimo de efeito colateral (fluorose dental estetica- ciente. A tabela abaixo apresenta alguns exemplos: mente aceitável). Embora a tabela demonstre a segurança de uso Somente após ter sido comprovado que fluorose dos produtos odontológicos, o profissional deve dental era o único efeito colateral da utilização de estar ciente dos riscos oriundos do manejo des- água otimamente fluoretada, não estando envolvi- ses produtos, evitando ao máximo sua ingestão. do nenhum outro efeito de saúde geral, se iniciou Há relato de casos letais oriundos da ingestão de a agregação de F- ao tratamento das águas de abas- comprimidos de flúor por crianças e do uso inad- tecimento público. Na época, devido à severida- vertido de produtos em consultórios. de da cárie e aos benefícios em termos de saúde Ao identificar a ingestão acidental desses produtos pública da fluoretação da água, a fluorose dental fluoretados, o profissional deve estimar a dose in- consequente foi considerada como o ‘preço’ a ser gerida e agir rapidamente para evitar a absorção do pago pela prevenção de cárie. Entretanto, no presen- F- no estômago, administrando leite (contém cál- te fluorose dental voltou a ser discutida porque hou- cio) ou antiácidos, como hidróxido de alumínio. ve um declínio mundial de cárie dental e também Quantidade de produto Produto Concentração Quantidade de Quantidade de produto correspondente à DPT para de F F- em 1 ml ou 1 g normalmente utilizada criança de 20 kg (5 a 6 anos) Flúor fosfato acidulado em gel 12.300 ppm 12,3 mg 2,5 g/moldeira 8,1 g Verniz fluoretado 22.000 ppm 22 mg 0,5 g 4,5 g Dentifrício fluoretado 1.100 ppm 1,1 mg 0,5 g/escovação 90 g (uma bisnaga) Solução NaF 0,05% 225 ppm 0,225 mg 10 mL/bochecho 444 ml (bochecho diário) Solução NaF 0,2% 900 ppm 0,9 mg 10 mL/bochecho 111 ml (bochecho semanal) Suplemento 1 mg F/comprimido 1 comprimido/dia 100 comprimidos (2,21 mg NaF/ comprimido) Água 0,7 ppm 0,0007 mg - 143 litros 14
  • 15. Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia por relatos de aumento da prevalência de fluorose, 07. Apenas os dentes em processo de formação do mesmo em regiões sem água fluoretada. Assim, an- esmalte dental estão sujeitos a fluorose. Assim, a tes aceita pacificamente pela maioria, fluorose den- idade de risco para o desenvolvimento de fluo- tal passou a ser questionada almejando-se não só rose em dentes permanentes anteriores é dos 20 manter o atual declínio de cárie como sem nenhuma aos 30 meses de idade. preocupação com algum grau de fluorose que possa comprometer a estética dental. 08. Entretanto, a duração da exposição a determina- da dose é mais relevante e assim, por exemplo, Entretanto, alguns conceitos básicos são importantes a prevalência e severidade da fluorose em uma para iniciar a discussão: criança que bebe água com 1,4 ppm de F- ape- nas 1 dia por mês será inferior a daquela exposta 01. Fluorose dental é um efeito sistêmico, portanto o diariamente a concentração ótima de 0,7 ppm F-. grau de fluorose provocado nos dentes depen- derá da concentração de F- no sangue, a qual 09. Para a fluorose ser visível clinicamente, a expo- depende da dose de ingestão diária e da exposi- sição ao fluoreto precisa ser crônica (afetando ção prévia a fluoreto. o esmalte em formação durante determinado período). Portanto, produtos de uso profissio- 02. Apenas o fluoreto absorvido e circulando no or- nal como géis e vernizes não estão relaciona- ganismo terá potencial de causar fluorose den- dos ao desenvolvimento de fluorose, embora tal. Assim, não apenas a quantidade ingerida cuidados devam ser tomados quanto ao risco deve ser avaliada, mas sim a quantidade real- de intoxicação aguda. mente absorvida. 10. O dente com fluorose não é mais suscetível a 03. Qualquer fluoreto absorvido terá potencial de cárie por ser menos mineralizado que o não causar fluorose dental, independentemente da fluorótico; também, ele não é mais resistente a fonte (água fluoretada, dentifrício fluoretado, cárie por possuir mais flúor. Em acréscimo, se alimentos etc). o paciente estiver em risco ou atividade de cá- 04. O F- presente no sangue afeta o esmalte em for- rie a aplicação tópica profissional de flúor é re- mação, mas o efeito não é celular no metabolis- comendável sem qualquer risco de aumentar a mo do ameloblasto, mas extracelular no proces- fluorose, ocorrida anos atrás durante a formação so de maturação do esmalte. do esmalte. 05. Há uma relação linear entre o grau fluorose ob- 11. O esmalte não fluorótico é translúcido e a fluo- servado e a dose de exposição a fluoreto pela rose se manifesta através de diferentes graus de água (mg F/kg/dia), sugerindo que sempre haverá aumento de opacidade do esmalte, caracteriza- algum grau de fluorose quando da exposição a dos através de linhas brancas transversais que fluoreto. podem se fundir tornando o dente todo branco. Como o esmalte é poroso, a opacidade se torna 06. Tem sido sugerido que 0,05 a 0,07 mg F/kg/dia mais visível se o dente estiver seco. deve ser a dose máxima aceitável em termos do balanço riscos/benefícios de exposição a fluore- 12. Flúor não provoca manchamento nos dentes em to, sem ainda nenhuma evidência experimental. formação; estes quando irrompem podem estar 15
  • 16. totalmente esbranquiçados (fluorose moderada) e 1. Água otimamente fluoretada tem potencial de cau- a pigmentação é pós-eruptiva devido a produtos sar fluorose, mas restrita aos níveis muito leve e da dieta que penetram na porosidade do esmalte. leve, que não comprometem a estética dos indiví- duos. Assim, a recomendação de uso de dentifrí- 13. Fluorose é um efeito sistêmico, portanto dentes cio não fluoretado não assegura que a criança não formados no mesmo período devem apresentar apresente fluorose nos dentes permanentes se ela o mesmo grau de alteração e deve haver homo- viver em região com água otimamente fluoretada. logia (jamais haverá fluorose em apenas um dos incisivos ou molares). 2. A prevalência de fluorose dental encontrada em crianças não expostas a água fluoretada é menor 14. Os casos de fluorose com comprometimento do que a esperada com base na dose de ingestão estético (relatado pelo paciente, não pelo den- de dentifrício, sugerindo que esta dose está sendo tista) podem ser eficazmente tratados com mi- superestimada, pois: croabrasão ácida porque a camada de esmalte a. A dose de exposição é calculada pela quanti- alterada é superficial. dade de dentifrício ingerido pela criança mul- 15. Como há uma relação linear entre dose de ex- tiplicado pelo número de escovações diárias posição a fluoreto e fluorose dental, quando relatadas pela mãe ou responsável, que pode fluoreto é ingerido compulsoriamente (via água estar inflacionado; fluoretada) ou involuntariamente (quando da es- b. Nem todo fluoreto ingerido com o dentifrício covação com dentifrício fluoretado) não está em será absorvido. Fatores que diminuem a absor- discussão o efeito biológico inevitável da fluo- ção do fluoreto incluem a presença de alimen- rose, mas sim se o grau de fluorose decorrente tos no estômago (a escovação após as refeições é aceitável ou não considerando o beneficio do é desejável) e abrasivos a base de cálcio pre- controle da cárie em termos de saúde pública. sentes nos dentifrícios mais vendidos no Brasil. A discussão atual sobre fluorose está centrada na 3. Crianças que ingerem uma grande quantidade de estimada dose de risco de 0,07 mg F/kg de peso dentifrício a cada escovação continuam sob risco corporal/dia (ver item 6 acima) e estudos longi- aumentado de desenvolver fluorose, mesmo uti- tudinais têm mostrado que a quantidade de flu- lizando um dentifrício de baixa concentração de oreto ingerida por uma criança jovem pela dieta flúor. Em acréscimo, a recomendação de uso de e pelo dentifrício fluoretado não corresponde ao dentifrícios não fluoretado ou com concentração desfecho de fluorose observada anos depois, sen- reduzida de fluoreto, além da redução do efeito do a fluorose sempre menos prevalente e menos anticárie, pode gerar a idéia de que esses dentifrí- severa do que o esperado. É importante que esse cios são mais seguros para serem ingeridos. ponto seja enfatizado, pois a recomendação da 4. Crianças expostas a água otimamente fluoretada diminuição de concentração de fluoreto em den- não terão risco aumentado de fluorose se elas usa- tifrícios ou mesmo da utilização de dentifrícios rem uma pequena quantidade de pasta fluoretada não fluoretados por crianças de pouca idade têm para escovar os dentes. sido feitas com base da dose estimada de exposi- ção. Assim, alguns pontos devem ser enaltecidos: 5. Embora não haja grandes preocupações com o 16
  • 17. Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia grau de fluorose por dentifrícios em crianças vi- nada não mostrou insatisfação pelos efeitos do flúor vendo em região de água não fluoretada, uma pe- da água de Piracicaba-SP, e do dentifrício fluoretado quena quantidade de pasta fluoretada deverá ser por ela usado, mas sim se disse insatisfeita com sua sempre recomendada (segura e econômica). mordida aberta. Nessa mesma idade no passado, in- satisfeitos com as cáries nos seus dentes, os pais des- 6. Supervisionar a escovação dos dentes de crian- sa criança seguramente procuraram um profissional ças para usarem pequena quantidade de pasta dentista para tratamento restaurador. Essa criança de e estimulando a expectoração da espuma é um uma escola pública de Piracicaba hoje almeja um processo educativo objetivando ter filhos inde- tratamento ortodôntico porque cárie não é a sua pre- pendentes e responsáveis, capazes de no futuro ocupação principal. próximo se autocuidarem. Assim como no uso de flúor, em que buscamos o Em conclusão, nesta série de artigos sobre o uso de balanço entre seus benefícios e riscos, esperamos fluoretos em Odontologia nos baseamos em evidên- ter tido equilíbrio na dosagem desses três artigos, cias científicas para discutir o mecanismo de contro- não tendo sido as informações superficiais ou muito le da cárie dental a partir de diversos meios de uso profundas. Teremos enorme prazer de sermos mais de fluoretos e os cuidados que devem ser tomados úteis, mesmo que virtualmente pela internet pelos para minimizar efeitos colaterais. Considerando a nossos e-mails, mas antes queremos passar a última importância central do uso de fluoretos no controle mensagem: da cárie dental no Brasil e no mundo, água fluore- tada e dentifrício fluoretado poderão continuar sa- Os mecanismos pelos quais o fluoreto diminui cá- tisfazendo o binômio de benefícios x riscos de utili- rie e aumenta fluorose são totalmente distintos e do zação de fluoreto desde que a água fluoretada seja ponto de vista farmacológico enquanto o efeito do utilizada na concentração ótima e que uma pequena primeiro é local, portanto concentração dependen- quantidade de dentifrício fluoretado seja utilizada te, o do segundo é sistêmico, logo dose dependente. para escovar os dentes. Embora a fluorose decorren- Maximizar os benefícios do fluoreto enquanto mini- te desperte a atenção de um profissional (foto abai- mizando seus riscos é um desafio permanente da- xo, índice 3 de fluorose), a criança quando questio- queles comprometidos com saúde pública. 17
  • 18. Bibliografia recomendada Livros e publicações avulsas: 9. Marinho VC, Higgins JP, Sheiham A, Logan S. Combinations of topical fluoride (toothpastes, mouthrinses, gels, varnishes) versus 1. Cury JA. Uso do flúor e controle da cárie como doença. In: Baratieri single topical fluoride for preventing dental caries in children and LN et al. Odontologia Restauradora: fundamentos e possibilidades. adolescents. Cochrane Database Syst Rev. 2004;(1):CD002781. São Paulo: Ed. Santos, 2001, cap. 2, p.31-68. 10. Marinho VC. Evidence-based effectiveness of topical fluorides. 2. Elwood R, Fejerskov O, Cury JA, Clarkson B. Fluoride in caries Adv Dent Res. 2008;20(1):3-7. control. In: Fejerskov O, Kidd E. (Org.). Dental caries: The disease and its clinical management. 2a. ed. Oxford: Blackwell & Munksgaard, 11. McDonagh MS, Whiting PF, Wilson PM, Sutton AJ, Chestnutt 2008, cap. 19. p.287-323. I, Cooper J, Misso K, Bradley M, Treasure E, Kleijnen J. Systematic review of water fluoridation. BMJ. 2000;321(7265):855-859. 3. Tenuta LMA, Cury JA. Fluoreto: da ciência à prática clínica. In: Assed S. (Org.). Bases científicas para a prática clínica. São Paulo: 12. Randall RC, Wilson NH. Glass-ionomer restoratives: a Artes Médicas, 2005, cap. 4, p.113-152. systematic review of a secondary caries treatment effect. J Dent Res. 1999;78(2):628-637. 4. Tenuta LMA, Cury JA. Fluoreto na prática de promoção de saúde, individual e coletiva. Cadernos da ABOPREV IV, Rio de Janeiro, Maio 2005. 13. Whelton HP, Ketley CE, McSweeney F, O’Mullane DM. A review of fluorosis in the European Union: prevalence, risk factors and aesthetic issues. Community Dent Oral Epidemiol. 2004;32 Suppl 1:9-18. Revisões sistemáticas da literatura, meta-análises e artigos de revisão: Artigos científicos: 1. American Dental Association Council on Scientific Affairs. Professionally applied topical fluoride: evidence-based clinical 1. Cury JA, Del Fiol FS, Tenuta LM, Rosalen PL. Low-fluoride recommendations. J Am Dent Assoc. 2006;137(8):1151-1159. dentifrice and gastrointestinal fluoride absorption after meals. J Dent 2. Ammari AB, Bloch-Zupan A, Ashley PF. Systematic review of Res. 2005;84(12):1133-1137. studies comparing the anti-caries efficacy of children’s toothpaste 2. Lima TJ, Ribeiro CC, Tenuta LM, Cury JA. Low-fluoride dentifrice containing 600 ppm of fluoride or less with high fluoride toothpastes and caries lesion control in children with different caries experience: a of 1,000 ppm or above. Caries Res. 2003;37(2):85-92. randomized clinical trial. Caries Res. 2008;42(1):46-50. 3. Bardsen A. “Risk periods” associated with the development of dental 3. Lima YB, Cury JA. Ingestão de flúor por crianças pela água e fluorosis in maxillary permanent central incisors: a meta-analysis. dentifrício. Rev Saude Publica. 2001;35(6):576-81. Acta Odontol Scand. 1999;57(5):247-256. 4. Martins CC, Paiva SM, Lima-Arsati YB, Ramos-Jorge ML, Cury JA. 4. Benson PE, Parkin N, Millett DT, Dyer FE, Vine S, Shah A. Fluorides Prospective study of the association between fluoride intake and dental for the prevention of white spots on teeth during fixed brace treatment. fluorosis in permanent teeth. Caries Res 2008;42(2):125-133. Cochrane Database Syst Rev. 2004;(3):CD003809. 5. Menezes LMB, Sousa M da LR, Rodrigues LK, Cury JA. 5. Cury JA, Tenuta LM. How to maintain a cariostatic fluoride Autopercepção da fluorose pela exposição a flúor pela água e concentration in the oral environment. Adv Dent Res. 2008;20(1):13-16. dentifrício. Rev Saúde Pública. 2002;36(6):752-754. 6. Levy SM. An update on fluorides and fluorosis. J Can Dent Assoc. 6. Paiva SM, Lima YB, Cury JA. Fluoride intake by Brazilian children 2003;69(5):286-291. from two communities with fluoridated water. Community Dent Oral 7. Marinho VC, Higgins JP, Sheiham A, Logan S. Fluoride toothpastes Epidemiol. 2003;31(3):184-191. for preventing dental caries in children and adolescents. Cochrane 7. Tenuta LMA, Cerezetti RV, Del Bel Cury AA, Tabchoury CPM, Cury Database Syst Rev. 2003;(1):CD002278. JA. Fluoride release from CaF2 and enamel demineralization. J Dent 8. Marinho VC, Higgins JP, Logan S, Sheiham A. Topical fluoride Res. 2008;87(11):1032-1036. (toothpastes, mouthrinses, gels or varnishes) for preventing dental 8. Tenuta LMA, Zamataro CB, Del Bel Cury AA, Tabchoury CPM, caries in children and adolescents. Cochrane Database Syst Rev. Cury JA. Mechanism of fluoride dentifrice effect on enamel 2003;(4):CD002782. demineralization. Caries Res. 2009;43(4):278-285. 18
  • 19. Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia 19