O documento discute a fisiopatologia da desnutrição em pacientes com câncer de estômago, cólon e pâncreas. A desnutrição é comum nesses pacientes, com taxas de prevalência variando de 30% a 85% dependendo do local do câncer. O câncer e seu tratamento podem causar anorexia, alterações metabólicas, déficits energéticos e distúrbios nos macronutrientes, levando à perda de peso. A desnutrição está associada a piores resultados do tratamento e sobrevida
50 fisiopatologia da desnutrição dos pacientes com câncer de estômago, cólon e pâncreas
1. Fisiopatologia da
desnutrição nos
pacientes com câncer
de estômago, cólon e
pâncreas
Tatiana Oliveira
Mestre em Ciências área de Oncologia
Especialista em Nutrição em Oncologia
Nutricionista do Centro de Combate ao Câncer - SP
tatiana.oliveira@cccancer.net
2. Câncer & Desnutrição
Prevalência de 40 a 80%
Pacientes Internados
67%
Ollenschager G et al. Cancer Res 1991; 121:249-59; Gómez Candela C et. al. Nutr
Hosp 2010; 25:400-5. 2010; Waitzberg DL et al . Nutrition 2001; 17:573-80 2001.
3. Prevalência de desnutrição em pacientes com câncer
Prevalência de Desnutrição
Pâncreas 80 – 85%
Estômago 65 – 85%
Cabeça e pescoço 65 – 75%
Esôfago 60 – 80%
Pulmão 45 – 60%
Cólon/Reto 30 – 60%
Urológico 10%
Ginecológico 15%
Adaptado de Stratton et al., 2003.
4. Câncer
Efeitos do tumor Efeitos do tratamento
Déficit energético + Alterações nos Anorexia + Alterações físicas e
macronutrientes psicológicas
Distúrbios metabólicos Redução da ingestão de alimentos
Caquexia no Câncer
Adaptado de: Cutsem e Arends. Eur J Oncol Nurs, 2005
5. Mecanismos de ação da perda de peso induzida pelo câncer
Células tumorais malignas
Produção de citocinas pró-inflamatórias
IL-1, IL-6,TNF-a Fator indutor de
proteólise
(PIF)
Resposta protéica
Apetite de fase aguda
( PCR)
Gasto Alteração do
Ingestão de metabolismo de Massa
energético magra
alimentos macronutrientes
em repouso
Perda de peso induzida por câncer
6. Distúrbios Metabólicos
Lipólise
Fator Mobilizador de
Gordura Hipotálamo
Lipídios (LMF)
Anorexia
Gasto
Citoquinas energético
Adrenal/cel Proteínas de
Tumor fase aguda
Insulina AAs
Cortisol
Fator Indutor de Glucagon
Proteólise (PIF)
Músculos Proteólise
Adaptado de: Cutsem e Arends. Eur J Oncol Nurs, 2005
7. IMPACTO CLÍNICO DA CAQUEXIA NEOPLÁSICA
22% MORTES: CAUSADAS POR CAQUEXIA
2/3 dos Resposta à Mortalidade Incidência
pacientes quimioterapia em de
apresentam e pacientes complicações
caquexia na radioterapia cirúrgicos
morte
• PERDA DE PESO > 2,75% AO MÊS:
• INDICADOR PROGNÓSTICO INDEPENDENTE PARA DA SOBREVIDA
Andreyev et al. Eur J Cancer 1998; 34:503-9; Tan & Fearon. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2008; 11:400-7.
8. Caquexia
Pré Caquexia Caquexia Refratária
MORTE
• Perda de Peso <5% • Perda de Peso >5% • Graus variáveis de
ou Caquexia.
• Anorexia
IMC <20 e perda de • Câncer pró-catabólicos
• Alt. Metabólicas peso >2% e não responsÍvel ao
tratamento anti-câncer
ou sarcopenia e
perda de peso >2% • Baixa
performance, sobrevida
• Freqüente redução esperada <3 meses
na ingestão alimentar
• Inflamação sistêmica
Fearon K, Baracos V et al. Lancet 2011; 10: 70218-7.
12. Câncer & Desnutrição
Risco de infecções
Perda de massa muscular
Hospitalização prolongada
Tolerância ao tratamento
Desfavorece o prognóstico de cura
van Bokhorst de van der Schueren , 2005
16. Tratamento
CIRURGIA (gastrectomia parcial / total) + LINFADENECTOMIA
QUIMIOTERAPIA (5FU/LV) + RADIOTERAPIA
OU
QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE (*ECF x 3)
CIRURGIA (gastrectomia parcial / total) + LINFADENECTOMIA
QUIMIOTERAPIA ADJUVANTE (*ECF x 3)
*epirrubicina, cisplatina e 5-FU
17. Tratamento Cirúrgico
Tumores
Proximais • Gastrectomia Total
Tumores Distais • Gastrectomia total ou
(antro e corpo) subtotal (margem > 5cm)
18. Gastrectomia - Consequências
Perda da capacidade de armazenamento
Alteração na absorção de nutrientes devido
às modificações no trânsito intestinal
Tipo de anastomose:
Billroth I – BI: duodeno
Billroth II – BII: jejuno
Y – Roux
19. Gastrectomia - Consequências
↓ na produção
de gastrina Perjuízo na
Remoção do Diminuição de
↓ do estímulo digestão de
antro HCl e FI
de secreção de proteínas
gastrina
20. Consequências Nutricionais
Anorexia Diarréia
Síndrome
Anemia de
Dumping
Perda de
peso
Papini-Berto SJ et al, 2001
21. Anorexia
• Medo de comer
• ↓ do estômago = plenitude gástrica → ↑ distensão abdominal
• Aumento de CCK, PYY e neurotensina
Papini-Berto SJ et al, 2001
22. Diarréia
• Rápido esvaziamento gástrico → alteração da função da VB e ↑ da
excreção de sais biliares
• Malabsorção secundária ao super crescimento bacteriano
• Insuficiência pancreática exócrina
• Alterações da mucosa intestinal
• Produção deficiente de lactase pelo intestino
Papini-Berto SJ et al, 2001
23. Síndrome de Dumping
• Manifestações vasomotoras e gastrointestinais, após a ingestão
de alimentos hipertônicos
• Caracteriza-se por sensação de desconforto abdominal
, fraqueza, tremores, sudorese, taquicardia, palidez, vertigem
• Melhora com o decúbito
• Precoce ou tardio
Papini-Berto SJ et al, 2001
24. Síndrome de Dumping
• É resultado da passagem rápida do quimo
Precoce hiperosmolar para o ID , promovendo seqüestro do
fluido intraluminal. Estas alterações ↓ volume
(10 a 30 min.) plasmático → hipotensão e taquicardia, distensão
abdominal, dor e diarréia
• Rápido esvaziamento gástrico leva à maior oferta
Tardio de carboidrato ao ID. A glicose rapidamente
absorvida → hiperglicemia →
(2 a 3h) insulina, provocando como rebote (2 a 3h) →
hipoglicemia
Papini-Berto SJ et al, 2001
25. Perda de Peso
• Diminuição da ingestão alimentar
• Malabsorção de nutrientes
• Conseqüência da doença de base
Papini-Berto SJ et al, 2001
27. O acompanhamento ambulatorial para o
paciente gastrectomizado torna-se de
extrema necessidade para o
monitoramento do estado nutricional,
visando prevenir alterações nutricionais e
otimizar a qualidade de vida
33. Ileostomia
Observações:
Avaliar restrição de gordura, sacarose e lactose
Débito normal até 500ml/dia
34. LOCALIZAÇÃO DAS OSTOMIAS E SUAS INTERCORRÊNCIAS
Eliminações
Ostomia Região excluída Perdas Nutricionais (tipo de fezes)
Cólon transverso H2O, sódio, potássio, Semi
Colostomia de
descendente, sig desat. de enzimas líquida, abundantes, eliminaçã
cólon ascendente
móide e reto digestivas o de enzimas digestivas
Cólon
Colostomia cólon H2O, vitamina K Semi líquida – formada
descendente
transverso intermitente
sigmóide e reto
Colostomia do
Cólon sigmóide e Formadas com intervalos
cólon Pouca – nenhuma
reto regulares
descendente
Colostomia cólon Pouca – nenhuma Formadas com intervalos
Reto
sigmóide interferência regulares
Ca, Mg, H2O, vit.
B12, Fe, Vit
Cólon e reto Líquidas abundantes e
Ileostomia A, D, E, K, gordura, p
completo pastosa/ tardio
roteína, ác.
fólico, sais biliares
Waitzberg DL, 2000 e Campos MDSR, Farias LV, 1995
35. Conseqüências sobre o estado nutricional
Síndrome do Intestino curto
Limitação da ingestão oral e do
aproveitamento dos nutrientes
Diarréia
Desidratação
Alterações psicossociais
37. Câncer de Pâncreas - Apresentação Clínica
• Sintomas vagos e inespecíficos
• Icterícia obstrutiva
• Dor abdominal superior (em faixa) – irradiação dorsal
• Perda de peso, perda de apetite
• Pancreatite aguda
• Trombose venosa profunda
• Aumento de volume abdominal
Doença silenciosa
38. Câncer de Pâncreas - Tratamento
• Cirurgia : única modalidade curativa
• Apenas 15% são candidatos a cirurgia curativa
• 80% dos pacientes evoluem com progressão de
doença durante o primeiro ano após cirurgia
• Adjuvância: quimioterapia (5-FU ou Gencitabina x 6
meses) e eventualmente radioterapia
40. Duodenopancreatectomia
• Remoção da metade distal do estômago
• Remoção parcial ou total do pâncreas
• Remoção de todo o duodeno
• Remoção da primeira alça jejunal distal ao ligamento de Treitz
41. Perda de peso
• Conseqüência da doença de base
• Deficiência de enzima pancreática
• Secreção de bile insuficiente
• Malabsorção de nutrientes
• Esteatorréia
• Deficiência de vitaminas lipossolúveis
Cooperman AM et al, 2000
45. Terapia Nutricional no Câncer
A perda de peso no câncer sugere uma participação importante de
mediadores celulares e do eixo neuroendócrino na gênese da caquexia,
como citocinas pró-inflamatórias, liberação de neuro-hormônios e fatores
derivados do tumor
DeWys WD, et al. 1980
Estudos clínicos demonstraram que aumentar a ingestão dietética
geralmente não é efetivo para tratar a perda de peso induzida pelo
câncer, e o tratamento pode ter sucesso apenas quando são
abordadas as alterações metabólicas subjacentes
Jho D, et al. 2003
46. Ácido Eicosapentaenóico - EPA
• Ácido graxo poliinsaturado de cadeia longa (LCPUFA) essencial da série ômega 3
• Encontrado naturalmente em óleo de peixe de águas profundas
• Sintetizado do ácido -linolênico ou proveniente de óleo de peixe
• Ingestão típica ~0,25 g/dia
• Desempenha papel na membrana celular - receptor e função enzimática
• Reduz a produção de citocinas pró-inflamatórias
• Regula a resposta inflamatória (reduzindo-a)
• Regula o nível/atividade do PIF (diminuindo-o)
Calder PC, Braz J. Med Bio Res, 2003
47. EPA
Membrana celular
composta por AA
EPA incorporado à
membrana
AA livre Substratos para síntese EPA livre
de eicosanóides
COX 5-LOX COX 5-LOX
PGE2 e TX LTB4 PGE3 e TX LT5
Redução dos efeitos Efeitos menos
Fisiopatológicos
+ potentes
= Redução da inflamação e
da imunossupressão
Adaptado de Calder PC, Braz J .Med Bio Res, 2003
49. Propriedades de EPA e DHA na Membrana Fosfolípidica
EPA e DHA DHA
• Altera a estrutura • Altera a composição
básica da membrana do Raft
• Fluidez e Elasticidade
• Influencia a transdução
de sinal de proteínas
• Permeabilidade
iônica
• Regulação de respostas
• Organização das imune, inflamatória e
proteínas tumorigênica
Chapkin. et al. ProstLeu Fatty Acids. 2009; 81, Yaqooba. et al. Curr Opin C Nutr Metabolic Care. 2010, 13:156-66.
50. EPA: efeito na perda de peso induzida pelo câncer
Células tumorais malignas
EPA
EPA
Produção de citocinas pró-inflamatórias
IL-1, IL-6,TNF-a Fator indutor de
proteólise
(PIF)
Resposta protéica
Apetite de fase aguda
( PCR)
Gasto Metabolismo de
Ingestão de macronutrientes Massa
energético magra
alimentos normalizado
em repouso
Atenuação da perda de peso induzida pelo câncer
52. AG. Ômega - 3: Efeito no Tratamento da Caquexia do Câncer
Total de 17 estudos:
Wigmore et al Nutrition 1996
Swallls et al JPEN 1997
Gogos et al Cancer 1998 Positivos
Burns et al Clin Cancer Res 1999 12
Sem alteração
Barber et al Br J Cancer 1999a
10
Barber et al J Nutr 1999b
Barber et al Clin Sci 2000 8
Wigmore et al Nutr Cancer 2000
Zuijdgeest-Van et al Clin Nutr 2000 6
Barber et al Nutr Cancer 2001
Bruera et al J Clin Oncol 2003 4
Fearon et al Gut 2003
2
Burns et al Cancer 2004
Jatoi et al J Clin Oncol 2004 0
Moses et al Br J Cancer 2004 Perrson PC Apetite GE QoL Catabol
et al Nutrition 2005
Fearon et al Nutrition 2006
Colomer R et al. Br J Nutr. 2007; 97:823-31; Mazzotta P & Jeney CM. J Pain Symptom Management. 2008; 37: 1069-77
53. EPA em Câncer
• Promove ganho de peso
• Auxilia na formação de massa magra
• Melhora a qualidade de vida
• Atenua a resposta pró-inflamatória
• Efeito debilitante relacionado ao câncer
• Aumenta o nível de atividade física
Tisdale MJ 1996, Gogos CA et al. 1998, Barber MD et al. 1999, Fearon KC et al. 2003
54. EPA no paciente com câncer: há evidência de benefício?
Em ensaios clínicos randomizados as evidências ainda são
controversas e atualmente não é possível chegar a
ESPEN 2006 qualquer conclusão que o EPA melhora o EN e a
capacidade funcional.
É pouco provável que os ácidos graxos ω-3 aumente a
sobrevida no câncer avançado.
A suplementação com ácidos graxos ω-3 pode ajudar a
ASPEN 2009 estabilizar o peso em pacientes com câncer, com dieta
oral que estão em progressiva perda de peso involuntária
B
55. PORQUE HÁ INCONSISTÊNCIA ENTRE ESTUDOS
PRÉ-CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS?
• Ingestão muito baixa de AG n-3
• População
Heterogênea VARIAÇÃO GENÉTICA
• AG n-3 e n-6 não
• Combinação com nutrientes
considerados
podem modificar a resposta
simultaneamente
Larrson et al. Am. J. Clin. Nutr. 79:935-45, 2004
56. 1. Suplemento oral com ácido graxo ω-3 é benéfico para pacientes com câncer avançado e perda
de peso e são indicados para tumores do trato digestivo alto e pâncreas
2. Vantagens observadas: aumento do peso e apetite, melhora da QV, redução de morbidade pós-
cirúrgica
3. Não existe nenhum padrão definido para combinar diferentes ácidos graxos ω-3 , e é
recomendado administrar >1,5 g/dia
4. Período mínimo indicado nos estudos para atingir resultados favoráveis com EPA é de 8 semanas
57. Na prática qual a melhor estratégia...
Diluição adequada
Volumes pequenos são muito bem aceitos
58. Na prática qual a melhor estratégia...
Administrar o suplemento no horário da tomada da
medicação
Também pode ser utilizado em preparações culinárias
59. Conclusão...
Paciente com Paciente em Suplementação
Câncer Risco Nutricional Nutricional
• Previne a desnutrição
• Reduz complicações inerentes ao tratamento
• Previne o atraso ou interrupção da terapia anti-neoplásica
• Melhora a qualidade de vida do paciente
61. Muito Obrigada!
Tatiana Oliveira
Mestre em Ciências área de Oncologia
Especialista em Nutrição em Oncologia
Nutricionista do Centro de Combate ao Câncer - SP
tatiana.oliveira@cccancer.net