O documento discute os objetivos e conceitos-chave da etnografia e observação. A etnografia envolve a observação participante para entender significados sociais através da descrição de detalhes do cotidiano. Ela pode se concentrar em tribos, subculturas, esfera pública e organizações. Isso envolve escolhas metodológicas e questões teóricas.
1. ETNOGRAFIA E
OBSERVAÇÃO
Seminário de Pesquisa em Linguística Aplicada
Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
2. Objetivos:
Entender os significados e os objetivos da etnografia, da observação e do
trabalho de campo;
reconhecer as escolhas metodológicas que o etnógrafo enfrenta;
localizar diferentes posições teóricas que sustentam o trabalho
etnográfico;
entender os fundamentos da análise de dados de campo;
conhecer as diferentes versões da observação que podem ser usadas;
compreender os problemas específicos da observação participante.
3. SILVERMAN, David. Etnografia e observação. In: Interpretação de dados
qualitativos: métodos para análise de entrevistas, textos e interações. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
FLICK, Uwe. Observação e etnografia. In: Introdução à pesquisa
qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.
4. Visão tradicional de ciência
(AGAR, 1986)
Aborda qualquer projeto de pesquisa com base nas seguintes perguntas:
Qual a hipótese?
Como você vai medir isso?
Qual o tamanho da amostra?
Você pré-testou o instrumento?
5. Contudo, nem sempre faz sentido formular essas perguntas sobre qualquer
trabalho de pesquisa de ciências sociais:
Para alguns estilos de pesquisa [...] que enfatizam o papel do teste
científico, estas perguntas fazem sentido. Mas [...]quando o pesquisador
social assume um papel de aprendizagem as perguntas não funcionam.
Quando você está na orla de uma aldeia e observa o barulho e o
movimento, você pensa: “quem são as pessoas e o que estão fazendo?”.
[...] Hipóteses, medição, amostras e instrumentos são as diretrizes erradas.
Em vez disso, você precisa aprender sobre um mundo em que você
entende encontrando-o em primeira mão e extraindo algum sentido dele.
6. ESTUDO DE CASO
Trabalho em restaurante (William Foote Whyte)
O estudo mostra a importância do contexto e do processo no
entendimento do comportamento. O pesquisador deixa claro que não
pode usa os métodos do “teste científico” em seu estudo, mas demonstra
também fazer uso de importantes medidas quantitativas (a quantidade de
vezes em que diferentes tipos de pessoas iniciam ações em determinado
contexto). Seria, então, uma observação, uma pesquisa etnográfica?
O que é etnografia?
Como ela difere da observação?
7. Observação
A observação é quase autoexplicativa. O observador baseia seu método em três
componentes:
observar escutar registrar
Mas a observação não é apenas feita por cientistas sociais: físicos, engenheiros e
policiais também fazem suas “observações”. Em nossas vidas cotidianas,
dependemos de “observações” para entender o outro, suas ações e suas
identidades. A forma como usamos a observação é que cria a diferença entre
observação e etnografia.
8. Etnografia
Os cientistas sociais fazem algo diferente com suas observações: eles
escrevem etnografias.
A etnografia refere-se, portanto,
aos escritos científicos sociais
sobre determinadas pessoas,
numa definição mais simples.
etnografia
etno
“pessoas”
grafia
“escrever”
9. Ampliando a definição
Etnografia é o estudo das pessoas em locais ou “campo” que ocorrem
naturalmente, através de métodos de coleta de dados que captam
seus significados sociais e suas atividades comuns, envolvendo a
participação direta do pesquisador no local, se não também nas
atividades, para coletar dados de uma maneira sistemática (Brewer,
2000, p.6)
A observação do participante, a etnografia e o trabalho de campo
são todos usados intercambiavelmente (...) eles podem todos significar
despender longos períodos observando pessoas, além de conversar
com elas sobre o que estão fazendo, pensando e dizendo, com o
objetivo de ver como eles entendem seu mundo (Delamont, 2004,
p.218)
10. Etnografia: passado e presente
surgimento
•obras dos
antropólogos do
século XIX que
viajavam a fim de
observar diferentes
culturas pré-industriais.
presente
•abrange uma série
muito mais ampla de
trabalho de estudos de
grupos na própria
cultura para uma
escrita experimental
visando intervenções
políticas. Os etnógrafos
de hoje nem sempre
“observam”: podem
trabalhar com
artefatos culturais,
como textos escritos ou
registros de estudos de
interações que não
observam em primeira
mão.
desdobramentos
•Alguns pesquisadores
compartilham a visão
primeiros antropólogos
de que para entender
o mundo em “primeira
mão” você mesmo
precisa participar dele
em vez de apenas
observar as pessoas a
distância. Isso tem
dado origem ao que
se denomina método
de observação
participante.
11. Observação participante
Na verdade, a observação participante é mais que um método. É um
recurso básico de toda pesquisa social:
Em certo sentido, toda pesquisa social é uma forma de observação
participante, porque não é possível estudar o mundo social sem ser parte dele.
Sob tal ponto de vista, observação participante não é uma técnica de
pesquisa específica, mas um modo de estar-no-mundo característico dos
pesquisadores. (Atkinson e Hammersley, 1994, p.249).
Como este modo de ser causa impacto nas especificidades da pequisa
etnográfica?
12. Objetivos/características da pesquisa
de observação (Bryman, 1988)
Ver através de...
Descrever...
Contextualizar...
Investigar o processo...
Flexibilizar os projetos de pesquisa...
Evitar o uso inicial de teorias e conceitos...
QUADRO 3.1, p. 72
13. Principal característica
da pesquisa etnográfica
DESCREVER OS DETALHES TRIVIAIS:
Preocupar-se não com a ação, mas com os detalhes cotidianos que
permitiram que a ação ocorresse, estando atento aos mínimos detalhes
que, sendo banais, passam a ter foco pela descrição do etnógrafo.
O etnógrafo não dá foco para o que as pessoas “pensam” ou “sentem”,
mas para o que elas de fato fazem e descrever como fazem.
14. Três aspectos cruciais do trabalho
etnográfico e observacional:
O foco do estudo
• incluindo “tribos, “subculturas”, “reino público”, e organizações
As escolhas metodológicas
• incluindo o acesso, a identidade, a definição de um problema de pesquisa, os
métodos de registro de dados, a observação, assim como a escuta, o
desenvolvimento da análise dos dados etnográficos e o feedback aos participantes
As questões teóricas
• a natureza teoricamente derivada da análise etnográfica e as principais abordagens
teóricas contemporâneas, incluindo “teoria fundamentada”, “naturalismo” e
“etnometodologia”.
15. O foco etnográfico
São quatro os diferentes focos em que os estudos etnográficos têm se
concentrado:
tribos subculturas
esfera
pública
organizações
16. Estudo das tribos
O impulso inicial em favor do trabalho de observação foi
antropológico.
Antropólogos defendem que quem quer realmente entender um
grupo de pessoas precisa se engajar em um período extenso de
observação, imergindo em uma cultura diferente da sua,
participando em seus eventos sociais.
17. Estudo das subculturas
Todavia, não é preciso inserir-se em uma cultura desconhecida
para fazer pesquisa etnográfica: dentro de uma única cultura, é
possível usar os métodos de observação da etnografia para
descrever subculturas, modos diferentes de agir na mesmo círculo
social.
Escola de Chicago: alunos orientados a largarem os materiais
teóricos e a saírem pelas ruas para observar o comportamento
social das pessoas dos subgrupos que os cercavam.
Estudos de subcultura são a base da etnografia contemporânea,
mas recaem sobre eles preceitos éticos e morais que permeiam a
observação e a descrição de grupos socialmente vulneráveis.
18. Estudos da esfera pública
Muitos estudos de subculturas têm lugar em áreas públicas como
ruas, shopping centers e parques. No entanto, os etnógrafos que
observam o domínio público, às vezes, têm um interesse mais
amplo do que a subcultura de grupos específicos. Em vez disso, é
objetivo observar como as pessoas em geral se comportam em
alguns contextos públicos, como os ônibus, por exemplo.
Três sociólogos deram impulso a essa vertente etnográfica: Georg
Simmel, Erving Goffman e Harvey Sacks.
19. Georg Simmel
Desenvolveu proposições sobre as formas básicas de interação
humana segundo o número em um grupo (por exemplo, o que
acontece em díades [grupos de dois] em comparação com
tríades [grupos de três], que possibilitaram relatos convincentes
sobre o “estranho” e a vida urbana.
20. Erving Goffman
Mais conhecido pela “teoria das faces”, Goffman foi pioneiro no
estabelecimento de questões essenciais para estudos contemporâneos em
sociologia e linguística, através das regras usadas para organizar a interação
social:
Regras de cortesia, educação e etiqueta (quem é capaz de fazer e dizer
o que a quem e de que maneira)
Regras do que é relevante ou irrelevante em um determinado lugar,
dependendo da definição da situação
Goffman estudou as maneiras como um indivíduo “preserva sua face” em
uma interação social, evitando problemas morais e éticos.
21. Harvey Sacks
Foi responsável pelos desdobramentos dos estudos de Goffman, analisando
situações rotineiras e suas sequencialidades. Demonstrou como, por exemplo,
as revistas da mesa de café de uma pessoa são rotineiramente vistas como
destinadas a sugerir que ela é intelectual ou algo que o valha.
Responde, ainda, como o maior nome teórico na Análise da Conversa, visto
que seus estudos possibilitaram o estabelecimento de conceitos essenciais
para esta perspectiva de estudo da linguagem, como a sequencialidade da
fala, seus turnos e os desdobramentos que essa sequencialidade projeta nos
indivíduos interagentes.
22. Estudos de organizações
É possível realizar pesquisa etnográfica em esferas organizacionais, como
universidades, escolas, quartéis, internatos, empresas, etc.
Possibilita entender, por exemplo, como hospitais mentais, assim como
quartéis, internatos ou prisões, rompem os limites entre o trabalho, o lazer e o
repouso através de estratégias para despojar as pessoas de suas identidades
não-institucionais – vestindo uniformes, chamando-os por um número ou
apelido institucional, etc.
Os dados contribuem para entender como as organizações funcionam,
como as pessoas reagem a determinados ambientes, mas não consegue
responder como as pessoas constituem esses ambientes através de sua
conversa (trabalho que foi, em seguida, assumido pela Etnometodologia e
pela Análise da Conversa).
23. Três aspectos cruciais do trabalho
etnográfico e observacional:
O foco do estudo
• incluindo “tribos, “subculturas”, “reino público”, e organizações
As escolhas metodológicas
• incluindo o acesso, a identidade, a definição de um problema de pesquisa, os
métodos de registro de dados, a observação, assim como a escuta, o
desenvolvimento da análise dos dados etnográficos e o feedback aos participantes
As questões teóricas
• a natureza teoricamente derivada da análise etnográfica e as principais abordagens
teóricas contemporâneas, incluindo “teoria fundamentada”, “naturalismo” e
“etnometodologia”.
24. As questões e escolhas metodológicas
Ao fazer pesquisa etnográfica, enfrentamos escolhas no planejamento e na
execução do estudo. Estas escolhas podem referir-se a:
Definição de um problema de pesquisa
Escolha de um local de pesquisa
Obtenção de acesso
Descoberta de uma identidade
Ver e escutar
Registro das observações
Desenvolvimento da análise dos dados de campo
Uso da teoria fundamentada
25. Definição de um
problema de pesquisa
É esperado que, em uma pesquisa etnográfica, não se especifique
inicialmente as definições e as hipóteses que se pretende estudar, mas isso
não significa deixar os primeiros estágios da observação totalmente
desprovidos de orientação. O pesquisador deve elaborar alguma
perspectiva ou, no mínimo, um conjunto de questões vitalizantes, evitando
assim que a pesquisa seja fadada ao fracasso, visto que os fatos nunca
falam por si mesmos.
Assumir que a etnografia é apenas o ato de sair a campo e induzir
observações é equivocado. É uma desculpa para a pesquisa negligente,
não-focalizada. É necessário que o pesquisador desapegue-se do mundo
fascinante do estudo do “todo” e focalize em um único aspecto, que
deve ser detalhado minuciosamente. Reduzir o escopo da pesquisa é a
tarefa mais crucial, deve-se “fazer menos, com mais profundidade”.
26. Escolha de um local de pesquisa
Elaborado um tema de pesquisa, é preciso decidir o melhor lugar para
realizar o trabalho de campo. Por exemplo: você quer estudar os padrões
de compras das pessoas que moram em subúrbios. Você vai estudar uma
loja de departamento, um supermercado ou um shopping center inteiro?
Está mais interessado nos compradores, nos vendedores ou em ambos?
Só se consegue escolher um local de pesquisa quando o tema está bem
restringido, preciso e focalizado. Se você não consegue decidir o local em
que sua pesquisa deve ser conduzida, é um sinal de que seu tema não
está bem delimitado.
27. Obtenção de acesso
Existem dois tipos de locais de pesquisa:
locais fechados, privados, onde o acesso é controlado
locais abertos, públicos, onde o acesso é livre, mas nem sempre livre de
dificuldades
Existem dois tipos de acesso:
acesso velado, sem o conhecimento dos indivíduos, que desencadeiam
questões éticas
acesso explícito, no qual informamos os indivíduos e obtemos seu
consentimento para a observação
28. Descoberta de uma identidade
Em verdade, apenas com sua presença os observadores alteram a situação
encontrada no ambiente. Existem características problemáticas da
identidade no trabalho de campo:
Se todos aqueles que estão sendo estudados, ou alguns, ou nenhum deles,
sabem que o pesquisador é um pesquisador
Quanto e o quê se sabe sobre o pesquisador, e quem sabe
Em que tipos de atividades no campo o pesquisador está ou não
envolvido e como isso o coloca em relação às várias concepções das
categorias e dos membros de grupo usadas pelos participantes
Qual é a orientação do pesquisador e até que ponto ele adota completa
e conscientemente a orientação de pessoa de dentro ou de fora
29. Ver e escutar
É necessário valorizar ambas as ações no processo de pesquisa
etnográfica. Quando observamos, tendemos a valorizar mais a um ou a
outro instrumento de observação: ou damos mais valor para o que vemos,
e ignoramos o que ouvimos, ou vice-versa.
É preciso, no entanto, ter atenção. Ambas as ações podem ser
complementares, mas não são as únicas: anotações de campo,
gravações, memória auditiva ou fotográfica, entre outras formas de “ver e
escutar”, são essenciais e complementam-se para a descrição do espaço
e das pessoas que nele agem.
30. Registro das observações
Mesmo que você esteja usando tanto os olhos quanto os ouvidos, ainda
terá que decidir como irá registrar os dados. O maior perigo que se corre é
querer registrar e analisar tudo o que se observa. Isso negligencia a
natureza direcionada para a teoria da pesquisa de campo e impõe uma
carga impossível quando você tentar desenvolver uma análise sistemática
num estágio posterior da pesquisa.
É preciso focar as anotações naquilo que vai realmente ser útil para o
estudo: o que as pessoas estão fazendo? Como estão fazendo? Como
elas caracterizam e entendem o que está acontecendo? Que suposições
fazem? O que eu vejo que está acontecendo ali? O que eu aprendi com
estas anotações? Porque eu as concluí?
Além disso, se o gravador está fazendo seu trabalho com a fala, o
pesquisador deve anotar outros aspectos relevantes para a análise que
não ficarão registrados nas gravações.
31. Desenvolvimento da análise dos
dados de campo
Um dos pontos fortes da pesquisa de observação é sua capacidade para
mudar o foco à medida que novos dados interessantes tornam-se
disponíveis. Podemos não só encontrar o que procurávamos inicialmente
demonstrar, como também descobrir novos caminhos que reorientam a
pesquisa dentro de um escopo seguro de mudança de foco ou
reorientação.
32. Uso da teoria fundamentada
Existem, atualmente, alguns princípios metodológicos profundos que orientam
a pesquisa etnográfica:
Em meio a um campo, como você decide codificar suas observações?
como você pode desenvolver hipóteses a partir de suas observações?
Como você pode chegar a construir uma teoria?
A teoria fundamentada buscou proporcionar respostas a essas perguntas e,
por isso, tornou-se a mais influente abordagem metodológica no trabalho
etnográfico. Ela estabelece que devemos gerar teoria através de dados, e
não de hipóteses, gerar amostragens e não generalizações, entre outras
(quadro 3.3, p. 96)
33. Três aspectos cruciais do trabalho
etnográfico e observacional:
O foco do estudo
• incluindo “tribos, “subculturas”, “reino público”, e organizações
As escolhas metodológicas
• incluindo o acesso, a identidade, a definição de um problema de pesquisa, os
métodos de registro de dados, a observação, assim como a escuta, o
desenvolvimento da análise dos dados etnográficos e o feedback aos participantes
As questões teóricas
• a natureza teoricamente derivada da análise etnográfica e as principais abordagens
teóricas contemporâneas, incluindo “teoria fundamentada”, “naturalismo” e
“etnometodologia”.
34. O caráter teórico das observações
etnográficas
Nas pesquisas etnográficas,
O bom senso (e o senso comum) é considerado complexo e sofisticado,
em vez de ingênuo e mal orientado.
As práticas sociais, mais do que as percepções, são o local onde o bom
senso opera: o foco é o que as pessoas estão fazendo, e não o que estão
pensando.
Os fenômenos são considerados entre aspas. Isso significa que procuramos
entender como qualquer “fenômeno” é localmente produzido por meio
das atividades de determinadas pessoas em determinados lugares.
35. SILVERMAN, David. Etnografia e observação. In: Interpretação de dados
qualitativos: métodos para análise de entrevistas, textos e interações. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
FLICK, Uwe. Observação e etnografia. In: Introdução à pesquisa
qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.
36. As práticas só podem ser acessadas por meio da observação, uma vez
que as entrevistas e as narrativas somente tornam acessíveis os relatos das
práticas e não as próprias práticas.
A observação permite ao pesquisador descobrir como algo efetivamente
funciona ou ocorre. Em comparação com essa alegação, as
apresentações em entrevistas compreendem uma mistura de como algo
é e de como deveria ser, a qual ainda precisa ser desvendada.
37. Observação não-participante
Além das competências da fala e da escuta, utilizadas nas entrevistas, a
observação é outra habilidade cotidiana metodologicamente sistematizada
e aplicada na pesquisa qualitativa. Envolvem:
audição, visão, percepção, olfato.
Os procedimentos observacionais podem ser classificados em cinco
dimensões, que podem ser diferenciadas por meio das seguintes perguntas:
38. Dimensões dos procedimentos
observacionais
Observação secreta vs. Observação pública: até que ponto a observação
é revelada àqueles que são observados?
Observação participante vs. Observação não-participante: até que ponto
o observador precisa tornar-se um componente ativo do campo
observado?
Observação sistemática vs. Observação não-sistemática: ocorre a
aplicação de um esquema de observação mais ou menos padronizado
ou a observação permanece flexível e responsiva aos próprios processos?
Observação em situações naturais vs. Observação em situações artificiais:
as observações são feitas no campo de interesse, ou as interações são
“deslocadas” para um local especial (por exemplo, um laboratório)?
Auto-observação vs. Observação do outro: na maioria das vezes, são as
outras pessoas que são observadas e, dessa forma, quanta atenção é
destinada à auto-observação reflexiva do pesquisador para embasar
ainda mais a interpretação do que é observado?
39. Observação
participante
Observação
não-
participante
Sofre interferência da presença do
observador > pode se tornar artificial
Não sofre interferência da presença do
observador > preserva sua naturalidade
O comportamento e a interação, na observação não-participante, prosseguem
da mesma forma como prosseguiriam sem a presença de um pesquisador, sem
a interrupção da intrusão.
40. OBSERVAÇÃO NÃO-PARTICIPANTE
O observador completo mantém distância dos eventos observados a fim
de evitar influenciá-los, e pode fazer isso através da observação por vídeo,
por exemplo.
Nesse contexto aplica-se a observação secreta, na qual as pessoas não
são informadas de que são observadas, um procedimento eticamente
contestável. No entanto, isso é feito em locais públicos com muita
frequência.
41. Quais são as fases da observação?
Seleção de um ambiente (onde e quando os procedimentos e as pessoas
podem ser observados)
Definição do que deve ser documentado na observação e em cada passo
Treinamento dos observadores a fim de padronizar esses focos
Observações descritivas que forneçam uma apresentação inicial e geral do
campo observado
Observações focais que se concentrem nos aspectos relevantes à questão de
pesquisa
Observações seletivas cuja finalidade seja a compreensão intencional dos
aspectos centrais
O fim da observação – quando se atinge a saturação teórica, ou seja, quando
outras observações já não trouxerem nenhum conhecimento adicional
42. Quais os problemas na condução do
método?
A dificuldade está em definir um papel que seja desempenhado pelo
observador (identidade):
Quanto mais público e desestruturado for o campo, mais fácil é assumir um
papel que não seja percebido e que não influencie
Quanto maior a facilidade para se supervisionar um campo, maior será a
dificuldade para se participar deste sem se tornar um membro
43. Qual a contribuição para a discussão
metodológica geral?
Triangular observações com outras fontes de dados e empregar diferentes
observadores intensificam a expressividade dos dados reunidos.
As diferenças de gênero: as possibilidades de acesso a mulheres são mais
restritas em comparação com os homens, devido a riscos específicos.
As percepções femininas sobre esses riscos são muito mais refinadas,
fazendo com que elas observem de maneira diferente e notem coisas
diferentes.
44. Como o método se ajusta no processo
de pesquisa?
O objetivo é (ao menos, de modo geral) testar conceitos teóricos para
determinados fenômenos com base em sua ocorrência e distribuição. As
questões de pesquisa visam as descrições da situação de determinadas
esferas da vida cotidiana.
A situação de situações e de pessoas ocorre sistematicamente, de acordo
com os critérios para a obtenção de amostra representativa e, então, com
a aplicação da amostragem aleatória.
As análises de dados baseiam-se em contar a incidência de atividades
específicas por meio da utilização de processos de categorização.
45. Quais as limitações do método?
De modo geral, essa observação é externa. Por isso, deve ser aplicada
principalmente na observação de espaços públicos, nos quais o número
de membros não pode ser limitado ou definido.
É uma tentativa de observar eventos que ocorrem naturalmente. Por isso,
resta a dúvida de até que ponto esse objetivo pode ser consumado, uma
vez que, seja como for, o ato da observação influencia o observado.
É um método de pesquisa no qual os observados não são informados
sobre a observação. Por isso, o procedimento é altamente carregado de
complicações éticas que devem ser levadas em consideração.
A distância do observador para o observado compromete a análise dos
dados e a avaliação das interpretações. Por isso, acredita-se que é uma
estratégia mais associada a uma pesquisa quantitativa e padronizada.
46. OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
É a forma mais utilizada de pesquisa qualitativa.
Combina, simultaneamente, a observação de campo com a análise de
documentos, com a entrevista e com a participação direta do
observador.
O pesquisador mergulha “de cabeça” no campo, que observará de uma
perspectiva de membro e, por isso mesmo, vai influenciar o que é
observado.
47. Quais são as fases da observação
participante?
Observação descritiva: no início, serve para fornecer ao pesquisador uma
orientação para o campo de estudo. Fornece observações não-
específicas, usadas para apreender a complexidade do campo e para
desenvolver questões de pesquisa
Observação focalizada: restringe a perspectiva do observador àqueles
processos e problemas que forem mais essenciais para a questão de
pesquisa
Observação seletiva: ocorre na fase final e concentra-se em encontrar
mais indícios e exemplos para os tipos de práticas e processos descobertos
na etapa anterior
48. Quais são os problemas na condução
do método?
Como delimitar ou selecionar as situações observacionais nas quais o
problema em estudo torne-se realmente “visível”? As situações sociais podem
ser descritas ao longo de nove dimensões:
Espaço (local ou locais físicos)
Ator (pessoas envolvidas)
Atividade (atos realizados pelas pessoas)
Objeto (coisas físicas que estão presentes)
Ato (ações individuais realizadas pelas pessoas)
Evento (conjunto de atividades relacionadas e executadas por elas)
Tempo (sequenciamento que acontece)
Objetivo (coisas que as pessoas tentam alcançar)
Sentimento (emoções sentidas e manifestadas)
49. “tornar-se um nativo”
Obter uma perspectiva interna sobre o campo estudado, ao mesmo tempo
em que sistematiza o status de “estranho” no campo. Apenas com essa
sistematização é possível perceber o particular naquilo que for cotidiano e
rotineiro no campo.
O procedimento de tornar-se um nativo é discutido como uma falha do
pesquisador: como tornar-se nativo e não deixar de ser científico?
50. Quais as limitações do método?
Nem todos os fenômenos podem ser observados nas situações
Eventos e práticas que ocorrem raramente contam com a sorte para
serem observados
Complicações relativas ao “nativo”: participar como membro e analisar
como cientista, ao mesmo tempo
51. SILVERMAN, David. Etnografia e observação. In: Interpretação de dados
qualitativos: métodos para análise de entrevistas, textos e interações. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
FLICK, Uwe. Observação e etnografia. In: Introdução à pesquisa
qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.