Conferência SC 24 | Estratégias omnicanal: transformando a logística em exper...
Cinco Esses
1. OS 5 S DA ADMINISTRAÇÃO JAPONESA
por Koiti Egoshi
KAIZEN
Fonte: http://www.karma-net.com/kaizen2.gif
1-KAIZEN
Kaizen é uma palavra japonesa que significa mudança para melhor ou
aprimoramento contínuo e que permeia toda a Administração Japonesa. Kaizen
pode então, até servir de sinônimo de Administração Japonesa.
E a chamada Administração Japonesa de hoje, na realidade, é toda uma
tradição de educação de berço do japonês, complementada por conhecimentos
do management norte-americano a partir dos Anos 50. Em outras palavras,
valores humanos japoneses complementados por conhecimentos técnicos em
Administração norte-americanos, e aplicados em empresas japonesas.
Essa interação começou a acontecer a partir de 1950, não só em função de
sua derrota frente aos Estados Unidos em 1945, mas principalmente com a adesão
dos japoneses às práticas de negócios dos norte-americanos. Tanto é que em julho
de 1950, “W. E. Deming foi convidado a ir ao Japão e ensinar o controle estatístico
da qualidade em um seminário de oito dias, organizado pela JUSE”[1]. JUSE é a
Japanese Union of Scientists and Engineeers, que juntamente com uma série de
outras instituições em consonância com o governo e o povo japonês, promoveram a
ascensão da economia japonesa.
Quatro anos mais tarde, em julho de 1954, foi a vez de J. M. Juran ser
convidado a ensinar aos japoneses, por sua vez, a chamada Administração do
Controle da Qualidade – segundo Masaaki Imai, “Essa foi a primeira vez que o
CQ foi abordado a partir da perspectiva da administração total”2.
2. Os japoneses se maravilharam com as idéias de Juran e Deming porque elas
se harmonizavam com o seu tradicional espírito de consenso de grupo, que
remonta desde a época dos samurais:
1o. Para Juran, gerenciamento estratégico da qualidade “é uma abordagem
sistemática para o estabelecimento e obtenção de metas de qualidade por toda a
empresa”3. Isto é, qualidade é responsabilidade de todos em uma empresa,
não só de um departamento específico de qualidade.
Juran
Fonte: www.qimpro.com/Juran/images/juran.jpg
2o. Para Deming, “O objetivo do administrador do sistema é o de otimizar o
sistema como um todo. Sem uma administração do sistema visto como um todo,
subotimizações certamente irão ocorrer. Subotimizações geram perdas”4. Isto é,
qualidade é a empresa como um todo que a desenvolve, a partir do Ciclo de
Controle de Deming, que é o famoso PDCA – Plan-Do-Check-Act ou Planejar-
Executar-Comparar-Tomar Providências.
Deming
Fonte: www.lii.net/images/deming.gif
E desde então, japoneses foram fomentando a idéia de TQC – Total Quality
Control como um todo processo integrado, conforme “Deming enfatizou a
importância da interação constante entre pesquisa, projeto, produção e
vendas para a empresa chegar à melhor qualidade, que satisfaz os
consumidores”5.
Então, Kaizen é um todo processo integrado de TQC – Total Quality
Control de aprimoramento contínuo, que é a essência da Administração
Japonesa. E os japoneses dão importância tanto a esse processo integrado, quanto
ao resultado que se busca – o meio é tão importante quanto o fim. É tão
importante fazer bem feito (eficiência) quanto obter o resultado certo
(eficácia). Como disse certa vez Osho, grande promotor do auto-conhecimento, “a
jornada é o próprio objetivo!”6. Ou seja, o segredo do resultado positivo está
em trabalhar bem o processo que gera resultado. Ora, o resultado é uma
coisa estática e o processo é toda uma vida dinâmica de trabalho
colaborativo entre pessoas usufruindo e compartilhando coisas, que deve
ser muito bem vivido. Para os japoneses é isso aí: é muito importante ganhar
dinheiro, mas trabalhando e vivendo de forma mais satisfatória possível,
unindo o útil ao agradável – afinal, passamos mais de um terço de nossas vidas
trabalhando. Esta é a essência da Administração Japonesa chamada Kaizen:
buscar ao mesmo tempo resultado e processo em busca desse resultado.
Para buscar resultado, na empresa todos devem ter objetivo e missão
comuns. Mas ao mesmo tempo, durante o período de trabalho devem trabalhar e
3. viver de forma mais equilibrada e satisfatória possível. Porque trabalhando e
vivendo de forma mais equilibrada e satisfatória possível, tende-se a aumentar a
produtividade e melhorar a qualidade, que por sua vez, tende à conquista do
resultado positivo no mercado. Ora, trabalha-se e vive-se de forma mais
equilibrada e satisfatória possível, se pelo menos três quesitos forem atendidos:
1o. Estabilidade financeira e emocional ao empregado – daí porque empresas
japonesas ainda hoje procuram manter o emprego vitalício, para principalmente,
evitar preocupações de sobrevivência e sustento da família. Para tanto, é
necessário que todos tenham consciência de que, a empresa como um todo,
deverá obter resultado positivo.
2o. Clima Organizacional agradável – japoneses “forçam a barra” para que
todos se dêem bem e vivam em harmonia entre os desiguais e os
contrários – eles dizem natural e sutilmente gaman sena iken, ou seja, tem que
agüentar. Desde a remota era dos primeiros samurais em torno dos anos 700,
conforme relata Ferri de Barros7, os japoneses pela forte influência da cultura
chinesa e principalmente, de Lao Tse8 e Confúcio9, promovem o espírito wa – a
harmonia. Harmonia em tudo. Harmonia entre os desiguais, harmonia entre os
contrários. Harmonia entre o Bem e o Mal. Harmonia entre a alegria e a tristeza.
Harmonia entre a bem-aventurança e a desgraça. Sobretudo, harmonia entre
pessoas. Não é à toa que empresas japonesas maravilham-se com preceitos
tayloristas como “cooperação, não individualismo” e “harmonia, em vez de
discórdia”10. Não só Taylor como também Fayol é muito bem-vindo aos anseios
japoneses porque este promove ordem, disciplina, subordinação do interesse
particular ao interesse geral, eqüidade e união do pessoal, dentre outros
princípios gerais de Administração11.
3o. Ambiente simples, funcional e agradável – é aqui que se inserem os tão
chamados 5 “S” da Administração Japonesa.
2 - OS 5 S
4. Os 5 “S” são as iniciais de 5 palavras japonesas Seiton, Seiri, Seiso,
Seiketsu e Shitsuke, que estão intimamente relacionados com wa – harmonia,
como se percebe a seguir.
Mas antes, atenção: wa, para orientais, não significa todo mundo
dizendo sim para todo mundo; wa considera indispensavelmente o não; é
importante ter o não para existir o debate e a troca de idéias antagônicas,
para que por fim, chegue-se num consenso onde todos tenham a consciência de
que tomarão a melhor decisão para todos – de tal sorte que, se tudo der errado
após essa tomada de decisão, todos tenderão a ter consciência de que algo não se
harmonizou entre os participantes; entre os participantes e o grupo; entre o
grupo e o Todo Universal; e entre os participantes e o Todo Universal. Na pior das
hipóteses, se conformarão: tinha que ser assim, alguém tinha que errar, mesmo
porque, quem trabalha, erra! E se porventura obtiverem sucesso, todos
comemorarão de forma alegre, mas sutilmente: Banzai!
1. SEITON significa providenciar a ARRUMAÇÃO e deixar tudo em ORDEM –
todos os materiais (sejam quais forem) necessitam ser mantidos em ordem, para
que possam ser encontrados de imediato e estejam prontos para uso sempre
que necessários. Deixar as coisas no lugar certo, para não se perder tempo e
gastar energia desnecessária, procurando-as.
2. SEIRI significa evitar o DESNECESSÁRIO – separar o desnecessário do
necessário, e guardá-lo num lugar que lhe é próprio, para que não atrapalhe a
rotina de trabalho ou qualquer outra atividade. Disponibilizar as coisas
realmente necessárias ao trabalho e aquelas desnecessárias guardá-las ou “passá-
las para frente”. Guardá-las, porque futuramente poderão ser necessárias;
“passá-las para frente” (doar) porque aquilo que é desnecessário para um,
pode ser útil para outro.
5. Fonte: http://www.pucrs.br/feng/5s/fotos/utiliza.gif
3. SEISO significa manter sempre LIMPO – o local de trabalho ou qualquer
outro lugar, com tudo em ordem e somente com o necessário, para que a sujeira
não atrapalhe a produtividade nem provoque má qualidade na produção.
Fonte: www.revistaetcetera.com.br/.../ p2.htm
4. SEIKETSU significa manter a HIGIENE – tornando o ambiente saudável e
agradável para todos.
5. SHITSUKE significa DISCIPLINA – não só aprender e seguir os princípios
anteriores como hábitos salutares e invioláveis, como também se educar
com caráter reto, firme e honrado, para vencer na vida.
“A palavra “disciplina” basicamente significa capacidade de aprender, daí a
palavra “discípulo”12. Daí, temos de cada vez mais nos disciplinar em SEITON,
SEIRI, SEISO e SEIKETSU, como também formar um caráter reto, firme e
honrado continuamente. Mediante um código de princípios morais denominado
Bushido (pronuncia-se Bushi-dô) o samurai autodisciplinava-se e auto-
aprimorava-se continuamente. Registre-se aqui de passagem, que o Bushido
jamais foi escrito, apenas “consiste de umas poucas máximas transmitidas de boca
em boca”13, de forma pessoal, muito simples e bem caseira, própria da cultura
japonesa.
Musashi (1584-1645) o maior espadachim japonês, é um dos raros samurais
que deixou uma obra escrita – Gorin no Sho que foi traduzido para o inglês como
A Book of Five Rings e deste para o português, como Livro de Cinco Anéis14.
Neste livro Musashi conta suas estratégias vencedoras e daí, seu grande
sucesso perante norte-americanos na década de 70, que o promoveram a
bestseller mundial em estratégias de negócios.
6. Miyamoto Musashi
Fonte: http://users.adelphia.net/~gojira/musashi.htm
3 - A MULHER E OS 5 S
Nestes 5 S o papel da mulher é e foi fundamental e preponderante
desde os primeiros samurais.
Samurais saiam de casa para servir ao seu senhor feudal e como militares,
viviam guerreando por aí e acolá. Cabia à mulher não só cuidar dos filhos, como
também providenciar afazeres domésticos e manter toda a integridade da casa e do
lar – na prática, fazia de tudo e bem mais que um samurai. Educava os filhos
sob espírito familiar no lar, e mantinha em perfeita ordem a casa. Além disso, a
mulher de um samurai era versada em Yawara (arte marcial de mãos vazias) e
Kenjutsu (arte marcial de katana), como também sabia manejar naginata
(pronuncia-se na-gui-nata), e tanto (pronuncia-se tan-tô) para defesa pessoal, na
ausência do marido.
Tanto é um punhal – que servia para o ritual de suicídio chamado de
seppuku ou harakiri – e samurais carregavam-no na cintura juntamente com
wakizashi (uma katana menor) e katana (pronuncia-se cataná), a famosa espada
do samurai. Saiba mais em Wikipédia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Katana. Já a
naginata é uma lança de uns 2 metros com uma lâmina cortante em uma das
pontas, muito praticada tanto pelas mulheres quanto pelos monges budistas da
época – até hoje no Japão, quem mais pratica naginatajutsu (a arte marcial da
naginata) são as mulheres. Saiba em detalhes no Naginata Home Page –
www.naginata.org.
Fonte: www.naginata.org/images/naginataPainting.jpg
7. Nitobe, nascido em 1862 e filho de um dos últimos samurais, retrata que a
própria mulher do samurai o disciplinava recriminando severamente, caso ela
percebesse que o interesse do guerreiro por ela lhe fizesse esquecer seus deveres
em relação aos preceitos do Bushido15.
4 - OS PRIMEIROS IMIGRANTES JAPONESES NO BRASIL E
OS 5 S
Só mesmo uma mulher, com seu senso estético e sua sutil sensibilidade,
poderia ter contribuído para “criar uma sociedade bonita, em criar belos
relacionamentos – em tudo, em cada detalhe –, em lhes dar um significado. As
casas japonesas são bonitas. Mesmo a casa de uma pessoa pobre tem sua beleza
própria; é artística, tem sua própria singularidade. A casa pode não ser muito
suntuosa, mas ainda assim, em um certo sentido, é rica por causa da beleza, da
disposição das coisas, por causa da mentalidade com que foi planejado cada
pequeno, mínimo detalhe”16, pegando emprestado o lindo fragmento de Osho, para
completar este meu texto.
Os brasileiros também ficaram profundamente admirados com os primeiros
imigrantes japoneses que aqui aportaram. Senão, analisemos o jornal paulistano
Correio Paulistano que em 25 de junho de 1908, 6 dias após o desembarque dos
primeiros imigrantes japoneses, no porto de Santos, assim noticiava:
“Depois de estarem uma hora no refeitório, tiveram de abandonal-o para
saberem quaes eram as suas camas e os quartos, e surprehendeu a todos o estado
de limpeza absoluta em que ficou o salão: nem uma ponta de cigarro, nem um
cuspe, perfeito contraste com as cuspinheiras repugnantes e pontas de cigarros
esmagadas com os pés dos outros imigrantes. Têm feito as suas refeições sempre
na melhor ordem e, apesar de os últimos as fazerem duas horas depois dos
primeiros, sem um grito de gaiatice, um signal de impaciência ou uma voz de
protesto”17.
Está mais do que claro que esses primeiros imigrantes japoneses
trouxeram ao Brasil, já em 1908, a legítima e castiça Cultura dos 5 “S”. Os
isseis (os primeiros imigrantes japoneses) trouxeram para cá os antigos valores do
Bushido, bem como as sutilezas cultivadas pela mulher do samurai no interior da
casa e no seio do seu lar, onde a mulher sempre exerceu o papel fundamental e
preponderante.
Mesmo em situações extremamente adversas, nos seus primeiros anos no
Brasil, os primeiros imigrantes morando em casas de pau a pique e de chão batido,
perseveraram nos 5 “S” com muita retidão e firmeza de caráter, honrando os
preceitos morais do Bushido, na base de muita disciplina – SHITSUKE.
BANZAI!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1]
IMAI, Masaaki. Kaizen – A Estratégia para o Sucesso Competitivo. São Paulo: IMAM,1992, p. 10.
2
IMAI, Masaaki. Kaizen – A Estratégia para o Sucesso Competitivo. São Paulo: IMAM,1992, p. 11.
3
JURAN, J. M. Juran na Liderança pela Qualidade. São Paulo: IMAM,1990, p. 179.
4
DEMING, W. Edwards. Qualidade: a Revolução da Administração. São Paulo: Marques-Saraiva,1990, p.
XIX.
8. 5
IMAI, Masaaki. Kaizen – A Estratégia para o Sucesso Competitivo. São Paulo: IMAM,1992, p. 9.
6
OSHO. A Sabedoria das Areias. São Paulo: Gente, 1999, p. 100.
7
FERRI DE BARROS, Benedicto. Japão – A Harmonia dos Contrários. São Paulo: T. A. Queiroz, 1988, p. 159-
161.
8
LAO TSE. Tao Te Ching. São Paulo: Martin Claret, 1985.
9
FINGER, Charles J. A Essência da Sabedoria de Confúcio. São Paulo: Ediouro, 1980.
10
TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios de Administração Científica. São Paulo: Atlas, 1985, p. 126.
11
FAYOL, Henri. Administração Industrial e Geral. São Paulo: Atlas, 1984, p. 46-67.
12
OSHO. A Sabedoria das Areias. São Paulo: Gente, 1999, p. 84.
13
NITOBE, Inazo. Bushido – Alma de Samurai. São Paulo: Tahyu, 2005, p. 11.
14
MIYAMOTO, Musashi. Um Livro de Cinco Anéis. São Paulo: Ediouro, 1984.
15
NITOBE, Inazo. Bushido – Alma de Samurai. São Paulo: Tahyu, 2005, p. 99.
16
OSHO. Zen – sua História e seus Ensinamentos. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 15.
17
RODRIGUES, Ondina Antonio. Imigração Japonesa no Brasil. São Paulo: Memorial do Imigrante, 2006, p.
13-14.