1) A peça Felizmente Há Luar! é um drama social que critica a sociedade portuguesa do século XIX sob o regime ditatorial de Salazar.
2) A obra usa alegorias do passado para falar do presente e defender a luta contra a tirania e a opressão.
3) A frase "Felizmente Há Luar!" é dita por personagens antagônicas e tem sentidos opostos: para o poder representa punição, para a resistência representa esperança de liberdade.
1. Luís de Sttau Monteiro Luís de Sttau Monteiro Sofia Diogo 12º2
2. Felizmente há luar!, de Luís se Sttau Monteiro, é um drama narrativo, de carácter social, dentro dos princípios de teatro épico. Na linha do teatro de Bertolt Brecht, exprime a revolta contra o poder e a convicção de que é necessário mostrar o mundo e o homem em constante devir. Defende as capacidades do ser humano que tem o direito e o dever de transformar o mundo em que vive. Faz então uma análise critica da sociedade, procurando mostrar a realidade em vez de a representar. Existe um paralelismo entre a acção do presente e os contextos edeológicos de país. A obra Felizmente Há Luar! , é entendida como uma alegoria política, pois ´Luís de Sttau Monteiro evoca situações e personagens do passado, usando-as como pretexto para falar do presente, pois a obra funciona como mascara para que se possa tirar o exemplo de presente ditatorial (repressão salazarista). Felizmente Há Luar! , é uma obra intemporal que nos remete para a luta do ser humano contra a tirania, a injustiça e todas as formas de perseguição.
3. Espaço cénico O espaço cénico contribui para a construção de sentidos da obra, expondo a dimensão ideológica da mesma. Os sons, os jogos de luz/sombra, os objectos decorativos e a posição das personagens em palco são os elementos a destacar. Espaço físico Lisboa surge como um macro espaço, onde se inscrevem espaços de dimensão mais reduzida: · - Ruas – local onde os populares mendigam e comentam os acontecimentos, embora sempre intimidados pela presença da polícia · -Rossio – sede da Regência · -Rato – casa do general · -Sé – local onde Manuel costuma pedir esmola · -Campo de Sant’Ana – local das execuções (posteriormente será designado por Campo dos Mártires da Pátria ) · -Serra de Santo António – local de onde Matilde assiste à execução do marido · -S. Julião da Barra – local onde Gomes Freire é preso e sentenciado ESPAÇO
4. Espaço social Classes sociais: Povo / Poderosos -O povo é caracterizado pela sua pobreza, doença e miséria: o vestuário andrajoso, os sacos e caixotes que servem de acomodações, o contínuo mendigar. -Os poderosos, pelo contrário, surgem representados na sua riqueza ostensiva e arrogante (guarda-roupa cuidado, cadeiras como « tronos »). Conflitos políticos / sociais No período posterior às Invasões Francesas e à partida da corte para o Brasil, o reino vive uma conjuntura política e social marcada pela crise e pela luta entre um poder repressivo e a aspiração da liberdade que conduzirá à revolução liberal. ESPAÇO
5. Valores sociais em crise -A impotência do povo contra o despotismo - A recusa do progresso e da cultura - A corrupção, a imoralidade e a injustiça dos políticos - A ambição mesquinha e a conspiração - A traição, a conspiração generalizada - A condenação dos ideais maçónicos - Os caprichos pessoais dos poderosos contra a vontade do povo Espaço psicológico -As recordações de Matilde de uma felicidade passada ao lado de Gomes Freire remetem para o carácter redentor e purificador do amor, em contraste com a violência e a hipocrisia da sociedade (90-92). ESPAÇO
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7. SÍMBOLOS Luar - Para D. Miguel, o luar permitirá que o clarão da fogueira atemorize todos os que querem lutar pela liberdade, confirmando assim o efeito dissuasor e exemplar das execuções perante aqueles que ousassem desafiar a autoridade dos Governadores (a noite é mais assustadora, as chamas poderiam ser vistas em toda a cidade, o luar convidaria toda a gente a assistir ao castigo). - Para Matilde, o luar sublinhará a intensidade do fogo, que simboliza a coragem e a força de um homem que morreu pela liberdade e, por isso, se torna símbolo do esclarecimento e da revolta contra a tirania (anúncio da revolução liberal / 25 de Abril?). - A lua, porque privada de luz própria e sujeita a fases, representa a periodicidade e a renovação, a transformação. Ela é também o símbolo da passagem da morte para a vida (durante três noites em cada ciclo lunar desaparece, para voltar a surgir).
8. SÍMBOLOS Luz / noite - A luz traduz a caminhada da sociedade em direcção à liberdade, vencendo o medo e a insegurança da noite, recusando a violência e a repressão. - A luz é a metáfora do conhecimento que permite o progresso da sociedade e a construção do futuro, assente na defesa dos valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade. - A noite (escuridão, trevas) representa a morte, a repressão, a violência, o castigo, o obscurantismo, a conspiração. - A noite simboliza ainda o poder maldito e as injustiças dos governadores Fogo - A fogueira acaba por ter um carácter redentor, simbolizando a purificação, a morte da «velha ordem», a vida e o conhecimento. O fogo traduz a chama que se mantém viva e a fé na liberdade que há-se chegar (« Julguei que isto era o fim e afinal é o princípio. Aquela fogueira, António, há-de incendiar esta terra !», 140). - Na perspectiva dos Governadores, o fogo traduz a destruição, o castigo de todas as tentativas de rebelião do povo em prol da liberdade.
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11. Oralidade / ironia crítica - A linguagem da obra é natural, viva, próxima do discurso oral (interrogações, exclamações, vocabulário familiar e popular, orações coordenadas, construção sintáctica simples, redundâncias e pleonasmos...) e tradutora das emoções das personagens (hesitação, interrupção...), mas surge também dominada pela ironia e pelo sarcasmo. Conflito poder / antipoder - A linguagem traduz assim o conflito entre o poder e o antipoder: . A linguagem dos representantes do poder evidencia um sentido prático, utilitário e material da vida. As falas são mais longas, excessivamente discursivas. . A voz do contrapoder (Matilde, povo) ganha frequentemente um sentido poético, expondo a afectividade e os dramas interiores das personagens. A ironia, porém, funciona como denúncia crítica da hipocrisia e da violência dos que representam o poder. .O discurso do autor/encenador é essencialmente valorativo, uma vez que convida o espectador a assumir uma atitude crítica em relação aos factos apresentados. Nível lexical - O léxico remetendo para o domínio político: reino, nobreza, povo, pátria, patriotas, política, conspirações, revolta. - O léxico de carácter religioso: rebanho, ovelhas, salvador, Senhor, Cristo, Deus, Dia do Juízo, almas, condenação, divina. LINGUAGEM
12. . A confirmar a intencionalidade crítica da obra, é de salientar a importância do discurso das personagens, que assume variadas funcionalidades: . O estilo «salazarista » utilizado por D. Miguel, cuja tónica essencial é a defesa da Pátria e dos ideais patrióticos. O tom didáctico empregue pela personagem confirma a demagogia política das suas intervenções (49,59). . A retórica jesuítica usada pelo Principal Sousa deixa escapar o abuso da Igreja, ao reivindicar como vontade divina aquilo que não passava de interesses de ordem política (37, 40, 59). . A ironia que marca o discurso mordaz de Beresford deixa perceber a diferença cultural entre Portugal e Inglaterra (56, 57). . O discurso dos populares é desolador e resignado, embora seja também irónico e acusador (16, 78, 106). . O tom de lamento usado por Matilde, perante a perda do seu «homem» e do seu amor (90), dá lugar à contestação, à acusação mordaz (128-129) e à profecia de um futuro regenerador (140). . O uso do latim, que ocorre no momento da sentença e da execução, funciona como denúncia de uma sociedade arcaica e regida por valores caducos e estritamente vinculados a uma hierarquia social (98, 134). ESTILO
13. Felizmente há luar O título da peça aparece duas vezes ao longo da peça, ora inserido nas falas de um dos elementos do poder - D. Miguel - ora inserido na fala final de Matilde. Em primeiro lugar é curioso e simbólico o facto de o título coincidir com as palavras finais da obra, o que desde logo lhe confere circularidade. Página 131 - D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das execuções, querendo que o castigo de Gomes Freire se torne num exemplo; Página 140 - Matilde: na altura da execução são proferidas palavras de coragem e estímulo, para que o povo se revolte contra a tirania. Num primeiro momento, o título representa as trevas e o obscurantismo; num segundo momento, representa a caminhada da sociedade em busca da liberdade.
14. Como facilmente se constata a mesma frase é proferida por personagens pertencentes a mundos completamente opostos: D. Miguel, símbolo do poder, e Matilde, símbolo da resistência e do anti-poder. Porém o sentido veiculado pelas mesmas palavras altera-se em virtude de uma afirmação dar lugar a uma eufórica exclamação. Para D. Miguel, o luar permitiria que as pessoas vissem mais facilmente o clarão da fogueira, isso faria com que elas ficassem atemorizadas e percebessem que aquele é o fim último de quem afronta o regime. A fogueira teria um efeito dissuasor. Para Matilde, estas palavras são fruto de um sofrimento interiorizado reflectido, são a esperança e o não conformismo nascidos após a revolta, a luz que vence as trevas, a vida que triunfa da morte. A luz do luar (liberdade) vencerá a escuridão da noite (opressão) e todos poderão contemplar, enfim, a injustiça que está a ser praticada e tirar dela ilações. Há que imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer não à opressão e falta de liberdade, há que seguir a luz redentora e trilhar um caminho novo.