1. AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA EM CONTEXTOS ELEARNING
TRÊS REFLEXÕES EM TORNO DA ADEQUAÇÃO E DA QUALIDADE
UNIVERSIDADE ABERTA
Unidade Curricular: Avaliação em Contextos de eLearning
Docente: Professora Doutora Lúcia Amante
Mestrandos: Ana Correia, Carla Cristini, Hélder Pereira e Maria Emanuel Almeida
Ano letivo: 2015 / 2016
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Avaliação pedagógica em contextos elearning: três reflexões em
torno da adequação e da qualidade
Introdução
Tão inegável quanto a ação transformadora das tecnologias digitais, na sociedade em geral e na educação em
particular, é a probabilidade da sua permanência e da sua expansão neste último contexto, pelo que, pensar a
avaliação no âmbito do eLearning é, cada vez mais, uma questão central.
É em torno desta temática que a proposta de trabalho número dois da unidade curricular Avaliação em
Contextos de eLearning, do mestrado em Pedagogia do eLearning da Universidade Aberta, Portugal, procura
desenvolver reflexões. Com o objetivo de espoletar o debate sobre esta questão, intersecionam-se aqui alguns
princípios teóricos alvo de reflexão nos três artigos selecionados.
A Cultura da Avaliação: que dimensões?
A sociedade digital em que vivemos demanda um processo de aprendizagem baseado em competências que
representam uma teia de conhecimentos, capacidades e atitudes que são necessários para resolver um dado
problema. (Perrenoud, 1997, apud Pereira, Oliveira & Tinoca, 2010). Devemos conceber estas competências
como interações em diferentes contextos, que ultrapassam a mera reprodução de conhecimentos, implicando
a sua transposição e aplicação em problemas concretos, próximos da realidade dos aprendentes.
Simultaneamente, surge uma mudança efetiva das conceções avaliativas rumo ao estabelecimento de
Programas de Avaliação de Competências, que permitirão a harmonia entre cultura de aprendizagem e cultura
de avaliação e uma mudança educativa efetiva e de sucesso (Baartman et al, 2007, apud Pereira, Oliveira &
Tinoca, 2010).
A cultura da avaliação de competências deve, portanto, integrar várias estratégias e modos de avaliação,
apelando ao contexto real dos avaliados, nomeadamente quanto à avaliação diagnóstica e formadora (Baartman
et al, 2007, apud Pereira, Oliveira & Tinoca, 2010). Em contextos online, e com a disponibilidade de uma
variedade de formas de avaliação digital, torna-se ainda mais pertinente a clara definição desta avaliação de
competências, que conjuga quatro metacompetências: resolução de problemas; trabalho de grupo;
metacognição e fluência no uso das TIC.
Desta forma, surge, em oposição à cultura de teste, a cultura de avaliação (Dierick & Dochy, 2001, apud Pereira,
Oliveira & Tinoca, 2010), que evidencia a relação intrínseca dos processos de avaliação e de aprendizagem, assim
como a utilização de novas e inovadoras estratégias de avaliação que promovem estratégias de avaliação de
competências práticas, próximas dos aprendentes e adequadas às suas necessidades específicas. Na literatura,
esta oposição atribui a este novo paradigma educativo a designação de avaliação alternativa (Birenbaum, 1996,
apud Pereira, Oliveira & Tinoca, 2010; Maclellan, 2004, apud Pereira, Oliveira & Tinoca, 2010). Este novo modelo
de avaliação demanda critérios de qualidade inovadores, que promovem a valorização do desenvolvimento do
aprendente, numa perspetiva edumétrica (Baartman et al, 2007, apud Pereira, Oliveira & Tinoca, 2010),
separando-se da comparação por indicadores da perspetiva psicométrica (Brinke, 2008, apud Pereira, Oliveira
& Tinoca, 2010), pois estes evidenciaram-se insuficientes para os contextos educativos atuais.
Neste sentido, a cultura da avaliação apresenta quatro dimensões, que, como podemos confirmar no esquema
apresentado, se evidenciam com natureza e influência recíproca, sustentadas por indicadores estruturantes que
lhe dão significado e significância (Pereira, Oliveira & Tinoca, 2010).
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Avaliação pedagógica em contextos elearning: três reflexões em
torno da adequação e da qualidade
Esquema 1 - Cultura de Avaliação de Competências (baseado em Pereira, Oliveira & Tinoca, 2010).
Neste contexto de interligação e interdependência, a cultura da avaliação, desenvolve-se com: i) autenticidade
– conexão com o contexto real/profissional; ii) consistência – recurso a diferenciados indicadores e critérios de
avaliação, norteadores da validade e fiabilidade; iii) transparência – envolvimento ativo do aprendente no
processo de construção do plano avaliativo; iv) praticabilidade – adequação consciente das estratégias de
avaliação. Estas dimensões ganham uma dinâmica inovadora e significativa quando projetadas para contextos
de aprendizagem e avaliação online, garantindo um processo efetivo e de sucesso.
Enfoques y modelos de evaluación del e-learning
As visões sobre a avaliação em eLearning são condicionadas por diferentes modelos, múltiplas ferramentas e
diversas experiências que determinam a qualidade da aprendizagem. Neste artigo, Rubio destaca duas
perspetivas de avaliação: uma perspetiva parcial (baseada na atividade formativa, nos materiais de formação,
nas plataformas tecnológicas e na relação custo/benefício) e uma perspetiva global (tendências dos sistemas de
avaliação centrados nos modelos e/ou normas de qualidade standard, a qualidade total e ainda os sistemas
baseados na prática do benchmarking).
Na visão parcial, de especial interesse para a presente reflexão, a avaliação foca-se na comprovação do nível de
cumprimento dos objetivos educativos e na melhoraria da ação formativa. Belanger e Jordan (2000, apud Rubio,
2003) identificam três modelos na avaliação de ações formativas sublinhando a avaliação diagnóstica, a
formativa e a final, que sintetizamos no esquema seguinte.
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Avaliação pedagógica em contextos elearning: três reflexões em
torno da adequação e da qualidade
Esquema 2 - Modelos de Avaliação (baseado em Rubio, 2003).
Enquanto que o modelo sistémico prevê a avaliação de um conjunto de variáveis que interatuam de forma
focada na análise das caraterísticas dos estudantes para o ajuste da ação formativa, o modelo de Marshall and
Shriver, por seu lado, permite certificar o conhecimento e as competências do estudante mas com ênfase na
ação docente, e o de Kirkpatrick remete à avaliação de ações formativas tradicionais, centrada em resultados,
para orientar a validação da qualidade em eLearning. Uma limitação destes modelos reporta-se ao facto de não
evidenciarem os indicadores de avaliação, os padrões de valorização, nem os processos e formas de obtenção
de provas de cada um dos elementos avaliados. Neste sentido, urge assinalar a importância de explorar modelos
de avaliação e orientação mais qualitativos.
Por outro lado, não podemos deixar de refletir sobre a questão da avaliação dos materiais, uma vez que a
qualidade destes assume uma importância especial na formação não presencial, pois é um dos principais
instrumentos de promoção do conhecimento. Esta avaliação é desenvolvida pelos três agentes avaliadores: os
produtores, os especialistas e os usuários. Note-se, também, a avaliação das plataformas tecnológicas, que está
orientada para avaliar a qualidade do meio virtual no qual se implementa o eLearning e que pode variar segundo
a sua finalidade.
Quanto à perspetiva de avaliação global, abrange o conjunto total de elementos que intervêm numa solução
elearning quando se estabelecem orientações e critérios para gerir ou avaliar a sua qualidade.
Num processo de avaliação torna-se fundamental a verificação e gestão da qualidade. Neste sentido, a avaliação
é, também, uma estratégia organizativa e uma metodologia de gestão em que participam todos os membros
de uma organização com o objetivo de melhorar a sua eficácia, eficiência e funcionalidade.
Quality in Online Delivery: What does it mean for assessment in E-Learning Environments?
Se a impossibilidade de separar pedagogia e avaliação parece revestir-se de naturalidade, o facto de se procurar
construir um alinhamento entre ambas e, destas, com a vivência enredada, clama por uma reengenharia
pedagógica (Collis & Moonen, 2001, apud McLoughlin & Luca, 2001), que nem sempre é fácil de arquitetar.
Apoiados na visão de Collis e Moonen, McLoughlin & Luca refletem sobre a obrigação de rever e adequar a
avaliação ao dinamismo digital, i.e., à necessidade de uma transformação verdadeiramente significativa da
pedagogia que aceita e gere as mais-valias da sociedade em rede, incorporando a avaliação como processo
natural de aprendizagem. A proposta apresentada no artigo, enquadrada na tão fulcral reconfiguração
educativa, rege-se, pois, por dois ideais: o da estruturação de um aluno-contribuidor e o da construção de
autenticidade.
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Avaliação pedagógica em contextos elearning: três reflexões em
torno da adequação e da qualidade
A tecnologia digital disponibilizou ferramentas e ambientes de aprendizagem (e por isso mesmo também de
avaliação) verdadeiramente diversos e revolucionários: o seu potencial é central para uma experiência educativa
cada vez mais interativa e próxima da realidade, cumprindo os requisitos de autenticidade desejáveis para o
saudável desenvolvimento de aprendizagens transferíveis para o mundo real. A virtualidade da tecnologia, no
entanto, exige do aluno uma redefinição dos seus papéis tradicionais, impondo-lhe uma responsabilidade,
comprometimento e autonomia que o eLearning tem obrigação de pensar.
É neste enquadramento que a avaliação pedagógica em eLearning, servindo-se das virtualidades da tecnologia
e da diversidade de ferramentas e contextos avaliativos que permite criar, bem como da flexibilidade e da
autenticidade que lhes confere, deve contribuir para a aprendizagem.
Assim, a avaliação tem que desenvolver-se como o próprio processo transformativo. Surge, neste contexto, a
noção de avaliação alternativa (Wiggins, 1998, apud McLoughlin & Luca, 2001) que opõe a avaliação exterior à
aprendizagem (avaliação objetiva), baseada na verificação do conhecimento, à avaliação integrada na
aprendizagem (avaliação autêntica), que considera percursos e performances e coloca o aluno no centro da
construção de conhecimento autêntico e útil.
Esquema 3 - A avaliação e a qualidade na aprendizagem (baseado em McLoughlin & Luca, 2001).
Baseada no construtivismo, a proposta de um modelo de avaliação, consentâneo com a estruturação de
pensamentos de ordem elevada precisa reger-se por estas premissas básicas e alinhar-se num modelo
interativo-participativo, baseado em tarefas e performances nas quais interferem processos de auto e
heteroavaliação contínua.
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Avaliação pedagógica em contextos elearning: três reflexões em
torno da adequação e da qualidade
O exemplo apresentado pelos autores configura esta perspetiva de comprometimento e responsabilização logo
na proposta de reflexão e assinatura do contrato de aprendizagem; introduz a atitude comunicativa,
participativa e social ao integrar processos de heteroavaliação nas dinâmicas de trabalho em grupo e estrutura
a autonomização através da autoavaliação. Bebendo as características da vivência digital, a avaliação constrói-
se como uma experiência de avaliação motivadora e com elevado grau de autenticidade, constituindo-se como
uma oportunidade de o aluno se envolver, participar e contribuir para os conteúdos do curso, ao tempo que
integra e transfere competências para a vida.
McLoughlin & Luca direcionam as questões de qualidade para esta sincronia entre aluno e aprendizagem,
articulados por processos de avaliação numa dinâmica em que a tecnologia digital põe, e a capacidade didática
crítico-criativa atenta dispõe e refocaliza, conferindo autenticidade e dando prioridade ao aluno e à
aprendizagem através da avaliação.
Considerações finais
A sabedoria da atuação em educação reside na capacidade de manter a perceção de que não há verdades
definitivas nem respostas absolutas. A sensatez desta reflexão é ainda mais clara no contexto da tecnologia
digital, que coloca em evidência a fragilidade do absoluto e a permanente provocação do inesperado.
A pedagogia, a aprendizagem e a avaliação revolvem, agora, em torno deste novo universo digital que exige a
revisão permanente e a flexibilização como modelos de atuação. Não surpreende, portanto, que neste contexto
a avaliação ganhe centralidade, não só pelas reestruturações que a vivência em rede lhe impõe, como pelo facto
de nela residirem os mecanismos que podem contribuir para a gestão permanente da adequação e da qualidade
em eLearning.
A educação através da tecnologia digital, ao mesmo tempo que descortina a complexidade da vivência
pedagógica e a necessidade de integração aprendizagem-avaliação, disponibiliza as condições e ferramentas
ideais para o fazer. Aprendizagem e avaliação são, deste modo, duas faces de uma mesma realidade pedagógica
que, precisando rever-se, se vê suportada por uma estrutura tecnológica que importa saber incorporar. Os três
artigos incidem, precisamente, sobre a necessidade de pensarmos a realidade avaliativa não como uma
imposição externa, mas como um processo pedagógico que pode melhorar exponencialmente a aprendizagem
ao contar com as mais-valias de uma sensata utilização da tecnologia.
Em modo de provocação e de exórdio ao debate, lançamos o desafio de desvendarmos conjuntamente: i) até
que ponto é possível observar as vivências de uma cultura da avaliação e de uma avaliação autêntica nos
contextos de eLearning do mestrado/de outras experiências de aprendizagem mediada? ii) como alunos que
mais-valias detetamos nos elementos teóricos e nos procedimentos avaliativos mencionados pelos autores? iii)
como se colmata a possibilidade de o aluno não participar desta vivência avaliativa? iv) é possível esta cultura
de avaliação sem o apoio das tecnologias digitais? v) neste contexto, até que ponto a avaliação é uma ferramenta
do professor?
Referências bibliográficas
McLoughlin; C. & Luca, J. (2001) - Quality in Online Delivery: What does it mean for assessment in E-Learning
Environments? The ASCILITE conference proceedings.
Pereira, A. Oliveira, I. & Tinoca, L. (2010) - A Cultura da Avaliação: que dimensões?, In Actas da Conferência
Internacional TICeduca2010, Instituto de Educação, Universidade de Lisboa.
Rubio, M. J. (2003). Enfoques y modelos de evaluación del e-learning. Revista ELectrónica de Investigación y
EValuación Educativa, v. 9, n. 2.