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SOLA
SCRIPTURA
A Doutrina
Reformada das Escrituras
P A U L O A N G L A D A
iK N O X
SOLA
SCRIPTURA
A Doutrina
Reformada das Escrituras
II Edição Atualizada
PAULO ANGLADA
A589s
Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras
de Paulo Roberto Batista Anglada C 2013
Knox Publicações. Todos os direitos reservados.
Iaedição (1998): Editora Os Puritanos
2- edição (2013): Knox Publicações
Revisão
Anna Layse Davis
Layse Anglada
Editoração e Capa
Paulus Anglada
Anglada. Paulo Roberto Batista
Sola Scriptura - A Doutrina Reformada das Escrituras / Paulo
Roberto Batista Anglada-Ananindeua: Knox Publicações, 2013.
240p.; 14x21xlcm.
ISBN: 978-85-61184-08-7
I. Teologia Sistemática. 2. Bibliologia. 3. Escrituras Sagradas.
CDD 21ed. 220
KNOX PUBLICAÇÕES
Estrada do Caixa Pará, 49 - Levilândia
CEP: 67015-520 / Ananindeua - PA
Fone: (II) 3042-9930
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A minlia querida esposa,
Layse,
filhos,
Karis <£•Lucas, Paulus &Lídia e Anua Layse &Ma/lorv,
e netos,
Jonathan, Jim, Maggie, Annie, Emma,
Lidi, ElIa e Calvin
PREFÁCIO
Talvez a Igreja de Cristo esteja atravessando um dos seus
mais difíceis períodos da história, no que diz respeito à acolhida
do seu padrão de fé e prática: As Sagradas Escrituras. No seio
do que se conhece como igreja evangélica, fruto da Reforma do
Século XVI. nunca se citou tanto a Bíblia como atualmente; nunca
se falou tanto da Bíblia quanto se fala hoje; nunca se divulgou
tanto a Bíblia como nos dias atuais. Paradoxalmente, nas igre­
jas filhas da Reforma, nunca se desrespeitou tanto a Palavra de
Deus como atualmente; nunca ela foi colocada meramente como
fonte secundária de informação como quanto é colocada hoje em
dia; nunca ela teve porções inteiras consideradas desatualizadas,
ou pertinentes apenas aos leitores originais, como atualmente;
nunca ela foi alvo de tanto questionamento, quanto aos autores
dos livros e aos períodos nos quais foi escrita, quanto nos dias de
hoje. Essas são situações encontradas não no segmento liberal/
racionalista, mas dentro da própria Igreja Evangélica, das deno­
minações que se auto-intitulam conservadoras na fé e prática e
que se propõem a ser as mais fervorosas e cheias do Espírito
Santo de Deus.
E nesse sentido que Sola Scripíura-A Doutrina Reformada
das Escrituras vem atender uma necessidade de reafirmação dos
princípios e ensinamentos fundamentais ao desenvolvimento de
uma igreja sadia em doutrina e que honre, realmente, o nome de
Cristo. O Rev. Paulo Anglada vai às próprias Escrituras como sua
8 soia scRirn m
fonte principal, e à história, com o seu testemunho incontestável.
Delas extrai a relevância e suficiência da Palavra de Deus, relem­
brando essa questão à igreja dos nossos dias. Em nosso esque­
cimento dessa doutrina, vemos a igreja se afundando em um
evangelho humanista, diluído, horizontalizado e que contribui
para confundir a mensagem cristalina do evangelho, que deveria
estar sendo proclamada.
Sabemos que as seitas apresentam uma multiplicidade de
padrões, nos quais se fundamentam. Livros e escritos paralelos
são apresentados como se a sua autoridade fosse equivalente ou
até acima da Bíblia. A cena comum é a apresentação de novas
revelações, geralmente de caráter escatológico e de característi­
cas fluidas, contraditórias e totalmente duvidosas. Aqui, a sufici­
ência das Escrituras é uma doutrina desprezada.
No meio eclesiástico liberal, já nos acostumamos a iden­
tificar o ataque constante à veracidade das Escrituras. Vamos
com mais de dois séculos de contestação sistemática à Palavra
de Deus, como se a fé cristã verdadeira fosse capaz de subsistir
sem o seu alicerce principal. Nesse campo, que forneceu bastante
munição ao inimigo e que alimentou as bases do pensamento
intelectual não-cristão sobre a Bíblia, a suficiência das Escrituras
é também uma doutrina desprezada.
E também sabido que no campo evangélico neopentecos-
tal e. às vezes, até no campo tradicional pentecostal, temos uma
situação problemática no que diz respeito à relevância da Palavra
de Deus. Ela é frequentemente superada pelas supostas “novas
revelações” que passam a ser determinantes das doutrinas e do
caminhar do Povo de Deus. Aqui, também, a doutrina da sufici­
ência das Escrituras é, na prática, desprezada.
Mas partem exatamente de dentro do campo evangélico
as perturbações e os últimos ataques à Bíblia como regra iner-
rante de fé e prática. Em anos recentes, muitos ditos intelectuais
e eruditos têm questionado a doutrina que coloca a Bíblia como
um livro inspirado, livre de erro. Por exemplo: um famoso semi-
PREFACIO 9
nário teológico norte-americano foi fundado em 1947, no campo
conservador, sobre princípios corretos. Sua “Declaração de Fé1'
original especificava: “Os livros do VT e NT..., nos originais,
são inspirados plenariamente e livres de erro, no todo e em suas
partes...”. Entretanto, em 1968, um dos seus líderes começou a
questionar a inerrância da Bíblia, fazendo distinção entre trechos
“revelativos” e trechos “não revelativos” das Escrituras. Ele foi
seguido, nesta posição, pelo próximo presidente, e por vários
outros professores, todos considerados evangélicos, resultando
no enfraquecimento geral do posicionamento de vários profes­
sores daquele seminário sobre a integridade das Escrituras.1
Logicamente, não há critério coerente ou autoritativo para esta­
belecimento desta distinção entre o que seria “não revelativo”
nas Escrituras - pontos abertos ao questionamento mais amplo
- e as porções “revelativas” - essas, sim, de validade espiritual.
Esse pensamento, que se faz presente não só naquele exemplo,
mas em tantos outros segmentos da igreja, subtrai da Igreja o seu
padrão, derruba um dos pilares da Reforma e retroage a Igreja
à uma condição medieval de dependência dos especialistas que
nos dirão quais as partes que devemos crer realmente e quais as
que podemos descartar como mera invenção humana. E nesse
contexto que se faz presente a necessidade de relembrarmos os
pilares da nossa fé reformada, como o faz o Rev. Paulo Anglada.
Não há inovação na mensagem deste livro, mas uma extrema
necessidade de que o brado de Sola Scripíura seja reavivado ao
longo da história da igreja. E essa história que mostra Deus derra­
mando grandes bênçãos sempre que os fiéis desprenderam-se
de suas tradições e ensinamentos humanos e se voltaram para
a palavra escrita inspirada por Deus. Desde os tempos de Josué
(1:7.8) que Deus admoesta os seus a que se prendam aos regis­
tros inspirados. Ali lemos:1
1 Harold Lindsell, The Battle for lhe fíihle (G. Rapids: Zondervan. 1976).
106-21. Este livro traz um excelente tratamento sobre a diluição do conceito da sufici­
ência e integridade das Escrituras, no seio dos evangélicos norte-americanos.
10 SOIA SCRIPTURA
“Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, cuidando
de fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou;
não te desvies dela, nem para a direita nem para a esquerda, a
fim de que sejas bem sucedido por onde quer que andares. Não
se aparte da tua boca o livro desta lei. antes medita nele dia e
noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto
nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e
serás bem sucedido”.
A Reforma do Século XVI fez exatamente isso e. na sobe­
rana providência de Deus, nela temos um grande reavivamento
gerado pela descoberta das Escrituras, e pelo seguimento de seus
ensinamentos e verdades práticas. E, na realidade, um erro achar­
mos que a Reforma marea a aparição de várias doutrinas nunca
dantes formuladas. A Palavra de Deus, cujas doutrinas estavam
soterradas sob o entulho da tradição, é que foi resgatada. Já disse­
mos que uma característica comum das seitas é a apresentação
de supostas verdades que nunca haviam sido compreendidas, até
a aparição ou revelação destas a algum líder. Estas “verdades”
passam a ser determinantes da interpretação das demais e ponto
central dos ensinamentos empreendidos. A Reforma coloca-se em
completa oposição a esta característica. Nenhum dos reformado­
res declarou ter “descoberto” qualquer verdade oculta. Eles tão
somente apresentavam, em toda singeleza, os ensinamentos das
Escrituras. Seus comentários e controvérsias versaram sempre
sobre a clara exposição da Palavra de Deus.
Martin Lloyd-Jones nos indica “que a maior lição que a
Reforma Protestante tem a nos ensinar éjustamente que o segredo
do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é olhar
para trás”.2 Lutero e Calvino, diz ele, “foram descobrindo que
estiveram redeseobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e
que eles tinham esquecido”.
Na ocasião da Reforma, a tradição da igrejajá havia se incor­
porado aos padrões determinantes de comportamento e doutrina
D. Martin Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma (São Paulo: PIS. I0%), N.
PREFACIO 11
e, na realidade, já havia superado as prescrições das Escrituras.
A Bíblia era conservada longe e afastada da compreensão dos
devotos. Era considerada um livro só para os entendidos, obscuro
e até perigoso para a massa. Os reformadores redescobriram e
levantaram bem alto o único padrão de fé e prática: a Palavra de
Deus, e por este padrão, aferiram tanto as autoridades como as
práticas religiosas em vigor.
A um mundo que está sem padrão e à própria igreja evan­
gélica, que está voltando a enterrar o seu padrão em meio a um
entulho místico pseudo-espiritual, a mensagem da Reforma
continua necessária. Esse livro traz o brado de Sola Scriptura,
com veemência e clareza, como antídoto ao veneno contempo­
râneo do subjetivismo e existencialismo do homem sem Deus,
que teima em se infiltrar nos ensinamentos da Igreja Cristã. Pode
parecer estranho, entretanto, que sendo ele dedicado à exaltação
da importância e suficiência das Escrituras, o livro utilize como
ponto de partida e de fechamento, credos e confissões históricas.
Não seriam, esses, documentos que desviam os nossos olhos das
Escrituras? A resposta é um sólido NÃO! A própria Confissão de
Fé de Westminster em seu Capítulo 1°, apresentando a mensagem
inequívoca da Reforma do Século XVI, cada vez mais válida aos
nossos dias, descreve a Bíblia como sendo a única regra infa­
lível de fé e de prática". Essa é a mensagem deste livro, ao qual
damos a nossa mais entusiástica acolhida.
Solano Portela, 1998.
CONTEÚDO
PREFÁCIO 7
INTRODUÇÃO 17
Assunto do Livro 18
Apresentação do Assunto 18
Importância de uma Sà Bibliologia 19
CAPÍTULO 1: SÍMBOLOS DE FÉ 21
Inevitabilidade dos Símbolos de Fé 22
Propósitos dos Símbolos de Fé 23
Bases Bíblicas para os Símbolos de Fé 27
Autoridade dos Símbolos de Fé 29
CAPÍTULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇÃO 31
Divisão do Assunto 32
Revelação Natural 32
Louca Cegueira Humana 34
Insuficiência da Revelação Natural 35
Revelação Especial 36
Revelação Escrita 37
Necessidade das Escrituras 38
CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITURAS 41
O Canon Protestante do Antigo Testamento 42
O Canon Católico-Romano do Antigo Testamento 46
O Canon do Novo Testamento 50
14 SOLA SCRIPTURA
CAPÍTULO 4: INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
Definição da Doutrina
Evidências Indiretas da Inspiração
Evidências Diretas da Inspiração
Natureza da Inspiração
Extensão da Inspiração
Conclusão
CAPÍTULO 5: AUTORIDADE DAS ESCRITURAS
Definição
Evidências Bíblicas
Natureza da Autoridade das Escrituras
Testemunho da Igreja
Testemunho do Espírito sobre aAutoridade das Escrituras
Conclusão
CAPÍTULO 6: SUEICIÊNCIA DAS ESCRITURAS
Regra Completa de Fé e Prática
Implicação Lógica
Iluminação do Espírito
Princípios, Ensinos Gerais e Exemplos 1
Conclusão 1
CAPÍTULO 7: CLAREZA DAS ESCRITURAS 1
Nem Tudo ê Igualmente Claro ou Evidente 1
O Essencial é Claro pela Iluminação do Espírito I
Conclusão 1
CAPÍTULO 8: PRESERVAÇÃO DAS ESCRITURAS 1
Definição da Doutrina I
Evidências Bíblicas da Doutrina 1
Relação com a Crítica Textual do NT 1
Evidências da Preservação do NT na História
e Qualidade do Texto I
Natureza e Extensão da Preservação 1
61
63
63
66
68
71
73
75
76
76
78
85
86
87
91
92
94
98
00
02
03
04
06
1I
13
14
14
16
19
24
CONTEÚDO 15
CAPÍTULO 9: TRADUÇÃO DAS ESCRITURAS 127
Razões para a Tradução das Escrituras 128
Evidências Históricas 130
Traduções Reformadas e Modernas das Escrituras 135
Princípios Saudáveis para a Tradução das Escrituras 140
CAPÍTULO 10: INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS 147
Necessidade de Interpretação das Escrituras 150
Correntes de Interpretação das Escrituras 153
O Método Gramático-Histórico 158
CAPÍTULO 11:
AUTORIDADE SUPREMA DAS ESCRITURAS 173
Tendência Geral 173
Aspectos Importantes da Doutrina 174
Conclusão 177
CAPÍTULO 12: OBJEÇÕES E RESPOSTAS 179
Erros de Transmissão 180
Erros Científicos 180
Erros Históricos 182
Contradições Internas 183
Outras Objeções 185
Conclusão 186
CAPÍTULO 13: RESUMO E APLICAÇÕES 187
Da Doutrina da Revelação 187
Do Canon das Escrituras 187
Da Inspiração das Escrituras 188
Da Autoridade das Escrituras 188
Da Suficiência das Escrituras 189
Da Clareza das Escrituras 189
Da Preservação das Escrituras 190
Da Tradução das Escrituras 190
Da Interpretação das Escrituras 181
16 SOIA St RiriUKA
CAPÍTULO 14: PRATICANTES DA PALAVRA PU
Introdução PU
O Sentido Bíblico de Obras 144
Acolhendo a Palavra 145
Praticando a Palavra 146
A Religião da Palavra 144
Conclusão 201
APÊNDICE 1: PRINCIPAIS SÍMBOLOS DE FÉ 203
Credos Antigos 204
Confissões e Catecismos Luteranos 20S
Símbolos de Fé Calvinistas 204
Outras Confissões de Fe Protestantes 216
A Primeira Confissão de Fé do Novo Mundo 21X
APÊNDICE 2: A CONFISSÃO DA GUANABARA 214
BIBLIOGRAFIA 227
INTRODUÇÃO
Na sua segunda carta a Timóteo, o apóstolo Paulo o alerta,
dizendo: “Sabe, porém, isto: nos últimos dias sobrevirão tempos
difíceis” (3:1). Uma das características marcantes desses dias,
esclarece o apóstolo no início do capítulo seguinte, seria a aver­
são à verdade e a afeição ao erro:
Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus que há dejulgar vivos e mortos...:
prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende,
exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que
não suportarão a sã doutrina: pelo contrário, cercar-se-ào de mestres,
segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvi­
dos; e se recusarão a dar ouvidos a verdade, entregando-se ás fábulas
(4:1-4).
Parece que as igrejas evangélicas no Brasil estão vivendo
dias assim: difíceis. Tão difíceis que se pode questionar se o
termo evangélico ainda tem algum sentido; se ele ainda se presta
para identificar uma corrente teológica distinta na Igreja Cristã.
Quando consideramos a diversidade doutrinária, litúrgica e
prática que, em geral, caracteriza o evangelicalismo brasileiro,
não é descabido questionar se alguma denominação evangélica
no Brasil ainda pode, como instituição, ser considerada herdeira
legítima da doutrina, culto e práticas reformadas.
Pode haver muitas razões para essa situação. Entretanto,
sem dúvida, o relaxamento para com a autoridade e suficiência
das Escrituras é uma delas. Na prática, as igrejas evangélicas,
18 SOLA SCRIPTURA
em geral, não têm professado uma teologia precisa, sistemática,
confessional e histórica. Mesmo denominações mais tradicionais
parecem estar se distanciando progressivamente das doutrinas,
culto e práticas reformadas pelas quais muitos, no passado,
chegaram a sacrificar a própria vida.
ASSUNTO DO LIVRO
O título deste livro, Sola Scriptura: A Doutrina Reformada
das Escrituras, indica o seu escopo: trata-se de uma exposição da
doutrina protestante histórica sobre as Escrituras Sagradas. E um
estudo teológico confessional do primeiro capítulo da Confissão
de Fé de Westminster.1
Estes estudos foram originalmente proferidos na Igreja
Presbiteriana Central do Pará. no primeiro semestre de 1995, com
o propósito de resgatar as doutrinas reformadas relacionadas às
Escrituras, expondo-as de modo acessível à igreja. Sua base é a
Confissão de Fé de Westminster, contudo, outros símbolos de fé
e obras representativas da teologia reformada foram pesquisados
e são frequentemente citados.
Não se trata de um trabalho acadêmico, escrito para eruditos,
nem demasiadamente superficial, que não contribua para a amplia­
ção do horizonte intelectual dos leitores. Trata-se de uma obra para
crentes desejosos de conhecer melhor o fundamento da sua fé, e de
alcançar uma compreensão teológica mais sistemática e profunda
da doutrina protestante histórica acerca das Escrituras.
APRESENTAÇÃO DO ASSUNTO
O primeiro capítulo desta obra é introdutório. Trata da
natureza dos símbolos de fé, lidando com questões tais como:
necessidade, propósitos, bases bíblicas e autoridade dos símbo­
los confessionais.1
1 "Confissão dc Fé do Westminster”. em Símbolos de Fé: Contendo a Confissão
de Fé, Cateeismo Maior, Breve Catecismo (São Paulo: Cultura Cristã. 1991), 17-105.
INTRODUÇÃO 19
Os dez capítulos seguintes (2-11) constituem o corpo prin­
cipal do livro. Neles são abordados assuntos importantes rela­
cionados à doutrina das Escrituras: a doutrina da revelação, da
inspiração, da autoridade, da suficiência, da clareza e da preser­
vação das Escrituras. Nesses capítulos também são discutidas
questões igualmente relevantes, tais como o cânon, a tradução e
a interpretação da Bíblia.
No capítulo doze são consideradas as principais objeções
levantadas contra a doutrina reformada das Escrituras: alegações
de existência de erros de transcrição, científicos, históricos e
contradições internas supostamente encontradas na Bíblia.
O penúltimo capítulo resume os assuntos estudados e extrai
deles algumas aplicações de ordem prática. E o último capítulo
é uma exortação à prática da Palavra de Deus, baseada em Tiago
1:21-27.
O Apêndice 1é um resumo da história e conteúdo dos prin­
cipais símbolos de fé: credos antigos, confissões e catecismos
luteranos e calvinistas, e outras confissões de fé protestantes. No
Apêndice 2, encontra-se o texto da Confissão de Fé dos Mártires
da Guanabara - a primeira confissão de fé escrita nas Américas.
IMPORTÂNCIA DE UMA SÃ BIBLIOLOGIA
Conforme ressalta Bickel:
O Cristianismo fundamenta-se na revelação... Nosso conhecimento de
Deus abrange aquilo que lhe aprouve revelar-nos a respeito da sua Pessoa...
Consequentemente, a questão básica que determina o nosso relacionamento
com Deus é a submissão, seja à sua revelação ou à nossa imaginação.2
A conhecida reforma religiosa empreendida nos dias do Rei
Josias, descrita nos capítulos vinte e dois e vinte e três de Segundo
Reis, ilustra de modo vivido a importância das Escrituras na
2 Bruce Bickel. "Prefácio”, em Sola Scriptura: ,uma Época sem
Fundamentos, o Resgate do Alicerce Bíblico, ed. Don Kistler (São Paulo: Editora
Cultura Cristã. 2000). 9.
20 SOI A S( RH'H IRA
restauração da verdadeira te. Tudo começou com a redeseoherla
do Livro da Lei - esquecido no templo - pelo sumo sacerdote
Hilquias (22:3-10); com a sua interpretação e anúncio fiel, pela
profetiza Llulda (22:13-20); e com o quebrantamento e disposição
de Josias em submeter-se seriamente aos seus ensinos (22:2).
A reforma religiosa do século XVI não foi diferente. A
profunda reforma teológica, eclesiástica e prática que deu origem
às igrejas protestantes foi precedida pela redescoberta da Palavra
de Deus, por uma reforma hermenêutica, e pela pregação fiel das
verdades nela encontradas.
Contudo, uma igreja reformada precisa estar continuamente
em processo de reforma. Não pela conformação com este século,
através da incorporação das últimas novidades que o mundo
oferece, mas pela conformação contínua à Palavra, levando
cativas as nossas mentes, fé e práticas eclesiásticas e pessoais à
obediência de Cristo.
Que Deus nos faça compreender a urgência dessa necessi­
dade. Queira Ele promover uma verdadeira reforma religiosa em
nosso país. Que Ele levante alguns Hilquias, Huldas e Josias para
redescobrirem, interpretarem fielmente, proclamarem e obede­
cerem a Palavra de Deus. Que o Soberano Deus suscite novos
Husses, Zwinglios, Luteros, Calvinos e Knoxes para reforma­
rem nossas doutrinas, nosso culto e nossas práticas eclesiásticas,
conduzindo-nos de volta à sua Santa Palavra. Essa é a única
esperança para o caos doutrinário, litúrgico e eclesiástico que
caracteriza o evangelicalismo brasileiro.
CAPÍTULO 1
SÍMBOLOS DE FÉ
Em virtude da natureza confessional deste livro e da aparente
aversão de considerável parte do evangelicalismo brasileiro aos
símbolos de fé, convém inieiá-lo com alguns esclarecimentos
relacionados à necessidade, propósitos, base bíblica e autoridade
dos símbolos de fé.
Símbolos de fé são resumos sistemáticos (ou didáticos) das
verdades fundamentais do Cristianismo. São declarações formais
autorizadas da fé cristã. Há quatro tipos principais de símbolos
de fé: credos, confissões de fé, catecismos e cânones.
Os credos1são declarações de fé resumidas. Os mais conhe­
cidos foram produzidos pela igreja antiga, antes da divisão da
Igreja Cristã nos seus dois principais ramos: ocidental e orien­
tal. Exemplos: Credo Apostólico, Credo Niceno e Credo de
Atanásio.
As confissões12distinguem-se dos credos em extensão, por
serem mais detalhadas, e quanto à época em que foram escri­
1 Do latim credo, “creio em".
2 O termo grego correspondente, ógoXoyía, e o verbo correlato, ógoXoyéw,
são frequentemente empregados no NT. Ver 1 Timóteo 6:12.13; Hebreus 3:1; 4:14;
10:23 (substantivo); Mateus 10:32; João 1:20; 9:22; Romanos 10:9.10; Hebreus
13:15; 1 João 2:23; 4:2.3; 2 João 7 e Apocalipse 3:5 (verbo).
SOIA SCRIPTURA11
tas: em geral, sào produto da Reforma ou de igrejas herdei­
ras da Reforma. Exemplos: Antiga Confissão de Fé Escocesa,
Confissão de Fé Belga e Confissão de Fé de Westminster.
Um credo ou confissão de fé pode ser pessoal. Comumente,
entretanto, esses termos são empregados para designar credos
e confissões que, embora possam ter sido escritos por uma só
pessoa, adquiriram representatividade, tendo sido adotados por
igrejas, movimentos ou denominações.
Catecismos3 também são resumos da fé cristã. São,
contudo, estruturados em forma de perguntas e respostas, com
um propósito mais didático, a fim de servirem de ferramenta
para a instrução da igreja. Eles podem ser maiores ou breves,
dependendo do tamanho. Exemplos: Catecismos de Lutero,
Catecismo de Heidelberg e os Catecismos de Westminster.4
Cânones são decisões oficiais de concílios que estabele­
cem a posição da igreja ou de um de seus ramos, movimentos
ou denominações, quanto a doutrinas específicas. Exemplo: os
Cânones de Dort.
INEVITABILIDADE DOS SÍMBOLOS DE FÉ
Os símbolos de fé são inevitáveis. As Escrituras não foram
escritas de modo temático ou sistemático. As verdades divinas
foram registradas, não por assunto, mas na proporção em que
foram sendo progressivamente reveladas. Elas abordam os mais
diversos temas teológicos e práticos no seu contexto histórico e
de acordo com as necessidades circunstanciais.
3 I3o grego Kxnrixéo): ensinar, instruir.
4 Uma relação e breves comentários sobre os principais catecismos reformados
são encontrados em Douglas F. Kelly, "l he Westminster Shortcr Catechism”, em To
Glorifx and Enjoy God: A Commemoration ofthe 350th Anniversary qfthe Westminster
Assembly, eds. John L. Carson e David W. 1lall (Edinburgh e Carlisle, PA: The Banner
ofTruth Trust, 1994), 105-06.
CAPITULO I: SÍMBOLOS DE FE 23
Entretanto, o processo de interpretação e compreensão das
Escrituras como um todo naturalmente conduz à sistematização
da revelação bíblica. Consciente ou inconscientemente, a mente
humana sistematiza essas verdades tematicamente procurando
formar um todo consistente. Assim, inevitavelmente, cada pessoa
tem um credo e revela-o ao orar, ao anunciar o evangelho e na
sua própria vida diária.
Revelamos um resumo ordenado da nossa fé objetiva (o
nosso credo) sempre que, por exemplo, nos dirigimos a Deus em
oração, e o adoramos pela excelência da sua pessoa, atributos e
obra; quando confessamos os nossos pecados; ao suplicarmos a
sua graça; ao intercedermos por outras pessoas; agradecermos
por suas bênçãos materiais e espirituais, especialmente pela obra
realizada por Cristo na cruz e pelo seu Espírito em nosso cora­
ção; ou nos consagramos à santidade e ao seu serviço.
A questão, portanto, não está na necessidade ou não de
credos e confissões de fé, mas na escolha, consciente ou incons­
ciente, entre chegarmos sozinhos ao nosso próprio credo ou
considerarmos a que conclusões o corpo de Cristo tem chegado
no decurso da história. Nas palavras de Alexander Hodge:
A questão real não está, como frequentemente insinuado, entre a Palavra
de Deus e o credo humano, mas entre a fé testada e provada pelo corpo
coletivo do povo de Deus, e o julgamento pessoal e a sabedoria não
assistida daqueles que repudiam os credos.'
Devido à natureza progressiva e não sistemática da revelação bíblica e
à característica sistemática peculiar da mente humana, a existência dos
símbolos de fé é, portanto, inevitável.
PROPÓSITOS DOS SÍMBOLOS DE FÉ
Além de inevitáveis, os símbolos de fé têm se revelado úteis
e necessários, pelo menos aos seguintes propósitos:5
5 A. A. Ilodge. The Confession ofFaith (F.dinburgh e Carlisle, PA: 1'he Banner
ofTruth Trust. 1992), 2.
24 SOLA SCRIPTURA
Propósito Teológico ou Doutrinário
Eles têm servido para registrar os diversos estágios do
progresso da igreja como um todo. e dos seus diferentes ramos
em particular, quanto à interpretação e compreensão das doutri­
nas bíblicas. A história do Cristianismo demonstra que tanto a
revelação como a compreensão das verdades reveladas, por parte
da igreja, são progressivas. A Igreja Cristã tem chegado a conclu­
sões doutrinárias paulatinamente, no decurso dos séculos.
Nos quatro primeiros séculos, lbram definidas especial­
mente questões teológicas propriamente ditas (sobre a Trindade)
e cristológicas (sobre a pessoa de Cristo). Posteriormente, no
quinto século, as doutrinas antropológicas do pecado e da graça de
Deus foram discutidas (especialmente por Agostinho e Pelágio) e
definidas. A soterologia só foi devidamente discernida e definida
durante a Reforma Protestante do século XVI. A eclesiologia foi
mais debatida nos séculos XVII e XVIII. E assim por diante.
Os credos e confissões têm servido, portanto, ao propó­
sito de registrar para a posteridade o progresso da compreensão
bíblica e das formulações teológicas no decurso dos séculos.
Propósito Apologético
Os símbolos de fé também têm sido empregados para
distinguir e defender a verdade contra os falsos ensinos e here­
sias. Desde o início, a igreja se viu obrigada a definir e registrar,
de modo ordenado, a legítima interpretação da verdade cristã,
em oposição aos falsos mestres, os quais, em todas as épocas,
insistem em corromper o significado das Escrituras. Não se
pode negar a tendência da natureza humana corrompida de
corromper a verdade de Deus (Rm 1:18ss). É sabido que toda
heresia reivindica base bíblica.
Pois bem. os símbolos de fé têm servido para definir, defen­
der e preservar a fé ortodoxa (a sã doutrina) das perversões dos
falsos mestres. Na condição de declarações oficiais da fé cristã,
os credos, confissões, catecismos e cânones são importantes
25CAPÍTULO 1: SÍMBOLOS DE FÉ
instrumentos da igreja - como coluna e baluarte da verdade -
contra o erro. Logan observa corretamente que “kos teólogos de
Westminster foram convocados para criar um modelo de esta­
bilidade e certeza teológica no contexto de considerável caos
político e teológico”.6
Propósito Didático
Outro propósito dos símbolos de fé consiste em auxiliar na
instrução da igreja. Credos, confissões e especialmente catecis­
mos sempre foram empregados como instrumentos de ensino das
verdades bíblicas - principalmente às crianças. Esses símbolos
de fé, por representarem o ensino oficial da igreja e o fazerem de
forma resumida, organizada e sistemática, são preciosos mate­
riais didáticos para a instrução do povo de Deus.
É interessante observar que a pregação baseada exclusi­
vamente em textos esparsos - como acontece com frequência
hoje - tem falhado em produzir uma compreensão mais madura,
sólida e profunda como a que caracterizou a igreja quando ela
lançou mão do ensino sistemático das doutrinas bíblicas. A
prática do sermão expositivo sequencial e do ensino sistemático
dos símbolos de fé pelas igrejas reformadas e puritanas, sem
dúvida, produziu crentes com compreensão mais profunda e
abrangente das doutrinas bíblicas. Eles não apenas conheciam
verdades isoladas, mas sabiam como relacioná-las umas com as
outras e como aplicá-las, nas proporções devidas, às diversas
circunstâncias da vida.
Propósito Eclesiástico
O último - mas não menos importante - propósito dos
símbolos de fé é proporcionar uma base doutrinária, litúrgica e
prática para a comunhão eclesiástica. União, como costumava
6 Samuel T. Logan .Ir., "The Context and Work ofthe Assembly”. em To Glorify
and Enjov God: A Commemnralion qf the 350tli Anniversary of lhe Westminster
Assembly. eds. John L. Carson e David W. Hall (Edinburgh e Carlisle, PA: The Banner
ofTruth Trust. 1994), 32.
26 SOIA SCRIPTURA
enfatizar Spurgeon, não pode se dar em detrimento da verdade.
Ele escreveu: “Buscar união em detrimento da verdade é traição
ao Senhor Jesus”.7 De fato, é muito difícil haver união externa
quando não há unidade de fé. É complicado, por exemplo, pasto­
res e igrejas trabalharem juntos quando diferem radicalmente em
suas concepções teológicas, litúrgicas, eclesiásticas, etc.
Exatamente por isso, sempre foi requerido pelas denomi­
nações tradicionais que os seus oficiais (ministros da Palavra,
presbíteros e diáconos) subscrevessem uma confissão de fé.
Isso os compromete, moralmente pelo menos, com a substância
do sistema doutrinário aí exposto. Essa prática também garante
uma concordância substancial no ensino e práticas eclesiásticas
dos pastores unidos por uma subscrição confessional.8
Subentende-se, por exemplo, que a fé e prática de todo
pastor presbiteriano seja a mesma. Teoricamente, pelo menos,
um pastor presbiteriano, ao aceitar o convite de uma igreja para
pastoreá-la, pode estar certo de que não deverá haver substan­
cial discordância doutrinária, litúrgica, etc. entre ele e a igreja,
visto que o seu conselho subscreve a mesma confissão de fé.
Isso deveria também dar tranquilidade aos membros de uma
igreja, pois sabem que não lhes serão impostas doutrinas ou
práticas substancialmente diferentes das que estão registra­
das nos seus símbolos de fé. Os credos e confissões de fé são,
portanto, uma garantia de que a fé, culto e práticas da igreja não
serão mudadas ao bel-prazer do subjetivismo, pragmatismo ou
idiossincrasias de pastores ou concílios.
Comentando sobre a “influência unificadora dos Padrões de
Westminster”, Adams lembra que o propósito unificador desses
símbolos de fé “era parte da intenção original ao se convocar
a Assembléia. Os comissionados sabiam isso desde o princípio
7 C. II. Spurgeon, "A Fragment upon the Down-Grade Controversy”, Sword
and Tmwel (november 1887).
8 O mesmo se aplica aos princípios de governo, litúrgicos e disciplinares.
CAPÍTULO 1: SÍMBOLOS DE FÉ 27
e tentaram produzir um documento que alcançasse esse fim,
gastando longas e árduas horas nessa tarefa”.9
Uma igreja sem confissão é semelhante a um partido sem
ideologia, a uma sociedade sem estatuto, ou a um país sem cons­
tituição. Não há coerência, nem unidade, nem estabilidade, nem
fidelidade, nem disciplina.
BASES BÍBLICAS PARA OS SÍMBOLOS DE FÉ
Os símbolos de fé são inevitáveis e necessários. Contudo, o
pragmatismo não pode ser determinante com relação às nossas
práticas religiosas. É imprescindível considerarmos se a formu­
lação e uso deles se justificam biblicamente.
Comentando sobre o uso de catecismos para a instrução
cristã dos filhos, Douglas Kelly escreve que “o locus c/assicus da
responsabilidade dos pais para a educação espiritual dos filhos é
Deuteronômio 6:7”, e explica que “embora esse verso não espe­
cifique uma instrução em forma de pergunta e resposta, os versos
25 a 30 do mesmo capítulo fazem isso...”1011
O Novo Testamento reconhece a existência de um corpo
definido de doutrinas bíblicas por parte dos apóstolos, e indica,
pelo menos implicitamente, a necessidade desse padrão doutri­
nário e de sua confissão pública. Eis alguns textos que fundamen­
tam essa afirmação:
Portanto, todo aquele que me confessar" diante dos homens.
também eu o confessarei12 diante do meu Pai que está nos céus
(Mt 10:32-33).
9 Jay L. Adams, “The Influente of Westminster”, em To Glorifj' and Enjoy
God: A Commemoraíion ofthe 350th Anniversaiy of lhe Westminster Asscmhly. eds.
John L. Carson e David W. Hall (Hdinburgh e Carlisle, PA: The BannerofTruth Trust.
1994), 254.
10 Kelly, “The Westminster Shorter Catechism”, 103.
11 'OqoAoyriaei, no original.
12 0|ioAoyf|a(ú, no original.
28 SOLA SCRIPTURA
Estando sempre preparados para responder13a todo aquele que vos
pedir razão da esperança que há em vós (1 Pe 3:15).
Se com a tua boca confessares14 a Jesus como Senhor, e em teu
coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás
salvo. Porque com o coração se crê para a justiça, e com a boca se
confessa a respeito da salvação (Rm 10:9-10).
Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual
também foste chamado, e de evefizeste a boa confissão'' perante muitas
testemunhas (1 Tm 6:12).
Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que
penetrou os céus, conservemos firmes a nossa c o n fissã o (Hb 4:14).
Cf. 3:1.
Nào é provável que os termos confissão (ópoXoyía) e
confessar (òpoXoyéio), empregados nestes versículos, já deno­
tassem uma confissão de fé no sentido técnico (de um resumo
sistemático elaborado de doutrinas), como seriam posterior­
mente empregados pelas igrejas protestantes. Entretanto, sem
dúvida, esses termos já apontam para uma confissão pública da
fé em Cristo, indicando não apenas a sua necessidade, como a
sua prática na igreja primitiva.
Os discípulos de Cristo deviam confessar (como de fato
faziam) a sua fé perante os homens; e há muitas passagens no
Novo Testamento que indicam um corpo de doutrinas funda­
mentais reconhecido, confiado e transmitido pelos apóstolos e
discípulos de Cristo. Termos diferentes são empregados, tais
como forma de doutrina, tradições, o evangelho que recebestes,
o padrão das sãs palavras, o ensino segundo a piedade, o que te
foi confiado, o bom depósito, etc. Esse corpo doutrinário reco­
nhecível e identificável podia ainda não ter forma escrita definida
oficial. Mas é inegável a sua existência, pelo menos em forma
oral. Eis alguns textos bíblicos que confirmam isso:1314
13 No original npo? àTToÀoyiar - para a confissão.
14 OpoXoyijartJ.
Q|ioXáyriaaç rf|i' KaXrji' ógoAoyiar, no original.
KpaTiõgei' rijç ógoAoyíaç, no original.
16
29CAPÍTULO 1: SÍMBOLOS DE FÉ
Mas graças a Deus porque, outrora escravos do pecado, contudo
viestes a obedecer de coração à form a de doutrina a que fostes
entregues (Rm 6:17).
De lato, eu vos louvo porque em tudo vos lembrais de mim. e retendes
as tradições assim como vo-las entreguei (1 Co 11:2).
Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos
aparteis de todo irmão que ande desordenadamente, e não segundo a
tradição que de nós recebestes (2 Ts 3:6).
Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evan­
gelho que vá além do que vos temospregado, seja anátema. Assim como
já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além
daquele que recebestes, seja anátema (G1 1:8-9).
Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras
de nosso Senhor Jesus Cristo, e com o ensino segundo a piedade, é
enfatuado. nada entende... E tu. ó Timóteo, guarda o que tefoi confiado.
evitando os falatórios inúteis e profanos... (1 Tm 6:3,20).
Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com lé e com
o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o
Espírito Santo que habita em nós (2 Tm 1:13-14).
Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação
do Espírito e fé na verdade (2 Ts 2:13b).1
AUTORIDADE DOS SÍMBOLOS DE FÉ
Embora as igrejas protestantes em geral adotem credos,
confissões, catecismos e cânones como símbolos de fé, reconhe­
cendo a sua múltipla utilidade e necessidade, nenhuma, entre­
tanto, reconhece nesses símbolos uma autoridade inerente. As
igrejas reformadas e herdeiras da Reforma admitem exclusiva­
mente as Escrituras como inerentemente autoritativas em matéria
religiosa. As Escrituras - e somente elas - sào a nossa única regra
autoritativa dc fé c prática.
Aautoridade dos credos, confissões e catecismos sustenta-se
cxclusivamente na proporção em que expressam o ensino bíblico.
Para os protestantes, as Escrituras são como estrelas que emitem*
17Conferir ainda 2 João 10.
30 SOLA SCRIPTURA
luz própria, enquanto os símbolos de fé sào planetas e satélites
que apenas refletem a luz que recebem. Nas palavras de Philip
Sehaff, um dos maiores estudiosos dos credos e confissões de fé
cristãs:IS“A autoridade dos símbolos (de fé), como a de todas as
composições humanas, é limitada. Não coordena com a Bíblia,
mas sempre se subordina a ela. que é a única regra infalível de fé
e prática cristãs'’.1819
Por conseguinte, as confissões de fé reformadas não reivin­
dicam inerrância. Pelo contrário, algumas reconhecem explici-
tamente que, como qualquer produto humano, não estão livres
de erros.
18 Autor de The ( reais qf Christenchu. em três volumes.
Citado por M. A. Noll, em Enciclopédia Histórico-Teológicada Igreja Cristã.
vol. I. p. 340.
CAPÍTULO 2
DOUTRINA DA REVELAÇÃO
Ainda que a luz da natureza e a s obras da criação e da providência manifestem
de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens fiquem
inescusáveis, todavia não são suficientes para dar aquele conhecimento de
Deus e da sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em
diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela
sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da erdade,
para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da
carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever
toda. Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles anti­
gos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo (parágrafo I).
O primeiro capítulo da Confissão de Fé de Westminster
começa tratando da doutrina das Escrituras. Isto é apropriado.
Não porque a doutrina das Escrituras seja mais importante do
que outras doutrinas, como a pessoa e obra de Deus (a teolo­
gia propriamente dita) e de Cristo (a cristologia), mas porque
a doutrina das Escrituras é a base e a fonte de todas as demais
doutrinas. Essa ordem “reflete a convicção dos teólogos de
Westminster de que toda teologia que sabemos de Deus é base­
ada naquilo que o próprio Deus revelou-nos nas Escrituras .■1
1 Ler Salmo 19:1-4; Romanos 1:19-22: 1 Coríntios 1:21 e Romanos 10:13-
14.17.
2 Derek Thomas, A Iisõo Puritana das Escrituras: Luta Análise do Capitulo
de Abertura da Confissão de Fe de Westminster (São Paulo: Editora Os Puritanos,
1998). 12.
32 SOIA SCRIPTURA
Com o princípio reformado resumido na expressão latina
sola Scriptura, os reformadores rejeitaram a autoridade das tradi­
ções eclesiásticas e das supostas novas revelações do Espírito.
Mais importante: eles restabeleceram as Escrituras como única
regra de fé e prática, como única fonte autoritativa em matéria de
doutrina, culto e práticas eclesiásticas.
DIVISÃO DO ASSUNTO
As seguintes doutrinas são abordadas neste capítulo da
Confissão de Fé:
Doutrina da Revelação (parágrafo I)
O Canon e a Inspiração das Escrituras (parágrafos II e III)
Autoridade das Escrituras (parágrafos IV e V)
Suficiência das Escrituras (parágrafo VI)
Clareza das Escrituras (parágrafo VII)
Preservação e Tradução das Escrituras (parágrafo VIII)
Interpretação das Escrituras (parágrafo IX)
O Juiz Supremo das Controvérsias Religiosas (parágrafo X)
REVELAÇÃO NATURAL
A Confissão de Fé de Westminster começa professando a
doutrina da revelação natural: Deus se revela por meio das obras
que foram criadas e da própria consciência do homem, na qual
está impregnado um padrão moral, ainda que imperfeito por
causa da queda.
Biblicamente falando, o universo físico é uma pregação.
O cosmo proclama os atributos de Deus. O maerocosmo (as
estrelas, os planetas, os satélites, com sua imensidão, grandeza
e leis), o cosmo (a terra, os mares, as montanhas, os vegetais,
os animais, o homem), e o microcosmo (os microorganismos,
a constituição dos elementos, etc.) revelam muitas verdades a
respeito da pessoa e da obra de Deus. O Autor de tal obra tem de
ser infinitamente sábio e poderoso.
CAPITULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇAO 33
O próprio serhumano, como criatura dc Deus, independente­
mente do aprendizado, já nasce com uma consciência - uma
versão da lei de Deus impregnada no seu ser - que o habilita a
discernir entre o bem e o mal, e com um instinto que o induz à
adoração da divindade. Este é o ensino bíblico do Antigo e do
Novo Testamento:
Os céus proclamam a glória dc Deus e o firmamento anuncia as obras
das suas mãos. Um dia discursa a outro dia. e uma noite revela conheci­
mento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se
ouve nenhum som: no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e
as suas palavras até aos confins do mundo (SI 19:1-4).
Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles,
porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus,
assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, clara­
mente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos
por meio das coisas que foram criadas (Rm 1:19-20).
Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza,
de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si
mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações,
testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos,
mutuamente acusando-se ou defendendo-se (Rm 2:14-15).
Ao estudar a criação, o homem deveria procurar ver Deus
nela, pois é obra dele, e revela os seus atributos. As ciências
podem até mesmo ser consideradas como departamentos da
teologia, especializações que estudam a criação e a providência.
O estudo da química, da física, da matemática, da biologia, da
geografia, da política, da antropologia, da história, etc., deve ter
por fim último a glória de Deus. Não é sem razão que muitos
dos primeiros cientistas dignos do nome eram cristãos sinceros,
como Isaac Newton e Michael Faraday.
Ao estudarmos qualquer esfera da criação, deveriamos
descobrir nela as mãos de Deus e as mãos do diabo. Por um lado,
observa-se nela impressionante e substancial lógica, ordem,
harmonia, sabedoria e poder. Por outro lado, pode-se também
perceber na natureza os traços da corrupção, da desordem, do
34 SOIA SCRIPTURA
conflito e da degeneraçào decorrentes da queda. Nào obstante, a
educação do nosso século, especialmente no nosso país, embora,
em geral, reivindique ser cristã, na realidade tornou-se materia­
lista. Em que instituições educacionais essas disciplinas são estu­
dadas com essa perspectiva e com esse propósito?
LOUCA CEGUEIRA HUMANA
Se o homem não houvesse caído, a revelação natural seria
suficiente para que ele compreendesse as verdades com relação a
Deus, à criação, ao próprio homem, etc., de modo a submeter-se
a Deus e a adorá-lo, rendendo-lhe a graça, o louvor e a honra que
lhe são devidas.
Mesmo caído, a revelação natural ainda é suficiente para
tomá-lo indesculpável, pois o homem natural deturpa a revela­
ção natural. Ele não dá ouvidos à pregação da natureza que o
convida a glorificar a Deus. Ele não se submete à proclamação
proferida pelo cosmo, nem reconhece a origem divina das leis
que regem o universo. O homem natural também não se submete
às leis encravadas na sua própria consciência, transgredindo-as
constante e deliberadamente. Recusando-se rebeldemente a
reconhecer a soberania do Criador e a adorá-lo, o homem natural
pretere adorar a criatura.
Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conheci­
mento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças;
antes, se tomaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-
lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tomaram-se loucos,
e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem
de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis... pois
eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a
criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!
(Rm 1:20b-23, 25).
Esse diagnóstico é igualmente verdadeiro, quer aplicado à
filosofia dos sofistas, dos epicureus e dos gnósticos da Grécia
Antiga, quer aplicado ao humanismo renascentista ou à ciência
materialista moderna. Onde, insisto, nas escolas e universidades
CAPITULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇÃO 35
de nosso país, a criação é estudada pela perspectiva das Escrituras
e com o propósito de glorificar a Deus?
O homem natural confunde o Criador com a criação (e crê
no panteísmo), isola o Criador da criação (e prega o deísmo),
rejeita o Criador (e professa o materialismo), ou dá-se por satis­
feito com a criação (dando origem ao naturalismo). Na sua louca
cegueira, o homem natural rebelde vai além: ele prefere atribuir
os traços de corrupção, desordem e conflito percebidos na cria­
ção ao Criador, e explicar a substancial lógica, ordem, harmonia,
sabedoria e poder nela percebidos às forças cegas da natureza, à
evolução, à seleção natural, ou mesmo a mutações genéticas.
Por isso o homem é indesculpável. Por estas razões, é
justamente culpado: por se recusar a andar conforme o grau da
revelação que recebe, seja da natureza, seja da consciência, e
se entregar rebelde e arrogantemente a todo tipo de impiedade.
“Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis
de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas
também aprovam os que assim procedem" (Rm 1:32).
INSUFICIÊNCIA DA REVELAÇÃO NATURAL
A revelação natural é, portanto, suficiente para condenar,
mas não para salvar. Devido ao estado decaído do homem, a
revelação natural não é nem clara nem suficiente para que as
verdades necessárias à sua salvação sejam compreendidas.
A religião natural ensina que a revelação da natureza é sufi­
ciente para a salvação do homem. Para os que assim pensam, a
mente humana desassistida pode compreender tudo o que é neces­
sário para a salvação. Contudo, tal ensino contradiz frontalmente a
revelação bíblica. De acordo com as Escrituras, “o homem natural
não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura: e
não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente"
(1 Co 2:14). Segundo as Escrituras, “aprouve a Deus salvar aos
que crèem, pela loucura da pregação" (1 Co 1:21). É por isso que
o apóstolo Paulo exclama: “Todo aquele que invocar o nome do
36 SOLA SCRIPTURA
Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não
creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como
ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10:13-14). Qual a conclu­
são? ‘‘Logo, a fé vem pela pregação (pelo ouvir) e a pregação (o
ouvir), pela palavra de Cristo” (Rm 10:17).
Deus se revela na criação, sim. Essa revelação é suficiente
para tomar a raça humana indesculpável. Entretanto, por causa
da queda, não é suficiente para a salvação de ninguém.
REVELAÇÃO ESPECIAL
Não sendo a revelação natural suficiente para salvar o
homem, por causa da cegueira produzida pela queda, aprouve a
Deus revelar-se diretamente à igreja.
Consequentemente, ele preparou um povo, Israel, na antiga
aliança, e a igreja, na nova aliança, para revelar-lhe diretamente o
conhecimento necessário à salvação. De modo direto e sobrena­
tural. por meio do seu Espírito, através de revelação direta, teofa-
nias, anjos, sonhos, visões, pela inspiração de pessoas escolhidas
e pelo seu próprio Filho, Deus comunicou progressivamente à
igreja, no curso dos séculos, as verdades necessárias à salvação,
as quais, de outro modo, seriam inacessíveis ao homem.
Assim, Deus revelou-se a Noé, a Abraão, a Moisés, aos
profetas, a Davi. a Salomão, aos seus apóstolos e, especial­
mente, revelou-se em Cristo. E a isso que o autor da Epístola aos
Hebreus se refere, quando afirma que: “havendo Deus, outrora,
falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profe­
tas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu
herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo”
(Hb 1:1-2). Cristo é a revelação final de Deus.
E dessa revelação que o apóstolo Paulo fala. na sua carta
endereçada aos gálatas: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o
evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque
eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante
revelação de Jesus Cristo” (G1 1:11-12).
CAPÍTULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇÃO 37
À igreja de Deus, portanto, foram confiados os oráculos de
Deus: a revelação especial, inspirada, clara, precisa, autoritativa
e suficiente para ensinar ao homem o que ele deve conhecer e
crer, e o que dele é requerido, com vistas à sua própria salvação
e à glória de Deus.
REVELAÇÃO ESCRITA
Tendo em vista a insuficiência da revelação natural e a abso­
luta necessidade da revelação especial, aprouve a Deus ordenar
que essa revelação fosse toda escrita, a fim de que pudesse ser
preservada e permanecesse disponível, para a consecução dos
seus propósitos eternos. Deus conhece perfeitamente a natureza
humana corrompida. Ele conhece também a malícia de Satanás,
bem como a perversão do mundo. Ele sabe que revelar a sua
vontade à igreja não seria suficiente, pois ela seria fatalmente
corrompida e deturpada. Basta observar as tradições religiosas,
mesmo as ditas cristãs - como tendem inexoravelmente ao erro!
Por isso. Deus fez com que todas as verdades necessárias à
salvação, à santificação, ao culto, ao serviço e à vida do homem,
fossem escritas e preservadas, para que pudessem ser conheci­
das, cridas e obedecidas. Com esses propósitos, o próprio Deus,
por meio do seu Espírito, inspirou os autores bíblicos, a fim de
que pudessem registrar a revelação especial sem erro algum.
Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repre­
ensão. para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra (2 Tm 3:16).
Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem
em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até
que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações; sabendo,
primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de
particular elucidação: porque nunca jamais qualquer profecia foi dada
por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de
Deus. movidos pelo Espírito Santo (2 Pe 1:19-21).
38 SOLA SCRIPTURA
De acordo com o primeiro parágrafo da Confissão de Fé de
Westminster, portanto, a revelação escrita é expressão da graça
de Deus com vistas à preservação da integridade da verdadeira
religião e à salvação, edificação e conforto do seu povo.
NECESSIDADE DAS ESCRITURAS
Smith explica a necessidade das Escrituras da seguinte
maneira:
A revelação de Deus aconteceu por meio do processo histórico. O centro
dessa revelação veio na Pessoa de Cristo, sua encarnação, sua vida, sua
morte e sua ascensão; esses eventos ocorreram uma única vez. Eles não
se repetem. Eles se tornaram uma parte da história humana, e devem
ser transmitidos à humanidade. Nisso vemos a necessidade de confiar o
registro e o significado dessa revelação à forma escrita. Somente assim
ela pode tomar-se a revelação para toda a humanidade...
A Escritura é para nós a revelação especial de Deus. Não há outro prin­
cipiam cognoscentli extemum para nós. '
Sendo, portanto, a Palavra escrita o meio escolhido por
Deus para revelar a sua vontade ao homem, ela não pode ser
dispensada, igualada, acrescentada nem suplantada. Nem o
Espírito agiria em detrimento ou à parte dela, mas com e por
ela. E neste sentido que as Escrituras são necessárias.e indis­
pensáveis para a comunicação das verdades imprescindíveis à
salvação. A Igreja Romana tem a tradição oral. Os reformado­
res radicais “possuíam” a palavra interior. Outras denominações
modernas “dispõem” de novas revelações do “Espírito”. Para os
teólogos racionalistas, a Bíblia representa apenas “a consciência
religiosa” e “a reflexão da igreja”.34A fé reformada, entretanto, se
fundamenta inteiramente nas Escrituras.
3 Morton H. Smith, Systenuitic Theology, vol. 1 (Greenville, SC: Greenville
Seminary Press. 1994), 69, 70.
4 Herman Bavinck, Rcformecl Dogmatics. vol. 1. Pmlegomena, ed. John Bolt,
trad. John Vriend (Grand Rapids: Baker Academic. 2003). 468.
CAPITULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇAO 39
Bavinck resume a visão reformada acerca da necessidade
das Escrituras, em contraste com as posições católico-romana,
mística e racionalista, como segue:
No Catolicismo Romano, a igreja, vivendo pelo Espírito Santo, é auto-
suficiente. A Bíblia, estritamente falando, não é necessária; a Escritura
precisa da igreja para a sua autoridade e interpretação. A tradição do
misticismo espiritualista, também, não precisa realmente da Escritura.
Comunhão, por meio de práticas ascéticas e contemplação, eram capa­
zes de colocar o crente em união com Deus. O mesmo fenômeno -
palavra interna acima da palavra externa - levou à crítica racionalista
à autoridade e necessidade da Escrituras. Mesmo se as Escrituras se
perdessem, a verdade ético-religiosa do Cristianismo sobrevivería...
Os protestantes reconhecem que a palavra externa apenas é insuficiente;
ela precisa do testemunho interno do Espírito Santo. Para a vida cons­
ciente da igreja, entretanto, a Escritura é essencial, indispensável para o
estabelecimento da verdade cristã do evangelho... Nesta era da história
da salvação, a Escritura é o nosso único guia seguro para o ensino apos­
tólico e o preserva para as gerações.'
' Bavinck, Reformed Dogmatics, 450.
CAPÍTULO 3
CANON DAS ESCRITURAS
Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se
agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, todos dados por inspi­
ração de Deus para serem a regra de fé e prática, que são os seguintes:
O Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio,
Josué, Juizes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, I Crônicas, 2 Crônicas,
Esdras, Neemias, Ester, ló, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Isaías,
lerem ias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, loel, Amós, Obadias, lonas,
Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.
O Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, loão, Atos, Romanos, 1 Coríntios,
2 Coríntios, Cálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I Tessalonicenses,
2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, 1
Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 loão, 3 João, Judas, Apocalipse.
Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina,
não fazem parte do Canon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na
Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados
senão como escritos humanos (parágrafos II e III).
O ensino dessesparágrafos da Confissão de Féde Westminster
diz respeito especialmente ao cânon das Escrituras. Neles não
são indicados os critérios empregados para o reconhecimento do
cânon Bíblico. São apenas relacionados os sessenta e seis livros
aceitos como canônicos, ou seja, como inspirados por Deus, que
compõem a Bíblia protestante. Quanto aos livros apócrifos, que
foram incluídos na Bíblia católico-romana, são explicitamente
i Ler Romanos 3:2.
42 SOLA SCRIPTURA
considerados nào inspirados e, portanto, nào autoritativos, nào
devendo ser entendidos senão como escritos humanos.
Apalavra cânon é mera transiiteração do termo grego Kavióv,
que significa vara reta, régua, regra. Aplicado às Escrituras, o
termo designa os livros que se conformam à regra da inspira­
ção e autoridade divinas. Atanásio (séc. IV) parece ter sido o
primeiro a usar a palavra nesse sentido.2São chamados de canô­
nicos, portanto, os livros que foram inspirados por Deus, os quais
compõem as Escrituras Sagradas - o cânon bíblico.
Quais são os livros canônicos, ou seja, inspirados? Como
eles se dividem? Há alguma regra pela qual se pôde averiguar
a canonicidade de um livro? Como explicar a diferença entre os
cânones hebraico, católico-romano e protestante? São essas as
perguntas que precisam ser respondidas com relação ao presente
assunto.
O CÂNON PROTESTANTE
DO ANTIGO TESTAMENTO
Origem
O cânon protestante do Antigo Testamento (composto pelos
trinta e nove livros relacionados acima) é exatamente igual ao
cânon hebraico massorético. O cânon massorético é a Bíblia
hebraica em sua forma definitiva, vocalizada e acentuada pelos
massoretas. A ordem dos livros na Bíblia protestante, entretanto,
segue a da Vulgata e da Septuaginta.
Os Massoretas
Os massoretas eram judeus estudiosos que se dedicavam
à tarefa de guardar a tradição oral (massora) da vocalização e
acentuação correta do texto. A medida que um sistema de voca­
lização foi sendo desenvolvido, entre 500 e 950 AD, o texto
2 A. Bcntzen, Introdução ao Antigo Testamento. vol. 1 (São Paulo: ASTE,
1968), 29.
CAPITULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 43
eonsonantal que receberam dos soferint foi sendo por eles
euidadosamente vocalizado e acentuado. Além dos pontos vocá-
lieos e dos acentos, os massoretas acrescentavam também ao
texto as massoras marginais, maiores e finais, calculadas pelos
soferim. Essas massoras (tradições) eram estatísticas colocadas
ao lado das linhas, ao fim das páginas e ao final dos livros, indi­
cando quantas vezes uma determinada palavra aparecia no livro,
o número de palavras e letras. Elas indicavam até a palavra e
letra central do livro.34
O Canon Massorético
Embora o conteúdo do cânon protestante seja o mesmo do
cânon hebraico, a divisão e a ordem dos livros são diferentes. Eis
a divisão e ordem do cânon hebraico:
O Pentateuco (Torá): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio.
Os Profetas (Neviim):
Anteriores: Josué, Juizes, 1e 2 Samuel, 1e 2 Reis.
Posteriores: Isaias, Jeremias, Ezequiel e Profetas Menores.
Os Escritos (Kêtuvim):
Poesia e Sabedoria: Salmos, Provérbios e Jó.
Rolos ou Megilloth (lidos no ano litúrgico): Cantares (na
páscoa), Rute (no pentecostes), Lamentações (no quinto mês),
Eclesiastes (na festa dos tabernáculos) e Ester (na festa de
purim).
Históricos: Daniel. Esdras, Neemias e 1e 2 Crônicas.
3 Ordem dos escribas que se originou com Esdras. e que se estendeu até 200 AD.
cuja função era preservar puro o texto bíblico.
4 As massoras funcionavam mais ou menos como os modernos dígitos veri­
ficadores usados por programas de computadores para evitar erros em informações
importantes como número de contas bancárias, CPF, CGC, etc.
44 SOIA SCRIPTURA
O Canon Consonantal
A divisão e a ordem dos livros no cânon hebraico consonan­
tal, anterior ao massorético, era a mesma. O número de livros,
entretanto, era diferente. O conteúdo era o mesmo, mas agrupado
de modo a formar apenas vinte e quatro livros. Os livros de 1 e
2 Samuel, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas eram unidos, formando
apenas um livro cada (o que implica em três livros a menos em
relação ao nosso cânon). Os doze profetas menores eram agru­
pados em um só livro (menos onze livros). Esdras e Neemias
formavam um só livro: o Livro de Esdras (menos um livro).
Testemunhas Antigas do Cânon Hebraico Protestante
A referência mais antiga ao cânon hebraico é do historiador
judeu Josefo (37-95 AD). Em Contra Apionem ele escreve: “Não
temos dezenas de milhares de livros, em desarmonia e conflitos,
mas somente vinte e dois, contendo o registro de toda a história,
os quais, conforme se crê, com justiça, são divinos”.5 Depois
de referir-se aos cinco livros de Moisés, aos treze livros dos
profetas, e aos demais escritos (os quais “incluem hinos a Deus e
conselhos pelos quais os homens podem pautar suas vidas”), ele
continua afirmando:
Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido
registrado, mas não tem sido considerado digno de tanto crédito quanto
aquilo que precedeu a essa época, visto que a sucessão dos profetas
cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é perce­
bida através de nossa conduta; pois, apesar de ter-se passado tanto
tempo, ninguém jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar
deles coisa alguma, nem alterar neles qualquer coisa que seja.6
Josefo é suficientemente claro. Como historiador judeu, ele
é fonte fidedigna. Eram apenas vinte e dois os livros do cânon
5 Ele menciona vinte e dois. ao invés de vinte e quatro, porque com certeza,
originalmente, Rute era agrupado com Juizes e Lamentações com Jeremias.
6 Capítulo primeiro.
CAPITULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 45
hebraico agrupados nas três divisões do cânon massorético. E
desde a época de Malaquias (Artaxerxes, 464-424 AC) até a sua
época, nada se lhe havia sido acrescentado. Outros livros foram
escritos, mas não eram considerados canônicos, com a autori­
dade divina dos vinte e dois livros mencionados.
Além de Josefo, Mileto, Bispo de Sardes, diz ter viajado
para o Oriente, no ano 170 AD, com o propósito de investigar a
ordem e o número dos livros do Antigo Testamento; Orígenes, o
erudito do Egito, que morreu em 254 AD; Tertuliano (160-250
AD), pai latino contemporâneo de Orígenes; e Jerônimo (340-420
AD), entre outros, confirmam o cânon hebraico de vinte e dois
ou vinte e quatro livros (dependendo do agrupamento ou não de
Rute e Lamentações).
E interessante observar que o próprio Jerônimo, tradutor
da Vulgata latina, que daria origem ao cânon católico-romano,
embora considerasse os livros apócrifos úteis para a edificação,
não os tinha como canônicos. Apesar de ter traduzido outros
livros não canônicos, ele escreveu que “deveríam ser colocados
entre os apócrifos,” afirmando que “não fazem parte do cânon”.
Referindo-se ao livro de Sabedoria de Salomão e ao livro de
Eclesiástico, ele diz: “Da mesma maneira pela qual a igreja lê
Judite e Tobias e Macabeus (no culto público), mas não os recebe
entre as Escrituras canônicas, assim também sejam estes dois
livros úteis para a edificação do povo, mas não para receber as
doutrinas da igreja”.7
Vale salientar ainda que a versão siríaca Peshita, que
bem pode ter sido feita no século II ou III,8 ou até mesmo no
7 Gleason L. Archer Jr, Merece Confiança o Antigo Testamento? (São Paulo:
Vida Nova, 1979), 76.
8 R. L. Uarris, Inspiration and Canonicity of the Bible: An Histórical and
Exegetical Study (Grand Rapids: Zondervan. 1957), 216; Wilbur N. Pickering. The
Identity of the New Testament Text (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980),
93-96; e Archer Jr. Merece Confiança o Antigo Testamento?, 51.
46 SOIA SCRIPTURA
século I,° nos manuscritos mais antigos, não contém nenhum dos
apócrifos.
O Testemunho de Jesus e dos Apóstolos
Embora as evidências já mencionadas sejam importan­
tes, a principal testemunha do cânon protestante do Antigo
Testamento é o Novo Testamento. Jesus e os apóstolos não ques­
tionaram o cânon hebraico da época (época de Josefo, convém
lembrar). Eles o citaram cerca de seiscentas vezes, de modo
autoritativo, incluindo praticamente todos os livros do cânon
hebraico. Entretanto, não citam nenhuma vez os livros apócri­
fos.910Pode-se concluir, portanto, que Jesus e os apóstolos deram
o seu imprimatur ao cânon hebraico e, consequentemente, ao
cânon protestante.
O CÂNON CATÓLICO-ROMANO
DO ANTIGO TESTAMENTO
Origem
O cânon católico-romano, composto pelos trinta e nove
livros encontrados no cânon protestante, acrescido das adições
a Daniel e Ester, e dos livros de Baruque, Carta de Jeremias,
1-2 Macabeus, Judite, Tobias, Eclesiástico e Sabedoria - 3 e
4 Esdras e a Oração de Manassés são acrescentadas depois do
NT - origina-se da Vulgata latina, que por sua vez, provém da
Septuaginta.
9 “É provável que certas porções do Antigo Testamento siríaco. em primeiro
lugar o Pentateuco. tenham sido introduzidos naquele reino nos meados do primeiro
século de nossa era". R. A. H. Gunner, “Texto e Versões do Antigo Testamento. Versão
Siríaca”, em O Novo Dicionário da Biblia, 3 ed. rev.. ed. J. D. Douglas, trad. João
Bentes (São Paulo: Vida Nova, 2006), 1327.
10 Com exceção de Enoque 1:9, aludido em Judas 14-16: contudo, não citado
autoritativamente, e sim como qualquer outro autor; assim como Paulo cita Arato em
Atos 17:28 e Menander em 1Coríntios 15:33.
CAPITULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 47
A Septuaginta
A Septuaginta é uma tradução dos livros judaicos para
o grego, feita possivelmente durante o reinado de Ptolomeu
Filadelfo (285-245 AC) ou até meados do século 1AC, para a
biblioteca de Alexandria, no Egito." Os tradutores não se limi­
taram a traduzir os livros considerados canônicos pelos judeus.
Eles traduziram os demais livros judaicos disponíveis. E, ajulgar
pelos manuscritos existentes, deram um arranjo tópico à biblio­
teca judaica, na seguinte ordem:
Livros da Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Livros de História: Josué, Juizes, Rute, 1-2 Samuel, 1-2 Reis
(chamados 1-2-3-4 reinados), 1-2 Crônicas, 1-2 Esdras (o primeiro
apócrifo), Neemias, Tobias. Judite e Ester.
Livros de Poesia e Sabedoria: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes,
Cantares, Sabedoria de Salomão, Sabedoria de Siraque (ou
Eclesiástico).
Livros Proféticos: Profetas Menores; Profetas Maiores: Isaías,
Jeremias, Baruque, Lamentações, Epístola de Jeremias, Ezequiel. e
Daniel (incluindo as histórias de Susana, Bel e o Dragão e o cântico
dos Três Varões).
Alguns desses livros foram escritos posterionnente, em
grego, possivelmente por judeus alexandrinos, e foram incluídos
na biblioteca judaica de Alexandria, tais como Primeiro e Segundo
Esdras, adições a Ester, Sabedoria, e a Epístola de Jeremias. Nem
sempre todos esses livros estão presentes nos manuscritos antigos
da Septuaginta. O Códice Vaticano (B) omite Primeiro e Segundo
Macabeus (canônicos para a Igreja Católica) e inclui Primeiro
Esdras (não canônico para a Igreja Católica). O Códice Sinaítico
(N) omite Baruque (canônico para Roma), mas inclui o quarto livro
dos Macabeus (não canônico para Roma). O Códice Alexandrino11
11 A biblioteca de Alexandria, segundo alguns, chegou a possuir cerca de duzen­
tos mil volumes.
48 SOLA SCRIPTURA
(A) inclui o Primeiro Livro de Esdras e o Terceiro e Quarto Livros
dos Macabeus (apócrifos para Roma).
O que se pode concluir daí é que, quando a Septuaginta
foi copiada, alguns livros nào canônicos para os judeus foram
também copiados. Isso poderia ter ocorrido por ignorância quanto
aos livros verdadeiramente canônicos. Pessoas não afeiçoadas ao
judaísmo ou mesmo desinteressadas em distinguir livros canô­
nicos dos nào canônicos tinham por igual valor todos os livros,
fossem eles originalmente recebidos como sagrados pelos judeus
ou não. Mesmo aqueles que não tinham os demais livros judaicos
como canônicos certamente também copiavam estes livros, não
por considerá-los sagrados, mas apenas para serem lidos. Por que
não copiar livros tão antigos e interessantes?
Mesmo pessoas bem intencionadas podem ter sido levadas
a rejeitar alguns dos livros canônicos, ou a aceitar como canôni­
cos alguns que não o fossem, por ignorância ou má interpretação
da história do cânon. Convém lembrar que, embora o testemu­
nho do Espírito Santo seja a principal regra de canonicidade por
parte da igreja como um todo, mesmo assim, o crente ainda tem
uma natureza pecaminosa que não o livra totalmente de incidir
em erro, inclusive quanto ao assunto da canonicidade. Isto acon­
tece especialmente em épocas de transição, como foi o caso de
Agostinho, que defendeu os livros apócrifos, embora de modo
dúbio, e depois o de Lutero, o qual colocou em dúvida a canoni­
cidade da carta de Tiago.
A Vulgata
Como já foi mencionado, ao traduzir a Vulgata, Jerônimo
também incluiu alguns livros apócrifos. Nào o fez, contudo, por
considerá-los canônicos, mas apenas por considerá-los úteis,
como fontes de informação sobre a história do povo judeu.
Na Idade Média, a versão francamente usada pela igreja foi a
Vulgata latina. A partir dela e da Septuaginta também foram feitas
outras traduções. Ora. multiplicando-se o erro, e afastando-se cada
CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITURAS 49
vez mais a igreja da verdade (como aconteceu crescentemente nesse
período), tomou-se mais e mais difícil distinguir entre os livros que
deveríam ser considerados canônicos ou não. Esses livros nunca
foram completamente aceitos, mesmo nessa época. Mas, por se
encontrarem incluídos nessas versões, a igreja (que se encontrava,
de modo geral, em época de trevas) não teve discernimento espiri­
tual para distinguir entre livros apócrifos e canônicos.
Por fim, no Concilio de Trento, em 1546, (também em
reação contra os protestantes, que reconheceram apenas o cânon
hebraico), a igreja de Roma declarou canônicos os livros apócri­
fos relacionados acima, bem como autoritativas as tradições orais:
“O Sínodo... recebe e venera todos os livros, tanto do Antigo
como do Novo Testamento... assim como as tradições orais”. A
seguir são relacionados todos os livros considerados canônicos,
incluindo os apócrifos. Concluindo, o decreto adverte:
Se qualquer pessoa não aceitar como sagrado e canônico os livros
mencionados em todas as suas partes, do modo como eles têm sido
lidos nas igrejas católicas, e como se encontram na antiga Vulgata
latina, e deliberadamente rejeitar as tradições antes mencionadas, seja
anátema.i:
A igreja grega seguiu mais ou menos os passos da igreja
ocidental. Houve sempre dúvida na aceitação dos apócrifos, mas,
no Concilio de Trulano, em 692, foram todos aceitos (quatorze).
Ainda assim, como sempre houve reservas quanto à plena acei­
tação de muitos deles, a igreja grega, em 1672, acabou redu­
zindo para quatro o número dos apócrifos aceitos: Sabedoria,
Eclesiástico, Tobias e Judite.1'
Conclusão
Por ironia da história, a Vulgata de Jerônimo, o qual não
considerava canônicos os livros apócrifos,121314 veio a ser a prin-
12 Harris, Inspiration and Canonicity ofthe Bible, 192.
13 Archer Jr, Merece Confiança o Antigo Testamento3, 80.
14 Jerônimo foi o primeiro a usar o termo apócrifo.
50 SOLA SCRIPTURA
cipal responsável pela inclusão destes mesmos livros no cânon
católico-romano.
A obra dos reformadores foi maior do que se pode pensar
à primeira vista. Eles não apenas redescobriram as doutrinas
básicas do evangelho - como a doutrina da salvação pela graça
mediante a fé - e reformaram o culto. Eles redescobriram também
o cânon. Graças a eles e ao testemunho do Espírito Santo, a igreja
protestante reconhece como canônicos, com relação ao Antigo
Testamento, os mesmos livros que Jesus e os apóstolos, e os
judeus de um modo geral sempre reconheceram.
Alguns dos apócrifos são realmente úteis como fontes
de informação a respeito de uma época importante da história
do povo de Deus: o período inter-testamentário. Os protes­
tantes reconhecem o valor histórico deles. Seguindo a prática
dos primeiros cristãos, as edições modernas protestantes da
Septuaginta normalmente incluem os apócrifos, e até algumas
Bíblias protestantes antigas os incluíam, no final, apenas como
livros históricos.
Contudo, as igrejas reformadas excluíram totalmente os
apócrifos das suas edições da Bíblia, e, “induziram a Sociedade
Bíblica Britânica e Estrangeira, sob pressão do puritanismo esco­
cês, a declarar que não editaria Bíblias que tivessem os apócrifos,
e a não colaborar com outras sociedades que incluíssem esses
livros em suas edições”.15 Melhor assim, tendo em vista o que
aconteceu com a Vulgata! Melhor editá-los separadamente.
O CANON DO NOVO TESTAMENTO
Por motivos óbvios, os judeus não aceitam os livros do
Novo Testamento como canônicos. Visto que não reconhece­
ram a Jesus como o Messias, não poderíam aceitar os livros do
Novo Testamento como inspirados. Felizmente, entretanto, não
precisamos falar de um cânon protestante e de um cânon católi­
Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, 49
15
CAPÍTULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 51
co-romano do NT, visto que todos os ramos do Cristianismo -
incluindo a igreja oriental - aceitam exatamente os mesmos vinte
e sete livros, como os temos em nossa Bíblia.
É claro, entretanto, que não se poderia esperar que todos
os vinte e sete livros do Novo Testamento viessem a ser imediata
e simultaneamente reconhecidos como inspirados, por todas as
igrejas, logo que foram escritos. Algum tempo seria necessário
para que os quatro Evangelhos, o livro de Atos, as epístolas e
o livro de Apocalipse alcançassem todas as igrejas. Afinal, ao
término do primeiro século e no início do segundo, a igreja já
havia se espalhado por três continentes: Europa, Asia e norte da
África. Além disso, é provável que haja um intervalo de quase
cinquenta anos entre a data em que o primeiro e o último livro do
Novo Testamento foram escritos.16 Por fim, deve-se considerar
ainda que, embora todos os livros canônicos sejam inspirados,
nem todos têm a mesma importância ou volume. E natural espe­
rar que cartas pequenas como Judas, e as duas últimas cartas de
João, fossem bem menos mencionadas do que os Evangelhos,
Atos, Romanos, etc.
Também é preciso observar que havia outros livros cristãos
antigos: evangelhos, cartas, atos, apocalipses, etc. Alguns desses
livros foram escritos por crentes piedosos do primeiro e segundo
séculos; outros eram indevidamente atribuídos aos apóstolos ou
aos seus contemporâneos. Algum tempo, é claro, seria necessário
para que a igreja inteira, de posse já de todos os livros canônicos,
bem como de muitos outros não canônicos, viesse a avaliar a
autoria, testemunho externo e interno, e discernir, pela ação do
Espírito Santo, quais livros realmente pertenciam ao cânon. Isso
tudo, entretanto, ocorreu de modo surpreendentemente rápido,
de maneira que antes que cem anos se passassem, praticamente
todos os livros do Novo Testamentojá eram conhecidos, reveren­
ciados e tidos como autoritativos pela Igreja, conforme atestam
1(1 A Epístola aos Gálatas foi escrita por volta de 48 a 50 e o Livro de Apocalipse
entre 81 a 96.
52 SOLA SCRIPTURA
as evidências históricas existentes. Bavinck está historicamente
correto, ao escrever:
Irineu, Tertuliano e outros, a Peshita e o fragmento de Muratori, todos
estabelecem além de qualquer dúvida que na segunda metade do
segundo século a maioria dos escritos do NT tinha autoridade canônica e
desfrutava de status equivalente ao dos livros do Antigo Testamento.17
Critérios de Canonicidade dos Livros do Novo Testamento
Aprincipal questão teológica com relação ao cânon do Novo
Testamento diz respeito ao critério ou critérios que determinaram
a canonicidade dos livros do NT. Por que os vinte e sete livros,
e apenas estes, incluídos em nossas Bíblias são aceitos como
canônicos? A resposta a essa pergunta encontra-se, em última
instância, na doutrina da inspiração. São canônicos os livros que
foram inspirados por Deus. “Para que um livro seja canônico
ele deve ser inspirado, e a tarefa da igreja no estabelecimento
dos limites do cânon era de decidir se os escritores eram ou não
inspirados”.18Mas como foi reconhecida a inspiração dos livros
do NT? Quais os critérios que levaram a igreja a aceitar todos os
vinte e sete livros, e apenas estes, como inspirados e consequen­
temente canônicos?
1) O Testemunho Interno do Espírito Santo
O critério essencial para o reconhecimento do cânon do
Novo Testamento é o mesmo que levou ao reconhecimento do
Antigo Testamento: o testemunho interno do Espírito Santo na
igreja como um todo. “Apesar de todas as evidências da auto­
ridade das Escrituras, o homem precisa da preparação interior
do Espírito para convencê-lo da sua confiabilidade”.19 É certo,
como já foi mencionado, que crentes individuais podem falhar
em identificar ou não certos livros como canônicos - especial­
17 Bavinck, Reformai Dogmatics, 400.
18 Thomas, A Visão Puritana cias Escrituras, 16
19 Ibid., 18.
CAPÍTULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 53
mente em épocas de transição, como nos primeiros séculos da
igreja na nova dispensaçào e durante o período da Reforma. Não
obstante, o testemunho da igreja como corpo (não como institui­
ção ou indivíduos isoladamente) é o principal critério de verifica­
ção da canonicidade das Escrituras.
Isso não significa dizer que foi a igreja que determinou
o cânon. “O cânon não foi formado por nenhum decreto de
concílios.”20 Quem determinou o cânon foi o Espírito Santo
que o inspirou. A igreja apenas o reconheceu, o discerniu, pela
iluminação do próprio Espírito, que habita nos seus membros
individuais. Isso implica em afirmar, como faz Bavinck, que “a
canonicidade dos livros bíblicos está enraizada na sua existência.
Eles têm autoridade em si mesmos... é o Espírito do Senhor quem
guiou os autores ao escrevê-los e a igreja ao reconhecê-los”.21
William Whitaker, professor de Teologia na Universidade de
Cambridge, no livro Disputation on Holy Scripture, publicado
em 1588, e frequentemente citado na Assembléia de Westminster,
resume o papel da igreja como corpo e dos crentes individuais
com relação ao reconhecimento do cânon, como segue: “A auto­
ridade da igreja pode, a princípio, mover-nos a reconhecermos as
Escrituras: mas depois, quando nós mesmos lemos as Escrituras,
e as compreendemos, concebemos uma fé verdadeira...”22- isto
é, somos convencidos pelo Espírito da sua veracidade e identi­
dade.23
As evidências históricas desse reconhecimento do cânon do
Novo Testamento pela igreja são abundantes.
20 Bavinck, Reformed Dogmatics, 400.
21 Ibid.,401.
22 Citado em Wayne Spear, "The Westminster Confession of Faith and Holy Scripture".
em To GloriJ}' and Enjoy God: A Commemoration ofthe 350th Anniverscuy oj tlie Westminster
Assembly, eds. John L. Carson e David W. Hall (Edinburgh e Carlisle, PA: The Banner of
TruthTrust. 1994), 91.
23 Para breves refutações da tese romana da determinação do cânon pela Igreja,
ver Godfrey, "O Que Entendemos por Sola Scriptura", em Sola Scriptura, 28-31: e R.
C. Sproul, “O Estabelecimento da Escritura", em Sola Scriptura, 65-87.
54 SOIA SCRIPTURA
Logo no final do primeiro século e início do segundo
(até 120 AD), boa parte dos livros do Novo Testamento já era
conhecida, citada e inclusive reverenciada como autoritativa
nos primeiros escritos cristãos que chegaram até nós. É o caso
da carta de Clemente de Roma aos Coríntios, escrita por volta
do ano 95; das cartas de Inácio de Antioquia da Síria, bispo que
morreu martirizado em Roma entre 98 e 117; da epístola aos
Filipenses, de Policarpo, discípulo de João que morreu marti­
rizado, escrita pouco antes do martírio de Inácio; etc. Apenas
a segunda e terceira carta de João e a carta de Judas não são
mencionadas nesses escritos mais antigos - obviamente por falta
de oportunidade, visto serem muito pequenas.
Na metade do segundo e no terceiro século, quandojá existe
maior abundância de escritos preservados,24 todos os livros do
Novo Testamento são citados, e reconhecidos como autoritati-
vos, embora a canonicidade de alguns livros seja colocada em
dúvida ou rejeitada por um ou outro autor antigo. Orígenes de
Alexandria (185-250) e Eusébio de Cesaréia (265-340), seguindo
Orígenes, por exemplo, parecem lançar dúvidas sobre Hebreus,
2 Pedro, 2 e 3 João, Tiago e Judas. Nesse período, o assunto da
canonicidade dos livros foi debatido e defendido, tendo em vista
as posições heréticas, como as de Marcião e outros representan­
tes do gnosticismo. Em 367, Atanásio apresenta uma lista dos
livros canônicos do Novo Testamento, incluindo todos os vinte
e sete livros, e apenas estes. Finalmente, em 397, no Concilio de
Cartago, a igreja reconheceu oficialmente todos os vinte e sete
livros, e somente estes, como canônicos. Essa decisão foi ratifi­
cada pelo Concilio de Hipona, em 419.
2) Origem Apostólica
Pelo lado humano, a origem apostólica foi, quase certa­
mente, o critério mais importante considerado pela igreja para
24 Tais como os de Justino Mártir (165). Irineu (170), Clemente de Alexandria e
Tertuliano de Cartago (200).
CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITURAS 55
o reconhecimento da canonicidade do Novo Testamento. Assim
como os profetas (no sentido lato) do Antigo Testamento eram a
voz autorizada de Deus para o povo - e de algum modo, todos
os livros do AT têm origem profética - assim também a origem
apostólica autenticava um livro como autoritativo, e consequente­
mente, como canônico. Os apóstolos eram as testemunhas autori­
zadas, escolhidas por Jesus, para o estabelecimento da igreja que
surgia. Para os pais da igreja, esse foi o critério mais importante.
Fosse possível provar que um determinado livro era de origem
apostólica, isso seria suficiente para ser reconhecido como canô­
nico. Por outro lado, havendo dúvida quanto à origem apostólica,
fatalmente haveria relutância - como realmente houve - para a
aceitação da canonicidade de um livro.
O fato é que todos os livros aceitos como canônicos eram de
autoria apostólica, ou tidos como de origem apostólica. Marcos
está ligado a Pedro (foi até chamado de Evangelho de Pedro),
Lucas e Atos provinham da autoridade de Paulo; e Hebreus era
também considerado de Paulo; Tiago e Judas, dos apóstolos que
tinham esse nome.
3) O Conteúdo dos Livros
O conteúdo dos livros também foi um critério importante
para o reconhecimento da canonicidade dos livros do NT. Livro
algum, em desacordo com o padrão doutrinário e moral, ensi­
nado por Jesus e os apóstolos, seria recebido como autoritativo.
Foi assim que vários escritos heréticos foram repudiados pela
igreja. Foi com base nessa regra, também, que muitos livros
apócrifos foram rejeitados, visto que se encontravam em franco
desacordo com o caráter, simplicidade, doutrina e ética dos livros
canônicos.
4) As Evidências Internas do NT
Embora os critérios acima tenham sido decisivos, as evidên­
cias internas do próprio NT, quanto à inspiração e autoridade de
alguns desses livros, revestem-se de especial importância. E claro
56 SOIA SCRIPTURA
que nâo se deve esperar encontrar uma lista completa do cânon
do Novo Testamento dentro do próprio Novo Testamento. Nào
é assim que Deus age. O lado humano da revelação (o instru­
mento) nào é anulado pelo divino. Isso nào ocorre com relação à
inspiração (as Escrituras não são “pneumagrafadas”), com rela­
ção à preservação (as Escrituras nào são “pneumapreservadas”),
e também não acontece com relação ao cânon (as Escrituras nào
são “pneumacanonizadas”). O elemento fé permeia toda a Bíblia,
e “fé é a convicção de fatos que se não veem” (Hb 11:1).
Isto, entretanto, não significa, de modo algum, que os
autores dos livros do Novo Testamento e seus primeiros leitores
não tivessem consciência da inspiração desses livros. Algumas
pessoas assim afirmam, dizendo que os livros do NT foram
inicialmente escritos e recebidos como livros comuns, sem
pretensão de inspiração ou canonicidade, por parte dos seus auto­
res e leitores. Contudo, tal afirmação não corresponde aos fatos.
Há, no próprio Novo Testamento, evidências claras da inspiração,
autoridade e consequente canonicidade desses livros. O apóstolo
Paulo nào escreve como alguém que aconselha, exorta ou ensina
de si mesmo, mas com autoridade divina, extraordinária. De onde
provém a autoridade de Paulo, ao exortar os Gálatas: “Ainda
que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho
que vá além do que vos tenho pregado, seja anátema”? (1:8).
Ele explica logo a seguir, quando afirma: “O evangelho por mim
anunciado nào é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem
o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus
Cristo” (G1 1:11,12).
Que os livros do Novo Testamento nào tinham caráter mera­
mente circunstancial, específico e momentâneo é evidente nas
exortações no sentido de que fossem lidos publicamente (o que
só se fazia com as Escrituras), e em outras igrejas (1 Ts 5:27; Cl
4:16). Paulo afirma que os tessalonicenses receberam as suas pala­
vras como palavra de Deus; e ele confirma que realmente são:
Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus:
é que, tendo vós recebido a palav ra que de nós ouvistes, que é de Deus,
CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITUR AS 57
acolhestes não como palavra de homem, e sim, como, em verdade é, a
palavra de Deus. a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós,
os que credes (1 Ts 2:13).
O apóstolo Pedro também coloca os escritos de Paulo em pé
de igualdade com as Escrituras, reconhecendo autoridade igual à
do Antigo Testamento:
E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente
o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe
foi dada. ao talar acerca destes assuntos, como de fato costuma fazer
em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de enten­
der, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as
demais Escrituras, para a própria destruição deles (2 Pe 3:15-16).
Em 1 Timóteo 5:18, o texto de Lucas 10:7 é chamado de
Escritura, juntamente com Deuteronômio 25:4: “Pois a Escritura
declara: Não amordaces o boi, quando pisa o grão (Dt 25:4). E
ainda: O trabalhador é digno do seu salário” (Ec 10:7).
Os Livros Disputados
Como já mencionado, alguns pais da igreja tiveram dúvi­
das quanto à canonicidade de alguns livros do NT. Enquanto a
maioria dos livros praticamente nunca teve a sua canonicidade
disputada pela igreja, outros sofreram alguma resistência, embora
parcial, para serem aceitos como canônicos. Os principais foram:
Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.
Não é difícil compreender as razões dessa relutância, pois
cada um desses livros apresenta uma ou outra característica que,
de certo modo, justificava o zelo por parte da igreja em averi­
guar mais cuidadosamente a canonicidade deles. Afinal, existiam
outros livros cristãos, de conteúdo fiel e ortodoxo, que poderíam
ser confundidos, se não houvesse zelo por parte da igreja; a
exemplo do que ocorreu com os apócrifos do Antigo Testamento,
pela Igreja Católica.
Não é muito difícil compreender os motivos que levaram
os referidos livros a terem a sua canonicidade disputada. No easo
58 SOLA SCRIPTURA
de Hebreus, o problema estava na autoria e estilo. A tradição dizia
ser de Paulo, mas não há o nome do autor, como é costume de
Paulo. O estilo também não é exatamente o mesmo, embora haja
muita semelhança. Com relação a Tiago, a aparente discrepân­
cia doutrinária com as demais cartas e a possibilidade de haver
sido escrita por outro Tiago certamente dificultaram o reconheci­
mento da sua canonicidade. A segunda carta de Pedro, além de,
por razões desconhecidas, provavelmente haver tido circulação
limitada, apresenta alguma diferença de vocabulário e estilo, o
que, segundo Jerônimo, foi a causa de alguns pais duvidarem da
genuinidade da epístola.25Quanto a Judas e 2 e 3 João, o próprio
tamanho, importância relativamente menor, e a natureza mais
pessoal das duas últimas, certamente dificultaram a circulação e
o reconhecimento delas no cânon —no caso de Judas, a questão
da origem apostólica também pesou. Já o livro de Apocalipse,
o qual teve aceitação generalizada no segundo século, teve sua
canonicidade posteriormente disputada, provavelmente pela
dúvida lançada por Dionísio de Alexandria, seguido por Eusébio
de Cesaréia, quanto à origem apostólica do livro, devido ao que
consideravam diferenças de estilo entre ele e o Evangelho de
João - o que o levou a atribuir o livro a algum outro João.
E claro que essas dificuldades são todas aparentes. Estilo
não pode ser determinante para a identificação de autoria, pois
a natureza do assunto pode acarretar mudança de estilo. Além
disso, era comum o uso de amanuenses (copistas particulares).
Tamanho também não pode ser considerado critério de avaliação:
assuntos relativamente menos importantes tornam-se importan­
tíssimos em determinadas circunstâncias - a história da Igreja
tem comprovado isso. Quantas vezes as cartas de Judas e 2 e 3
João têm sido de valor inestimável para pessoas e igrejas espe­
cíficas! A “discrepância” doutrinária de Tiago tem sido suficien­
temente explicada; é apenas aparente: Paulo enfatiza a salvação
M. C. Tenney, Nuestm Nnevo Testamento: Una Perspectiva Historico
Analítica (Chicago: Editoral Moody. 1973), 477.
CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITURAS 59
pela graça mediante a té, enquanto Tiago ressalta a evidência da
mesma salvação pela graça por meio de obras de té. A relutância
por parte de alguns, no terceiro ou quarto séculos, em reconhe­
cer a canonicidade desses livros não deve, de modo algum, ser
encarada como necessariamente depreciativa. Pelo contrário, por
mais que tenham sido submetidos a teste, até mesmo pelos refor­
madores, esses livros foram aprovados pela história, e encontra­
ram lugar seguro e imbatível no cânon do Novo Testamento.
Conclusão
Sejam quais forem os critérios que mais influenciaram os
pais da igreja no reconhecimento dos livros do Novo Testamento,
e apesar da relutância de alguns em aceitar todos os vinte e sete
livros, e não obstante o grande número de livros apócrifos que
surgiram nos primeiros séculos, o verdadeiro cânon teria que
prevalecer. E prevaleceu. Inspirados que eram, tinham poder espi­
ritual inerente. E esse poder manifestou-se de tal modo que todos
os ramos do Cristianismo alcançaram unanimidade espantosa, de
modo que desde pelo menos Atanásio, o primeiro a apresentar uma
lista completa do cânon do NT, até os nossos dias, não tem havido
nenhuma objeção realmente séria, nos três principais ramos do
Cristianismo, quanto à canonicidade do Novo Testamento.
Como bem observa Bavinck:
Em Cristo, a revelação de Deus foi completada. Do mesmo modo, a
mensagem da salvação está contida completamente na Escritura. Ela
constitui uma unidade... Ela termina onde começa... Ela começa com
a criação dos céus e da terra e termina com a recriação dos céus e da
terra.
26 Bavinck, Reformed Dogmaíics, 491.
CAPÍTULO 4
INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se
agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, todos dados por inspira­
ção de Deus para serem a regra de fé e prática, que são os seguintes: Gênesis...
Apocalipse.
Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina,
não fazem parte do Canon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na
Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados
senão como escritos humanos (parágrafos II e III).
Além de identificar o eânon, esses parágrafos da Confissão
de Fé de Westminster professam também a doutrina da inspiração
das Escrituras. Trata-se de uma das doutrinas fundamentais da fé
cristã; “um artigo de fé da una e santa Igreja Cristã universal... A
inspiração é um dogma, como o dogma da Trindade, da encar­
nação, etc... uma confissão de fé”.12Uma doutrina tão importante
que pode ser considerada a base de todas as demais. Colocá-la
em dúvida significa duvidar da autoria divina das Escrituras.
E, ao se fazer isso, a Bíblia é equiparada aos demais livros de
autoria meramente humana. Colocar em dúvida a inspiração de
qualquer texto bíblico é lançar fora a Bíblia toda, é abdicar da
sua autoridade e inerrância, é rejeitá-la como regra infalível de
fé e prática.
1 Ler 2 Timóteo 3 :16 e 2 Pedro 1:20-21.
2 Bavinck, ReformedDogmotics, 435. 436.
62
SOIA SCRIPTURA
É verdade que, nos últimos dois séculos, os ventos da alta
crítica, do racionalismo e do liberalismo têm soprado violenta­
mente contra essa coluna da fé cristã, com o intuito deliberado
de demoli-la. É verdade que em boa parte - talvez até na maioria
- dos seminários teológicos da Europa e dos Estados Unidos essa
viga mestra da verdade evangélica já foi derrubada. A situação
atual das igrejas protestantes nesses países ilustra as implicações
dessa postura com relação à doutrina da inspiração da Bíblia.
A batalha contra a Bíblia, ressalta Bavinck, não é apenas
de natuieza intelectual ou acadêmica, “é, em primeiro lugar, a
revelação da hostilidade do coração humano... crer é pelejar".’
Por outro lado, basta uma leitura superficial da história dessa
doutrina para se constatar que, desde o início, e no decorrer dos
séculos, a igreja se manteve firme na convicção de que a Bíblia
é a Palavra de Deus inspirada e, portanto, infalível".34 Era assim
que os judeus consideravam a Lei, os Profetas e os Escritos; era
desse modo que o próprio Senhor Jesus via as Escrituras. Era
essa a doutrina dos apóstolos. Reverência semelhante demons­
tram abundantemente os pais da igreja em seus escritos.5 Essa
foi também, sem dúvida, a posição dos reformadores, cujos dois
grandes princípios doutrinários foram a justificação pela graça
mediante a íé e a suprema autoridade das Escrituras.6.É essa
também a doutrina esposada pelos puritanos e pelas confissões de
fé protestantes ortodoxas. Ao sustentarmos a doutrina da inspira­
ção verbal das Escrituras, podemos ter a segurança de estar em
excelente companhia.
3 Bavinck. Reformei/ Dogmaties. 440,441.
Luis Berkhot, Intnxhtcion a Ia Teologia Sistemática (Cirand Rapids: E an­
gelical Literature League, [1973]). 159.
Tais como Cleniente de Roma. Inácio de Antioquia, Policarpo, Irineu. Justino
o Mártir. Clemente de Alexandria. Tertuliano. Hipólito. Agostinho e muitos outros. Ver
Bavinck. Refonned Dogmaties, 402-05.
6 Ibid.. 414-15.
CAPITULO 4: INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS 63
DEFINIÇÃO DA DOUTRINA
O que queremos dizer quando nos referimos à inspiração
das Escrituras? - Que as Escrituras são de origem divina; que,
embora a Bíblia tenha sido escrita por cerca de quarenta pessoas,
essas pessoas a escreveram movidas e dirigidas pelo Espírito
Santo, de tal modo que tudo o que foi registrado por elas nas
Escrituras constitui-se em revelação autoritativa de Deus. Não
somente as idéias gerais ou fatos revelados foram registrados,
mas as próprias palavras empregadas foram escolhidas pelo
Espírito Santo, pela livre instrumentalidade dos escritores. “O
que os teólogos [de Westminster] queriam dizer com inspiração”,
resume Derek Thomas, “é que homens escreveram precisamente
o que Deus queria”.78Desse modo, a Bíblia se distingue de todos
os demais escritos humanos, pois cada palavra sua é a própria
Palavra de Deus; e, portanto, infalível e inerrante. A definição de
Warfield abaixo é representativa da doutrina reformada:
Inspiração é aquela influência extraordinária e sobrenatural (ou. passi­
vamente, o seu resultado) exercida pelo Espírito Santo sobre os autores
dos livros Sagrados, pela qual as palavras deles são também as palavras
de Deus, e, portanto, perfeitamente infalíveis?
Convém observar que a inspiração distingue-se da revela­
ção especialmente quanto ao propósito: enquanto o propósito da
revelação é comunicar as verdades que aprouve a Deus trans­
mitir, o propósito da inspiração é assegurar a infalibilidade do
registro daquilo que foi revelado.
EVIDÊNCIAS INDIRETAS DA INSPIRAÇÃO
Sua Extraordinária Unidade
A singularidade da unidade das Escrituras é incontestável,
especialmente quando se considera a sua diversidade. São nada
7 Thomas. A isào Puritana das Escrituras, 15.
8 B. B. Warfield, The Works of Benjamin B. Waifield, vol 1. Revelador and
Inspiration (Dallas: Ages, 2003), 256.
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Sola Scriptura - Paulo Anglada

  • 1. SOLA SCRIPTURA A Doutrina Reformada das Escrituras P A U L O A N G L A D A iK N O X
  • 2.
  • 3. SOLA SCRIPTURA A Doutrina Reformada das Escrituras II Edição Atualizada PAULO ANGLADA
  • 4. A589s Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras de Paulo Roberto Batista Anglada C 2013 Knox Publicações. Todos os direitos reservados. Iaedição (1998): Editora Os Puritanos 2- edição (2013): Knox Publicações Revisão Anna Layse Davis Layse Anglada Editoração e Capa Paulus Anglada Anglada. Paulo Roberto Batista Sola Scriptura - A Doutrina Reformada das Escrituras / Paulo Roberto Batista Anglada-Ananindeua: Knox Publicações, 2013. 240p.; 14x21xlcm. ISBN: 978-85-61184-08-7 I. Teologia Sistemática. 2. Bibliologia. 3. Escrituras Sagradas. CDD 21ed. 220 KNOX PUBLICAÇÕES Estrada do Caixa Pará, 49 - Levilândia CEP: 67015-520 / Ananindeua - PA Fone: (II) 3042-9930 contato@knoxpublicacoes.com.br w w w. knox pub1icacoe s.co m .br
  • 5. A minlia querida esposa, Layse, filhos, Karis <£•Lucas, Paulus &Lídia e Anua Layse &Ma/lorv, e netos, Jonathan, Jim, Maggie, Annie, Emma, Lidi, ElIa e Calvin
  • 6.
  • 7. PREFÁCIO Talvez a Igreja de Cristo esteja atravessando um dos seus mais difíceis períodos da história, no que diz respeito à acolhida do seu padrão de fé e prática: As Sagradas Escrituras. No seio do que se conhece como igreja evangélica, fruto da Reforma do Século XVI. nunca se citou tanto a Bíblia como atualmente; nunca se falou tanto da Bíblia quanto se fala hoje; nunca se divulgou tanto a Bíblia como nos dias atuais. Paradoxalmente, nas igre­ jas filhas da Reforma, nunca se desrespeitou tanto a Palavra de Deus como atualmente; nunca ela foi colocada meramente como fonte secundária de informação como quanto é colocada hoje em dia; nunca ela teve porções inteiras consideradas desatualizadas, ou pertinentes apenas aos leitores originais, como atualmente; nunca ela foi alvo de tanto questionamento, quanto aos autores dos livros e aos períodos nos quais foi escrita, quanto nos dias de hoje. Essas são situações encontradas não no segmento liberal/ racionalista, mas dentro da própria Igreja Evangélica, das deno­ minações que se auto-intitulam conservadoras na fé e prática e que se propõem a ser as mais fervorosas e cheias do Espírito Santo de Deus. E nesse sentido que Sola Scripíura-A Doutrina Reformada das Escrituras vem atender uma necessidade de reafirmação dos princípios e ensinamentos fundamentais ao desenvolvimento de uma igreja sadia em doutrina e que honre, realmente, o nome de Cristo. O Rev. Paulo Anglada vai às próprias Escrituras como sua
  • 8. 8 soia scRirn m fonte principal, e à história, com o seu testemunho incontestável. Delas extrai a relevância e suficiência da Palavra de Deus, relem­ brando essa questão à igreja dos nossos dias. Em nosso esque­ cimento dessa doutrina, vemos a igreja se afundando em um evangelho humanista, diluído, horizontalizado e que contribui para confundir a mensagem cristalina do evangelho, que deveria estar sendo proclamada. Sabemos que as seitas apresentam uma multiplicidade de padrões, nos quais se fundamentam. Livros e escritos paralelos são apresentados como se a sua autoridade fosse equivalente ou até acima da Bíblia. A cena comum é a apresentação de novas revelações, geralmente de caráter escatológico e de característi­ cas fluidas, contraditórias e totalmente duvidosas. Aqui, a sufici­ ência das Escrituras é uma doutrina desprezada. No meio eclesiástico liberal, já nos acostumamos a iden­ tificar o ataque constante à veracidade das Escrituras. Vamos com mais de dois séculos de contestação sistemática à Palavra de Deus, como se a fé cristã verdadeira fosse capaz de subsistir sem o seu alicerce principal. Nesse campo, que forneceu bastante munição ao inimigo e que alimentou as bases do pensamento intelectual não-cristão sobre a Bíblia, a suficiência das Escrituras é também uma doutrina desprezada. E também sabido que no campo evangélico neopentecos- tal e. às vezes, até no campo tradicional pentecostal, temos uma situação problemática no que diz respeito à relevância da Palavra de Deus. Ela é frequentemente superada pelas supostas “novas revelações” que passam a ser determinantes das doutrinas e do caminhar do Povo de Deus. Aqui, também, a doutrina da sufici­ ência das Escrituras é, na prática, desprezada. Mas partem exatamente de dentro do campo evangélico as perturbações e os últimos ataques à Bíblia como regra iner- rante de fé e prática. Em anos recentes, muitos ditos intelectuais e eruditos têm questionado a doutrina que coloca a Bíblia como um livro inspirado, livre de erro. Por exemplo: um famoso semi-
  • 9. PREFACIO 9 nário teológico norte-americano foi fundado em 1947, no campo conservador, sobre princípios corretos. Sua “Declaração de Fé1' original especificava: “Os livros do VT e NT..., nos originais, são inspirados plenariamente e livres de erro, no todo e em suas partes...”. Entretanto, em 1968, um dos seus líderes começou a questionar a inerrância da Bíblia, fazendo distinção entre trechos “revelativos” e trechos “não revelativos” das Escrituras. Ele foi seguido, nesta posição, pelo próximo presidente, e por vários outros professores, todos considerados evangélicos, resultando no enfraquecimento geral do posicionamento de vários profes­ sores daquele seminário sobre a integridade das Escrituras.1 Logicamente, não há critério coerente ou autoritativo para esta­ belecimento desta distinção entre o que seria “não revelativo” nas Escrituras - pontos abertos ao questionamento mais amplo - e as porções “revelativas” - essas, sim, de validade espiritual. Esse pensamento, que se faz presente não só naquele exemplo, mas em tantos outros segmentos da igreja, subtrai da Igreja o seu padrão, derruba um dos pilares da Reforma e retroage a Igreja à uma condição medieval de dependência dos especialistas que nos dirão quais as partes que devemos crer realmente e quais as que podemos descartar como mera invenção humana. E nesse contexto que se faz presente a necessidade de relembrarmos os pilares da nossa fé reformada, como o faz o Rev. Paulo Anglada. Não há inovação na mensagem deste livro, mas uma extrema necessidade de que o brado de Sola Scripíura seja reavivado ao longo da história da igreja. E essa história que mostra Deus derra­ mando grandes bênçãos sempre que os fiéis desprenderam-se de suas tradições e ensinamentos humanos e se voltaram para a palavra escrita inspirada por Deus. Desde os tempos de Josué (1:7.8) que Deus admoesta os seus a que se prendam aos regis­ tros inspirados. Ali lemos:1 1 Harold Lindsell, The Battle for lhe fíihle (G. Rapids: Zondervan. 1976). 106-21. Este livro traz um excelente tratamento sobre a diluição do conceito da sufici­ ência e integridade das Escrituras, no seio dos evangélicos norte-americanos.
  • 10. 10 SOIA SCRIPTURA “Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, cuidando de fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; não te desvies dela, nem para a direita nem para a esquerda, a fim de que sejas bem sucedido por onde quer que andares. Não se aparte da tua boca o livro desta lei. antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido”. A Reforma do Século XVI fez exatamente isso e. na sobe­ rana providência de Deus, nela temos um grande reavivamento gerado pela descoberta das Escrituras, e pelo seguimento de seus ensinamentos e verdades práticas. E, na realidade, um erro achar­ mos que a Reforma marea a aparição de várias doutrinas nunca dantes formuladas. A Palavra de Deus, cujas doutrinas estavam soterradas sob o entulho da tradição, é que foi resgatada. Já disse­ mos que uma característica comum das seitas é a apresentação de supostas verdades que nunca haviam sido compreendidas, até a aparição ou revelação destas a algum líder. Estas “verdades” passam a ser determinantes da interpretação das demais e ponto central dos ensinamentos empreendidos. A Reforma coloca-se em completa oposição a esta característica. Nenhum dos reformado­ res declarou ter “descoberto” qualquer verdade oculta. Eles tão somente apresentavam, em toda singeleza, os ensinamentos das Escrituras. Seus comentários e controvérsias versaram sempre sobre a clara exposição da Palavra de Deus. Martin Lloyd-Jones nos indica “que a maior lição que a Reforma Protestante tem a nos ensinar éjustamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é olhar para trás”.2 Lutero e Calvino, diz ele, “foram descobrindo que estiveram redeseobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinham esquecido”. Na ocasião da Reforma, a tradição da igrejajá havia se incor­ porado aos padrões determinantes de comportamento e doutrina D. Martin Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma (São Paulo: PIS. I0%), N.
  • 11. PREFACIO 11 e, na realidade, já havia superado as prescrições das Escrituras. A Bíblia era conservada longe e afastada da compreensão dos devotos. Era considerada um livro só para os entendidos, obscuro e até perigoso para a massa. Os reformadores redescobriram e levantaram bem alto o único padrão de fé e prática: a Palavra de Deus, e por este padrão, aferiram tanto as autoridades como as práticas religiosas em vigor. A um mundo que está sem padrão e à própria igreja evan­ gélica, que está voltando a enterrar o seu padrão em meio a um entulho místico pseudo-espiritual, a mensagem da Reforma continua necessária. Esse livro traz o brado de Sola Scriptura, com veemência e clareza, como antídoto ao veneno contempo­ râneo do subjetivismo e existencialismo do homem sem Deus, que teima em se infiltrar nos ensinamentos da Igreja Cristã. Pode parecer estranho, entretanto, que sendo ele dedicado à exaltação da importância e suficiência das Escrituras, o livro utilize como ponto de partida e de fechamento, credos e confissões históricas. Não seriam, esses, documentos que desviam os nossos olhos das Escrituras? A resposta é um sólido NÃO! A própria Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo 1°, apresentando a mensagem inequívoca da Reforma do Século XVI, cada vez mais válida aos nossos dias, descreve a Bíblia como sendo a única regra infa­ lível de fé e de prática". Essa é a mensagem deste livro, ao qual damos a nossa mais entusiástica acolhida. Solano Portela, 1998.
  • 12.
  • 13. CONTEÚDO PREFÁCIO 7 INTRODUÇÃO 17 Assunto do Livro 18 Apresentação do Assunto 18 Importância de uma Sà Bibliologia 19 CAPÍTULO 1: SÍMBOLOS DE FÉ 21 Inevitabilidade dos Símbolos de Fé 22 Propósitos dos Símbolos de Fé 23 Bases Bíblicas para os Símbolos de Fé 27 Autoridade dos Símbolos de Fé 29 CAPÍTULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇÃO 31 Divisão do Assunto 32 Revelação Natural 32 Louca Cegueira Humana 34 Insuficiência da Revelação Natural 35 Revelação Especial 36 Revelação Escrita 37 Necessidade das Escrituras 38 CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITURAS 41 O Canon Protestante do Antigo Testamento 42 O Canon Católico-Romano do Antigo Testamento 46 O Canon do Novo Testamento 50
  • 14. 14 SOLA SCRIPTURA CAPÍTULO 4: INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS Definição da Doutrina Evidências Indiretas da Inspiração Evidências Diretas da Inspiração Natureza da Inspiração Extensão da Inspiração Conclusão CAPÍTULO 5: AUTORIDADE DAS ESCRITURAS Definição Evidências Bíblicas Natureza da Autoridade das Escrituras Testemunho da Igreja Testemunho do Espírito sobre aAutoridade das Escrituras Conclusão CAPÍTULO 6: SUEICIÊNCIA DAS ESCRITURAS Regra Completa de Fé e Prática Implicação Lógica Iluminação do Espírito Princípios, Ensinos Gerais e Exemplos 1 Conclusão 1 CAPÍTULO 7: CLAREZA DAS ESCRITURAS 1 Nem Tudo ê Igualmente Claro ou Evidente 1 O Essencial é Claro pela Iluminação do Espírito I Conclusão 1 CAPÍTULO 8: PRESERVAÇÃO DAS ESCRITURAS 1 Definição da Doutrina I Evidências Bíblicas da Doutrina 1 Relação com a Crítica Textual do NT 1 Evidências da Preservação do NT na História e Qualidade do Texto I Natureza e Extensão da Preservação 1 61 63 63 66 68 71 73 75 76 76 78 85 86 87 91 92 94 98 00 02 03 04 06 1I 13 14 14 16 19 24
  • 15. CONTEÚDO 15 CAPÍTULO 9: TRADUÇÃO DAS ESCRITURAS 127 Razões para a Tradução das Escrituras 128 Evidências Históricas 130 Traduções Reformadas e Modernas das Escrituras 135 Princípios Saudáveis para a Tradução das Escrituras 140 CAPÍTULO 10: INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS 147 Necessidade de Interpretação das Escrituras 150 Correntes de Interpretação das Escrituras 153 O Método Gramático-Histórico 158 CAPÍTULO 11: AUTORIDADE SUPREMA DAS ESCRITURAS 173 Tendência Geral 173 Aspectos Importantes da Doutrina 174 Conclusão 177 CAPÍTULO 12: OBJEÇÕES E RESPOSTAS 179 Erros de Transmissão 180 Erros Científicos 180 Erros Históricos 182 Contradições Internas 183 Outras Objeções 185 Conclusão 186 CAPÍTULO 13: RESUMO E APLICAÇÕES 187 Da Doutrina da Revelação 187 Do Canon das Escrituras 187 Da Inspiração das Escrituras 188 Da Autoridade das Escrituras 188 Da Suficiência das Escrituras 189 Da Clareza das Escrituras 189 Da Preservação das Escrituras 190 Da Tradução das Escrituras 190 Da Interpretação das Escrituras 181
  • 16. 16 SOIA St RiriUKA CAPÍTULO 14: PRATICANTES DA PALAVRA PU Introdução PU O Sentido Bíblico de Obras 144 Acolhendo a Palavra 145 Praticando a Palavra 146 A Religião da Palavra 144 Conclusão 201 APÊNDICE 1: PRINCIPAIS SÍMBOLOS DE FÉ 203 Credos Antigos 204 Confissões e Catecismos Luteranos 20S Símbolos de Fé Calvinistas 204 Outras Confissões de Fe Protestantes 216 A Primeira Confissão de Fé do Novo Mundo 21X APÊNDICE 2: A CONFISSÃO DA GUANABARA 214 BIBLIOGRAFIA 227
  • 17. INTRODUÇÃO Na sua segunda carta a Timóteo, o apóstolo Paulo o alerta, dizendo: “Sabe, porém, isto: nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis” (3:1). Uma das características marcantes desses dias, esclarece o apóstolo no início do capítulo seguinte, seria a aver­ são à verdade e a afeição ao erro: Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus que há dejulgar vivos e mortos...: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina: pelo contrário, cercar-se-ào de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvi­ dos; e se recusarão a dar ouvidos a verdade, entregando-se ás fábulas (4:1-4). Parece que as igrejas evangélicas no Brasil estão vivendo dias assim: difíceis. Tão difíceis que se pode questionar se o termo evangélico ainda tem algum sentido; se ele ainda se presta para identificar uma corrente teológica distinta na Igreja Cristã. Quando consideramos a diversidade doutrinária, litúrgica e prática que, em geral, caracteriza o evangelicalismo brasileiro, não é descabido questionar se alguma denominação evangélica no Brasil ainda pode, como instituição, ser considerada herdeira legítima da doutrina, culto e práticas reformadas. Pode haver muitas razões para essa situação. Entretanto, sem dúvida, o relaxamento para com a autoridade e suficiência das Escrituras é uma delas. Na prática, as igrejas evangélicas,
  • 18. 18 SOLA SCRIPTURA em geral, não têm professado uma teologia precisa, sistemática, confessional e histórica. Mesmo denominações mais tradicionais parecem estar se distanciando progressivamente das doutrinas, culto e práticas reformadas pelas quais muitos, no passado, chegaram a sacrificar a própria vida. ASSUNTO DO LIVRO O título deste livro, Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras, indica o seu escopo: trata-se de uma exposição da doutrina protestante histórica sobre as Escrituras Sagradas. E um estudo teológico confessional do primeiro capítulo da Confissão de Fé de Westminster.1 Estes estudos foram originalmente proferidos na Igreja Presbiteriana Central do Pará. no primeiro semestre de 1995, com o propósito de resgatar as doutrinas reformadas relacionadas às Escrituras, expondo-as de modo acessível à igreja. Sua base é a Confissão de Fé de Westminster, contudo, outros símbolos de fé e obras representativas da teologia reformada foram pesquisados e são frequentemente citados. Não se trata de um trabalho acadêmico, escrito para eruditos, nem demasiadamente superficial, que não contribua para a amplia­ ção do horizonte intelectual dos leitores. Trata-se de uma obra para crentes desejosos de conhecer melhor o fundamento da sua fé, e de alcançar uma compreensão teológica mais sistemática e profunda da doutrina protestante histórica acerca das Escrituras. APRESENTAÇÃO DO ASSUNTO O primeiro capítulo desta obra é introdutório. Trata da natureza dos símbolos de fé, lidando com questões tais como: necessidade, propósitos, bases bíblicas e autoridade dos símbo­ los confessionais.1 1 "Confissão dc Fé do Westminster”. em Símbolos de Fé: Contendo a Confissão de Fé, Cateeismo Maior, Breve Catecismo (São Paulo: Cultura Cristã. 1991), 17-105.
  • 19. INTRODUÇÃO 19 Os dez capítulos seguintes (2-11) constituem o corpo prin­ cipal do livro. Neles são abordados assuntos importantes rela­ cionados à doutrina das Escrituras: a doutrina da revelação, da inspiração, da autoridade, da suficiência, da clareza e da preser­ vação das Escrituras. Nesses capítulos também são discutidas questões igualmente relevantes, tais como o cânon, a tradução e a interpretação da Bíblia. No capítulo doze são consideradas as principais objeções levantadas contra a doutrina reformada das Escrituras: alegações de existência de erros de transcrição, científicos, históricos e contradições internas supostamente encontradas na Bíblia. O penúltimo capítulo resume os assuntos estudados e extrai deles algumas aplicações de ordem prática. E o último capítulo é uma exortação à prática da Palavra de Deus, baseada em Tiago 1:21-27. O Apêndice 1é um resumo da história e conteúdo dos prin­ cipais símbolos de fé: credos antigos, confissões e catecismos luteranos e calvinistas, e outras confissões de fé protestantes. No Apêndice 2, encontra-se o texto da Confissão de Fé dos Mártires da Guanabara - a primeira confissão de fé escrita nas Américas. IMPORTÂNCIA DE UMA SÃ BIBLIOLOGIA Conforme ressalta Bickel: O Cristianismo fundamenta-se na revelação... Nosso conhecimento de Deus abrange aquilo que lhe aprouve revelar-nos a respeito da sua Pessoa... Consequentemente, a questão básica que determina o nosso relacionamento com Deus é a submissão, seja à sua revelação ou à nossa imaginação.2 A conhecida reforma religiosa empreendida nos dias do Rei Josias, descrita nos capítulos vinte e dois e vinte e três de Segundo Reis, ilustra de modo vivido a importância das Escrituras na 2 Bruce Bickel. "Prefácio”, em Sola Scriptura: ,uma Época sem Fundamentos, o Resgate do Alicerce Bíblico, ed. Don Kistler (São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2000). 9.
  • 20. 20 SOI A S( RH'H IRA restauração da verdadeira te. Tudo começou com a redeseoherla do Livro da Lei - esquecido no templo - pelo sumo sacerdote Hilquias (22:3-10); com a sua interpretação e anúncio fiel, pela profetiza Llulda (22:13-20); e com o quebrantamento e disposição de Josias em submeter-se seriamente aos seus ensinos (22:2). A reforma religiosa do século XVI não foi diferente. A profunda reforma teológica, eclesiástica e prática que deu origem às igrejas protestantes foi precedida pela redescoberta da Palavra de Deus, por uma reforma hermenêutica, e pela pregação fiel das verdades nela encontradas. Contudo, uma igreja reformada precisa estar continuamente em processo de reforma. Não pela conformação com este século, através da incorporação das últimas novidades que o mundo oferece, mas pela conformação contínua à Palavra, levando cativas as nossas mentes, fé e práticas eclesiásticas e pessoais à obediência de Cristo. Que Deus nos faça compreender a urgência dessa necessi­ dade. Queira Ele promover uma verdadeira reforma religiosa em nosso país. Que Ele levante alguns Hilquias, Huldas e Josias para redescobrirem, interpretarem fielmente, proclamarem e obede­ cerem a Palavra de Deus. Que o Soberano Deus suscite novos Husses, Zwinglios, Luteros, Calvinos e Knoxes para reforma­ rem nossas doutrinas, nosso culto e nossas práticas eclesiásticas, conduzindo-nos de volta à sua Santa Palavra. Essa é a única esperança para o caos doutrinário, litúrgico e eclesiástico que caracteriza o evangelicalismo brasileiro.
  • 21. CAPÍTULO 1 SÍMBOLOS DE FÉ Em virtude da natureza confessional deste livro e da aparente aversão de considerável parte do evangelicalismo brasileiro aos símbolos de fé, convém inieiá-lo com alguns esclarecimentos relacionados à necessidade, propósitos, base bíblica e autoridade dos símbolos de fé. Símbolos de fé são resumos sistemáticos (ou didáticos) das verdades fundamentais do Cristianismo. São declarações formais autorizadas da fé cristã. Há quatro tipos principais de símbolos de fé: credos, confissões de fé, catecismos e cânones. Os credos1são declarações de fé resumidas. Os mais conhe­ cidos foram produzidos pela igreja antiga, antes da divisão da Igreja Cristã nos seus dois principais ramos: ocidental e orien­ tal. Exemplos: Credo Apostólico, Credo Niceno e Credo de Atanásio. As confissões12distinguem-se dos credos em extensão, por serem mais detalhadas, e quanto à época em que foram escri­ 1 Do latim credo, “creio em". 2 O termo grego correspondente, ógoXoyía, e o verbo correlato, ógoXoyéw, são frequentemente empregados no NT. Ver 1 Timóteo 6:12.13; Hebreus 3:1; 4:14; 10:23 (substantivo); Mateus 10:32; João 1:20; 9:22; Romanos 10:9.10; Hebreus 13:15; 1 João 2:23; 4:2.3; 2 João 7 e Apocalipse 3:5 (verbo).
  • 22. SOIA SCRIPTURA11 tas: em geral, sào produto da Reforma ou de igrejas herdei­ ras da Reforma. Exemplos: Antiga Confissão de Fé Escocesa, Confissão de Fé Belga e Confissão de Fé de Westminster. Um credo ou confissão de fé pode ser pessoal. Comumente, entretanto, esses termos são empregados para designar credos e confissões que, embora possam ter sido escritos por uma só pessoa, adquiriram representatividade, tendo sido adotados por igrejas, movimentos ou denominações. Catecismos3 também são resumos da fé cristã. São, contudo, estruturados em forma de perguntas e respostas, com um propósito mais didático, a fim de servirem de ferramenta para a instrução da igreja. Eles podem ser maiores ou breves, dependendo do tamanho. Exemplos: Catecismos de Lutero, Catecismo de Heidelberg e os Catecismos de Westminster.4 Cânones são decisões oficiais de concílios que estabele­ cem a posição da igreja ou de um de seus ramos, movimentos ou denominações, quanto a doutrinas específicas. Exemplo: os Cânones de Dort. INEVITABILIDADE DOS SÍMBOLOS DE FÉ Os símbolos de fé são inevitáveis. As Escrituras não foram escritas de modo temático ou sistemático. As verdades divinas foram registradas, não por assunto, mas na proporção em que foram sendo progressivamente reveladas. Elas abordam os mais diversos temas teológicos e práticos no seu contexto histórico e de acordo com as necessidades circunstanciais. 3 I3o grego Kxnrixéo): ensinar, instruir. 4 Uma relação e breves comentários sobre os principais catecismos reformados são encontrados em Douglas F. Kelly, "l he Westminster Shortcr Catechism”, em To Glorifx and Enjoy God: A Commemoration ofthe 350th Anniversary qfthe Westminster Assembly, eds. John L. Carson e David W. 1lall (Edinburgh e Carlisle, PA: The Banner ofTruth Trust, 1994), 105-06.
  • 23. CAPITULO I: SÍMBOLOS DE FE 23 Entretanto, o processo de interpretação e compreensão das Escrituras como um todo naturalmente conduz à sistematização da revelação bíblica. Consciente ou inconscientemente, a mente humana sistematiza essas verdades tematicamente procurando formar um todo consistente. Assim, inevitavelmente, cada pessoa tem um credo e revela-o ao orar, ao anunciar o evangelho e na sua própria vida diária. Revelamos um resumo ordenado da nossa fé objetiva (o nosso credo) sempre que, por exemplo, nos dirigimos a Deus em oração, e o adoramos pela excelência da sua pessoa, atributos e obra; quando confessamos os nossos pecados; ao suplicarmos a sua graça; ao intercedermos por outras pessoas; agradecermos por suas bênçãos materiais e espirituais, especialmente pela obra realizada por Cristo na cruz e pelo seu Espírito em nosso cora­ ção; ou nos consagramos à santidade e ao seu serviço. A questão, portanto, não está na necessidade ou não de credos e confissões de fé, mas na escolha, consciente ou incons­ ciente, entre chegarmos sozinhos ao nosso próprio credo ou considerarmos a que conclusões o corpo de Cristo tem chegado no decurso da história. Nas palavras de Alexander Hodge: A questão real não está, como frequentemente insinuado, entre a Palavra de Deus e o credo humano, mas entre a fé testada e provada pelo corpo coletivo do povo de Deus, e o julgamento pessoal e a sabedoria não assistida daqueles que repudiam os credos.' Devido à natureza progressiva e não sistemática da revelação bíblica e à característica sistemática peculiar da mente humana, a existência dos símbolos de fé é, portanto, inevitável. PROPÓSITOS DOS SÍMBOLOS DE FÉ Além de inevitáveis, os símbolos de fé têm se revelado úteis e necessários, pelo menos aos seguintes propósitos:5 5 A. A. Ilodge. The Confession ofFaith (F.dinburgh e Carlisle, PA: 1'he Banner ofTruth Trust. 1992), 2.
  • 24. 24 SOLA SCRIPTURA Propósito Teológico ou Doutrinário Eles têm servido para registrar os diversos estágios do progresso da igreja como um todo. e dos seus diferentes ramos em particular, quanto à interpretação e compreensão das doutri­ nas bíblicas. A história do Cristianismo demonstra que tanto a revelação como a compreensão das verdades reveladas, por parte da igreja, são progressivas. A Igreja Cristã tem chegado a conclu­ sões doutrinárias paulatinamente, no decurso dos séculos. Nos quatro primeiros séculos, lbram definidas especial­ mente questões teológicas propriamente ditas (sobre a Trindade) e cristológicas (sobre a pessoa de Cristo). Posteriormente, no quinto século, as doutrinas antropológicas do pecado e da graça de Deus foram discutidas (especialmente por Agostinho e Pelágio) e definidas. A soterologia só foi devidamente discernida e definida durante a Reforma Protestante do século XVI. A eclesiologia foi mais debatida nos séculos XVII e XVIII. E assim por diante. Os credos e confissões têm servido, portanto, ao propó­ sito de registrar para a posteridade o progresso da compreensão bíblica e das formulações teológicas no decurso dos séculos. Propósito Apologético Os símbolos de fé também têm sido empregados para distinguir e defender a verdade contra os falsos ensinos e here­ sias. Desde o início, a igreja se viu obrigada a definir e registrar, de modo ordenado, a legítima interpretação da verdade cristã, em oposição aos falsos mestres, os quais, em todas as épocas, insistem em corromper o significado das Escrituras. Não se pode negar a tendência da natureza humana corrompida de corromper a verdade de Deus (Rm 1:18ss). É sabido que toda heresia reivindica base bíblica. Pois bem. os símbolos de fé têm servido para definir, defen­ der e preservar a fé ortodoxa (a sã doutrina) das perversões dos falsos mestres. Na condição de declarações oficiais da fé cristã, os credos, confissões, catecismos e cânones são importantes
  • 25. 25CAPÍTULO 1: SÍMBOLOS DE FÉ instrumentos da igreja - como coluna e baluarte da verdade - contra o erro. Logan observa corretamente que “kos teólogos de Westminster foram convocados para criar um modelo de esta­ bilidade e certeza teológica no contexto de considerável caos político e teológico”.6 Propósito Didático Outro propósito dos símbolos de fé consiste em auxiliar na instrução da igreja. Credos, confissões e especialmente catecis­ mos sempre foram empregados como instrumentos de ensino das verdades bíblicas - principalmente às crianças. Esses símbolos de fé, por representarem o ensino oficial da igreja e o fazerem de forma resumida, organizada e sistemática, são preciosos mate­ riais didáticos para a instrução do povo de Deus. É interessante observar que a pregação baseada exclusi­ vamente em textos esparsos - como acontece com frequência hoje - tem falhado em produzir uma compreensão mais madura, sólida e profunda como a que caracterizou a igreja quando ela lançou mão do ensino sistemático das doutrinas bíblicas. A prática do sermão expositivo sequencial e do ensino sistemático dos símbolos de fé pelas igrejas reformadas e puritanas, sem dúvida, produziu crentes com compreensão mais profunda e abrangente das doutrinas bíblicas. Eles não apenas conheciam verdades isoladas, mas sabiam como relacioná-las umas com as outras e como aplicá-las, nas proporções devidas, às diversas circunstâncias da vida. Propósito Eclesiástico O último - mas não menos importante - propósito dos símbolos de fé é proporcionar uma base doutrinária, litúrgica e prática para a comunhão eclesiástica. União, como costumava 6 Samuel T. Logan .Ir., "The Context and Work ofthe Assembly”. em To Glorify and Enjov God: A Commemnralion qf the 350tli Anniversary of lhe Westminster Assembly. eds. John L. Carson e David W. Hall (Edinburgh e Carlisle, PA: The Banner ofTruth Trust. 1994), 32.
  • 26. 26 SOIA SCRIPTURA enfatizar Spurgeon, não pode se dar em detrimento da verdade. Ele escreveu: “Buscar união em detrimento da verdade é traição ao Senhor Jesus”.7 De fato, é muito difícil haver união externa quando não há unidade de fé. É complicado, por exemplo, pasto­ res e igrejas trabalharem juntos quando diferem radicalmente em suas concepções teológicas, litúrgicas, eclesiásticas, etc. Exatamente por isso, sempre foi requerido pelas denomi­ nações tradicionais que os seus oficiais (ministros da Palavra, presbíteros e diáconos) subscrevessem uma confissão de fé. Isso os compromete, moralmente pelo menos, com a substância do sistema doutrinário aí exposto. Essa prática também garante uma concordância substancial no ensino e práticas eclesiásticas dos pastores unidos por uma subscrição confessional.8 Subentende-se, por exemplo, que a fé e prática de todo pastor presbiteriano seja a mesma. Teoricamente, pelo menos, um pastor presbiteriano, ao aceitar o convite de uma igreja para pastoreá-la, pode estar certo de que não deverá haver substan­ cial discordância doutrinária, litúrgica, etc. entre ele e a igreja, visto que o seu conselho subscreve a mesma confissão de fé. Isso deveria também dar tranquilidade aos membros de uma igreja, pois sabem que não lhes serão impostas doutrinas ou práticas substancialmente diferentes das que estão registra­ das nos seus símbolos de fé. Os credos e confissões de fé são, portanto, uma garantia de que a fé, culto e práticas da igreja não serão mudadas ao bel-prazer do subjetivismo, pragmatismo ou idiossincrasias de pastores ou concílios. Comentando sobre a “influência unificadora dos Padrões de Westminster”, Adams lembra que o propósito unificador desses símbolos de fé “era parte da intenção original ao se convocar a Assembléia. Os comissionados sabiam isso desde o princípio 7 C. II. Spurgeon, "A Fragment upon the Down-Grade Controversy”, Sword and Tmwel (november 1887). 8 O mesmo se aplica aos princípios de governo, litúrgicos e disciplinares.
  • 27. CAPÍTULO 1: SÍMBOLOS DE FÉ 27 e tentaram produzir um documento que alcançasse esse fim, gastando longas e árduas horas nessa tarefa”.9 Uma igreja sem confissão é semelhante a um partido sem ideologia, a uma sociedade sem estatuto, ou a um país sem cons­ tituição. Não há coerência, nem unidade, nem estabilidade, nem fidelidade, nem disciplina. BASES BÍBLICAS PARA OS SÍMBOLOS DE FÉ Os símbolos de fé são inevitáveis e necessários. Contudo, o pragmatismo não pode ser determinante com relação às nossas práticas religiosas. É imprescindível considerarmos se a formu­ lação e uso deles se justificam biblicamente. Comentando sobre o uso de catecismos para a instrução cristã dos filhos, Douglas Kelly escreve que “o locus c/assicus da responsabilidade dos pais para a educação espiritual dos filhos é Deuteronômio 6:7”, e explica que “embora esse verso não espe­ cifique uma instrução em forma de pergunta e resposta, os versos 25 a 30 do mesmo capítulo fazem isso...”1011 O Novo Testamento reconhece a existência de um corpo definido de doutrinas bíblicas por parte dos apóstolos, e indica, pelo menos implicitamente, a necessidade desse padrão doutri­ nário e de sua confissão pública. Eis alguns textos que fundamen­ tam essa afirmação: Portanto, todo aquele que me confessar" diante dos homens. também eu o confessarei12 diante do meu Pai que está nos céus (Mt 10:32-33). 9 Jay L. Adams, “The Influente of Westminster”, em To Glorifj' and Enjoy God: A Commemoraíion ofthe 350th Anniversaiy of lhe Westminster Asscmhly. eds. John L. Carson e David W. Hall (Hdinburgh e Carlisle, PA: The BannerofTruth Trust. 1994), 254. 10 Kelly, “The Westminster Shorter Catechism”, 103. 11 'OqoAoyriaei, no original. 12 0|ioAoyf|a(ú, no original.
  • 28. 28 SOLA SCRIPTURA Estando sempre preparados para responder13a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós (1 Pe 3:15). Se com a tua boca confessares14 a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para a justiça, e com a boca se confessa a respeito da salvação (Rm 10:9-10). Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, e de evefizeste a boa confissão'' perante muitas testemunhas (1 Tm 6:12). Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa c o n fissã o (Hb 4:14). Cf. 3:1. Nào é provável que os termos confissão (ópoXoyía) e confessar (òpoXoyéio), empregados nestes versículos, já deno­ tassem uma confissão de fé no sentido técnico (de um resumo sistemático elaborado de doutrinas), como seriam posterior­ mente empregados pelas igrejas protestantes. Entretanto, sem dúvida, esses termos já apontam para uma confissão pública da fé em Cristo, indicando não apenas a sua necessidade, como a sua prática na igreja primitiva. Os discípulos de Cristo deviam confessar (como de fato faziam) a sua fé perante os homens; e há muitas passagens no Novo Testamento que indicam um corpo de doutrinas funda­ mentais reconhecido, confiado e transmitido pelos apóstolos e discípulos de Cristo. Termos diferentes são empregados, tais como forma de doutrina, tradições, o evangelho que recebestes, o padrão das sãs palavras, o ensino segundo a piedade, o que te foi confiado, o bom depósito, etc. Esse corpo doutrinário reco­ nhecível e identificável podia ainda não ter forma escrita definida oficial. Mas é inegável a sua existência, pelo menos em forma oral. Eis alguns textos bíblicos que confirmam isso:1314 13 No original npo? àTToÀoyiar - para a confissão. 14 OpoXoyijartJ. Q|ioXáyriaaç rf|i' KaXrji' ógoAoyiar, no original. KpaTiõgei' rijç ógoAoyíaç, no original. 16
  • 29. 29CAPÍTULO 1: SÍMBOLOS DE FÉ Mas graças a Deus porque, outrora escravos do pecado, contudo viestes a obedecer de coração à form a de doutrina a que fostes entregues (Rm 6:17). De lato, eu vos louvo porque em tudo vos lembrais de mim. e retendes as tradições assim como vo-las entreguei (1 Co 11:2). Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes (2 Ts 3:6). Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evan­ gelho que vá além do que vos temospregado, seja anátema. Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema (G1 1:8-9). Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado. nada entende... E tu. ó Timóteo, guarda o que tefoi confiado. evitando os falatórios inúteis e profanos... (1 Tm 6:3,20). Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com lé e com o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós (2 Tm 1:13-14). Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade (2 Ts 2:13b).1 AUTORIDADE DOS SÍMBOLOS DE FÉ Embora as igrejas protestantes em geral adotem credos, confissões, catecismos e cânones como símbolos de fé, reconhe­ cendo a sua múltipla utilidade e necessidade, nenhuma, entre­ tanto, reconhece nesses símbolos uma autoridade inerente. As igrejas reformadas e herdeiras da Reforma admitem exclusiva­ mente as Escrituras como inerentemente autoritativas em matéria religiosa. As Escrituras - e somente elas - sào a nossa única regra autoritativa dc fé c prática. Aautoridade dos credos, confissões e catecismos sustenta-se cxclusivamente na proporção em que expressam o ensino bíblico. Para os protestantes, as Escrituras são como estrelas que emitem* 17Conferir ainda 2 João 10.
  • 30. 30 SOLA SCRIPTURA luz própria, enquanto os símbolos de fé sào planetas e satélites que apenas refletem a luz que recebem. Nas palavras de Philip Sehaff, um dos maiores estudiosos dos credos e confissões de fé cristãs:IS“A autoridade dos símbolos (de fé), como a de todas as composições humanas, é limitada. Não coordena com a Bíblia, mas sempre se subordina a ela. que é a única regra infalível de fé e prática cristãs'’.1819 Por conseguinte, as confissões de fé reformadas não reivin­ dicam inerrância. Pelo contrário, algumas reconhecem explici- tamente que, como qualquer produto humano, não estão livres de erros. 18 Autor de The ( reais qf Christenchu. em três volumes. Citado por M. A. Noll, em Enciclopédia Histórico-Teológicada Igreja Cristã. vol. I. p. 340.
  • 31. CAPÍTULO 2 DOUTRINA DA REVELAÇÃO Ainda que a luz da natureza e a s obras da criação e da providência manifestem de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens fiquem inescusáveis, todavia não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da erdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles anti­ gos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo (parágrafo I). O primeiro capítulo da Confissão de Fé de Westminster começa tratando da doutrina das Escrituras. Isto é apropriado. Não porque a doutrina das Escrituras seja mais importante do que outras doutrinas, como a pessoa e obra de Deus (a teolo­ gia propriamente dita) e de Cristo (a cristologia), mas porque a doutrina das Escrituras é a base e a fonte de todas as demais doutrinas. Essa ordem “reflete a convicção dos teólogos de Westminster de que toda teologia que sabemos de Deus é base­ ada naquilo que o próprio Deus revelou-nos nas Escrituras .■1 1 Ler Salmo 19:1-4; Romanos 1:19-22: 1 Coríntios 1:21 e Romanos 10:13- 14.17. 2 Derek Thomas, A Iisõo Puritana das Escrituras: Luta Análise do Capitulo de Abertura da Confissão de Fe de Westminster (São Paulo: Editora Os Puritanos, 1998). 12.
  • 32. 32 SOIA SCRIPTURA Com o princípio reformado resumido na expressão latina sola Scriptura, os reformadores rejeitaram a autoridade das tradi­ ções eclesiásticas e das supostas novas revelações do Espírito. Mais importante: eles restabeleceram as Escrituras como única regra de fé e prática, como única fonte autoritativa em matéria de doutrina, culto e práticas eclesiásticas. DIVISÃO DO ASSUNTO As seguintes doutrinas são abordadas neste capítulo da Confissão de Fé: Doutrina da Revelação (parágrafo I) O Canon e a Inspiração das Escrituras (parágrafos II e III) Autoridade das Escrituras (parágrafos IV e V) Suficiência das Escrituras (parágrafo VI) Clareza das Escrituras (parágrafo VII) Preservação e Tradução das Escrituras (parágrafo VIII) Interpretação das Escrituras (parágrafo IX) O Juiz Supremo das Controvérsias Religiosas (parágrafo X) REVELAÇÃO NATURAL A Confissão de Fé de Westminster começa professando a doutrina da revelação natural: Deus se revela por meio das obras que foram criadas e da própria consciência do homem, na qual está impregnado um padrão moral, ainda que imperfeito por causa da queda. Biblicamente falando, o universo físico é uma pregação. O cosmo proclama os atributos de Deus. O maerocosmo (as estrelas, os planetas, os satélites, com sua imensidão, grandeza e leis), o cosmo (a terra, os mares, as montanhas, os vegetais, os animais, o homem), e o microcosmo (os microorganismos, a constituição dos elementos, etc.) revelam muitas verdades a respeito da pessoa e da obra de Deus. O Autor de tal obra tem de ser infinitamente sábio e poderoso.
  • 33. CAPITULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇAO 33 O próprio serhumano, como criatura dc Deus, independente­ mente do aprendizado, já nasce com uma consciência - uma versão da lei de Deus impregnada no seu ser - que o habilita a discernir entre o bem e o mal, e com um instinto que o induz à adoração da divindade. Este é o ensino bíblico do Antigo e do Novo Testamento: Os céus proclamam a glória dc Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia. e uma noite revela conheci­ mento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som: no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras até aos confins do mundo (SI 19:1-4). Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, clara­ mente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas (Rm 1:19-20). Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se (Rm 2:14-15). Ao estudar a criação, o homem deveria procurar ver Deus nela, pois é obra dele, e revela os seus atributos. As ciências podem até mesmo ser consideradas como departamentos da teologia, especializações que estudam a criação e a providência. O estudo da química, da física, da matemática, da biologia, da geografia, da política, da antropologia, da história, etc., deve ter por fim último a glória de Deus. Não é sem razão que muitos dos primeiros cientistas dignos do nome eram cristãos sinceros, como Isaac Newton e Michael Faraday. Ao estudarmos qualquer esfera da criação, deveriamos descobrir nela as mãos de Deus e as mãos do diabo. Por um lado, observa-se nela impressionante e substancial lógica, ordem, harmonia, sabedoria e poder. Por outro lado, pode-se também perceber na natureza os traços da corrupção, da desordem, do
  • 34. 34 SOIA SCRIPTURA conflito e da degeneraçào decorrentes da queda. Nào obstante, a educação do nosso século, especialmente no nosso país, embora, em geral, reivindique ser cristã, na realidade tornou-se materia­ lista. Em que instituições educacionais essas disciplinas são estu­ dadas com essa perspectiva e com esse propósito? LOUCA CEGUEIRA HUMANA Se o homem não houvesse caído, a revelação natural seria suficiente para que ele compreendesse as verdades com relação a Deus, à criação, ao próprio homem, etc., de modo a submeter-se a Deus e a adorá-lo, rendendo-lhe a graça, o louvor e a honra que lhe são devidas. Mesmo caído, a revelação natural ainda é suficiente para tomá-lo indesculpável, pois o homem natural deturpa a revela­ ção natural. Ele não dá ouvidos à pregação da natureza que o convida a glorificar a Deus. Ele não se submete à proclamação proferida pelo cosmo, nem reconhece a origem divina das leis que regem o universo. O homem natural também não se submete às leis encravadas na sua própria consciência, transgredindo-as constante e deliberadamente. Recusando-se rebeldemente a reconhecer a soberania do Criador e a adorá-lo, o homem natural pretere adorar a criatura. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conheci­ mento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tomaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se- lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tomaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis... pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém! (Rm 1:20b-23, 25). Esse diagnóstico é igualmente verdadeiro, quer aplicado à filosofia dos sofistas, dos epicureus e dos gnósticos da Grécia Antiga, quer aplicado ao humanismo renascentista ou à ciência materialista moderna. Onde, insisto, nas escolas e universidades
  • 35. CAPITULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇÃO 35 de nosso país, a criação é estudada pela perspectiva das Escrituras e com o propósito de glorificar a Deus? O homem natural confunde o Criador com a criação (e crê no panteísmo), isola o Criador da criação (e prega o deísmo), rejeita o Criador (e professa o materialismo), ou dá-se por satis­ feito com a criação (dando origem ao naturalismo). Na sua louca cegueira, o homem natural rebelde vai além: ele prefere atribuir os traços de corrupção, desordem e conflito percebidos na cria­ ção ao Criador, e explicar a substancial lógica, ordem, harmonia, sabedoria e poder nela percebidos às forças cegas da natureza, à evolução, à seleção natural, ou mesmo a mutações genéticas. Por isso o homem é indesculpável. Por estas razões, é justamente culpado: por se recusar a andar conforme o grau da revelação que recebe, seja da natureza, seja da consciência, e se entregar rebelde e arrogantemente a todo tipo de impiedade. “Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem" (Rm 1:32). INSUFICIÊNCIA DA REVELAÇÃO NATURAL A revelação natural é, portanto, suficiente para condenar, mas não para salvar. Devido ao estado decaído do homem, a revelação natural não é nem clara nem suficiente para que as verdades necessárias à sua salvação sejam compreendidas. A religião natural ensina que a revelação da natureza é sufi­ ciente para a salvação do homem. Para os que assim pensam, a mente humana desassistida pode compreender tudo o que é neces­ sário para a salvação. Contudo, tal ensino contradiz frontalmente a revelação bíblica. De acordo com as Escrituras, “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura: e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2:14). Segundo as Escrituras, “aprouve a Deus salvar aos que crèem, pela loucura da pregação" (1 Co 1:21). É por isso que o apóstolo Paulo exclama: “Todo aquele que invocar o nome do
  • 36. 36 SOLA SCRIPTURA Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10:13-14). Qual a conclu­ são? ‘‘Logo, a fé vem pela pregação (pelo ouvir) e a pregação (o ouvir), pela palavra de Cristo” (Rm 10:17). Deus se revela na criação, sim. Essa revelação é suficiente para tomar a raça humana indesculpável. Entretanto, por causa da queda, não é suficiente para a salvação de ninguém. REVELAÇÃO ESPECIAL Não sendo a revelação natural suficiente para salvar o homem, por causa da cegueira produzida pela queda, aprouve a Deus revelar-se diretamente à igreja. Consequentemente, ele preparou um povo, Israel, na antiga aliança, e a igreja, na nova aliança, para revelar-lhe diretamente o conhecimento necessário à salvação. De modo direto e sobrena­ tural. por meio do seu Espírito, através de revelação direta, teofa- nias, anjos, sonhos, visões, pela inspiração de pessoas escolhidas e pelo seu próprio Filho, Deus comunicou progressivamente à igreja, no curso dos séculos, as verdades necessárias à salvação, as quais, de outro modo, seriam inacessíveis ao homem. Assim, Deus revelou-se a Noé, a Abraão, a Moisés, aos profetas, a Davi. a Salomão, aos seus apóstolos e, especial­ mente, revelou-se em Cristo. E a isso que o autor da Epístola aos Hebreus se refere, quando afirma que: “havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profe­ tas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb 1:1-2). Cristo é a revelação final de Deus. E dessa revelação que o apóstolo Paulo fala. na sua carta endereçada aos gálatas: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (G1 1:11-12).
  • 37. CAPÍTULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇÃO 37 À igreja de Deus, portanto, foram confiados os oráculos de Deus: a revelação especial, inspirada, clara, precisa, autoritativa e suficiente para ensinar ao homem o que ele deve conhecer e crer, e o que dele é requerido, com vistas à sua própria salvação e à glória de Deus. REVELAÇÃO ESCRITA Tendo em vista a insuficiência da revelação natural e a abso­ luta necessidade da revelação especial, aprouve a Deus ordenar que essa revelação fosse toda escrita, a fim de que pudesse ser preservada e permanecesse disponível, para a consecução dos seus propósitos eternos. Deus conhece perfeitamente a natureza humana corrompida. Ele conhece também a malícia de Satanás, bem como a perversão do mundo. Ele sabe que revelar a sua vontade à igreja não seria suficiente, pois ela seria fatalmente corrompida e deturpada. Basta observar as tradições religiosas, mesmo as ditas cristãs - como tendem inexoravelmente ao erro! Por isso. Deus fez com que todas as verdades necessárias à salvação, à santificação, ao culto, ao serviço e à vida do homem, fossem escritas e preservadas, para que pudessem ser conheci­ das, cridas e obedecidas. Com esses propósitos, o próprio Deus, por meio do seu Espírito, inspirou os autores bíblicos, a fim de que pudessem registrar a revelação especial sem erro algum. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repre­ ensão. para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2 Tm 3:16). Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações; sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação: porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus. movidos pelo Espírito Santo (2 Pe 1:19-21).
  • 38. 38 SOLA SCRIPTURA De acordo com o primeiro parágrafo da Confissão de Fé de Westminster, portanto, a revelação escrita é expressão da graça de Deus com vistas à preservação da integridade da verdadeira religião e à salvação, edificação e conforto do seu povo. NECESSIDADE DAS ESCRITURAS Smith explica a necessidade das Escrituras da seguinte maneira: A revelação de Deus aconteceu por meio do processo histórico. O centro dessa revelação veio na Pessoa de Cristo, sua encarnação, sua vida, sua morte e sua ascensão; esses eventos ocorreram uma única vez. Eles não se repetem. Eles se tornaram uma parte da história humana, e devem ser transmitidos à humanidade. Nisso vemos a necessidade de confiar o registro e o significado dessa revelação à forma escrita. Somente assim ela pode tomar-se a revelação para toda a humanidade... A Escritura é para nós a revelação especial de Deus. Não há outro prin­ cipiam cognoscentli extemum para nós. ' Sendo, portanto, a Palavra escrita o meio escolhido por Deus para revelar a sua vontade ao homem, ela não pode ser dispensada, igualada, acrescentada nem suplantada. Nem o Espírito agiria em detrimento ou à parte dela, mas com e por ela. E neste sentido que as Escrituras são necessárias.e indis­ pensáveis para a comunicação das verdades imprescindíveis à salvação. A Igreja Romana tem a tradição oral. Os reformado­ res radicais “possuíam” a palavra interior. Outras denominações modernas “dispõem” de novas revelações do “Espírito”. Para os teólogos racionalistas, a Bíblia representa apenas “a consciência religiosa” e “a reflexão da igreja”.34A fé reformada, entretanto, se fundamenta inteiramente nas Escrituras. 3 Morton H. Smith, Systenuitic Theology, vol. 1 (Greenville, SC: Greenville Seminary Press. 1994), 69, 70. 4 Herman Bavinck, Rcformecl Dogmatics. vol. 1. Pmlegomena, ed. John Bolt, trad. John Vriend (Grand Rapids: Baker Academic. 2003). 468.
  • 39. CAPITULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇAO 39 Bavinck resume a visão reformada acerca da necessidade das Escrituras, em contraste com as posições católico-romana, mística e racionalista, como segue: No Catolicismo Romano, a igreja, vivendo pelo Espírito Santo, é auto- suficiente. A Bíblia, estritamente falando, não é necessária; a Escritura precisa da igreja para a sua autoridade e interpretação. A tradição do misticismo espiritualista, também, não precisa realmente da Escritura. Comunhão, por meio de práticas ascéticas e contemplação, eram capa­ zes de colocar o crente em união com Deus. O mesmo fenômeno - palavra interna acima da palavra externa - levou à crítica racionalista à autoridade e necessidade da Escrituras. Mesmo se as Escrituras se perdessem, a verdade ético-religiosa do Cristianismo sobrevivería... Os protestantes reconhecem que a palavra externa apenas é insuficiente; ela precisa do testemunho interno do Espírito Santo. Para a vida cons­ ciente da igreja, entretanto, a Escritura é essencial, indispensável para o estabelecimento da verdade cristã do evangelho... Nesta era da história da salvação, a Escritura é o nosso único guia seguro para o ensino apos­ tólico e o preserva para as gerações.' ' Bavinck, Reformed Dogmatics, 450.
  • 40.
  • 41. CAPÍTULO 3 CANON DAS ESCRITURAS Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, todos dados por inspi­ ração de Deus para serem a regra de fé e prática, que são os seguintes: O Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juizes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, I Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, ló, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Isaías, lerem ias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, loel, Amós, Obadias, lonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. O Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, loão, Atos, Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios, Cálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 loão, 3 João, Judas, Apocalipse. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do Canon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos (parágrafos II e III). O ensino dessesparágrafos da Confissão de Féde Westminster diz respeito especialmente ao cânon das Escrituras. Neles não são indicados os critérios empregados para o reconhecimento do cânon Bíblico. São apenas relacionados os sessenta e seis livros aceitos como canônicos, ou seja, como inspirados por Deus, que compõem a Bíblia protestante. Quanto aos livros apócrifos, que foram incluídos na Bíblia católico-romana, são explicitamente i Ler Romanos 3:2.
  • 42. 42 SOLA SCRIPTURA considerados nào inspirados e, portanto, nào autoritativos, nào devendo ser entendidos senão como escritos humanos. Apalavra cânon é mera transiiteração do termo grego Kavióv, que significa vara reta, régua, regra. Aplicado às Escrituras, o termo designa os livros que se conformam à regra da inspira­ ção e autoridade divinas. Atanásio (séc. IV) parece ter sido o primeiro a usar a palavra nesse sentido.2São chamados de canô­ nicos, portanto, os livros que foram inspirados por Deus, os quais compõem as Escrituras Sagradas - o cânon bíblico. Quais são os livros canônicos, ou seja, inspirados? Como eles se dividem? Há alguma regra pela qual se pôde averiguar a canonicidade de um livro? Como explicar a diferença entre os cânones hebraico, católico-romano e protestante? São essas as perguntas que precisam ser respondidas com relação ao presente assunto. O CÂNON PROTESTANTE DO ANTIGO TESTAMENTO Origem O cânon protestante do Antigo Testamento (composto pelos trinta e nove livros relacionados acima) é exatamente igual ao cânon hebraico massorético. O cânon massorético é a Bíblia hebraica em sua forma definitiva, vocalizada e acentuada pelos massoretas. A ordem dos livros na Bíblia protestante, entretanto, segue a da Vulgata e da Septuaginta. Os Massoretas Os massoretas eram judeus estudiosos que se dedicavam à tarefa de guardar a tradição oral (massora) da vocalização e acentuação correta do texto. A medida que um sistema de voca­ lização foi sendo desenvolvido, entre 500 e 950 AD, o texto 2 A. Bcntzen, Introdução ao Antigo Testamento. vol. 1 (São Paulo: ASTE, 1968), 29.
  • 43. CAPITULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 43 eonsonantal que receberam dos soferint foi sendo por eles euidadosamente vocalizado e acentuado. Além dos pontos vocá- lieos e dos acentos, os massoretas acrescentavam também ao texto as massoras marginais, maiores e finais, calculadas pelos soferim. Essas massoras (tradições) eram estatísticas colocadas ao lado das linhas, ao fim das páginas e ao final dos livros, indi­ cando quantas vezes uma determinada palavra aparecia no livro, o número de palavras e letras. Elas indicavam até a palavra e letra central do livro.34 O Canon Massorético Embora o conteúdo do cânon protestante seja o mesmo do cânon hebraico, a divisão e a ordem dos livros são diferentes. Eis a divisão e ordem do cânon hebraico: O Pentateuco (Torá): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Os Profetas (Neviim): Anteriores: Josué, Juizes, 1e 2 Samuel, 1e 2 Reis. Posteriores: Isaias, Jeremias, Ezequiel e Profetas Menores. Os Escritos (Kêtuvim): Poesia e Sabedoria: Salmos, Provérbios e Jó. Rolos ou Megilloth (lidos no ano litúrgico): Cantares (na páscoa), Rute (no pentecostes), Lamentações (no quinto mês), Eclesiastes (na festa dos tabernáculos) e Ester (na festa de purim). Históricos: Daniel. Esdras, Neemias e 1e 2 Crônicas. 3 Ordem dos escribas que se originou com Esdras. e que se estendeu até 200 AD. cuja função era preservar puro o texto bíblico. 4 As massoras funcionavam mais ou menos como os modernos dígitos veri­ ficadores usados por programas de computadores para evitar erros em informações importantes como número de contas bancárias, CPF, CGC, etc.
  • 44. 44 SOIA SCRIPTURA O Canon Consonantal A divisão e a ordem dos livros no cânon hebraico consonan­ tal, anterior ao massorético, era a mesma. O número de livros, entretanto, era diferente. O conteúdo era o mesmo, mas agrupado de modo a formar apenas vinte e quatro livros. Os livros de 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas eram unidos, formando apenas um livro cada (o que implica em três livros a menos em relação ao nosso cânon). Os doze profetas menores eram agru­ pados em um só livro (menos onze livros). Esdras e Neemias formavam um só livro: o Livro de Esdras (menos um livro). Testemunhas Antigas do Cânon Hebraico Protestante A referência mais antiga ao cânon hebraico é do historiador judeu Josefo (37-95 AD). Em Contra Apionem ele escreve: “Não temos dezenas de milhares de livros, em desarmonia e conflitos, mas somente vinte e dois, contendo o registro de toda a história, os quais, conforme se crê, com justiça, são divinos”.5 Depois de referir-se aos cinco livros de Moisés, aos treze livros dos profetas, e aos demais escritos (os quais “incluem hinos a Deus e conselhos pelos quais os homens podem pautar suas vidas”), ele continua afirmando: Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido registrado, mas não tem sido considerado digno de tanto crédito quanto aquilo que precedeu a essa época, visto que a sucessão dos profetas cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é perce­ bida através de nossa conduta; pois, apesar de ter-se passado tanto tempo, ninguém jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma, nem alterar neles qualquer coisa que seja.6 Josefo é suficientemente claro. Como historiador judeu, ele é fonte fidedigna. Eram apenas vinte e dois os livros do cânon 5 Ele menciona vinte e dois. ao invés de vinte e quatro, porque com certeza, originalmente, Rute era agrupado com Juizes e Lamentações com Jeremias. 6 Capítulo primeiro.
  • 45. CAPITULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 45 hebraico agrupados nas três divisões do cânon massorético. E desde a época de Malaquias (Artaxerxes, 464-424 AC) até a sua época, nada se lhe havia sido acrescentado. Outros livros foram escritos, mas não eram considerados canônicos, com a autori­ dade divina dos vinte e dois livros mencionados. Além de Josefo, Mileto, Bispo de Sardes, diz ter viajado para o Oriente, no ano 170 AD, com o propósito de investigar a ordem e o número dos livros do Antigo Testamento; Orígenes, o erudito do Egito, que morreu em 254 AD; Tertuliano (160-250 AD), pai latino contemporâneo de Orígenes; e Jerônimo (340-420 AD), entre outros, confirmam o cânon hebraico de vinte e dois ou vinte e quatro livros (dependendo do agrupamento ou não de Rute e Lamentações). E interessante observar que o próprio Jerônimo, tradutor da Vulgata latina, que daria origem ao cânon católico-romano, embora considerasse os livros apócrifos úteis para a edificação, não os tinha como canônicos. Apesar de ter traduzido outros livros não canônicos, ele escreveu que “deveríam ser colocados entre os apócrifos,” afirmando que “não fazem parte do cânon”. Referindo-se ao livro de Sabedoria de Salomão e ao livro de Eclesiástico, ele diz: “Da mesma maneira pela qual a igreja lê Judite e Tobias e Macabeus (no culto público), mas não os recebe entre as Escrituras canônicas, assim também sejam estes dois livros úteis para a edificação do povo, mas não para receber as doutrinas da igreja”.7 Vale salientar ainda que a versão siríaca Peshita, que bem pode ter sido feita no século II ou III,8 ou até mesmo no 7 Gleason L. Archer Jr, Merece Confiança o Antigo Testamento? (São Paulo: Vida Nova, 1979), 76. 8 R. L. Uarris, Inspiration and Canonicity of the Bible: An Histórical and Exegetical Study (Grand Rapids: Zondervan. 1957), 216; Wilbur N. Pickering. The Identity of the New Testament Text (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980), 93-96; e Archer Jr. Merece Confiança o Antigo Testamento?, 51.
  • 46. 46 SOIA SCRIPTURA século I,° nos manuscritos mais antigos, não contém nenhum dos apócrifos. O Testemunho de Jesus e dos Apóstolos Embora as evidências já mencionadas sejam importan­ tes, a principal testemunha do cânon protestante do Antigo Testamento é o Novo Testamento. Jesus e os apóstolos não ques­ tionaram o cânon hebraico da época (época de Josefo, convém lembrar). Eles o citaram cerca de seiscentas vezes, de modo autoritativo, incluindo praticamente todos os livros do cânon hebraico. Entretanto, não citam nenhuma vez os livros apócri­ fos.910Pode-se concluir, portanto, que Jesus e os apóstolos deram o seu imprimatur ao cânon hebraico e, consequentemente, ao cânon protestante. O CÂNON CATÓLICO-ROMANO DO ANTIGO TESTAMENTO Origem O cânon católico-romano, composto pelos trinta e nove livros encontrados no cânon protestante, acrescido das adições a Daniel e Ester, e dos livros de Baruque, Carta de Jeremias, 1-2 Macabeus, Judite, Tobias, Eclesiástico e Sabedoria - 3 e 4 Esdras e a Oração de Manassés são acrescentadas depois do NT - origina-se da Vulgata latina, que por sua vez, provém da Septuaginta. 9 “É provável que certas porções do Antigo Testamento siríaco. em primeiro lugar o Pentateuco. tenham sido introduzidos naquele reino nos meados do primeiro século de nossa era". R. A. H. Gunner, “Texto e Versões do Antigo Testamento. Versão Siríaca”, em O Novo Dicionário da Biblia, 3 ed. rev.. ed. J. D. Douglas, trad. João Bentes (São Paulo: Vida Nova, 2006), 1327. 10 Com exceção de Enoque 1:9, aludido em Judas 14-16: contudo, não citado autoritativamente, e sim como qualquer outro autor; assim como Paulo cita Arato em Atos 17:28 e Menander em 1Coríntios 15:33.
  • 47. CAPITULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 47 A Septuaginta A Septuaginta é uma tradução dos livros judaicos para o grego, feita possivelmente durante o reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-245 AC) ou até meados do século 1AC, para a biblioteca de Alexandria, no Egito." Os tradutores não se limi­ taram a traduzir os livros considerados canônicos pelos judeus. Eles traduziram os demais livros judaicos disponíveis. E, ajulgar pelos manuscritos existentes, deram um arranjo tópico à biblio­ teca judaica, na seguinte ordem: Livros da Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Livros de História: Josué, Juizes, Rute, 1-2 Samuel, 1-2 Reis (chamados 1-2-3-4 reinados), 1-2 Crônicas, 1-2 Esdras (o primeiro apócrifo), Neemias, Tobias. Judite e Ester. Livros de Poesia e Sabedoria: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Sabedoria de Salomão, Sabedoria de Siraque (ou Eclesiástico). Livros Proféticos: Profetas Menores; Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Baruque, Lamentações, Epístola de Jeremias, Ezequiel. e Daniel (incluindo as histórias de Susana, Bel e o Dragão e o cântico dos Três Varões). Alguns desses livros foram escritos posterionnente, em grego, possivelmente por judeus alexandrinos, e foram incluídos na biblioteca judaica de Alexandria, tais como Primeiro e Segundo Esdras, adições a Ester, Sabedoria, e a Epístola de Jeremias. Nem sempre todos esses livros estão presentes nos manuscritos antigos da Septuaginta. O Códice Vaticano (B) omite Primeiro e Segundo Macabeus (canônicos para a Igreja Católica) e inclui Primeiro Esdras (não canônico para a Igreja Católica). O Códice Sinaítico (N) omite Baruque (canônico para Roma), mas inclui o quarto livro dos Macabeus (não canônico para Roma). O Códice Alexandrino11 11 A biblioteca de Alexandria, segundo alguns, chegou a possuir cerca de duzen­ tos mil volumes.
  • 48. 48 SOLA SCRIPTURA (A) inclui o Primeiro Livro de Esdras e o Terceiro e Quarto Livros dos Macabeus (apócrifos para Roma). O que se pode concluir daí é que, quando a Septuaginta foi copiada, alguns livros nào canônicos para os judeus foram também copiados. Isso poderia ter ocorrido por ignorância quanto aos livros verdadeiramente canônicos. Pessoas não afeiçoadas ao judaísmo ou mesmo desinteressadas em distinguir livros canô­ nicos dos nào canônicos tinham por igual valor todos os livros, fossem eles originalmente recebidos como sagrados pelos judeus ou não. Mesmo aqueles que não tinham os demais livros judaicos como canônicos certamente também copiavam estes livros, não por considerá-los sagrados, mas apenas para serem lidos. Por que não copiar livros tão antigos e interessantes? Mesmo pessoas bem intencionadas podem ter sido levadas a rejeitar alguns dos livros canônicos, ou a aceitar como canôni­ cos alguns que não o fossem, por ignorância ou má interpretação da história do cânon. Convém lembrar que, embora o testemu­ nho do Espírito Santo seja a principal regra de canonicidade por parte da igreja como um todo, mesmo assim, o crente ainda tem uma natureza pecaminosa que não o livra totalmente de incidir em erro, inclusive quanto ao assunto da canonicidade. Isto acon­ tece especialmente em épocas de transição, como foi o caso de Agostinho, que defendeu os livros apócrifos, embora de modo dúbio, e depois o de Lutero, o qual colocou em dúvida a canoni­ cidade da carta de Tiago. A Vulgata Como já foi mencionado, ao traduzir a Vulgata, Jerônimo também incluiu alguns livros apócrifos. Nào o fez, contudo, por considerá-los canônicos, mas apenas por considerá-los úteis, como fontes de informação sobre a história do povo judeu. Na Idade Média, a versão francamente usada pela igreja foi a Vulgata latina. A partir dela e da Septuaginta também foram feitas outras traduções. Ora. multiplicando-se o erro, e afastando-se cada
  • 49. CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITURAS 49 vez mais a igreja da verdade (como aconteceu crescentemente nesse período), tomou-se mais e mais difícil distinguir entre os livros que deveríam ser considerados canônicos ou não. Esses livros nunca foram completamente aceitos, mesmo nessa época. Mas, por se encontrarem incluídos nessas versões, a igreja (que se encontrava, de modo geral, em época de trevas) não teve discernimento espiri­ tual para distinguir entre livros apócrifos e canônicos. Por fim, no Concilio de Trento, em 1546, (também em reação contra os protestantes, que reconheceram apenas o cânon hebraico), a igreja de Roma declarou canônicos os livros apócri­ fos relacionados acima, bem como autoritativas as tradições orais: “O Sínodo... recebe e venera todos os livros, tanto do Antigo como do Novo Testamento... assim como as tradições orais”. A seguir são relacionados todos os livros considerados canônicos, incluindo os apócrifos. Concluindo, o decreto adverte: Se qualquer pessoa não aceitar como sagrado e canônico os livros mencionados em todas as suas partes, do modo como eles têm sido lidos nas igrejas católicas, e como se encontram na antiga Vulgata latina, e deliberadamente rejeitar as tradições antes mencionadas, seja anátema.i: A igreja grega seguiu mais ou menos os passos da igreja ocidental. Houve sempre dúvida na aceitação dos apócrifos, mas, no Concilio de Trulano, em 692, foram todos aceitos (quatorze). Ainda assim, como sempre houve reservas quanto à plena acei­ tação de muitos deles, a igreja grega, em 1672, acabou redu­ zindo para quatro o número dos apócrifos aceitos: Sabedoria, Eclesiástico, Tobias e Judite.1' Conclusão Por ironia da história, a Vulgata de Jerônimo, o qual não considerava canônicos os livros apócrifos,121314 veio a ser a prin- 12 Harris, Inspiration and Canonicity ofthe Bible, 192. 13 Archer Jr, Merece Confiança o Antigo Testamento3, 80. 14 Jerônimo foi o primeiro a usar o termo apócrifo.
  • 50. 50 SOLA SCRIPTURA cipal responsável pela inclusão destes mesmos livros no cânon católico-romano. A obra dos reformadores foi maior do que se pode pensar à primeira vista. Eles não apenas redescobriram as doutrinas básicas do evangelho - como a doutrina da salvação pela graça mediante a fé - e reformaram o culto. Eles redescobriram também o cânon. Graças a eles e ao testemunho do Espírito Santo, a igreja protestante reconhece como canônicos, com relação ao Antigo Testamento, os mesmos livros que Jesus e os apóstolos, e os judeus de um modo geral sempre reconheceram. Alguns dos apócrifos são realmente úteis como fontes de informação a respeito de uma época importante da história do povo de Deus: o período inter-testamentário. Os protes­ tantes reconhecem o valor histórico deles. Seguindo a prática dos primeiros cristãos, as edições modernas protestantes da Septuaginta normalmente incluem os apócrifos, e até algumas Bíblias protestantes antigas os incluíam, no final, apenas como livros históricos. Contudo, as igrejas reformadas excluíram totalmente os apócrifos das suas edições da Bíblia, e, “induziram a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, sob pressão do puritanismo esco­ cês, a declarar que não editaria Bíblias que tivessem os apócrifos, e a não colaborar com outras sociedades que incluíssem esses livros em suas edições”.15 Melhor assim, tendo em vista o que aconteceu com a Vulgata! Melhor editá-los separadamente. O CANON DO NOVO TESTAMENTO Por motivos óbvios, os judeus não aceitam os livros do Novo Testamento como canônicos. Visto que não reconhece­ ram a Jesus como o Messias, não poderíam aceitar os livros do Novo Testamento como inspirados. Felizmente, entretanto, não precisamos falar de um cânon protestante e de um cânon católi­ Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, 49 15
  • 51. CAPÍTULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 51 co-romano do NT, visto que todos os ramos do Cristianismo - incluindo a igreja oriental - aceitam exatamente os mesmos vinte e sete livros, como os temos em nossa Bíblia. É claro, entretanto, que não se poderia esperar que todos os vinte e sete livros do Novo Testamento viessem a ser imediata e simultaneamente reconhecidos como inspirados, por todas as igrejas, logo que foram escritos. Algum tempo seria necessário para que os quatro Evangelhos, o livro de Atos, as epístolas e o livro de Apocalipse alcançassem todas as igrejas. Afinal, ao término do primeiro século e no início do segundo, a igreja já havia se espalhado por três continentes: Europa, Asia e norte da África. Além disso, é provável que haja um intervalo de quase cinquenta anos entre a data em que o primeiro e o último livro do Novo Testamento foram escritos.16 Por fim, deve-se considerar ainda que, embora todos os livros canônicos sejam inspirados, nem todos têm a mesma importância ou volume. E natural espe­ rar que cartas pequenas como Judas, e as duas últimas cartas de João, fossem bem menos mencionadas do que os Evangelhos, Atos, Romanos, etc. Também é preciso observar que havia outros livros cristãos antigos: evangelhos, cartas, atos, apocalipses, etc. Alguns desses livros foram escritos por crentes piedosos do primeiro e segundo séculos; outros eram indevidamente atribuídos aos apóstolos ou aos seus contemporâneos. Algum tempo, é claro, seria necessário para que a igreja inteira, de posse já de todos os livros canônicos, bem como de muitos outros não canônicos, viesse a avaliar a autoria, testemunho externo e interno, e discernir, pela ação do Espírito Santo, quais livros realmente pertenciam ao cânon. Isso tudo, entretanto, ocorreu de modo surpreendentemente rápido, de maneira que antes que cem anos se passassem, praticamente todos os livros do Novo Testamentojá eram conhecidos, reveren­ ciados e tidos como autoritativos pela Igreja, conforme atestam 1(1 A Epístola aos Gálatas foi escrita por volta de 48 a 50 e o Livro de Apocalipse entre 81 a 96.
  • 52. 52 SOLA SCRIPTURA as evidências históricas existentes. Bavinck está historicamente correto, ao escrever: Irineu, Tertuliano e outros, a Peshita e o fragmento de Muratori, todos estabelecem além de qualquer dúvida que na segunda metade do segundo século a maioria dos escritos do NT tinha autoridade canônica e desfrutava de status equivalente ao dos livros do Antigo Testamento.17 Critérios de Canonicidade dos Livros do Novo Testamento Aprincipal questão teológica com relação ao cânon do Novo Testamento diz respeito ao critério ou critérios que determinaram a canonicidade dos livros do NT. Por que os vinte e sete livros, e apenas estes, incluídos em nossas Bíblias são aceitos como canônicos? A resposta a essa pergunta encontra-se, em última instância, na doutrina da inspiração. São canônicos os livros que foram inspirados por Deus. “Para que um livro seja canônico ele deve ser inspirado, e a tarefa da igreja no estabelecimento dos limites do cânon era de decidir se os escritores eram ou não inspirados”.18Mas como foi reconhecida a inspiração dos livros do NT? Quais os critérios que levaram a igreja a aceitar todos os vinte e sete livros, e apenas estes, como inspirados e consequen­ temente canônicos? 1) O Testemunho Interno do Espírito Santo O critério essencial para o reconhecimento do cânon do Novo Testamento é o mesmo que levou ao reconhecimento do Antigo Testamento: o testemunho interno do Espírito Santo na igreja como um todo. “Apesar de todas as evidências da auto­ ridade das Escrituras, o homem precisa da preparação interior do Espírito para convencê-lo da sua confiabilidade”.19 É certo, como já foi mencionado, que crentes individuais podem falhar em identificar ou não certos livros como canônicos - especial­ 17 Bavinck, Reformai Dogmatics, 400. 18 Thomas, A Visão Puritana cias Escrituras, 16 19 Ibid., 18.
  • 53. CAPÍTULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 53 mente em épocas de transição, como nos primeiros séculos da igreja na nova dispensaçào e durante o período da Reforma. Não obstante, o testemunho da igreja como corpo (não como institui­ ção ou indivíduos isoladamente) é o principal critério de verifica­ ção da canonicidade das Escrituras. Isso não significa dizer que foi a igreja que determinou o cânon. “O cânon não foi formado por nenhum decreto de concílios.”20 Quem determinou o cânon foi o Espírito Santo que o inspirou. A igreja apenas o reconheceu, o discerniu, pela iluminação do próprio Espírito, que habita nos seus membros individuais. Isso implica em afirmar, como faz Bavinck, que “a canonicidade dos livros bíblicos está enraizada na sua existência. Eles têm autoridade em si mesmos... é o Espírito do Senhor quem guiou os autores ao escrevê-los e a igreja ao reconhecê-los”.21 William Whitaker, professor de Teologia na Universidade de Cambridge, no livro Disputation on Holy Scripture, publicado em 1588, e frequentemente citado na Assembléia de Westminster, resume o papel da igreja como corpo e dos crentes individuais com relação ao reconhecimento do cânon, como segue: “A auto­ ridade da igreja pode, a princípio, mover-nos a reconhecermos as Escrituras: mas depois, quando nós mesmos lemos as Escrituras, e as compreendemos, concebemos uma fé verdadeira...”22- isto é, somos convencidos pelo Espírito da sua veracidade e identi­ dade.23 As evidências históricas desse reconhecimento do cânon do Novo Testamento pela igreja são abundantes. 20 Bavinck, Reformed Dogmatics, 400. 21 Ibid.,401. 22 Citado em Wayne Spear, "The Westminster Confession of Faith and Holy Scripture". em To GloriJ}' and Enjoy God: A Commemoration ofthe 350th Anniverscuy oj tlie Westminster Assembly, eds. John L. Carson e David W. Hall (Edinburgh e Carlisle, PA: The Banner of TruthTrust. 1994), 91. 23 Para breves refutações da tese romana da determinação do cânon pela Igreja, ver Godfrey, "O Que Entendemos por Sola Scriptura", em Sola Scriptura, 28-31: e R. C. Sproul, “O Estabelecimento da Escritura", em Sola Scriptura, 65-87.
  • 54. 54 SOIA SCRIPTURA Logo no final do primeiro século e início do segundo (até 120 AD), boa parte dos livros do Novo Testamento já era conhecida, citada e inclusive reverenciada como autoritativa nos primeiros escritos cristãos que chegaram até nós. É o caso da carta de Clemente de Roma aos Coríntios, escrita por volta do ano 95; das cartas de Inácio de Antioquia da Síria, bispo que morreu martirizado em Roma entre 98 e 117; da epístola aos Filipenses, de Policarpo, discípulo de João que morreu marti­ rizado, escrita pouco antes do martírio de Inácio; etc. Apenas a segunda e terceira carta de João e a carta de Judas não são mencionadas nesses escritos mais antigos - obviamente por falta de oportunidade, visto serem muito pequenas. Na metade do segundo e no terceiro século, quandojá existe maior abundância de escritos preservados,24 todos os livros do Novo Testamento são citados, e reconhecidos como autoritati- vos, embora a canonicidade de alguns livros seja colocada em dúvida ou rejeitada por um ou outro autor antigo. Orígenes de Alexandria (185-250) e Eusébio de Cesaréia (265-340), seguindo Orígenes, por exemplo, parecem lançar dúvidas sobre Hebreus, 2 Pedro, 2 e 3 João, Tiago e Judas. Nesse período, o assunto da canonicidade dos livros foi debatido e defendido, tendo em vista as posições heréticas, como as de Marcião e outros representan­ tes do gnosticismo. Em 367, Atanásio apresenta uma lista dos livros canônicos do Novo Testamento, incluindo todos os vinte e sete livros, e apenas estes. Finalmente, em 397, no Concilio de Cartago, a igreja reconheceu oficialmente todos os vinte e sete livros, e somente estes, como canônicos. Essa decisão foi ratifi­ cada pelo Concilio de Hipona, em 419. 2) Origem Apostólica Pelo lado humano, a origem apostólica foi, quase certa­ mente, o critério mais importante considerado pela igreja para 24 Tais como os de Justino Mártir (165). Irineu (170), Clemente de Alexandria e Tertuliano de Cartago (200).
  • 55. CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITURAS 55 o reconhecimento da canonicidade do Novo Testamento. Assim como os profetas (no sentido lato) do Antigo Testamento eram a voz autorizada de Deus para o povo - e de algum modo, todos os livros do AT têm origem profética - assim também a origem apostólica autenticava um livro como autoritativo, e consequente­ mente, como canônico. Os apóstolos eram as testemunhas autori­ zadas, escolhidas por Jesus, para o estabelecimento da igreja que surgia. Para os pais da igreja, esse foi o critério mais importante. Fosse possível provar que um determinado livro era de origem apostólica, isso seria suficiente para ser reconhecido como canô­ nico. Por outro lado, havendo dúvida quanto à origem apostólica, fatalmente haveria relutância - como realmente houve - para a aceitação da canonicidade de um livro. O fato é que todos os livros aceitos como canônicos eram de autoria apostólica, ou tidos como de origem apostólica. Marcos está ligado a Pedro (foi até chamado de Evangelho de Pedro), Lucas e Atos provinham da autoridade de Paulo; e Hebreus era também considerado de Paulo; Tiago e Judas, dos apóstolos que tinham esse nome. 3) O Conteúdo dos Livros O conteúdo dos livros também foi um critério importante para o reconhecimento da canonicidade dos livros do NT. Livro algum, em desacordo com o padrão doutrinário e moral, ensi­ nado por Jesus e os apóstolos, seria recebido como autoritativo. Foi assim que vários escritos heréticos foram repudiados pela igreja. Foi com base nessa regra, também, que muitos livros apócrifos foram rejeitados, visto que se encontravam em franco desacordo com o caráter, simplicidade, doutrina e ética dos livros canônicos. 4) As Evidências Internas do NT Embora os critérios acima tenham sido decisivos, as evidên­ cias internas do próprio NT, quanto à inspiração e autoridade de alguns desses livros, revestem-se de especial importância. E claro
  • 56. 56 SOIA SCRIPTURA que nâo se deve esperar encontrar uma lista completa do cânon do Novo Testamento dentro do próprio Novo Testamento. Nào é assim que Deus age. O lado humano da revelação (o instru­ mento) nào é anulado pelo divino. Isso nào ocorre com relação à inspiração (as Escrituras não são “pneumagrafadas”), com rela­ ção à preservação (as Escrituras nào são “pneumapreservadas”), e também não acontece com relação ao cânon (as Escrituras nào são “pneumacanonizadas”). O elemento fé permeia toda a Bíblia, e “fé é a convicção de fatos que se não veem” (Hb 11:1). Isto, entretanto, não significa, de modo algum, que os autores dos livros do Novo Testamento e seus primeiros leitores não tivessem consciência da inspiração desses livros. Algumas pessoas assim afirmam, dizendo que os livros do NT foram inicialmente escritos e recebidos como livros comuns, sem pretensão de inspiração ou canonicidade, por parte dos seus auto­ res e leitores. Contudo, tal afirmação não corresponde aos fatos. Há, no próprio Novo Testamento, evidências claras da inspiração, autoridade e consequente canonicidade desses livros. O apóstolo Paulo nào escreve como alguém que aconselha, exorta ou ensina de si mesmo, mas com autoridade divina, extraordinária. De onde provém a autoridade de Paulo, ao exortar os Gálatas: “Ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos tenho pregado, seja anátema”? (1:8). Ele explica logo a seguir, quando afirma: “O evangelho por mim anunciado nào é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (G1 1:11,12). Que os livros do Novo Testamento nào tinham caráter mera­ mente circunstancial, específico e momentâneo é evidente nas exortações no sentido de que fossem lidos publicamente (o que só se fazia com as Escrituras), e em outras igrejas (1 Ts 5:27; Cl 4:16). Paulo afirma que os tessalonicenses receberam as suas pala­ vras como palavra de Deus; e ele confirma que realmente são: Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palav ra que de nós ouvistes, que é de Deus,
  • 57. CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITUR AS 57 acolhestes não como palavra de homem, e sim, como, em verdade é, a palavra de Deus. a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes (1 Ts 2:13). O apóstolo Pedro também coloca os escritos de Paulo em pé de igualdade com as Escrituras, reconhecendo autoridade igual à do Antigo Testamento: E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada. ao talar acerca destes assuntos, como de fato costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de enten­ der, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles (2 Pe 3:15-16). Em 1 Timóteo 5:18, o texto de Lucas 10:7 é chamado de Escritura, juntamente com Deuteronômio 25:4: “Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o grão (Dt 25:4). E ainda: O trabalhador é digno do seu salário” (Ec 10:7). Os Livros Disputados Como já mencionado, alguns pais da igreja tiveram dúvi­ das quanto à canonicidade de alguns livros do NT. Enquanto a maioria dos livros praticamente nunca teve a sua canonicidade disputada pela igreja, outros sofreram alguma resistência, embora parcial, para serem aceitos como canônicos. Os principais foram: Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Não é difícil compreender as razões dessa relutância, pois cada um desses livros apresenta uma ou outra característica que, de certo modo, justificava o zelo por parte da igreja em averi­ guar mais cuidadosamente a canonicidade deles. Afinal, existiam outros livros cristãos, de conteúdo fiel e ortodoxo, que poderíam ser confundidos, se não houvesse zelo por parte da igreja; a exemplo do que ocorreu com os apócrifos do Antigo Testamento, pela Igreja Católica. Não é muito difícil compreender os motivos que levaram os referidos livros a terem a sua canonicidade disputada. No easo
  • 58. 58 SOLA SCRIPTURA de Hebreus, o problema estava na autoria e estilo. A tradição dizia ser de Paulo, mas não há o nome do autor, como é costume de Paulo. O estilo também não é exatamente o mesmo, embora haja muita semelhança. Com relação a Tiago, a aparente discrepân­ cia doutrinária com as demais cartas e a possibilidade de haver sido escrita por outro Tiago certamente dificultaram o reconheci­ mento da sua canonicidade. A segunda carta de Pedro, além de, por razões desconhecidas, provavelmente haver tido circulação limitada, apresenta alguma diferença de vocabulário e estilo, o que, segundo Jerônimo, foi a causa de alguns pais duvidarem da genuinidade da epístola.25Quanto a Judas e 2 e 3 João, o próprio tamanho, importância relativamente menor, e a natureza mais pessoal das duas últimas, certamente dificultaram a circulação e o reconhecimento delas no cânon —no caso de Judas, a questão da origem apostólica também pesou. Já o livro de Apocalipse, o qual teve aceitação generalizada no segundo século, teve sua canonicidade posteriormente disputada, provavelmente pela dúvida lançada por Dionísio de Alexandria, seguido por Eusébio de Cesaréia, quanto à origem apostólica do livro, devido ao que consideravam diferenças de estilo entre ele e o Evangelho de João - o que o levou a atribuir o livro a algum outro João. E claro que essas dificuldades são todas aparentes. Estilo não pode ser determinante para a identificação de autoria, pois a natureza do assunto pode acarretar mudança de estilo. Além disso, era comum o uso de amanuenses (copistas particulares). Tamanho também não pode ser considerado critério de avaliação: assuntos relativamente menos importantes tornam-se importan­ tíssimos em determinadas circunstâncias - a história da Igreja tem comprovado isso. Quantas vezes as cartas de Judas e 2 e 3 João têm sido de valor inestimável para pessoas e igrejas espe­ cíficas! A “discrepância” doutrinária de Tiago tem sido suficien­ temente explicada; é apenas aparente: Paulo enfatiza a salvação M. C. Tenney, Nuestm Nnevo Testamento: Una Perspectiva Historico Analítica (Chicago: Editoral Moody. 1973), 477.
  • 59. CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITURAS 59 pela graça mediante a té, enquanto Tiago ressalta a evidência da mesma salvação pela graça por meio de obras de té. A relutância por parte de alguns, no terceiro ou quarto séculos, em reconhe­ cer a canonicidade desses livros não deve, de modo algum, ser encarada como necessariamente depreciativa. Pelo contrário, por mais que tenham sido submetidos a teste, até mesmo pelos refor­ madores, esses livros foram aprovados pela história, e encontra­ ram lugar seguro e imbatível no cânon do Novo Testamento. Conclusão Sejam quais forem os critérios que mais influenciaram os pais da igreja no reconhecimento dos livros do Novo Testamento, e apesar da relutância de alguns em aceitar todos os vinte e sete livros, e não obstante o grande número de livros apócrifos que surgiram nos primeiros séculos, o verdadeiro cânon teria que prevalecer. E prevaleceu. Inspirados que eram, tinham poder espi­ ritual inerente. E esse poder manifestou-se de tal modo que todos os ramos do Cristianismo alcançaram unanimidade espantosa, de modo que desde pelo menos Atanásio, o primeiro a apresentar uma lista completa do cânon do NT, até os nossos dias, não tem havido nenhuma objeção realmente séria, nos três principais ramos do Cristianismo, quanto à canonicidade do Novo Testamento. Como bem observa Bavinck: Em Cristo, a revelação de Deus foi completada. Do mesmo modo, a mensagem da salvação está contida completamente na Escritura. Ela constitui uma unidade... Ela termina onde começa... Ela começa com a criação dos céus e da terra e termina com a recriação dos céus e da terra. 26 Bavinck, Reformed Dogmaíics, 491.
  • 60.
  • 61. CAPÍTULO 4 INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, todos dados por inspira­ ção de Deus para serem a regra de fé e prática, que são os seguintes: Gênesis... Apocalipse. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do Canon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos (parágrafos II e III). Além de identificar o eânon, esses parágrafos da Confissão de Fé de Westminster professam também a doutrina da inspiração das Escrituras. Trata-se de uma das doutrinas fundamentais da fé cristã; “um artigo de fé da una e santa Igreja Cristã universal... A inspiração é um dogma, como o dogma da Trindade, da encar­ nação, etc... uma confissão de fé”.12Uma doutrina tão importante que pode ser considerada a base de todas as demais. Colocá-la em dúvida significa duvidar da autoria divina das Escrituras. E, ao se fazer isso, a Bíblia é equiparada aos demais livros de autoria meramente humana. Colocar em dúvida a inspiração de qualquer texto bíblico é lançar fora a Bíblia toda, é abdicar da sua autoridade e inerrância, é rejeitá-la como regra infalível de fé e prática. 1 Ler 2 Timóteo 3 :16 e 2 Pedro 1:20-21. 2 Bavinck, ReformedDogmotics, 435. 436.
  • 62. 62 SOIA SCRIPTURA É verdade que, nos últimos dois séculos, os ventos da alta crítica, do racionalismo e do liberalismo têm soprado violenta­ mente contra essa coluna da fé cristã, com o intuito deliberado de demoli-la. É verdade que em boa parte - talvez até na maioria - dos seminários teológicos da Europa e dos Estados Unidos essa viga mestra da verdade evangélica já foi derrubada. A situação atual das igrejas protestantes nesses países ilustra as implicações dessa postura com relação à doutrina da inspiração da Bíblia. A batalha contra a Bíblia, ressalta Bavinck, não é apenas de natuieza intelectual ou acadêmica, “é, em primeiro lugar, a revelação da hostilidade do coração humano... crer é pelejar".’ Por outro lado, basta uma leitura superficial da história dessa doutrina para se constatar que, desde o início, e no decorrer dos séculos, a igreja se manteve firme na convicção de que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada e, portanto, infalível".34 Era assim que os judeus consideravam a Lei, os Profetas e os Escritos; era desse modo que o próprio Senhor Jesus via as Escrituras. Era essa a doutrina dos apóstolos. Reverência semelhante demons­ tram abundantemente os pais da igreja em seus escritos.5 Essa foi também, sem dúvida, a posição dos reformadores, cujos dois grandes princípios doutrinários foram a justificação pela graça mediante a íé e a suprema autoridade das Escrituras.6.É essa também a doutrina esposada pelos puritanos e pelas confissões de fé protestantes ortodoxas. Ao sustentarmos a doutrina da inspira­ ção verbal das Escrituras, podemos ter a segurança de estar em excelente companhia. 3 Bavinck. Reformei/ Dogmaties. 440,441. Luis Berkhot, Intnxhtcion a Ia Teologia Sistemática (Cirand Rapids: E an­ gelical Literature League, [1973]). 159. Tais como Cleniente de Roma. Inácio de Antioquia, Policarpo, Irineu. Justino o Mártir. Clemente de Alexandria. Tertuliano. Hipólito. Agostinho e muitos outros. Ver Bavinck. Refonned Dogmaties, 402-05. 6 Ibid.. 414-15.
  • 63. CAPITULO 4: INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS 63 DEFINIÇÃO DA DOUTRINA O que queremos dizer quando nos referimos à inspiração das Escrituras? - Que as Escrituras são de origem divina; que, embora a Bíblia tenha sido escrita por cerca de quarenta pessoas, essas pessoas a escreveram movidas e dirigidas pelo Espírito Santo, de tal modo que tudo o que foi registrado por elas nas Escrituras constitui-se em revelação autoritativa de Deus. Não somente as idéias gerais ou fatos revelados foram registrados, mas as próprias palavras empregadas foram escolhidas pelo Espírito Santo, pela livre instrumentalidade dos escritores. “O que os teólogos [de Westminster] queriam dizer com inspiração”, resume Derek Thomas, “é que homens escreveram precisamente o que Deus queria”.78Desse modo, a Bíblia se distingue de todos os demais escritos humanos, pois cada palavra sua é a própria Palavra de Deus; e, portanto, infalível e inerrante. A definição de Warfield abaixo é representativa da doutrina reformada: Inspiração é aquela influência extraordinária e sobrenatural (ou. passi­ vamente, o seu resultado) exercida pelo Espírito Santo sobre os autores dos livros Sagrados, pela qual as palavras deles são também as palavras de Deus, e, portanto, perfeitamente infalíveis? Convém observar que a inspiração distingue-se da revela­ ção especialmente quanto ao propósito: enquanto o propósito da revelação é comunicar as verdades que aprouve a Deus trans­ mitir, o propósito da inspiração é assegurar a infalibilidade do registro daquilo que foi revelado. EVIDÊNCIAS INDIRETAS DA INSPIRAÇÃO Sua Extraordinária Unidade A singularidade da unidade das Escrituras é incontestável, especialmente quando se considera a sua diversidade. São nada 7 Thomas. A isào Puritana das Escrituras, 15. 8 B. B. Warfield, The Works of Benjamin B. Waifield, vol 1. Revelador and Inspiration (Dallas: Ages, 2003), 256.