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Ricardo B. Marques
Um breve testemunho
Ricardo Marques iniciou-se desde a adolescência no espiritismo kardecista, como “médium” de
efeitos físicos. Estudou a obra completa de Allan Kardec, assim como o que existe de mais importante no
espiritismo ocidental, inclusive o que se relaciona a Chico Xavier e outros “médiuns” brasileiros famosos.
Anos depois, passou a estudar também os escritos da “médium” Helena Blavatsky e de outros autores
considerados esotéricos, interessando-se também, a partir daí, pela Filosofia Oriental.
Embora se mantendo fiel ao kardecismo, transitou pela magia e pelo esoterismo. Tornou-se mago,
através do Colégio dos Magos, do qual era membro; foi rosacruz, através da AMORC, e diplomou-se em
Parapsicologia pelo INPAR. Fundou e coordenou o grupo Alpha-7 de Desenvolvimento Mental, em
Fortaleza, assim como a Associação Brasileira para a Era de Aquário, uma das pioneiras do movimento
Nova Era no Brasil, e participou da organização de vários eventos ligados a espiritismo e misticismo.
Ricardo mantinha contatos “mediúnicos” rotineiramente, o que era testemunhado por muitos de seus
amigos, alguns dos quais convivem com ele até hoje. Manifestava fenômenos como telepatia, telecinesia,
praticava a projeção astral (na época chamada “desdobramento”), leitura da aura etc. Recebia “orientações”
de entidades do mundo espiritual, que se identificavam como “espíritos de luz”, “guias espirituais” e
“mestres da sabedoria”. A reencarnação era uma de suas principais convicções, à qual se manteve apegado
até o último instante antes de sua conversão a Cristo.
Confrontado com a Bíblia por dois primos que tornaram-se cristãos, resistiu veementemente à
tentativa de evangelismo, defendendo o espiritismo e a reencarnação com os conhecimentos e as
experiências que havia adquirido na prática daquela filosofia. Desafiado a estudar a Bíblia para poder
contra-argumentar com base, Ricardo mergulhou no Antigo e no Novo Testamento, porém com o intuito de
encontrar inconsistências que pudesse usar contra seus evangelizadores. Contudo, foi chegando o tempo em
que a busca sincera pela verdade, diante de Deus, lhe permitiu detectar incoerências e inconsistências, mas
elas estavam em suas próprias experiências místicas e nos ensinos dos “mestres” que até então vinha
recebendo.
O testemunho de muitos ex-médiuns, ex-espíritas e ex-esotéricos, a exemplo do brasileiro Heber
Soares, sucessor de Zé Arigó, cuja autobiografia está relatada em “Nos Bastidores dos Espíritos”; a norte-
americana Johanna Michaelsen, que fazia cirurgias mediúnicas e é autora de “A Bela Face do Mal” e “Como
Cordeiros para o Matadouro”; o ex-guru indiano Rabi Maharaj, que conta sua história em “A Morte de um
Guru”, e tantos outros, revelaram a Ricardo que as contradições que ele estava detectando não eram “coisas
de sua cabeça”, mas parte de uma verdade espiritual bem distinta da que ele conhecia, e que julgava ser a
certa.
Esses ex-médiuns, que o autor conheceu através de livros, reportagens e palestras, e que
denunciavam o “belo” espiritismo como um engodo sedutor e quase perfeito, e o fato destes mesmos ex-
médiuns dizerem que encontraram a Verdade definitiva no Cristianismo Bíblico, foi reforçando em Ricardo
uma desconfiança a respeito da doutrina espírita e da “sabedoria” esotérica. Passando a estudar a Bíblia,
gradativamente foi descobrindo que havia sido enganado por quase todos os autores místicos que até então
vinha estudando. A culpa, porém, era sua, por acreditar sem investigar a fundo.
A Bíblia promete que, ao se buscar o Caminho com sinceridade de propósitos e sem preconceitos, o
Espírito Santo de Deus revela a Verdade ao coração do buscador, levando-o à conversão genuína e à
redenção pela graça, através de Jesus Cristo. Trata-se de uma experiência pessoal, intransferível, que não
envolve merecimentos (por isso Jesus referia-se como “a graça de Deus”) nem pode ser mediada por
nenhuma igreja ou sociedade religiosa, nem por qualquer pessoa, viva ou morta, santa ou não, religiosa ou
não. É assunto exclusivo entre a pessoa tocada, e o próprio Deus feito homem, Jesus: “Eu Sou o Caminho, a
Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai, se não for por Mim” (Jesus, em João 14:6); “Há um só mediador
entre Deus e os homens: Jesus Cristo” (Paulo, em Atos 14:6); etc.
Foi o que aconteceu com Ricardo: inicialmente – e após muita resistência – sofrendo um processo de
“convencimento” intelectual, diante dos fatos com que se deparou, e finalmente compreendendo as
incoerências e contradições do espiritismo e da doutrina cármica, acabou voltando-se para o lado oposto de
tudo aquilo que, bem intencionado, havia aprendido e ensinado. Assim, Ricardo foi levado a converter-se
genuinamente a Jesus Cristo (a quem imaginava “seguir” através do espiritismo) e assim encontrar a
Verdade Absoluta. Hoje é um cristão convicto, havendo renunciado às crenças e práticas espiritualistas,
como tantos outros que se empenham atualmente em esclarecer espíritas bem-intencionados sobre o engano
em que estão envolvidos.
Ricardo Marques é biólogo, paleontólogo, educador, psicanalista clínico e neuropsicólogo, com
formação em neurociências e comportamento, e mestre em Ciência (M. Sc); além de professor universitário,
criou e lecionou disciplinas em seminários teológicos, como Lógica e Crítica da Religião (Seminário
Teológico Batista do Ceará), mas sempre foi e é de opinião que conhecimentos e títulos são, como diz o
autor de Eclesiastes, “vaidade” e “correr atrás do vento”, sem qualquer serventia em se tratando do
entendimento da realidade, especialmente da realidade espiritual. Nessa área o que conta é a humildade e o
despir-se da vaidade e dos preconceitos; é, como disse Jesus, “negar-se a si mesmo”, tirando a nós mesmos,
e ao homem, do centro das atenções, substituindo-nos pelo Deus único, perfeito e infinito. Usando nosso
livre-arbítrio dessa maneira, o verdadeiro Jesus recebe “sinal verde” para revelar-se a nós. Você crê nisso?
Ricardo é casado com Ana Carmem, pai de dois filhos; fez voto de viver vida simples e não é rico
materialmente; mas, é muito, muito feliz.
O mito do eterno retorno
Reflexões de um ex-espírita e ex-esotérico sobre o
pensamento “espiritualista” e a reencarnação
RICARDO B. MARQUES [1]
Antes de entrarmos diretamente no assunto reencarnação, importa que tracemos um breve pano de fundo
para o mesmo, situando o tema em seu contexto original: o das tradições mágico-religiosas e as miríades
de movimentos, organizações e pessoas que reivindicam para si a detenção da verdade primeira.
Comecemos por mencionar como a maioria dos “pesquisadores” espíritas, que afirma categórica e
apaixonadamente a reencarnação como uma “verdade indiscutível”, utiliza-se da mesma “técnica” dos
esotéricos para conquistar adeptos: apresentam “fatos incontestáveis” de suas crenças e citam exemplos
de grandes personalidades que, segundo eles, teriam aderido aos seus ensinos.
Isso nos remete principalmente ao espiritismo esotérico, que costuma tentar legitimar suas crenças através
da citação de manuscritos e pergaminhos antigos que conteriam revelações sobre a real natureza da
Verdade, dando a entender que aquilo em que os cristãos cremos através da Bíblia ou da religião não
passa de deturpações de uma sabedoria original milenar. Estes manuscritos seriam a “prova” definitiva de
que, por exemplo, o cristianismo bíblico (termo que usaremos para que se diferencie do
pseudocristianismo, religioso, institucionalizado e meramente humano) nada mais é do que um fragmento
da Verdade, supostamente distorcido, e que somente os “iniciados” nesse alegado “conhecimento antigo
secreto” seriam capazes de nos reconectar à Verdade suprema.
O problema é que, quando perguntados sobre onde estão tais manuscritos, fala-se então, a exemplo da
“médium” russa Helena Blavatsky (mãe do esoterismo “moderno”), em “mosteiros secretos” escondidos
nos confins de “abismos perdidos” do Himalaia e de outras paragens… Enfim, totalmente impossível de
se comprovar. Conveniente, não?
O mais curioso é que as próprias miríades de facções esotéricas assumem cada uma para si a prerrogativa
de detentoras dessa “sabedoria milenar”, em geral relacionada a civilizações míticas de um passado não
comprovável, e sequer se constrangem com o fato de que seus discursos não se harmonizam entre elas
mesmas, pondo em dúvida a legitimidade das “verdades” por elas reivindicadas.
Por exemplo, os rosacruzes citam cientistas como Isaac Newton, Michael Faraday e Albert Einstein como
tendo pertencido à sua organização. Sabe-se historicamente que Newton e Faraday eram cristãos de
orientação protestante e que discordavam publicamente desse tipo de misticismo. Como poderiam
pertencer a uma sociedade mística que prega pontos profundamente conflitantes com o cristianismo
bíblico ao qual confessavam? Seria um contra-senso. Óbvio, os rosacruzes criaram esses boatos para
tentar dar alguma legitimidade aos seus ensinos – prática, aliás, bastante comum em fazedores de crenças.
Pelo mesmo motivo, a maioria das filosofias, organizações e seitas sem um rastro visível na história
insistem em elaborar para si origens ligadas a sábios respeitados da Antigüidade ou a seres que estariam
“acima de qualquer suspeita”.
Ainda no exemplo anterior, os próprios rosacruzes, sejam eles da Amorc, da Rosa Cruz Áurea ou outra
qualquer, se dizem (embora uns contradigam os outros) os verdadeiros e legítimos porta-vozes de uma
sabedoria secreta originária dos antigos faraós e sacerdotes egípcios. Entretanto, não é estranho que
nenhum egiptólogo jamais tenha encontrado qualquer sinal de crenças, práticas ou rituais que sequer se
assemelhem aos ensinos rosacrucianos?
Os defensores mais recentes da reencarnação, sejam kardecistas ou esotéricos, apelam comumente para o
“fato” (sic) de que essa crença estava presente em quase todas as religiões e culturas antigas, bem como
nas diversas culturas indígenas pelo planeta afora. São freqüentes as afirmações do tipo: “antropólogos
encontraram provas na cultura dos trogloditas da crença na reencarnação” (dita por um palestrante – e
testemunhada por mim – num Encontro sobre Reencarnação ocorrido na Universidade Estadual do Ceará,
em 1995); “civilizações antigas criam na reencarnação, como os persas, os egípcios, os babilônicos, os
assírios …” (idem).
A maior parte das pessoas tem por hábito acreditar sem averiguar e, por isso, ficam impressionadas com
informações como estas, citadas em palestras, documentários ou veiculadas em jornais e revistas. Ficam
embevecidas especialmente se as informações forem, por algum motivo, coniventes com os interesses
particulares e preferências de quem as escuta.
Contudo, quem entende de um pouco de História Comparada das Religiões, saberá que, entre culturas
como a persa, a egípcia, a babilônica, a assíria etc., apesar de altamente místicas, nenhuma delas cria em
reencarnação. A doutrina simplesmente não existia, nem mesmo numa forma primitiva. Igualmente as
culturas indígenas não incluem a reencarnação entre suas crenças, apesar de possuírem um marcante
elemento espírita (crêem no contato entre os vivos e os mortos). Apesar disso, os divulgadores da
reencarnação insistem em usar esses falsos argumentos para convencer incautos mal informados.
Na verdade, os hindus e os gregos primitivos foram as únicas civilizações pré-cristãs que criam em algo
parecido com a reencarnação (alguns povos asiáticos herdaram a crença da reencarnação a partir do
budismo, que, por sua vez, foi adaptado do hinduísmo, como veremos adiante) – e, curiosamente, de uma
forma bem distinta da defendida por Kardec, o responsável por introduzir essa crença no Ocidente, e num
contexto pseudocristão. Os compêndios de Filosofia esclarecem que a idéia grega de “metempsicose” ou
transmigração da alma não era exatamente uma crença na reencarnação, e sua influência sobre esse credo
foi bastante limitada.
Historicamente os especialistas apontam os hindus como responsáveis pela elaboração deste dogma
religioso, criado numa cultura dominada pelo temor a miríades de deuses terríveis e por castas sociais
opressoras. A reencarnação aparece em determinado momento da história hindu através da “lei do
karma”, sendo praticamente unânime a interpretação dos historiadores da filosofia de que os criadores
dessa “lei” teriam sido membros da casta sacerdotal dominante na sociedade hindu – o que era bastante
conveniente. Estes senhores, através da reencarnação, justificavam sua posição social e assim evitavam
questionamentos por parte do povo oprimido que, àquela altura, parecia ameaçar o poder.
A “lei do karma” foi ensinada para o povo como uma lei natural cósmica, que governava os mundos e as
vidas. A alma seria uma essência etérea separada do corpo físico, mas a ele aprisionada. Dependendo do
tipo de vida que se levasse em determinada encarnação, poder-se-ia retornar na próxima vez numa forma
melhor ou em uma pior, podendo a alma encarnar em forma humana, animal, vegetal e até mineral. A
vaca é vista por eles, até hoje, como a forma física mais divina e próxima da perfeição, e todo hindu
sonha em um dia nascer como vaca (vide a autobiografia do guru indiano Rabi Maharaj, convertido a
Jesus, em seu livro A Morte de um Guru; ali, Maharaj fala com profundo conhecimento de causa, e chega
a ridicularizar a “lei do karma” e a doutrina da reencarnação, tamanha sua decepção quando se descobriu
enganado).
A reencarnação, portanto, é vista pelos hindus como uma grande “roda de vidas” que gira sem fim, à qual
todos os seres vivos estaríamos escravizados. Isso mesmo: no conceito hindu de karma, a reencarnação é
uma desgraça, uma escravidão da alma da qual cada ser humano deveria sonhar em encontrar uma forma
de se livrar.
Seriam bilhões e bilhões de encarnações sucessivas, uma prisão para a alma que anseia escapar dessa
“lei” e unir-se a Krishna, uma energia universal impensante e imaterial, que permeia todo o cosmos. Entre
Krishna e os seres vivos, haveria dimensões intermediárias habitadas por milhões de deuses
antropomórficos, monstruosos e perversos, aos quais devem ser prestadas adorações e oferendas visando
aplacar-lhes a ira. Esta é a única e verdadeira história da origem da crença na reencarnação.
Havia tantas crenças distintas entre os hindus quantos eram seus deuses. Entre estas, algumas foram
desenvolvidas por mendigos peregrinos, que, desejosos de escapar da submissão às castas dominantes e
da “roda viva das reencarnações”, afirmaram haver criado técnicas que elevariam o homem a categorias
espirituais superiores, evitando que a vida presente contribuísse com mais pontos negativos para o
“karma” que lhes era imposto. Vem daí a meditação transcendental e os vários tipos de ioga.
O objetivo de tais práticas é “neutralizar” a mente, esvaziando-a de qualquer pensamento, e mortificar o
corpo, privando-o do acesso a qualquer tipo de prazer – privando-se do mundo e dos prazeres, aumentam
as chances de um “karma positivo” e, portanto, de menos reencarnações ruins. Nessa busca, não são raros
os iogues e gurus que chegam à morte por sede e fome (embora muitos deles sejam apenas oportunistas,
que se aproveitam da credulidade dos fiéis seguidores). No livro A Morte de um Guru, Rabi Maharaj
testifica como seu pai se orgulhava de conseguir ficar semanas sem comer, beber, fazer sexo, pensar etc.
E confirma como a família ficou feliz quando ele morreu nessa condição, todos achando que o pobre
homem poderia reencarnar como um pássaro ou até uma vaca, sinal de que haveria evoluído, e não
regredido.
Um dos grandes responsáveis pela difusão da idéia de reencarnação foi Sidarta Gautama, o Buda
(“Iluminado”). Era um jovem príncipe, riquíssimo, que vivia no palácio de seus pais com todas as regalias
e impedido de ver o mundo exterior para não se chocar com a pobreza e a desgraça que reinava lá fora.
Um dia ele saiu e não quis mais voltar. Peregrinou como mendigo por várias paragens, não conseguindo
compreender o sofrimento humano e insatisfeito com as respostas da sua religião, o hinduísmo
tradicional.
Sidarta começou suas caminhadas como um iogue (a ioga era uma forma radical de hinduísmo, praticada
pelos pobres, enquanto os ricos adotavam um hinduísmo mais erudito, chamado brahmanismo). Porém,
não encontrando resultados, disse haver descoberto uma prática intermediária, menos radical que a ioga, e
menos erudita que o brahmanismo, à qual chamou de madhyama (o caminho do meio). Através desse
“caminho”, Sidarta buscava atingir um estado de “iluminação plena”: desapegar-se dos bens materiais,
dos prazeres mundanos e mergulhar na compaixão que une todos os seres do universo. Este estado foi
apelidado de boddhi (despertar ou iluminação), no qual uma pessoa se desfaria de todas as ilusões do seu
ego e entraria no nirvana – isto é, através da meditação, os sentidos, prazeres e temores cessam, dando
lugar à serenidade e a um estado de consciência perfeito. Aquele que atinge o boddhi e entra no nirvana,
torna-se um buddha (iluminado), alguém que alcançou a perfeição mental e disciplinar máxima. Um
buddha seria capaz de contemplar todos os seus karmas e encarnações anteriores, conhecendo sua
verdade pessoal e, estando no nirvana, seria possível retornar ao “estado original do ser”, vendo-se
“inteiro” e ilimitado, com a consciência finalmente unindo-se ao cosmos.
Sidarta dizia haver atingido essa condição, e por isso passou a ser conhecido por seus discípulos como
Buda. Assim, cercou-se ele de alguns discípulos e saiu a pregar sua doutrina, que continuou
consideravelmente semelhante à dos hindus, com algumas adaptações.
Apesar de haver sido “inventado” antes de Cristo, foi apenas por volta de 500 d.C que o budismo
espalhou-se pela Ásia oriental, tornando-se a religião mais praticada naquela parte do continente, como é
até hoje. Nesse tempo a igreja cristã, ainda não totalmente dominada pela religiosidade institucionalizada,
já se espalhara pela Europa e Ásia ocidental. Com o hinduísmo, a crença na reencarnação, criada pelos
altos sacerdotes com o fim político de conter a insatisfação das castas inferiores, fazendo-as crer que era
seu “destino” sofrer e servir às castas superiores, nunca se propagou além das fronteiras indianas e
circunvizinhanças. Mas através do budismo, religião-filha do hinduísmo, essa doutrina oriental da
“escravidão da alma à matéria” veio a se espalhar por toda a Ásia e, mais recentemente, fora dela.
Um fato importante: o Cristianismo bíblico é a única religião da história cujas doutrinas provêm de
revelações proféticas atestáveis e de pregações da boca de um Homem que, em meio a milagres
extraordinários e inigualáveis, apresentava-se como o Messias prometido (o próprio Deus vindo em forma
humana) para redimir a humanidade, podendo-se histórica e teologicamente se demonstrar que em Jesus
Cristo se cumpriram todas as profecias messiânicas do Antigo Testamento. Entretanto, o budismo foi
apenas mais uma manifestação mística em que um homem comum – embora sábio – formulou crenças
que eram produto exclusivo de suas reflexões pessoais. Essa comparação é importante porque deve, no
mínimo, gerar dúvidas a respeito da confiabilidade de certos dogmas humanos que se propõem a assumir
status de Verdade.
Muitos desses detalhes históricos sempre foram e são omitidos do público ocidental pelos gurus que
vieram para cá fazer fortuna, fugindo da miséria em que viviam no Oriente; assim como foram também
omitidos por Kardec, que adaptou convenientemente a estranha doutrina oriental da reencarnação ao
racionalismo cristianizado da sociedade do Ocidente. Caso as coisas fossem mostradas como realmente
são, sem dúvida muita gente se daria conta da profunda incoerência e insustentabilidade de várias destas
crenças, que hoje são “vendidas” em roupagens tão agradáveis e convenientes – chega-se ao cúmulo de
serem apresentadas como crenças “cristãs”.
Note-se que a reencarnação ensinada por Kardec tem abordagem radicalmente contrária à ensinada pelos
orientais, que curiosamente são os autores da doutrina. Por exemplo, Kardec disse haver recebido dos
“espíritos” o ensino de que a reencarnação é uma dádiva celestial, uma oportunidade contínua para que o
espírito evolua, se redimindo dos erros cometidos em outras vidas. Já as “entidades espirituais” orientais
ensinaram aos mestres hindus e budistas que a reencarnação é uma desgraça cósmica, uma escravidão
sem fim da qual a alma só se liberta através de uma vida monástica, de intensa privação. Alem disso,
Kardec pregava que apenas as pessoas reencarnam, e sempre na forma humana, enquanto a tradição
oriental crê que o retorno pode se dar em quase qualquer forma material. Mais: os orientais não crêem em
um Deus pessoal, que se relaciona com Sua criação, e imaginam que a lei do karma é um fenômeno da
própria natureza, que a alma liberta das encarnações une-se a uma “força” cósmica impessoal, uma
“energia”. Em contrapartida, Kardec “cristianizou” a reencarnação, colocando-a como uma espécie de
justiça divina baseada no mérito pessoal, e pondo Deus como o controlador do processo.
Como sempre, as “provas” que os defensores da reencarnação oferecem não existem – são afirmações
fantasiosas feitas estratégica ou ingenuamente pelos defensores de idéias anticristãs (em alguns casos,
deve-se ressaltar, muitas destas pessoas são bem-intencionadas, é claro). Já pessoas como Kardec e
Helena Blavatsky (criadora da Teosofia, corrente esotérica explicitamente rival do Cristianismo bíblico),
entre tantos outros menos célebres, se utilizaram desse expediente enganoso por saberem que a grande
maioria do público iria crer por necessidade, conveniência ou simpatia, não importando a Verdade.
O resultado seria bem outro, caso as pessoas partissem para a investigação, se quisessem mesmo saber se
as alegações dos reencarnacionistas são verídicas; caso averiguassem se determinadas personalidades
realmente disseram o que lhes é atribuído por aí, a exemplo de se culturas antigas criam mesmo naquilo
que os místicos dizem que elas criam, se as “provas” citadas por essas pessoas existem mesmo, etc.
Enfim, se fosse esse o posicionamento das pessoas curiosas pela Verdade, o engodo a que estamos
expostos dia após dia seria percebido bem mais facilmente.
Os defensores da reencarnação e do espiritismo acham, mas pouco ou quase nada conhecem sobre a
doutrina cristã e bíblica. Criticam um suposto Deus perverso, a figura de um diabo com chifres e tridente,
o inferno dantesco, o paraíso ocioso, as idéias opressoras da idade média, a entrada dos bons no céu e a
condenação dos maus ao inferno… Rejeitam o Cristianismo bíblico por causa de crenças como estas. Só
que muitas destas crenças estão erradas nessas concepções, pois o autêntico Cristianismo bíblico nunca
pregou isso. A religião “cristã” institucionalizada, secularizada e sincrética, mais especificamente a igreja
católica romana (por ter sido a mais influente), que se diz representante do cristianismo, mas ensina
coisas que Cristo nunca ensinou, esta sim, talvez seja uma das maiores responsáveis por tais distorções. E
certos setores ditos “protestantes” também possuem parcela de culpa nessa confusão toda, o que se agrava
ainda mais com as várias seitas pseudocristãs, a exemplo das Testemunhas de Jeová e dos Mórmons
(“Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”), dentre outras.
Afirmações como “Agostinho cria na reencarnação” e “a mensagem de Jesus era reencarnacionista, mas
os poderosos a modificaram e deturparam” são apenas mais alguns exemplos de colocações feitas pelo
espiritismo, mas que não possuem qualquer base de sustentação. Todas as evidências existentes deixam
muito claro que o teólogo cristão Agostinho abominava o espiritismo, e que Jesus alertou mais de uma
vez contra as estranhas doutrinas que viriam “em Seu nome”, às quais Ele próprio taxou de
“demoníacas”. Uma pena serem poucos os que resistem ao que ouvem uma primeira vez e, numa atitude
sensata, resolvem averiguar. Os que assim procedem, escapam da armadilha.
O que dizer do curioso fato de que até o movimento espírita inglês combateu incansavelmente a
doutrina reencarnacionista, quando esta começou a ser divulgada pelo espiritismo francês,
elaborado e promovido por Kardec? Hyppolite Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de Allan
Kardec, adaptou o dogma hindu-budista para o Ocidente, pois sabia que a sociedade ocidental,
pseudocristã, rejeitaria a “lei do karma” como era no seu sentido original. Porém, nem todos os espíritas
sucumbiriam à arguta argumentação do inteligente Kardec.
Os espíritas ingleses não admitiam a doutrina inventada por Kardec, não acreditavam na alegação de que
ela havia sido “transmitida a ele por espíritos de luz”, e consideravam aquela crença do espiritismo
francês como altamente injusta. Por exemplo, Conan Doyle [2], que seguia a linha do espiritismo inglês,
juntamente com outros expoentes do espiritismo não-kardecista, argumentou o seguinte, em um debate
público:
“se uma pessoa tem sua vida atual determinada pelo seu passado; se ela paga nesta vida por aquilo
que fez numa anterior; e se ela tem sua memória física apagada de uma vida para outra, então a
reencarnação, como, aliás crêem os hindus, isenta o homem da responsabilidade por seus atos,
inocentando-o de quase qualquer atrocidade que cometa, o que é inaceitável. É também altamente
injusta porque nos faz pagar, numa suposta outra vida, por coisas que sequer temos consciência de
termos feito; tal dogma é, ao nosso ver, a mais terrível das crenças”.
Isso me lembra uma história curiosa contada por um amigo espírita, quando viajávamos para os EUA em
1995. Segundo ele, no hospital em que trabalhava havia uma enfermeira que demonstrava não gostar dele
desde a primeira vez que o viu. O mesmo ele sentia por ela. Então, numa sessão espírita, um médium
revelou-lhe que, numa “vida anterior”, este meu conhecido e a referida enfermeira teriam sido inimigos
ferrenhos. Na opinião deles, as experiências de cada “encarnação” ficam, de certa forma,
inconscientemente gravadas na “memória do espírito”, chegando a influenciar fortemente a vida presente
do indivíduo, suas atitudes, reações e assim por diante.
Não é curiosa essa visão das coisas? Convenhamos: se assim o fosse, então as pessoas não podem ser
culpadas de muitos de seus erros e nem pelos seus crimes. Afinal de contas, segundo o espiritismo, nossas
ações e até nosso destino estariam determinados pelos acontecimentos das “vidas passadas” que tivemos.
Trata-se de um fatalismo sem precedentes: se uma criança morre devido a maus tratos, ou se pessoas são
massacradas num ato terrorista, é porque essas pessoas estariam “pagando” por atos cometidos em vidas
anteriores, estariam “equilibrando a balança do karma”, ou mesmo respondendo, vingativamente, por
sofrimentos que lhe foram causados por terceiros. Logo, quem maltratou a criança, e quem praticou o
terror, não passariam estes de simples peças de uma engrenagem cósmica, cumprindo seu destino pré-
programado? Que culpa teriam de fazerem parte dessa “máquina cósmica” e de terem sido “escolhidos”
para causar dor e sofrimento a alguém?
Suponhamos, para exemplificar, que numa “encarnação anterior” você e seu vizinho foram, na verdade,
grandes inimigos. Imagine que ele, naquela “outra vida”, matou toda a sua família de forma bastante
cruel, diante dos seus olhos, e depois o torturou até a morte. Seu espírito, é claro, ficaria com esse terrível
trauma registrado – inconscientemente – na memória. Só que, nesta “vida atual”, você não se lembra
disso, mas seu “espírito” sente-se incomodado com a presença do vizinho, sem saber bem por quê. Então,
um dia seu “espírito” tem um acesso de cólera de tanto “lembrar” (no inconsciente) da imagem do vizinho
realizando as atrocidades feitas na “encarnação passada” e, descontrolado, seu corpo físico descarrega
uma arma no vizinho, que estava ali perto, ingenuamente cuidando do jardim.
A polícia chega e prende você, terrível assassino. Mas, nesse caso, você não teria culpa nenhuma do que
fez! Afinal de contas, foi um evento inconsciente, ligado ao seu espírito e a fatos de “vidas passadas”. Se
soubessem da sua história, as pessoas, na verdade, teriam pena de você, por tudo o que passou com sua
família nas mãos daquele “homem terrível” que você acabou de matar – é fato que a vítima não sabia de
nada, estava ali cantarolando e regando as plantas… Mas, de alguma forma, você sabia que um “espírito
mal” estava dentro daquele corpo, não é? Você não teve controle sobre a situação, por isso o matou.
Como pode ser condenado pelo crime que cometeu?
Nessa perspectiva, poderíamos todos ser inocentados dos males que cometemos. Afinal, quem nos
garante se os males que fizemos não foram resultado de conflitos internos do nosso “espírito”, em meio às
confusas influências de “encarnações passadas”? Quem nos garante se Adolf Hitler não foi, na verdade,
um corpo habitado por um espírito escolhido pelos poderes do além para causar sofrimento intenso a
milhões de pessoas, a fim de que estas pagassem pelos males por elas cometidos em encarnações
anteriores? Assim, todo o Holocausto deixaria de ser um horrendo acontecimento, para tornar-se um
simples destino cármico, um ato de expiação, do qual ninguém era culpado e ninguém podia escapar…
Percebe-se, ao se usar um pouco de raciocínio lógico e bom senso, o disparate que é a teoria
reencarnacionista, a ponto de os espíritas ingleses, mesmo participando da prática de consulta aos mortos,
que também é abominável para Deus [3], jamais a terem aceitado.
Outro fato marcante é o das palavras do próprio Jesus nunca serem citadas quando os espíritas emitem tão
veementemente suas opiniões sobre inferno, céu, Satanás e pecado. Omitem, selecionam e, quando
confrontados, usam convenientes sofismas, dizendo que “foi modificado”, “foi deturpado”, “é alegoria” e
assim por diante.
Cabe aqui a necessidade de os cristãos esclarecidos chamarem os espíritas à racionalidade e fazê-los
pensar na lógica e coerência (ou na falta delas) de seus posicionamentos. Na prática, o coerente seria crer
em tudo o que a Bíblia diz e ser um crente, ou negar a Bíblia inteira e ser ateu. O que não dá é ficar
selecionando só o que é conveniente àquilo em que se acredita, dizendo que alguns trechos bíblicos são
inspirados por Deus, enquanto outros, do mesmo autor e fonte, são desprezados, simplesmente porque
não combinam ou soam inconvenientes ao interesse da pessoa. (Atenção: é típico dos espíritas dizerem
que crêem na Bíblia e que o espiritismo é “baseado” na Bíblia, mas evidentemente isso não passa de uma
falácia).
É, de fato, um problema essa falta de lógica como parte da cegueira espiritual que impede o homem de
crer – é “o véu” que a Bíblia diz cobrir os rostos dos descrentes, impedindo-os de entender. Mas há
diversas outras dificuldades: a ignorância e não averiguação do que é dito por Kardec e por outros; o
desconhecimento quase total dos mais elementares princípios da exegese e da hermenêutica; a ignorância
dos princípios bíblicos mais simples e a confusão com dogmas católicos medievais (“cão” com chifre,
inferno como castigo para os maus, Deus perverso etc.); a falta de uma mente crítica, de lógica e de
raciocínio analítico em relação aos próprios equívocos propagados pelo espiritismo (caso do livro em que
o “espírito” Ramatís usa o médium Hercílio Maes para falar sobre “A Vida no Planeta Marte [4]”); o fato
de a crença espírita ser uma das que se fundamenta no emocional, no que soa mais “agradável” e
conveniente (ver 2ª Epístola de Paulo a Timóteo, cap. 4 [5]); todos estes e muitos outros são aspectos
sobre os quais as pessoas deveriam refletir, e os cristãos genuínos deveriam saber lançar mão, quando, por
amor, pretenderem abalar os alicerces de areia do espiritismo e de sua doutrina fundamental, a
reencarnação.
Foi dito numa palestra que as religiões não conseguiram dar respostas satisfatórias, e que o espiritismo o
fez. Em parte, isso é verdade, se levarmos em conta que as religiões parecem ser realmente inaptas e que
o espiritismo satisfaz porque dá as respostas que as pessoas desejam ouvir, e não exatamente as que
correspondem à Verdade.
Falam os espíritas que a Bíblia não tem sustentação como revelação de Deus. No entanto, mostram um
domínio extremamente superficial das Escrituras, indicando que não a conhecem como deveriam e,
portanto, estão incapacitados para opinar sobre ela. Estranhamente, dizem crer em Cristo, ignorando que a
Bíblia, na qual desacreditam (lembrem-se da falácia), é praticamente a única fonte histórica e doutrinária
confiável que fala sobre Ele; logo, se a Bíblia é falsa, como saber se Jesus existiu mesmo, assim como os
profetas e apóstolos? E se, uma vez confrontados com esse argumento, os espíritas tentarem alegar que
aceitam apenas uma parte da Bíblia, não é estranho que as partes por eles escolhidas são justamente
aquelas que eles extraem do contexto na tentativa de apoiar suas doutrinas? Como acontece com quase
todas as seitas, trechos bíblicos são isolados e citados fora do todo em que estão inseridos – dessa
maneira, qualquer interpretação é possível.
Espíritas e médiuns famosos, como o brasileiro Héber Soares, a norte-americana Johanna Michaelsen e
muitos, muitos outros, converteram-se do espiritismo para o Cristianismo bíblico, passando a acusar a
doutrina de Kardec de “o belo lado do mal” ou “mal disfarçado de bem”. Jesus disse que os demônios
são seres físicos reais, anjos caídos liderados por um deles (originalmente Lúcifer, depois apelidado de
“Satanás”, que significa “Adversário”), falou de sua natureza e como age, que trabalha com engodos [6],
chamou-o de “pai da mentira e do engano”, mestre de estratégias, e que precisamos nos precaver em
relação e ele – e isso sem alegorias. Em sua Epístola de Paulo aos Efésios, no capítulo 6, Paulo nos fala
de Satanás, dos principados e potestades, do kosmokrator (sistema mundano) planejado e implementado
por estes seres. Numa carta aos cristãos de Corinto, Paulo alerta inclusive para o fato de que o diabo se
disfarça de bem (“espírito de luz”) para atrair os incautos.
Existem certos aspectos ligados ao que se chama atualmente de “igrejas” que devem ser bem entendidos.
A igreja católico-romana constituiu-se mediante um sincretismo que mesclou um cristianismo deturpado
com paganismo romano, de onde surgiram diversos dogmas da igreja romana, profundamente paganizada
e envolvida em interesses políticos. E parte das igrejas chamadas protestantes (descendentes diretas da
Reforma de Lutero e do movimento de Calvino), embora não sincréticas como a católico-romana, tiveram
como agravante um histórico envolvido com interesses políticos, territoriais e materiais, inclusive
sofrendo influência considerável dos interesses capitalistas, entre outras coisas. E mesmo algumas igrejas
ditas “evangélicas”, muito comuns atualmente, no Brasil, são acometidas por uma “cultura” de alienação
e certa dose de fanatismo. Mas precisa ficar muito claro que estes desvios não podem ser confundidos
com as doutrinas cristãs originais, seguidas pela igreja primitiva, preservadas até hoje, quase
incólumes e a muito custo, por alguns raros grupos cristãos abnegados e fiéis, que a própria Bíblia
chama de “remanescentes” e que, sem que percebam isso claramente, Deus os faz sempre presentes
na História. Estes grupos, inclusive, são ainda pouco conhecidos, nos seus ensinos, pelos espíritas,
devido à parcialidade dos “pesquisadores” adeptos de Kardec e de outros expoentes dessa área, que
filtram as informações veiculadas às crédulas e bem-intencionadas vítimas do espiritismo.
Ainda falando da igreja romana, um dos dogmas não-cristãos acrescentados por ela é o da prática das
boas obras como exigência para o homem conquistar a salvação eterna. Assemelha-se bastante à crença
kardecista de que “fora da caridade não há salvação”. Embora a caridade exigida pelo catolicismo
restrinja-se a essa vida, e a caridade cobrada pelos kardecistas possa ser praticada ao longo de “vidas
sucessivas”, ambas têm um elemento comum: neutralizam por completo a obra redentora de Cristo,
conforme ensinada pelo próprio Jesus nos evangelhos, que é baseada na Graça de Deus.
A Graça parte do princípio inalienável de que nenhum homem pode conquistar o céu por mérito próprio,
e que, seja bom ou mal, somente é redimido se for de graça, através de decisão pessoal, consciente, em
crer e aceitar a obra expiatória realizada pelo Messias, Jesus, o Cristo. Somente por meio de
arrependimento e dessa conversão a Jesus, por meio exclusivo de uma fé viva, operante, despretensiosa e
pessoal, em Sua pessoa e obra, é que um criminoso ou um santo podem entrar no Reino dos Céus. Se
fôssemos conquistar a vida eterna por mérito, estaríamos perdidos, pois Jesus disse: “o mundo inteiro jaz
no maligno”, e “não há um justo sequer, nem sequer um”. Todos que pensam serem justos, até o mais
santo dos homens ou mulheres, têm dentro de si muitos pecados, muita sujeira a ser lavada. Por isso
carecemos da graça amorosa do bondoso Deus. Se fosse por mérito, seríamos literalmente fulminados.
Para o cristão bíblico, as obras são fundamentais, é claro. Obrigatórias, até. Contudo, têm de ser
praticadas por coerência, como fruto da vida cristã, como marca de quem ama e se dá sem esperar nada
em troca. Jamais para se “comprar” a redenção. Tudo isso é muito bem explicado na Bíblia, como, por
exemplo, por Paulo em sua Carta aos Romanos, e também na Carta aos Gálatas. Interessante recordar
que, a um criminoso que se converteu na hora de morrer, numa cruz ao lado da de Jesus, o Senhor lhe
disse: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. E a muitos homens santos, até a líderes religiosos do povo,
indagado sobre como fazer para ter a vida eterna, Jesus respondeu-lhes: “Se não fizerdes o vosso coração
simples como o de uma criança, e não vos converterdes, não verás o reino de Deus”.
O autor do livro de Hebreus, no Novo Testamento, fala, no capítulo 9, versículo 27, que “ao homem está
ordenado morrer uma só vez, vindo depois disso o juízo”. Por causa desse incômodo trecho,
principalmente, ouve-se de espíritas que o livro de Hebreus não deve ser considerado “Palavra de Deus”.
Muitos estudiosos da Bíblia atribuem a autoria de Hebreus ao apóstolo Paulo, que os espíritas
inacreditavelmente consideram ter sido um grande “médium”. Só que Paulo não fala sobre isso apenas em
Hebreus 9:27. Ele diz, por exemplo, em Efésios 2: 8,9 (Efésios não tem sua autoria questionada), que “a
salvação é obtida de graça, exclusivamente pela fé em Cristo; não pode ser conquistada por mérito
próprio, é um dom de Deus. Não pode ser obtida pela prática das obras, isso para que ninguém se
glorie”. E na carta aos Gálatas, Paulo diz: “Se a salvação da alma é pelas obras (caridade), conclui-se
que Cristo morreu em vão”. Aqui mereceria um estudo particular sobre o verdadeiro significado da
caridade para Deus e para o cristão genuíno, conforme a Bíblia, e que é bem diferente do que representa
para o espiritismo e até para o catolicismo romano.
Falando-se em inconsistência de argumentos e falsas “provas” da reencarnação, retomemos rapidamente o
fato já discutido de que os sábios hindus receberam de suas “divindades” o ensino de que a reencarnação
é uma escravidão da alma, chamada “roda do karma”, e que somente pela aniquilação do eu e dos
sentidos via meditação é possível ao homem livrar-se desse terrível castigo. Foi-lhes ensinado também
que se pode reencarnar na forma de homem, animal, vegetal e, até, mineral, e que não existe um Deus
pessoal, mas uma “energia imaterial e impensante”. Mas Kardec diz ter recebido, dos seus “espíritos”,
ensinamentos de que a reencarnação na verdade é uma dádiva, que o homem só reencarna como homem,
e nunca, por exemplo, como uma vaca, e que o Deus pessoal do Cristianismo existe, inclusive
controlando a reencarnação.
Sem maiores prolongamentos na análise, vale perguntar: quem mentiu, as “divindades” hindus ou os
“espíritos” do espiritismo francês? E por que mentiriam?
Pensando melhor:
1) SE as “divindades” que mentiram aos sacerdotes hindus são as mesmas que eles afirmam
haver lhes ensinado também a “reencarnação” (supondo que os sacerdotes realmente receberam
essa informação, o que parece não ter acontecido, já que a lei do karma foi uma invenção
política);
2) e SE os “espíritos” que mentiram a Kardec (supondo-se que ele tenha realmente falado com
tais “entidades”, o que muitos duvidam que tenha acontecido, dentre eles o vencido movimento
espírita inglês) são exatamente os mesmos que supostamente ensinaram a “reencarnação” para
ele e outros médiuns;
ENTÃO, por que alguém deve confiar e crer nestes “espíritos”, no que disseram sobre
reencarnação (que aqui comprovamos ser uma fraude) e, portanto, no que disseram e dizem
em outros ensinamentos atribuídos a essas mesmas “entidades”?
A reflexão e o posicionamento crítico ainda é, mesmo no campo religioso, um meio relativamente seguro
que nos auxilia a enxergar com mais clareza em meio à manipulação das informações e à tendência das
pessoas em dar ouvidos ao que mais lhes convêm, mesmo em detrimento da Verdade.
E, falando em Verdade, fica uma máxima que deve servir de referência a todo pensamento humano,
especialmente na área religiosa e espiritual:
“NUNCA CONFUNDIR PROCURA DA VERDADE
COM NECESSIDADE DE ACREDITAR”.
Recado final para os cristãos:
Amem os espíritas, pois, como todas as demais pessoas, eles são dignos do amor incondicional que Jesus
nos ensina. Ame-os, como Ele nos ama. Respeite-os, e à crença deles. Mas lembre-se: amar e respeitar
não é o mesmo que concordar.
Deus ama o pecador, a tal ponto que nos conduz, pelo caminho que for necessário, à oportunidade de
compreendermos o engodo em que estamos metidos. Como disse Paulo, “ai de mim se não pregar o
evangelho”. E, se os apóstolos e o próprio Jesus, com toda a sabedoria e o amor de Deus pelo próximo,
para pregar o verdadeiro evangelho tiveram de confrontar duramente crenças como o farisaísmo, o
gnosticismo, a filosofia grega, o politeísmo, a consulta aos mortos etc., inclusive acusando os adeptos
mais teimosos de “servos de Satanás”, também o cristão genuíno de hoje deve saber enfrentar – se
necessário firmemente, mas com amor no coração – as doutrinas e filosofias que, às claras ou
disfarçadamente, arrastam, de forma sorrateira, multidões para longe da Verdade de Cristo (e às vezes
usando o nome dEle).
Por isso, precisamos amar profundamente os espíritas, e nos deixarmos ser usados por Deus para ajudá-
los a encontrar a Verdade. Não uma verdade que criamos a partir de nossa própria opinião e conveniência,
mas a Verdade imutável que existe independente das pessoas e de suas opiniões, e que,
misericordiosamente, encontra-se acessível e é repassada de graça para qualquer um. Somos apenas
servos uns dos outros, entregues nas mãos de Deus para compartilhar o que Ele revelou no evangelho –
nossa opinião não interessa.
Preguem o evangelho de Cristo, irmãos. E orem, para que o espiritismo um dia seja publicamente
desmascarado, assim como outras religiões que afastam multidões do Caminho único: Jesus.
[1] O autor é ex-médium kardecista, havendo se envolvido, também, com magia e esoterismo, tendo sido membro do Colégio dos Magos e
iniciado da Ordem Rosacruz. Como tal, teve na reencarnação uma crença marcante ao longo de boa parte de sua vida. Conheça mais sobre
Ricardo Marques lendo um resumo de seu testemunho, no final deste artigo.
[2] Arthur Conan Doyle, famoso escritor inglês e genial criador do personagem de romances policiais, o detetive Sherlock Holmes.
[3] No Antigo Testamento, em Deuteronômio 18, vs. de 1 a 12, Moisés recebe revelação de Deus e a transmite ao povo, dizendo aos hebreus
para que não praticassem as mesmas coisas que os povos pagãos com que entrariam em contato na Terra Prometida. E avisou: “Não haverá
entre ti (…) quem consulte os mortos, pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor”. Curioso o fato de que Moisés é tido, por
várias correntes espíritas e por vários mestres kardecistas, como tendo sido um “grande médium”. Se era, como teria dado ao povo a
instrução de não consultar os mortos, e dito que essa prática é abominação a Deus? Alguns alegam que o Antigo Testamento é que não
merece crédito; se for assim, como podem acreditar que Moisés, que consideram “grande médium”, sequer tenha existido?
[4] O livro “A Vida no Planeta Marte” foi escrito em 1957. Trata-se de uma “revelação” por parte do famoso “espírito” Ramatis, através do
médium brasileiro Hercílio Maes, onde a entidade conta, em detalhes, como seria a vida no planeta Marte. Florestas, cidades, avenidas,
ausência de guerras. Na Terra, nessa época, a exploração espacial apenas engatinhava, e muita gente – até alguns cientistas – acreditava na
possibilidade de vida em Marte. Com o passar dos anos descobriu-se que não há nada disso no “planeta vermelho”; pelo contrário, trata-se de
imenso deserto, arenoso e pedregoso, com extremos climáticos insuportáveis. Desde então, nenhum espírita veio a público reconhecer a
mentira, mas fica a pergunta: se o tal Ramatís mentiu nesse caso, quem nos garante que ele, e os demais “espíritos superiores”, não mentem
sobre outras coisas em quem milhares de pessoas depositam toda a sua confiança, tomando decisões espirituais que podem fazer grande
diferença na eternidade? O mais curioso é que o livro continua parte da lista da “boa literatura” espírita…
[5] Paulo, em sua 2ª carta a Timóteo, cap. 4, vs. 3 a 5, alerta: “Porque haverá um tempo em que as pessoas não suportarão ouvir a doutrina de
Jesus; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, como se sentindo coceiras nos ouvidos, se cercarão de mestres segundo suas
próprias conveniências, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas preferirão crer em fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as
aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério”.
[6]
O significado de engodo é “isca”, ou seja, “algo belíssimo e atraente, que serve para disfarçar uma armadilha que nos prende”.

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O mito do eterno retorno: reflexões sobre o pensamento espiritualista e a reencarnação

  • 1. Ricardo B. Marques Um breve testemunho Ricardo Marques iniciou-se desde a adolescência no espiritismo kardecista, como “médium” de efeitos físicos. Estudou a obra completa de Allan Kardec, assim como o que existe de mais importante no espiritismo ocidental, inclusive o que se relaciona a Chico Xavier e outros “médiuns” brasileiros famosos. Anos depois, passou a estudar também os escritos da “médium” Helena Blavatsky e de outros autores considerados esotéricos, interessando-se também, a partir daí, pela Filosofia Oriental. Embora se mantendo fiel ao kardecismo, transitou pela magia e pelo esoterismo. Tornou-se mago, através do Colégio dos Magos, do qual era membro; foi rosacruz, através da AMORC, e diplomou-se em Parapsicologia pelo INPAR. Fundou e coordenou o grupo Alpha-7 de Desenvolvimento Mental, em Fortaleza, assim como a Associação Brasileira para a Era de Aquário, uma das pioneiras do movimento Nova Era no Brasil, e participou da organização de vários eventos ligados a espiritismo e misticismo. Ricardo mantinha contatos “mediúnicos” rotineiramente, o que era testemunhado por muitos de seus amigos, alguns dos quais convivem com ele até hoje. Manifestava fenômenos como telepatia, telecinesia, praticava a projeção astral (na época chamada “desdobramento”), leitura da aura etc. Recebia “orientações” de entidades do mundo espiritual, que se identificavam como “espíritos de luz”, “guias espirituais” e “mestres da sabedoria”. A reencarnação era uma de suas principais convicções, à qual se manteve apegado até o último instante antes de sua conversão a Cristo. Confrontado com a Bíblia por dois primos que tornaram-se cristãos, resistiu veementemente à tentativa de evangelismo, defendendo o espiritismo e a reencarnação com os conhecimentos e as experiências que havia adquirido na prática daquela filosofia. Desafiado a estudar a Bíblia para poder contra-argumentar com base, Ricardo mergulhou no Antigo e no Novo Testamento, porém com o intuito de encontrar inconsistências que pudesse usar contra seus evangelizadores. Contudo, foi chegando o tempo em que a busca sincera pela verdade, diante de Deus, lhe permitiu detectar incoerências e inconsistências, mas elas estavam em suas próprias experiências místicas e nos ensinos dos “mestres” que até então vinha recebendo. O testemunho de muitos ex-médiuns, ex-espíritas e ex-esotéricos, a exemplo do brasileiro Heber Soares, sucessor de Zé Arigó, cuja autobiografia está relatada em “Nos Bastidores dos Espíritos”; a norte- americana Johanna Michaelsen, que fazia cirurgias mediúnicas e é autora de “A Bela Face do Mal” e “Como Cordeiros para o Matadouro”; o ex-guru indiano Rabi Maharaj, que conta sua história em “A Morte de um Guru”, e tantos outros, revelaram a Ricardo que as contradições que ele estava detectando não eram “coisas de sua cabeça”, mas parte de uma verdade espiritual bem distinta da que ele conhecia, e que julgava ser a certa. Esses ex-médiuns, que o autor conheceu através de livros, reportagens e palestras, e que denunciavam o “belo” espiritismo como um engodo sedutor e quase perfeito, e o fato destes mesmos ex-
  • 2. médiuns dizerem que encontraram a Verdade definitiva no Cristianismo Bíblico, foi reforçando em Ricardo uma desconfiança a respeito da doutrina espírita e da “sabedoria” esotérica. Passando a estudar a Bíblia, gradativamente foi descobrindo que havia sido enganado por quase todos os autores místicos que até então vinha estudando. A culpa, porém, era sua, por acreditar sem investigar a fundo. A Bíblia promete que, ao se buscar o Caminho com sinceridade de propósitos e sem preconceitos, o Espírito Santo de Deus revela a Verdade ao coração do buscador, levando-o à conversão genuína e à redenção pela graça, através de Jesus Cristo. Trata-se de uma experiência pessoal, intransferível, que não envolve merecimentos (por isso Jesus referia-se como “a graça de Deus”) nem pode ser mediada por nenhuma igreja ou sociedade religiosa, nem por qualquer pessoa, viva ou morta, santa ou não, religiosa ou não. É assunto exclusivo entre a pessoa tocada, e o próprio Deus feito homem, Jesus: “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai, se não for por Mim” (Jesus, em João 14:6); “Há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo” (Paulo, em Atos 14:6); etc. Foi o que aconteceu com Ricardo: inicialmente – e após muita resistência – sofrendo um processo de “convencimento” intelectual, diante dos fatos com que se deparou, e finalmente compreendendo as incoerências e contradições do espiritismo e da doutrina cármica, acabou voltando-se para o lado oposto de tudo aquilo que, bem intencionado, havia aprendido e ensinado. Assim, Ricardo foi levado a converter-se genuinamente a Jesus Cristo (a quem imaginava “seguir” através do espiritismo) e assim encontrar a Verdade Absoluta. Hoje é um cristão convicto, havendo renunciado às crenças e práticas espiritualistas, como tantos outros que se empenham atualmente em esclarecer espíritas bem-intencionados sobre o engano em que estão envolvidos. Ricardo Marques é biólogo, paleontólogo, educador, psicanalista clínico e neuropsicólogo, com formação em neurociências e comportamento, e mestre em Ciência (M. Sc); além de professor universitário, criou e lecionou disciplinas em seminários teológicos, como Lógica e Crítica da Religião (Seminário Teológico Batista do Ceará), mas sempre foi e é de opinião que conhecimentos e títulos são, como diz o autor de Eclesiastes, “vaidade” e “correr atrás do vento”, sem qualquer serventia em se tratando do entendimento da realidade, especialmente da realidade espiritual. Nessa área o que conta é a humildade e o despir-se da vaidade e dos preconceitos; é, como disse Jesus, “negar-se a si mesmo”, tirando a nós mesmos, e ao homem, do centro das atenções, substituindo-nos pelo Deus único, perfeito e infinito. Usando nosso livre-arbítrio dessa maneira, o verdadeiro Jesus recebe “sinal verde” para revelar-se a nós. Você crê nisso? Ricardo é casado com Ana Carmem, pai de dois filhos; fez voto de viver vida simples e não é rico materialmente; mas, é muito, muito feliz.
  • 3. O mito do eterno retorno Reflexões de um ex-espírita e ex-esotérico sobre o pensamento “espiritualista” e a reencarnação RICARDO B. MARQUES [1] Antes de entrarmos diretamente no assunto reencarnação, importa que tracemos um breve pano de fundo para o mesmo, situando o tema em seu contexto original: o das tradições mágico-religiosas e as miríades de movimentos, organizações e pessoas que reivindicam para si a detenção da verdade primeira. Comecemos por mencionar como a maioria dos “pesquisadores” espíritas, que afirma categórica e apaixonadamente a reencarnação como uma “verdade indiscutível”, utiliza-se da mesma “técnica” dos esotéricos para conquistar adeptos: apresentam “fatos incontestáveis” de suas crenças e citam exemplos de grandes personalidades que, segundo eles, teriam aderido aos seus ensinos. Isso nos remete principalmente ao espiritismo esotérico, que costuma tentar legitimar suas crenças através da citação de manuscritos e pergaminhos antigos que conteriam revelações sobre a real natureza da Verdade, dando a entender que aquilo em que os cristãos cremos através da Bíblia ou da religião não passa de deturpações de uma sabedoria original milenar. Estes manuscritos seriam a “prova” definitiva de que, por exemplo, o cristianismo bíblico (termo que usaremos para que se diferencie do pseudocristianismo, religioso, institucionalizado e meramente humano) nada mais é do que um fragmento da Verdade, supostamente distorcido, e que somente os “iniciados” nesse alegado “conhecimento antigo secreto” seriam capazes de nos reconectar à Verdade suprema. O problema é que, quando perguntados sobre onde estão tais manuscritos, fala-se então, a exemplo da “médium” russa Helena Blavatsky (mãe do esoterismo “moderno”), em “mosteiros secretos” escondidos
  • 4. nos confins de “abismos perdidos” do Himalaia e de outras paragens… Enfim, totalmente impossível de se comprovar. Conveniente, não? O mais curioso é que as próprias miríades de facções esotéricas assumem cada uma para si a prerrogativa de detentoras dessa “sabedoria milenar”, em geral relacionada a civilizações míticas de um passado não comprovável, e sequer se constrangem com o fato de que seus discursos não se harmonizam entre elas mesmas, pondo em dúvida a legitimidade das “verdades” por elas reivindicadas. Por exemplo, os rosacruzes citam cientistas como Isaac Newton, Michael Faraday e Albert Einstein como tendo pertencido à sua organização. Sabe-se historicamente que Newton e Faraday eram cristãos de orientação protestante e que discordavam publicamente desse tipo de misticismo. Como poderiam pertencer a uma sociedade mística que prega pontos profundamente conflitantes com o cristianismo bíblico ao qual confessavam? Seria um contra-senso. Óbvio, os rosacruzes criaram esses boatos para tentar dar alguma legitimidade aos seus ensinos – prática, aliás, bastante comum em fazedores de crenças. Pelo mesmo motivo, a maioria das filosofias, organizações e seitas sem um rastro visível na história insistem em elaborar para si origens ligadas a sábios respeitados da Antigüidade ou a seres que estariam “acima de qualquer suspeita”. Ainda no exemplo anterior, os próprios rosacruzes, sejam eles da Amorc, da Rosa Cruz Áurea ou outra qualquer, se dizem (embora uns contradigam os outros) os verdadeiros e legítimos porta-vozes de uma sabedoria secreta originária dos antigos faraós e sacerdotes egípcios. Entretanto, não é estranho que nenhum egiptólogo jamais tenha encontrado qualquer sinal de crenças, práticas ou rituais que sequer se assemelhem aos ensinos rosacrucianos? Os defensores mais recentes da reencarnação, sejam kardecistas ou esotéricos, apelam comumente para o “fato” (sic) de que essa crença estava presente em quase todas as religiões e culturas antigas, bem como nas diversas culturas indígenas pelo planeta afora. São freqüentes as afirmações do tipo: “antropólogos encontraram provas na cultura dos trogloditas da crença na reencarnação” (dita por um palestrante – e testemunhada por mim – num Encontro sobre Reencarnação ocorrido na Universidade Estadual do Ceará, em 1995); “civilizações antigas criam na reencarnação, como os persas, os egípcios, os babilônicos, os assírios …” (idem). A maior parte das pessoas tem por hábito acreditar sem averiguar e, por isso, ficam impressionadas com informações como estas, citadas em palestras, documentários ou veiculadas em jornais e revistas. Ficam embevecidas especialmente se as informações forem, por algum motivo, coniventes com os interesses particulares e preferências de quem as escuta. Contudo, quem entende de um pouco de História Comparada das Religiões, saberá que, entre culturas como a persa, a egípcia, a babilônica, a assíria etc., apesar de altamente místicas, nenhuma delas cria em reencarnação. A doutrina simplesmente não existia, nem mesmo numa forma primitiva. Igualmente as culturas indígenas não incluem a reencarnação entre suas crenças, apesar de possuírem um marcante
  • 5. elemento espírita (crêem no contato entre os vivos e os mortos). Apesar disso, os divulgadores da reencarnação insistem em usar esses falsos argumentos para convencer incautos mal informados. Na verdade, os hindus e os gregos primitivos foram as únicas civilizações pré-cristãs que criam em algo parecido com a reencarnação (alguns povos asiáticos herdaram a crença da reencarnação a partir do budismo, que, por sua vez, foi adaptado do hinduísmo, como veremos adiante) – e, curiosamente, de uma forma bem distinta da defendida por Kardec, o responsável por introduzir essa crença no Ocidente, e num contexto pseudocristão. Os compêndios de Filosofia esclarecem que a idéia grega de “metempsicose” ou transmigração da alma não era exatamente uma crença na reencarnação, e sua influência sobre esse credo foi bastante limitada. Historicamente os especialistas apontam os hindus como responsáveis pela elaboração deste dogma religioso, criado numa cultura dominada pelo temor a miríades de deuses terríveis e por castas sociais opressoras. A reencarnação aparece em determinado momento da história hindu através da “lei do karma”, sendo praticamente unânime a interpretação dos historiadores da filosofia de que os criadores dessa “lei” teriam sido membros da casta sacerdotal dominante na sociedade hindu – o que era bastante conveniente. Estes senhores, através da reencarnação, justificavam sua posição social e assim evitavam questionamentos por parte do povo oprimido que, àquela altura, parecia ameaçar o poder. A “lei do karma” foi ensinada para o povo como uma lei natural cósmica, que governava os mundos e as vidas. A alma seria uma essência etérea separada do corpo físico, mas a ele aprisionada. Dependendo do tipo de vida que se levasse em determinada encarnação, poder-se-ia retornar na próxima vez numa forma melhor ou em uma pior, podendo a alma encarnar em forma humana, animal, vegetal e até mineral. A vaca é vista por eles, até hoje, como a forma física mais divina e próxima da perfeição, e todo hindu sonha em um dia nascer como vaca (vide a autobiografia do guru indiano Rabi Maharaj, convertido a Jesus, em seu livro A Morte de um Guru; ali, Maharaj fala com profundo conhecimento de causa, e chega a ridicularizar a “lei do karma” e a doutrina da reencarnação, tamanha sua decepção quando se descobriu enganado). A reencarnação, portanto, é vista pelos hindus como uma grande “roda de vidas” que gira sem fim, à qual todos os seres vivos estaríamos escravizados. Isso mesmo: no conceito hindu de karma, a reencarnação é uma desgraça, uma escravidão da alma da qual cada ser humano deveria sonhar em encontrar uma forma de se livrar. Seriam bilhões e bilhões de encarnações sucessivas, uma prisão para a alma que anseia escapar dessa “lei” e unir-se a Krishna, uma energia universal impensante e imaterial, que permeia todo o cosmos. Entre Krishna e os seres vivos, haveria dimensões intermediárias habitadas por milhões de deuses antropomórficos, monstruosos e perversos, aos quais devem ser prestadas adorações e oferendas visando aplacar-lhes a ira. Esta é a única e verdadeira história da origem da crença na reencarnação. Havia tantas crenças distintas entre os hindus quantos eram seus deuses. Entre estas, algumas foram desenvolvidas por mendigos peregrinos, que, desejosos de escapar da submissão às castas dominantes e
  • 6. da “roda viva das reencarnações”, afirmaram haver criado técnicas que elevariam o homem a categorias espirituais superiores, evitando que a vida presente contribuísse com mais pontos negativos para o “karma” que lhes era imposto. Vem daí a meditação transcendental e os vários tipos de ioga. O objetivo de tais práticas é “neutralizar” a mente, esvaziando-a de qualquer pensamento, e mortificar o corpo, privando-o do acesso a qualquer tipo de prazer – privando-se do mundo e dos prazeres, aumentam as chances de um “karma positivo” e, portanto, de menos reencarnações ruins. Nessa busca, não são raros os iogues e gurus que chegam à morte por sede e fome (embora muitos deles sejam apenas oportunistas, que se aproveitam da credulidade dos fiéis seguidores). No livro A Morte de um Guru, Rabi Maharaj testifica como seu pai se orgulhava de conseguir ficar semanas sem comer, beber, fazer sexo, pensar etc. E confirma como a família ficou feliz quando ele morreu nessa condição, todos achando que o pobre homem poderia reencarnar como um pássaro ou até uma vaca, sinal de que haveria evoluído, e não regredido. Um dos grandes responsáveis pela difusão da idéia de reencarnação foi Sidarta Gautama, o Buda (“Iluminado”). Era um jovem príncipe, riquíssimo, que vivia no palácio de seus pais com todas as regalias e impedido de ver o mundo exterior para não se chocar com a pobreza e a desgraça que reinava lá fora. Um dia ele saiu e não quis mais voltar. Peregrinou como mendigo por várias paragens, não conseguindo compreender o sofrimento humano e insatisfeito com as respostas da sua religião, o hinduísmo tradicional. Sidarta começou suas caminhadas como um iogue (a ioga era uma forma radical de hinduísmo, praticada pelos pobres, enquanto os ricos adotavam um hinduísmo mais erudito, chamado brahmanismo). Porém, não encontrando resultados, disse haver descoberto uma prática intermediária, menos radical que a ioga, e menos erudita que o brahmanismo, à qual chamou de madhyama (o caminho do meio). Através desse “caminho”, Sidarta buscava atingir um estado de “iluminação plena”: desapegar-se dos bens materiais, dos prazeres mundanos e mergulhar na compaixão que une todos os seres do universo. Este estado foi apelidado de boddhi (despertar ou iluminação), no qual uma pessoa se desfaria de todas as ilusões do seu ego e entraria no nirvana – isto é, através da meditação, os sentidos, prazeres e temores cessam, dando lugar à serenidade e a um estado de consciência perfeito. Aquele que atinge o boddhi e entra no nirvana, torna-se um buddha (iluminado), alguém que alcançou a perfeição mental e disciplinar máxima. Um buddha seria capaz de contemplar todos os seus karmas e encarnações anteriores, conhecendo sua verdade pessoal e, estando no nirvana, seria possível retornar ao “estado original do ser”, vendo-se “inteiro” e ilimitado, com a consciência finalmente unindo-se ao cosmos. Sidarta dizia haver atingido essa condição, e por isso passou a ser conhecido por seus discípulos como Buda. Assim, cercou-se ele de alguns discípulos e saiu a pregar sua doutrina, que continuou consideravelmente semelhante à dos hindus, com algumas adaptações. Apesar de haver sido “inventado” antes de Cristo, foi apenas por volta de 500 d.C que o budismo espalhou-se pela Ásia oriental, tornando-se a religião mais praticada naquela parte do continente, como é até hoje. Nesse tempo a igreja cristã, ainda não totalmente dominada pela religiosidade institucionalizada,
  • 7. já se espalhara pela Europa e Ásia ocidental. Com o hinduísmo, a crença na reencarnação, criada pelos altos sacerdotes com o fim político de conter a insatisfação das castas inferiores, fazendo-as crer que era seu “destino” sofrer e servir às castas superiores, nunca se propagou além das fronteiras indianas e circunvizinhanças. Mas através do budismo, religião-filha do hinduísmo, essa doutrina oriental da “escravidão da alma à matéria” veio a se espalhar por toda a Ásia e, mais recentemente, fora dela. Um fato importante: o Cristianismo bíblico é a única religião da história cujas doutrinas provêm de revelações proféticas atestáveis e de pregações da boca de um Homem que, em meio a milagres extraordinários e inigualáveis, apresentava-se como o Messias prometido (o próprio Deus vindo em forma humana) para redimir a humanidade, podendo-se histórica e teologicamente se demonstrar que em Jesus Cristo se cumpriram todas as profecias messiânicas do Antigo Testamento. Entretanto, o budismo foi apenas mais uma manifestação mística em que um homem comum – embora sábio – formulou crenças que eram produto exclusivo de suas reflexões pessoais. Essa comparação é importante porque deve, no mínimo, gerar dúvidas a respeito da confiabilidade de certos dogmas humanos que se propõem a assumir status de Verdade. Muitos desses detalhes históricos sempre foram e são omitidos do público ocidental pelos gurus que vieram para cá fazer fortuna, fugindo da miséria em que viviam no Oriente; assim como foram também omitidos por Kardec, que adaptou convenientemente a estranha doutrina oriental da reencarnação ao racionalismo cristianizado da sociedade do Ocidente. Caso as coisas fossem mostradas como realmente são, sem dúvida muita gente se daria conta da profunda incoerência e insustentabilidade de várias destas crenças, que hoje são “vendidas” em roupagens tão agradáveis e convenientes – chega-se ao cúmulo de serem apresentadas como crenças “cristãs”. Note-se que a reencarnação ensinada por Kardec tem abordagem radicalmente contrária à ensinada pelos orientais, que curiosamente são os autores da doutrina. Por exemplo, Kardec disse haver recebido dos “espíritos” o ensino de que a reencarnação é uma dádiva celestial, uma oportunidade contínua para que o espírito evolua, se redimindo dos erros cometidos em outras vidas. Já as “entidades espirituais” orientais ensinaram aos mestres hindus e budistas que a reencarnação é uma desgraça cósmica, uma escravidão sem fim da qual a alma só se liberta através de uma vida monástica, de intensa privação. Alem disso, Kardec pregava que apenas as pessoas reencarnam, e sempre na forma humana, enquanto a tradição oriental crê que o retorno pode se dar em quase qualquer forma material. Mais: os orientais não crêem em um Deus pessoal, que se relaciona com Sua criação, e imaginam que a lei do karma é um fenômeno da própria natureza, que a alma liberta das encarnações une-se a uma “força” cósmica impessoal, uma “energia”. Em contrapartida, Kardec “cristianizou” a reencarnação, colocando-a como uma espécie de justiça divina baseada no mérito pessoal, e pondo Deus como o controlador do processo. Como sempre, as “provas” que os defensores da reencarnação oferecem não existem – são afirmações fantasiosas feitas estratégica ou ingenuamente pelos defensores de idéias anticristãs (em alguns casos, deve-se ressaltar, muitas destas pessoas são bem-intencionadas, é claro). Já pessoas como Kardec e Helena Blavatsky (criadora da Teosofia, corrente esotérica explicitamente rival do Cristianismo bíblico),
  • 8. entre tantos outros menos célebres, se utilizaram desse expediente enganoso por saberem que a grande maioria do público iria crer por necessidade, conveniência ou simpatia, não importando a Verdade. O resultado seria bem outro, caso as pessoas partissem para a investigação, se quisessem mesmo saber se as alegações dos reencarnacionistas são verídicas; caso averiguassem se determinadas personalidades realmente disseram o que lhes é atribuído por aí, a exemplo de se culturas antigas criam mesmo naquilo que os místicos dizem que elas criam, se as “provas” citadas por essas pessoas existem mesmo, etc. Enfim, se fosse esse o posicionamento das pessoas curiosas pela Verdade, o engodo a que estamos expostos dia após dia seria percebido bem mais facilmente. Os defensores da reencarnação e do espiritismo acham, mas pouco ou quase nada conhecem sobre a doutrina cristã e bíblica. Criticam um suposto Deus perverso, a figura de um diabo com chifres e tridente, o inferno dantesco, o paraíso ocioso, as idéias opressoras da idade média, a entrada dos bons no céu e a condenação dos maus ao inferno… Rejeitam o Cristianismo bíblico por causa de crenças como estas. Só que muitas destas crenças estão erradas nessas concepções, pois o autêntico Cristianismo bíblico nunca pregou isso. A religião “cristã” institucionalizada, secularizada e sincrética, mais especificamente a igreja católica romana (por ter sido a mais influente), que se diz representante do cristianismo, mas ensina coisas que Cristo nunca ensinou, esta sim, talvez seja uma das maiores responsáveis por tais distorções. E certos setores ditos “protestantes” também possuem parcela de culpa nessa confusão toda, o que se agrava ainda mais com as várias seitas pseudocristãs, a exemplo das Testemunhas de Jeová e dos Mórmons (“Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”), dentre outras. Afirmações como “Agostinho cria na reencarnação” e “a mensagem de Jesus era reencarnacionista, mas os poderosos a modificaram e deturparam” são apenas mais alguns exemplos de colocações feitas pelo espiritismo, mas que não possuem qualquer base de sustentação. Todas as evidências existentes deixam muito claro que o teólogo cristão Agostinho abominava o espiritismo, e que Jesus alertou mais de uma vez contra as estranhas doutrinas que viriam “em Seu nome”, às quais Ele próprio taxou de “demoníacas”. Uma pena serem poucos os que resistem ao que ouvem uma primeira vez e, numa atitude sensata, resolvem averiguar. Os que assim procedem, escapam da armadilha. O que dizer do curioso fato de que até o movimento espírita inglês combateu incansavelmente a doutrina reencarnacionista, quando esta começou a ser divulgada pelo espiritismo francês, elaborado e promovido por Kardec? Hyppolite Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de Allan Kardec, adaptou o dogma hindu-budista para o Ocidente, pois sabia que a sociedade ocidental, pseudocristã, rejeitaria a “lei do karma” como era no seu sentido original. Porém, nem todos os espíritas sucumbiriam à arguta argumentação do inteligente Kardec. Os espíritas ingleses não admitiam a doutrina inventada por Kardec, não acreditavam na alegação de que ela havia sido “transmitida a ele por espíritos de luz”, e consideravam aquela crença do espiritismo francês como altamente injusta. Por exemplo, Conan Doyle [2], que seguia a linha do espiritismo inglês, juntamente com outros expoentes do espiritismo não-kardecista, argumentou o seguinte, em um debate público:
  • 9. “se uma pessoa tem sua vida atual determinada pelo seu passado; se ela paga nesta vida por aquilo que fez numa anterior; e se ela tem sua memória física apagada de uma vida para outra, então a reencarnação, como, aliás crêem os hindus, isenta o homem da responsabilidade por seus atos, inocentando-o de quase qualquer atrocidade que cometa, o que é inaceitável. É também altamente injusta porque nos faz pagar, numa suposta outra vida, por coisas que sequer temos consciência de termos feito; tal dogma é, ao nosso ver, a mais terrível das crenças”. Isso me lembra uma história curiosa contada por um amigo espírita, quando viajávamos para os EUA em 1995. Segundo ele, no hospital em que trabalhava havia uma enfermeira que demonstrava não gostar dele desde a primeira vez que o viu. O mesmo ele sentia por ela. Então, numa sessão espírita, um médium revelou-lhe que, numa “vida anterior”, este meu conhecido e a referida enfermeira teriam sido inimigos ferrenhos. Na opinião deles, as experiências de cada “encarnação” ficam, de certa forma, inconscientemente gravadas na “memória do espírito”, chegando a influenciar fortemente a vida presente do indivíduo, suas atitudes, reações e assim por diante. Não é curiosa essa visão das coisas? Convenhamos: se assim o fosse, então as pessoas não podem ser culpadas de muitos de seus erros e nem pelos seus crimes. Afinal de contas, segundo o espiritismo, nossas ações e até nosso destino estariam determinados pelos acontecimentos das “vidas passadas” que tivemos. Trata-se de um fatalismo sem precedentes: se uma criança morre devido a maus tratos, ou se pessoas são massacradas num ato terrorista, é porque essas pessoas estariam “pagando” por atos cometidos em vidas anteriores, estariam “equilibrando a balança do karma”, ou mesmo respondendo, vingativamente, por sofrimentos que lhe foram causados por terceiros. Logo, quem maltratou a criança, e quem praticou o terror, não passariam estes de simples peças de uma engrenagem cósmica, cumprindo seu destino pré- programado? Que culpa teriam de fazerem parte dessa “máquina cósmica” e de terem sido “escolhidos” para causar dor e sofrimento a alguém? Suponhamos, para exemplificar, que numa “encarnação anterior” você e seu vizinho foram, na verdade, grandes inimigos. Imagine que ele, naquela “outra vida”, matou toda a sua família de forma bastante cruel, diante dos seus olhos, e depois o torturou até a morte. Seu espírito, é claro, ficaria com esse terrível trauma registrado – inconscientemente – na memória. Só que, nesta “vida atual”, você não se lembra disso, mas seu “espírito” sente-se incomodado com a presença do vizinho, sem saber bem por quê. Então, um dia seu “espírito” tem um acesso de cólera de tanto “lembrar” (no inconsciente) da imagem do vizinho realizando as atrocidades feitas na “encarnação passada” e, descontrolado, seu corpo físico descarrega uma arma no vizinho, que estava ali perto, ingenuamente cuidando do jardim. A polícia chega e prende você, terrível assassino. Mas, nesse caso, você não teria culpa nenhuma do que fez! Afinal de contas, foi um evento inconsciente, ligado ao seu espírito e a fatos de “vidas passadas”. Se soubessem da sua história, as pessoas, na verdade, teriam pena de você, por tudo o que passou com sua família nas mãos daquele “homem terrível” que você acabou de matar – é fato que a vítima não sabia de nada, estava ali cantarolando e regando as plantas… Mas, de alguma forma, você sabia que um “espírito
  • 10. mal” estava dentro daquele corpo, não é? Você não teve controle sobre a situação, por isso o matou. Como pode ser condenado pelo crime que cometeu? Nessa perspectiva, poderíamos todos ser inocentados dos males que cometemos. Afinal, quem nos garante se os males que fizemos não foram resultado de conflitos internos do nosso “espírito”, em meio às confusas influências de “encarnações passadas”? Quem nos garante se Adolf Hitler não foi, na verdade, um corpo habitado por um espírito escolhido pelos poderes do além para causar sofrimento intenso a milhões de pessoas, a fim de que estas pagassem pelos males por elas cometidos em encarnações anteriores? Assim, todo o Holocausto deixaria de ser um horrendo acontecimento, para tornar-se um simples destino cármico, um ato de expiação, do qual ninguém era culpado e ninguém podia escapar… Percebe-se, ao se usar um pouco de raciocínio lógico e bom senso, o disparate que é a teoria reencarnacionista, a ponto de os espíritas ingleses, mesmo participando da prática de consulta aos mortos, que também é abominável para Deus [3], jamais a terem aceitado. Outro fato marcante é o das palavras do próprio Jesus nunca serem citadas quando os espíritas emitem tão veementemente suas opiniões sobre inferno, céu, Satanás e pecado. Omitem, selecionam e, quando confrontados, usam convenientes sofismas, dizendo que “foi modificado”, “foi deturpado”, “é alegoria” e assim por diante. Cabe aqui a necessidade de os cristãos esclarecidos chamarem os espíritas à racionalidade e fazê-los pensar na lógica e coerência (ou na falta delas) de seus posicionamentos. Na prática, o coerente seria crer em tudo o que a Bíblia diz e ser um crente, ou negar a Bíblia inteira e ser ateu. O que não dá é ficar selecionando só o que é conveniente àquilo em que se acredita, dizendo que alguns trechos bíblicos são inspirados por Deus, enquanto outros, do mesmo autor e fonte, são desprezados, simplesmente porque não combinam ou soam inconvenientes ao interesse da pessoa. (Atenção: é típico dos espíritas dizerem que crêem na Bíblia e que o espiritismo é “baseado” na Bíblia, mas evidentemente isso não passa de uma falácia). É, de fato, um problema essa falta de lógica como parte da cegueira espiritual que impede o homem de crer – é “o véu” que a Bíblia diz cobrir os rostos dos descrentes, impedindo-os de entender. Mas há diversas outras dificuldades: a ignorância e não averiguação do que é dito por Kardec e por outros; o desconhecimento quase total dos mais elementares princípios da exegese e da hermenêutica; a ignorância dos princípios bíblicos mais simples e a confusão com dogmas católicos medievais (“cão” com chifre, inferno como castigo para os maus, Deus perverso etc.); a falta de uma mente crítica, de lógica e de raciocínio analítico em relação aos próprios equívocos propagados pelo espiritismo (caso do livro em que o “espírito” Ramatís usa o médium Hercílio Maes para falar sobre “A Vida no Planeta Marte [4]”); o fato de a crença espírita ser uma das que se fundamenta no emocional, no que soa mais “agradável” e conveniente (ver 2ª Epístola de Paulo a Timóteo, cap. 4 [5]); todos estes e muitos outros são aspectos sobre os quais as pessoas deveriam refletir, e os cristãos genuínos deveriam saber lançar mão, quando, por amor, pretenderem abalar os alicerces de areia do espiritismo e de sua doutrina fundamental, a reencarnação.
  • 11. Foi dito numa palestra que as religiões não conseguiram dar respostas satisfatórias, e que o espiritismo o fez. Em parte, isso é verdade, se levarmos em conta que as religiões parecem ser realmente inaptas e que o espiritismo satisfaz porque dá as respostas que as pessoas desejam ouvir, e não exatamente as que correspondem à Verdade. Falam os espíritas que a Bíblia não tem sustentação como revelação de Deus. No entanto, mostram um domínio extremamente superficial das Escrituras, indicando que não a conhecem como deveriam e, portanto, estão incapacitados para opinar sobre ela. Estranhamente, dizem crer em Cristo, ignorando que a Bíblia, na qual desacreditam (lembrem-se da falácia), é praticamente a única fonte histórica e doutrinária confiável que fala sobre Ele; logo, se a Bíblia é falsa, como saber se Jesus existiu mesmo, assim como os profetas e apóstolos? E se, uma vez confrontados com esse argumento, os espíritas tentarem alegar que aceitam apenas uma parte da Bíblia, não é estranho que as partes por eles escolhidas são justamente aquelas que eles extraem do contexto na tentativa de apoiar suas doutrinas? Como acontece com quase todas as seitas, trechos bíblicos são isolados e citados fora do todo em que estão inseridos – dessa maneira, qualquer interpretação é possível. Espíritas e médiuns famosos, como o brasileiro Héber Soares, a norte-americana Johanna Michaelsen e muitos, muitos outros, converteram-se do espiritismo para o Cristianismo bíblico, passando a acusar a doutrina de Kardec de “o belo lado do mal” ou “mal disfarçado de bem”. Jesus disse que os demônios são seres físicos reais, anjos caídos liderados por um deles (originalmente Lúcifer, depois apelidado de “Satanás”, que significa “Adversário”), falou de sua natureza e como age, que trabalha com engodos [6], chamou-o de “pai da mentira e do engano”, mestre de estratégias, e que precisamos nos precaver em relação e ele – e isso sem alegorias. Em sua Epístola de Paulo aos Efésios, no capítulo 6, Paulo nos fala de Satanás, dos principados e potestades, do kosmokrator (sistema mundano) planejado e implementado por estes seres. Numa carta aos cristãos de Corinto, Paulo alerta inclusive para o fato de que o diabo se disfarça de bem (“espírito de luz”) para atrair os incautos. Existem certos aspectos ligados ao que se chama atualmente de “igrejas” que devem ser bem entendidos. A igreja católico-romana constituiu-se mediante um sincretismo que mesclou um cristianismo deturpado com paganismo romano, de onde surgiram diversos dogmas da igreja romana, profundamente paganizada e envolvida em interesses políticos. E parte das igrejas chamadas protestantes (descendentes diretas da Reforma de Lutero e do movimento de Calvino), embora não sincréticas como a católico-romana, tiveram como agravante um histórico envolvido com interesses políticos, territoriais e materiais, inclusive sofrendo influência considerável dos interesses capitalistas, entre outras coisas. E mesmo algumas igrejas ditas “evangélicas”, muito comuns atualmente, no Brasil, são acometidas por uma “cultura” de alienação e certa dose de fanatismo. Mas precisa ficar muito claro que estes desvios não podem ser confundidos com as doutrinas cristãs originais, seguidas pela igreja primitiva, preservadas até hoje, quase incólumes e a muito custo, por alguns raros grupos cristãos abnegados e fiéis, que a própria Bíblia chama de “remanescentes” e que, sem que percebam isso claramente, Deus os faz sempre presentes na História. Estes grupos, inclusive, são ainda pouco conhecidos, nos seus ensinos, pelos espíritas,
  • 12. devido à parcialidade dos “pesquisadores” adeptos de Kardec e de outros expoentes dessa área, que filtram as informações veiculadas às crédulas e bem-intencionadas vítimas do espiritismo. Ainda falando da igreja romana, um dos dogmas não-cristãos acrescentados por ela é o da prática das boas obras como exigência para o homem conquistar a salvação eterna. Assemelha-se bastante à crença kardecista de que “fora da caridade não há salvação”. Embora a caridade exigida pelo catolicismo restrinja-se a essa vida, e a caridade cobrada pelos kardecistas possa ser praticada ao longo de “vidas sucessivas”, ambas têm um elemento comum: neutralizam por completo a obra redentora de Cristo, conforme ensinada pelo próprio Jesus nos evangelhos, que é baseada na Graça de Deus. A Graça parte do princípio inalienável de que nenhum homem pode conquistar o céu por mérito próprio, e que, seja bom ou mal, somente é redimido se for de graça, através de decisão pessoal, consciente, em crer e aceitar a obra expiatória realizada pelo Messias, Jesus, o Cristo. Somente por meio de arrependimento e dessa conversão a Jesus, por meio exclusivo de uma fé viva, operante, despretensiosa e pessoal, em Sua pessoa e obra, é que um criminoso ou um santo podem entrar no Reino dos Céus. Se fôssemos conquistar a vida eterna por mérito, estaríamos perdidos, pois Jesus disse: “o mundo inteiro jaz no maligno”, e “não há um justo sequer, nem sequer um”. Todos que pensam serem justos, até o mais santo dos homens ou mulheres, têm dentro de si muitos pecados, muita sujeira a ser lavada. Por isso carecemos da graça amorosa do bondoso Deus. Se fosse por mérito, seríamos literalmente fulminados. Para o cristão bíblico, as obras são fundamentais, é claro. Obrigatórias, até. Contudo, têm de ser praticadas por coerência, como fruto da vida cristã, como marca de quem ama e se dá sem esperar nada em troca. Jamais para se “comprar” a redenção. Tudo isso é muito bem explicado na Bíblia, como, por exemplo, por Paulo em sua Carta aos Romanos, e também na Carta aos Gálatas. Interessante recordar que, a um criminoso que se converteu na hora de morrer, numa cruz ao lado da de Jesus, o Senhor lhe disse: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. E a muitos homens santos, até a líderes religiosos do povo, indagado sobre como fazer para ter a vida eterna, Jesus respondeu-lhes: “Se não fizerdes o vosso coração simples como o de uma criança, e não vos converterdes, não verás o reino de Deus”. O autor do livro de Hebreus, no Novo Testamento, fala, no capítulo 9, versículo 27, que “ao homem está ordenado morrer uma só vez, vindo depois disso o juízo”. Por causa desse incômodo trecho, principalmente, ouve-se de espíritas que o livro de Hebreus não deve ser considerado “Palavra de Deus”. Muitos estudiosos da Bíblia atribuem a autoria de Hebreus ao apóstolo Paulo, que os espíritas inacreditavelmente consideram ter sido um grande “médium”. Só que Paulo não fala sobre isso apenas em Hebreus 9:27. Ele diz, por exemplo, em Efésios 2: 8,9 (Efésios não tem sua autoria questionada), que “a salvação é obtida de graça, exclusivamente pela fé em Cristo; não pode ser conquistada por mérito próprio, é um dom de Deus. Não pode ser obtida pela prática das obras, isso para que ninguém se glorie”. E na carta aos Gálatas, Paulo diz: “Se a salvação da alma é pelas obras (caridade), conclui-se que Cristo morreu em vão”. Aqui mereceria um estudo particular sobre o verdadeiro significado da caridade para Deus e para o cristão genuíno, conforme a Bíblia, e que é bem diferente do que representa para o espiritismo e até para o catolicismo romano.
  • 13. Falando-se em inconsistência de argumentos e falsas “provas” da reencarnação, retomemos rapidamente o fato já discutido de que os sábios hindus receberam de suas “divindades” o ensino de que a reencarnação é uma escravidão da alma, chamada “roda do karma”, e que somente pela aniquilação do eu e dos sentidos via meditação é possível ao homem livrar-se desse terrível castigo. Foi-lhes ensinado também que se pode reencarnar na forma de homem, animal, vegetal e, até, mineral, e que não existe um Deus pessoal, mas uma “energia imaterial e impensante”. Mas Kardec diz ter recebido, dos seus “espíritos”, ensinamentos de que a reencarnação na verdade é uma dádiva, que o homem só reencarna como homem, e nunca, por exemplo, como uma vaca, e que o Deus pessoal do Cristianismo existe, inclusive controlando a reencarnação. Sem maiores prolongamentos na análise, vale perguntar: quem mentiu, as “divindades” hindus ou os “espíritos” do espiritismo francês? E por que mentiriam? Pensando melhor: 1) SE as “divindades” que mentiram aos sacerdotes hindus são as mesmas que eles afirmam haver lhes ensinado também a “reencarnação” (supondo que os sacerdotes realmente receberam essa informação, o que parece não ter acontecido, já que a lei do karma foi uma invenção política); 2) e SE os “espíritos” que mentiram a Kardec (supondo-se que ele tenha realmente falado com tais “entidades”, o que muitos duvidam que tenha acontecido, dentre eles o vencido movimento espírita inglês) são exatamente os mesmos que supostamente ensinaram a “reencarnação” para ele e outros médiuns; ENTÃO, por que alguém deve confiar e crer nestes “espíritos”, no que disseram sobre reencarnação (que aqui comprovamos ser uma fraude) e, portanto, no que disseram e dizem em outros ensinamentos atribuídos a essas mesmas “entidades”? A reflexão e o posicionamento crítico ainda é, mesmo no campo religioso, um meio relativamente seguro que nos auxilia a enxergar com mais clareza em meio à manipulação das informações e à tendência das pessoas em dar ouvidos ao que mais lhes convêm, mesmo em detrimento da Verdade. E, falando em Verdade, fica uma máxima que deve servir de referência a todo pensamento humano, especialmente na área religiosa e espiritual: “NUNCA CONFUNDIR PROCURA DA VERDADE COM NECESSIDADE DE ACREDITAR”.
  • 14. Recado final para os cristãos: Amem os espíritas, pois, como todas as demais pessoas, eles são dignos do amor incondicional que Jesus nos ensina. Ame-os, como Ele nos ama. Respeite-os, e à crença deles. Mas lembre-se: amar e respeitar não é o mesmo que concordar. Deus ama o pecador, a tal ponto que nos conduz, pelo caminho que for necessário, à oportunidade de compreendermos o engodo em que estamos metidos. Como disse Paulo, “ai de mim se não pregar o evangelho”. E, se os apóstolos e o próprio Jesus, com toda a sabedoria e o amor de Deus pelo próximo, para pregar o verdadeiro evangelho tiveram de confrontar duramente crenças como o farisaísmo, o gnosticismo, a filosofia grega, o politeísmo, a consulta aos mortos etc., inclusive acusando os adeptos mais teimosos de “servos de Satanás”, também o cristão genuíno de hoje deve saber enfrentar – se necessário firmemente, mas com amor no coração – as doutrinas e filosofias que, às claras ou disfarçadamente, arrastam, de forma sorrateira, multidões para longe da Verdade de Cristo (e às vezes usando o nome dEle). Por isso, precisamos amar profundamente os espíritas, e nos deixarmos ser usados por Deus para ajudá- los a encontrar a Verdade. Não uma verdade que criamos a partir de nossa própria opinião e conveniência, mas a Verdade imutável que existe independente das pessoas e de suas opiniões, e que, misericordiosamente, encontra-se acessível e é repassada de graça para qualquer um. Somos apenas servos uns dos outros, entregues nas mãos de Deus para compartilhar o que Ele revelou no evangelho – nossa opinião não interessa. Preguem o evangelho de Cristo, irmãos. E orem, para que o espiritismo um dia seja publicamente desmascarado, assim como outras religiões que afastam multidões do Caminho único: Jesus. [1] O autor é ex-médium kardecista, havendo se envolvido, também, com magia e esoterismo, tendo sido membro do Colégio dos Magos e iniciado da Ordem Rosacruz. Como tal, teve na reencarnação uma crença marcante ao longo de boa parte de sua vida. Conheça mais sobre Ricardo Marques lendo um resumo de seu testemunho, no final deste artigo. [2] Arthur Conan Doyle, famoso escritor inglês e genial criador do personagem de romances policiais, o detetive Sherlock Holmes. [3] No Antigo Testamento, em Deuteronômio 18, vs. de 1 a 12, Moisés recebe revelação de Deus e a transmite ao povo, dizendo aos hebreus para que não praticassem as mesmas coisas que os povos pagãos com que entrariam em contato na Terra Prometida. E avisou: “Não haverá entre ti (…) quem consulte os mortos, pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor”. Curioso o fato de que Moisés é tido, por várias correntes espíritas e por vários mestres kardecistas, como tendo sido um “grande médium”. Se era, como teria dado ao povo a instrução de não consultar os mortos, e dito que essa prática é abominação a Deus? Alguns alegam que o Antigo Testamento é que não merece crédito; se for assim, como podem acreditar que Moisés, que consideram “grande médium”, sequer tenha existido? [4] O livro “A Vida no Planeta Marte” foi escrito em 1957. Trata-se de uma “revelação” por parte do famoso “espírito” Ramatis, através do médium brasileiro Hercílio Maes, onde a entidade conta, em detalhes, como seria a vida no planeta Marte. Florestas, cidades, avenidas, ausência de guerras. Na Terra, nessa época, a exploração espacial apenas engatinhava, e muita gente – até alguns cientistas – acreditava na possibilidade de vida em Marte. Com o passar dos anos descobriu-se que não há nada disso no “planeta vermelho”; pelo contrário, trata-se de imenso deserto, arenoso e pedregoso, com extremos climáticos insuportáveis. Desde então, nenhum espírita veio a público reconhecer a mentira, mas fica a pergunta: se o tal Ramatís mentiu nesse caso, quem nos garante que ele, e os demais “espíritos superiores”, não mentem
  • 15. sobre outras coisas em quem milhares de pessoas depositam toda a sua confiança, tomando decisões espirituais que podem fazer grande diferença na eternidade? O mais curioso é que o livro continua parte da lista da “boa literatura” espírita… [5] Paulo, em sua 2ª carta a Timóteo, cap. 4, vs. 3 a 5, alerta: “Porque haverá um tempo em que as pessoas não suportarão ouvir a doutrina de Jesus; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, como se sentindo coceiras nos ouvidos, se cercarão de mestres segundo suas próprias conveniências, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas preferirão crer em fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério”. [6] O significado de engodo é “isca”, ou seja, “algo belíssimo e atraente, que serve para disfarçar uma armadilha que nos prende”.