Este documento discute questões fundamentais sobre o conhecimento e a epistemologia. Resume três pontos principais: 1) A dúvida sobre a existência do mundo exterior e o que realmente conhecemos; 2) A distinção entre crença e conhecimento e a necessidade de justificação; 3) A definição de epistemologia como o estudo do conhecimento e da justificação da crença.
2. Saber
se
o
mundo
exterior
é
real
e
qual
a
consciência
e
o
conhecimento
que
temos
dele
é
um
dos
problemas
fundamentais
acerca
do
processo
de
recolha
e
tratamento
de
informação
a
que
chamamos
conhecimento.
Filosofia, JB - 2010 2
3. Que Conhecemos?
A
simulação
tecnológica
de
situações
reais
reforça
as
dúvidas
sobre
a
existência
do
mundo
exterior.
Nos
jogos
digitais
ou
em
instrução
num
simulador
de
voo,
os
cenários,
os
heróis
e
vilões
são
virtuais
(não
têm
existência
fora
do
software
instalado
e
da
mente
do
jogador
–
um
erro
numa
manobra
de
pilotagem
não
causa
desastres)
e,
no
entanto,
parecem-‐nos
reais.
O
mundo
em
que
vivemos
poderá
ser
também
uma
criação
gerada
pela
nossa
mente.
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4. Conhecimento, sujeito e objecto
o
objecto
o
sujeito
a
existência
de
algo
(real,
existência
de
alguém
ou
virtual)
que
pode
ser
que
quer
conhecer
investigado
é a entidade humana
o
objecto
percebido
que, dotada
de capacidades
ou
construído
pela
mente,
receptivas e cognitivas,
isto
é,
aquilo
(coisa,
acção,
percepciona a realidade
evento,
processo
interno
ou
e que se empenha
externo
ao
corpo)
que,
sendo
na investigação da
percepcionado
pelo
sujeito,
parcela da realidade
pode
ser
investigado
e
que designa por
explicado
(ou
seja,
pode
objecto.
constituir
o
objecto
de
conhecimento
ou
objecto
de
estudo)
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5. Conhecimento
Há interpretações do mundo que
não são muito fiáveis (crenças
em sentido amplo) e outras que
merecem a nossa confiança,
porque estão justificadas.
Por exemplo, não acreditamos
que o nosso cérebro esteja fora
do nosso corpo, mas há quem
acredite que o Sol
se move em volta da Terra.
Podemos chamar conhecimento
às interpretações não
justificadas?
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6. Epistemologia
É preciso distinguir crença
e conhecimento; mas o nosso
problema não é discutir se
acreditamos ou não, mas como é que
justificamos a nossa crença. No
domínio da Ciência e da Filosofia não
basta acreditar (crer), é preciso
justificar as crenças.
É por isso que se pode dizer
que a epistemologia é o estudo
do conhecimento e a justificação
da crença.
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7. Epistemologia
Platão pergunta «O que é o
conhecimento (episteme)?» e
procura debater a diferença entre
crença, ou opinião (doxa), e
conhecimento, definindo crença
como um determinado ponto de
vista subjectivo e conhecimento
como crença verdadeira
e justificada.
justificação
da crença.
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8. Dúvida hiperbólica
Argumentos que fundam o acto de duvidar
A experiência mostra que:
Os
sentidos
Há
homens
Temos
dificuldade
Por
nos
podem
errar
que
erram
em
identificar
enganarmos
algumas
vezes,
mesmo
ao
a
verdade,
pois
às
vezes,
não
logo,
não
são
raciocinar
às
vezes
não
sabemos
se
existe
dignos
de
crédito
distinguimos
sonho
alguma
certeza
total
e
realidade
Conclusão
provisória:
todo
o
conhecimento
pode
ser
falso,
por
isso,
vou
duvidar
de
tudo
(dúvida
hiperbólica
–
global).
9. Descoberta
da verdade
Ao usar a dúvida metódica, Descartes
descobre que ao duvidar está a pensar.
E afirma: «Se duvido, penso, e se penso,
existo.»
Eu penso, logo existo (cogito) é a primeira
e irrefutável certeza.
A certeza ou a indubitabilidade do cogito
resulta do modo como a apreendemos: impõe-
se-nos como evidente. E é evidente, porque
o percebemos com clareza e distintamente.
10. Critério de
verdade,
clareza e distinção
Descartes generalizou
a descoberta: tudo o que é
concebido muito claramente
e muito distintamente
tem a mesma evidência
que o cogito, logo,
é verdadeiro.
11. Da ideia de Deus
à existência de Deus
Tenho
em
mim
a
ideia
de
um
ser
perfeito.
A ideia de um ser perfeito não pode ter
origem em mim, porque sou imperfeito.
Dado
que
conheço
perfeições
que
não
possuo,
tenho
de
aceitar
a
existência
de
um
Ser
que
seja
a
causa
de
mim
e
da
ideia
que
tenho
d’Ele.
12. Da existência de Deus
à existência do mundo
material
Uma vez que Deus é bom e perfeito, não nos engana.
O
mundo
material
existe
e
é
de
natureza
diferente
do
pensamento
e
de
Deus.
Deus
é
a
garantia
de
que
é
As
coisas
materiais
ocupam
espaço,
verdadeiro
o
conhecimento
possuindo
características
quantificáveis.
apreendido
com
evidência,
isto
é,
com
clareza
e
Se
não
partirmos
das
informações
sensoriais
distinção,
ou
deduzido
dele.
(por
vezes
enganadoras)
e
respeitarmos
o
critério
de
evidência
podemos
conhecer.
13. Dualismo
cartesiano
Admitida a existência do pensamento (res
cogitans, ou «coisa» que pensa), de Deus e do
mundo material (res extensa, ou «coisa» extensa),
Descartes considera que:
o
pensamento,
ou
espírito,
ou,
ainda,
alma
(res
cogitans)
o
ser
humano
é
constituído
é
diferente
e
distinto
por
alma
e
corpo
–
do
corpo
(res
extensa)
o
dualismo
cartesiano
14. A existência de
Deus e a verdade
racional
Uma vez que os sentidos nos
enganam (pelo menos, às vezes),
o
conhecimento
não
pode
ter
a
fonte
do
a
sua
fonte
conhecimento
é
a
existência
da
na
informação
a
razão,
alma
e
de
Deus
é
sensorial
racionalismo
mais
certa
do
que
a
existência
de
coisas
exteriores
15. Refutação
de Descartes
David Hume recusa a dúvida metódica cartesiana por:
a considerar muito radical e inultrapassável
pôr em causa os sentidos
Reconhece que os sentidos podem
enganar e que, por isso, a sua informação
deve ser apoiada com a razão.
Reconhece que o cepticismo moderado
é necessário à filosofia.
16. Sensação e razão
Hume argumenta que:
a
confiança
nos
sentidos
é
uma
quando
somos
forçados
pelo
espécie
de
instinto
natural,
que
nos
leva
a
admitir
a
raciocínio
a
afastar-‐nos
dos
instintos
da
natureza,
ficamos
numa
situação
existência
de
um
mundo
exterior
à
nossa
embaraçosa
mente
(caso
das
casas
e
das
árvores)
as
representações
existentes
na
mente
as
nossas
representações
são
fornecidas
pelas
sensações
obtidas
através
da
experiência,
não
podendo
ser
mentais
têm
origem
nas
sensações
produzidas
pela
mente
ou
sugeridas
por
outro
espírito
(Deus,
por
exemplo)
17. Recusa
do racionalismo
Hume argumenta que:
justificar
a
veracidade
dos
sentidos
a
partir
de
Deus
conduziria
a
uma
conclusão
contrária
a
fonte
das
ideias
ao
que
se
queria
demonstrar
reside
nos
sentidos
se
adoptarmos
a
opinião
racionalista,
apartamo-‐nos
das
nossas
inclinações
naturais
e
não
conseguimos
satisfazer
a
nossa
própria
exigência
racional
18. Limites
do conhecimento
todas as nossas ideias provêm dos sentidos
não há impressões acerca de leis universais ou de
relações necessárias entre dois fenómenos (relações de
causalidade)
não podemos considerar o conhecimento
como absolutamente verdadeiro.
Por esta razão, Hume assume uma
perspectiva de cepticismo moderado,
rejeitando a atitude dogmática (própria
do realismo ingénuo do senso comum).
19. Duas Escolas em
confronto
No início do século XVIII, há duas grandes correntes
filosóficas acerca da origem do conhecimento:
o racionalismo (exemplo, Descartes, que
fundamenta e valida o conhecimento a partir
da evidência racional do «eu penso»)
o empirismo (exemplo, Hume, que
fundamenta o conhecimento na experiência
sensorial)
Kant perguntou:
poderão a razão e a experiência,
KANT
consideradas em conjunto, explicar
1724-1804
melhor a complexidade do processo de
conhecer?
20. Pontos de partida de Kant
Kant reconhece que o conhecimento implica:
a
existência
de
informações
sensoriais
e
de
uma
capacidade
que
só
percepcionamos
e
explicamos
(do
sujeito)
para
as
captar
a
informação
sensorial
a
partir
de
uma
«formatação»
que
a
nossa
mente
não
é
uma
espécie
de
«cera»
passiva
que
se
limite
que
os
dispositivos
estruturais
da
razão
a
gravar
essas
informações
condicionam
a
experiência,
influenciando
a
concepção
do
mundo
que
o
sujeito
é
um
conjunto
de
dispositivos
(formas
da
sensibilidade
e
formas
do
entendimento)
que
que
as
coisas
são
conhecidas
em
funcionam
como
um
programa
onde
função
das
características
da
nossa
as
informações
são
recebidas
estrutura
mental
e
interpretadas,
isto
é,
«formatadas»
21. Duas fontes
do conhecimento
A tese defendida por Kant
na Crítica da razão pura é:
o conhecimento resulta da
aplicação de uma forma (conceitos a
priori), produzida pelo entendimento,
a uma matéria (fenómeno que é a
posteriori
e resulta do modo como a sensibilidade
organiza as sensações)
KANT, Crítica da razão pura
o conhecimento tem, portanto, duas
fontes independentes, uma
racional
e outra empírica
22. Argumentos de
Kant
Existem duas fontes do conhecimento:
a
fonte
empírica:
recebe
as
representações
sensíveis
a
sensação
é
o
elemento
(é
nela
que
o
objecto
percebido
empírico
do
conhecimento:
ou
construído
pela
mente,
é
dado
é
a
posteriori
ao
sujeito)
a
fonte
racional
(ou
pura):
o
conceito
é
o
elemento
organiza
as
representações
puro
do
conhecimento:
(é
nela
que
o
objecto
percebido
é
pensado
mediante
os
conceitos)
é
a
priori
23. Argumentos de Kant
Características das faculdades que permitem ao
sujeito que o objecto lhe seja dado e o possa
pensar:
o
conhecimento
resulta
da
colaboração
entre
a
sensibilidade
e
o
entendimento.
Sem
a
sensibilidade
nenhum
objecto
nos
é
dado;
sem
o
entendimento
nenhum
objecto
é
pensado
nenhuma
destas
faculdades
(sensibilidade
e
entendimento)
tem
primazia
sobre
a
outra:
o
conhecimento
não
é
possível
nem
válido
sem
a
existência
de
intuições
e
de
conceitos,
interligados:
«Pensamentos
sem
conteúdo
são
vazios;
intuições
sem
conceitos
são
cegas.»
(Kant)
24. Apriorismo
Apriorismo é a concepção
segundo a qual
o conhecimento resulta
da aplicação de uma
forma,
a priori (conceitos puros,
ou categorias do entendimento)
a uma matéria, a posteriori
(as intuições sensíveis).
25. Apriorismo, racionalismo e
empirismo
Kant concorda com Kant discorda dos:
os:
racionalistas
racionalistas
a
razão
é
o
elemento
determinante
a
razão,
sem
o
contributo
da
experiência,
no
processo
de
conhecer
não
pode
conhecer
o
mundo
empiristas
empiristas
o
conhecimento
exige
que
o
sujeito
possua
formas
não
existe
conhecimento
sem
a
priori
(da
sensibilidade)
para
receber
os
dados
o
contributo
da
experiência
da
experiência
e
formas
a
priori
(do
entendimento)
para
organizar
os
dados
sensíveis
e
construir
o
objecto
do
conhecimento
O
conhecimento
é
uma
construção
mental
que
exige
dados
(a
posteriori)
e
formas
(a
priori).
26. nt o
Con hecime
Mente
Descartes - Hume
Kant
Jorge Barbosa, 2010
Psicologia, JB - 2010 26