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2
JEAN MICHEL GALLO SOLDATELLI
Internet e o Empoderamento do Indivíduo:
Como as redes sociais afetam as pessoas, a
sociedade e seus reflexos no ativismo.
Trabalho apresentado ao Departamento de
Relações Públicas, Propaganda e Turismo da
Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo, formulado sob a
orientação da Profa. Dra. Maria Clotilde Perez
Rodrigues Bairon Sant’Anna, para a
Conclusão de Curso de Comunicação Social
com habilitação em Publicidade e
Propaganda.
CRP-ECA-USP
3
São Paulo, 2013
A todos que encaram a vida como uma só,
independente de como ou onde ela é vivida.
4
AGRADECIMENTOS
Não tem como pensar na graduação que alcanço agora, preciso
primeiramente lembrar das pessoas e dos momentos que me fizeram chegar até
aqui. Certamente a principal dedicatória e o primeiro agradecimento a ser feito é
para aqueles que primeiro cuidaram e acreditaram em mim. Minha avó Janetti,
pessoa mais guerreira que conheço e que mesmo sem querer sempre foi quem mais
apostou em mim. Volnei, o pai que por mais que a distância tente nunca deixou de
estar presente e me inspirar. Ariane, minha irmã carinhosa que tanto me ensina com
seu jeito carinhoso e que nunca deixou de estar ao meu lado. Aos meus tios Alô,
pelo apoio incondicional, mesmo que muitas vezes viesse disfarçado como críticas e
descrença, e Tita, pelo exemplo de luta e benevolência que tanto me influenciam.
Por fim, a minha mãe Gislene, que mesmo com todas as adversidades possíveis me
ensinou como a felicidade está nas pequenas coisas, e como devemos acreditar nas
pessoas. Lições essas que a vida muitas vezes tenta subverter, mas sua lembrança
e seu amor não me deixam desacreditar. Toda a minha família, seja ela em Franca,
no Rio Grande do Sul, ou mesmo os nômades espalhados pelo mundo, me ensinou
com erros e acertos tudo que levo como índole hoje.
Para completar minha lembrança a todos que me ajudaram a passar por
todas as provações e entrar na USP, agradeço aos meu grande irmão de infância
Caio, aos amigos e professores do Instituto Samaritano, e aos companheiros dos
treinos de vôlei, principalmente Deime, Vinícius e Régis, pela amizade que me faz
viajar 400 km sem pensar muitas vezes.
A ECA mudou completamente minha forma de ver o mundo. Quando entrei
pela primeira vez nesse lugar não tinha ideia de como as coisas eram realmente,
não sabia até onde eu podia alcançar. Essa escola me mostrou o que é liberdade,
diversidade, parceria; me mostrou como enxergar a realidade e também como é
bom às vezes fugir dela. O primeiro passo foi morar em uma república com duas
pessoas tão diferentes de mim, que entre xingamentos e risadas me fizeram crescer
e encarar esse novo mundo. Das aflições na busca do apartamento até hoje, eu,
Júnior e Guilherme crescemos juntos. Ao segundo e aos meus atuais companheiros
de república, Maurício e Daniel, por mais que seja contra minha vontade, agradeço a
todo ao terrorismo psicológico que me incentivou a terminar esse TCC.
5
A segunda grande mudança que passei foi entrar para a ECA Jr. Lá vi como a
vida em grupo é difícil, como eu não sabia direito viver assim, e como uma utopia as
vezes pode dar certo. A todos da minha gestão, agradeço por tudo, das críticas aos
abraços, que tanto me fizeram crescer. Àquela sala 3, minha eterna gratidão por
todos os conhecimentos adquiridos, pela experiência vividas e pelas pessoas que
conheci, e que levarei pra sempre com carinho.
Tive sorte em estudar em uma sala que, pelas diferenças, transformou o
curso em algo além do aprendizado. Especialmente aos homens e mulheres da
Scuderia, com os quais tive e tenho experiências únicas, sejam festas memoráveis,
trabalhos que nos orgulhemos, independente de suas notas, ou discussões sobre o
mercado e a profissão. Aqueles que sabem que juntos, nosso sucesso é inevitável.
À todos amigos (alunos, professores, funcionários ou malucos) que fiz na
USP: vocês são a melhor universidade que alguém pode fazer. Todas as conversas,
discussões, movimentos, instituições, JUCAs e QiBs, ensinam o que não está nem
estará escrito em nenhum livro. Uma conversa na prainha muitas vezes vale mais
que qualquer MBA, mais que qualquer fórum internacional, mais que qualquer
trabalho em qualquer agência ou empresa. Esse espírito que torna a ECA essa
escola maravilhosa, cheia de encantos mil; a valorização da vivência e da conversa
como um aprendizado maior. Dentre todos esses amigos agradeço especialmente a
Débora, bixete que tanto ensinou esse veterano, por mais que as vezes ela não
enxergue isso.
Não posso deixar de lembrar também de todos aqueles com quem trabalhei
nos últimos anos, que me ensinaram aquilo que a ECA não se propõe a ensinar, e
me mostraram como a comunicação como ela é, seja sua face cruel ou encantadora.
Um abraço especial a todos da Router, agência que me acolheu e deu a
oportunidade de crescer por mais difícil que seja aturar a minha pessoa, e todos os
amigos que fiz lá.
Por fim, agradeço aos professores, que nos passam mais do que
conhecimento, nos ensinam a discutir, pensar, e a representar o nome USP para
todo o mundo.
6
RESUMO
Esse trabalho se propõe a analisar o desenvolvimento da internet, suas
influências na sociedade e no indivíduo, e por fim as consequências disso no
ativismo, com o surgimento do ativismo digital.
O desenvolvimento do estudo ocorre inicialmente com um histórico da internet,
desde seu surgimento até sua transformação como é hoje. Posteriormente, são
apresentados os usos da internet ao longo do tempo e analisados estudos que
mostram como as redes sociais refletem na formação do indivíduo moderno
frente aos seus relacionamentos e persona frente a sociedade. A mudança dos
processos de comunicação, a convergência midiática e a dualidade entre
informação e conhecimento fecham os estudos sobre sociedade e indivíduo,
abrindo o caminho para o reflexo sobre os efeitos dessas mudanças na forma de
engajamento das pessoas e em como o ativismo foi potencializado por isso. Por
fim, é feita uma análise do ativismo no ponto de vista pragmático, e o trabalho é
finalizado com o estudo de diferentes casos relacionados ao ativismo digital que
concretizam esse hábito moderno.
PALAVRAS-CHAVES
Internet, redes sociais, empoderamento, convergência, ativismo digital.
7
ABSTRACT
The purpose of this study is to analize the internet’s evolution, its influence
in society and in individuals as well as its consequences in the activism, with the
rise of the digital activism.
Starting with Internet’s history: its creation, transformation and use
nowadays . Showing its progress througout the years and evaluating studies that
demonstrates not only how social networks reflects in the formation of the modern
persona towards its relationship with society are part of the development of this
essay. The changes in the process of comumnication, the midiatic convergence and
the duality in between information and knowledge complete the studies about
society and individual. It also opens a path for reflections about the efects of it´s
changes on people´s engagements ways, and how activism was potentialized by
such a change. Closing , the pragmatic point of view of activism is analyzed , and the
essay ends with the study of different cases of digital activism which
reassures/supports this modern habit.
KEYWORDS
Internet, social networks, empowerment, convergence, digital activism.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Gráfico de adesão das tecnologias do século XX na população americana......... 14
Figura 2 - Crescimento de usuários de internet.................................................................... 14
Figura 3 - Linha do tempo com momentos importantes da história da internet..................... 18
Figura 4 - Interface do classmates.com ............................................................................... 20
Figura 5 - Histórico das redes sociais, do serviço postal às redes digitais .......................... 23
Figura 6 - A partir de 2011 o uso de redes sociais se tornou a atividade mais realizada na
internet ................................................................................................................................ 25
Figura 7 - Passo a passo para a participação do programa Cielo Linkci .............................. 28
Figura 8 - Charge que representa as mudanças no relacionamento interpessoal................ 29
Figura 9 - Exemplo de Phone Stacking................................................................................ 32
Figura 10 - Vazamentos de informações do governo americano pelo Wikileaks.................. 49
Figura 11 - Interface do Xbox One, que irá integrar vídeo-game, tv e internet ..................... 54
Figura 12 - Página principal do Avaaz, site de petições online............................................. 56
Figura 13 - Quadrinho satirizando os "ativistas de sofá" ...................................................... 60
Figura 14 - O presidente tunisiano retirado do poder visita o homem que com sua
autoimolação deu início a revolta no país ............................................................................ 61
Figura 15 - População tira fotos com os celulares do corpo do ex-ditador líbio.................... 63
Figura 16 - Homem durante protestos no Egito.................................................................... 63
Figura 17 - Efeitos da massificação das redes sociais no mundo árabe na criação da
identidade nacional e da globalização do indivíduo ............................................................. 65
Figura 18 - Crescimento de usuários do Facebook durante o período de revoltas............... 65
Figura 19 - Uso do facebook durante o período de revoltas................................................. 66
Figura 20 - Fontes de informação dos cidadãos no período das revoltas............................ 66
Figura 21 - Vídeo de divulgação do caso Kony, atualmente com quase 98 milhões de
visualizações ....................................................................................................................... 68
Figura 22 - Tempo levado até os vídeos mais vistos até agosto de 2012 atingirem 100
milhões de visualizações ..................................................................................................... 69
Figura 23 - Evolução do volume de buscas do termo Kony ................................................. 70
Figura 24 - Áreas de atuação do Fora do Eixo..................................................................... 72
Figura 25 - Modo de organização político do Fora do Eixo .................................................. 73
9
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................10
2. INTERNET E REDES SOCIAIS: INÍCIO E DESENVOLVIMENTO ............................ 12
2.1. O SURGIMENTO DA INTERNET ............................................................................. 12
2.2. O DESENVOLVIMENTO DA REDE E SUA EXPANSÃO MUNDIAL................................ 13
2.3. A WEB COMO PLATAFORMA E O CONTEÚDO NA MÃO DOS USUÁRIOS................... 18
3. A INFLUÊNCIA DA INTERNET NA SOCIEDADE...................................................... 24
3.1. EVOLUÇÃO DO USO DA INTERNET ....................................................................... 24
3.2. A DUALIDADE DAS REDES SOCIAIS...................................................................... 28
3.3. A INTERNET MUDANDO OS PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO ................................. 38
3.4. INFORMAÇÃO X CONHECIMENTO ......................................................................... 42
3.5. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A CULTURA DA CONVERGÊNCIA .......................... 48
4. ATIVISMO DIGITAL .................................................................................................... 55
4.1. ATIVISMO “REAL” X ATIVISMO DIGITAL ............................................................... 57
4.2. PRIMAVERA ÁRABE............................................................................................. 61
4.3. O CASO KONY..................................................................................................... 68
4.4. FORA DO EIXO .................................................................................................... 71
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 81
10
1. INTRODUÇÃO
Desde a idade das pedra, onde descobriu que organizar-se em grupos era
importante para a sobrevivência, o ser humano é um ser social. Independente dos
objetivos e da forma que essa socialização é feita, nós sempre teremos essa
necessidade de nos relacionarmos à grupos e isso afeta a forma como agimos, as
nossas escolhas e até a formação de nossa personalidade.
Esse estudo surgiu como a necessidade do entendimento da influência que a
internet, mais precisamente as redes sociais, nas pessoas. O que ela mudou na
forma como nos relacionamos, nas pessoas que conversamos, nas atividades que
fazemos, no nosso dia-a-dia de forma geral. Para isso, o primeiro passo foi estudar o
surgimento da internet, desde os tempos militares, seu processo aberto e
colaborativo de massificação, suas características descentralizadas e democráticas,
até seu futuro, presente basicamente em qualquer lugar e interferindo em toda
nossa forma de viver.
Após entendermos de onde veio e para onde vai a internet, buscamos
analisar os reflexos disso na forma como as pessoas se comunicam, se relacionam,
se mostram umas a outras. De casamentos que acabaram por causa do Facebook
até a forma como os relacionamentos online produzem hormônios semelhantes a
relacionamento físicos, serão apresentados diversos estudos que expõem a
dualidade de efeitos proporcionados pelas redes sociais, em diversos pontos de
vista. Os efeitos dessas mudanças em uma visão de sociedade também serão
apontados, desde o poder conquistado ao usuário a convergência midiática que os
produtores de conteúdo estão tendo que se acostumar.
Hoje a internet é a maior fonte de informações disponível, e isso pode acabar
virando um problema. Primeiro pela falta de privacidade e exposição exacerbada de
informações pessoais na rede, o que interfere desde no processo de conhecimento
de uma pessoa até na diferença entre o que a pessoa é e o que ela parece ser.
Segundo, o excesso de informações e o consumo simultâneo de mídias pode causar
11
consequências positivas e negativas, alterando nosso processo de transformação de
informação em conhecimento e nossa necessidade de certos conhecimentos em si.
Na última parte do trabalho será feita uma análise do conceito de ativismo, as
mudanças que o ele passa com o advento do digital e o cruzamento do conceito de
ativismo digital com o pragmatismo de Pierce. Para finalizar o estudo, veremos como
esses efeitos tem ocorrido na prática: como o ativismo digital pode ser utilizado para
fazer revoluções como a Primavera Árabe, que surpreendeu a todos por acontecer
em uma cultura que tradicionalmente possui uma lenta adesão tecnológica; como
instituições tentam se aproveitar da questão do ativismo como status, utilizando o
exemplo do caso Kony 2012; e finalmente como a nova geração vê o ativismo sem
uma causa definida, mudando paradigmas de mercados tradicionais e do consumo
de cultura no país.
12
2. INTERNET E REDES SOCIAIS: INÍCIO E
DESENVOLVIMENTO
2.1. O SURGIMENTO DA INTERNET
A guerra é conhecida por acelerar o desenvolvimento humano, apesar de ser
o exemplo máximo de involução da nossa espécie. Do micro-ondas a margarina,
várias tecnologias e objetos do nosso cotidiano surgiram a partir do
desentendimento entre as pessoas. A internet é uma dessas filhas da guerra, e,
justamente por isso, é interessante pensar que, o que o que hoje talvez seja a maior
ferramenta de comunicação da sociedade, nasceu do símbolo do esgotamento da
comunicação entre povos.
Na década de 1960, auge da Guerra Fria, o controle de informações era uma
das grandes preocupações governamentais: espiões e interceptações de
comunicação muitas vezes valiam mais que qualquer arma. Diante este cenário,
manter as informações concentradas em apenas um local era um risco muito
grande, e a possibilidade de um bombardeio ao Pentágono, principal centro de
inteligência do governo americano, fez com que este colocasse suas principais
mentes, que na época buscavam colocar os EUA em pé de igualdade com a União
Soviética na corrida espacial, em busca de uma alternativa que mantivesse as
informações seguras.
A partir do projeto de um psicólogo do MIT sobre computação interativa, foi
criada a Arpanet (Advanced Research Projects Agency Network), uma rede de
comunicação descentralizada que permitia a transmissão de informações entre
diversas centrais. Contrariando o motivo inicial, a rede teve seus primeiros nós em
1969 em quatro universidades: Los Angeles, Stanford, Santa Barbara e Utah. A
Arpanet foi sendo difundida no meio acadêmico não só americano e em 1983 o
Departamento de Defesa acabou criando uma rede militar dedicada, tornando a
Arpanet exclusivamente voltada a pesquisa.
13
Já neste primeiro capítulo de formação da internet, podemos perceber uma
mudança significativa: a informação não era mais escrava de um local. Apesar de a
Arpanet ter sido a base, a internet dos atuais moldes é resultado de diversas
iniciativas. As primeiras transmissões de arquivos e de mensagens entre
computadores pessoais foram feitas por dois alunos de Chicago, que
disponibilizaram os códigos para domínio público. Outro estudante californiano criou
uma forma de conexão através de linhas telefônicas convencionais, barateando e
popularizando a rede.
Porém o grande marco da internet ocorreu em 1989: a criação da World Wide
Web. Tim Berners-Lee, um pesquisador do CERN, Organização Europeia para a
Pesquisa Nuclear, pegou diversos trabalhos considerados utópicos e concretizou-os
em um sistema de hipertextos chamado de World Wide Web, com isso o usuário
poderia ir de um conteúdo a outro relacionado. O sistema WWW foi disponibilizado
online e é a base usada para a internet até hoje.
2.2. O DESENVOLVIMENTO DA REDE E SUA
EXPANSÃO MUNDIAL
A partir daí o crescimento da internet foi exponencial. Em 1991 os hiperlinks
foram liberados ao público. No mesmo ano o finlandês Linus Torvalds cria o Linux, o
primeiro sistema operacional aberto da história, o que ajuda a difundir a cultura de
programação e desenvolvimento pelo mundo.
14
Figura 1 - Gráfico de adesão das tecnologias do século XX na população americana (fonte:
W.Michael Cox)
Porém, 1995 foi o ano que deu início a massificação da internet. Com o
Windows 95 o computador se popularizou e a interface ficou mais amigável para
usuários leigos. Se o sistema da Microsoft foi o responsável por facilitar o uso de
computadores pelo mundo, o Netscape teve o mesmo papel, facilitando o uso da
internet pelos usuários ao redor mundo. Em março do mesmo ano, o sistema de
buscas de maior sucesso no início da internet foi lançado: o Yahoo auxiliava os
usuários a encontrarem as informações na web. Já em julho, a Amazon vende seu
primeiro livro, sendo uma das pioneiras do e-commerce. Apenas um mês depois, ela
já realizava entregas em 45 países. Em setembro foi realizado o primeiro leilão
virtual no eBay, inaugurando um papel mais ativo do internauta. Mais tarde, em
1996, seria lançado o primeiro serviço de webmail do mundo, o Hotmail, que mais
tarde viria a popularizar a função mais usada pelos internautas.
Figura 2 - Crescimento de usuários de internet (fonte: Internet Telecommunication Users)
15
Com todas essas mudanças, em 1997 a internet já contava com quase 120
milhões de usuários1
, transferia mais de 5 petabytes de informações por mês e
bateu a marca de um milhão de websites2
. Diante esse cenário de prosperidade, a
internet foi vista como uma mina de ouro, e a partir daí toda ideia poderia ser a
próxima ideia de um bilhão de dólares. Uma dessas ideias foi o Google, o sistema
de buscas que se transformaria em uma das empresas mais importantes do mundo.
Ele surgiu em 1998, com o objetivo de “organizar a informação mundial e torná-la
universalmente acessível e útil” 3
, e nos primeiros meses já teve um investimento de
100 mil dólares, reflexo da confiança depositada na web. O Google organizou a
vasta quantidade de informações na web de forma que qualquer um pudesse
encontrar o que precisava, sendo que hoje muitas pessoas acabam utilizando o
portal como ponto inicial para a navegação, não só para procurar como para entrar
em sites, ou até para verificar a grafia de uma palavra.
No ano seguinte, surgiu o serviço que mudaria a economia mundial. O
Napster criou uma das maiores revoluções na distribuição de conteúdo ao
popularizar o sistema P2P – do inglês peer-to-peer, é uma rede de
compartilhamento de arquivos onde os usuários podem trocar arquivos sem
intermediários – para a troca de arquivos de música. Após ter uma base de mais de
oito milhões de usuários, a empresa foi bombardeada por processos das grandes
corporações multimídia e acabou sendo obrigada a fechar seu serviço. Porém, a
ideia de compartilhamento de arquivos mudaria a indústria de entretenimento para
sempre: diversos serviços semelhantes surgiriam e, por fim, as empresas teriam que
adaptar seus negócios para sobreviver à rede.
Na virada do século, a marca de 10 milhões de sites era batida, e as
empresas de tecnologia, denominadas popularmente de “ponto com” tinham um
crescimento exponencial na bolsa. O ápice dessa euforia foi a compra da Time
Warner, um dos mais tradicionais conglomerados de entretenimento dos Estados
1
Google – Evolution of Web http://www.evolutionoftheweb.com Acesso em 14 de outubro de 2012.
2
A Internet, seis décadas. Discovery Channel. http://discoverybrasil.uol.com.br/internet/interactivo.shtml
Acesso em 14 de outubro de 2012.
3
Google Corporate – Missão http://www.google.com/about/company/ Acesso em 14 de outubro de 2012.
16
Unidos, pela AOL, na época o maior provedor de internet do mundo. Era o símbolo
do triunfo da “nova economia” sobre a “velha economia”.
Com o crescimento desenfreado de investimento nas empresas relacionadas
à internet, o FED (Banco Central dos Estados Unidos) resolve interferir, e, após
enviar diversas mensagens ao mercado criticando sua “exuberância irracional”, ele
aumenta em seis vezes a taxa de juros, visando moderar esse ímpeto4
. A Nasdaq
(bolsa eletrônica de Nova York) sofre com as especulações, e as cartas das
empresas relacionadas à tecnologia ficam hiperinflacionadas. Esse movimento foi
bastante incentivado pelos especialistas do mercado financeiro que controlavam o
dinheiro de pequenos investidores, como visto em Wheen:
“A verdade só veio à tona em 2003, quando o procurador do estado de
Nova York, Elliot Spitzer, saiu em defesa dos pequenos investidores que se
haviam arruinado por seguirem os conselhos dos especialistas. A
investigação revelou que, enquanto Blodget exortava publicamente os
clientes da Merrill a arriscarem a poupança de sua vida inteira em firmas
como a Goto.com e a Excite Home, seus e-mails particulares para colegas
descreviam essas mesmas ações como "papéis sem valor", "uma porcaria"
e "uma bosta". (...) Seu equivalente no Citibank, Jack Grubman, foi
condenado a pagar 24,4 milhões de multa por produzir relatórios de
pesquisa "fraudulentos e enganosos" sobre ações da Internet.”
5
Pouco tempo depois, as empresas “ponto com” começaram a sofrer de
diversas correções e processos, como a declaração de monopólio do tribunal federal
americano contra a Microsoft. Junto a isso, vieram os maus resultados dos varejistas
online no Natal de 1999 e ausência de retorno do modelo econômico das empresas
“ponto com”.
Com o estouro da bolha, diversas empresas pediram falência, outras foram
adquiridas e as que sobreviveram, como a AOL, que acabou se tornando uma seção
da empresa que comprou, perderam grande parte do seu valor de mercado.
4
Ditados para Entender a Bolsa. Tarek Issaoui, Ivan Moneme. NBL Editora, 2007.
5
Wheen, 2007. P. 291
17
Apesar de todo o caso da bolsa, o uso da internet não parou de avançar em
todos esses anos. Em apenas oito meses, o número de sites existentes dobrou,
totalizando 20 milhões. No ano de 2001, surgiu o serviço que iconiza o poder do
usuário no controle da informação: a Wikipédia. Uma enciclopédia virtual
colaborativa, onde os próprios usuários escrevem e corrigem os verbetes. É o início
da descentralização da informação, o que irá modificar bastante todo o
comportamento de uma sociedade anos depois. A partir daí, veremos uma grande
mudança na utilização da web e nos principais sites, o que será tratado com
profundidade no próximo capítulo.
É importante notar que as bases nas quais a internet foi construída refletem
bastante no que a internet tornou-se. Se existe essa rede mundial de computadores
hoje, deve-se ao trabalho colaborativo, feito por diversas pessoas, e principalmente
ao compartilhamento livre, para que as pessoas modificassem e o sistema evoluísse
independente de direitos autorais. Castells resume todo o processo:
"Antes de mais nada, a Internet nasceu da improvável interseção da big
scene, da pesquisa militar e da cultura libertária. Importantes centros de
pesquisa universitários e centros de estudos ligados à defesa foram pontos
de encontro essenciais entre essas três fontes da Internet. A Arpanet teve
origem no Departamento de Defesa dos EUA, mas suas aplicações militares
foram secundárias para o projeto(...) Ele desempenhou um importante papel
na construção da tecnologia de comunicação por pacote, e porque inspirou
uma arquitetura de comunicações baseada nos três princípios segundo os
quais a Internet opera ainda hoje: uma estrutura de rede descentralizada;
poder computacional distribuído através dos nós da rede; e redundância de
funções na rede para diminuir o risco de desconexão. Essas características
corporificavam a resposta-chave para as necessidades militares de
capacidade de sobrevivência do sistema: flexibilidade, ausência de um
centro de comando e autonomia máxima de cada nó.”
6
6
Castells, 2003. P.19
18
Figura 3 - Linha do tempo com momentos importantes da história da internet (fonte: joaobordalo.com
com informações de builderau.com.au)
2.3. A WEB COMO PLATAFORMA E O CONTEÚDO
NA MÃO DOS USUÁRIOS
Se a internet teve como premissa inicial o compartilhamento de conhecimento
e o armazenamento de informações, a partir da difusão social e de sua penetração
na grande população percebemos uma clara expansão em seu uso. Essa expansão,
causada por fatores como o amadurecimento dos usuários e a popularização das
linguagens de programação, mostrou o poder da utilização da grande rede como
uma plataforma, interativa e colaborativa, fazendo com que a mesma se tornasse
gradativamente parte do dia a dia das pessoas, tanto a fins de relacionamento como
de criação da identidade em si. Para essas mudanças foram criadas diversas
19
terminologias, como infoware, the open source paradigme shift, além da famosa
Web 2.07
.
A primeira plataforma online criada com fins sociais foi a Usenet, em 1979.
Com ela os usuários trocavam mensagens de texto, agrupadas por tema, em uma
espécie de fórum. Porém a popularização da troca de mensagens veio só em 1988,
com o IRC (Internet Relay Chat). O sistema finlandês permitia encontros em grupo,
mensagens privadas e mensagens em tempo real. Com a popularização da internet,
o IRC se transformou na principal forma de bate-papo entre os internautas. Em
1995, com o lançamento do Windows 95, foi criado o mIRC, um programa que utiliza
o protocolo IRC inicialmente para bate-papo, e posteriormente desenvolvido para
funcionar como servidor de jogos multiplayer, de arquivos e até leitor de MP3. O
mIRC foi talvez a primeira plataforma de comunicação utilizada em nível mundial,
uma sensação até 2003.
Após o mIRC, programas de comunicação instantânea surgiram e
popularizaram o uso da internet como forma das pessoas se conhecerem e
comunicarem. Menos formais que o e-mail, Instant Messengers (IMs) como o ICQ,
Aol Messenger e MSN Messenger se difundiram e com eles o uso da internet com
um objetivo mais voltado em interação social. O ICQ, pioneiro entre os IMs, teve
força o suficiente para fazer com que as pessoas decorassem o número de 8 dígitos
que representava seu usuário para passar para pessoas que conhecessem na vida
real e assim mantivesse contato. Até hoje os IMs são responsáveis por grande parte
do tempo gasto na grande rede, e estão crescendo cada vez mais graças ao uso de
novas ferramentas como os formatos multimídia do Skype ou o uso em dispositivos
móveis, como no WhatsApp. Em 2012 existiam 3,18
bilhões de contas de IMs no
mundo, e a previsão é que esse número chegue em 3,8 até 2016.
O uso com cunho de relacionamento da internet cresceu exponencialmente
graças as redes sociais. Redes sociais são estruturas compostas de perfis (sejam
7
Brady Forrest. Controversy about our "Web 2.0" service mark. http://radar.oreilly.com/2006/05/controversy-
about-our-web-20-s.html Acesso em 06/05/2013.
8
The Radicate Group, INC. Instant Messaging Market, 2012-2016 http://www.radicati.com/wp/wp-
content/uploads/2012/08/Instant-Messaging-Market-2012-2016-Executive-Summary.pdf. Acesso em
28/04/2013.
20
eles de pessoas, empresas, ou outra entidade) conectados que se relacionam entre
si, em busca de um mesmo interesse. Estas estruturas permitem relacionamentos
sem níveis hierárquicos, e com diversos objetivos, desde amorosos até profissionais.
Redes não são, portanto, apenas uma outra forma de estrutura, mas quase uma não
estrutura, no sentido de que parte de sua força está na habilidade de se fazer e
desfazer rapidamente. Os limites das redes não são limites de separação, mas limites
de identidade. (...) Não é um limite físico, mas um limite de expectativas,
desconfiança e lealdade, o qual é permanentemente mantido e renegociado pela rede
de comunicações.
9
Figura 4 - Interface do classmates.com
Em 1995, o embrião da primeira rede social como é conhecida hoje nasceu. O
Classmates.com tinha como objetivo fomentar o reencontro entre amigos que
estudaram juntos. Em 1997 foi lançado o Six Degrees, considerado a primeira rede
social moderna. Com ele as pessoas poderiam criar perfis online e conectar-se a
uma rede de amigos. Porém a primeira grande rede social foi o Friendster, lançada
em 2002. O nome, junção da palavra friend com Napster, indica o principal
diferencial da rede: além de conectar-se aos amigos, você também pode descobrir
amigos de amigos ou pessoas com um interesse em comum. Com opções de grupos
por interesse, atividade ou escola, além de interações por mensagens, jogos, blogs
e aplicativos, o Frindster teve um crescimento rápido, chegando em seu ápice a 115
milhões de usuários. A partir de 2003, diversas redes surgiram, cada uma com um
9
DUARTE, F.; QUANDT, C.; SOUZA, Q. (Org.). O Tempo das Redes. Editora Perspectiva, 2008. P.21/23/156
21
propósito diferente para atender as necessidade dos mais de 600 milhões de
internautas da época. Com o MySpace os internautas começaram a mostrar o seu
perfil através dos interesses que possuíam, conectando fãs e artistas, além de ter os
primeiros aspectos multimídia como upload de fotos e músicas. Já o LinkedIn
transportou o conceito de redes sociais para o mundo profissional através de redes
de pessoas que se conhecem profissionalmente, criando uma espécie de currículum
vitae interativo e possibilitando recomendações e descobertas de vagas. Outro
exemplo de rede social com um propósito definido é o Flickr, criado em 2004 para
conectar todos entusiastas de fotografia, ele massificou o hábito de guardar fotos na
internet, além de criar um grande banco de imagens com possibilidade de
comercialização e um espaço onde grupos relacionados a fotografia podem trocar
experiências e informação.
A geração que nasceu e cresceu com a presença constante das tecnologias
digitais, os chamados nativos digitais, começou a encarar a internet como uma
ferramenta da sua vida social, algo que ela utiliza tanto para se relacionar como para
definir quem ela mesma é10
. Com esse amadurecimento dos usuários, a demanda
por redes sociais mais abrangentes, que não focassem em um determinado perfil, foi
se desenvolvendo.
Esse amadurecimento explica o sucesso estrondoso da plataforma criada em
2004 que mudaria para sempre a forma que as pessoas utilizariam a internet: o
Facebook. Feito com o objetivo de conectar os alunos de Harvard, o Facebook
tornou-se a principal rede social e o site mais visitado do mundo11
graças ao fato de
ser uma plataforma criada para o relacionamento entre as pessoas, possibilitando a
troca de mensagens, formação de grupos e compartilhamento de conteúdo, e a
interação das pessoas com páginas e aplicativos, onde podem se conectar a
instituições e pessoas públicas, montando assim sua identidade digital.
No mesmo ano, o Google lançava o Orkut, rede social semelhante ao
Facebook que se tornaria a principal rede social de diversos países até a
10
PALFREY (2011), p-17.
11
DICKEY, MEGAN R.; CARLSON, NICHOLAS. The Biggest Websites In The World.
http://www.businessinsider.com/biggest-websites-in-the-united-states-2013-2?op=1. Acesso em 06/05/2013.
22
disseminação deste mundialmente, a partir de 2008. O Orkut tinha características
mais identitárias graças as comunidades, onde ao participar a pessoa atestava a
concordância do argumento chave daquela comunidade, e assim identificava seu
perfil. A rede social do Google foi uma das principais responsáveis pela inclusão
digital no país, transportando o caráter social que o brasileiro já tem para a internet.
Segundo o site de monitoramento de fluxo de sites Alexa, o Orkut teve seu pico em
2010, quando teve 34 milhões de visitantes únicos, o que representava cerca de
75% do alcance total de usuários brasileiros.
No ano seguinte, o Youtube revolucionaria novamente a forma das pessoas
consumirem conteúdo, permitindo o compartilhamento de vídeos de forma fácil e
gratuita. Com a popularização das câmeras digitais e dos celulares, qualquer um
poderia produzir seu vídeo e até tornar-se uma celebridade da internet. O Youtube
mudou não só a forma de se consumidor conteúdo na internet, como mudou a
indústria de entretenimento como um todo, das emissoras de tv às gravadoras
musicais.
Em 2006, o Twitter se destacou pela limitação em um mundo saturado de
informação. Se com o Youtube qualquer um poderia se tornar uma celebridade, com
o Twitter todos poderiam ser repórteres e transmitir informações em tempo real,
muitas vezes em primeira mão. Além do caráter informativo, o Twitter massificou a
comunicação entre usuários e o que antes era inacessível, colocado em pedestais,
como empresas e artistas. Esse canal direto de comunicação tornou-se um dos
melhores exemplos da inversão do poder para as mãos do usuário, onde a
expressão “xingar muito no Twitter” tornou-se sinônimo de fazer valer os seus
direitos.
23
Figura 5 - Histórico das redes sociais, do serviço postal às redes digitais (fonte: skloog.com)
Um dos grandes receios do uso da tecnologia móvel é a segurança, e divulgar
sua localização a princípio não era algo que muitas pessoas fariam. Em 2009 o
Foursquare mudou isso, aproveitando o anseio por status que as pessoas tem em
divulgar os lugares onde estão, juntando isso a uma plataforma gamificada12
que
gerava a competição entre amigos.
Outra rede social a mudar paradigmas foi o Instagram, plataforma onde os
usuários podem compartilhar fotos. Através do usos de filtros e alguns outros efeitos,
a rede reforçou a fotografia móvel e popularizou a fotografia como registro do
cotidiano e expressão de sua identidade.
Essa mudança de poder para o usuário causou também uma mudança na
relação das pessoas com a internet. A partir da possibilidade de criação e
compartilhamento de conteúdos, a demanda pela massificação da internet aumentou
e incentivou o surgimento de diversos dispositivos que trazem a internet ao alcance
de qualquer pessoa, a qualquer hora. E essa simbiose da internet com o dia a dia
das pessoas acaba mudando a forma que a sociedade é influenciada pela mesma,
assunto que será abordado com profundidade no próximo capítulo.
12
Gamification é um conceito dado para a criação ou adaptação de projetos com premissas de games, como
pontuação, ranking e prêmios.
24
3. A INFLUÊNCIA DA INTERNET NA SOCIEDADE
Como se pode perceber, a internet surgiu de uma forma razoavelmente
liberal, afinal as universidades podiam utilizar os investimentos para estudo com
certa flexibilidade; além de ser embasada em valores como colaboratividade e
compartilhamento. O surgimento da internet por si só já representa uma grande
mudança social: desde a utilização de cada nó da rede como servidor até a divisão
da informação, o funcionamento da rede concretizou conceitos antes considerados
utópicos. A informação, antes geoescravizada, passou a ser praticamente
onipresente graças à revolução tecnológica. A comunicação humana mudou seu
formato, seu conteúdo, seus limites e interlocutores; assim seria impossível passar
ileso por uma revolução dessas sem que as pessoas, e consequentemente, a
sociedade também mudasse.
3.1. EVOLUÇÃO DO USO DA INTERNET
Antes de analisarmos possíveis influências da internet na sociedade, é
importante entendermos a evolução do seu uso ao longo do tempo. A função
primordial da rede em seus primórdios era o envio de mensagens, tanto que a
história da internet e do e-mail se confundem. A primeira mensagem eletrônica foi
enviada em 196913
, e acabou sendo a principal atividade feita na internet por um
bom tempo. Para efeito de comparação, o primeiro site da história foi publicado em
agosto de 199114
, e a primeira imagem quase um ano depois15
. É interessante notar
que, mesmo 42 anos depois, o e-mail se manteve como a atividade mais popular
entre os usuários da internet, ao lado do uso de serviços de buscas. Segundo a
Comscore, apenas em outubro de 2011, o uso de redes sociais se tornou a atividade
13
Diário Digital. http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=417591 Acesso em 05/10/2012.
14
G1 http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/08/primeiro-site-publicado-na-internet-completa-21-anos-
veja.html Acesso em 05/10/2012.
15
Terra. http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI5890774-EI12884,00-
Primeira+foto+postada+na+web+faz+anos+conheca+a+historia.html Acesso em 05/10/2012.
25
mais popular na internet, responsável por um em cada 5 minutos navegados na
web16
.
Figura 6 - A partir de 2011 o uso de redes sociais se tornou a atividade mais realizada na internet
(fonte: comScore)
Partindo desta análise, podemos perceber que a internet sempre teve um
caráter social. Por mais que o compartilhamento e acesso a informações seja o
grande cerne da rede, as conversas movem grande parte das interações virtuais.
Com a evolução na interação das pessoas com os computadores, onde cada
vez mais uma questão individual se encaixa nesta nova forma de coletividade, o
computador pessoal é transformado no que Chatfield17
chama de computador
íntimo.
Ele deixa de ser uma ferramenta para ser uma extensão da própria pessoa,
com o qual ela convive praticamente todas as horas do seu dia. Essa relação
pessoa-máquina vem evoluindo e caminha para uma relação de completa simbiose,
que vem sendo chamada de Internet das Coisas, descrita de forma sucinta por Ning
em seu livro “Unit and Ubiquitous Internet of Things”:
“The phrase "Internet of Things" was proposed by MIT Auto-ID Center in
1999. Such an embryonic definition of IoT refers to constructing an Internet-
Based network covering all the thing in the world by using related
16
AccuraCast News. http://news.accuracast.com/social-media-7471/social-networking-most-popular-online-
activity/ Acesso em 05/10/2012.
17
CHATFIELD (2012) – p.20
26
technologies (e.g., radio frequency identification [RFID]) to realize
things'automatic identification and information sharing. In 2005, ITU Internet
Reports 2005: The Internet of Things, published by International
Telecommunications Union, pointed out the IoT concept and expanded its
meaning, and indicated that RFID technology, sensor technology,
nanotechnology, and intelligent embedded technology are the four core
technologies to realize IoT. After IBM announced the SmartPlanet concept in
2009, IoT became a hot topic and has been incorporated into many nations'
developement strategies. Along with the changes of application
requirements and technology development, the IoT concept has been rapidly
extended and new technologies have been involved in it.”
18
Essa evolução da internet, permitirá que tudo esteja conectado, portanto que
tudo seja mensurável ou programável, o que é uma polêmica fundada em bases
sólidas. Gadgets como a Nike FuelBand, uma pulseira que calcula todos seus
movimentos durante o dia, e o Google Glass, óculos conectado com o qual a pessoa
pode tirar fotos, fazer videoconferências ou mesmo coletar informação apenas com
comando de voz ou gestos, já são realidade e nos faz pensar no limite entre vida
social e vida privada. Grandes obras da ficção científica, como o conto de Philip K.
Dick, Minority Report, 1984, de George Orwell, ou mesmo o conceito de panóptico
de Focault, já previram algum cenário para esse assunto e imaginaram até quando a
sociedade poderia chegar com essa quantidade de informações em mãos, e os
perigos que corremos com isso. Se hoje, a superexposição de informações já é algo
rotineiro, imagine quando tudo que você vestir, interagir, ou passar por também tiver
o poder de realizar uma publicação ou uma ação sobre a sua presença ali.
A realidade é que informação já é a moeda mais valiosa que podemos ter. A
grandiosidade do Google, que sabe tudo o que você faz e gosta na internet, do
Facebook, que vê o que gosta, quem você é e com que se relaciona, ou mesmo de
empresas de cartão de crédito, que através da análise de gastos podem prever por
exemplo se uma pessoa irá se divorciar com até 2 anos de antecedência19
, são
provas mais do que concretas do valor imensurável que a informação tem. A Internet
das Coisas possibilitará ainda mais a coleta e gerenciamento de informações, e
18
NING, Huansheng. Unit and Ubiquitous Internet of Things. CRC Press, 2013.
19
GARATONNI, B; DELFINI, M. Seu cartão sabe tudo http://super.abril.com.br/cotidiano/seu-cartao-sabe-tudo-
543527.shtml. Acesso em 15/05/2013
27
quem tiver controle sobre a Big Data20
, terá certamente um poder maior ainda do
que o das empresas citadas anteriormente.
A partir do momento em que a informação se torna a moeda mais valiosa, um
dos principais assuntos em discussão é a privacidade de quem utiliza a internet, ou
seja, de quem dá a informação. Empresas como Google e Facebook criam serviços
onde as pessoas em troca oferecem suas informações. Portanto, a busca de termos
precisa, o e-mail, a rede social, o espaço de armazenamento na nuvem, tudo isso
não é pago financeiramente, porém as empresas recebem informações sobre você
em troca. E elas podem, indiretamente, vender essas informações a terceiros,
interessados em fazer com que você consuma o seu produto ou serviço. Outros
serviços, como nossa empresa telefônica ou cartão de crédito, podem dizer com
quem mais falamos, aonde estamos e com que gastamos. Um exemplo interessante
do potencial que tem o cruzamento das informações de duas bases de dados
diferentes, é o programa Cielo Linkci21
, da líder do setor de cartões de pagamento
no mercado brasileiro, com o qual os usuários podem cadastrar seu Facebook ao
seu cartão e assim realizar check-ins em estabelecimentos para receber pequenos
benefícios em troca. Por trás do objetivo de marca e de divulgação do uso do cartão,
está o cruzamento das informações do Facebook com o do cartão de crédito,
criando um perfil muito mais completo sobre suas ações.
20
Big Data é o conceito criado pela IBM para mostrar a importância do gerenciamento de informações que
temos e que, com a Internet das Coisas, teremos ainda mais. A Big Data baseia-se em 5 V’s: volume,
velocidade, variedade, veracidade e visualização. Portanto, o termo consiste em uma ampla base de dados,
com fontes variáveis, processadas em menor tempo possível, para que se gere uma visualização simples e
confiável das informação lá obtidas.
21
Cielo Linkci - http://www.releasecielolinkci.com.br/. Acesso em 19/05/2013
28
Figura 7 - Passo a passo para a participação do programa Cielo Linkci (fonte:
facebook.com/cielolinkci)
Aliado a isso, existe a superexposição de informações na internet, seja
voluntária ou não. O direito de uso de imagem, por exemplo, é algo muito difícil de
se controlar em tempos que qualquer um pode fotografá-lo ou filmá-lo em qualquer
lugar. Como lidar com materiais constrangedores que podem ser disseminados e
acabar com o respeito das pessoas ao seu redor?
A privacidade, seja a nível individual ou coletivo, é um dos principias guias
para o futuro do uso da internet. Se ela estará em todos os lugares, para todas as
pessoas, isso com certeza mudará tanto a forma das pessoas agirem quanto de se
relacionarem. Se a Internet das Coisas ainda parece futurista, podemos analisar a
privacidade em um mundo repleto de redes sociais, onde “a questão central de
nosso exame de consciência está se deslocando de quem é você? para o que você
está fazendo?"22
.
3.2. A DUALIDADE DAS REDES SOCIAIS
22
CHATFIELD (2012) – p.43
29
Apesar do universo online geralmente ser visto
como libertador pelas possibilidades democráticas que
proporciona, temos que ficar atentos a todas
consequências possíveis dessa revolução digital na
sociedade. Ao mesmo tempo em que você tem a voz para
passar sua mensagem, o local onde você a publica e o
perfil das pessoas que irão ler suas mensagens são
modelos automáticos que definem seu tom e sua
mensagem. O dilema também está presente quando
começamos a nos questionar se as redes sociais estão
nos deixando mais solitários ou mais sociáveis23
.
Hoje, cerca de dois terços das interações entre
amigos são feitas digitalmente24
, sendo a maioria dela
mensagens de texto – seja pelo Facebook, Whats App ou
SMS tradicional. Porém, as mesmas pessoas que
responderam essa pesquisa, afirmaram que se vão
expressar um sentimento, isso deve ser feito
pessoalmente. A análise das formas de relacionamento
das pessoas hoje em dia e o que isso causa nas mesmas
é crucial para entendermos a sociedade atual como um
todo, e para isso deve-se entender ao máximo a
dualidade dos efeitos causados por essas mudanças.
Um estudo25
da York University in Canada analisou
as postagens de 100 estudantes universitários e mostrou
que usuários destes canais possuem um comportamento
altamente narcisista, exibicionista, grande parte devido a
23
MARCHE, Stephen. Is Facebook Making Us Lonely?
http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2012/05/is-facebook-making-us-lonely/8930/# Acesso em
26/06/2012.
24
WALFORD, Charles. Forget face time, it's all about Facebook time: Two-thirds of interactions among friends
are carried out electronically. http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-2216742/Forget-face-time-
Facebook-time-Two-thirds-interactions-friends-carried-electronically.html Acesso em 12/05/2013.
25
Facebook fanatic? You may just be insecure. http://alumni.news.yorku.ca/2010/09/10/facebook-
study/?doing_wp_cron Acesso em 15/05/2013
Figura 8 - Charge que representa
as mudanças no relacionamento
interpessoal atualmente
30
insegurança que a coerção social impulsiona – você precisa mostrar o local onde
está, registrar esse momento em fotos ou vídeos, divulgar as pessoas que te
acompanham – e isso acaba fazendo o usuário muitas vezes ter uma vida digital
completamente diferente da vida real, como apresentado por Callie Schweitzer no
consagrado festival SXSW em 2013.
“Pick your favorite movie: The one you tell everyone you like, the movie you
put on your OKCupid and Facebook profiles, the movie you talk about on a
first date. Now pick the movie you watch over and over, the movie from
which you can recite every line, your go-to home-on-a-Saturday-night-and-I-
don’t-care movie. Which one is actually your favorite movie?
For some of us, the two movies we'd choose may be the same. But for most
of us — myself included — they're different. So what is it about sharing
something publicly that's different than when it's between me and my close
friends? Sharing information between two people used to be about giving a
part of yourself away. Now, I'm wondering if it's about crafting a persona.
It takes courage to be genuine. And it takes real courage to be genuine on
the internet, where everyone is a critic, a cynic, and a comedian.”
26
Essa simulação de personalidade e a comparação entre o seu perfil e perfis
de outras pessoas possui relação direta com o aumento dos casos de depressão na
adolescência, como comprovado em pesquisa realizada por psicólogos croatas, que
analisou 160 adolescentes na High School27
. Para esse problema, a American
Academy of Pedriatrics deu o nome de Facebook Depression:
“Facebook depression (...) may result if, for example, young users see status
updates, wall posts, and photos that make them feel unpopular. Social
media sites may have greater psychosocial impact on kids with low self-
esteem or who are already otherwise troubled.”
28
O reflexo da construção dessa persona aparece também em uma pesquisa
realizada por acadêmicos da Carnegie Mellon University, intitulada de “I regretted
26
SCHWEITZER, Callie. You are what you share. https://medium.com/tech-talk/b5ab1f1806fb. Acesso em
31/05/2013
27
PANTIC, I. et al. Association between online social networking and depression in high school students:
behavioral physiology viewpoint. Psychiatria Danubina, 2012; Vol. 24, No. 1, pp 90-93.
28
PELT, J. V. Web Exclusive – Is ‘Facebook Depression’ for real?.
http://www.socialworktoday.com/archive/exc_080811.shtml Acesso em 13/05/2013
31
the minute I pressed share: A Qualitative Study of Regrets on Facebook”. Essa
pesquisa mostra os principais fatores que levaram os usuários a se arrependerem
das postagens. De uma forma geral, a maioria dos posts que as pessoas se
arrependem giram em torno de três assuntos: conteúdo opinativo (sobre sexo,
religião, trabalho ou problemas familiares, conteúdo depreciativo (xingamentos e
bullying) e mentiras. Quando perguntados sobre o por quê de ter feito aquela
postagem, grande parte respondeu que era porque era legal, e queria ser visto como
alguém interessante.
“Some people reported wanting to be perceived as interesting orunique.
However, when the content or behavior described in thepost was
controversial, this caused regret. (...) Our researchreveals several possible
causes of why users make posts that they later regret: (1) they want to be
perceived in favorable ways, (2) they do not think about their reason for
posting or the consequences of their posts, (3) they misjudge the culture and
norms within their social circles, (4) they are in a “hot” state of high emotion
when posting, or under the influence of drugs or alcohol, (5) their postings
are seen by an unintended audience, (6) they do not foresee how their posts
could be perceived by people within their intended audience, and (7) they
misunderstand or misuse the Facebook platform. Some reported incidents
had serious repercussions, such as breaking up relationships or job losses.”
29
Outro consequência da super-exposição nas redes sociais são os chamados
stalkers30
, termo em inglês que define aqueles que invadem a privacidade da vítima
e podem usar esses dados para causar algum mal a mesma, seja perseguindo-a ou
mesmo expondo dados pessoais na internet. Com o tempo, stalkers especialistas
acabaram oferecendo uma espécie de detetive virtual, que vasculha a internet em
busca de rastros digitais para descobrir informações do seu alvo. Graças a esse
excesso de informação e ao stalking, não é espantoso ver o Facebook como causa
29
ACQUISTI, A et al.; “I regretted the minute I pressed share”: A Qualitative Study of Regrets on Facebook
http://www.andrew.cmu.edu/user/pgl/FB-Regrets.pdf p. 1-6
30
BENCHOP, A. CyberStalking: menaced on the internet. http://www.sociosite.org/cyberstalking_en.php Acesso
em 14/05/2013
32
de 33% dos divórcios no Reino Unido31
, e usado como prova de infidelidade em
cerca de 80% dos pedidos de divórcio nos Estados Unidos32
.
O vício em canais como o Facebook, onde os brasileiros passam em média
4,8 horas por dia33
, aliado ao aumento da conectividade móvel, têm transformado
também o nosso relacionamento físico. Um bom exemplo é como sociabilidade
digital afeta talvez um dos maiores ícones do relacionamento entre os brasileiros, os
bares. Foi criado um jogo chamado Phone Stacking34
, onde todos da mesa são
obrigados a deixar seus celulares empilhados em cima da mesa e são proibidos de
interagir de qualquer forma com os aparelhos até que todos vão embora. Caso
alguém desrespeite a regra, paga a conta. Um movimento social tentando combater
a sociabilidade digital pode parecer, e até ser, extremo, mas o fato é que, até que
consigamos conciliar nossas duas vidas em uma só, isso se mostra como uma
necessidade.
Figura 9 - Exemplo de Phone Stacking (fonte: Techcrunch)
31
Facebook é causa de 33% dos divórcios no Reino Unido, diz estudo.
http://tecnologia.terra.com.br/internet/facebook-e-causa-de-33-dos-divorcios-no-reino-unido-diz-
estudo,b518fe32cdbda310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em 15/05/2013.
32
Adams, Richard. Facebook a top cause of relationship trouble, say US lawyers.
http://www.guardian.co.uk/technology/2011/mar/08/facebook-us-divorces Acesso em 15/05/2013.
33
SBARAI, Rafael. Tempo gasto por brasileiros no Facebook cresce 8 vezes http://veja.abril.com.br/noticia/vida-
digital/tempo-gasto-por-brasileiros-no-facebook-cresce-8-vezes. Acesso em 28/06/2012
34
HA, Anthony. The Phone Stacking Game: Let’s Make This a Thing http://techcrunch.com/2012/02/04/the-
phone-stacking-game-lets-make-this-a-thing/. Acesso em 28/06/2012
33
Tudo isso cria uma pressão gigantesca nas pessoas, afinal a percepção de
falha, medos e problemas não vão para as timelines, por mais que sejam muito mais
corriqueiras que qualquer viagem ou evento. A frase que direciona a postagem do
consumidor na rede de Mark Zuckerberg é “No que você está pensando”, mas é
interpretada como “O que você quer que as pessoas pensem de você?”.
Diante dessas informações também é cômodo crucificar tais redes. Um
interessante estudo35
realizado por um neurocientista americano observou a relação
entre o uso de redes sociais e o aumento de Ocitocina, um dos hormônios mais
relacionados a prazer e amor. No estudo, ele percebeu que enquanto as pessoas
compartilhavam alguma informação no Twitter, por exemplo, seus níveis de ocitocina
aumentavam cerca de 13%, além de diminuir o nível de hormônios relacionados ao
stress. O mesmo artigo expõe estudo complementares observando que as pessoas
com mais amigos, independente de suas proximidades físicas, ficam menos
doentes. Por fim, é apresentado uma pesquisa feita com 200 estudantes onde eles
deveriam desistir de qualquer dispositivo de mídia por um dia. A sensação que os
usuários tinham era semelhante a de viciados de drogas, com sintomas que
indicavam a solidão e sofrimento.
Esse estudo é um dos indicadores de que, principalmente nas gerações mais
recentes, nosso cérebro trata muitas das nossas experiências digitais da mesma
forma que a real. Por isso, muitas vezes aquela conversa até as 5 horas da manhã
pelo Instant Messager ou pelo chat do Facebook flui naturalmente, causando até
efeitos semelhantes a conversa real, como reflexos físicos e emoções. Porém, é
importante salientar que seria leviano constatar que uma conversa virtual é
equivalente a uma conversa real.
“Our facial expression, physical gestures, and the emotional tone in our
voice alter the meaning of our words, which is why it is very difficult to
express ourselves fully and authentically in an e-mail or text-or even in front
of a Skype screen. So when we forego face-to-face encounters in favor of
35
PENEMBERG, A. Social networking affects brains like falling in love.
http://www.fastcompany.com/1659062/social-networking-affects-brains-falling-love. Acesso em 08/05/2013.
34
screen-speak or emailed or texted words, our friends receive only a partial
message. What's missing are the feelings that inform the words”.
36
Na conversa real existem diversos elementos que fortalecem o que queremos
expressar, dão emoção as palavras e, assim, passam com mais credibilidade nossos
sentimentos. Esses elementos também tornam a memorização daquela conversa
mais completa, não mais atrelada apenas ao conteúdo dito, mas a tudo que seus
sentidos registraram no momento.
Outros estudos reforçam essa sociabilidade causada pelas redes sociais.
Durante uma pesquisa da Universidade de Toronto os heavy-users de internet
tiveram um crescimento cerca de 33% maior no número de amizades – físicas ou
virtuais – do que quem não utilizava a internet. A mesma matéria conjectura uma
explicação para esse fator, concluindo que “A internet raramente cria amizades do
zero - na maior parte dos casos, ela funciona como potencializadora de relações que
já haviam se insinuado na vida real.”. Portanto, o que acontece é que quando um
usuário de redes sociais conhece uma pessoa na vida rela, ele procura o perfil dela
e cria um vínculo, por menor que seja, enquanto aquela que não utiliza redes sociais
depende de outras formas de contato. Porém, o mesmo estudo complementa:
“As redes sociais têm o poder de transformar os chamados elos latentes
(pessoas que frequentam o mesmo ambiente social que você, mas não são
suas amigas) em elos fracos - uma forma superficial de amizade. Pois é.
Por mais que existam exceções a qualquer regra, todos os estudos
apontam que amizades geradas com a ajuda da internet são mais fracas,
sim, do que aquelas que nascem e crescem fora dela.”
37
Quando a relação é simétrica, ou seja, eu só consigo acesso as suas
informações se você permitir, a intensidade do vínculo de amizade diminui. Isso
acontece porque a pessoa acaba expondo informações muito pessoais a um grande
número de pessoas, portanto aquele conteúdo acaba tendo que ser filtrado.
Portanto, a interação real nas redes sociais de um usuário gira em torno de um
36
NOGALES, Ana. “Facebook versus Face-to-Face”. http://www.psychologytoday.com/blog/family-
secrets/201010/facebook-versus-face-face. Acesso em 10/05/2013
37
COSTA, C. Como a Internet está mudando a amizade. http://super.abril.com.br/cotidiano/como-internet-
esta-mudando-amizade-619645.shtml Acesso em 10/05/2013.
35
grupo de amigos específico. É interessante pensarmos nesse grupo de pessoas
restrito com interagimos, com os quais temos um capital de ponte, como um limite
físico que possuímos, afinal seria impossível realmente ter uma interação social
profunda com todas as centenas de amigos que uma pessoa tem no Facebook, por
exemplo. O professor da Universidade de Oxford, Robin Dunbar, estudou38
os limites
do nosso cérebro em guardar informações detalhadas o suficiente para mantermos
uma relação com alguém. Através de pesquisas práticas e análises antropológicas e
biológicas, ele chegou a um tamanho médio de grupo de 148 pessoas, com uma
entre 100 e 230 amigos39
. Diante essa demanda de catalogar seus amigos, diversos
aplicativos foram criados, desde um onde você deve responder uma pergunta sobre
seu amigo para não desfazer a amizade até outro que mostra quem realmente
interage com suas postagens40
.
Apesar de não aumentar o número de pessoas com as quais você irá ter um
relacionamento interpessoal, as redes sociais fechadas, como o Facebook, causam
um aumento do capital social, como discorre Shirky.
“Uma razão para que a expressão “capital social” seja tão evocativa é que
ela conota um aumento de poder, de maneira análoga ao capital financeiro.
Em termos econômicos, capital é uma reserva de riqueza e ativos; capital
social é aquela reserva de comportamentos e normas que permite, em um
grupo grande, que seus membros se deem apoio mutuamente. Quando
falam sobre capital social, os sociólogos muitas vezes fazem uma distinção
entre capital de ligação e capital de ponte. Capital de ligação é um aumento
na profundidade das conexões e na confiança dentro de um grupo
relativamente homogêneo; capital de ponte é um aumento nas conexões
dentro de um grupo relativamente heterogêneo.”
41
Essa relação entre capital de ligação e capital de ponte exemplifica bem a
diferença no significado da relação que as pessoas mantém nas redes sociais: com
algumas, tem uma relação superficial, quase inexistente; já outras você tem uma
38
Don't Believe Facebook; You Only Have 150 Friends. http://www.npr.org/2011/06/04/136723316/dont-
believe-facebook-you-only-have-150-friends Acesso em 31/05/2013.
39
Dunbar, R.I.M. (1992). "Neocortex size as a constraint on group size in primates". Journal of Human Evolution
20: 469–493.
40
Facebook Friend Audit. http://www.facebookfriendaudit.com/ Acesso em 31/05/2013
41
SHIRKY, 2008, p. 188-189
36
interação pontual, e por fim tem aqueles que você interage constantemente. Shirky
exemplifica com uma suposição de empréstimo de dinheiro.
“Para compreender a diferença, considere o número de pessoas a quem
você emprestaria dinheiro sem lhes perguntar quando o devolveriam. Um
crescimento do capital de ponte aumentaria o número de pessoas a quem
você emprestaria; um crescimento do capital de ligação aumentaria a
quantia que emprestaria àquelas já incluídas na lista”.
42
Já em redes sociais como o Twitter, onde eu posso deixar minhas
informações livres a todos e isso não interfere na quantidade de informações que eu
receberei, essa relação muda um pouco, facilitando a formação de laços de
interesse, ou seja, comunidades. Outra série de pesquisas43
realizadas por um
projeto americano revelou que, justamente pelo fato de exporem suas informações e
sua personalidade, as pessoas que possuem Facebook são 43% mais confiáveis
que outros usuários de internet. Esse dado nos mostra um paradoxo interessante:
não queremos expor demais nossas informações nas redes sociais, porém o fato de
você possuir um perfil ativo e com bastante informação traz mais confiança para as
pessoas que te conheceram digitalmente ou irão te adicionar após um encontro
físico.
A sensação de compartilhamento e suporte emocional que o Facebook traz
foi outro ponto salientado pelas pesquisas. De uma forma geral, os usuários da rede
azul são considerados mais companheiros que os usuários de internet como um
todo. Isso mostra bastante o uso que muitas pessoas dá a suas redes sociais, onde
compartilham dúvidas, sofrimentos e expõem muito da sua vida pessoal. Essas
pessoas buscam um suporte que mostre que existem pessoas apoiando-a, e que ela
não está sozinha no mundo. Rainie e Vellman (2012), tratam esse efeito em seus
estudos sobre as redes sociais.
“Different networks operate in different ways. Many provide havens: a sense
of belonging and being helped. Many provide bandages: emotional aid and
42
SHIRKY, 2008. P-189
43
HAMPTON et al. Social networking sites and our lives . http://pewinternet.org/Reports/2011/Technology-
and-social-networks/Summary.aspx Acesso em 10/05/2013
37
services that help people cope with the stresses and strains of their situatios.
Still others provide safety nets that lessen the effects of acute crises and
chronic difficulties. They all provide social capital: interpersonal resources
not only to survive and thrive, but also to change situations (houses, jobs,
spouses) or to change the world or at least their neighborhood (organizing
major political activity, local school board politics).”
44
Outros pontos interessantes que comparam os usuários de Facebook aos
internautas comuns são o maior nível de engajamento político, onde foi constatado
que nos Estados Unidos, aqueles que acompanhavam a corrida eleitoral pelas redes
sociais eram mais informados e mais condicionados a votar, e também que graças a
redes sociais algumas amizades dormentes – como aquele seu amigo da escola ou
o vizinho com o qual jogava bola – estão voltando a se aproximar.
Como bem defendido por Marche quando questionado sobre a solidão
causada pelo Facebook, “não é o Facebook que está nos tornando mais solitários.
Nós é que estamos”. Aqui é válido analisarmos as opiniões de outros dois
pensadores sobre o assunto. Chatfiled45
, diz que “se quisermos conviver com a
tecnologia da melhor forma possível, precisamos reconhecer que o que importa,
acima de todo, não são os dispositivos individuais que utilizamos, mas as
experiências humanas que eles são capazes de criar” e Palfray, complementa,
comparando atributos da vida de uma garota de dezesseis anos dessa geração com
a de antigamente.
“A sixteen-year-old girl's personal identity today is in some ways not all that
different from what it would have been in the past. People still express
themselves through their personal characteristics, interests, and activities in
real space - at least in part. For a typical girl living in a wired society, the
digital environment is simply an extension of the physical world. The fact that
she lives part of her life in digitally mediated ways does not itself have a
large impact on her personal identity. She might be more or less interested
in digital activities inherently, but the effect of this interest is modest. She
might express these personal characteristics online, but at its core, her
44
RAINIE, H.; RAINIE, L; WELLMAN, B. Networked: The New Social Operating System. MIT Press, 2012. P- 19
45
CHATFIELD (2012) – p.27
38
personal identity is unlikely to be much different from what it would have
been in a previous era.”
46
Informação ou exposição? Pressão ou ajuda? Acompanhamento ou solidão?
As redes sociais são ferramentas, e como qualquer ferramenta, podemos usá-la
bem ou mal, tudo depende de quem usa, e da forma que se usa.
3.3. A INTERNET MUDANDO OS PROCESSOS DE
COMUNICAÇÃO
A massificação da internet trouxe com ela vários benefícios. Hoje, cerca de 80
milhões47
de brasileiros tem acesso aberto a informações variadas, não mais
totalmente dependentes dos grandes conglomerados de mídia que concentram as
informações em seus canais. Porém, com a informação ao alcance de todos, a
quantidade de informação é absurda, levando o público em geral a busca pelos
serviços de curadoria de informação. Desta forma retorna-se ao início do ciclo, já
que os portais de curadoria mais procurados são aqueles “confiáveis” por sua
tradição nos antigos meios de comunicação. Ou seja, a informação continua de certa
forma controlada.
Entretanto é importante entendermos o que podemos considerar como os três
processos básicos de comunicação48
na atualidade para darmos um passo além e
vermos o porquê das afirmações acima não refletirem a realidade por completo. São
eles: interpessoal - pessoas que se comunicam presencialmente, interagem; massa
- pressupõe transmissão e recepção de produtos a distância, com uma interatividade
simulada; e ciberespacial - a modalidade mais avançada, mediada pelo computador
e feita através de redes interativas.
46
PALFRAY; 2010, p. 4
47
Fonte: IBOPE/NetRatings – Abril/2012
48
MARQUES, 2002
39
A internet permitiu que “pela primeira vez, todas as necessidades de mídia e
de comunicação pudessem ser supridas por um único sistema integrado49
”, ou seja,
os três processos básicos podem ser realizados em uma só plataforma,
independente do aparelho usado. As redes sociais tem um papel essencial no fluxo
de informações quando encaramos este cenário: elas são os meios por onde as
pessoas se informam por fontes independentes, sejam seus amigos ou não. No
processo de informação atual da sociedade as redes sociais tem o papel de
curadoria da informação, onde através de seus amigos você fica sabendo dos
conteúdos mais relevantes para eles, e desta forma pode ficar sabendo de coisas
que não saberia por qualquer outro local. Por outro lado, aqueles que não tinham
como se comunicarem, utilizam as redes sociais para disseminarem fatos ocorridos,
experiências vividas, causas que acredita, entre outras coisas.
O reflexo de tudo isso é a mudança da forma que se comunica hoje em dia.
Para que se tenha atenção em meio a tantas informações você precisa mostrar seu
conteúdo de uma forma diferente. Palavras e gestos dão lugar a manifestos em
vídeos, pedidos de doação em imagens e a tentativa de conscientização em formato
de infográfico.
Portanto, se trouxermos os atos da fala determinados por Austin50
para este
cenário podemos entender que apesar da mudança no ato ilocucionário, o
perlocucionário se mantém, porém muda de forma. Se fisicamente, quando conta
algo a alguém, você deseja que essa pessoa sorria, pergunte sobre ou dissemine a
informação para as outras pessoas, no Facebook, por exemplo, isso foi
transformado em like, comments e share. Mesmo o like, acabou desdobrando-se em
diversas funções, como discorre Sollero51
: “Vejam o que aconteceu com o botão de
Like/Love/Approve/etc. Ele deixou de ser algo na linha de Thumbs-Up para se tornar
algo do tipo do legal, ok, eu li/vi o seu post e, no caso de mensagens de feliz
aniversário, obrigado”.
49
CHATFIELD (2012) – p.24
50
AUSTIN, 1990
51
SOLLERO, D. Salvem o Compartilhamento. http://www.brainstorm9.com.br/36872/opiniao/salvem-o-
compartilhamento/ Acesso em 31/05/2013
40
Símbolo dessa nossa relação de aprovação nas redes é a criação do
Facebook Demetricator52
, uma ferramenta que tira os números relativos da sua
timeline no Facebook, portanto, onde apareceria “48 pessoas gostaram disso”, com
essa ferramenta aparecerá apenas “pessoas gostaram disso”. É uma tentativa de
fuga dessa dependência numérica que muitas vezes dita nossas postagens online,
e, consequentemente, nosso parecer online.
Outra mudança drástica ocorrida graças as possibilidades que o avanço da
tecnologia trouxe foi a ampliação das formas de comunicação e na disponibilidade
das pessoas para isso. Até meados do século XIX, uma pessoa comum tinha duas
formas básicas de comunicação: instantânea presencial, ou seja, uma conversa cara
a cara com outra pessoa, ou via carta, portanto de mais longo prazo e com conteúdo
diferente. Ou seja, você só poderia dar informações rápidas para pessoas que
estavam próximas fisicamente a você, e se quisesse informar alguém que estivesse
a uma distância maior a demora seria proporcional a distância.
Isso só começou a mudar com a invenção do telefone e sua massificação a
partir de meados século XX, o que ofereceu uma nova forma de comunicação
interpessoal onde as pessoas poderiam dar informações instantâneas a uma pessoa
distante. Portanto, a primeira grande mudança trazida por esse novo meio foi
praticamente a extinção da conversa a longo prazo por questões técnicas, todos
poderiam falar a qualquer hora com outra pessoa e não precisariam esperar por
isso. O telefone trouxe também uma mudança no conteúdo das conversas, onde as
pessoas poderiam falar coisas que não tinham coragem de falar presencialmente.
A próxima grande mudança na forma de comunicação veio com a internet,
inicialmente com a possiblidade de enviar e-mails. Os e-mails são basicamente
cartas virtuais, porém de envio instantâneo. A diferença do e-mail para o telefone, é
que nem sempre queremos uma resposta imediata da pessoa, portanto é preferível
que a pessoa leia aquilo quando puder e responda posteriormente. Isso mudou
ainda mais com a massificação dos telefones celulares, e recentemente, dos
smartphones. Com eles eu consigo tanto fazer videoconferências em tempo real,
52
TEIXEIRA, Fabrício. Dezoito pessoas curtiram isso. http://www.updateordie.com/2012/10/29/dezoito-
pessoas-curtiram-isso/. Acesso em 30/08/2012.
41
verificando as reações físicas que é importante para diversos tipos de conversas,
como enviar mensagens, via SMS ou IM, para que a pessoa responda na hora ou
quando puder. A duração de uma conversa mudou, as pessoas podem enviar
mensagens durante todo o dia e discutir o mesmo tema que levariam em uma
conversa de 30 minutos. Hoje, eu posso enviar praticamente qualquer conteúdo
(foto, vídeo, documento, etc), em diversos meios (e-mail, redes sociais, SMS), e a
qualquer hora. Ou seja, as pessoas estão acessíveis praticamente 24 horas por dia,
todos os dias, e essa interação tende a aumentar, como vimos anteriormente com o
conceito da Internet das Coisas.
Podemos ver os efeitos dessa evolução na forma de se comunicar analisando
o papel dos Correios no Brasil. Hoje, a maior parte da função dos Correios é relativa
ao envio de encomendas, seja o interpessoais (SEDEX) ou por empresas, onde o e-
commerce tem uma boa representatividade53
. É interessante analisar como uma
instituição governamental, geralmente rígida e imóvel, conseguiu se adaptar as
mudanças da sociedade e crescer frente a isso.
Isso trouxe também uma mudança na visão das pessoas frente a
compromissos. As mensagens instantâneas também tem serventia para dar
informações urgentes sem precisar de grandes explicações. Com isso, muitas
pessoas banalizaram o ato de desmarcar compromissos, enviando SMSs ou
recados no Facebook em cima da hora. Para esse novo movimento, um professor
de comunicação da Universidade IT, em Copenhague, cunhou o termo de
“microcoordenação”.
"Antes do celular, diz ele, as pessoas se planejavam com base em horários
e locais pré-estabelecidos, ao passo que agora podem se "microcoordenar",
ou seja, ajustar os planos conforme os fatos acontecem em tempo real, seja
um congestionamento ou um serão no escritório. (...) Podemos ter três ou
quatro coisas diferentes acontecendo ao mesmo tempo. Uma coisa pode
53
RITNNER, Daniel. Os Correios tentam se reinventar. Valor Econômico,número 2968, B2, mar, 2012.
42
dar errado, outra pode acontecer. Ou seja, há uma indeterminação básica
com a qual convivemos atualmente.”
54
A geração atual tem o costume de marcar diversos compromissos ao mesmo
tempo, e decidir no dia em qual deles irá. O envio de convites e a agenda do
Facebook é um reflexo disso, o ato de confirmar presença em um evento na rede
social não dá nenhuma garantia de comparecimento.
Os autores do livro Networked,Barry Wellman e Lee Raine, resumem o efeito
dessas mudanças em nossos círculos sociais.
“No passado, as pessoas tinham círculos sociais pequenos, fechados, nos
quais familiares, amigos próximos, vizinhos e líderes comunitários formavam
uma rede de proteção e ajuda. (...) Este novo mundo de individualismo
conectado gira em torno de grupos mais soltos e fragmentados que
oferecem auxílio.”
55
3.4. INFORMAÇÃO X CONHECIMENTO
Em meio a todas essa mudanças na forma das pessoas se comunicarem, e
dos efeitos que a comunicação na internet causa na sociedade como um todo, um
ponto pode ser considerado unanimidade entre todos estudiosos: nunca tivemos
tanto acesso a informação e nunca esse acesso foi tão democrático.
Ao longo dos tempos, a informação foi escrava de seu formato, e isso era um
dos fatores que limitava sua disseminação. Não era possível (e nem de interesse de
uma parte da sociedade) que um livro chegasse a mão de todos, ou que todos
pudessem ver determinado filme ou ouvir determinada música. Por muito tempo, se
eu quisesse encontrar determinado conteúdo, eu iria a biblioteca e tentaria encontrá-
lo por lá. A partir do momento que a informação se desvincula do formato e torna-se
disponível digitalmente, sua abrangência não têm limites. Agora, com o acesso
54
TELL, Caroline. Mensagens por celular banalizam o ato de desmarcar compromissos.
http://www1.folha.uol.com.br/tec/1187745-mensagens-por-celular-banalizam-o-ato-de-desmarcar-
compromissos.shtml. Acesso em 17/05/2013.
55
Estudos reabrem debate sobre o impacto de redes sociais na vida das pessoas
http://www1.folha.uol.com.br/tec/1186647-estudos-reabrem-debate-sobre-o-impacto-de-redes-sociais-na-
vida-das-pessoas.shtml. Acesso em 20/05/2013
43
digital disponível praticamente em qualquer lugar, o único fator determinante para
poder encontrar essa informação é fazer a busca certa. O problema é que a
quantidade de informações disponíveis atingiu determinado patamar que essa busca
pode acabar sendo complicada. Se eu quero saber sobre determinado sintoma que
eu tenho tido, por exemplo, posso me deparar tanto com um artigo escrito por um
doutor especializado quanto por um paciente que possui um blog. E quem decide
qual das informações é mais relevante é o público, que através dos acessos aos
sites e da referência aos mesmos56
, qualifica-o mais ou menos para estar entre os
primeiros resultados da lista do Google. Portanto, se o blog do paciente for mais
popular que o jornal cientifico onde consta o artigo do médico especialista, é
provável que eu entre em contato primeiro com as impressões do paciente para que
eu tire minhas dúvidas.
Esse é um dos princípios da Inteligência Coletiva, a colaboração de todos
independentemente de seu conhecimento ou experiência. Essa dualidade na
certificação da informação pode ser vista na comparação de Jenkins entre o que
Peter Walsh definiu como “paradigma do expert” e o conceito de Lévy de
“inteligência coletiva”.
“O paradigma do expert exige um corpo de conhecimento limitado que um
indivíduo possa dominar. As questões que se desenvolvem numa
inteligência coletiva, entretanto, são ilimitadas e profundamente
interdisciplinares; deslizam e escorregam através de fronteiras e induzem o
conhecimento combinado de uma comunidade mais diversa. (...) Embora
participantes de uma inteligência coletiva muitas vezes sintam a
necessidade de demonstrar ou documentar como sabem o que sabem, isso
não se baseia em um sistema hierárquico, e o conhecimento proveniente da
experiência real da vida, em vez da educação formal, pode ser, num certo
grau, até mais valorizado.”
57
No livro, eles exemplificam essas teorias analisando o comportamento de fãs
de reality shows tentando descobrir informações sobre o programa. Portanto é
56
TEIXEIRA, Paulo Rodrigo. Entenda o PageRank: Google dá notas para sites.
http://webinsider.uol.com.br/2007/10/17/entenda-o-pagerank-google-da-notas-para-sites/ Acesso em
23/05/2013
57
JENKINS, 2008. P.87-88
44
importante termos em mente que, se no caso de saber sobre os sintomas da minha
doença a inteligência coletiva pode parecer arriscado de se confiar, em outros ela é
essencial.
Para termos uma ideia da quantidade de informações que consumimos todos
os dias, uma pesquisa da University of California58
realizada em 2009 mostrou que
um americano médio consome cerca de 12 horas de conteúdo por dia, cerca de 100
mil palavras todos os dias, em diferentes meios. É como se lêssemos 34 mil livros de
200 páginas por dia. Para efeito de comparação, em 1960 esse número era de cerca
7,4 horas, um aumento de 62%. Nosso cérebro nunca esteve acostumado com essa
intensidade de informações, o ritmo de aprendizado que temos biologicamente é
diferente do ritmo de contato com a informação que temos atualmente.
Buscando entender melhor os efeitos que esse excesso de informações traz
ao nosso cérebro, o psiquiatra Gary Small59
realizou em 2008 um experimento para
entender a diferença de funcionamento do cérebro enquanto se navega na internet e
enquanto se lê um livro. O principal efeito observado foi um aumento de atividade na
área do cérebro associada a tomada de decisões. Esse efeito é decorrente a
quantidade de escolhas que temos que fazer toda vez que navegamos: clicar ou não
clicar naquele link, compartilhar ou não essa postagem, conversar ou não com
aquela pessoa. Todas essas opções acaba desviando nosso foco, e com isso
atrapalham a absorção do conteúdo e o consequente aprendizado do mesmo.
O fato de estarmos conectados 24 hora por dia nos deixa em um estado
perpétuo de distração e interrupção. Muitos acreditam que o fato de estarmos
conectados a todo momento aumenta nossa capacidade de ser multitarefa, uma das
características mais presentes na maioria dos estudos relacionados as novas
gerações. Ser multitarefa é importante para diversos atos do dia a dia, porém para o
aprendizado isso é diferente.
58
BOHN, R; Short, J. How Much Information. 2009, Global Information Industry Center
University of California, San Diego.
59
Your Brain on Google. http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/digitalnation/living-faster/where-are-we-
headed/your-brain-on-google.html Acesso em 23/05/2013
45
“Já em 1998, a escritora americana Linda Stone cunhou o termo "atenção
parcial continua" para descrever a noção de acompanhar informações de
diversas fontes, ao mesmo tempo, em nível superficial. Essa ideia de uma
atenção rasa e oscilante é provavelmente a descrição mais precisa do que
muitos de nós fazemos a maior parte do tempo, em vez de sermos
multitarefa: executamos uma simples operação mental de deslocamento em
meio a uma enorme gama de fontes, a nenhuma das quais conseguimos
dar atenção individual que uma verdadeira “tarefa requer”.”
60
Todas as notificações, pop-ups ou SMSs que paramos para ver em meio a
cada informação importante que temos atrapalha a retenção dessa informação.
“(...) nós nos tornamos uma espécie de dependentes digitais, que precisam
ficar checando emails, smartphones e afins o tempo inteiro – curiosamente,
uma espécie de evolução de instintos pré-históricos. Isso pode ser
prejudicial por várias razões, mas uma delas está ligada diretamente à
nossa capacidade de aprendizado, denominada consolidação da memória.
É o processo que leva a informação da memória recente para a memória de
longo prazo e permite que a gente crie conexões entre elas.”
61
É importante ter em mente que todos esses efeitos citados não são causados
pela internet em si. O aprendizado de alguém pode ser diminuído ou atrapalhado
mesmo se a pessoa estiver desconectada, basta não focar-se no conteúdo. O que a
internet traz é o aumento da possibilidade e abrangência da distração.
Se a disponibilidade de informações a qualquer hora e em qualquer lugar é
positivo ou não, isso, assim como o uso das redes sociais, depende da pessoa. De
qualquer forma, a mudança que isso está ocasionando é biológica. Vivemos
cercados por informações e a cada vez mais nossos aparelhos fazem o papel do
nosso cérebro. Eu não sei a data de aniversário de ninguém pois o Facebook me
avisa, eu não me lembro dos telefones importantes pois estão no meu celular, eu
não preciso aprender como chegar lá pois o meu celular me guia. Alguns dizem que
isso é um grande problema, pois estamos deixando de exercitar nosso cérebro e
60
CHATFIELD, 2012. P.54
61
Almeida, A. O que a internet está fazendo com o nosso cérebro?
http://www.brainstorm9.com.br/37184/opiniao/o-que-a-internet-esta-fazendo-com-o-nosso-cerebro Acesso
em 23/05/2013
46
criar um conhecimento sobre algo importante, como por exemplo o fato de se
deslocar na cidade onde vivo ou ligar para as pessoas que convivo. Outros dizem
que essas são informações secundárias, que estão dando lugar a informações mais
importantes e dessa forma não sobrecarregam o cérebro. Eric Kandel, vencedor do
prêmio Nobel de Medicina em 2000, deixa sua opinião em entrevista para a revista
Galileu62
: “Quando os livros surgiram, a oratória desapareceu. Em cada ponto,
quando você ganha algo, perde algo. A questão é: os ganhos superam as perdas?
Meu palpite é que sim”.
O grande segredo talvez seja equilibrar o consumo de informações, sem
sobrecarregar nossa mente e sem nos excluirmos de interações sociais. Utilizando
isso a favor do conhecimento, vemos grandes feitos da inteligência coletiva, que
gera aprendizado a todos que participam. Por isso, para o autor Don Tapscott, “a
web está criando a geração mais inteligente de todas”.
Shirky traz um bom exemplo de como a inteligência coletiva gera conhecimento
quando fala sobre o Flickr e a troca de informações sobre técnicas fotográficas que
ocorre no site.
“Antes dos serviços de compartilhamentos de fotos, alguém olhando para
uma dessas fotos poderia perguntar a si mesmo: "Como isso foi feito?”.
Com o compartilhamento, cada foto é um lugar em potencial para interação
social, e os observadores podem fazer a pergunta diretamente: "Como você
fez isso?. (...) Essa forma de comunicação é o que o sociólogo Etienne
Wenger chama de comunidade de prática, um grupo de pessoas que
conversam sobre alguma tarefa compartilhada com o objetivo de se
aperfeiçoar nela.”
63
Essa mudança no processo de aquisição de conhecimento das novas
gerações leva também a discussão sobre a reformulação do formato de educação
nas escolas. Ao longo do desenvolvimento tecnológico as gerações foram
aprendendo a conviver com o acesso as informações de formas diferentes, onde
uma vê a Wikipédia com desconfiança, por exemplo, outra utiliza o portal
62
PONTES, F; MALI, T. A internet está deixando você burro?
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT156864-17773,00.html. Acesso em 23/05/2013
63
SHIRKY, C; 2008, p.87
47
colaborativo como base primária de informação. Esse choque de gerações começa
a ter efeitos nas escolas, a formação que os professores recebem não leva em conta
essas mudanças e acaba prejudicando a relação professor-aluno. Ao mesmo tempo
que existe uma quebra de respeito, afinal o aluno muitas vezes tem acesso a
informação antes do próprio professor, essa informação é superficial e deve ser
aprofundada pelo professor. Nas palavras de Adriano Gosuen, psicólogo
especializado em educação e direito das criança e do adolescente64
: “A escola tem
de ensinar aos alunos como lidar com as informações recebidas; ensiná-los a ter
uma leitura crítica”.
Todo esse excesso de informações também gera um reflexo psicológico onde
as pessoas sentem-se escravas da informação: precisam saber sobre tudo, se
possível assim que as coisas acontecem, e precisam posicionar-se socialmente
quanto a isso para fortalecerem sua imagem digital. Essa busca excessiva de
informações também é prejudicial a pessoa, e em meio desse cenário que a
curadoria de conteúdos se mostra tão necessária.
“(...) é fundamental filtrar o que se vai mandar para dentro do cérebro,
selecionar com critério o que é mesmo relevante. Quem não faz isso pode
acabar ficando doente. A pessoa se irrita facilmente, fica com sentimento de
impotência, insatisfação e ansiedade. Também aparecem sintomas físicos
como dores no corpo, palpitação e sensação de cansaço”
65
Steven Rosenbaum, autor do livro Curation Nation, em entrevista após um
evento sobre a era digital colocou sua visão sobre o futuro dos internautas viciados
em informação66
: “As pessoas precisam entender que nem todo Tweet ou SMS será
respondido, que a nossa caixa de entrada do e-mail não ficará zerada. Portanto, a
primeira mudança é cultural, é aceitar que não conseguimos administrar tudo que é
enviado para nós”. A lição que pode-se tirar de tudo isso é de que não é porque a
64
Crianças aprendem mais cedo e deixam professores para trás.
http://noticias.terra.com.br/educacao/criancas-aprendem-mais-cedo-e-deixam-professores-para-
tras,0e7b24e4d3b4d310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html Acesso em 23/05/2013
65
Excesso de informações pode causar problemas de memória no dia a dia. http://g1.globo.com/globo-
news/noticia/2013/01/excesso-de-informacoes-pode-causar-problemas-de-memoria-no-dia-dia.html Acesso
em 23/05/2013
66
Entrevista com Steven Rosenbaum - Digital Age 2.0 2011
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=E4lvv1x39R8#! Acesso em 23/05/2013
48
internet oferece toda a informação do mundo que você deve consumi-la. Pelo
contrário, quanto mais paulatino e atencioso for esse consumo, maior a chance do
da informação transforma-se em conhecimento, e dessa forma, em algo mais útil
para você.
3.5. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A CULTURA DA
CONVERGÊNCIA
Não podemos analisar as mudanças causadas pela internet sem analisar as
mudanças que os meios de comunicação de massa sofreram ao longo do tempo.
Estes meios sempre tiveram um papel muito bem posicionado na sociedade:
transmitir informações e gerar entretenimento. Por muito tempo, eram essas
informações que controlavam de uma forma geral o conhecimento do povo quanto a
determinados assuntos, não é a toa que grandes movimentos políticos como o
nazismo investiam grande parte de seus esforços na produção de informações e no
controle dos meios. Porém por mais que os meios influenciem a sociedade, eles
também sempre serão influenciados por ela. Um meio de comunicação pode ter sido
criado para determinada finalidade, e a sociedade acaba utilizando-o para outra.
Podia atender determinado público, mas com a evolução dos meios ele acaba
atendendo outro. Independente disso, uma vez que o meio se estabelece, ele
dificilmente perderá uma função na sociedade. Nas palavras de Jenkins.
“O conteúdo de um meio pode mudar (como ocorreu quando a televisão
substituiu o rádio como meio de contar histórias, deixando o rádio livre para
se tornar a principal vitrine do rock and roll), seu público pode mudar (como
ocorre quando as histórias em quadrinhos saem de voga, nos anos 1950,
para entrar num nicho , hoje) e seu status social pode subir ou cair (como
ocorre quando o teatro se desloca de um formato popular para um formato
de elite), mas uma vez que um meio se estabelece, ao satisfazer alguma
demanda humana essencial, ele continua a funcionar dentro de um sistema
maior de opções de comunicação.”
67
67
JENKINS; 2008, p. 41
49
Pode-se ilustrar essa teoria com a internet. A internet surgiu com o objetivo de
proteger as informações do Pentágono. Em 2006 foi criado o WikiLeaks, uma
organização colaborativa exclusivamente dedicada a publicação de documentos
secretos de governos ou empresas, garantiu sua visibilidade mundial divulgando
uma série de documentos secretos do Pentágono sobre a morte de civis e soldados
na guerra do Afeganistão. Esse fato irônico exemplifica as mudanças de função e
forma que a internet sofreu ao longo dos anos. De uma rede militar controlada com o
objetivo de proteger informações ela se transformou em uma rede acadêmica com o
objetivo de difundir conhecimento e troca de informações, e, posteriormente, a uma
rede mundial com objetivos de acordo com a necessidade de cada usuário.
Figura 10 - Vazamentos de informações do governo americano pelo Wikileaks
Com isso em mente, pode-se perceber que grande parte dos meios de
comunicação que tiveram grande importância para a sociedade se mantém até hoje.
Começando pelo jornal, presente desde a Roma Antiga mas que se tornou um meio
de massa apenas após a invenção da prensa por Gutenberg no século XV, que
sempre teve como objetivo disseminar as principais informações baseando-se em
quatro pilares: abrangência, periodicidade, atualidade e universalidade. Seu formato,
da prensa até hoje, basicamente se resume a algumas folhas de papel com
conteúdo diverso. É de conhecimento comum de que o consumo de jornais tem
50
caído vertiginosamente ao longo dos últimos anos, ocasionando o fechamento de
jornais consagrados pelo mundo. Analisando os quatro pilares do jornal hoje,
podemos perceber que o que mudou, basicamente foi a periodicidade, afinal nos
tempos de informação ao alcance de todos para se manter a atualidade você deve
lançar notícias suas notícias não mais diariamente, mas de segundo a segundo.
Para atender essa demanda de informação, o jornal (conteúdo, não meio) teve de
mudar de formato, saindo do papel e indo para meios mais dinâmicos como o rádio,
a tv, e a internet. Porém, em meio de tantas informações, o jornal impresso ainda
sobrevive, seja com um formato resumido, como o Metro ou o Destak, que são
distribuídos gratuitamente e representam um consumo de informação essencial para
grande parte dos moradores de metrópoles, ou mesmo com o formato tradicional
mas pautado por colunas analíticas e opinativas, como o tradicional USA Today68
ou
a iniciativa holandesa De Nieuwe Pers69
, um jornal que permite a assinatura apenas
de determinados colunistas/jornalistas.
Avançando cronologicamente, temos o rádio como segundo grande meio de
comunicação da sociedade. Criado no final do século XIX e popularizado no início
do XX, o rádio surgiu com a função de comunicação entre navios e posteriormente
entre tropas militares, bastante difundido na primeira guerra. Ao grande público o
rádio começou com dois objetivos: difundir informações, com maior periodicidade
que o jornal, e contar histórias. As novelas, que vieram de livros ou contos de
jornais, acabaram indo para a televisão, deixando para o rádio o papel de grande
responsável pela música. Ao longo do tempo, apesar de LPs, CDs e MP3 players, o
rádio se manteve com dois objetivos: lançar artistas (por muito tempo a expressão
“está tocando em todas as rádios” é sinônimo de sucesso) e informar. O rádio foi
talvez o primeiro grande meio interativo, onde as pessoas poderiam ligar ou enviar
cartas dando opiniões e pedindo músicas. Atualmente, o rádio se modernizou
tornando-se bem mais colaborativo: as estações que informam a situação do
trânsito, por exemplo, recebem grande parte das informações dos ouvintes.
68
USA Today encourages journalists to pepper reporting with personality. http://blog.wan-
ifra.org/2013/04/23/usa-today-encourages-journalists-to-pepper-reporting-with-personality Acesso em
19/05/2013.
69
LUDWIG, Guilherme. Jornal holandês permite que leitor assine jornalistas individualmente.
http://www.colunadigital.com/2013/04/paywall-por-jornalista.html#.UWWIXZOkomE Acesso em 19/05/2013.
51
A diferença da internet é que ela não é apenas mais uma forma de
propagação de informações, histórias ou experiências. A grande revolução que a
internet trouxe foi um poder aos usuários de produzir conteúdo, portanto a mudança
do simples papel de espectador para um papel mais ativo, criando assim uma
cultura participativa.
A cultura participativa nada mais é do que a amplificação de algo que sempre
aconteceu como reflexo a um conteúdo midiático: a fofoca e discussão sobre o
assunto. Assim como as vizinhas brasileiras da década de 80 se reuniam toda
manhã para comentar sobre a novela e criar teorias sobre o que viria a acontecer, os
fãs de diversos segmentos se reúnem online para trocar informações e teorias sobre
seus objetos de desejo. Essa cultura participativa é caracterizada por Lévy como
inteligência coletiva, definida dessa forma:
“uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada,
coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das
competências. (...) a base e o objetivo da inteligência coletiva são o
reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas, e não o culto de
comunidades fetichizadas ou hipostasiadas.”
70
Portanto a internet possibilita que cada um pudesse expor suas opiniões,
divagar sobre diversos assuntos, e ter contato com as mais diversas informações.
Desta forma o conhecimento, antes restrito, se espalha, e torna-se colaborativo,
onde cada usuário consome e produz conteúdo.
Analisando casos como as grandes comunidades de fãs de reality shows, que
tentavam descobrir detalhes sobre os vencedores ou a lógica por trás das votações,
Jenkins percebeu que por trás do conceito de inteligência coletiva defendido por
Lévy, onde a comunidade possui conhecimento de tudo e coletivamente compartilha
e divaga sobre o mesmo, existe sim uma hierarquização, um grupo de pessoas que
trocam informações mais restritas e divulgam esse conteúdo apenas após uma
curadoria desse grupo, chamados de “brain trusts”.
70
LÉVY, 1998. P. 28-29
52
“Pense nos “brain trusts” como sociedades secretas ou clubes privados,
cujos membros são escolhidos a dedo, com base em suas habilidade e
experiência comprovada. Os que são deixados para trás reclamam de “fuga
de cérebros”, que tranca os participantes mais inteligentes e articulado atrás
de portas fechadas. Os brain trusts, por outro lado, argumentam que esse
processo de avaliação minuciosa a portas fechadas protege a privacidade e
assegura um alto grau de acerto, quando eles finalmente postam suas
descobertas.”
71
Esse grupo representa que, mesmo em um mundo colaborativo onde cada
um pode dar voz a sua opinião, a discussão ainda pode ser guiada e influenciada
por determinadas pessoas.
Mais que apenas discutir sobre uma história/produto, a internet permitiu que
os consumidores realizassem criações baseadas naquilo do qual eles tanto gostam.
Isso é algo feito há tempos de modo informal, como com fanzines ou materiais
produzidos por fã-clubes, porém se multiplicou e, graças a evolução tecnológica,
vem tendo mais destaque e pressionando gigantes do entretenimento. Jenkins
analisa o caso de Guerra nas Estrelas para exemplificar essa questão e como os
estúdios tem lidado com isso. Em 1977, a LucasArts (empresa do criador da série e
detentora dos seus direitos) incentivava a criação dos fãs, chegando a criar um
departamento que analisava e dava consultoria sobre as criações. Na década de 90,
com a internet em franco crescimento, a empresa tentou controlar a produção de
conteúdo relacionada a série, culminando na declaração “Como a Internet está
crescendo muito rápido, estamos desenvolvendo normas para ampliar a capacidade
dos fãs de se comunicarem entre si sem infringirem os direitos autorais e de marca
de Guerra nas Estrelas72
”. Já em 2000, a empresa criou um site onde os fãs
poderiam compartilhar suas criações relacionadas à série. O que parecia uma boa
iniciativa tornou-se motivo de irritação para os fãs ao verem que, no momento que
um conteúdo do fã era publicado no site, os direitos daquele material seriam
transferidos para o estúdio.
71
Jenkins, 2008, p.69
72
Brad Templeton, “10 Big Myths about Copyright Explained”,
http://www.templetons.com/brad/copymyths.html. Acesso em 21/05/2013
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Como a internet afetou o ativismo

  • 1.
  • 2. 2 JEAN MICHEL GALLO SOLDATELLI Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pessoas, a sociedade e seus reflexos no ativismo. Trabalho apresentado ao Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, formulado sob a orientação da Profa. Dra. Maria Clotilde Perez Rodrigues Bairon Sant’Anna, para a Conclusão de Curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda. CRP-ECA-USP
  • 3. 3 São Paulo, 2013 A todos que encaram a vida como uma só, independente de como ou onde ela é vivida.
  • 4. 4 AGRADECIMENTOS Não tem como pensar na graduação que alcanço agora, preciso primeiramente lembrar das pessoas e dos momentos que me fizeram chegar até aqui. Certamente a principal dedicatória e o primeiro agradecimento a ser feito é para aqueles que primeiro cuidaram e acreditaram em mim. Minha avó Janetti, pessoa mais guerreira que conheço e que mesmo sem querer sempre foi quem mais apostou em mim. Volnei, o pai que por mais que a distância tente nunca deixou de estar presente e me inspirar. Ariane, minha irmã carinhosa que tanto me ensina com seu jeito carinhoso e que nunca deixou de estar ao meu lado. Aos meus tios Alô, pelo apoio incondicional, mesmo que muitas vezes viesse disfarçado como críticas e descrença, e Tita, pelo exemplo de luta e benevolência que tanto me influenciam. Por fim, a minha mãe Gislene, que mesmo com todas as adversidades possíveis me ensinou como a felicidade está nas pequenas coisas, e como devemos acreditar nas pessoas. Lições essas que a vida muitas vezes tenta subverter, mas sua lembrança e seu amor não me deixam desacreditar. Toda a minha família, seja ela em Franca, no Rio Grande do Sul, ou mesmo os nômades espalhados pelo mundo, me ensinou com erros e acertos tudo que levo como índole hoje. Para completar minha lembrança a todos que me ajudaram a passar por todas as provações e entrar na USP, agradeço aos meu grande irmão de infância Caio, aos amigos e professores do Instituto Samaritano, e aos companheiros dos treinos de vôlei, principalmente Deime, Vinícius e Régis, pela amizade que me faz viajar 400 km sem pensar muitas vezes. A ECA mudou completamente minha forma de ver o mundo. Quando entrei pela primeira vez nesse lugar não tinha ideia de como as coisas eram realmente, não sabia até onde eu podia alcançar. Essa escola me mostrou o que é liberdade, diversidade, parceria; me mostrou como enxergar a realidade e também como é bom às vezes fugir dela. O primeiro passo foi morar em uma república com duas pessoas tão diferentes de mim, que entre xingamentos e risadas me fizeram crescer e encarar esse novo mundo. Das aflições na busca do apartamento até hoje, eu, Júnior e Guilherme crescemos juntos. Ao segundo e aos meus atuais companheiros de república, Maurício e Daniel, por mais que seja contra minha vontade, agradeço a todo ao terrorismo psicológico que me incentivou a terminar esse TCC.
  • 5. 5 A segunda grande mudança que passei foi entrar para a ECA Jr. Lá vi como a vida em grupo é difícil, como eu não sabia direito viver assim, e como uma utopia as vezes pode dar certo. A todos da minha gestão, agradeço por tudo, das críticas aos abraços, que tanto me fizeram crescer. Àquela sala 3, minha eterna gratidão por todos os conhecimentos adquiridos, pela experiência vividas e pelas pessoas que conheci, e que levarei pra sempre com carinho. Tive sorte em estudar em uma sala que, pelas diferenças, transformou o curso em algo além do aprendizado. Especialmente aos homens e mulheres da Scuderia, com os quais tive e tenho experiências únicas, sejam festas memoráveis, trabalhos que nos orgulhemos, independente de suas notas, ou discussões sobre o mercado e a profissão. Aqueles que sabem que juntos, nosso sucesso é inevitável. À todos amigos (alunos, professores, funcionários ou malucos) que fiz na USP: vocês são a melhor universidade que alguém pode fazer. Todas as conversas, discussões, movimentos, instituições, JUCAs e QiBs, ensinam o que não está nem estará escrito em nenhum livro. Uma conversa na prainha muitas vezes vale mais que qualquer MBA, mais que qualquer fórum internacional, mais que qualquer trabalho em qualquer agência ou empresa. Esse espírito que torna a ECA essa escola maravilhosa, cheia de encantos mil; a valorização da vivência e da conversa como um aprendizado maior. Dentre todos esses amigos agradeço especialmente a Débora, bixete que tanto ensinou esse veterano, por mais que as vezes ela não enxergue isso. Não posso deixar de lembrar também de todos aqueles com quem trabalhei nos últimos anos, que me ensinaram aquilo que a ECA não se propõe a ensinar, e me mostraram como a comunicação como ela é, seja sua face cruel ou encantadora. Um abraço especial a todos da Router, agência que me acolheu e deu a oportunidade de crescer por mais difícil que seja aturar a minha pessoa, e todos os amigos que fiz lá. Por fim, agradeço aos professores, que nos passam mais do que conhecimento, nos ensinam a discutir, pensar, e a representar o nome USP para todo o mundo.
  • 6. 6 RESUMO Esse trabalho se propõe a analisar o desenvolvimento da internet, suas influências na sociedade e no indivíduo, e por fim as consequências disso no ativismo, com o surgimento do ativismo digital. O desenvolvimento do estudo ocorre inicialmente com um histórico da internet, desde seu surgimento até sua transformação como é hoje. Posteriormente, são apresentados os usos da internet ao longo do tempo e analisados estudos que mostram como as redes sociais refletem na formação do indivíduo moderno frente aos seus relacionamentos e persona frente a sociedade. A mudança dos processos de comunicação, a convergência midiática e a dualidade entre informação e conhecimento fecham os estudos sobre sociedade e indivíduo, abrindo o caminho para o reflexo sobre os efeitos dessas mudanças na forma de engajamento das pessoas e em como o ativismo foi potencializado por isso. Por fim, é feita uma análise do ativismo no ponto de vista pragmático, e o trabalho é finalizado com o estudo de diferentes casos relacionados ao ativismo digital que concretizam esse hábito moderno. PALAVRAS-CHAVES Internet, redes sociais, empoderamento, convergência, ativismo digital.
  • 7. 7 ABSTRACT The purpose of this study is to analize the internet’s evolution, its influence in society and in individuals as well as its consequences in the activism, with the rise of the digital activism. Starting with Internet’s history: its creation, transformation and use nowadays . Showing its progress througout the years and evaluating studies that demonstrates not only how social networks reflects in the formation of the modern persona towards its relationship with society are part of the development of this essay. The changes in the process of comumnication, the midiatic convergence and the duality in between information and knowledge complete the studies about society and individual. It also opens a path for reflections about the efects of it´s changes on people´s engagements ways, and how activism was potentialized by such a change. Closing , the pragmatic point of view of activism is analyzed , and the essay ends with the study of different cases of digital activism which reassures/supports this modern habit. KEYWORDS Internet, social networks, empowerment, convergence, digital activism.
  • 8. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Gráfico de adesão das tecnologias do século XX na população americana......... 14 Figura 2 - Crescimento de usuários de internet.................................................................... 14 Figura 3 - Linha do tempo com momentos importantes da história da internet..................... 18 Figura 4 - Interface do classmates.com ............................................................................... 20 Figura 5 - Histórico das redes sociais, do serviço postal às redes digitais .......................... 23 Figura 6 - A partir de 2011 o uso de redes sociais se tornou a atividade mais realizada na internet ................................................................................................................................ 25 Figura 7 - Passo a passo para a participação do programa Cielo Linkci .............................. 28 Figura 8 - Charge que representa as mudanças no relacionamento interpessoal................ 29 Figura 9 - Exemplo de Phone Stacking................................................................................ 32 Figura 10 - Vazamentos de informações do governo americano pelo Wikileaks.................. 49 Figura 11 - Interface do Xbox One, que irá integrar vídeo-game, tv e internet ..................... 54 Figura 12 - Página principal do Avaaz, site de petições online............................................. 56 Figura 13 - Quadrinho satirizando os "ativistas de sofá" ...................................................... 60 Figura 14 - O presidente tunisiano retirado do poder visita o homem que com sua autoimolação deu início a revolta no país ............................................................................ 61 Figura 15 - População tira fotos com os celulares do corpo do ex-ditador líbio.................... 63 Figura 16 - Homem durante protestos no Egito.................................................................... 63 Figura 17 - Efeitos da massificação das redes sociais no mundo árabe na criação da identidade nacional e da globalização do indivíduo ............................................................. 65 Figura 18 - Crescimento de usuários do Facebook durante o período de revoltas............... 65 Figura 19 - Uso do facebook durante o período de revoltas................................................. 66 Figura 20 - Fontes de informação dos cidadãos no período das revoltas............................ 66 Figura 21 - Vídeo de divulgação do caso Kony, atualmente com quase 98 milhões de visualizações ....................................................................................................................... 68 Figura 22 - Tempo levado até os vídeos mais vistos até agosto de 2012 atingirem 100 milhões de visualizações ..................................................................................................... 69 Figura 23 - Evolução do volume de buscas do termo Kony ................................................. 70 Figura 24 - Áreas de atuação do Fora do Eixo..................................................................... 72 Figura 25 - Modo de organização político do Fora do Eixo .................................................. 73
  • 9. 9 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................10 2. INTERNET E REDES SOCIAIS: INÍCIO E DESENVOLVIMENTO ............................ 12 2.1. O SURGIMENTO DA INTERNET ............................................................................. 12 2.2. O DESENVOLVIMENTO DA REDE E SUA EXPANSÃO MUNDIAL................................ 13 2.3. A WEB COMO PLATAFORMA E O CONTEÚDO NA MÃO DOS USUÁRIOS................... 18 3. A INFLUÊNCIA DA INTERNET NA SOCIEDADE...................................................... 24 3.1. EVOLUÇÃO DO USO DA INTERNET ....................................................................... 24 3.2. A DUALIDADE DAS REDES SOCIAIS...................................................................... 28 3.3. A INTERNET MUDANDO OS PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO ................................. 38 3.4. INFORMAÇÃO X CONHECIMENTO ......................................................................... 42 3.5. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A CULTURA DA CONVERGÊNCIA .......................... 48 4. ATIVISMO DIGITAL .................................................................................................... 55 4.1. ATIVISMO “REAL” X ATIVISMO DIGITAL ............................................................... 57 4.2. PRIMAVERA ÁRABE............................................................................................. 61 4.3. O CASO KONY..................................................................................................... 68 4.4. FORA DO EIXO .................................................................................................... 71 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 81
  • 10. 10 1. INTRODUÇÃO Desde a idade das pedra, onde descobriu que organizar-se em grupos era importante para a sobrevivência, o ser humano é um ser social. Independente dos objetivos e da forma que essa socialização é feita, nós sempre teremos essa necessidade de nos relacionarmos à grupos e isso afeta a forma como agimos, as nossas escolhas e até a formação de nossa personalidade. Esse estudo surgiu como a necessidade do entendimento da influência que a internet, mais precisamente as redes sociais, nas pessoas. O que ela mudou na forma como nos relacionamos, nas pessoas que conversamos, nas atividades que fazemos, no nosso dia-a-dia de forma geral. Para isso, o primeiro passo foi estudar o surgimento da internet, desde os tempos militares, seu processo aberto e colaborativo de massificação, suas características descentralizadas e democráticas, até seu futuro, presente basicamente em qualquer lugar e interferindo em toda nossa forma de viver. Após entendermos de onde veio e para onde vai a internet, buscamos analisar os reflexos disso na forma como as pessoas se comunicam, se relacionam, se mostram umas a outras. De casamentos que acabaram por causa do Facebook até a forma como os relacionamentos online produzem hormônios semelhantes a relacionamento físicos, serão apresentados diversos estudos que expõem a dualidade de efeitos proporcionados pelas redes sociais, em diversos pontos de vista. Os efeitos dessas mudanças em uma visão de sociedade também serão apontados, desde o poder conquistado ao usuário a convergência midiática que os produtores de conteúdo estão tendo que se acostumar. Hoje a internet é a maior fonte de informações disponível, e isso pode acabar virando um problema. Primeiro pela falta de privacidade e exposição exacerbada de informações pessoais na rede, o que interfere desde no processo de conhecimento de uma pessoa até na diferença entre o que a pessoa é e o que ela parece ser. Segundo, o excesso de informações e o consumo simultâneo de mídias pode causar
  • 11. 11 consequências positivas e negativas, alterando nosso processo de transformação de informação em conhecimento e nossa necessidade de certos conhecimentos em si. Na última parte do trabalho será feita uma análise do conceito de ativismo, as mudanças que o ele passa com o advento do digital e o cruzamento do conceito de ativismo digital com o pragmatismo de Pierce. Para finalizar o estudo, veremos como esses efeitos tem ocorrido na prática: como o ativismo digital pode ser utilizado para fazer revoluções como a Primavera Árabe, que surpreendeu a todos por acontecer em uma cultura que tradicionalmente possui uma lenta adesão tecnológica; como instituições tentam se aproveitar da questão do ativismo como status, utilizando o exemplo do caso Kony 2012; e finalmente como a nova geração vê o ativismo sem uma causa definida, mudando paradigmas de mercados tradicionais e do consumo de cultura no país.
  • 12. 12 2. INTERNET E REDES SOCIAIS: INÍCIO E DESENVOLVIMENTO 2.1. O SURGIMENTO DA INTERNET A guerra é conhecida por acelerar o desenvolvimento humano, apesar de ser o exemplo máximo de involução da nossa espécie. Do micro-ondas a margarina, várias tecnologias e objetos do nosso cotidiano surgiram a partir do desentendimento entre as pessoas. A internet é uma dessas filhas da guerra, e, justamente por isso, é interessante pensar que, o que o que hoje talvez seja a maior ferramenta de comunicação da sociedade, nasceu do símbolo do esgotamento da comunicação entre povos. Na década de 1960, auge da Guerra Fria, o controle de informações era uma das grandes preocupações governamentais: espiões e interceptações de comunicação muitas vezes valiam mais que qualquer arma. Diante este cenário, manter as informações concentradas em apenas um local era um risco muito grande, e a possibilidade de um bombardeio ao Pentágono, principal centro de inteligência do governo americano, fez com que este colocasse suas principais mentes, que na época buscavam colocar os EUA em pé de igualdade com a União Soviética na corrida espacial, em busca de uma alternativa que mantivesse as informações seguras. A partir do projeto de um psicólogo do MIT sobre computação interativa, foi criada a Arpanet (Advanced Research Projects Agency Network), uma rede de comunicação descentralizada que permitia a transmissão de informações entre diversas centrais. Contrariando o motivo inicial, a rede teve seus primeiros nós em 1969 em quatro universidades: Los Angeles, Stanford, Santa Barbara e Utah. A Arpanet foi sendo difundida no meio acadêmico não só americano e em 1983 o Departamento de Defesa acabou criando uma rede militar dedicada, tornando a Arpanet exclusivamente voltada a pesquisa.
  • 13. 13 Já neste primeiro capítulo de formação da internet, podemos perceber uma mudança significativa: a informação não era mais escrava de um local. Apesar de a Arpanet ter sido a base, a internet dos atuais moldes é resultado de diversas iniciativas. As primeiras transmissões de arquivos e de mensagens entre computadores pessoais foram feitas por dois alunos de Chicago, que disponibilizaram os códigos para domínio público. Outro estudante californiano criou uma forma de conexão através de linhas telefônicas convencionais, barateando e popularizando a rede. Porém o grande marco da internet ocorreu em 1989: a criação da World Wide Web. Tim Berners-Lee, um pesquisador do CERN, Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, pegou diversos trabalhos considerados utópicos e concretizou-os em um sistema de hipertextos chamado de World Wide Web, com isso o usuário poderia ir de um conteúdo a outro relacionado. O sistema WWW foi disponibilizado online e é a base usada para a internet até hoje. 2.2. O DESENVOLVIMENTO DA REDE E SUA EXPANSÃO MUNDIAL A partir daí o crescimento da internet foi exponencial. Em 1991 os hiperlinks foram liberados ao público. No mesmo ano o finlandês Linus Torvalds cria o Linux, o primeiro sistema operacional aberto da história, o que ajuda a difundir a cultura de programação e desenvolvimento pelo mundo.
  • 14. 14 Figura 1 - Gráfico de adesão das tecnologias do século XX na população americana (fonte: W.Michael Cox) Porém, 1995 foi o ano que deu início a massificação da internet. Com o Windows 95 o computador se popularizou e a interface ficou mais amigável para usuários leigos. Se o sistema da Microsoft foi o responsável por facilitar o uso de computadores pelo mundo, o Netscape teve o mesmo papel, facilitando o uso da internet pelos usuários ao redor mundo. Em março do mesmo ano, o sistema de buscas de maior sucesso no início da internet foi lançado: o Yahoo auxiliava os usuários a encontrarem as informações na web. Já em julho, a Amazon vende seu primeiro livro, sendo uma das pioneiras do e-commerce. Apenas um mês depois, ela já realizava entregas em 45 países. Em setembro foi realizado o primeiro leilão virtual no eBay, inaugurando um papel mais ativo do internauta. Mais tarde, em 1996, seria lançado o primeiro serviço de webmail do mundo, o Hotmail, que mais tarde viria a popularizar a função mais usada pelos internautas. Figura 2 - Crescimento de usuários de internet (fonte: Internet Telecommunication Users)
  • 15. 15 Com todas essas mudanças, em 1997 a internet já contava com quase 120 milhões de usuários1 , transferia mais de 5 petabytes de informações por mês e bateu a marca de um milhão de websites2 . Diante esse cenário de prosperidade, a internet foi vista como uma mina de ouro, e a partir daí toda ideia poderia ser a próxima ideia de um bilhão de dólares. Uma dessas ideias foi o Google, o sistema de buscas que se transformaria em uma das empresas mais importantes do mundo. Ele surgiu em 1998, com o objetivo de “organizar a informação mundial e torná-la universalmente acessível e útil” 3 , e nos primeiros meses já teve um investimento de 100 mil dólares, reflexo da confiança depositada na web. O Google organizou a vasta quantidade de informações na web de forma que qualquer um pudesse encontrar o que precisava, sendo que hoje muitas pessoas acabam utilizando o portal como ponto inicial para a navegação, não só para procurar como para entrar em sites, ou até para verificar a grafia de uma palavra. No ano seguinte, surgiu o serviço que mudaria a economia mundial. O Napster criou uma das maiores revoluções na distribuição de conteúdo ao popularizar o sistema P2P – do inglês peer-to-peer, é uma rede de compartilhamento de arquivos onde os usuários podem trocar arquivos sem intermediários – para a troca de arquivos de música. Após ter uma base de mais de oito milhões de usuários, a empresa foi bombardeada por processos das grandes corporações multimídia e acabou sendo obrigada a fechar seu serviço. Porém, a ideia de compartilhamento de arquivos mudaria a indústria de entretenimento para sempre: diversos serviços semelhantes surgiriam e, por fim, as empresas teriam que adaptar seus negócios para sobreviver à rede. Na virada do século, a marca de 10 milhões de sites era batida, e as empresas de tecnologia, denominadas popularmente de “ponto com” tinham um crescimento exponencial na bolsa. O ápice dessa euforia foi a compra da Time Warner, um dos mais tradicionais conglomerados de entretenimento dos Estados 1 Google – Evolution of Web http://www.evolutionoftheweb.com Acesso em 14 de outubro de 2012. 2 A Internet, seis décadas. Discovery Channel. http://discoverybrasil.uol.com.br/internet/interactivo.shtml Acesso em 14 de outubro de 2012. 3 Google Corporate – Missão http://www.google.com/about/company/ Acesso em 14 de outubro de 2012.
  • 16. 16 Unidos, pela AOL, na época o maior provedor de internet do mundo. Era o símbolo do triunfo da “nova economia” sobre a “velha economia”. Com o crescimento desenfreado de investimento nas empresas relacionadas à internet, o FED (Banco Central dos Estados Unidos) resolve interferir, e, após enviar diversas mensagens ao mercado criticando sua “exuberância irracional”, ele aumenta em seis vezes a taxa de juros, visando moderar esse ímpeto4 . A Nasdaq (bolsa eletrônica de Nova York) sofre com as especulações, e as cartas das empresas relacionadas à tecnologia ficam hiperinflacionadas. Esse movimento foi bastante incentivado pelos especialistas do mercado financeiro que controlavam o dinheiro de pequenos investidores, como visto em Wheen: “A verdade só veio à tona em 2003, quando o procurador do estado de Nova York, Elliot Spitzer, saiu em defesa dos pequenos investidores que se haviam arruinado por seguirem os conselhos dos especialistas. A investigação revelou que, enquanto Blodget exortava publicamente os clientes da Merrill a arriscarem a poupança de sua vida inteira em firmas como a Goto.com e a Excite Home, seus e-mails particulares para colegas descreviam essas mesmas ações como "papéis sem valor", "uma porcaria" e "uma bosta". (...) Seu equivalente no Citibank, Jack Grubman, foi condenado a pagar 24,4 milhões de multa por produzir relatórios de pesquisa "fraudulentos e enganosos" sobre ações da Internet.” 5 Pouco tempo depois, as empresas “ponto com” começaram a sofrer de diversas correções e processos, como a declaração de monopólio do tribunal federal americano contra a Microsoft. Junto a isso, vieram os maus resultados dos varejistas online no Natal de 1999 e ausência de retorno do modelo econômico das empresas “ponto com”. Com o estouro da bolha, diversas empresas pediram falência, outras foram adquiridas e as que sobreviveram, como a AOL, que acabou se tornando uma seção da empresa que comprou, perderam grande parte do seu valor de mercado. 4 Ditados para Entender a Bolsa. Tarek Issaoui, Ivan Moneme. NBL Editora, 2007. 5 Wheen, 2007. P. 291
  • 17. 17 Apesar de todo o caso da bolsa, o uso da internet não parou de avançar em todos esses anos. Em apenas oito meses, o número de sites existentes dobrou, totalizando 20 milhões. No ano de 2001, surgiu o serviço que iconiza o poder do usuário no controle da informação: a Wikipédia. Uma enciclopédia virtual colaborativa, onde os próprios usuários escrevem e corrigem os verbetes. É o início da descentralização da informação, o que irá modificar bastante todo o comportamento de uma sociedade anos depois. A partir daí, veremos uma grande mudança na utilização da web e nos principais sites, o que será tratado com profundidade no próximo capítulo. É importante notar que as bases nas quais a internet foi construída refletem bastante no que a internet tornou-se. Se existe essa rede mundial de computadores hoje, deve-se ao trabalho colaborativo, feito por diversas pessoas, e principalmente ao compartilhamento livre, para que as pessoas modificassem e o sistema evoluísse independente de direitos autorais. Castells resume todo o processo: "Antes de mais nada, a Internet nasceu da improvável interseção da big scene, da pesquisa militar e da cultura libertária. Importantes centros de pesquisa universitários e centros de estudos ligados à defesa foram pontos de encontro essenciais entre essas três fontes da Internet. A Arpanet teve origem no Departamento de Defesa dos EUA, mas suas aplicações militares foram secundárias para o projeto(...) Ele desempenhou um importante papel na construção da tecnologia de comunicação por pacote, e porque inspirou uma arquitetura de comunicações baseada nos três princípios segundo os quais a Internet opera ainda hoje: uma estrutura de rede descentralizada; poder computacional distribuído através dos nós da rede; e redundância de funções na rede para diminuir o risco de desconexão. Essas características corporificavam a resposta-chave para as necessidades militares de capacidade de sobrevivência do sistema: flexibilidade, ausência de um centro de comando e autonomia máxima de cada nó.” 6 6 Castells, 2003. P.19
  • 18. 18 Figura 3 - Linha do tempo com momentos importantes da história da internet (fonte: joaobordalo.com com informações de builderau.com.au) 2.3. A WEB COMO PLATAFORMA E O CONTEÚDO NA MÃO DOS USUÁRIOS Se a internet teve como premissa inicial o compartilhamento de conhecimento e o armazenamento de informações, a partir da difusão social e de sua penetração na grande população percebemos uma clara expansão em seu uso. Essa expansão, causada por fatores como o amadurecimento dos usuários e a popularização das linguagens de programação, mostrou o poder da utilização da grande rede como uma plataforma, interativa e colaborativa, fazendo com que a mesma se tornasse gradativamente parte do dia a dia das pessoas, tanto a fins de relacionamento como de criação da identidade em si. Para essas mudanças foram criadas diversas
  • 19. 19 terminologias, como infoware, the open source paradigme shift, além da famosa Web 2.07 . A primeira plataforma online criada com fins sociais foi a Usenet, em 1979. Com ela os usuários trocavam mensagens de texto, agrupadas por tema, em uma espécie de fórum. Porém a popularização da troca de mensagens veio só em 1988, com o IRC (Internet Relay Chat). O sistema finlandês permitia encontros em grupo, mensagens privadas e mensagens em tempo real. Com a popularização da internet, o IRC se transformou na principal forma de bate-papo entre os internautas. Em 1995, com o lançamento do Windows 95, foi criado o mIRC, um programa que utiliza o protocolo IRC inicialmente para bate-papo, e posteriormente desenvolvido para funcionar como servidor de jogos multiplayer, de arquivos e até leitor de MP3. O mIRC foi talvez a primeira plataforma de comunicação utilizada em nível mundial, uma sensação até 2003. Após o mIRC, programas de comunicação instantânea surgiram e popularizaram o uso da internet como forma das pessoas se conhecerem e comunicarem. Menos formais que o e-mail, Instant Messengers (IMs) como o ICQ, Aol Messenger e MSN Messenger se difundiram e com eles o uso da internet com um objetivo mais voltado em interação social. O ICQ, pioneiro entre os IMs, teve força o suficiente para fazer com que as pessoas decorassem o número de 8 dígitos que representava seu usuário para passar para pessoas que conhecessem na vida real e assim mantivesse contato. Até hoje os IMs são responsáveis por grande parte do tempo gasto na grande rede, e estão crescendo cada vez mais graças ao uso de novas ferramentas como os formatos multimídia do Skype ou o uso em dispositivos móveis, como no WhatsApp. Em 2012 existiam 3,18 bilhões de contas de IMs no mundo, e a previsão é que esse número chegue em 3,8 até 2016. O uso com cunho de relacionamento da internet cresceu exponencialmente graças as redes sociais. Redes sociais são estruturas compostas de perfis (sejam 7 Brady Forrest. Controversy about our "Web 2.0" service mark. http://radar.oreilly.com/2006/05/controversy- about-our-web-20-s.html Acesso em 06/05/2013. 8 The Radicate Group, INC. Instant Messaging Market, 2012-2016 http://www.radicati.com/wp/wp- content/uploads/2012/08/Instant-Messaging-Market-2012-2016-Executive-Summary.pdf. Acesso em 28/04/2013.
  • 20. 20 eles de pessoas, empresas, ou outra entidade) conectados que se relacionam entre si, em busca de um mesmo interesse. Estas estruturas permitem relacionamentos sem níveis hierárquicos, e com diversos objetivos, desde amorosos até profissionais. Redes não são, portanto, apenas uma outra forma de estrutura, mas quase uma não estrutura, no sentido de que parte de sua força está na habilidade de se fazer e desfazer rapidamente. Os limites das redes não são limites de separação, mas limites de identidade. (...) Não é um limite físico, mas um limite de expectativas, desconfiança e lealdade, o qual é permanentemente mantido e renegociado pela rede de comunicações. 9 Figura 4 - Interface do classmates.com Em 1995, o embrião da primeira rede social como é conhecida hoje nasceu. O Classmates.com tinha como objetivo fomentar o reencontro entre amigos que estudaram juntos. Em 1997 foi lançado o Six Degrees, considerado a primeira rede social moderna. Com ele as pessoas poderiam criar perfis online e conectar-se a uma rede de amigos. Porém a primeira grande rede social foi o Friendster, lançada em 2002. O nome, junção da palavra friend com Napster, indica o principal diferencial da rede: além de conectar-se aos amigos, você também pode descobrir amigos de amigos ou pessoas com um interesse em comum. Com opções de grupos por interesse, atividade ou escola, além de interações por mensagens, jogos, blogs e aplicativos, o Frindster teve um crescimento rápido, chegando em seu ápice a 115 milhões de usuários. A partir de 2003, diversas redes surgiram, cada uma com um 9 DUARTE, F.; QUANDT, C.; SOUZA, Q. (Org.). O Tempo das Redes. Editora Perspectiva, 2008. P.21/23/156
  • 21. 21 propósito diferente para atender as necessidade dos mais de 600 milhões de internautas da época. Com o MySpace os internautas começaram a mostrar o seu perfil através dos interesses que possuíam, conectando fãs e artistas, além de ter os primeiros aspectos multimídia como upload de fotos e músicas. Já o LinkedIn transportou o conceito de redes sociais para o mundo profissional através de redes de pessoas que se conhecem profissionalmente, criando uma espécie de currículum vitae interativo e possibilitando recomendações e descobertas de vagas. Outro exemplo de rede social com um propósito definido é o Flickr, criado em 2004 para conectar todos entusiastas de fotografia, ele massificou o hábito de guardar fotos na internet, além de criar um grande banco de imagens com possibilidade de comercialização e um espaço onde grupos relacionados a fotografia podem trocar experiências e informação. A geração que nasceu e cresceu com a presença constante das tecnologias digitais, os chamados nativos digitais, começou a encarar a internet como uma ferramenta da sua vida social, algo que ela utiliza tanto para se relacionar como para definir quem ela mesma é10 . Com esse amadurecimento dos usuários, a demanda por redes sociais mais abrangentes, que não focassem em um determinado perfil, foi se desenvolvendo. Esse amadurecimento explica o sucesso estrondoso da plataforma criada em 2004 que mudaria para sempre a forma que as pessoas utilizariam a internet: o Facebook. Feito com o objetivo de conectar os alunos de Harvard, o Facebook tornou-se a principal rede social e o site mais visitado do mundo11 graças ao fato de ser uma plataforma criada para o relacionamento entre as pessoas, possibilitando a troca de mensagens, formação de grupos e compartilhamento de conteúdo, e a interação das pessoas com páginas e aplicativos, onde podem se conectar a instituições e pessoas públicas, montando assim sua identidade digital. No mesmo ano, o Google lançava o Orkut, rede social semelhante ao Facebook que se tornaria a principal rede social de diversos países até a 10 PALFREY (2011), p-17. 11 DICKEY, MEGAN R.; CARLSON, NICHOLAS. The Biggest Websites In The World. http://www.businessinsider.com/biggest-websites-in-the-united-states-2013-2?op=1. Acesso em 06/05/2013.
  • 22. 22 disseminação deste mundialmente, a partir de 2008. O Orkut tinha características mais identitárias graças as comunidades, onde ao participar a pessoa atestava a concordância do argumento chave daquela comunidade, e assim identificava seu perfil. A rede social do Google foi uma das principais responsáveis pela inclusão digital no país, transportando o caráter social que o brasileiro já tem para a internet. Segundo o site de monitoramento de fluxo de sites Alexa, o Orkut teve seu pico em 2010, quando teve 34 milhões de visitantes únicos, o que representava cerca de 75% do alcance total de usuários brasileiros. No ano seguinte, o Youtube revolucionaria novamente a forma das pessoas consumirem conteúdo, permitindo o compartilhamento de vídeos de forma fácil e gratuita. Com a popularização das câmeras digitais e dos celulares, qualquer um poderia produzir seu vídeo e até tornar-se uma celebridade da internet. O Youtube mudou não só a forma de se consumidor conteúdo na internet, como mudou a indústria de entretenimento como um todo, das emissoras de tv às gravadoras musicais. Em 2006, o Twitter se destacou pela limitação em um mundo saturado de informação. Se com o Youtube qualquer um poderia se tornar uma celebridade, com o Twitter todos poderiam ser repórteres e transmitir informações em tempo real, muitas vezes em primeira mão. Além do caráter informativo, o Twitter massificou a comunicação entre usuários e o que antes era inacessível, colocado em pedestais, como empresas e artistas. Esse canal direto de comunicação tornou-se um dos melhores exemplos da inversão do poder para as mãos do usuário, onde a expressão “xingar muito no Twitter” tornou-se sinônimo de fazer valer os seus direitos.
  • 23. 23 Figura 5 - Histórico das redes sociais, do serviço postal às redes digitais (fonte: skloog.com) Um dos grandes receios do uso da tecnologia móvel é a segurança, e divulgar sua localização a princípio não era algo que muitas pessoas fariam. Em 2009 o Foursquare mudou isso, aproveitando o anseio por status que as pessoas tem em divulgar os lugares onde estão, juntando isso a uma plataforma gamificada12 que gerava a competição entre amigos. Outra rede social a mudar paradigmas foi o Instagram, plataforma onde os usuários podem compartilhar fotos. Através do usos de filtros e alguns outros efeitos, a rede reforçou a fotografia móvel e popularizou a fotografia como registro do cotidiano e expressão de sua identidade. Essa mudança de poder para o usuário causou também uma mudança na relação das pessoas com a internet. A partir da possibilidade de criação e compartilhamento de conteúdos, a demanda pela massificação da internet aumentou e incentivou o surgimento de diversos dispositivos que trazem a internet ao alcance de qualquer pessoa, a qualquer hora. E essa simbiose da internet com o dia a dia das pessoas acaba mudando a forma que a sociedade é influenciada pela mesma, assunto que será abordado com profundidade no próximo capítulo. 12 Gamification é um conceito dado para a criação ou adaptação de projetos com premissas de games, como pontuação, ranking e prêmios.
  • 24. 24 3. A INFLUÊNCIA DA INTERNET NA SOCIEDADE Como se pode perceber, a internet surgiu de uma forma razoavelmente liberal, afinal as universidades podiam utilizar os investimentos para estudo com certa flexibilidade; além de ser embasada em valores como colaboratividade e compartilhamento. O surgimento da internet por si só já representa uma grande mudança social: desde a utilização de cada nó da rede como servidor até a divisão da informação, o funcionamento da rede concretizou conceitos antes considerados utópicos. A informação, antes geoescravizada, passou a ser praticamente onipresente graças à revolução tecnológica. A comunicação humana mudou seu formato, seu conteúdo, seus limites e interlocutores; assim seria impossível passar ileso por uma revolução dessas sem que as pessoas, e consequentemente, a sociedade também mudasse. 3.1. EVOLUÇÃO DO USO DA INTERNET Antes de analisarmos possíveis influências da internet na sociedade, é importante entendermos a evolução do seu uso ao longo do tempo. A função primordial da rede em seus primórdios era o envio de mensagens, tanto que a história da internet e do e-mail se confundem. A primeira mensagem eletrônica foi enviada em 196913 , e acabou sendo a principal atividade feita na internet por um bom tempo. Para efeito de comparação, o primeiro site da história foi publicado em agosto de 199114 , e a primeira imagem quase um ano depois15 . É interessante notar que, mesmo 42 anos depois, o e-mail se manteve como a atividade mais popular entre os usuários da internet, ao lado do uso de serviços de buscas. Segundo a Comscore, apenas em outubro de 2011, o uso de redes sociais se tornou a atividade 13 Diário Digital. http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=417591 Acesso em 05/10/2012. 14 G1 http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/08/primeiro-site-publicado-na-internet-completa-21-anos- veja.html Acesso em 05/10/2012. 15 Terra. http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI5890774-EI12884,00- Primeira+foto+postada+na+web+faz+anos+conheca+a+historia.html Acesso em 05/10/2012.
  • 25. 25 mais popular na internet, responsável por um em cada 5 minutos navegados na web16 . Figura 6 - A partir de 2011 o uso de redes sociais se tornou a atividade mais realizada na internet (fonte: comScore) Partindo desta análise, podemos perceber que a internet sempre teve um caráter social. Por mais que o compartilhamento e acesso a informações seja o grande cerne da rede, as conversas movem grande parte das interações virtuais. Com a evolução na interação das pessoas com os computadores, onde cada vez mais uma questão individual se encaixa nesta nova forma de coletividade, o computador pessoal é transformado no que Chatfield17 chama de computador íntimo. Ele deixa de ser uma ferramenta para ser uma extensão da própria pessoa, com o qual ela convive praticamente todas as horas do seu dia. Essa relação pessoa-máquina vem evoluindo e caminha para uma relação de completa simbiose, que vem sendo chamada de Internet das Coisas, descrita de forma sucinta por Ning em seu livro “Unit and Ubiquitous Internet of Things”: “The phrase "Internet of Things" was proposed by MIT Auto-ID Center in 1999. Such an embryonic definition of IoT refers to constructing an Internet- Based network covering all the thing in the world by using related 16 AccuraCast News. http://news.accuracast.com/social-media-7471/social-networking-most-popular-online- activity/ Acesso em 05/10/2012. 17 CHATFIELD (2012) – p.20
  • 26. 26 technologies (e.g., radio frequency identification [RFID]) to realize things'automatic identification and information sharing. In 2005, ITU Internet Reports 2005: The Internet of Things, published by International Telecommunications Union, pointed out the IoT concept and expanded its meaning, and indicated that RFID technology, sensor technology, nanotechnology, and intelligent embedded technology are the four core technologies to realize IoT. After IBM announced the SmartPlanet concept in 2009, IoT became a hot topic and has been incorporated into many nations' developement strategies. Along with the changes of application requirements and technology development, the IoT concept has been rapidly extended and new technologies have been involved in it.” 18 Essa evolução da internet, permitirá que tudo esteja conectado, portanto que tudo seja mensurável ou programável, o que é uma polêmica fundada em bases sólidas. Gadgets como a Nike FuelBand, uma pulseira que calcula todos seus movimentos durante o dia, e o Google Glass, óculos conectado com o qual a pessoa pode tirar fotos, fazer videoconferências ou mesmo coletar informação apenas com comando de voz ou gestos, já são realidade e nos faz pensar no limite entre vida social e vida privada. Grandes obras da ficção científica, como o conto de Philip K. Dick, Minority Report, 1984, de George Orwell, ou mesmo o conceito de panóptico de Focault, já previram algum cenário para esse assunto e imaginaram até quando a sociedade poderia chegar com essa quantidade de informações em mãos, e os perigos que corremos com isso. Se hoje, a superexposição de informações já é algo rotineiro, imagine quando tudo que você vestir, interagir, ou passar por também tiver o poder de realizar uma publicação ou uma ação sobre a sua presença ali. A realidade é que informação já é a moeda mais valiosa que podemos ter. A grandiosidade do Google, que sabe tudo o que você faz e gosta na internet, do Facebook, que vê o que gosta, quem você é e com que se relaciona, ou mesmo de empresas de cartão de crédito, que através da análise de gastos podem prever por exemplo se uma pessoa irá se divorciar com até 2 anos de antecedência19 , são provas mais do que concretas do valor imensurável que a informação tem. A Internet das Coisas possibilitará ainda mais a coleta e gerenciamento de informações, e 18 NING, Huansheng. Unit and Ubiquitous Internet of Things. CRC Press, 2013. 19 GARATONNI, B; DELFINI, M. Seu cartão sabe tudo http://super.abril.com.br/cotidiano/seu-cartao-sabe-tudo- 543527.shtml. Acesso em 15/05/2013
  • 27. 27 quem tiver controle sobre a Big Data20 , terá certamente um poder maior ainda do que o das empresas citadas anteriormente. A partir do momento em que a informação se torna a moeda mais valiosa, um dos principais assuntos em discussão é a privacidade de quem utiliza a internet, ou seja, de quem dá a informação. Empresas como Google e Facebook criam serviços onde as pessoas em troca oferecem suas informações. Portanto, a busca de termos precisa, o e-mail, a rede social, o espaço de armazenamento na nuvem, tudo isso não é pago financeiramente, porém as empresas recebem informações sobre você em troca. E elas podem, indiretamente, vender essas informações a terceiros, interessados em fazer com que você consuma o seu produto ou serviço. Outros serviços, como nossa empresa telefônica ou cartão de crédito, podem dizer com quem mais falamos, aonde estamos e com que gastamos. Um exemplo interessante do potencial que tem o cruzamento das informações de duas bases de dados diferentes, é o programa Cielo Linkci21 , da líder do setor de cartões de pagamento no mercado brasileiro, com o qual os usuários podem cadastrar seu Facebook ao seu cartão e assim realizar check-ins em estabelecimentos para receber pequenos benefícios em troca. Por trás do objetivo de marca e de divulgação do uso do cartão, está o cruzamento das informações do Facebook com o do cartão de crédito, criando um perfil muito mais completo sobre suas ações. 20 Big Data é o conceito criado pela IBM para mostrar a importância do gerenciamento de informações que temos e que, com a Internet das Coisas, teremos ainda mais. A Big Data baseia-se em 5 V’s: volume, velocidade, variedade, veracidade e visualização. Portanto, o termo consiste em uma ampla base de dados, com fontes variáveis, processadas em menor tempo possível, para que se gere uma visualização simples e confiável das informação lá obtidas. 21 Cielo Linkci - http://www.releasecielolinkci.com.br/. Acesso em 19/05/2013
  • 28. 28 Figura 7 - Passo a passo para a participação do programa Cielo Linkci (fonte: facebook.com/cielolinkci) Aliado a isso, existe a superexposição de informações na internet, seja voluntária ou não. O direito de uso de imagem, por exemplo, é algo muito difícil de se controlar em tempos que qualquer um pode fotografá-lo ou filmá-lo em qualquer lugar. Como lidar com materiais constrangedores que podem ser disseminados e acabar com o respeito das pessoas ao seu redor? A privacidade, seja a nível individual ou coletivo, é um dos principias guias para o futuro do uso da internet. Se ela estará em todos os lugares, para todas as pessoas, isso com certeza mudará tanto a forma das pessoas agirem quanto de se relacionarem. Se a Internet das Coisas ainda parece futurista, podemos analisar a privacidade em um mundo repleto de redes sociais, onde “a questão central de nosso exame de consciência está se deslocando de quem é você? para o que você está fazendo?"22 . 3.2. A DUALIDADE DAS REDES SOCIAIS 22 CHATFIELD (2012) – p.43
  • 29. 29 Apesar do universo online geralmente ser visto como libertador pelas possibilidades democráticas que proporciona, temos que ficar atentos a todas consequências possíveis dessa revolução digital na sociedade. Ao mesmo tempo em que você tem a voz para passar sua mensagem, o local onde você a publica e o perfil das pessoas que irão ler suas mensagens são modelos automáticos que definem seu tom e sua mensagem. O dilema também está presente quando começamos a nos questionar se as redes sociais estão nos deixando mais solitários ou mais sociáveis23 . Hoje, cerca de dois terços das interações entre amigos são feitas digitalmente24 , sendo a maioria dela mensagens de texto – seja pelo Facebook, Whats App ou SMS tradicional. Porém, as mesmas pessoas que responderam essa pesquisa, afirmaram que se vão expressar um sentimento, isso deve ser feito pessoalmente. A análise das formas de relacionamento das pessoas hoje em dia e o que isso causa nas mesmas é crucial para entendermos a sociedade atual como um todo, e para isso deve-se entender ao máximo a dualidade dos efeitos causados por essas mudanças. Um estudo25 da York University in Canada analisou as postagens de 100 estudantes universitários e mostrou que usuários destes canais possuem um comportamento altamente narcisista, exibicionista, grande parte devido a 23 MARCHE, Stephen. Is Facebook Making Us Lonely? http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2012/05/is-facebook-making-us-lonely/8930/# Acesso em 26/06/2012. 24 WALFORD, Charles. Forget face time, it's all about Facebook time: Two-thirds of interactions among friends are carried out electronically. http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-2216742/Forget-face-time- Facebook-time-Two-thirds-interactions-friends-carried-electronically.html Acesso em 12/05/2013. 25 Facebook fanatic? You may just be insecure. http://alumni.news.yorku.ca/2010/09/10/facebook- study/?doing_wp_cron Acesso em 15/05/2013 Figura 8 - Charge que representa as mudanças no relacionamento interpessoal atualmente
  • 30. 30 insegurança que a coerção social impulsiona – você precisa mostrar o local onde está, registrar esse momento em fotos ou vídeos, divulgar as pessoas que te acompanham – e isso acaba fazendo o usuário muitas vezes ter uma vida digital completamente diferente da vida real, como apresentado por Callie Schweitzer no consagrado festival SXSW em 2013. “Pick your favorite movie: The one you tell everyone you like, the movie you put on your OKCupid and Facebook profiles, the movie you talk about on a first date. Now pick the movie you watch over and over, the movie from which you can recite every line, your go-to home-on-a-Saturday-night-and-I- don’t-care movie. Which one is actually your favorite movie? For some of us, the two movies we'd choose may be the same. But for most of us — myself included — they're different. So what is it about sharing something publicly that's different than when it's between me and my close friends? Sharing information between two people used to be about giving a part of yourself away. Now, I'm wondering if it's about crafting a persona. It takes courage to be genuine. And it takes real courage to be genuine on the internet, where everyone is a critic, a cynic, and a comedian.” 26 Essa simulação de personalidade e a comparação entre o seu perfil e perfis de outras pessoas possui relação direta com o aumento dos casos de depressão na adolescência, como comprovado em pesquisa realizada por psicólogos croatas, que analisou 160 adolescentes na High School27 . Para esse problema, a American Academy of Pedriatrics deu o nome de Facebook Depression: “Facebook depression (...) may result if, for example, young users see status updates, wall posts, and photos that make them feel unpopular. Social media sites may have greater psychosocial impact on kids with low self- esteem or who are already otherwise troubled.” 28 O reflexo da construção dessa persona aparece também em uma pesquisa realizada por acadêmicos da Carnegie Mellon University, intitulada de “I regretted 26 SCHWEITZER, Callie. You are what you share. https://medium.com/tech-talk/b5ab1f1806fb. Acesso em 31/05/2013 27 PANTIC, I. et al. Association between online social networking and depression in high school students: behavioral physiology viewpoint. Psychiatria Danubina, 2012; Vol. 24, No. 1, pp 90-93. 28 PELT, J. V. Web Exclusive – Is ‘Facebook Depression’ for real?. http://www.socialworktoday.com/archive/exc_080811.shtml Acesso em 13/05/2013
  • 31. 31 the minute I pressed share: A Qualitative Study of Regrets on Facebook”. Essa pesquisa mostra os principais fatores que levaram os usuários a se arrependerem das postagens. De uma forma geral, a maioria dos posts que as pessoas se arrependem giram em torno de três assuntos: conteúdo opinativo (sobre sexo, religião, trabalho ou problemas familiares, conteúdo depreciativo (xingamentos e bullying) e mentiras. Quando perguntados sobre o por quê de ter feito aquela postagem, grande parte respondeu que era porque era legal, e queria ser visto como alguém interessante. “Some people reported wanting to be perceived as interesting orunique. However, when the content or behavior described in thepost was controversial, this caused regret. (...) Our researchreveals several possible causes of why users make posts that they later regret: (1) they want to be perceived in favorable ways, (2) they do not think about their reason for posting or the consequences of their posts, (3) they misjudge the culture and norms within their social circles, (4) they are in a “hot” state of high emotion when posting, or under the influence of drugs or alcohol, (5) their postings are seen by an unintended audience, (6) they do not foresee how their posts could be perceived by people within their intended audience, and (7) they misunderstand or misuse the Facebook platform. Some reported incidents had serious repercussions, such as breaking up relationships or job losses.” 29 Outro consequência da super-exposição nas redes sociais são os chamados stalkers30 , termo em inglês que define aqueles que invadem a privacidade da vítima e podem usar esses dados para causar algum mal a mesma, seja perseguindo-a ou mesmo expondo dados pessoais na internet. Com o tempo, stalkers especialistas acabaram oferecendo uma espécie de detetive virtual, que vasculha a internet em busca de rastros digitais para descobrir informações do seu alvo. Graças a esse excesso de informação e ao stalking, não é espantoso ver o Facebook como causa 29 ACQUISTI, A et al.; “I regretted the minute I pressed share”: A Qualitative Study of Regrets on Facebook http://www.andrew.cmu.edu/user/pgl/FB-Regrets.pdf p. 1-6 30 BENCHOP, A. CyberStalking: menaced on the internet. http://www.sociosite.org/cyberstalking_en.php Acesso em 14/05/2013
  • 32. 32 de 33% dos divórcios no Reino Unido31 , e usado como prova de infidelidade em cerca de 80% dos pedidos de divórcio nos Estados Unidos32 . O vício em canais como o Facebook, onde os brasileiros passam em média 4,8 horas por dia33 , aliado ao aumento da conectividade móvel, têm transformado também o nosso relacionamento físico. Um bom exemplo é como sociabilidade digital afeta talvez um dos maiores ícones do relacionamento entre os brasileiros, os bares. Foi criado um jogo chamado Phone Stacking34 , onde todos da mesa são obrigados a deixar seus celulares empilhados em cima da mesa e são proibidos de interagir de qualquer forma com os aparelhos até que todos vão embora. Caso alguém desrespeite a regra, paga a conta. Um movimento social tentando combater a sociabilidade digital pode parecer, e até ser, extremo, mas o fato é que, até que consigamos conciliar nossas duas vidas em uma só, isso se mostra como uma necessidade. Figura 9 - Exemplo de Phone Stacking (fonte: Techcrunch) 31 Facebook é causa de 33% dos divórcios no Reino Unido, diz estudo. http://tecnologia.terra.com.br/internet/facebook-e-causa-de-33-dos-divorcios-no-reino-unido-diz- estudo,b518fe32cdbda310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em 15/05/2013. 32 Adams, Richard. Facebook a top cause of relationship trouble, say US lawyers. http://www.guardian.co.uk/technology/2011/mar/08/facebook-us-divorces Acesso em 15/05/2013. 33 SBARAI, Rafael. Tempo gasto por brasileiros no Facebook cresce 8 vezes http://veja.abril.com.br/noticia/vida- digital/tempo-gasto-por-brasileiros-no-facebook-cresce-8-vezes. Acesso em 28/06/2012 34 HA, Anthony. The Phone Stacking Game: Let’s Make This a Thing http://techcrunch.com/2012/02/04/the- phone-stacking-game-lets-make-this-a-thing/. Acesso em 28/06/2012
  • 33. 33 Tudo isso cria uma pressão gigantesca nas pessoas, afinal a percepção de falha, medos e problemas não vão para as timelines, por mais que sejam muito mais corriqueiras que qualquer viagem ou evento. A frase que direciona a postagem do consumidor na rede de Mark Zuckerberg é “No que você está pensando”, mas é interpretada como “O que você quer que as pessoas pensem de você?”. Diante dessas informações também é cômodo crucificar tais redes. Um interessante estudo35 realizado por um neurocientista americano observou a relação entre o uso de redes sociais e o aumento de Ocitocina, um dos hormônios mais relacionados a prazer e amor. No estudo, ele percebeu que enquanto as pessoas compartilhavam alguma informação no Twitter, por exemplo, seus níveis de ocitocina aumentavam cerca de 13%, além de diminuir o nível de hormônios relacionados ao stress. O mesmo artigo expõe estudo complementares observando que as pessoas com mais amigos, independente de suas proximidades físicas, ficam menos doentes. Por fim, é apresentado uma pesquisa feita com 200 estudantes onde eles deveriam desistir de qualquer dispositivo de mídia por um dia. A sensação que os usuários tinham era semelhante a de viciados de drogas, com sintomas que indicavam a solidão e sofrimento. Esse estudo é um dos indicadores de que, principalmente nas gerações mais recentes, nosso cérebro trata muitas das nossas experiências digitais da mesma forma que a real. Por isso, muitas vezes aquela conversa até as 5 horas da manhã pelo Instant Messager ou pelo chat do Facebook flui naturalmente, causando até efeitos semelhantes a conversa real, como reflexos físicos e emoções. Porém, é importante salientar que seria leviano constatar que uma conversa virtual é equivalente a uma conversa real. “Our facial expression, physical gestures, and the emotional tone in our voice alter the meaning of our words, which is why it is very difficult to express ourselves fully and authentically in an e-mail or text-or even in front of a Skype screen. So when we forego face-to-face encounters in favor of 35 PENEMBERG, A. Social networking affects brains like falling in love. http://www.fastcompany.com/1659062/social-networking-affects-brains-falling-love. Acesso em 08/05/2013.
  • 34. 34 screen-speak or emailed or texted words, our friends receive only a partial message. What's missing are the feelings that inform the words”. 36 Na conversa real existem diversos elementos que fortalecem o que queremos expressar, dão emoção as palavras e, assim, passam com mais credibilidade nossos sentimentos. Esses elementos também tornam a memorização daquela conversa mais completa, não mais atrelada apenas ao conteúdo dito, mas a tudo que seus sentidos registraram no momento. Outros estudos reforçam essa sociabilidade causada pelas redes sociais. Durante uma pesquisa da Universidade de Toronto os heavy-users de internet tiveram um crescimento cerca de 33% maior no número de amizades – físicas ou virtuais – do que quem não utilizava a internet. A mesma matéria conjectura uma explicação para esse fator, concluindo que “A internet raramente cria amizades do zero - na maior parte dos casos, ela funciona como potencializadora de relações que já haviam se insinuado na vida real.”. Portanto, o que acontece é que quando um usuário de redes sociais conhece uma pessoa na vida rela, ele procura o perfil dela e cria um vínculo, por menor que seja, enquanto aquela que não utiliza redes sociais depende de outras formas de contato. Porém, o mesmo estudo complementa: “As redes sociais têm o poder de transformar os chamados elos latentes (pessoas que frequentam o mesmo ambiente social que você, mas não são suas amigas) em elos fracos - uma forma superficial de amizade. Pois é. Por mais que existam exceções a qualquer regra, todos os estudos apontam que amizades geradas com a ajuda da internet são mais fracas, sim, do que aquelas que nascem e crescem fora dela.” 37 Quando a relação é simétrica, ou seja, eu só consigo acesso as suas informações se você permitir, a intensidade do vínculo de amizade diminui. Isso acontece porque a pessoa acaba expondo informações muito pessoais a um grande número de pessoas, portanto aquele conteúdo acaba tendo que ser filtrado. Portanto, a interação real nas redes sociais de um usuário gira em torno de um 36 NOGALES, Ana. “Facebook versus Face-to-Face”. http://www.psychologytoday.com/blog/family- secrets/201010/facebook-versus-face-face. Acesso em 10/05/2013 37 COSTA, C. Como a Internet está mudando a amizade. http://super.abril.com.br/cotidiano/como-internet- esta-mudando-amizade-619645.shtml Acesso em 10/05/2013.
  • 35. 35 grupo de amigos específico. É interessante pensarmos nesse grupo de pessoas restrito com interagimos, com os quais temos um capital de ponte, como um limite físico que possuímos, afinal seria impossível realmente ter uma interação social profunda com todas as centenas de amigos que uma pessoa tem no Facebook, por exemplo. O professor da Universidade de Oxford, Robin Dunbar, estudou38 os limites do nosso cérebro em guardar informações detalhadas o suficiente para mantermos uma relação com alguém. Através de pesquisas práticas e análises antropológicas e biológicas, ele chegou a um tamanho médio de grupo de 148 pessoas, com uma entre 100 e 230 amigos39 . Diante essa demanda de catalogar seus amigos, diversos aplicativos foram criados, desde um onde você deve responder uma pergunta sobre seu amigo para não desfazer a amizade até outro que mostra quem realmente interage com suas postagens40 . Apesar de não aumentar o número de pessoas com as quais você irá ter um relacionamento interpessoal, as redes sociais fechadas, como o Facebook, causam um aumento do capital social, como discorre Shirky. “Uma razão para que a expressão “capital social” seja tão evocativa é que ela conota um aumento de poder, de maneira análoga ao capital financeiro. Em termos econômicos, capital é uma reserva de riqueza e ativos; capital social é aquela reserva de comportamentos e normas que permite, em um grupo grande, que seus membros se deem apoio mutuamente. Quando falam sobre capital social, os sociólogos muitas vezes fazem uma distinção entre capital de ligação e capital de ponte. Capital de ligação é um aumento na profundidade das conexões e na confiança dentro de um grupo relativamente homogêneo; capital de ponte é um aumento nas conexões dentro de um grupo relativamente heterogêneo.” 41 Essa relação entre capital de ligação e capital de ponte exemplifica bem a diferença no significado da relação que as pessoas mantém nas redes sociais: com algumas, tem uma relação superficial, quase inexistente; já outras você tem uma 38 Don't Believe Facebook; You Only Have 150 Friends. http://www.npr.org/2011/06/04/136723316/dont- believe-facebook-you-only-have-150-friends Acesso em 31/05/2013. 39 Dunbar, R.I.M. (1992). "Neocortex size as a constraint on group size in primates". Journal of Human Evolution 20: 469–493. 40 Facebook Friend Audit. http://www.facebookfriendaudit.com/ Acesso em 31/05/2013 41 SHIRKY, 2008, p. 188-189
  • 36. 36 interação pontual, e por fim tem aqueles que você interage constantemente. Shirky exemplifica com uma suposição de empréstimo de dinheiro. “Para compreender a diferença, considere o número de pessoas a quem você emprestaria dinheiro sem lhes perguntar quando o devolveriam. Um crescimento do capital de ponte aumentaria o número de pessoas a quem você emprestaria; um crescimento do capital de ligação aumentaria a quantia que emprestaria àquelas já incluídas na lista”. 42 Já em redes sociais como o Twitter, onde eu posso deixar minhas informações livres a todos e isso não interfere na quantidade de informações que eu receberei, essa relação muda um pouco, facilitando a formação de laços de interesse, ou seja, comunidades. Outra série de pesquisas43 realizadas por um projeto americano revelou que, justamente pelo fato de exporem suas informações e sua personalidade, as pessoas que possuem Facebook são 43% mais confiáveis que outros usuários de internet. Esse dado nos mostra um paradoxo interessante: não queremos expor demais nossas informações nas redes sociais, porém o fato de você possuir um perfil ativo e com bastante informação traz mais confiança para as pessoas que te conheceram digitalmente ou irão te adicionar após um encontro físico. A sensação de compartilhamento e suporte emocional que o Facebook traz foi outro ponto salientado pelas pesquisas. De uma forma geral, os usuários da rede azul são considerados mais companheiros que os usuários de internet como um todo. Isso mostra bastante o uso que muitas pessoas dá a suas redes sociais, onde compartilham dúvidas, sofrimentos e expõem muito da sua vida pessoal. Essas pessoas buscam um suporte que mostre que existem pessoas apoiando-a, e que ela não está sozinha no mundo. Rainie e Vellman (2012), tratam esse efeito em seus estudos sobre as redes sociais. “Different networks operate in different ways. Many provide havens: a sense of belonging and being helped. Many provide bandages: emotional aid and 42 SHIRKY, 2008. P-189 43 HAMPTON et al. Social networking sites and our lives . http://pewinternet.org/Reports/2011/Technology- and-social-networks/Summary.aspx Acesso em 10/05/2013
  • 37. 37 services that help people cope with the stresses and strains of their situatios. Still others provide safety nets that lessen the effects of acute crises and chronic difficulties. They all provide social capital: interpersonal resources not only to survive and thrive, but also to change situations (houses, jobs, spouses) or to change the world or at least their neighborhood (organizing major political activity, local school board politics).” 44 Outros pontos interessantes que comparam os usuários de Facebook aos internautas comuns são o maior nível de engajamento político, onde foi constatado que nos Estados Unidos, aqueles que acompanhavam a corrida eleitoral pelas redes sociais eram mais informados e mais condicionados a votar, e também que graças a redes sociais algumas amizades dormentes – como aquele seu amigo da escola ou o vizinho com o qual jogava bola – estão voltando a se aproximar. Como bem defendido por Marche quando questionado sobre a solidão causada pelo Facebook, “não é o Facebook que está nos tornando mais solitários. Nós é que estamos”. Aqui é válido analisarmos as opiniões de outros dois pensadores sobre o assunto. Chatfiled45 , diz que “se quisermos conviver com a tecnologia da melhor forma possível, precisamos reconhecer que o que importa, acima de todo, não são os dispositivos individuais que utilizamos, mas as experiências humanas que eles são capazes de criar” e Palfray, complementa, comparando atributos da vida de uma garota de dezesseis anos dessa geração com a de antigamente. “A sixteen-year-old girl's personal identity today is in some ways not all that different from what it would have been in the past. People still express themselves through their personal characteristics, interests, and activities in real space - at least in part. For a typical girl living in a wired society, the digital environment is simply an extension of the physical world. The fact that she lives part of her life in digitally mediated ways does not itself have a large impact on her personal identity. She might be more or less interested in digital activities inherently, but the effect of this interest is modest. She might express these personal characteristics online, but at its core, her 44 RAINIE, H.; RAINIE, L; WELLMAN, B. Networked: The New Social Operating System. MIT Press, 2012. P- 19 45 CHATFIELD (2012) – p.27
  • 38. 38 personal identity is unlikely to be much different from what it would have been in a previous era.” 46 Informação ou exposição? Pressão ou ajuda? Acompanhamento ou solidão? As redes sociais são ferramentas, e como qualquer ferramenta, podemos usá-la bem ou mal, tudo depende de quem usa, e da forma que se usa. 3.3. A INTERNET MUDANDO OS PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO A massificação da internet trouxe com ela vários benefícios. Hoje, cerca de 80 milhões47 de brasileiros tem acesso aberto a informações variadas, não mais totalmente dependentes dos grandes conglomerados de mídia que concentram as informações em seus canais. Porém, com a informação ao alcance de todos, a quantidade de informação é absurda, levando o público em geral a busca pelos serviços de curadoria de informação. Desta forma retorna-se ao início do ciclo, já que os portais de curadoria mais procurados são aqueles “confiáveis” por sua tradição nos antigos meios de comunicação. Ou seja, a informação continua de certa forma controlada. Entretanto é importante entendermos o que podemos considerar como os três processos básicos de comunicação48 na atualidade para darmos um passo além e vermos o porquê das afirmações acima não refletirem a realidade por completo. São eles: interpessoal - pessoas que se comunicam presencialmente, interagem; massa - pressupõe transmissão e recepção de produtos a distância, com uma interatividade simulada; e ciberespacial - a modalidade mais avançada, mediada pelo computador e feita através de redes interativas. 46 PALFRAY; 2010, p. 4 47 Fonte: IBOPE/NetRatings – Abril/2012 48 MARQUES, 2002
  • 39. 39 A internet permitiu que “pela primeira vez, todas as necessidades de mídia e de comunicação pudessem ser supridas por um único sistema integrado49 ”, ou seja, os três processos básicos podem ser realizados em uma só plataforma, independente do aparelho usado. As redes sociais tem um papel essencial no fluxo de informações quando encaramos este cenário: elas são os meios por onde as pessoas se informam por fontes independentes, sejam seus amigos ou não. No processo de informação atual da sociedade as redes sociais tem o papel de curadoria da informação, onde através de seus amigos você fica sabendo dos conteúdos mais relevantes para eles, e desta forma pode ficar sabendo de coisas que não saberia por qualquer outro local. Por outro lado, aqueles que não tinham como se comunicarem, utilizam as redes sociais para disseminarem fatos ocorridos, experiências vividas, causas que acredita, entre outras coisas. O reflexo de tudo isso é a mudança da forma que se comunica hoje em dia. Para que se tenha atenção em meio a tantas informações você precisa mostrar seu conteúdo de uma forma diferente. Palavras e gestos dão lugar a manifestos em vídeos, pedidos de doação em imagens e a tentativa de conscientização em formato de infográfico. Portanto, se trouxermos os atos da fala determinados por Austin50 para este cenário podemos entender que apesar da mudança no ato ilocucionário, o perlocucionário se mantém, porém muda de forma. Se fisicamente, quando conta algo a alguém, você deseja que essa pessoa sorria, pergunte sobre ou dissemine a informação para as outras pessoas, no Facebook, por exemplo, isso foi transformado em like, comments e share. Mesmo o like, acabou desdobrando-se em diversas funções, como discorre Sollero51 : “Vejam o que aconteceu com o botão de Like/Love/Approve/etc. Ele deixou de ser algo na linha de Thumbs-Up para se tornar algo do tipo do legal, ok, eu li/vi o seu post e, no caso de mensagens de feliz aniversário, obrigado”. 49 CHATFIELD (2012) – p.24 50 AUSTIN, 1990 51 SOLLERO, D. Salvem o Compartilhamento. http://www.brainstorm9.com.br/36872/opiniao/salvem-o- compartilhamento/ Acesso em 31/05/2013
  • 40. 40 Símbolo dessa nossa relação de aprovação nas redes é a criação do Facebook Demetricator52 , uma ferramenta que tira os números relativos da sua timeline no Facebook, portanto, onde apareceria “48 pessoas gostaram disso”, com essa ferramenta aparecerá apenas “pessoas gostaram disso”. É uma tentativa de fuga dessa dependência numérica que muitas vezes dita nossas postagens online, e, consequentemente, nosso parecer online. Outra mudança drástica ocorrida graças as possibilidades que o avanço da tecnologia trouxe foi a ampliação das formas de comunicação e na disponibilidade das pessoas para isso. Até meados do século XIX, uma pessoa comum tinha duas formas básicas de comunicação: instantânea presencial, ou seja, uma conversa cara a cara com outra pessoa, ou via carta, portanto de mais longo prazo e com conteúdo diferente. Ou seja, você só poderia dar informações rápidas para pessoas que estavam próximas fisicamente a você, e se quisesse informar alguém que estivesse a uma distância maior a demora seria proporcional a distância. Isso só começou a mudar com a invenção do telefone e sua massificação a partir de meados século XX, o que ofereceu uma nova forma de comunicação interpessoal onde as pessoas poderiam dar informações instantâneas a uma pessoa distante. Portanto, a primeira grande mudança trazida por esse novo meio foi praticamente a extinção da conversa a longo prazo por questões técnicas, todos poderiam falar a qualquer hora com outra pessoa e não precisariam esperar por isso. O telefone trouxe também uma mudança no conteúdo das conversas, onde as pessoas poderiam falar coisas que não tinham coragem de falar presencialmente. A próxima grande mudança na forma de comunicação veio com a internet, inicialmente com a possiblidade de enviar e-mails. Os e-mails são basicamente cartas virtuais, porém de envio instantâneo. A diferença do e-mail para o telefone, é que nem sempre queremos uma resposta imediata da pessoa, portanto é preferível que a pessoa leia aquilo quando puder e responda posteriormente. Isso mudou ainda mais com a massificação dos telefones celulares, e recentemente, dos smartphones. Com eles eu consigo tanto fazer videoconferências em tempo real, 52 TEIXEIRA, Fabrício. Dezoito pessoas curtiram isso. http://www.updateordie.com/2012/10/29/dezoito- pessoas-curtiram-isso/. Acesso em 30/08/2012.
  • 41. 41 verificando as reações físicas que é importante para diversos tipos de conversas, como enviar mensagens, via SMS ou IM, para que a pessoa responda na hora ou quando puder. A duração de uma conversa mudou, as pessoas podem enviar mensagens durante todo o dia e discutir o mesmo tema que levariam em uma conversa de 30 minutos. Hoje, eu posso enviar praticamente qualquer conteúdo (foto, vídeo, documento, etc), em diversos meios (e-mail, redes sociais, SMS), e a qualquer hora. Ou seja, as pessoas estão acessíveis praticamente 24 horas por dia, todos os dias, e essa interação tende a aumentar, como vimos anteriormente com o conceito da Internet das Coisas. Podemos ver os efeitos dessa evolução na forma de se comunicar analisando o papel dos Correios no Brasil. Hoje, a maior parte da função dos Correios é relativa ao envio de encomendas, seja o interpessoais (SEDEX) ou por empresas, onde o e- commerce tem uma boa representatividade53 . É interessante analisar como uma instituição governamental, geralmente rígida e imóvel, conseguiu se adaptar as mudanças da sociedade e crescer frente a isso. Isso trouxe também uma mudança na visão das pessoas frente a compromissos. As mensagens instantâneas também tem serventia para dar informações urgentes sem precisar de grandes explicações. Com isso, muitas pessoas banalizaram o ato de desmarcar compromissos, enviando SMSs ou recados no Facebook em cima da hora. Para esse novo movimento, um professor de comunicação da Universidade IT, em Copenhague, cunhou o termo de “microcoordenação”. "Antes do celular, diz ele, as pessoas se planejavam com base em horários e locais pré-estabelecidos, ao passo que agora podem se "microcoordenar", ou seja, ajustar os planos conforme os fatos acontecem em tempo real, seja um congestionamento ou um serão no escritório. (...) Podemos ter três ou quatro coisas diferentes acontecendo ao mesmo tempo. Uma coisa pode 53 RITNNER, Daniel. Os Correios tentam se reinventar. Valor Econômico,número 2968, B2, mar, 2012.
  • 42. 42 dar errado, outra pode acontecer. Ou seja, há uma indeterminação básica com a qual convivemos atualmente.” 54 A geração atual tem o costume de marcar diversos compromissos ao mesmo tempo, e decidir no dia em qual deles irá. O envio de convites e a agenda do Facebook é um reflexo disso, o ato de confirmar presença em um evento na rede social não dá nenhuma garantia de comparecimento. Os autores do livro Networked,Barry Wellman e Lee Raine, resumem o efeito dessas mudanças em nossos círculos sociais. “No passado, as pessoas tinham círculos sociais pequenos, fechados, nos quais familiares, amigos próximos, vizinhos e líderes comunitários formavam uma rede de proteção e ajuda. (...) Este novo mundo de individualismo conectado gira em torno de grupos mais soltos e fragmentados que oferecem auxílio.” 55 3.4. INFORMAÇÃO X CONHECIMENTO Em meio a todas essa mudanças na forma das pessoas se comunicarem, e dos efeitos que a comunicação na internet causa na sociedade como um todo, um ponto pode ser considerado unanimidade entre todos estudiosos: nunca tivemos tanto acesso a informação e nunca esse acesso foi tão democrático. Ao longo dos tempos, a informação foi escrava de seu formato, e isso era um dos fatores que limitava sua disseminação. Não era possível (e nem de interesse de uma parte da sociedade) que um livro chegasse a mão de todos, ou que todos pudessem ver determinado filme ou ouvir determinada música. Por muito tempo, se eu quisesse encontrar determinado conteúdo, eu iria a biblioteca e tentaria encontrá- lo por lá. A partir do momento que a informação se desvincula do formato e torna-se disponível digitalmente, sua abrangência não têm limites. Agora, com o acesso 54 TELL, Caroline. Mensagens por celular banalizam o ato de desmarcar compromissos. http://www1.folha.uol.com.br/tec/1187745-mensagens-por-celular-banalizam-o-ato-de-desmarcar- compromissos.shtml. Acesso em 17/05/2013. 55 Estudos reabrem debate sobre o impacto de redes sociais na vida das pessoas http://www1.folha.uol.com.br/tec/1186647-estudos-reabrem-debate-sobre-o-impacto-de-redes-sociais-na- vida-das-pessoas.shtml. Acesso em 20/05/2013
  • 43. 43 digital disponível praticamente em qualquer lugar, o único fator determinante para poder encontrar essa informação é fazer a busca certa. O problema é que a quantidade de informações disponíveis atingiu determinado patamar que essa busca pode acabar sendo complicada. Se eu quero saber sobre determinado sintoma que eu tenho tido, por exemplo, posso me deparar tanto com um artigo escrito por um doutor especializado quanto por um paciente que possui um blog. E quem decide qual das informações é mais relevante é o público, que através dos acessos aos sites e da referência aos mesmos56 , qualifica-o mais ou menos para estar entre os primeiros resultados da lista do Google. Portanto, se o blog do paciente for mais popular que o jornal cientifico onde consta o artigo do médico especialista, é provável que eu entre em contato primeiro com as impressões do paciente para que eu tire minhas dúvidas. Esse é um dos princípios da Inteligência Coletiva, a colaboração de todos independentemente de seu conhecimento ou experiência. Essa dualidade na certificação da informação pode ser vista na comparação de Jenkins entre o que Peter Walsh definiu como “paradigma do expert” e o conceito de Lévy de “inteligência coletiva”. “O paradigma do expert exige um corpo de conhecimento limitado que um indivíduo possa dominar. As questões que se desenvolvem numa inteligência coletiva, entretanto, são ilimitadas e profundamente interdisciplinares; deslizam e escorregam através de fronteiras e induzem o conhecimento combinado de uma comunidade mais diversa. (...) Embora participantes de uma inteligência coletiva muitas vezes sintam a necessidade de demonstrar ou documentar como sabem o que sabem, isso não se baseia em um sistema hierárquico, e o conhecimento proveniente da experiência real da vida, em vez da educação formal, pode ser, num certo grau, até mais valorizado.” 57 No livro, eles exemplificam essas teorias analisando o comportamento de fãs de reality shows tentando descobrir informações sobre o programa. Portanto é 56 TEIXEIRA, Paulo Rodrigo. Entenda o PageRank: Google dá notas para sites. http://webinsider.uol.com.br/2007/10/17/entenda-o-pagerank-google-da-notas-para-sites/ Acesso em 23/05/2013 57 JENKINS, 2008. P.87-88
  • 44. 44 importante termos em mente que, se no caso de saber sobre os sintomas da minha doença a inteligência coletiva pode parecer arriscado de se confiar, em outros ela é essencial. Para termos uma ideia da quantidade de informações que consumimos todos os dias, uma pesquisa da University of California58 realizada em 2009 mostrou que um americano médio consome cerca de 12 horas de conteúdo por dia, cerca de 100 mil palavras todos os dias, em diferentes meios. É como se lêssemos 34 mil livros de 200 páginas por dia. Para efeito de comparação, em 1960 esse número era de cerca 7,4 horas, um aumento de 62%. Nosso cérebro nunca esteve acostumado com essa intensidade de informações, o ritmo de aprendizado que temos biologicamente é diferente do ritmo de contato com a informação que temos atualmente. Buscando entender melhor os efeitos que esse excesso de informações traz ao nosso cérebro, o psiquiatra Gary Small59 realizou em 2008 um experimento para entender a diferença de funcionamento do cérebro enquanto se navega na internet e enquanto se lê um livro. O principal efeito observado foi um aumento de atividade na área do cérebro associada a tomada de decisões. Esse efeito é decorrente a quantidade de escolhas que temos que fazer toda vez que navegamos: clicar ou não clicar naquele link, compartilhar ou não essa postagem, conversar ou não com aquela pessoa. Todas essas opções acaba desviando nosso foco, e com isso atrapalham a absorção do conteúdo e o consequente aprendizado do mesmo. O fato de estarmos conectados 24 hora por dia nos deixa em um estado perpétuo de distração e interrupção. Muitos acreditam que o fato de estarmos conectados a todo momento aumenta nossa capacidade de ser multitarefa, uma das características mais presentes na maioria dos estudos relacionados as novas gerações. Ser multitarefa é importante para diversos atos do dia a dia, porém para o aprendizado isso é diferente. 58 BOHN, R; Short, J. How Much Information. 2009, Global Information Industry Center University of California, San Diego. 59 Your Brain on Google. http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/digitalnation/living-faster/where-are-we- headed/your-brain-on-google.html Acesso em 23/05/2013
  • 45. 45 “Já em 1998, a escritora americana Linda Stone cunhou o termo "atenção parcial continua" para descrever a noção de acompanhar informações de diversas fontes, ao mesmo tempo, em nível superficial. Essa ideia de uma atenção rasa e oscilante é provavelmente a descrição mais precisa do que muitos de nós fazemos a maior parte do tempo, em vez de sermos multitarefa: executamos uma simples operação mental de deslocamento em meio a uma enorme gama de fontes, a nenhuma das quais conseguimos dar atenção individual que uma verdadeira “tarefa requer”.” 60 Todas as notificações, pop-ups ou SMSs que paramos para ver em meio a cada informação importante que temos atrapalha a retenção dessa informação. “(...) nós nos tornamos uma espécie de dependentes digitais, que precisam ficar checando emails, smartphones e afins o tempo inteiro – curiosamente, uma espécie de evolução de instintos pré-históricos. Isso pode ser prejudicial por várias razões, mas uma delas está ligada diretamente à nossa capacidade de aprendizado, denominada consolidação da memória. É o processo que leva a informação da memória recente para a memória de longo prazo e permite que a gente crie conexões entre elas.” 61 É importante ter em mente que todos esses efeitos citados não são causados pela internet em si. O aprendizado de alguém pode ser diminuído ou atrapalhado mesmo se a pessoa estiver desconectada, basta não focar-se no conteúdo. O que a internet traz é o aumento da possibilidade e abrangência da distração. Se a disponibilidade de informações a qualquer hora e em qualquer lugar é positivo ou não, isso, assim como o uso das redes sociais, depende da pessoa. De qualquer forma, a mudança que isso está ocasionando é biológica. Vivemos cercados por informações e a cada vez mais nossos aparelhos fazem o papel do nosso cérebro. Eu não sei a data de aniversário de ninguém pois o Facebook me avisa, eu não me lembro dos telefones importantes pois estão no meu celular, eu não preciso aprender como chegar lá pois o meu celular me guia. Alguns dizem que isso é um grande problema, pois estamos deixando de exercitar nosso cérebro e 60 CHATFIELD, 2012. P.54 61 Almeida, A. O que a internet está fazendo com o nosso cérebro? http://www.brainstorm9.com.br/37184/opiniao/o-que-a-internet-esta-fazendo-com-o-nosso-cerebro Acesso em 23/05/2013
  • 46. 46 criar um conhecimento sobre algo importante, como por exemplo o fato de se deslocar na cidade onde vivo ou ligar para as pessoas que convivo. Outros dizem que essas são informações secundárias, que estão dando lugar a informações mais importantes e dessa forma não sobrecarregam o cérebro. Eric Kandel, vencedor do prêmio Nobel de Medicina em 2000, deixa sua opinião em entrevista para a revista Galileu62 : “Quando os livros surgiram, a oratória desapareceu. Em cada ponto, quando você ganha algo, perde algo. A questão é: os ganhos superam as perdas? Meu palpite é que sim”. O grande segredo talvez seja equilibrar o consumo de informações, sem sobrecarregar nossa mente e sem nos excluirmos de interações sociais. Utilizando isso a favor do conhecimento, vemos grandes feitos da inteligência coletiva, que gera aprendizado a todos que participam. Por isso, para o autor Don Tapscott, “a web está criando a geração mais inteligente de todas”. Shirky traz um bom exemplo de como a inteligência coletiva gera conhecimento quando fala sobre o Flickr e a troca de informações sobre técnicas fotográficas que ocorre no site. “Antes dos serviços de compartilhamentos de fotos, alguém olhando para uma dessas fotos poderia perguntar a si mesmo: "Como isso foi feito?”. Com o compartilhamento, cada foto é um lugar em potencial para interação social, e os observadores podem fazer a pergunta diretamente: "Como você fez isso?. (...) Essa forma de comunicação é o que o sociólogo Etienne Wenger chama de comunidade de prática, um grupo de pessoas que conversam sobre alguma tarefa compartilhada com o objetivo de se aperfeiçoar nela.” 63 Essa mudança no processo de aquisição de conhecimento das novas gerações leva também a discussão sobre a reformulação do formato de educação nas escolas. Ao longo do desenvolvimento tecnológico as gerações foram aprendendo a conviver com o acesso as informações de formas diferentes, onde uma vê a Wikipédia com desconfiança, por exemplo, outra utiliza o portal 62 PONTES, F; MALI, T. A internet está deixando você burro? http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT156864-17773,00.html. Acesso em 23/05/2013 63 SHIRKY, C; 2008, p.87
  • 47. 47 colaborativo como base primária de informação. Esse choque de gerações começa a ter efeitos nas escolas, a formação que os professores recebem não leva em conta essas mudanças e acaba prejudicando a relação professor-aluno. Ao mesmo tempo que existe uma quebra de respeito, afinal o aluno muitas vezes tem acesso a informação antes do próprio professor, essa informação é superficial e deve ser aprofundada pelo professor. Nas palavras de Adriano Gosuen, psicólogo especializado em educação e direito das criança e do adolescente64 : “A escola tem de ensinar aos alunos como lidar com as informações recebidas; ensiná-los a ter uma leitura crítica”. Todo esse excesso de informações também gera um reflexo psicológico onde as pessoas sentem-se escravas da informação: precisam saber sobre tudo, se possível assim que as coisas acontecem, e precisam posicionar-se socialmente quanto a isso para fortalecerem sua imagem digital. Essa busca excessiva de informações também é prejudicial a pessoa, e em meio desse cenário que a curadoria de conteúdos se mostra tão necessária. “(...) é fundamental filtrar o que se vai mandar para dentro do cérebro, selecionar com critério o que é mesmo relevante. Quem não faz isso pode acabar ficando doente. A pessoa se irrita facilmente, fica com sentimento de impotência, insatisfação e ansiedade. Também aparecem sintomas físicos como dores no corpo, palpitação e sensação de cansaço” 65 Steven Rosenbaum, autor do livro Curation Nation, em entrevista após um evento sobre a era digital colocou sua visão sobre o futuro dos internautas viciados em informação66 : “As pessoas precisam entender que nem todo Tweet ou SMS será respondido, que a nossa caixa de entrada do e-mail não ficará zerada. Portanto, a primeira mudança é cultural, é aceitar que não conseguimos administrar tudo que é enviado para nós”. A lição que pode-se tirar de tudo isso é de que não é porque a 64 Crianças aprendem mais cedo e deixam professores para trás. http://noticias.terra.com.br/educacao/criancas-aprendem-mais-cedo-e-deixam-professores-para- tras,0e7b24e4d3b4d310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html Acesso em 23/05/2013 65 Excesso de informações pode causar problemas de memória no dia a dia. http://g1.globo.com/globo- news/noticia/2013/01/excesso-de-informacoes-pode-causar-problemas-de-memoria-no-dia-dia.html Acesso em 23/05/2013 66 Entrevista com Steven Rosenbaum - Digital Age 2.0 2011 http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=E4lvv1x39R8#! Acesso em 23/05/2013
  • 48. 48 internet oferece toda a informação do mundo que você deve consumi-la. Pelo contrário, quanto mais paulatino e atencioso for esse consumo, maior a chance do da informação transforma-se em conhecimento, e dessa forma, em algo mais útil para você. 3.5. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A CULTURA DA CONVERGÊNCIA Não podemos analisar as mudanças causadas pela internet sem analisar as mudanças que os meios de comunicação de massa sofreram ao longo do tempo. Estes meios sempre tiveram um papel muito bem posicionado na sociedade: transmitir informações e gerar entretenimento. Por muito tempo, eram essas informações que controlavam de uma forma geral o conhecimento do povo quanto a determinados assuntos, não é a toa que grandes movimentos políticos como o nazismo investiam grande parte de seus esforços na produção de informações e no controle dos meios. Porém por mais que os meios influenciem a sociedade, eles também sempre serão influenciados por ela. Um meio de comunicação pode ter sido criado para determinada finalidade, e a sociedade acaba utilizando-o para outra. Podia atender determinado público, mas com a evolução dos meios ele acaba atendendo outro. Independente disso, uma vez que o meio se estabelece, ele dificilmente perderá uma função na sociedade. Nas palavras de Jenkins. “O conteúdo de um meio pode mudar (como ocorreu quando a televisão substituiu o rádio como meio de contar histórias, deixando o rádio livre para se tornar a principal vitrine do rock and roll), seu público pode mudar (como ocorre quando as histórias em quadrinhos saem de voga, nos anos 1950, para entrar num nicho , hoje) e seu status social pode subir ou cair (como ocorre quando o teatro se desloca de um formato popular para um formato de elite), mas uma vez que um meio se estabelece, ao satisfazer alguma demanda humana essencial, ele continua a funcionar dentro de um sistema maior de opções de comunicação.” 67 67 JENKINS; 2008, p. 41
  • 49. 49 Pode-se ilustrar essa teoria com a internet. A internet surgiu com o objetivo de proteger as informações do Pentágono. Em 2006 foi criado o WikiLeaks, uma organização colaborativa exclusivamente dedicada a publicação de documentos secretos de governos ou empresas, garantiu sua visibilidade mundial divulgando uma série de documentos secretos do Pentágono sobre a morte de civis e soldados na guerra do Afeganistão. Esse fato irônico exemplifica as mudanças de função e forma que a internet sofreu ao longo dos anos. De uma rede militar controlada com o objetivo de proteger informações ela se transformou em uma rede acadêmica com o objetivo de difundir conhecimento e troca de informações, e, posteriormente, a uma rede mundial com objetivos de acordo com a necessidade de cada usuário. Figura 10 - Vazamentos de informações do governo americano pelo Wikileaks Com isso em mente, pode-se perceber que grande parte dos meios de comunicação que tiveram grande importância para a sociedade se mantém até hoje. Começando pelo jornal, presente desde a Roma Antiga mas que se tornou um meio de massa apenas após a invenção da prensa por Gutenberg no século XV, que sempre teve como objetivo disseminar as principais informações baseando-se em quatro pilares: abrangência, periodicidade, atualidade e universalidade. Seu formato, da prensa até hoje, basicamente se resume a algumas folhas de papel com conteúdo diverso. É de conhecimento comum de que o consumo de jornais tem
  • 50. 50 caído vertiginosamente ao longo dos últimos anos, ocasionando o fechamento de jornais consagrados pelo mundo. Analisando os quatro pilares do jornal hoje, podemos perceber que o que mudou, basicamente foi a periodicidade, afinal nos tempos de informação ao alcance de todos para se manter a atualidade você deve lançar notícias suas notícias não mais diariamente, mas de segundo a segundo. Para atender essa demanda de informação, o jornal (conteúdo, não meio) teve de mudar de formato, saindo do papel e indo para meios mais dinâmicos como o rádio, a tv, e a internet. Porém, em meio de tantas informações, o jornal impresso ainda sobrevive, seja com um formato resumido, como o Metro ou o Destak, que são distribuídos gratuitamente e representam um consumo de informação essencial para grande parte dos moradores de metrópoles, ou mesmo com o formato tradicional mas pautado por colunas analíticas e opinativas, como o tradicional USA Today68 ou a iniciativa holandesa De Nieuwe Pers69 , um jornal que permite a assinatura apenas de determinados colunistas/jornalistas. Avançando cronologicamente, temos o rádio como segundo grande meio de comunicação da sociedade. Criado no final do século XIX e popularizado no início do XX, o rádio surgiu com a função de comunicação entre navios e posteriormente entre tropas militares, bastante difundido na primeira guerra. Ao grande público o rádio começou com dois objetivos: difundir informações, com maior periodicidade que o jornal, e contar histórias. As novelas, que vieram de livros ou contos de jornais, acabaram indo para a televisão, deixando para o rádio o papel de grande responsável pela música. Ao longo do tempo, apesar de LPs, CDs e MP3 players, o rádio se manteve com dois objetivos: lançar artistas (por muito tempo a expressão “está tocando em todas as rádios” é sinônimo de sucesso) e informar. O rádio foi talvez o primeiro grande meio interativo, onde as pessoas poderiam ligar ou enviar cartas dando opiniões e pedindo músicas. Atualmente, o rádio se modernizou tornando-se bem mais colaborativo: as estações que informam a situação do trânsito, por exemplo, recebem grande parte das informações dos ouvintes. 68 USA Today encourages journalists to pepper reporting with personality. http://blog.wan- ifra.org/2013/04/23/usa-today-encourages-journalists-to-pepper-reporting-with-personality Acesso em 19/05/2013. 69 LUDWIG, Guilherme. Jornal holandês permite que leitor assine jornalistas individualmente. http://www.colunadigital.com/2013/04/paywall-por-jornalista.html#.UWWIXZOkomE Acesso em 19/05/2013.
  • 51. 51 A diferença da internet é que ela não é apenas mais uma forma de propagação de informações, histórias ou experiências. A grande revolução que a internet trouxe foi um poder aos usuários de produzir conteúdo, portanto a mudança do simples papel de espectador para um papel mais ativo, criando assim uma cultura participativa. A cultura participativa nada mais é do que a amplificação de algo que sempre aconteceu como reflexo a um conteúdo midiático: a fofoca e discussão sobre o assunto. Assim como as vizinhas brasileiras da década de 80 se reuniam toda manhã para comentar sobre a novela e criar teorias sobre o que viria a acontecer, os fãs de diversos segmentos se reúnem online para trocar informações e teorias sobre seus objetos de desejo. Essa cultura participativa é caracterizada por Lévy como inteligência coletiva, definida dessa forma: “uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências. (...) a base e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas, e não o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas.” 70 Portanto a internet possibilita que cada um pudesse expor suas opiniões, divagar sobre diversos assuntos, e ter contato com as mais diversas informações. Desta forma o conhecimento, antes restrito, se espalha, e torna-se colaborativo, onde cada usuário consome e produz conteúdo. Analisando casos como as grandes comunidades de fãs de reality shows, que tentavam descobrir detalhes sobre os vencedores ou a lógica por trás das votações, Jenkins percebeu que por trás do conceito de inteligência coletiva defendido por Lévy, onde a comunidade possui conhecimento de tudo e coletivamente compartilha e divaga sobre o mesmo, existe sim uma hierarquização, um grupo de pessoas que trocam informações mais restritas e divulgam esse conteúdo apenas após uma curadoria desse grupo, chamados de “brain trusts”. 70 LÉVY, 1998. P. 28-29
  • 52. 52 “Pense nos “brain trusts” como sociedades secretas ou clubes privados, cujos membros são escolhidos a dedo, com base em suas habilidade e experiência comprovada. Os que são deixados para trás reclamam de “fuga de cérebros”, que tranca os participantes mais inteligentes e articulado atrás de portas fechadas. Os brain trusts, por outro lado, argumentam que esse processo de avaliação minuciosa a portas fechadas protege a privacidade e assegura um alto grau de acerto, quando eles finalmente postam suas descobertas.” 71 Esse grupo representa que, mesmo em um mundo colaborativo onde cada um pode dar voz a sua opinião, a discussão ainda pode ser guiada e influenciada por determinadas pessoas. Mais que apenas discutir sobre uma história/produto, a internet permitiu que os consumidores realizassem criações baseadas naquilo do qual eles tanto gostam. Isso é algo feito há tempos de modo informal, como com fanzines ou materiais produzidos por fã-clubes, porém se multiplicou e, graças a evolução tecnológica, vem tendo mais destaque e pressionando gigantes do entretenimento. Jenkins analisa o caso de Guerra nas Estrelas para exemplificar essa questão e como os estúdios tem lidado com isso. Em 1977, a LucasArts (empresa do criador da série e detentora dos seus direitos) incentivava a criação dos fãs, chegando a criar um departamento que analisava e dava consultoria sobre as criações. Na década de 90, com a internet em franco crescimento, a empresa tentou controlar a produção de conteúdo relacionada a série, culminando na declaração “Como a Internet está crescendo muito rápido, estamos desenvolvendo normas para ampliar a capacidade dos fãs de se comunicarem entre si sem infringirem os direitos autorais e de marca de Guerra nas Estrelas72 ”. Já em 2000, a empresa criou um site onde os fãs poderiam compartilhar suas criações relacionadas à série. O que parecia uma boa iniciativa tornou-se motivo de irritação para os fãs ao verem que, no momento que um conteúdo do fã era publicado no site, os direitos daquele material seriam transferidos para o estúdio. 71 Jenkins, 2008, p.69 72 Brad Templeton, “10 Big Myths about Copyright Explained”, http://www.templetons.com/brad/copymyths.html. Acesso em 21/05/2013