Este documento resume uma discussão entre um estudante e dois filósofos, Kant e Stuart Mill, sobre suas perspectivas morais. Kant defende que uma ação só tem valor moral quando é feita por dever, independentemente dos resultados, enquanto Mill argumenta que depende dos resultados e da felicidade gerada. O estudante aprende a distinguir entre dever e conformidade com o dever na teoria de Kant e entre prazeres superiores e inferiores na teoria utilitarista de Mill.
1. A necessidade de fundamentação
da moral - análise comparativa de
duas perspectivas filosóficas
Immanuel Kant
FILOSOFIA
10ºANO
Stuart Mill
Olga Pinheiro
Fernando Varino
2. Diz aqui que existem duas
perspectivas ou teorias sobre
o estatuto moral da acção!
Quando é que uma acção tem
valor moral?
3. As teorias são …
A tese deontológica (Kant)
A tese teleológica/consequencialista
(John Stuart Mill)
4. VAMOS LÁ VER O QUE DIZ CADA UM
DESTES FILÓSOFOS SOBRE ESTE ASSUNTO…
A PERGUNTA É: EM QUE CIRCUNSTÂNCIAS
É QUE UMA ACÇÃO É MORALMENTE BOA?
5. Eu, Kant, acho que o valor moral da
acção está na intenção com que ela é
feita, no princípio que a orienta…
…não me interessa, para avaliar a
moralidade de uma acção, os
resultados do que faço, mas o
propósito por que faço o que faço.
6. Não concordo nada com Kant!
O que interessa, numa acção, são os
efeitos que ela produz, são as
consequências que dela resultam… Daí,
dizerem que sou um consequencialista.
7. Deixem cá ver se percebi bem. Enquanto os
seguidores de Kant afirmam que uma acção é boa
e tem valor moral quando é feita por puro
respeito a um princípio, os que seguem Stuart Mill
defendem que a moralidade da acção depende dos
seus resultados.
Agora pergunto eu, que resultados são esses?
8. Boa questão, miúdo!
Eu, Stuart Mill, defendo que uma
acção para ser moralmente boa
tem que proporcionar felicidade às
pessoas. Uma acção é boa, quando
é útil, quando serve para alguma
coisa… quando traz a maior
felicidade ao maior número de
pessoas.
9. Isto está a ficar interessante… Stuart
Mill é um utilitarista!
A sua teoria pode ser apresentada da
seguinte forma:
Acção boa = Acção útil = Acção da
qual resulta a maior felicidade para
o maior número de pessoas
Mas… o que é a felicidade?
10. És esperto!
Fazes as perguntas certas no
momento certo…
Com que então, queres saber o que
é a felicidade!
Para mim, é a coisa mais desejável
e não é nada mais nada menos do
que um estado de bem estar, onde
há prazer e ausência de dor.
11. Olhem aquele
cromo… Ó Carlos, o
que estás a fazer
agarrado a esse A tentar perceber Kant e
calhamaço? Stuart Mill… aqueles
filósofos que temos
estudado nas aulas de
Filosofia. Até parece que
estou a falar com eles.
12. Deixa-os lá!
Não penses que o prazer a que me
refiro diz respeito à satisfação dos
instintos mais primários! Há prazeres
superiores e inferiores, e eu refiro-
me aos prazeres superiores …
Prazeres
superiores???
Inferiores???
Como assim?
13. O prazer resulta da satisfação de uma necessidade e há
necessidades espirituais… ou … intelectuais, morais,
sociais, estéticas… Estes são os prazeres superiores.
Já a satisfação de necessidades ligadas ao corpo são
prazeres inferiores…
O homem é tanto mais feliz quanto mais conseguir
satisfazer as suas necessidades espirituais. Percebes?
Acho que
sim…
14. Isto é mesmo interessante…
Se percebi bem, Stuart Mill defende um
ideal moral que consiste no seguinte:
- Felicidade para todos os seres humanos;
- Um ideal jurídico e político que se traduz
no bem geral ou felicidade global;
- Formação de pessoas solidárias que
pensam na felicidade de todos e que
promovem o bem comum…
15. Deixa-me agora tentar compreender o que diz Kant
sobre a moralidade das acções.
Hum… Diz aqui que agir por dever não é o mesmo
que agir em conformidade com o dever…
Diz também que só quando agimos por dever é que
estamos a agir moralmente e que a acção em
conformidade com o dever é do domínio da
legalidade e não da moralidade.
Isto não é nada fácil de entender…
16. Vá lá rapaz, não desistas…
A minha perspectiva sobre a moral não é
assim tão difícil. Dou-te um exemplo: um
merceeiro decide não subir os preços dos
seus produtos. A pergunta que se faz é: por
que é que o merceeiro não sobe o preço
dos produtos que vende?
Diz-me lá, o que achas?
Sei lá… Talvez
porque se os subir,
vai perder clientela.
17. Se assim for, digo-te já que a acção do merceeiro
não tem qualquer valor moral!
Sabes porquê? Eu digo-te...porque ele agiu
tendo em vista um fim que foi o de manter os
seus clientes. A sua acção não resultou do puro
respeito a uma ordem da razão, a um
imperativo absoluto e incondicional. Para ter
valor moral, teria que ser uma acção
desinteressada, uma acção feita por respeito a
um princípio categórico, independentemente
das consequências.
18. Acho que já comecei a topar esta cena Kantiana.
Deixa cá ver…
Acção com valor moral = Acção realizada por dever = Acção
em que se respeita um princípio dado pela própria razão
Por outro lado…
Acção realizada em conformidade com o dever = acção sem
valor moral = acção do domínio da legalidade, porque se
obedece a regras que não são ditadas pela razão, mas por
homens que as criaram com uma finalidade, regular as
relações humanas.
19. Boa, miúdo..
Quando perguntares a alguém por que faz o que faz
e a resposta for “Porque devo fazê-lo”; então a sua
acção é desinteressada, esgota-se em si mesma, não
é um meio para atingir um fim. Tal acção tem valor
moral, é uma acção realizada por dever.
Quando alguém disser que faz o que faz para evitar
ser castigado ou conseguir uma recompensa, essa
acção não terá estatuto moral, pois não será
desinteressada, tratar-se-á de uma acção em
conformidade com o dever.
20. Há aqui mais conceitos: imperativo categórico,
imperativo hipotético, boa vontade, liberdade. Quero
ver se os entendo.
Ora muito bem, imperativo categórico… O que
significa?
Um imperativo é uma ordem; e um imperativo
categórico não é nada mais nada menos do que uma
ordem da razão prática que se impõe com tal força e
de um modo tão absoluto que a única coisa a fazer é
segui-la sem qualquer restrição ou condição…
21. Ora muito bem, se o imperativo categórico consiste no
respeito a um princípio racional; o imperativo hipotético
implica a obediência a uma ordem que é exterior à razão e
que tem como finalidade evitar algo desagradável ou
conseguir algo agradável… como:
“Faço isto para conseguir aquilo”… “Sou bem comportado
para ser elogiado ou para não ser castigado”…”Pago os
impostos para não ter o fisco à perna e para ser
considerado um cidadão exemplar”… Tais acções não têm
valor moral para Kant!
Isto começa a fazer sentido!
22. Estás a ver… quando começamos a Boa vontade…
A vontade está
fazer um esforço para percebermos
relacionada com o
as coisas, elas deixam de ser “um querer e a vontade ao
bicho de sete cabeças”… respeitar o princípio
Estás a pensar muito bem! categórico da moralidade
E a boa vontade? Já percebeste a ditado pela razão...é uma
sua importância? vontade boa, que faz
com que o homem aja de
modo autónomo e livre…
… pois não se deixa levar
pelos interesses do
momento.
23. Isto é demais…
Segundo Kant, quem realiza uma acção por dever está a ser
verdadeiramente livre …
… a sua vontade é boa e autónoma, porque respeita a lei moral,
aquela que é ditada pela razão e não se deixa influenciar por nada
que seja exterior a ela.
Kant nunca nos diz o que fazer ou não fazer, mas fornece-nos
algumas máximas:
-“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo
querer que ela se torne uma lei universal”;
- “Age como se a máxima da tua acção se devesse tornar, pela tua
vontade, em lei universal da natureza”
- “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa
como na de qualquer outro, sempre como fim e nunca como meio”
Belas máximas, sim senhor!!!
24. De nada, foste um
Obrigado, pelos óptimo
esclarecimentos. Vou fazer
interlocutor.
um brilharete na próxima
aula de Filosofia.
Foi uma conversa
agradável… não
deixes de procurar
incansavelmente o
conhecimento.
25. Fontes:
Google imagens
Kant, Immanuel (1992). Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: Edições 70
Mill, J. Stuart (1976). Utilitarismo. Coimbra: Atlântida Editora