2. Sua Vida
Thomas Morus, forma alatinada por que é literariamente conhecido Thomas Moore,
Grande Chanceler da Inglaterra, nasceu em Londres em 1478 e foi aí decapitado em
1535. Filho de um dos juizes do banco dos reis, foi aos quinze anos colocado como
pagem do Cardeal Morton, Arcebispo de Cantuária. Em 1497 foi terminar seus estudos
em Oxford, onde conheceu Erasmo de Rotterdam, o qual tornou-se um grande amigo
e tendo contato com o criticismo do autor de "O Elogio da Loucura" quanto à conduta
da ordem eclesiástica vigente . Quando Henrique VIII abjurou o catolicismo, Morus,
então ligado à Igreja Romana, pediu demissão do cargo (1532), descontentando com
esse gesto o Rei. No ano seguinte ofendeu mortalmente Ana Bolena, recusando-se a
assistir à sua coroação e a prestar fidelidade a seus descendentes. Foi condenado à
prisão perpétua e ao confisco de todos os seus bens. Pouco tempo depois foi
condenado à morte por crime de alta traição e decapitado em Londres em 1535.
O termo utopia significa "lugar nenhum", Morus não escreve sua obra com a
intenção de fundamentar uma doutrina, um conjunto de regras a serem seguidas, pelo
contrário, admite a impossibilidade do mundo e da sociedade vista na ilha.
3. Os níveis do discurso utópico:
Em regra, os discursos das utopias articulam-se em três níveis:
Ao nível de narrativa, é a narração de como se chega à cidade utópica, e a
descrição da cidade utópica.
Ao nível de discurso crítico, é uma oposição a uma realidade considerada
distópica.
Ao nível de discurso justificativo, temos a tematização da axiologia das utopias;
ele justifica a existência do discurso crítico e da narrativa; a realidade existente é
criticada porque fere essa axiologia, e a cidade utópica é imaginada por ser-lhe
conforme.
4. A ilha
A ilha da Utopia tem cinquenta e quatro cidades espaçosas e magníficas. A
linguagem, os hábitos, as instituições, as leis são perfeitamente idênticas. As
cinquenta e quatro cidades são edificadas sobre o mesmo plano e possuem os mesmos
estabelecimentos e edifícios públicos, modificados segundo as exigências locais.
Quem conhece uma cidade, conhece a todas, pois são todas semelhantes.
5. Das Artes e Ofícios
Há uma arte comum a todos os utopianos, homens e mulheres, e da qual ninguém
tem o direito de isentar-se: é a agricultura. As crianças aprendem a teoria nas
escolas e a prática nos campos vizinhos da cidade aonde são levadas em passeios
recreativos. Aí assistem a trabalhar e trabalham também, e este exercício traz ainda
a vantagem de desenvolver as suas forças físicas.
6. DAS RELAÇÕES MÚTUAS ENTRE OS
CIDADÃOS
A cidade se compõe de famílias, na sua maioria unidas pelos laços de parentesco.
7. DOS ESCRAVOS
Nem todos os prisioneiros de guerra são indistintamente entregues à escravidão;
mas unicamente os indivíduos pegados de armas na mão.
Os filhos de escravos não são escravos. O escravo estrangeiro torna-se livre ao
tocar na terra da utopia
A servidão recai particularmente sobre os cidadãos culpáveis de grandes crimes e
sobre os condenados à morte pertencentes ao estrangeiro.
O homem que se mata sem motivo reconhecido pelo magistrado e pelo padre, é
julgado indigno da terra e do fogo; seu corpo é privado de sepultura e atirado
ignominiosamente nos pântanos.
8. Utopia
A servidão recai particularmente sobre os cidadãos culpáveis de grandes crimes e
sobre os condenados à morte pertencentes ao estrangeiro.
O homem que se mata sem motivo reconhecido pelo magistrado e pelo padre é
julgado indigno da terra e do fogo; seu corpo é privado de sepultura e atirado
desrespeitosamente nos pântanos.
9. VIDA
As raparigas não se podem casar antes dos dezoito anos; os rapazes, antes dos
vinte e dois.
Entretanto, se o cônjuge, homem ou mulher, que sofreu a injúria, ama ainda o
esposo ou esposa indigna, o casamento não é rompido, com a condição, entretanto,
de que o inocente siga o culpado aonde ele foi condenado a trabalhar.
A reincidência no adultério é punida com a morte. As penas dos outros crimes não
são invariavelmente determinadas pela lei. O senado proporciona a pena conforme
a enormidade do delito.
10. DA GUERRA
Os utopianos abominam a guerra como uma coisa puramente animal e que o
homem, no entanto, pratica mais frequentemente do que qualquer espécie de
animal feroz. Contrariamente aos costumes de quase todas as nações, nada existe
de tão vergonhoso na Utopia como procurar a glória nos campos de batalha.
Mas os utopianos não fazem a guerra sem graves motivos. Só a empreendem para
defender suas fronteiras ou repelir uma invasão inimiga nas terras de seus aliados,
ou ainda para libertar da escravidão e do jugo de um tirano um povo oprimido.
Neste caso, não consultam os seus interesses; vêm apenas o bem da humanidade.
Os utopianos choram amargamente sobre os louros de uma vitória sangrenta;
envergonham-se mesmo, considerando absurdo comprar as mais brilhantes
vantagens ao preço do sangue humano.
11. DAS RELIGIÕES DA UTOPIA
As religiões, na Utopia, variam não unicamente de uma província para outra, mas
ainda dentro dos muros de cada cidade; estes adoram o sol, aqueles divinizam a
lua ou outro qualquer planeta. Alguns veneram como Deus supremo um homem
cuja glória e virtude brilharam outrora de um vivo brilho. Não obstante, a maior
parte dos habitantes, que é também a mais sábia, repele estas idolatrias e
reconhece um Deus único, eterno, imenso, desconhecido, inexplicável, acima das
percepções do espírito humano, enchendo o mundo inteiro com sua onipotência e
não com sua vastidão corpórea. Este Deus é chamado Pai; é a ele que atribuem as
origens, o crescimento, o progresso, as revoluções e o fim de todas as coisas. É a
ele unicamente que rendem homenagens divinas.