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A prática do assistente social: conhecimento,
            instrumentalidade e intervenção profissional*

            The social worker practice: knowledge, instrumental-
            ity and professional intervention

                                                                                        Charles Toniolo de SOUSA**




            Resumo: Este artigo tem por finalidade apresentar uma reflexão sobre a prática pro-
            fissional do Assistente Social, reconhecendo suas dimensões, com o objetivo de situar
            a instrumentalidade do Serviço Social bem como seu arsenal técnico-operativo. Em
            seguida, serão apresentados, de forma sucinta, alguns dos principais instrumentos de
            trabalho utilizados pelos Assistentes Sociais no exercício da prática profissional, bem
            como algumas considerações finais.
            Palavras-chave: Serviço Social, Instrumentalidade, Instrumentos de trabalho do As-
            sistente Social.


            Abstract: This article has in view to introduce a reflection about the Social Worker
            professional practice, recognizing dimensions, in order to situate the Social Work ins-
            trumentality and the technical-operation that the professionals use. After, will be intro-
            duced, succinctly, some principal tools used for the Social Workers in their professional
            practice, and also some final considerations.
            Keywords: Social Work, Instrumentality, Social Workers tools.


                                                                   Recebido em: 07/04/2008. Aceito em: 30/04/2008.




∗
 Este texto é fruto das reflexões e estudos realizados a partir das diferentes experiências adquiridas durante a vida profissional, e, sobretudo,
da experiência com a disciplina de Técnicas de Intervenção Social, ministrada para as turmas do curso de Serviço Social da Universidade do
Grande Rio. A produção deste artigo teve como objetivo nortear a Semana do Curso de Serviço Social da UNIGRANRIO, realizada em setem-
bro de 2006, a fim de orientar estudantes do 1º ao 8º períodos letivos, culminando em atividade de avaliação conceitual requerida à totalidade
dos alunos do curso.
∗∗
   Assistente Social do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Mestrando em Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro
e Professor da Escola de Serviço Social da Universidade do Grande Rio.



                 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
Charles Toniolo de SOUSA


       Na trajetória histórica do Serviço Social, po-                  instrumentalidade. Porém, não é possível falar se-
demos identificar várias correntes que discutem                         riamente sobre a questão se não situamos o debate
a questão da sua instrumentalidade, que trazem                         em alguns de seus fundamentos científicos mais
consigo um corpo conceitual específico que dá a                         elementares – caso contrário, caímos nas “teias”
esse tema um determinado significado. Entende-                          do senso comum.
mos por instrumentalidade a concepção desen-
                                                                             Ora, o debate sobre a instrumentalidade do
volvida por Guerra (2000) que, a partir de uma
                                                                       Serviço Social percorre a história da profissão em
leitura lukacsiana da obra de Marx, constrói o de-
                                                                       razão da própria natureza desta: o Serviço Social
bate sobre a instrumentalidade do Serviço Social,
                                                                       se constitui como profissão no momento histórico
compreendendo-a em três níveis: no que diz res-
                                                                       em que os setores dominantes da sociedade (Es-
peito à sua funcionalidade ao projeto reformista
                                                                       tado e empresariado) começam a intervir, de for-
da burguesia; no que se refere à sua peculiarida-
                                                                       ma contínua e sistemática, nas conseqüências da
de operatória (aspecto instrumental-operativo); e
                                                                       “questão social”, através, sobretudo, das chama-
como uma mediação que permite a passagem das
                                                                       das políticas sociais. Segundo Carvalho & Iama-
análises universais às singularidades da interven-
                                                                       moto (2005), o Serviço Social é requisitado pelas
ção profissional.
                                                                       complexas estruturas do Estado e das empresas,
       Desde o período em que o Serviço Social                         de modo a promover o controle e a reprodução
ainda fundava sua base de legitimidade na esfera                       (material e ideológica) das classes subalternas, em
religiosa, passando pela sua profissionalização e                       um momento histórico em que os conflitos entre
os momentos históricos que a constituíram, a di-                       as classes sociais se intensificam, gerando diver-
mensão técnica-instrumental sempre teve um lugar                       sos “problemas sociais” que tendem pôr a ordem
de destaque, seja do ponto de vista do afirmar de-                      capitalista em xeque (Netto, 2005).
liberadamente a necessidade de consolidação de
                                                                             Torna-se mister situar essa questão, pois
um instrumental técnico-operativo “específico” do
                                                                       ela revela um dado que é crucial para o debate
Serviço Social (falamos aqui em especial da tradi-
                                                                       sobre a instrumentalidade: o Serviço Social surge
ção norte-americana, que teve forte influência so-
                                                                       na história como uma profissão fundamentalmente
bre o Serviço Social brasileiro, sobretudo entre os
                                                                       interventiva, isto é, que visa produzir mudanças no
anos 40 e 60), seja no sentido de afirmar o Serviço
                                                                       cotidiano da vida social das populações atendidas
Social como um conjunto de técnicas e instrumen-
                                                                       – os usuários do Serviço Social. Assim, a dimensão
tais – em outras palavras, uma tecnologia social1.
                                                                       prática (técnico-operativa) tende a ser objeto privi-
Em outros momentos, no sentido de atribuir à ins-
                                                                       legiado de estudos no âmbito da profissão.
trumentalidade do Serviço Social um estatuto de
subalternidade diante das demais dimensões que                                 Mais ainda: no momento de sua emergên-
compõem a dimensão histórica da profissão2.                             cia, o Serviço Social atua nas políticas sociais com
                                                                       funções meramente executivas, também chama-
      Esse debate é apenas introdutório para loca-
                                                                       das de funções terminais. A concepção e o pla-
lizarmos as razões que fazem da instrumentalidade
                                                                       nejamento das políticas sociais ficavam ao cargo
do Serviço Social uma questão tão importante à
                                                                       de outras categorias profissionais e dos agentes
profissão, digna de um real aprofundamento teó-
                                                                       governamentais – ao Serviço Social cabia apenas
rico. Não nos caberá neste artigo aprofundar, do
                                                                       executá-las, na relação direta com os “indivíduos,
ponto de vista teórico-filosófico, o debate sobre a
                                                                       grupos e comunidades” que de algum modo eram
                                                                       atendidos pelos serviços sociais públicos. Temos
                                                                       aqui a clássica separação entre trabalho intelec-
1 Essa visão pode ser identificada como uma componente da cor-          tual (quem pensa as políticas sociais) e trabalho
rente denominada por Netto (2004) de “modernização conservado-         manual (quem executa as políticas sociais)3. Nesta
ra”, hegemônica no cenário profissional brasileiro durante o período
da ditadura militar e do movimento de renovação do Serviço Social
no Brasil.
2 Novamente nos reportamos ao chamado Movimento de Recon-              3 Guerra (2004), ao pensar o Serviço Social como uma profissão
ceituação do Serviço Social, em que algumas correntes tentavam         inscrita na divisão social do trabalho, apropria-se do debate marxia-
atribuir ao Serviço Social o status de Ciência, questionando sua di-   no sobre a divisão entre trabalho manual e intelectual para pensar a
mensão interventiva.                                                   profissão.



120             Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional


analogia, ao Assistente Social caberia a tarefa do        atuaram nesse movimento4, a principal motivação
“trabalho manual”.                                        era dar ao Serviço Social um estatuto científico.
                                                          E mais propriamente, no âmbito da corrente que
       O Movimento de Reconceituação do Servi-
                                                          Netto (2004) denominou de “Intenção de Ruptu-
ço Social, com toda a diversidade que lhe foi pró-
                                                          ra” (que para ele significa o rompimento com as
prio, criticou duramente essa divisão, e propor-
                                                          visões conservadoras da profissão), foi levantada
cionou um aprofundamento teórico-metodológico
                                                          a necessidade de que a profissão se debruçasse
(principalmente a partir do diálogo com a tradição
                                                          sobre a produção de um conhecimento crítico da
marxista e, sobretudo, com a obra marxiana) que
                                                          realidade social, para que o próprio Serviço So-
possibilitou à profissão romper com esse caráter
                                                          cial pudesse construir os objetivos e (re)construir
meramente executivo e conquistar novas funções
                                                          objetos de sua intervenção, bem como responder
e atribuições no mercado de trabalho, sobretudo
                                                          às demandas sociais colocadas pelo mercado de
do ponto de vista do planejamento e administra-
                                                          trabalho e pela realidade. Assim, pôde o Serviço
ção das políticas sociais. Assim, essa dicotomia
                                                          Social aprofundar o diálogo crítico e construtivo
foi superada no âmbito profissional, e tal conquis-
                                                          com diversos ramos das chamadas Ciências Hu-
ta encontra-se expressa no Art. 4º, Inciso II da Lei
                                                          manas e Sociais (Economia, Sociologia, Ciência
de Regulamentação da Profissão (Lei nº 8662 de
                                                          Política, Antropologia, Psicologia).
07/06/1993):
                                                                A partir de então, entramos no período em
       Art.4º.São competências do Assistente Social:
                                                          que os autores contemporâneos da profissão cha-
       II. elaborar, coordenar, executar e avaliar pla-   mam de “maturidade acadêmica e profissional do
       nos, programas e projetos que sejam do âmbito
                                                          Serviço Social” (Netto, 1996), que procurou defi-
       de atuação do Serviço Social com participação
       da sociedade civil (CFESS: 2002; p. 17).
                                                          nir novos requisitos para o status de competência
                                                          profissional. Iamamoto (2004), após realizar uma
                                                          análise dos desafios colocados ao Serviço Social
       Ambas as dimensões previstas no inciso ci-
                                                          nos dias atuais, apontou 03 dimensões que devem
tado – elaboração, coordenação e execução – e
                                                          ser do domínio do Assistente Social:
que são uma realidade do mercado de trabalho
do Assistente Social na atualidade, requerem o                   • Competência ético-política – o Assistente
domínio de um instrumental técnico-operativo que          Social não é um profissional “neutro”. Sua prática
possibilite a viabilização da intervenção a que o         se realiza no marco das relações de poder e de
Assistente Social foi designado (ou se designou)          forças sociais da sociedade capitalista – relações
a realizar. Porém, ele não é o suficiente para ga-         essas que são contraditórias. Assim, é fundamen-
rantir o objetivo final da intervenção profissional,        tal que o profissional tenha um posicionamento
conforme veremos a seguir.                                político frente às questões que aparecem na rea-
                                                          lidade social, para que possa ter clareza de qual
1 As competências do Serviço Social na con-               é a direção social da sua prática. Isso implica em
temporaneidade: política, ética, investigação e           assumir valores ético-morais que sustentam a sua
intervenção                                               prática – valores esses que estão expressos no Có-
                                                          digo de Ética Profissional dos Assistentes Sociais
      Se no momento da origem do Serviço Social           (Resolução CFAS nº 273/93)5, e que assumem
como uma profissão inscrita na divisão do traba-           claramente uma postura profissional de articular
lho, era apenas a sua dimensão técnica que lhe
garantia os estatutos de eficácia e competência
profissional (isto é, era a forma e os resultados          4 Uma sintética análise desse movimento tão plural e complexo se
imediatos de sua ação que lhe garantiam legitimi-         encontra em Netto (2004).
dade e reconhecimento da sociedade), o Movimen-           5 O Código de Ética profissional vigente defende o reconhecimento
to de Reconceituação buscou superar essa visão            e a defesa de 11 princípios fundamentais. São eles: liberdade, di-
                                                          reitos humanos, cidadania, democracia, eqüidade e justiça social,
unilateral. No universo das diversas correntes que        combate ao preconceito, pluralismo, construção de uma nova ordem
                                                          social (sem dominação-exploração), articulação com movimentos de
                                                          trabalhadores, qualidade dos serviços prestados e combate a toda
                                                          espécie de discriminação.



Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>                       121
Charles Toniolo de SOUSA


sua intervenção aos interesses dos setores majo-                    dores do projeto profissional. Ora, para isso é
ritários da sociedade;                                              necessário um cuidadoso conhecimento das
                                                                    situações ou fenômenos sociais que são objeto
      • Competência teórico-metodológica – o pro-                   de trabalho do assistente social (IAMAMOTO:
fissional deve ser qualificado para conhecer a re-                    2004; p. 56).
alidade social, política, econômica e cultural com
a qual trabalha. Para isso, faz-se necessário um                Pensar sob esse ponto de vista significa
intenso rigor teórico e metodológico, que lhe per-        colocar o Serviço Social em um lugar de desta-
mita enxergar a dinâmica da sociedade para além           que, tanto no plano da produção do conhecimen-
dos fenômenos aparentes, buscando apreender               to científico (rompendo com o discurso do senso
sua essência, seu movimento e as possibilidades           comum) como no âmbito das instituições públicas
de construção de novas possibilidades profissio-           e privadas que, de algum modo, atuam sobre a
nais;                                                     “questão social”.
      • Competência técnico-operativa – o profis-                O Assistente Social ocupa um lugar privile-
sional deve conhecer, se apropriar, e sobretudo,          giado no mercado de trabalho: na medida em que
criar um conjunto de habilidades técnicas que             ele atua diretamente no cotidiano das classes e
permitam ao mesmo desenvolver as ações profis-             grupos sociais menos favorecidos, ele tem a real
sionais junto à população usuária e às instituições       possibilidade de produzir um conhecimento sobre
contratantes (Estado, empresas, Organizações              essa mesma realidade. E esse conhecimento é,
Não-governamentais, fundações, autarquias etc.),          sem dúvida, o seu principal instrumento de traba-
garantindo assim uma inserção qualificada no mer-          lho, pois lhe permite ter a real dimensão das diver-
cado de trabalho, que responda às demandas co-            sas possibilidades de intervenção profissional.
locadas tanto pelos empregadores, quanto pelos
objetivos estabelecidos pelos profissionais e pela                Assim, o processo de qualificação continua-
dinâmica da realidade social.                             da é fundamental para a sobrevivência no merca-
                                                          do de trabalho. Estudar, pesquisar, debater temas,
      Essas três dimensões de competências                reler livros e textos não podem ser atividades de-
nunca podem ser desenvolvidas separadamen-                senvolvidas apenas no período da graduação ou
te – caso contrário, cairemos nas armadilhas da           nos “muros” da universidade e suas salas de aula.
fragmentação e da despolitização, tão presentes           Se no cotidiano da prática profissional o Assistente
no passado histórico do Serviço Social (Carvalho          Social não se atualiza, não questiona as demandas
& Iamamoto, 2005).                                        institucionais, não acompanha o movimento e as
       Contudo, articular essas três dimensões co-        mudanças da realidade social, estará certamente
loca um desafio fundamental, e que vem sendo               fadado ao fracasso e a uma reprodução mecânica
um tema de grande debate entre profissionais e             de atividades, tornando-se um burocrata, e, sem
estudantes de Serviço Social: a necessidade da            dúvidas, não promovendo mudanças significati-
articulação entre teoria e prática. Investigação e        vas seja no cotidiano da população usuária ou na
intervenção, pesquisa e ação, ciência e técnica não       própria inserção do Serviço Social no mercado de
devem ser encaradas como dimensões separadas              trabalho.
– pois isso pode gerar uma inserção desqualificada
do Assistente Social no mercado de trabalho, bem
como ferir os princípios éticos fundamentais que          2 Teoria e prática, método e metodologias
norteiam a ação profissional:
       O que se reivindica, hoje, é que a pesquisa se
                                                                   Estudar a realidade social nunca foi tarefa
       afirme como uma dimensão integrante do exer-        fácil.
       cício profissional, visto ser uma condição para          Desde a Antigüidade, filósofos, cientistas e
       se formular respostas capazes de impulsionar       pensadores, de um modo geral, se debruçam so-
       a formulação de propostas profissionais que
                                                          bre as diferentes formas de organização social,
       tenham efetividade e permitam atribuir mate-
                                                          de modo a conhecê-las. Mas, para além disso, o
       rialidade aos princípios ético-políticos nortea-
                                                          conhecimento é uma poderosa arma para quem


122         Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional


o detém, pois é ele que fornece as bases para                         social (isto é, ele se explica em si mesmo), estare-
qualquer proposta de mudança ou transformação                         mos adotando uma determinada postura política
dessa mesma realidade. Se atuar no e sobre o                          e teórica, e utilizando uma determinada forma de
cotidiano das populações menos favorecidas é                          conhecer a realidade. Porém, essa forma tende a
um componente fundamental do Serviço Social, é                        empobrecer esse conhecimento, pois considera
com vistas a transformações nesse cotidiano que                       os indivíduos como seres atomizados, e não como
a prática profissional deve se dirigir.                                seres sociais.
       Contudo, o cotidiano cria armadilhas às quais                        Todavia, o que se propõe hoje no âmbito do
o Assistente Social deve estar atento. O profissio-                    Serviço Social é justamente a produção de um co-
nal trabalha com situações singulares, isto é, situ-                  nhecimento que rompa com a mera aparência e
ações que, a princípio, podem parecer exclusivas                      busque apreender o que está “por trás” dela, sua
daquele(s) sujeito(s) que está(ão) sendo o alvo da                    essência. Para isso, é fundamental que o profissio-
intervenção do Assistente Social. E nesse sentido,                    nal sempre mantenha uma postura crítica, questio-
ele (o Assistente Social) até pode produzir um co-                    nadora, não se contentando com o que aparece a
nhecimento prático dessa situação imediata que                        ele imediatamente.
aparece no dia a dia do seu trabalho. Mas nem
                                                                             De posse desse conhecimento, o profissional
tudo que aparece é o que realmente é.
                                                                      pode planejar a sua ação com muito mais proprie-
       Os seres humanos são seres essencialmen-                       dade, visando à mudança dessa mesma realidade.
te sociais, ou seja, vivem em uma determinada                         Assim, no momento da execução da ação profissio-
sociedade. E essa sociedade é uma totalidade.                         nal, o Assistente Social constrói suas metodologias
Nenhuma situação pode ser considerada apenas                          de ação, utilizando-se de instrumentos e técnicas
em sua singularidade, pois senão corre-se o sério                     de intervenção social.
risco de se perder de vista a dimensão social da
                                                                             A diferença entre método de investigação e
vida humana. Portanto, qualquer situação que che-
                                                                      metodologias de ação põe uma reflexão fundamen-
ga ao Serviço Social deve ser analisada a partir de
                                                                      tal para quem se propõe a construir uma prática
duas dimensões: a da singularidade e a da univer-
                                                                      profissional competente e qualificada: são os ob-
salidade. Para tal, é necessário que o Assistente
                                                                      jetivos profissionais que definem que instrumentos
Social tenha um conhecimento teórico profundo
                                                                      e técnicas serão utilizados – e não o contrário. E
sobre as relações sociais fundamentais de uma
                                                                      esses objetivos, planejados e construídos no plano
determinada sociedade (universalidade), e como
                                                                      político e intelectual, só podem ser expressos se o
elas se organizam naquele determinado momento
                                                                      Assistente Social conhece a realidade social sobre
histórico, para que possa superar essas “armadi-
                                                                      a qual sua ação vai se desenvolver7. Ou, como diz
lhas” que o senso comum do cotidiano prega – e
                                                                      Guerra (2002):
que muitas vezes mascaram as reais causas e
determinações dos fenômenos sociais. É na rela-                                Se é correto que o valor do trabalho do As-
ção entre a universalidade e a singularidade que                               sistente Social reside na sua utilidade social,
se torna possível apreender as particularidades de                             que é medida em termos de respostas con-
uma determinada situação.                                                      cretas que venham produzir uma alteração
                                                                               imediata na realidade empírica (...), o seu
       O que acabamos de afirmar nada mais é do                                 resultado final, o produto do seu trabalho
que chamamos de método de investigação – e mais                                passa a ser o fator determinante da for-
especificamente, de método dialético6. Existem vá-                              ma de realizá-lo (GUERRA: 2002; p. 157).
rias formas de se pesquisar a realidade. Se acredi-
tamos que os fenômenos sociais são fragmentados
e ocorrem sem nenhuma relação com a totalidade

                                                                      7 Guerra (2002) e Netto (1994) definem esse processo como a
6 Uma recomendável leitura sobre o método dialético na literatu-      relação entre causalidade (descobrir as causas de determinado fe-
ra do Serviço Social, incluindo a relação singularidade/universali-   nômeno), teleologia (capacidade racional e da consciência humana
dade/particularidade é encontrada em Pontes (2002), aproprian-        de antever/planejar o produto final da sua ação) e práxis (a capaci-
do-se do debate metodológico desenvolvido por Lucáks (1968).          dade do ser humano intervir na realidade a fim de transformá-la).



Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>                                    123
Charles Toniolo de SOUSA


     É apenas a partir dessa reflexão que se faz         do determinado instrumento. Sua prática se tor-
possível discutir a instrumentalidade do Serviço        na mecânica, repetitiva, burocrática. Mais do que
Social.                                                 meramente aplicar técnicas “prontas” – como se
                                                        fossem “receitas de bolo”, o diferencial de um
                                                        profissional é saber adaptar um determinado ins-
                                                        trumento às necessidades que precisa responder
3 A instrumentalidade do Serviço Social
                                                        no seu cotidiano. E como a realidade é dinâmica,
       Expressar os objetivos que se quer alcan-        faz-se necessário compreender quais mudanças
çar não significa que eles necessariamente serão         são essas para que o instrumental utilizado seja o
alcançados. Nunca podemos perder de vista que           mais eficaz possível, e, de fato, possa produzir as
qualquer ação humana está condicionada ao mo-           mudanças desejadas pelo Assistente Social – ou
mento histórico em que ela é desenvolvida. A rea-       chegar o mais próximo possível.
lidade social é complexa, heterogênea e os impac-              Ora, isso pressupõe que, mais do que copiar
tos de qualquer intervenção dependem de fatores         e seguir manuais de instruções, o que se coloca
que são externos a quem quer que seja – inclusive       para o Assistente Social hoje é sua capacidade
ao Serviço Social. Como analisa Iamamoto (1995),        criativa, o que inclui o potencial de utilizar instru-
reconhecer as possibilidades e limitações históri-      mentos consagrados da profissão, mas também de
cas, dadas pela própria realidade social, é funda-      criar outros tantos que possam produzir mudanças
mental para que o Serviço Social não adote, por         na realidade social, tanto em curto quanto em mé-
um lado, uma postura fatalista (ou seja, acreditar      dio e longo prazos.
que a realidade já está dada e não pode ser mu-
                                                               Isso é primordial para que possamos de-
dada), ou por outro lado, uma postura messiânica
                                                        sempenhar com competência as atribuições que
(achar que o Serviço Social é o “messias”, que é
                                                        foram definidas para o Assistente Social na Lei de
a profissão que vai transformar todas as relações
                                                        Regulamentação Profissional – e que foi citado na
sociais). É importante ter essa compreensão para
                                                        Introdução desse texto. Vejamos: se o Serviço So-
localizarmos o lugar ocupado pelos instrumentos
                                                        cial, em sua trajetória histórica, não tivesse criado
de trabalho utilizados pelo Assistente Social em
                                                        novos instrumentos e novas técnicas de interven-
sua prática.
                                                        ção, teria conseguido sair da condição de mero
      Se são os objetivos profissionais (construí-       executor das políticas sociais e hoje desempenhar
dos a partir de uma reflexão teórica, ética e política   funções de elaboração, planejamento e gerência
e um método de investigação) que definem os ins-         das mesmas? Certamente não.
trumentos e técnicas de intervenção (as metodolo-
                                                              Assim, pensar a instrumentalidade do Servi-
gias de ação), conclui-se que essas metodologias
                                                        ço Social é pensar para além da “especificidade”
não estão prontas e acabadas. Elas são necessá-
                                                        da profissão: é pensar que são infinitas as possi-
rias em qualquer processo racional de intervenção,
                                                        bilidades de intervenção profissional, e que isso
mas elas são construídas a partir das finalidades
                                                        requer, nas palavras de Iamamoto (2004), “tomar
estabelecidas no planejamento da ação realizado
                                                        um banho de realidade”. Guerra (2004) resume, em
pelo Assistente Social. Primeiro, ele define “para
                                                        poucas palavras, o sentido dessa reflexão:
quê fazer”, para depois se definir “como fazer”.
Mais uma vez, podemos aqui identificar a estreita               A clara definição do ‘Para quê’ da profissão,
relação entre as competências teórico-metodoló-                possível desde que iluminada por uma raciona-
gica, ético-política e técnico-operativa.                      lidade (como forma de ser e pensar) que seja
                                                               dialética e crítica, conectada à capacidade de
      Em outras palavras, os instrumentos e téc-               responder eficazmente às demandas sociais,
nicas de intervenção não podem ser mais impor-                 se constituirão na condição necessária, talvez
tantes que os objetivos da ação profissional. Se                não suficiente, à manutenção da profissão.
partirmos do pressuposto que cabe ao profissio-                 Aqui se coloca a necessidade de dominar um
nal apenas ter habilidade técnica de manusear                  repertório de técnicas, legada do desenvolvi-
um instrumento de trabalho, o Assistente Social                mento das ciências sociais, fruto das pesqui-
perderá a dimensão do porquê ele está utilizan-                sas e do avanço tecnológico e patrimônio das



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A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional

         profissões sociais (e não exclusividade de uma                      Considera-se que a linguagem é o instrumen-
         categoria profissional), mas também um con-                  to número um de todos os profissionais, pois ela
         junto de estratégias e táticas desenvolvidas,               possibilita a comunicação entre estes e aqueles
         criadas e recriadas no processo histórico, no               com quem interagem. Ou, como afirma Iamamoto,
         movimento da realidade (GUERRA: 2004; p.
                                                                     no nosso caso: “o Serviço Social, como uma das
         115-6).
                                                                     formas institucionalizadas de atuação nas relações
                                                                     entre os homens no cotidiano da vida social, tem
                                                                     como recurso básico de trabalho a linguagem” (IA-
                                                                     MAMOTO: 1995; p. 101). E é a partir das formas de
4 Instrumentalidade e linguagem(ns)                                  comunicação que se estabelecem no espaço das
                                                                     instituições onde trabalha o Assistente Social que
       É sabido que o estudo sobre linguagem é
                                                                     este profissional poderá construir e utilizar instru-
bastante amplo no âmbito das Ciências Sociais.
                                                                     mentos e técnicas de intervenção social.
Contudo, esse ainda é um tema pouco explorado
na literatura do Serviço Social – clássica ou con-                         Segundo Martinelli & Koumrouyan (1994),
temporânea8. A título de referência, usaremos aqui                   define-se por instrumental o conjunto articulado
os conceitos trabalhados por Magalhães (2003).                       de instrumentos e técnicas que permitem a ope-
Para ela, segundo os lingüistas,                                     racionalização da ação profissional. Nessa idéia,
                                                                     o instrumento é estratégia ou tática por meio da
         O homem se comunica através de signos, e
                                                                     qual se realiza a ação; a técnica é a habilidade no
         estes são organizados através de códigos e
                                                                     uso do instrumento.
         linguagens. Pelo processo socializador, ele de-
         senvolve e amplia suas aptidões de comunica-                       O uso do instrumental pressupõe interações
         ção, utilizando os modos e usos de fala que es-             de comunicação, isto é, do uso de linguagens por
         tão configurados no contexto sociocultural dos               parte do Assistente Social. Se a linguagem é um
         diferentes grupos sociais dos quais faz parte               meio através do qual um determinado grupo social
         (MAGALHÃES: 2003; p. 22).
                                                                     cria uma identidade social, não será diferente para
                                                                     uma profissão que tem a linguagem como o prin-
      Assim, os seres humanos dão significados às                     cipal recurso de trabalho. O que queremos dizer é
categorias que existem na realidade (ontológicas)                    que o Assistente Social diz quem ele é, seja para
através de códigos-palavras. Portanto, uma palavra                   a população atendida ou para quem com que esta-
só tem significado se compreendida no contexto                        belecer alguma relação, a partir das formas de co-
social e político no qual ela é utilizada.                           municação e de interação que ele estabelece com
      Indo mais além, a autora afirma que as lin-                     esses sujeitos. Assim, a definição do instrumental a
guagens construídas são produtos do processo de                      ser utilizado na intervenção profissional deve sem-
socialização dos seres humanos, o que remete a                       pre levar em consideração o agente receptor da
uma concepção social das diferentes linguagens                       mensagem, ou seja, o destinatário da mesma.
existentes em uma mesma sociedade: elas (as lin-                            Assim, para além da linguagem que é própria
guagens) indicam modos de ser e de viver de clas-                    da matéria de Serviço Social, isto é, aquela que é
ses e grupos sociais diferentes entre si. Em outras                  utilizada quando a “questão social” está sendo re-
palavras, a linguagem possibilita a construção da                    fletida e trabalhada, nunca nos esqueçamos que o
identidade de um determinado grupo social.                           Assistente Social é um profissional de nível supe-
                                                                     rior. Com tal grau de escolaridade, “é de esperar
                                                                     que sigam a norma culta da língua [portuguesa]
8 Algumas iniciativas estão sendo tomadas no sentido de levantar     e não adentrem seus escritos [e falas] para uma
esse debate. A título de exemplo, o Conselho Regional de Servi-      linguagem coloquial ou do senso comum” (MAGA-
ço Social (CRESS) do Rio de Janeiro realizou, no mês de julho de     LHÃES: 2003; p. 32). Nesse sentido, é primordial
2006, um evento com o título “Comunicação e Serviço Social”, o que
indica uma preocupação da categoria em aprofundar a discussão        que o Assistente social saiba falar e escrever cor-
sobre a temática. Entretanto, é de nosso conhecimento que o debate   retamente, bem como comunicar-se articulada-
sobre o tema é extremamente complexo, pois coloca no centro da
polêmica a própria condição do ser social. Sobre esse debate, ver
                                                                     mente. Isto é criar uma identidade social de um
Lessa (1996).                                                        profissional competente, que articula teoria e prá-


Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>                     125
Charles Toniolo de SOUSA


tica, e que detém uma forma coerente de pensar                                  Na definição clássica, a observação é o uso
e de expressar o pensamento.                                              dos sentidos humanos (visão, audição, tato, olfa-
                                                                          to e paladar) para o conhecimento da realidade.
      Definido isto, podemos identificar duas ca-
                                                                          Mas não um uso ingênuo dos sentidos, e sim, um
tegorias de linguagens comumente utilizadas pelo
                                                                          uso que tem como objetivo produzir um conheci-
Serviço Social: a linguagem oral ou direta e a lin-
                                                                          mento sobre a realidade – tem-se um objetivo a
guagem escrita ou indireta, e com elas, estabelecer
                                                                          alcançar.
as interações. Desse modo, podemos classificar
os instrumentos de trabalho como instrumentos                                  Porém, o Assistente Social, ao estabelecer
diretos (ou “face a face”) e instrumentos indiretos                       uma interação face a face, estabelece uma rela-
(ou “por escrito”).                                                       ção social com outro(s) ser(es) humano(s), que
                                                                          possui(em) expectativas quanto às intervenções
       Não é possível aqui esgotar todas as possibi-
                                                                          que serão realizadas pelo profissional. Assim,
lidades de utilização dos instrumentos de trabalho,
                                                                          além de observador, o profissional também é ob-
pois cada um deles possui características muito
                                                                          servado.
peculiares. O que será aqui desenvolvido é uma
breve apresentação dos principais instrumentos                                   E ainda: na medida em que o Assistente So-
utilizados pelo Serviço Social no cotidiano de sua                        cial realiza intervenções, ele participa diretamente
prática9 – e nunca perdendo de vista que se trata                         do processo de conhecimento acerca da realidade
de alguns instrumentos, uma vez que a definição                            que está sendo investigada. Por isso, não se trata
dos mesmos depende do objetivo estabelecido                               de uma observação fria, ou como querem alguns,
pelo profissional.                                                         “neutra”, em que o profissional pensa estar em
                                                                          uma posição de não-envolvimento com a situa-
4.1 Os instrumentos de trabalho diretos ou                                ção. Por isso, trata-se de uma observação partici-
“face a face”                                                             pante – o profissional, além de observar, interage
                                                                          com o outro, e participa ativamente do processo
        Sobre a interação face a face, esta                               de observação.
          (...) permite que a enunciação de um discurso
          se expresse não só pela palavra, mas também                     4.1.2 Entrevista individual e grupal
          pelo olhar, pela linguagem gestual, pela ento-
          nação, que vão contextualizar e, possivelmen-                         A entrevista nada mais é do que um diálogo,
          te, identificar subjetividades de uma forma mais                 um processo de comunicação direta entre o Assis-
          evidenciada. Sob esse enfoque, pode-se dizer                    tente Social e um usuário (entrevista individual), ou
          que o discurso direto expressa uma interação                    mais de um (entrevista grupal). Contudo, o que di-
          dinâmica (MAGALHÃES: 2003; p. 29).                              ferencia a entrevista de um diálogo comum é o fato
                                                                          de existir um entrevistador e um entrevistado, isto
       Assim, podemos identificar alguns instru-                           é, o Assistente Social ocupa um papel diferente –
mentos de trabalho “face a face” consagrados na                           e, sob determinado ponto de vista, desigual – do
história da profissão, e que abaixo apresentamos                           papel do usuário.
de forma bastante sucinta:
                                                                                O papel do profissional entrevistador é dado
                                                                          pela instituição que o contrata – no momento da
4.1.1 Observação participante                                             interação com o usuário, o Assistente Social fala
                                                                          em nome da instituição. Ambos os sujeitos (Assis-
      Observar é muito mais do que ver ou olhar.
                                                                          tente Social e usuário) possuem objetivos com a
Observar é estar atento, é direcionar o olhar, é sa-
                                                                          realização da entrevista – objetivos esses necessa-
ber para onde se olha (Cruz Neto, 2004).
                                                                          riamente diferentes. Mas o papel de entrevistador
                                                                          que cabe ao Assistente Social coloca-lhe a tarefa
9 Cabe ressaltar que não se trata de instrumentos de uso exclusivo        de conduzir o diálogo, de direcionar para os obje-
do Assistente Social – é o objetivo do trabalho, suas atribuições e       tivos que se pretendem alcançar.
competências que definem a forma como o Assistente Social deverá
utilizá-los, a saber, a intervenção sobre as diferentes expressões da
“questão social”, nas interações entre universalidade e singularidades.



126              Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional


       Nem sempre é possível conciliar os objetivos    profissionais – no caso, a dinâmica de grupo deve
do usuário e os do Assistente Social (e alcançar       estar em consonância com as finalidades estabe-
essa conciliação não é uma regra). Entretanto,         lecidas pelo profissional.
estabelece-se uma relação de poder entre esses
                                                              Sucintamente, a dinâmica de grupo é uma
dois sujeitos – relação essa em que o Assistente
                                                       técnica que utiliza jogos, brincadeiras, simulações
Social aparece em uma posição hierarquicamen-
                                                       de determinadas situações, com vistas a permitir
te superior. Mas se defendemos a democracia e
                                                       que os membros do grupo produzam uma reflexão
o respeito à diversidade como valores éticos fun-
                                                       acerca de uma temática definida. No caso do Ser-
damentais da nossa profissão, o momento da en-
                                                       viço Social, uma temática que tenha relação com o
trevista é um espaço que o usuário pode exprimir
                                                       objeto de sua intervenção – as diferentes expres-
suas idéias, vontades, necessidades, ou seja, que
                                                       sões da “questão social”. Para tanto, o Assistente
ele possa ser ouvido (em tempo: ser ouvido não é
                                                       Social age como um facilitador, um agente que
concordar com tudo o que usuário diz). Estabele-
                                                       provoca situações que levem à reflexão do grupo.
cer essa relação é fundamental, pois se o usuário
                                                       Isso requer tanto habilidades teóricas (a escolha do
não é respeitado nesse direito básico, não apenas
                                                       tema e como ele será trabalhado), como uma pos-
estaremos desrespeitando-o, como prejudicando
                                                       tura política democrática (que deixa o grupo produ-
o próprio processo de construção de um conheci-
                                                       zir), mas também uma necessidade de controle do
mento sólido sobre a realidade social que ele está
                                                       processo de dinâmica – caso contrário, a dinâmica
trazendo, comprometendo toda a intervenção.
                                                       vira uma “brincadeira” e não alcança os objetivos
      Importante ressaltar que, por ser um obser-      principais: provocar a reflexão do grupo.
vador participante, o Assistente Social também
emite suas opiniões, valores, a partir dos conhe-      4.1.4 Reunião
cimentos que já possui. Desse modo, entrevistar
é mais do que apenas “conversar”: requer um ri-              Assim como a dinâmica de grupo, as reuni-
goroso conhecimento teórico-metodológico (Silva,       ões são espaços coletivos. São encontros grupais,
1995), a fim de possibilitar um planejamento sério      que têm como objetivo estabelecer alguma espécie
da entrevista, bem como a busca por alcançar os        de reflexão sobre determinado tema. Mas, sobre-
objetivos estabelecidos para sua realização.           tudo, uma reunião tem como objetivo a tomada de
                                                       uma decisão sobre algum assunto.
4.1.3 Dinâmica de Grupo                                      As reuniões podem ocorrer com diferentes
                                                       sujeitos – podem ser realizadas junto à população
       Descendente da Psicologia Social, a dinâmi-
                                                       usuária, junto à equipe de profissionais que traba-
ca de grupo surgiu como um instrumento de pes-
                                                       lham na instituição. Enfim ela se realiza em todo
quisa do comportamento humano em pequenos
                                                       espaço em que se pretende que uma determinada
grupos (NESC/UFRJ, s/d). Em seguida, tornou-se
                                                       decisão não seja tomada individualmente, mas co-
um instrumento bastante utilizado na área social
                                                       letivamente. Essa postura já indica que, ao coleti-
– em especial na saúde mental – e hoje é muito
                                                       vizar a decisão, o coordenador de uma reunião se
utilizada em empresas. A dinâmica de grupo foi
                                                       coloca em uma posição democrática.
amplamente usada como uma forma de garantir
controles coletivos, manipular comportamentos,                Entretanto, colocar-se como um líder de-
valendo-se das relações grupais.                       mocrático não significa não ter firmeza quanto ao
                                                       cumprimento dos objetivos da reunião. O espaço
      Contudo, a dinâmica de grupo é um recurso
                                                       de tomada de decisões é um espaço essencial-
que pode ser utilizado pelo Assistente Social em
                                                       mente político, pois diferentes interesses estão
diferentes momentos de sua intervenção. Para le-
                                                       em confronto. Saber reconhecê-los e como se re-
vantar um debate sobre determinado tema com um
                                                       lacionar com eles requer uma competência teórica
número maior de usuários, bem como atender um
                                                       e política, de modo que a reunião possa alcançar o
maior número de pessoas que estejam vivencian-
                                                       objetivo de tomar uma decisão que envolva todos
do situações parecidas. E nunca é demais lembrar
                                                       os seus participantes.
que é o instrumento que se adapta aos objetivos


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Charles Toniolo de SOUSA


4.1.5 Mobilização de comunidades                        principal objetivo conhecer as condições e modos
                                                        de vida da população usuária em sua realidade co-
      Muitos Assistentes Sociais desenvolvem tra-       tidiana, ou seja, no local onde ela estabelece suas
balhos em comunidades de um modo geral. Con-            relações do dia a dia: em seu domicílio.
tudo, faz-se necessário clarificar o que se entende
por comunidade. Segundo a definição de Souza                   A visita domiciliar é um instrumento que, ao
(2004), comunidade é um                                 final, aproxima a instituição que está atendendo
                                                        ao usuário de sua realidade, via Assistente Social.
       Conjunto de grupos e subgrupos de uma mes-       Assim as instituições devem garantir as condições
       ma classe social, que têm interesses e preo-     para que a visita domiciliar seja realizada (trans-
       cupações comuns sobre condições de vivência      porte, por exemplo).
       no espaço de moradia e que, dadas as suas
       condições fundamentais de existência, tendem            Como os demais instrumentos, a visita do-
       a ampliar continuamente o âmbito de repercus-    miciliar não é exclusividade do Assistente Social:
       são dos seus interesses, preocupações e en-      ela só é realizada quando o objetivo da mesma é
       frentamentos comuns (SOUZA: 2004; p. 68).        analisar as condições sociais de vida e de existên-
                                                        cia de uma família ou de um usuário – pois é esse
      Assim, temos algumas características que          “olhar” que determina a inserção do Serviço Social
definem o que entendemos por comunidade: fa-             na divisão social do trabalho.
lamos de um território geograficamente definido,
                                                               Contudo, a visita domiciliar sempre foi um
mas ao mesmo tempo, entendendo que a divisão
                                                        dos principais instrumentos de controle das classes
geográfica do espaço territorial reflete as diferentes
                                                        populares que as instituições utilizavam. Uma vez
divisões da sociedade em classes sociais e seg-
                                                        que o usuário está sendo atendido na instituição,
mentos de classes sociais. Assim, trabalhar em
                                                        ele está acionando um espaço público: quando a
uma comunidade significa compreendê-la dentro
                                                        instituição se propõe a ir até a casa do usuário, ela
de um contexto econômico, social, político e cultu-
                                                        está adentrando no terreno do privado. A residên-
ral de uma sociedade dividida em classes sociais
                                                        cia é o espaço privado da família que lá vive. Ter
– e que ela não está descolada da totalidade da
                                                        essa dimensão é fundamental para que o Assis-
realidade social.
                                                        tente Social rompa com uma postura autoritária,
       Trabalhar em projetos comunitários na pers-      controladora e fiscalzadora10.
pectiva ético-política defendida pelo Serviço Social,
                                                              Porém, é de suma importância que o pro-
hoje, significa criar estratégias para mobilizar e
                                                        fissional que realiza a visita tenha competência
envolver os membros de uma população situada
                                                        teórica para saber identificar que as condições de
historicamente no tempo e no espaço nas decisões
                                                        moradia não estão descoladas das condições de
das ações que serão desenvolvidas, uma vez que
                                                        vida de uma comunidade onde a casa se localiza, e
são eles o público-alvo do trabalho do Assistente
                                                        que, por sua vez, não estão separadas do contexto
Social. Assim, trata-se de um processo de mobili-
                                                        social e histórico. Assim, o profissional consegue
zação comunitária.
                                                        romper uma mera “constatação” da singularidade,
       Para tal, é necessário que o Assistente Social   mas situá-la no campo da universalidade, ou seja,
conheça a comunidade, os atores sociais que lá          no contexto sócio-econômico vigente.
atuam: os agentes políticos, as instituições existen-
tes, as organizações (religiosas, comerciais, polí-
ticas) e como se constroem as relações de poder         4.1.7 Visita institucional
dentro da comunidade. Mas também é necessá-                  Assim como a visita domiciliar, aqui se fala de
rio conhecer quais são as principais demandas e         quando o Assistente Social realiza visita a institui-
necessidades da comunidade, de modo a propor
ações que visem ao atendimento das mesmas.
                                                        10 Uma interessante reflexão sobre o papel histórico que a visita
                                                        domiciliar cumpriu na história do Serviço Social, bem como o seu ca-
4.1.6 Visita domiciliar                                 ráter controlista e autoritário pode ser encontrado em Verdès-Leroux
                                                        (1986), bem como em Martinelli (2005).
      Trata-se de um instrumento que tem como


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A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional


ções de diversas naturezas – entidades públicas,                tor que, nessa forma de diálogo, fica à mercê
empresas, ONGs etc.                                             da unilateralidade de interpretação” (MAGA-
                                                                LHÃES: 2003; p. 29).
      Muitas podem ser as motivações para que
o Assistente Social realize uma visita institucional.          Enquanto a comunicação direta, como o pró-
Enumeramos três delas:                                   prio nome diz, permite uma intervenção direta junto
       1. Quando o Assistente Social está trabalhan-     ao interlocutor, a comunicação escrita possibilita
do em um determinada situação singular, e resolve        que outros agentes tenham acesso ao trabalho
visitar uma instituição com a qual o usuário mantém      que foi desenvolvido pelo Assistente Social. Sen-
alguma espécie de vínculo;                               do assim, os instrumentos de trabalho por escrito,
                                                         não raramente, implicam que outros profissionais
       2. Quando o Assistente Social quer conhecer
                                                         e/ou outras instituições desenvolverão ações in-
um determinado trabalho desenvolvido por uma
                                                         terventivas a partir da intervenção do Assistente
instituição;
                                                         Social. Por isso a necessidade do texto estar bem
      3. Quando o Assistente Social precisa reali-       escrito, claro e coerente, para que não haja dúvi-
zar uma avaliação da cobertura e da qualidade dos        das quanto à mensagem que o Assistente Social
serviços prestados por uma instituição.                  quer emitir.
      Em todos os casos, sobretudo nos 02 últi-                Contudo, a utilização dos instrumentos de
mos, o que se quer fazer é conhecer e avaliar a          trabalho por escrito também possui uma funda-
qualidade da política social – o que requer do pro-      mental importância: é aqui que se torna possível
fissional um intenso conhecimento teórico e técnico       ao Assistente Social sistematizar a prática. Todo
sobre políticas sociais.                                 processo de registro e avaliação de qualquer ação
       Pode-se perceber, a partir do elencado aci-       é um conhecimento prático que se produz, e que
ma, que os instrumentos de trabalho não são ato-         não se perde, garantindo visibilidade e importância
mizados ou estáticos: eles podem co-existir em           à atividade desenvolvida. E mais: sistematizar a
um mesmo momento. A observação participante              prática e arquivá-la, é dar uma história ao Serviço
está presente em todos os demais; em uma visita          Social, uma história ao(s) usuário(s) atendido(s),
domiciliar a entrevista pode ser utilizada; no traba-    uma história da inserção profissional do Assisten-
lho de mobilização comunitária, reuniões podem           te Social dentro da instituição – é essencial para
ocorrer, além de visitas institucionais, dentre ou-      qualquer proposta de construção de um conheci-
tras situações. Várias combinações entre eles po-        mento sobre a realidade social.
dem ser descritas, porque a realidade da prática                Assim, podemos identificar alguns instru-
profissional é muito mais dinâmica e rica do que          mentos de trabalho “por escrito” consagrados na
qualquer tentativa de classificação dos instrumen-        história da profissão, e que abaixo apresentamos
tos de trabalho.                                         de forma bastante sucinta.

4.2 Os instrumentos de trabalho indiretos ou             4.2.1 Atas de reunião
“por escrito”                                                  É o registro de todo o processo de uma
      Sobre os instrumentos de trabalho indiretos,       reunião, das discussões realizadas, das opiniões
eles necessariamente são utilizados após a utili-        emitidas, e, sobretudo, da decisão tomada – e da
zação do instrumental face a face, que é caracte-        forma como o grupo chegou a ela (por votação,
rizado por uma forma de comunicação mais ativa.          por consenso, ou outra forma).
É o registro do trabalho direto realizado. Assim, no           Geralmente o relator de uma ata de reunião
caso da interação por escrito, esta                      é designado para tal. Pode ser um membro do gru-
       “(...) tende a ser mais passiva. A comunicação    po ou um funcionário da instituição. Comumente,
       que se estabelece entre locutor e interlocutor,   as atas de reuniões são lidas ao final da mesma,
       embora possibilite reações e interpretações,      e, após sua aprovação, todos os participantes as-
       não conta com a presença física do seu au-        sinam – com garantia de que a discussão realiza-


Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>        129
Charles Toniolo de SOUSA


da assim como a decisão tomada é de ciência de        pelo profissional (relatório de atividades). Desse
todos.                                                modo, os diferentes relatórios sociais são os ins-
                                                      trumentos privilegiados para a sistematização da
4.2.2 Livros de Registro                              prática do Assistente Social.
                                                            Os tipos de relatórios produzidos pelo Assis-
      O Livro de Registro é um instrumento bas-       tente Social são tão iguais à quantidade de possibi-
tante utilizado, sobretudo em locais onde circula     lidades de realizar diferentes atividades no campo
um grande número de profissionais. Trata-se de         de trabalho. Assim, qualquer tentativa de classifica-
um livro onde são anotadas as atividades realiza-     ção dos relatórios é tão-somente uma breve apro-
das, telefonemas recebidos, questões pendentes,       ximação com essa gama de probabilidades.
atendimentos realizados, dentre outras questões,
de modo que toda a equipe tenha acesso ao que               Não é nosso objetivo aqui descrever deta-
está sendo desenvolvido.                              lhadamente como se produz um relatório. Isso de-
                                                      pende do objetivo do trabalho, do tipo de atividade
                                                      desenvolvida etc. Entretanto, retomando a discus-
4.2.3 Diário de Campo
                                                      são de Magalhães (2003), um dado é fundamental
      Como afirmamos anteriormente, o pro-            para qualquer elaboração textual: o destinatário
fissional está em constante transformação, em          do texto – o agente interlocutor. É importante sa-
constante aprendizagem e aperfeiçoamento.             ber para quem se escreve (e, portanto, escrever
Contudo, ele precisa se reconhecer no trabalho        bem). É um outro Assistente Social, um gestor, um
– identificar onde residem suas dificuldades, e lo-     profissional da área jurídica, um profissional da
calizar os limites e as possibilidades de trabalho.   área médica, um Psicólogo, um Administrador11.
                                                      Ou também o relatório pode ser produzido para o
       O diário de campo é um instrumento que au-     próprio Assistente Social – ou para a própria equipe
xilia bastante o profissional nesse processo. Trata-   de Serviço Social de onde o Assistente Social está
se de anotações livres do profissional, individuais,   desenvolvendo trabalho. Nesse sentido, cabe uma
em que o mesmo sistematiza suas atividades e          breve classificação entre relatórios internos (que
suas reflexões sobre o cotidiano do seu trabalho.      serão de uso e manuseio do Assistente Social ou
O diário de campo é importante porque o Assisten-     da equipe que ele compõe) e relatórios externos
te Social, na medida em que vai refletindo sobre       (que serão de uso e manuseio de agentes exte-
o processo, pode perceber onde houve avanços,         riores à equipe).
recuos, melhorias na qualidade dos serviços, aper-
feiçoamento nas intervenções realizadas – além de            Um outro dado também é fundamental nes-
ser um instrumento bastante interessante para a       sa discussão sobre o relato do trabalho. Não se
realização de futuras pesquisas. Ele é de extrema     trata de qualquer relatório, e sim, de um relatório
utilidade nos processos de análise institucional,     social. Isso repõe o debate sobre a inserção do
o que é fundamental para localizar qualquer pro-      Serviço Social na divisão do trabalho – um profis-
posta de inserção interventiva do Serviço Social.     sional que trabalha com as diferentes manifesta-
                                                      ções, na vida social, da “questão social”. Desse
                                                      modo, os dados relatados são de natureza social,
4.2.4 Relatório Social                                isto é, as informações que dizem respeito a essas
                                                      características.
      Esse instrumento é uma exposição do tra-
balho realizado e das informações adquiridas
durante a execução de determinada atividade.          4.2.5 Parecer Social
Semanticamente falando, é o relato dos dados
coletados e das intervenções realizadas pelo As-            Um parecer social é uma avaliação teórica e
sistente Social.                                      técnica realizada pelo Assistente Social dos dados

      O relatório social pode ser referente a qual-
                                                      11 E nesse sentido, é de fundamental importância localizar a dimen-
quer um dos instrumentos face a face, bem como
                                                      são ética, regulamentada pelo Código de Ética Profissional do As-
pode descrever todas as atividades desenvolvidas      sistente Social.



130         Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional


coletados. Mais do que uma simples organização                      análise prospectiva, isto é, apontar que desdobra-
de informações sob a forma de relatório, compete                    mentos determinada situação podem tomar. Com
ao Assistente Social avaliar essas informações,                     o rigor teórico necessário, conhecendo profun-
emitir uma opinião sobre elas. Uma opinião que                      damente a realidade social na qual determinada
deve estar fundamentada, com base em uma pers-                      situação está sendo avaliada, o Assistente Social
pectiva teórica de análise.                                         terá a capacidade de levantar hipóteses sobre
                                                                    possíveis conseqüências da situação. Assim, o
      Assim, o parecer social é crucial, pois é ele
                                                                    parecer social deve também conter sugestões de
que dá ao Assistente Social uma identidade pro-
                                                                    novas ações que precisam ser desenvolvidas junto
fissional – a inexistência de um parecer reduz o
                                                                    àquela situação – ações estas que serão desen-
relatório a uma simples descrição dos fatos, não
                                                                    volvidas ou pelo próprio Assistente Social, ou por
permitindo nenhuma análise profunda sobre os
                                                                    outros agentes profissionais (daí a necessidade de
mesmos. Ora, todo o processo de formação profis-
                                                                    se pensar a produção da escrita tendo como pa-
sional do Assistente Social, bem como o seu lugar
                                                                    râmetro o destinatário do texto, isto é, para quem
na divisão social do trabalho, demanda que esse
                                                                    se escreve).
profissional se posicione diante das situações veri-
ficadas na realidade social. Isso requer um posicio-
namento político claro do Assistente Social – que
possui, no Código de Ética Profissional, os pilares                  Considerações finais
básicos para tal posicionamento.
                                                                          Cada um desses instrumentos de trabalho,
       A emissão de um parecer social pressupõe
                                                                    ou dos espaços e funções que ocupam e desem-
a existência de um relatório social (interno ou ex-
                                                                    penham o Assistente Social nos espaços institu-
terno). Por razões óbvias: um profissional só pode
                                                                    cionais, poderiam ser objeto, individualmente, de
emitir uma opinião sobre um fato que foi dito, no
                                                                    um artigo próprio. Ou até mesmo de um livro, de
caso, escrito. Assim, o parecer é a conclusão de
                                                                    um Trabalho de Conclusão de Curso, de uma mo-
determinado trabalho – seja de um atendimento
                                                                    nografia, de uma dissertação de Mestrado ou de
individual, seja de um conjunto de instrumentos
                                                                    uma tese de Doutorado. Nosso objetivo, aqui, foi
utilizados durante determinado processo de inter-
                                                                    apresentar, de forma bem sucinta, os principais
venção12.
                                                                    instrumentos e técnicas de intervenção utilizados
      Apreender a realidade não é apenas des-                       pelo Serviço Social no cotidiano de sua prática.
crevê-la. É um produzir um conhecimento sobre
                                                                          Contudo, voltamos a afirmar: não é possível
a mesma. E é no momento do parecer social que
                                                                    pensar um instrumento de trabalho como se ele
esse conhecimento é elaborado a partir da reflexão
                                                                    pudesse ser mais importante do que os objetivos
racional do profissional – um conhecimento prático,
                                                                    do Assistente Social. O instrumental é o resultado
que visa compreender a singularidade da situação
                                                                    da capacidade criativa e da compreensão da rea-
estudada pelo Assistente Social, à luz da universa-
                                                                    lidade social, para que alguma intervenção possa
lidade dos fenômenos sociais (descobrindo então
                                                                    ser realizada com o mínimo de eficácia, responsa-
a particularidade dos fenômenos) e assim, criar
                                                                    bilidade e competência profissional.
alternativas visando sua transformação.
                                                                          Mas é importante ressaltar que, indepen-
     Mas para além de uma avaliação do pas-
                                                                    dente do instrumento que se utilize, a dimensão
sado, o parecer social também deve realizar uma
                                                                    ético-política deve ser constantemente refletida e
                                                                    pensada. A instrumentalidade da nossa profissão,
12 A literatura mais recente do Serviço Social tem se debruçado     conforme toda a reflexão de Guerra, é a da ma-
sobre essa questão, e algumas polêmicas já se colocam. Alguns       nutenção e reprodução da ordem burguesa, com
autores afirmam que o conjunto relatório/parecer social, constitui   vistas ao controle e reprodução dos segmentos
um laudo social – o que remete a uma outra polêmica: o Assistente
Social realiza estudo social ou perícia social? Não entraremos no   pertencentes à classe trabalhadora. Se o nosso
mérito dessa discussão aqui. Somente fazemos tais apontamentos,     modus operandi não estiver em plena sintonia com
deixando registrado que, independente das polêmicas, para todos     o projeto ético-político que, hoje, defende o Servi-
os autores, os momentos do relatório e do parecer social devem
existir em todo processo de sistematização da prática.              ço Social, podemos cair nas teias do conservado-


Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>                    131
Charles Toniolo de SOUSA


rismo e do tecnicismo, tão presentes na trajetória         lho em Lukács. In: Serviço Social & Sociedade. São
histórica da nossa profissão.                               Paulo: Cortez, n.52, 1996.

      Certamente existem centenas, milhares de             LUKÁCS, Georgy. Introdução a uma estética mar-
metodologias de ação sendo construídas e utili-            xista: sobre a categoria da particularidade. Rio de Ja-
                                                           neiro: Civilização Brasileira, 1968.
zadas por muitos Assistentes Sociais. – no Brasil
ou em qualquer outro país. Isto porque, conforme           MAGALHÃES, Selma Marques. Avaliação e lingua-
explicitado, os instrumentos não são estáticos,            gem: relatórios, laudos e pareceres. São Paulo: Veras;
estanques: eles respondem às necessidades dos              Lisboa: CPIHTS, 2003.
profissionais a partir de diferentes contextos e re-        MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço social: identidade
alidades sociais. Cabe a nós, Assistentes Sociais,         e alienação. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
e sobretudo, pesquisadores, ter a capacidade de            ______ & KOUMROUYAN, Elza. Um novo olhar para a
conhecer essa pluralidade de práticas – e isso só          questão dos instrumentais técnicos operativos em Ser-
será possível quando todos nós entendermos a               viço Social. In. Revista Serviço Social & Sociedade.
necessidade e a importância da sistematização              São Paulo: Cortez, n. 45, 1994.
de nossas práticas – porque é através disso que            NESC/UFRJ. O facilitador. Rio de Janeiro: NESC/
podemos sempre reconstruir a história da nossa             UFRJ/FIOCRUZ, s/d. (Manual)
profissão em nosso país e aperfeiçoar seus modos
de intervenção social.                                     NETTO, José Paulo. Razão, ontologia e práxis. In: Re-
                                                           vista Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cor-
                                                           tez, n. 44, 1994.
                                                           ______. Transformações societárias e Serviço Social.
Referências                                                In. Revista Serviço Social & Sociedade. São Paulo:
                                                           Cortez, n. 50, 1996.
CARVALHO, Raul de & IAMAMOTO, Marilda. Rela-
ções sociais e serviço social no Brasil: esboço de         ______. Ditadura e serviço social: uma análise do
uma interpretação histórico-metodológica. 17. ed. São      Serviço Social no Brasil pós-64. 7. ed. São Paulo, Cor-
Paulo: Cortez, 2005.                                       tez, 2004.
CFESS. Em questão: atribuições privativas do assis-        ______. Capitalismo monopolista e serviço social.
tente social. Brasília, Distrito Federal: CFESS, 2002.     4. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
CRUZ NETO, Otávio. O trabalho de campo como des-           PONTES, Reinaldo. Mediação e serviço social. 3.
coberta e criação. In MINAYO, Maria Cecília de Souza       ed. São Paulo, Cortez, 2002.
(org). Pesquisa Social: teoria, método e criativida-       SILVA, Jurema Alves Pereira da. O papel da entrevis-
de. 23. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes,     ta na prática do serviço social. In: Em Pauta. Rio de
2004.                                                      Janeiro: Faculdade de Serviço Social da UERJ, n. 6,
GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade do processo de          1995.
trabalho e serviço social. In Serviço Social & Socie-      SOUZA, Maria Luíza de. Desenvolvimento de co-
dade. São Paulo: Cortez, n. 62, 2000.                      munidade e participação. 8. ed. São Paulo: Editora
______. A instrumentalidade do serviço social. 3.          Cortez, 2004.
ed. São Paulo: Cortez, 2002.                               VERDÈS-LEROUX, Jeannine. Trabalhador social:
______. A propósito da instrumentalidade do Serviço        prática, habitus, ethos, formas de intervenção. São
Social. In. Debates Sociais. Rio de Janeiro: n. 63 e 64,   Paulo: Cortez, 1986.
CBCISS & ICSW, 2004.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. Renovação e conserva-
dorismo no serviço social: ensaios críticos. 3. ed.
São Paulo, Cortez, 1995.
______. O Serviço social na contemporaneidade:
trabalho e formação profissional. 7. ed. São Paulo:
Cortez, 2004.
LESSA, Sérgio. A centralidade ontológica do traba-



132          Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>

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  • 1. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional* The social worker practice: knowledge, instrumental- ity and professional intervention Charles Toniolo de SOUSA** Resumo: Este artigo tem por finalidade apresentar uma reflexão sobre a prática pro- fissional do Assistente Social, reconhecendo suas dimensões, com o objetivo de situar a instrumentalidade do Serviço Social bem como seu arsenal técnico-operativo. Em seguida, serão apresentados, de forma sucinta, alguns dos principais instrumentos de trabalho utilizados pelos Assistentes Sociais no exercício da prática profissional, bem como algumas considerações finais. Palavras-chave: Serviço Social, Instrumentalidade, Instrumentos de trabalho do As- sistente Social. Abstract: This article has in view to introduce a reflection about the Social Worker professional practice, recognizing dimensions, in order to situate the Social Work ins- trumentality and the technical-operation that the professionals use. After, will be intro- duced, succinctly, some principal tools used for the Social Workers in their professional practice, and also some final considerations. Keywords: Social Work, Instrumentality, Social Workers tools. Recebido em: 07/04/2008. Aceito em: 30/04/2008. ∗ Este texto é fruto das reflexões e estudos realizados a partir das diferentes experiências adquiridas durante a vida profissional, e, sobretudo, da experiência com a disciplina de Técnicas de Intervenção Social, ministrada para as turmas do curso de Serviço Social da Universidade do Grande Rio. A produção deste artigo teve como objetivo nortear a Semana do Curso de Serviço Social da UNIGRANRIO, realizada em setem- bro de 2006, a fim de orientar estudantes do 1º ao 8º períodos letivos, culminando em atividade de avaliação conceitual requerida à totalidade dos alunos do curso. ∗∗ Assistente Social do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Mestrando em Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Professor da Escola de Serviço Social da Universidade do Grande Rio. Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 2. Charles Toniolo de SOUSA Na trajetória histórica do Serviço Social, po- instrumentalidade. Porém, não é possível falar se- demos identificar várias correntes que discutem riamente sobre a questão se não situamos o debate a questão da sua instrumentalidade, que trazem em alguns de seus fundamentos científicos mais consigo um corpo conceitual específico que dá a elementares – caso contrário, caímos nas “teias” esse tema um determinado significado. Entende- do senso comum. mos por instrumentalidade a concepção desen- Ora, o debate sobre a instrumentalidade do volvida por Guerra (2000) que, a partir de uma Serviço Social percorre a história da profissão em leitura lukacsiana da obra de Marx, constrói o de- razão da própria natureza desta: o Serviço Social bate sobre a instrumentalidade do Serviço Social, se constitui como profissão no momento histórico compreendendo-a em três níveis: no que diz res- em que os setores dominantes da sociedade (Es- peito à sua funcionalidade ao projeto reformista tado e empresariado) começam a intervir, de for- da burguesia; no que se refere à sua peculiarida- ma contínua e sistemática, nas conseqüências da de operatória (aspecto instrumental-operativo); e “questão social”, através, sobretudo, das chama- como uma mediação que permite a passagem das das políticas sociais. Segundo Carvalho & Iama- análises universais às singularidades da interven- moto (2005), o Serviço Social é requisitado pelas ção profissional. complexas estruturas do Estado e das empresas, Desde o período em que o Serviço Social de modo a promover o controle e a reprodução ainda fundava sua base de legitimidade na esfera (material e ideológica) das classes subalternas, em religiosa, passando pela sua profissionalização e um momento histórico em que os conflitos entre os momentos históricos que a constituíram, a di- as classes sociais se intensificam, gerando diver- mensão técnica-instrumental sempre teve um lugar sos “problemas sociais” que tendem pôr a ordem de destaque, seja do ponto de vista do afirmar de- capitalista em xeque (Netto, 2005). liberadamente a necessidade de consolidação de Torna-se mister situar essa questão, pois um instrumental técnico-operativo “específico” do ela revela um dado que é crucial para o debate Serviço Social (falamos aqui em especial da tradi- sobre a instrumentalidade: o Serviço Social surge ção norte-americana, que teve forte influência so- na história como uma profissão fundamentalmente bre o Serviço Social brasileiro, sobretudo entre os interventiva, isto é, que visa produzir mudanças no anos 40 e 60), seja no sentido de afirmar o Serviço cotidiano da vida social das populações atendidas Social como um conjunto de técnicas e instrumen- – os usuários do Serviço Social. Assim, a dimensão tais – em outras palavras, uma tecnologia social1. prática (técnico-operativa) tende a ser objeto privi- Em outros momentos, no sentido de atribuir à ins- legiado de estudos no âmbito da profissão. trumentalidade do Serviço Social um estatuto de subalternidade diante das demais dimensões que Mais ainda: no momento de sua emergên- compõem a dimensão histórica da profissão2. cia, o Serviço Social atua nas políticas sociais com funções meramente executivas, também chama- Esse debate é apenas introdutório para loca- das de funções terminais. A concepção e o pla- lizarmos as razões que fazem da instrumentalidade nejamento das políticas sociais ficavam ao cargo do Serviço Social uma questão tão importante à de outras categorias profissionais e dos agentes profissão, digna de um real aprofundamento teó- governamentais – ao Serviço Social cabia apenas rico. Não nos caberá neste artigo aprofundar, do executá-las, na relação direta com os “indivíduos, ponto de vista teórico-filosófico, o debate sobre a grupos e comunidades” que de algum modo eram atendidos pelos serviços sociais públicos. Temos aqui a clássica separação entre trabalho intelec- 1 Essa visão pode ser identificada como uma componente da cor- tual (quem pensa as políticas sociais) e trabalho rente denominada por Netto (2004) de “modernização conservado- manual (quem executa as políticas sociais)3. Nesta ra”, hegemônica no cenário profissional brasileiro durante o período da ditadura militar e do movimento de renovação do Serviço Social no Brasil. 2 Novamente nos reportamos ao chamado Movimento de Recon- 3 Guerra (2004), ao pensar o Serviço Social como uma profissão ceituação do Serviço Social, em que algumas correntes tentavam inscrita na divisão social do trabalho, apropria-se do debate marxia- atribuir ao Serviço Social o status de Ciência, questionando sua di- no sobre a divisão entre trabalho manual e intelectual para pensar a mensão interventiva. profissão. 120 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 3. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional analogia, ao Assistente Social caberia a tarefa do atuaram nesse movimento4, a principal motivação “trabalho manual”. era dar ao Serviço Social um estatuto científico. E mais propriamente, no âmbito da corrente que O Movimento de Reconceituação do Servi- Netto (2004) denominou de “Intenção de Ruptu- ço Social, com toda a diversidade que lhe foi pró- ra” (que para ele significa o rompimento com as prio, criticou duramente essa divisão, e propor- visões conservadoras da profissão), foi levantada cionou um aprofundamento teórico-metodológico a necessidade de que a profissão se debruçasse (principalmente a partir do diálogo com a tradição sobre a produção de um conhecimento crítico da marxista e, sobretudo, com a obra marxiana) que realidade social, para que o próprio Serviço So- possibilitou à profissão romper com esse caráter cial pudesse construir os objetivos e (re)construir meramente executivo e conquistar novas funções objetos de sua intervenção, bem como responder e atribuições no mercado de trabalho, sobretudo às demandas sociais colocadas pelo mercado de do ponto de vista do planejamento e administra- trabalho e pela realidade. Assim, pôde o Serviço ção das políticas sociais. Assim, essa dicotomia Social aprofundar o diálogo crítico e construtivo foi superada no âmbito profissional, e tal conquis- com diversos ramos das chamadas Ciências Hu- ta encontra-se expressa no Art. 4º, Inciso II da Lei manas e Sociais (Economia, Sociologia, Ciência de Regulamentação da Profissão (Lei nº 8662 de Política, Antropologia, Psicologia). 07/06/1993): A partir de então, entramos no período em Art.4º.São competências do Assistente Social: que os autores contemporâneos da profissão cha- II. elaborar, coordenar, executar e avaliar pla- mam de “maturidade acadêmica e profissional do nos, programas e projetos que sejam do âmbito Serviço Social” (Netto, 1996), que procurou defi- de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil (CFESS: 2002; p. 17). nir novos requisitos para o status de competência profissional. Iamamoto (2004), após realizar uma análise dos desafios colocados ao Serviço Social Ambas as dimensões previstas no inciso ci- nos dias atuais, apontou 03 dimensões que devem tado – elaboração, coordenação e execução – e ser do domínio do Assistente Social: que são uma realidade do mercado de trabalho do Assistente Social na atualidade, requerem o • Competência ético-política – o Assistente domínio de um instrumental técnico-operativo que Social não é um profissional “neutro”. Sua prática possibilite a viabilização da intervenção a que o se realiza no marco das relações de poder e de Assistente Social foi designado (ou se designou) forças sociais da sociedade capitalista – relações a realizar. Porém, ele não é o suficiente para ga- essas que são contraditórias. Assim, é fundamen- rantir o objetivo final da intervenção profissional, tal que o profissional tenha um posicionamento conforme veremos a seguir. político frente às questões que aparecem na rea- lidade social, para que possa ter clareza de qual 1 As competências do Serviço Social na con- é a direção social da sua prática. Isso implica em temporaneidade: política, ética, investigação e assumir valores ético-morais que sustentam a sua intervenção prática – valores esses que estão expressos no Có- digo de Ética Profissional dos Assistentes Sociais Se no momento da origem do Serviço Social (Resolução CFAS nº 273/93)5, e que assumem como uma profissão inscrita na divisão do traba- claramente uma postura profissional de articular lho, era apenas a sua dimensão técnica que lhe garantia os estatutos de eficácia e competência profissional (isto é, era a forma e os resultados 4 Uma sintética análise desse movimento tão plural e complexo se imediatos de sua ação que lhe garantiam legitimi- encontra em Netto (2004). dade e reconhecimento da sociedade), o Movimen- 5 O Código de Ética profissional vigente defende o reconhecimento to de Reconceituação buscou superar essa visão e a defesa de 11 princípios fundamentais. São eles: liberdade, di- reitos humanos, cidadania, democracia, eqüidade e justiça social, unilateral. No universo das diversas correntes que combate ao preconceito, pluralismo, construção de uma nova ordem social (sem dominação-exploração), articulação com movimentos de trabalhadores, qualidade dos serviços prestados e combate a toda espécie de discriminação. Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 121
  • 4. Charles Toniolo de SOUSA sua intervenção aos interesses dos setores majo- dores do projeto profissional. Ora, para isso é ritários da sociedade; necessário um cuidadoso conhecimento das situações ou fenômenos sociais que são objeto • Competência teórico-metodológica – o pro- de trabalho do assistente social (IAMAMOTO: fissional deve ser qualificado para conhecer a re- 2004; p. 56). alidade social, política, econômica e cultural com a qual trabalha. Para isso, faz-se necessário um Pensar sob esse ponto de vista significa intenso rigor teórico e metodológico, que lhe per- colocar o Serviço Social em um lugar de desta- mita enxergar a dinâmica da sociedade para além que, tanto no plano da produção do conhecimen- dos fenômenos aparentes, buscando apreender to científico (rompendo com o discurso do senso sua essência, seu movimento e as possibilidades comum) como no âmbito das instituições públicas de construção de novas possibilidades profissio- e privadas que, de algum modo, atuam sobre a nais; “questão social”. • Competência técnico-operativa – o profis- O Assistente Social ocupa um lugar privile- sional deve conhecer, se apropriar, e sobretudo, giado no mercado de trabalho: na medida em que criar um conjunto de habilidades técnicas que ele atua diretamente no cotidiano das classes e permitam ao mesmo desenvolver as ações profis- grupos sociais menos favorecidos, ele tem a real sionais junto à população usuária e às instituições possibilidade de produzir um conhecimento sobre contratantes (Estado, empresas, Organizações essa mesma realidade. E esse conhecimento é, Não-governamentais, fundações, autarquias etc.), sem dúvida, o seu principal instrumento de traba- garantindo assim uma inserção qualificada no mer- lho, pois lhe permite ter a real dimensão das diver- cado de trabalho, que responda às demandas co- sas possibilidades de intervenção profissional. locadas tanto pelos empregadores, quanto pelos objetivos estabelecidos pelos profissionais e pela Assim, o processo de qualificação continua- dinâmica da realidade social. da é fundamental para a sobrevivência no merca- do de trabalho. Estudar, pesquisar, debater temas, Essas três dimensões de competências reler livros e textos não podem ser atividades de- nunca podem ser desenvolvidas separadamen- senvolvidas apenas no período da graduação ou te – caso contrário, cairemos nas armadilhas da nos “muros” da universidade e suas salas de aula. fragmentação e da despolitização, tão presentes Se no cotidiano da prática profissional o Assistente no passado histórico do Serviço Social (Carvalho Social não se atualiza, não questiona as demandas & Iamamoto, 2005). institucionais, não acompanha o movimento e as Contudo, articular essas três dimensões co- mudanças da realidade social, estará certamente loca um desafio fundamental, e que vem sendo fadado ao fracasso e a uma reprodução mecânica um tema de grande debate entre profissionais e de atividades, tornando-se um burocrata, e, sem estudantes de Serviço Social: a necessidade da dúvidas, não promovendo mudanças significati- articulação entre teoria e prática. Investigação e vas seja no cotidiano da população usuária ou na intervenção, pesquisa e ação, ciência e técnica não própria inserção do Serviço Social no mercado de devem ser encaradas como dimensões separadas trabalho. – pois isso pode gerar uma inserção desqualificada do Assistente Social no mercado de trabalho, bem como ferir os princípios éticos fundamentais que 2 Teoria e prática, método e metodologias norteiam a ação profissional: O que se reivindica, hoje, é que a pesquisa se Estudar a realidade social nunca foi tarefa afirme como uma dimensão integrante do exer- fácil. cício profissional, visto ser uma condição para Desde a Antigüidade, filósofos, cientistas e se formular respostas capazes de impulsionar pensadores, de um modo geral, se debruçam so- a formulação de propostas profissionais que bre as diferentes formas de organização social, tenham efetividade e permitam atribuir mate- de modo a conhecê-las. Mas, para além disso, o rialidade aos princípios ético-políticos nortea- conhecimento é uma poderosa arma para quem 122 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 5. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional o detém, pois é ele que fornece as bases para social (isto é, ele se explica em si mesmo), estare- qualquer proposta de mudança ou transformação mos adotando uma determinada postura política dessa mesma realidade. Se atuar no e sobre o e teórica, e utilizando uma determinada forma de cotidiano das populações menos favorecidas é conhecer a realidade. Porém, essa forma tende a um componente fundamental do Serviço Social, é empobrecer esse conhecimento, pois considera com vistas a transformações nesse cotidiano que os indivíduos como seres atomizados, e não como a prática profissional deve se dirigir. seres sociais. Contudo, o cotidiano cria armadilhas às quais Todavia, o que se propõe hoje no âmbito do o Assistente Social deve estar atento. O profissio- Serviço Social é justamente a produção de um co- nal trabalha com situações singulares, isto é, situ- nhecimento que rompa com a mera aparência e ações que, a princípio, podem parecer exclusivas busque apreender o que está “por trás” dela, sua daquele(s) sujeito(s) que está(ão) sendo o alvo da essência. Para isso, é fundamental que o profissio- intervenção do Assistente Social. E nesse sentido, nal sempre mantenha uma postura crítica, questio- ele (o Assistente Social) até pode produzir um co- nadora, não se contentando com o que aparece a nhecimento prático dessa situação imediata que ele imediatamente. aparece no dia a dia do seu trabalho. Mas nem De posse desse conhecimento, o profissional tudo que aparece é o que realmente é. pode planejar a sua ação com muito mais proprie- Os seres humanos são seres essencialmen- dade, visando à mudança dessa mesma realidade. te sociais, ou seja, vivem em uma determinada Assim, no momento da execução da ação profissio- sociedade. E essa sociedade é uma totalidade. nal, o Assistente Social constrói suas metodologias Nenhuma situação pode ser considerada apenas de ação, utilizando-se de instrumentos e técnicas em sua singularidade, pois senão corre-se o sério de intervenção social. risco de se perder de vista a dimensão social da A diferença entre método de investigação e vida humana. Portanto, qualquer situação que che- metodologias de ação põe uma reflexão fundamen- ga ao Serviço Social deve ser analisada a partir de tal para quem se propõe a construir uma prática duas dimensões: a da singularidade e a da univer- profissional competente e qualificada: são os ob- salidade. Para tal, é necessário que o Assistente jetivos profissionais que definem que instrumentos Social tenha um conhecimento teórico profundo e técnicas serão utilizados – e não o contrário. E sobre as relações sociais fundamentais de uma esses objetivos, planejados e construídos no plano determinada sociedade (universalidade), e como político e intelectual, só podem ser expressos se o elas se organizam naquele determinado momento Assistente Social conhece a realidade social sobre histórico, para que possa superar essas “armadi- a qual sua ação vai se desenvolver7. Ou, como diz lhas” que o senso comum do cotidiano prega – e Guerra (2002): que muitas vezes mascaram as reais causas e determinações dos fenômenos sociais. É na rela- Se é correto que o valor do trabalho do As- ção entre a universalidade e a singularidade que sistente Social reside na sua utilidade social, se torna possível apreender as particularidades de que é medida em termos de respostas con- uma determinada situação. cretas que venham produzir uma alteração imediata na realidade empírica (...), o seu O que acabamos de afirmar nada mais é do resultado final, o produto do seu trabalho que chamamos de método de investigação – e mais passa a ser o fator determinante da for- especificamente, de método dialético6. Existem vá- ma de realizá-lo (GUERRA: 2002; p. 157). rias formas de se pesquisar a realidade. Se acredi- tamos que os fenômenos sociais são fragmentados e ocorrem sem nenhuma relação com a totalidade 7 Guerra (2002) e Netto (1994) definem esse processo como a 6 Uma recomendável leitura sobre o método dialético na literatu- relação entre causalidade (descobrir as causas de determinado fe- ra do Serviço Social, incluindo a relação singularidade/universali- nômeno), teleologia (capacidade racional e da consciência humana dade/particularidade é encontrada em Pontes (2002), aproprian- de antever/planejar o produto final da sua ação) e práxis (a capaci- do-se do debate metodológico desenvolvido por Lucáks (1968). dade do ser humano intervir na realidade a fim de transformá-la). Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 123
  • 6. Charles Toniolo de SOUSA É apenas a partir dessa reflexão que se faz do determinado instrumento. Sua prática se tor- possível discutir a instrumentalidade do Serviço na mecânica, repetitiva, burocrática. Mais do que Social. meramente aplicar técnicas “prontas” – como se fossem “receitas de bolo”, o diferencial de um profissional é saber adaptar um determinado ins- trumento às necessidades que precisa responder 3 A instrumentalidade do Serviço Social no seu cotidiano. E como a realidade é dinâmica, Expressar os objetivos que se quer alcan- faz-se necessário compreender quais mudanças çar não significa que eles necessariamente serão são essas para que o instrumental utilizado seja o alcançados. Nunca podemos perder de vista que mais eficaz possível, e, de fato, possa produzir as qualquer ação humana está condicionada ao mo- mudanças desejadas pelo Assistente Social – ou mento histórico em que ela é desenvolvida. A rea- chegar o mais próximo possível. lidade social é complexa, heterogênea e os impac- Ora, isso pressupõe que, mais do que copiar tos de qualquer intervenção dependem de fatores e seguir manuais de instruções, o que se coloca que são externos a quem quer que seja – inclusive para o Assistente Social hoje é sua capacidade ao Serviço Social. Como analisa Iamamoto (1995), criativa, o que inclui o potencial de utilizar instru- reconhecer as possibilidades e limitações históri- mentos consagrados da profissão, mas também de cas, dadas pela própria realidade social, é funda- criar outros tantos que possam produzir mudanças mental para que o Serviço Social não adote, por na realidade social, tanto em curto quanto em mé- um lado, uma postura fatalista (ou seja, acreditar dio e longo prazos. que a realidade já está dada e não pode ser mu- Isso é primordial para que possamos de- dada), ou por outro lado, uma postura messiânica sempenhar com competência as atribuições que (achar que o Serviço Social é o “messias”, que é foram definidas para o Assistente Social na Lei de a profissão que vai transformar todas as relações Regulamentação Profissional – e que foi citado na sociais). É importante ter essa compreensão para Introdução desse texto. Vejamos: se o Serviço So- localizarmos o lugar ocupado pelos instrumentos cial, em sua trajetória histórica, não tivesse criado de trabalho utilizados pelo Assistente Social em novos instrumentos e novas técnicas de interven- sua prática. ção, teria conseguido sair da condição de mero Se são os objetivos profissionais (construí- executor das políticas sociais e hoje desempenhar dos a partir de uma reflexão teórica, ética e política funções de elaboração, planejamento e gerência e um método de investigação) que definem os ins- das mesmas? Certamente não. trumentos e técnicas de intervenção (as metodolo- Assim, pensar a instrumentalidade do Servi- gias de ação), conclui-se que essas metodologias ço Social é pensar para além da “especificidade” não estão prontas e acabadas. Elas são necessá- da profissão: é pensar que são infinitas as possi- rias em qualquer processo racional de intervenção, bilidades de intervenção profissional, e que isso mas elas são construídas a partir das finalidades requer, nas palavras de Iamamoto (2004), “tomar estabelecidas no planejamento da ação realizado um banho de realidade”. Guerra (2004) resume, em pelo Assistente Social. Primeiro, ele define “para poucas palavras, o sentido dessa reflexão: quê fazer”, para depois se definir “como fazer”. Mais uma vez, podemos aqui identificar a estreita A clara definição do ‘Para quê’ da profissão, relação entre as competências teórico-metodoló- possível desde que iluminada por uma raciona- gica, ético-política e técnico-operativa. lidade (como forma de ser e pensar) que seja dialética e crítica, conectada à capacidade de Em outras palavras, os instrumentos e téc- responder eficazmente às demandas sociais, nicas de intervenção não podem ser mais impor- se constituirão na condição necessária, talvez tantes que os objetivos da ação profissional. Se não suficiente, à manutenção da profissão. partirmos do pressuposto que cabe ao profissio- Aqui se coloca a necessidade de dominar um nal apenas ter habilidade técnica de manusear repertório de técnicas, legada do desenvolvi- um instrumento de trabalho, o Assistente Social mento das ciências sociais, fruto das pesqui- perderá a dimensão do porquê ele está utilizan- sas e do avanço tecnológico e patrimônio das 124 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 7. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional profissões sociais (e não exclusividade de uma Considera-se que a linguagem é o instrumen- categoria profissional), mas também um con- to número um de todos os profissionais, pois ela junto de estratégias e táticas desenvolvidas, possibilita a comunicação entre estes e aqueles criadas e recriadas no processo histórico, no com quem interagem. Ou, como afirma Iamamoto, movimento da realidade (GUERRA: 2004; p. no nosso caso: “o Serviço Social, como uma das 115-6). formas institucionalizadas de atuação nas relações entre os homens no cotidiano da vida social, tem como recurso básico de trabalho a linguagem” (IA- MAMOTO: 1995; p. 101). E é a partir das formas de 4 Instrumentalidade e linguagem(ns) comunicação que se estabelecem no espaço das instituições onde trabalha o Assistente Social que É sabido que o estudo sobre linguagem é este profissional poderá construir e utilizar instru- bastante amplo no âmbito das Ciências Sociais. mentos e técnicas de intervenção social. Contudo, esse ainda é um tema pouco explorado na literatura do Serviço Social – clássica ou con- Segundo Martinelli & Koumrouyan (1994), temporânea8. A título de referência, usaremos aqui define-se por instrumental o conjunto articulado os conceitos trabalhados por Magalhães (2003). de instrumentos e técnicas que permitem a ope- Para ela, segundo os lingüistas, racionalização da ação profissional. Nessa idéia, o instrumento é estratégia ou tática por meio da O homem se comunica através de signos, e qual se realiza a ação; a técnica é a habilidade no estes são organizados através de códigos e uso do instrumento. linguagens. Pelo processo socializador, ele de- senvolve e amplia suas aptidões de comunica- O uso do instrumental pressupõe interações ção, utilizando os modos e usos de fala que es- de comunicação, isto é, do uso de linguagens por tão configurados no contexto sociocultural dos parte do Assistente Social. Se a linguagem é um diferentes grupos sociais dos quais faz parte meio através do qual um determinado grupo social (MAGALHÃES: 2003; p. 22). cria uma identidade social, não será diferente para uma profissão que tem a linguagem como o prin- Assim, os seres humanos dão significados às cipal recurso de trabalho. O que queremos dizer é categorias que existem na realidade (ontológicas) que o Assistente Social diz quem ele é, seja para através de códigos-palavras. Portanto, uma palavra a população atendida ou para quem com que esta- só tem significado se compreendida no contexto belecer alguma relação, a partir das formas de co- social e político no qual ela é utilizada. municação e de interação que ele estabelece com Indo mais além, a autora afirma que as lin- esses sujeitos. Assim, a definição do instrumental a guagens construídas são produtos do processo de ser utilizado na intervenção profissional deve sem- socialização dos seres humanos, o que remete a pre levar em consideração o agente receptor da uma concepção social das diferentes linguagens mensagem, ou seja, o destinatário da mesma. existentes em uma mesma sociedade: elas (as lin- Assim, para além da linguagem que é própria guagens) indicam modos de ser e de viver de clas- da matéria de Serviço Social, isto é, aquela que é ses e grupos sociais diferentes entre si. Em outras utilizada quando a “questão social” está sendo re- palavras, a linguagem possibilita a construção da fletida e trabalhada, nunca nos esqueçamos que o identidade de um determinado grupo social. Assistente Social é um profissional de nível supe- rior. Com tal grau de escolaridade, “é de esperar que sigam a norma culta da língua [portuguesa] 8 Algumas iniciativas estão sendo tomadas no sentido de levantar e não adentrem seus escritos [e falas] para uma esse debate. A título de exemplo, o Conselho Regional de Servi- linguagem coloquial ou do senso comum” (MAGA- ço Social (CRESS) do Rio de Janeiro realizou, no mês de julho de LHÃES: 2003; p. 32). Nesse sentido, é primordial 2006, um evento com o título “Comunicação e Serviço Social”, o que indica uma preocupação da categoria em aprofundar a discussão que o Assistente social saiba falar e escrever cor- sobre a temática. Entretanto, é de nosso conhecimento que o debate retamente, bem como comunicar-se articulada- sobre o tema é extremamente complexo, pois coloca no centro da polêmica a própria condição do ser social. Sobre esse debate, ver mente. Isto é criar uma identidade social de um Lessa (1996). profissional competente, que articula teoria e prá- Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 125
  • 8. Charles Toniolo de SOUSA tica, e que detém uma forma coerente de pensar Na definição clássica, a observação é o uso e de expressar o pensamento. dos sentidos humanos (visão, audição, tato, olfa- to e paladar) para o conhecimento da realidade. Definido isto, podemos identificar duas ca- Mas não um uso ingênuo dos sentidos, e sim, um tegorias de linguagens comumente utilizadas pelo uso que tem como objetivo produzir um conheci- Serviço Social: a linguagem oral ou direta e a lin- mento sobre a realidade – tem-se um objetivo a guagem escrita ou indireta, e com elas, estabelecer alcançar. as interações. Desse modo, podemos classificar os instrumentos de trabalho como instrumentos Porém, o Assistente Social, ao estabelecer diretos (ou “face a face”) e instrumentos indiretos uma interação face a face, estabelece uma rela- (ou “por escrito”). ção social com outro(s) ser(es) humano(s), que possui(em) expectativas quanto às intervenções Não é possível aqui esgotar todas as possibi- que serão realizadas pelo profissional. Assim, lidades de utilização dos instrumentos de trabalho, além de observador, o profissional também é ob- pois cada um deles possui características muito servado. peculiares. O que será aqui desenvolvido é uma breve apresentação dos principais instrumentos E ainda: na medida em que o Assistente So- utilizados pelo Serviço Social no cotidiano de sua cial realiza intervenções, ele participa diretamente prática9 – e nunca perdendo de vista que se trata do processo de conhecimento acerca da realidade de alguns instrumentos, uma vez que a definição que está sendo investigada. Por isso, não se trata dos mesmos depende do objetivo estabelecido de uma observação fria, ou como querem alguns, pelo profissional. “neutra”, em que o profissional pensa estar em uma posição de não-envolvimento com a situa- 4.1 Os instrumentos de trabalho diretos ou ção. Por isso, trata-se de uma observação partici- “face a face” pante – o profissional, além de observar, interage com o outro, e participa ativamente do processo Sobre a interação face a face, esta de observação. (...) permite que a enunciação de um discurso se expresse não só pela palavra, mas também 4.1.2 Entrevista individual e grupal pelo olhar, pela linguagem gestual, pela ento- nação, que vão contextualizar e, possivelmen- A entrevista nada mais é do que um diálogo, te, identificar subjetividades de uma forma mais um processo de comunicação direta entre o Assis- evidenciada. Sob esse enfoque, pode-se dizer tente Social e um usuário (entrevista individual), ou que o discurso direto expressa uma interação mais de um (entrevista grupal). Contudo, o que di- dinâmica (MAGALHÃES: 2003; p. 29). ferencia a entrevista de um diálogo comum é o fato de existir um entrevistador e um entrevistado, isto Assim, podemos identificar alguns instru- é, o Assistente Social ocupa um papel diferente – mentos de trabalho “face a face” consagrados na e, sob determinado ponto de vista, desigual – do história da profissão, e que abaixo apresentamos papel do usuário. de forma bastante sucinta: O papel do profissional entrevistador é dado pela instituição que o contrata – no momento da 4.1.1 Observação participante interação com o usuário, o Assistente Social fala em nome da instituição. Ambos os sujeitos (Assis- Observar é muito mais do que ver ou olhar. tente Social e usuário) possuem objetivos com a Observar é estar atento, é direcionar o olhar, é sa- realização da entrevista – objetivos esses necessa- ber para onde se olha (Cruz Neto, 2004). riamente diferentes. Mas o papel de entrevistador que cabe ao Assistente Social coloca-lhe a tarefa 9 Cabe ressaltar que não se trata de instrumentos de uso exclusivo de conduzir o diálogo, de direcionar para os obje- do Assistente Social – é o objetivo do trabalho, suas atribuições e tivos que se pretendem alcançar. competências que definem a forma como o Assistente Social deverá utilizá-los, a saber, a intervenção sobre as diferentes expressões da “questão social”, nas interações entre universalidade e singularidades. 126 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 9. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional Nem sempre é possível conciliar os objetivos profissionais – no caso, a dinâmica de grupo deve do usuário e os do Assistente Social (e alcançar estar em consonância com as finalidades estabe- essa conciliação não é uma regra). Entretanto, lecidas pelo profissional. estabelece-se uma relação de poder entre esses Sucintamente, a dinâmica de grupo é uma dois sujeitos – relação essa em que o Assistente técnica que utiliza jogos, brincadeiras, simulações Social aparece em uma posição hierarquicamen- de determinadas situações, com vistas a permitir te superior. Mas se defendemos a democracia e que os membros do grupo produzam uma reflexão o respeito à diversidade como valores éticos fun- acerca de uma temática definida. No caso do Ser- damentais da nossa profissão, o momento da en- viço Social, uma temática que tenha relação com o trevista é um espaço que o usuário pode exprimir objeto de sua intervenção – as diferentes expres- suas idéias, vontades, necessidades, ou seja, que sões da “questão social”. Para tanto, o Assistente ele possa ser ouvido (em tempo: ser ouvido não é Social age como um facilitador, um agente que concordar com tudo o que usuário diz). Estabele- provoca situações que levem à reflexão do grupo. cer essa relação é fundamental, pois se o usuário Isso requer tanto habilidades teóricas (a escolha do não é respeitado nesse direito básico, não apenas tema e como ele será trabalhado), como uma pos- estaremos desrespeitando-o, como prejudicando tura política democrática (que deixa o grupo produ- o próprio processo de construção de um conheci- zir), mas também uma necessidade de controle do mento sólido sobre a realidade social que ele está processo de dinâmica – caso contrário, a dinâmica trazendo, comprometendo toda a intervenção. vira uma “brincadeira” e não alcança os objetivos Importante ressaltar que, por ser um obser- principais: provocar a reflexão do grupo. vador participante, o Assistente Social também emite suas opiniões, valores, a partir dos conhe- 4.1.4 Reunião cimentos que já possui. Desse modo, entrevistar é mais do que apenas “conversar”: requer um ri- Assim como a dinâmica de grupo, as reuni- goroso conhecimento teórico-metodológico (Silva, ões são espaços coletivos. São encontros grupais, 1995), a fim de possibilitar um planejamento sério que têm como objetivo estabelecer alguma espécie da entrevista, bem como a busca por alcançar os de reflexão sobre determinado tema. Mas, sobre- objetivos estabelecidos para sua realização. tudo, uma reunião tem como objetivo a tomada de uma decisão sobre algum assunto. 4.1.3 Dinâmica de Grupo As reuniões podem ocorrer com diferentes sujeitos – podem ser realizadas junto à população Descendente da Psicologia Social, a dinâmi- usuária, junto à equipe de profissionais que traba- ca de grupo surgiu como um instrumento de pes- lham na instituição. Enfim ela se realiza em todo quisa do comportamento humano em pequenos espaço em que se pretende que uma determinada grupos (NESC/UFRJ, s/d). Em seguida, tornou-se decisão não seja tomada individualmente, mas co- um instrumento bastante utilizado na área social letivamente. Essa postura já indica que, ao coleti- – em especial na saúde mental – e hoje é muito vizar a decisão, o coordenador de uma reunião se utilizada em empresas. A dinâmica de grupo foi coloca em uma posição democrática. amplamente usada como uma forma de garantir controles coletivos, manipular comportamentos, Entretanto, colocar-se como um líder de- valendo-se das relações grupais. mocrático não significa não ter firmeza quanto ao cumprimento dos objetivos da reunião. O espaço Contudo, a dinâmica de grupo é um recurso de tomada de decisões é um espaço essencial- que pode ser utilizado pelo Assistente Social em mente político, pois diferentes interesses estão diferentes momentos de sua intervenção. Para le- em confronto. Saber reconhecê-los e como se re- vantar um debate sobre determinado tema com um lacionar com eles requer uma competência teórica número maior de usuários, bem como atender um e política, de modo que a reunião possa alcançar o maior número de pessoas que estejam vivencian- objetivo de tomar uma decisão que envolva todos do situações parecidas. E nunca é demais lembrar os seus participantes. que é o instrumento que se adapta aos objetivos Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 127
  • 10. Charles Toniolo de SOUSA 4.1.5 Mobilização de comunidades principal objetivo conhecer as condições e modos de vida da população usuária em sua realidade co- Muitos Assistentes Sociais desenvolvem tra- tidiana, ou seja, no local onde ela estabelece suas balhos em comunidades de um modo geral. Con- relações do dia a dia: em seu domicílio. tudo, faz-se necessário clarificar o que se entende por comunidade. Segundo a definição de Souza A visita domiciliar é um instrumento que, ao (2004), comunidade é um final, aproxima a instituição que está atendendo ao usuário de sua realidade, via Assistente Social. Conjunto de grupos e subgrupos de uma mes- Assim as instituições devem garantir as condições ma classe social, que têm interesses e preo- para que a visita domiciliar seja realizada (trans- cupações comuns sobre condições de vivência porte, por exemplo). no espaço de moradia e que, dadas as suas condições fundamentais de existência, tendem Como os demais instrumentos, a visita do- a ampliar continuamente o âmbito de repercus- miciliar não é exclusividade do Assistente Social: são dos seus interesses, preocupações e en- ela só é realizada quando o objetivo da mesma é frentamentos comuns (SOUZA: 2004; p. 68). analisar as condições sociais de vida e de existên- cia de uma família ou de um usuário – pois é esse Assim, temos algumas características que “olhar” que determina a inserção do Serviço Social definem o que entendemos por comunidade: fa- na divisão social do trabalho. lamos de um território geograficamente definido, Contudo, a visita domiciliar sempre foi um mas ao mesmo tempo, entendendo que a divisão dos principais instrumentos de controle das classes geográfica do espaço territorial reflete as diferentes populares que as instituições utilizavam. Uma vez divisões da sociedade em classes sociais e seg- que o usuário está sendo atendido na instituição, mentos de classes sociais. Assim, trabalhar em ele está acionando um espaço público: quando a uma comunidade significa compreendê-la dentro instituição se propõe a ir até a casa do usuário, ela de um contexto econômico, social, político e cultu- está adentrando no terreno do privado. A residên- ral de uma sociedade dividida em classes sociais cia é o espaço privado da família que lá vive. Ter – e que ela não está descolada da totalidade da essa dimensão é fundamental para que o Assis- realidade social. tente Social rompa com uma postura autoritária, Trabalhar em projetos comunitários na pers- controladora e fiscalzadora10. pectiva ético-política defendida pelo Serviço Social, Porém, é de suma importância que o pro- hoje, significa criar estratégias para mobilizar e fissional que realiza a visita tenha competência envolver os membros de uma população situada teórica para saber identificar que as condições de historicamente no tempo e no espaço nas decisões moradia não estão descoladas das condições de das ações que serão desenvolvidas, uma vez que vida de uma comunidade onde a casa se localiza, e são eles o público-alvo do trabalho do Assistente que, por sua vez, não estão separadas do contexto Social. Assim, trata-se de um processo de mobili- social e histórico. Assim, o profissional consegue zação comunitária. romper uma mera “constatação” da singularidade, Para tal, é necessário que o Assistente Social mas situá-la no campo da universalidade, ou seja, conheça a comunidade, os atores sociais que lá no contexto sócio-econômico vigente. atuam: os agentes políticos, as instituições existen- tes, as organizações (religiosas, comerciais, polí- ticas) e como se constroem as relações de poder 4.1.7 Visita institucional dentro da comunidade. Mas também é necessá- Assim como a visita domiciliar, aqui se fala de rio conhecer quais são as principais demandas e quando o Assistente Social realiza visita a institui- necessidades da comunidade, de modo a propor ações que visem ao atendimento das mesmas. 10 Uma interessante reflexão sobre o papel histórico que a visita domiciliar cumpriu na história do Serviço Social, bem como o seu ca- 4.1.6 Visita domiciliar ráter controlista e autoritário pode ser encontrado em Verdès-Leroux (1986), bem como em Martinelli (2005). Trata-se de um instrumento que tem como 128 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 11. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional ções de diversas naturezas – entidades públicas, tor que, nessa forma de diálogo, fica à mercê empresas, ONGs etc. da unilateralidade de interpretação” (MAGA- LHÃES: 2003; p. 29). Muitas podem ser as motivações para que o Assistente Social realize uma visita institucional. Enquanto a comunicação direta, como o pró- Enumeramos três delas: prio nome diz, permite uma intervenção direta junto 1. Quando o Assistente Social está trabalhan- ao interlocutor, a comunicação escrita possibilita do em um determinada situação singular, e resolve que outros agentes tenham acesso ao trabalho visitar uma instituição com a qual o usuário mantém que foi desenvolvido pelo Assistente Social. Sen- alguma espécie de vínculo; do assim, os instrumentos de trabalho por escrito, não raramente, implicam que outros profissionais 2. Quando o Assistente Social quer conhecer e/ou outras instituições desenvolverão ações in- um determinado trabalho desenvolvido por uma terventivas a partir da intervenção do Assistente instituição; Social. Por isso a necessidade do texto estar bem 3. Quando o Assistente Social precisa reali- escrito, claro e coerente, para que não haja dúvi- zar uma avaliação da cobertura e da qualidade dos das quanto à mensagem que o Assistente Social serviços prestados por uma instituição. quer emitir. Em todos os casos, sobretudo nos 02 últi- Contudo, a utilização dos instrumentos de mos, o que se quer fazer é conhecer e avaliar a trabalho por escrito também possui uma funda- qualidade da política social – o que requer do pro- mental importância: é aqui que se torna possível fissional um intenso conhecimento teórico e técnico ao Assistente Social sistematizar a prática. Todo sobre políticas sociais. processo de registro e avaliação de qualquer ação Pode-se perceber, a partir do elencado aci- é um conhecimento prático que se produz, e que ma, que os instrumentos de trabalho não são ato- não se perde, garantindo visibilidade e importância mizados ou estáticos: eles podem co-existir em à atividade desenvolvida. E mais: sistematizar a um mesmo momento. A observação participante prática e arquivá-la, é dar uma história ao Serviço está presente em todos os demais; em uma visita Social, uma história ao(s) usuário(s) atendido(s), domiciliar a entrevista pode ser utilizada; no traba- uma história da inserção profissional do Assisten- lho de mobilização comunitária, reuniões podem te Social dentro da instituição – é essencial para ocorrer, além de visitas institucionais, dentre ou- qualquer proposta de construção de um conheci- tras situações. Várias combinações entre eles po- mento sobre a realidade social. dem ser descritas, porque a realidade da prática Assim, podemos identificar alguns instru- profissional é muito mais dinâmica e rica do que mentos de trabalho “por escrito” consagrados na qualquer tentativa de classificação dos instrumen- história da profissão, e que abaixo apresentamos tos de trabalho. de forma bastante sucinta. 4.2 Os instrumentos de trabalho indiretos ou 4.2.1 Atas de reunião “por escrito” É o registro de todo o processo de uma Sobre os instrumentos de trabalho indiretos, reunião, das discussões realizadas, das opiniões eles necessariamente são utilizados após a utili- emitidas, e, sobretudo, da decisão tomada – e da zação do instrumental face a face, que é caracte- forma como o grupo chegou a ela (por votação, rizado por uma forma de comunicação mais ativa. por consenso, ou outra forma). É o registro do trabalho direto realizado. Assim, no Geralmente o relator de uma ata de reunião caso da interação por escrito, esta é designado para tal. Pode ser um membro do gru- “(...) tende a ser mais passiva. A comunicação po ou um funcionário da instituição. Comumente, que se estabelece entre locutor e interlocutor, as atas de reuniões são lidas ao final da mesma, embora possibilite reações e interpretações, e, após sua aprovação, todos os participantes as- não conta com a presença física do seu au- sinam – com garantia de que a discussão realiza- Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 129
  • 12. Charles Toniolo de SOUSA da assim como a decisão tomada é de ciência de pelo profissional (relatório de atividades). Desse todos. modo, os diferentes relatórios sociais são os ins- trumentos privilegiados para a sistematização da 4.2.2 Livros de Registro prática do Assistente Social. Os tipos de relatórios produzidos pelo Assis- O Livro de Registro é um instrumento bas- tente Social são tão iguais à quantidade de possibi- tante utilizado, sobretudo em locais onde circula lidades de realizar diferentes atividades no campo um grande número de profissionais. Trata-se de de trabalho. Assim, qualquer tentativa de classifica- um livro onde são anotadas as atividades realiza- ção dos relatórios é tão-somente uma breve apro- das, telefonemas recebidos, questões pendentes, ximação com essa gama de probabilidades. atendimentos realizados, dentre outras questões, de modo que toda a equipe tenha acesso ao que Não é nosso objetivo aqui descrever deta- está sendo desenvolvido. lhadamente como se produz um relatório. Isso de- pende do objetivo do trabalho, do tipo de atividade desenvolvida etc. Entretanto, retomando a discus- 4.2.3 Diário de Campo são de Magalhães (2003), um dado é fundamental Como afirmamos anteriormente, o pro- para qualquer elaboração textual: o destinatário fissional está em constante transformação, em do texto – o agente interlocutor. É importante sa- constante aprendizagem e aperfeiçoamento. ber para quem se escreve (e, portanto, escrever Contudo, ele precisa se reconhecer no trabalho bem). É um outro Assistente Social, um gestor, um – identificar onde residem suas dificuldades, e lo- profissional da área jurídica, um profissional da calizar os limites e as possibilidades de trabalho. área médica, um Psicólogo, um Administrador11. Ou também o relatório pode ser produzido para o O diário de campo é um instrumento que au- próprio Assistente Social – ou para a própria equipe xilia bastante o profissional nesse processo. Trata- de Serviço Social de onde o Assistente Social está se de anotações livres do profissional, individuais, desenvolvendo trabalho. Nesse sentido, cabe uma em que o mesmo sistematiza suas atividades e breve classificação entre relatórios internos (que suas reflexões sobre o cotidiano do seu trabalho. serão de uso e manuseio do Assistente Social ou O diário de campo é importante porque o Assisten- da equipe que ele compõe) e relatórios externos te Social, na medida em que vai refletindo sobre (que serão de uso e manuseio de agentes exte- o processo, pode perceber onde houve avanços, riores à equipe). recuos, melhorias na qualidade dos serviços, aper- feiçoamento nas intervenções realizadas – além de Um outro dado também é fundamental nes- ser um instrumento bastante interessante para a sa discussão sobre o relato do trabalho. Não se realização de futuras pesquisas. Ele é de extrema trata de qualquer relatório, e sim, de um relatório utilidade nos processos de análise institucional, social. Isso repõe o debate sobre a inserção do o que é fundamental para localizar qualquer pro- Serviço Social na divisão do trabalho – um profis- posta de inserção interventiva do Serviço Social. sional que trabalha com as diferentes manifesta- ções, na vida social, da “questão social”. Desse modo, os dados relatados são de natureza social, 4.2.4 Relatório Social isto é, as informações que dizem respeito a essas características. Esse instrumento é uma exposição do tra- balho realizado e das informações adquiridas durante a execução de determinada atividade. 4.2.5 Parecer Social Semanticamente falando, é o relato dos dados coletados e das intervenções realizadas pelo As- Um parecer social é uma avaliação teórica e sistente Social. técnica realizada pelo Assistente Social dos dados O relatório social pode ser referente a qual- 11 E nesse sentido, é de fundamental importância localizar a dimen- quer um dos instrumentos face a face, bem como são ética, regulamentada pelo Código de Ética Profissional do As- pode descrever todas as atividades desenvolvidas sistente Social. 130 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 13. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional coletados. Mais do que uma simples organização análise prospectiva, isto é, apontar que desdobra- de informações sob a forma de relatório, compete mentos determinada situação podem tomar. Com ao Assistente Social avaliar essas informações, o rigor teórico necessário, conhecendo profun- emitir uma opinião sobre elas. Uma opinião que damente a realidade social na qual determinada deve estar fundamentada, com base em uma pers- situação está sendo avaliada, o Assistente Social pectiva teórica de análise. terá a capacidade de levantar hipóteses sobre possíveis conseqüências da situação. Assim, o Assim, o parecer social é crucial, pois é ele parecer social deve também conter sugestões de que dá ao Assistente Social uma identidade pro- novas ações que precisam ser desenvolvidas junto fissional – a inexistência de um parecer reduz o àquela situação – ações estas que serão desen- relatório a uma simples descrição dos fatos, não volvidas ou pelo próprio Assistente Social, ou por permitindo nenhuma análise profunda sobre os outros agentes profissionais (daí a necessidade de mesmos. Ora, todo o processo de formação profis- se pensar a produção da escrita tendo como pa- sional do Assistente Social, bem como o seu lugar râmetro o destinatário do texto, isto é, para quem na divisão social do trabalho, demanda que esse se escreve). profissional se posicione diante das situações veri- ficadas na realidade social. Isso requer um posicio- namento político claro do Assistente Social – que possui, no Código de Ética Profissional, os pilares Considerações finais básicos para tal posicionamento. Cada um desses instrumentos de trabalho, A emissão de um parecer social pressupõe ou dos espaços e funções que ocupam e desem- a existência de um relatório social (interno ou ex- penham o Assistente Social nos espaços institu- terno). Por razões óbvias: um profissional só pode cionais, poderiam ser objeto, individualmente, de emitir uma opinião sobre um fato que foi dito, no um artigo próprio. Ou até mesmo de um livro, de caso, escrito. Assim, o parecer é a conclusão de um Trabalho de Conclusão de Curso, de uma mo- determinado trabalho – seja de um atendimento nografia, de uma dissertação de Mestrado ou de individual, seja de um conjunto de instrumentos uma tese de Doutorado. Nosso objetivo, aqui, foi utilizados durante determinado processo de inter- apresentar, de forma bem sucinta, os principais venção12. instrumentos e técnicas de intervenção utilizados Apreender a realidade não é apenas des- pelo Serviço Social no cotidiano de sua prática. crevê-la. É um produzir um conhecimento sobre Contudo, voltamos a afirmar: não é possível a mesma. E é no momento do parecer social que pensar um instrumento de trabalho como se ele esse conhecimento é elaborado a partir da reflexão pudesse ser mais importante do que os objetivos racional do profissional – um conhecimento prático, do Assistente Social. O instrumental é o resultado que visa compreender a singularidade da situação da capacidade criativa e da compreensão da rea- estudada pelo Assistente Social, à luz da universa- lidade social, para que alguma intervenção possa lidade dos fenômenos sociais (descobrindo então ser realizada com o mínimo de eficácia, responsa- a particularidade dos fenômenos) e assim, criar bilidade e competência profissional. alternativas visando sua transformação. Mas é importante ressaltar que, indepen- Mas para além de uma avaliação do pas- dente do instrumento que se utilize, a dimensão sado, o parecer social também deve realizar uma ético-política deve ser constantemente refletida e pensada. A instrumentalidade da nossa profissão, 12 A literatura mais recente do Serviço Social tem se debruçado conforme toda a reflexão de Guerra, é a da ma- sobre essa questão, e algumas polêmicas já se colocam. Alguns nutenção e reprodução da ordem burguesa, com autores afirmam que o conjunto relatório/parecer social, constitui vistas ao controle e reprodução dos segmentos um laudo social – o que remete a uma outra polêmica: o Assistente Social realiza estudo social ou perícia social? Não entraremos no pertencentes à classe trabalhadora. Se o nosso mérito dessa discussão aqui. Somente fazemos tais apontamentos, modus operandi não estiver em plena sintonia com deixando registrado que, independente das polêmicas, para todos o projeto ético-político que, hoje, defende o Servi- os autores, os momentos do relatório e do parecer social devem existir em todo processo de sistematização da prática. ço Social, podemos cair nas teias do conservado- Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 131
  • 14. Charles Toniolo de SOUSA rismo e do tecnicismo, tão presentes na trajetória lho em Lukács. In: Serviço Social & Sociedade. São histórica da nossa profissão. Paulo: Cortez, n.52, 1996. Certamente existem centenas, milhares de LUKÁCS, Georgy. Introdução a uma estética mar- metodologias de ação sendo construídas e utili- xista: sobre a categoria da particularidade. Rio de Ja- neiro: Civilização Brasileira, 1968. zadas por muitos Assistentes Sociais. – no Brasil ou em qualquer outro país. Isto porque, conforme MAGALHÃES, Selma Marques. Avaliação e lingua- explicitado, os instrumentos não são estáticos, gem: relatórios, laudos e pareceres. São Paulo: Veras; estanques: eles respondem às necessidades dos Lisboa: CPIHTS, 2003. profissionais a partir de diferentes contextos e re- MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço social: identidade alidades sociais. Cabe a nós, Assistentes Sociais, e alienação. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2005. e sobretudo, pesquisadores, ter a capacidade de ______ & KOUMROUYAN, Elza. Um novo olhar para a conhecer essa pluralidade de práticas – e isso só questão dos instrumentais técnicos operativos em Ser- será possível quando todos nós entendermos a viço Social. In. Revista Serviço Social & Sociedade. necessidade e a importância da sistematização São Paulo: Cortez, n. 45, 1994. de nossas práticas – porque é através disso que NESC/UFRJ. O facilitador. Rio de Janeiro: NESC/ podemos sempre reconstruir a história da nossa UFRJ/FIOCRUZ, s/d. (Manual) profissão em nosso país e aperfeiçoar seus modos de intervenção social. NETTO, José Paulo. Razão, ontologia e práxis. In: Re- vista Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cor- tez, n. 44, 1994. ______. Transformações societárias e Serviço Social. Referências In. Revista Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 50, 1996. CARVALHO, Raul de & IAMAMOTO, Marilda. Rela- ções sociais e serviço social no Brasil: esboço de ______. Ditadura e serviço social: uma análise do uma interpretação histórico-metodológica. 17. ed. São Serviço Social no Brasil pós-64. 7. ed. São Paulo, Cor- Paulo: Cortez, 2005. tez, 2004. CFESS. Em questão: atribuições privativas do assis- ______. Capitalismo monopolista e serviço social. tente social. Brasília, Distrito Federal: CFESS, 2002. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005. CRUZ NETO, Otávio. O trabalho de campo como des- PONTES, Reinaldo. Mediação e serviço social. 3. coberta e criação. In MINAYO, Maria Cecília de Souza ed. São Paulo, Cortez, 2002. (org). Pesquisa Social: teoria, método e criativida- SILVA, Jurema Alves Pereira da. O papel da entrevis- de. 23. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, ta na prática do serviço social. In: Em Pauta. Rio de 2004. Janeiro: Faculdade de Serviço Social da UERJ, n. 6, GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade do processo de 1995. trabalho e serviço social. In Serviço Social & Socie- SOUZA, Maria Luíza de. Desenvolvimento de co- dade. São Paulo: Cortez, n. 62, 2000. munidade e participação. 8. ed. São Paulo: Editora ______. A instrumentalidade do serviço social. 3. Cortez, 2004. ed. São Paulo: Cortez, 2002. VERDÈS-LEROUX, Jeannine. Trabalhador social: ______. A propósito da instrumentalidade do Serviço prática, habitus, ethos, formas de intervenção. São Social. In. Debates Sociais. Rio de Janeiro: n. 63 e 64, Paulo: Cortez, 1986. CBCISS & ICSW, 2004. IAMAMOTO, Marilda Vilela. Renovação e conserva- dorismo no serviço social: ensaios críticos. 3. ed. São Paulo, Cortez, 1995. ______. O Serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2004. LESSA, Sérgio. A centralidade ontológica do traba- 132 Emancipação, Ponta Grossa, 8(1): 119-132, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>