O documento fornece diretrizes para jornalistas que cobrem política, enfatizando a importância de cultivar múltiplas fontes, mesmo que políticos nem sempre sejam confiáveis. Recomenda-se checar versões de fatos, desconfiar de declarações que fazem muito sentido e buscar equilíbrio para manter independência. Análises devem ser baseadas em muitas informações para se aproximar da verdade.
2. Fontes
Em Brasília, há várias fontes com
interesses conflitantes e que brigam
entre si.
Estão interessadas em falar ou
podem se interessar em falar se
souberem que outros já deram suas
versões sobre os fatos.
Conversar todos os dias com muita
gente, de todos os tipos, das mais
variadas origens e com os mais
diversos interesses.
3. Fontes
Políticos mentem muito, às vezes até quando
pensam falar a verdade, e poucos são confiáveis.
Mas têm acesso a muita informação e são fontes
imprescindíveis.
É necessário conversar com muita gente, checar
as versões iniciais e desconfiar de tudo que faz
sentido demais.
4. Fontes
Todos os políticos têm interesses e objetivos, lealdades e
inimizades, ambições e ressentimentos.
Para reconstituir o que aconteceu nos bastidores o
jornalista é obrigado a se basear em relatos de segunda ou
terceira mão.
É necessário reunir grande massa de informações que lhe
permita aproximar-se dos fatos.
Fazer a triagem do material bruto, identificando os pontos
consistentes, as “invenções” e as questões ainda obscuras
e confusas.
5. Fontes
O coração da cobertura política é o Congresso
(Assembleias Legislativas ou Câmaras Municipais).
Maiores chances de vazamentos e de conflitos de
interesses do que no Executivo.
Deputados e senadores sabem mais o que se passa
nos palácios do que os ministros e assessores do
presidente.
7. Fontes
Buscar equilíbrio na relação com as fontes:
“Nem tão distante que se perca a informação, nem
tão perto que se perca a independência”.
Lealdade com a notícia.
O mais comum é o sujeito dar a informação
porque acredita que a divulgação irá beneficiá-lo.
Ou prejudicar um desafeto.
8. Fontes
Na cobertura política o off é essencial.
O off é para fato realmente importante.
O off tem que ser expressamente pedido.
O off é para ser verificado.
O off só se aplica à informação.
Não existe anonimato para quem quer lançar
acusações contra a honra de terceiros (crimes).
10. Fato e análise
O jornalista político deve possuir um nível de informação
que permita entender o alcance e a limitação dos fatos.
Análise e desdobramentos das notícias.
Cobertura política se faz com uma adequada combinação
de informação factual e background information.
Capacidade de captar os momentos de mudanças –
concorrência.
11. Verdade x Boato
Na luta política, os atores sempre tentam apresentar os
fatos pelo ângulo que lhes é mais favorável.
Versão do fato
Contrainformação
O antídoto é reunir muita informação.
“O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente
esconde” – Ministro da Fazenda Rubens Ricupero (1993).
12. Jornalista político
Leia jornais! No mínimo o que escreve e o concorrente
direto. Organizam as notícias.
Forme a sua própria opinião! Significa formar o próprio
juízo sobre os fatos, entender a sua importância para a
sociedade, perceber os interesses em jogo.
Contextualize a notícia! Cuidado com as declarações fora
do contexto.
14. Jornalista político
Conheça as regras do jogo! Ter uma noção
básica da Constituição, dos Regimentos das
casas legislativas, do sistema político, de teoria
política.
Estude a história política do Brasil!
Use com cuidado a Internet: base de dados e
boatos.
15. Jornalista político
Cuidado com o
conotativo!
Perceber as
nuances das
palavras: afirmar,
admitir,
esclarecer, etc.
17. Coluna do Castelo
Continua o governo a depender do congresso
“Todo o programa de curto prazo do governo de Itamar Franco voltado
para a reativação da economia está vinculado à aprovação do ajuste
fiscal. Por aí as coisas voltam ao ponto de partida. As coisas estavam
exatamente assim quando cessou o governo Collor. Todo o remate da
política anti-inflacionária, que não tem fim em si mesma, pois é conduzida
com o objetivo de reanimar a atividade econômica, pendia da disposição
dos congressistas de concordar com uma reforma tributária, mesmo de
emergência. Tudo tinha parado por aí precisamente pelas dificuldades de
formular um projeto que obtivesse consenso parlamentar (...)”
02/01/1993