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         Elisabete Tavares 3ºASC 2010/2011




Memorial do Convento de José
Saramago
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Memorial do                      l
Convento                         i
Conteúdos essenciais:            s
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                                 b
-Categorias do texto narrativo   e
-Estrutura                       t
-Dimensão simbólica/histórica    e
-Visão crítica
-Linguagem e estilo              T
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A GÉNESE DO ROMANCE

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Planos narrativos                                                        l
                                                                         i
                                                                         s
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Construção do Convento de Mafra -             tema fulcral do Romance
                                                                         b
                                                                         e
São três os momentos fundamentais quando falamos neste Convento: a
                                                                         t
escolha do local, o lançamento da primeira pedra (Inauguração da
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primeira pedra do convento, com procissão e bênção, a 17 de
Novembro de 1717); e a sagração da Basílica (22 de Outubro de 1730).
                                                                         T
O romance inicia-se com a promessa do rei português em mandar edificar
                                                                         a
um convento em Mafra se no prazo de um ano a rainha concebesse um
                                                                         v
filho. Após o nascimento de uma filha em 1712, D. João V faz cumprir a
                                                                         a
sua promessa.
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Planos Narrativos                                                  l
                                                                   i
Construção da passarola (narrativa encaixada)                      s
O sonho do padre Bartolomeu Lourenço é concretizado quando         a
                                                                   b
a passarola, no fim de construída, voa. Esta narrativa surge-nos
                                                                   e
intercalada com a narrativa principal.                             t
A máquina voadora é construída na quinta de S. Sebastião da        e
Pedreira.
Os seus criadores, para além do Voador são Baltasar e              T
Blimunda. Sete-Sóis é a força ao passo que Sete-Luas é a           a
magia. Só todos estes componentes fizeram elevar a passarola.      v
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O amor verdadeiro de Baltasar e Blimunda
(narrativa encaixada)                                                      E
• O encontro entre Baltasar e Blimunda dá-se no auto-de-fé onde a          l
  mãe da segunda é condenada ao degredo em Angola .Nessa noite, após       i
  receberem a bênção do padre Bartolomeu, o casal une-se espiritual e      s
  corporalmente. A intensidade e perfeição deste amor são admiráveis.      a
  Esta é uma relação de cumplicidade e entendimento totais.                b
  Depois de Baltasar desaparecer com a passarola, Blimunda, incessante e   e
  incansável procura o seu complemento durante nove anos.                  t
  Acaba por encontrá-lo na fogueira de um auto-de-fé.                      e

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No Memorial      do Convento o narrador:
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sentencia: segue ou inventa provérbios;                              l
                                                                      i
mistura a história e a ficção, o real e o fantástico;                s
                                                                      a
dialoga com o narratário e manipula as personagens;                  b
                                                                      e
apaga-se face às personagens, dando voz aos seus pensamentos;        t
                                                                      e
domina a narrativa, mas também se auto limita face ao conhecimento
da história;                                                          T
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profetiza, antevendo factos futuros;                                 v
                                                                      a
critica, problematizando a história                                  r
                                                                      e
descreve paisagens, situações, factos acontecidos e a acontecer.     s
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                                                                                s
• “É uma pedra só, por via destes e outros tolos    Narrador (ver               a
  orgulhos é que se vai disseminando o ludíbrio     página 257/258 do Manual)
                                                                                b
  geral, com as suas formas nacionais e                                         e
  particulares, como esta de afirmar nos                                        t
  compêndios e histórias, Deve-se a                                             e
  construção do convento de Mafra ao rei
  D. João V, por um voto que fez se lhe            Podemos falar de             T
  nascesse um filho, vão aqui seiscentos           um narrador com              a
  homens que não fizeram nenhum filho à                                         v
                                                   uma polifonia ou
                                                                                a
  rainha e eles é que pagam , que se lixam,        pluralidade de vozes         r
  com perdão da anacrónica voz.” pag 351           que reinventa                e
                                                   mundos e os                  s
                                                   multiplica.
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TEMPO       O tempo do discurso
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                                                   i
                As analepses (recuos no tempo)     s
                                                   a
• As analepses                                     b
  explicam, geralmente, acontecimentos             e
  anteriores, contribuindo para a coesão           t
  da narrativa.                                    e

                                                   T
• É de assinalar, anteriormente ao ano do início   a
  da acção (1711 ), a analepse que explica, em     v
  parte, a construção do convento como             a
                                                   r
  consequência do desejo expresso, em              e
  1624, pelos franciscanos, de possuírem um        s
  convento em Mafra.
TEMPO            O tempo do discurso                                   E
                                As prolepses (acções futuras)          l
A antecipação de alguns acontecimentos serve os seguintes              i
   objectivos:                                                         s
• . a crítica social - é o • . a visão globalizante de tempos          a
  caso das prolepses que     distintos por parte do narrador (o        b
  dão a conhecer as          tempo da história e, num tempo futuro,    e
  mortes do sobrinho de      o do momento da escrita) - cabem aqui
  Baltasar e do infante D.   as referências aos cravos (outrora,       t
  Pedro, de modo a           nas pontas das varas dos capelães;        e
  estabelecer o              muito mais tarde, símbolos da revolução
  contraste entre os
  dois funerais, ou a        do 25 de Abril), a associação entre os    T
  morte de Álvaro            possíveis voos da passarola e o           a
  Diogo, que viria a cair    facto de os homens terem ido à            v
  de uma parede, durante     Lua, no século XX, a alusão ao tipo de    a
  a construção do            diversões que se vivia no século XVII e   r
  convento, assim como a     ao cinema, entre outras
  informação sobre os                                                  e
  bastardos que o rei                                                  s
  iria gerar, filhos das
  freiras que seduzia
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Espaço físico Mafra                                                         l
                                                                            i
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                                                                            b
• Mafra é o segundo macroespaço. Até à construção do convento, a            e
  vida de Mafra decorria na vila velha e no antigo castelo,                 t
  próximo da igreja de Sto. André.                                          e

• A Vela foi o local escolhido para a construção do convento, que deu       T
  lugar à vila nova, à volta do edifício. Nas imediações da obra, surge a   a
  "Ilha da Madeira", onde começaram por se alojar dez mil                   v
  trabalhadores, ascendendo, mais tarde, a quarenta mil.                    a
                                                                            r
• Além de Mafra, são ainda referidos espaços como Pêro Pinheiro,            e
a serra do Barregudo, Monte Junto e Torres Vedras.                          s
E

O espaço social                                               l
                                                              i
                                                              s
• O espaço social                                             a
o espaço social é construído, na obra, através do relato de   b
  determinados momentos (ou episódios) e do                   e
                                                              t
  percurso de personagens que tipificam um
                                                              e
  determinado grupo social, caracterizando-o.
                                                              T
• Ao nível da construção do espaço social, destacam-se os     a
  seguintes momentos:                                         v
         PROCISSÃO DA QUARESMA                               a
         AUTOS-DE-FÉ                                         r
         A TOURADA
                                                              e
         PROCISSÃO DO CORPO DE DEUS
         O TRABALHO NO CONVENTO                              s
E

Espaço psicológico                                   l
                                                     i
                                                     s
• o espaço psicológico é constituído pelo conjunto   a
                                                     b
  de elementos que traduz a interioridade das        e
  personagens. Nesta obra, o espaço psicológico é    t
  constituído fundamentalmente através de dois       e
  processos: os sonhos das personagens,
                                                     T
  que funcionam como forma de caracterização         a
  das mesmas ou que, num processo que lhes           v
  confere densidade humana, traduzem relações        a
  com as suas vivências, e os seus                   r
                                                     e
  pensamentos.                                       s
22



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Personagens históricas                                     l
                                                           i
                                                           s
                      D. JOÃO V                            a
                                                           b
                                                           e
• D. João V representa o poder real absolutista que        t
  condena uma nação a servir a sua religiosidade           e
  fanática e a sua vaidade.
                                                           T
                                                           a
• Cumpridor dos seus deveres de marido e de rei, D. João   v
  V assume apenas o papel gerativo de um filho e de        a
  um convento, numa dimensão procriadora, da qual a        r
                                                           e
  intimidade e o amor se encontram ausentes.               s
E
D. JOÃO V                                                           l
                                                                    i
                                                                    s
• Amante dos prazeres humanos, a figura                             a
                                                                    b
  real é construída através do olhar crítico do                     e
  narrador, de forma multifacetada:                                 t
     é o devoto fanático que submete um país inteiro ao            e
      cumprimento de uma promessa pessoal (a construção do
      convento, de modo a garantir a sucessão) e que assiste aos    T
      autos de fé;                                                  a
                                                                    v
     é o marido que não evidencia qualquer sentimento              a
      amoroso pela rainha, apresentando nesta relação uma           r
      faceta quase animalesca, enfatizado pela utilização de        e
      vocábulos que remetem para esta ideia (como a forma verbal"   s
      emprenhou" e o adjectivo "cobridor");
D. JOÃO V                                                               E
                                                                        l
                                                                        i
                                                                        s
      é o megalómano que desvia as riquezas nacionais para             a
       manter uma corte dominado pelo luxo, pela corrupção e pelo       b
       excesso;                                                         e
                                                                        t
                                                                        e
      é o rei vaidoso que se equipara o Deus nas suas relações com
       as religiosas; é o curioso que se interessa pelas invenções do
                                                                   T
       padre Bartolomeu de Gusmão;                                 a
                                                                   v
      é o homem que teme a morte e que antecipa a sua             a
       imortalidade, através da sagração do convento no dia do seu r
                                                                   e
       quadragésimo primeiro aniversário.
                                                                   s
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PERSONAGENS históricas                                             l
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                                                                   s
            D. MARIA ANA JOSEFA                                    a
                                                                   b
                                                                   e
• D. Maria Ana é caracterizada como uma mulher:                    t
                                                                   e
       ▫ passiva,
       ▫ insatisfeita,                                             T
       ▫ que vive um casamento baseado na aparência, na            a
         sexualidade reprimida e num falso código ético, moral e
         religioso.                                                v
                                                                   a
                                                                   r
                                                                   e
                                                                   s
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                                        D. MARIA ANA JOSEFA              l
                                                                         i
                                                                         s
                                                                         a
• A transgressão onírica é a única expressão da rainha que               b
  sucumbe, posteriormente, ao sentimento de culpa. A pecaminosa          e
  atração incestuosa que sente por D. Francisco, seu cunhado,            t
  conduzem-na a uma busca constante de redenção através da               e
  oração e da confissão. - COMPLEXO DE CULPA.
• A rainha vive num ambiente repressivo, cujas proibições                T
  regem a sua existência e para a qual não há fuga possível, a não ser
  através do sonho, onde pode explorar a sua sensualidade.               a
• Consciente da virilidade e da infidelidade do marido (abundam os       v
  filhos bastardos), D. Maria Ana assume uma atitude de                  a
  passividade e de infelicidade perante a vida.                          r
                                                                         e
                                                                         s
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PERSONAGENS históricas                            l
                                                  i
                                                  s
FREI BARTOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO                a
                                                  b
                                                  e
• O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão           t
  representa as novas ideias que causavam         e
  estranheza na inculta sociedade portuguesa.
                                                  T
• Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão             a
  tornou-se um alvo apetecido do chacota da       v
  corte e da Inquisição, apesar da proteção       a
  real.                                           r
                                                  e
• Homem curioso e grande orador sacro (a          s
  sua fama aproxima-o do padre António Vieira).
PERSONAGENS históricas                                              E
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                                                                    i
BARTOLOMEU DE GUSMÃO                                                s
                                                                    a
• Bartolomeu de Gusmão evidenciou, ao longo da obra, uma            b
  profunda crise de fé, a que as leituras diversificadas e a        e
  postura "antidogmática" não serão alheios, numa busca             t
  incessante do saber.                                              e
• A sua personagem risível - era conhecido por "Voador" - torna-o
  elemento catalisador do voo do passarola, conjuntamente           T
  com Baltasar e Blimunda.
                                                                    a
• A tríade corporiza o sonho e o empenho tornados
  realidade, a par da desgraça, também ela, partilhada (loucura e   v
  morte, em Toledo, de Bartolomeu de Gusmão, morte de Baltasar      a
  Sete-Sóis no auto-de-fé e solidão de Blimunda).                   r
                                                                    e
                                                                    s
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PERSONAGENS históricas                            l
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                                                  s
          DOMENICO SCARLATTI                      a
                                                  b
                                                  e
                                                  t
• Scarlatti representa a arte que, aliada ao      e
  sonho, permite a cura de Blimunda e
                                                  T
  possibilita a conclusão e o voo da passarola.   a
                                                  v
                                                  a
                                                  r
                                                  e
                                                  s
PERSONAGENS                     O POVO                              E
                                                                    l
(ver capítulo 17,18, 19 e 21)                                       i
                                                                    s
                                                                    a
                                                                    b
• O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento é o povo        e
  trabalhador. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a   t
  narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas    e
  por Baltasar e Blimunda, tipificam a massa coletiva e anónima
  que construiu, de facto, o convento.                              T
                                                                    a
• A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidão a   v
  que foram sujeitos quarenta mil portugueses, para alimentar o
  sonho de um rei megalómano ao qual se atribui a edificação        a
  do Convento de Mafra.                                             r
                                                                    e
                                                                    s
E

PERSONAGENS               O POVO
                                                                 l
                                                                 i
                                                                 s
                                                                 a
                                                                 b
• A necessidade de individualizar personagens (João              e
  Pequeno; Joaquim da Rocha; Manuel Milho; João Anes;            t
  Julião Mau-Tempo … ) que representam a força motriz que        e
  erigiu o palácio-convento, sob um regime opressivo, é a
  verdadeira elegia de Saramago para todos aqueles que, embora   T
  ficcionais, traduzem a essência de ser português:              a
                                                                 v
• GRANDES FEITOS, COM GRANDE ESFORÇO E                           a
  CAPACIDADE DE SOFRIMENTO                                       r
                                                                 e
                                                                 s
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O povo: alguns excertos                                                                 E
                                                                                        l
“A obra é grande (…) multidão de homens que cobrem o terreiro, é um formigueiro         i
de gente que acorre de todos os lados” (cap .17)                                        s
                                                                                        a
“Por sobre a Ilha da Madeira, nas ruas e terreiros, dentro das tabernas e casas de
acomodação, ouve-se um murmúrio contínuo, como o do mar ao longe. Estariam              b
vinte mil homens dizendo a oração da tarde (…)” (cap.18)                                e
                                                                                        t
“Subiram homens à plataforma com longas e fortíssimas alavancas, esforçadamente         e
soergueram a pedra ainda instável, e outros homens introduziram-lhe debaixo os
calços(…) todo o mundo puxa com entusiasmo, homens e bois, pena é que não               T
esteja D. João V no alto da subida, não há povo que puxe melhor do que este.”           a
(cap19)
                                                                                        v
“É uma pedra só, por via destes e outros tolos orgulhos é que se vai disseminando o
ludíbrio geral, com as suas formas nacionais e particulares, como esta de afirmar nos   a
compêndios e histórias, Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D.             r
João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos               e
homens que não fizeram nenhum filho à rainha e eles é que pagam , que se                s
lixam, com perdão da anacrónica voz.” cap19)
34



                                                          E

As personagens                                           l
                                                          i
                     O padre olhou um e outro, e          s
                     declarou, tu és Sete-Sóis porque
Baltasar Sete-Sóis                                        a
                     vês às claras, tu serás Sete-Luas
                     porque vês às escuras, e assim,      b
Blimunda Sete-Luas   Blimunda, que até aí só se           e
                     chamava, como sua mãe, de Jesus,     t
                     ficou sendo Sete-Luas, e bem         e
                     baptizada estava, que o baptismo
                     foi de padre, não alcunha de         T
                     qualquer um. Dormiram nessa          a
                     noite os sóis e as luas abraçados,
                                                          v
                     enquanto as estrelas giravam
                     devagar no céu, Lua onde estás,      a
                     Sol aonde vais. (cap. 9)             r
                                                          e
                                                          s
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b
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s
O AMOR: DOIS MODOS DE JUNTAR O HOMEM E A
                             MULHER…
• (…) o primeiro é estarem ele e ela   Outro modo é estarem ele e ela
                                       longe um do outro, nem te sei
  perto um do outro, nem te sei nem
                                       nem te conheço, cada qual em
  te conheço, num auto-de-fé, da       sua corte, ele Lisboa, ela Viena,
  banda de fora, claro está, a ver     ele dezanove anos, ela vinte e
  passar os penitentes, e de repente   cinco, e casaram-nos por
  volta-se a mulher para o homem e     procuração uns tantos
  pergunta, Que nome é o seu, não      embaixadores(…) tanto lhes
  foi inspiração divina, não           fazia gostarem-se como não,
  perguntou por sua vontade            nasceram para casar assim e
  própria, foi ordem mental que lhe    não doutra maneira, mas ele vai
                                       desforrar-se bem, não ela
  veio da própria mãe(…)e se lhe
                                       coitada, que é honesta mulher,
  revelou ser este soldado maneta o    incapaz de levantar os olhos
  homem que haveria de ser da sua      para outro homem, o que
  filha (…) (cap.X)                    acontece nos sonhos não conta.
                                       (cap .X)
O Amor verdadeiro/paixão                       O AMOR
      Baltasar Blimunda                          O Amor de Conveniência
          (28 anos de amor total )
Integração mútua perfeita;                     D. João V  D. Ana Josefa
Partilha de um amor puro, sem
procriação, entregam-se um ao outro        Casados pela igreja, com uma união
livremente, sem olhar a limites, lugares   por contrato de onde está ausente o
ou a datas;                                amor;
Comunicação através do silêncio: amor     Dormem em camas separadas;
intuitivo, natural, puro;                  Os encontros sexuais são uma
Entendimento através do olhar;            obrigação e visam unicamente a
Prazer erótico, sem convenções            obtenção de descendência
Fidelidade total                          Vivem separadamente, não partilham,
                                           nem comunicam
Comunhão rodeada de símbolos:             Ausência de prazer
   -a partilha da colher (símbolo de       Traições do rei
compromisso sagrado)                       O     cobertor    (símbolo       do
   - a bênção do padre Bartolomeu          afastamento/separação)
   - a aliança selada com sangue
                                                                            38
39



                                                                         E
                                                                         l
                                                                         i
                                                                         s
                                                                         a
Deitaram-se. Blimunda era virgem.(…) Correu algum sangue sobre a         b
esteira. Com a ponta dos dedos médio e indicador humedecidos             e
nele, Blimunda persignou-se e fez uma cruz no peito de                   t
Baltasar, sobre o coração. Estavam ambos nus. (cap.VI)                   e

Dorme Baltasar no lado direito da enxerga, desde a primeira noite aí     T
dorme, porque é desse lado o seu braço inteiro, e ao voltar-se para      a
Blimunda pode, com ele, cingi-la contra si, correr-lhe o dedos desde a   v
nuca até à cintura, mais abaixo ainda se os sentidos de um e de outro    a
despertaram no calor do sono e na representação do sonho, ou já          r
acordadíssimos iam quando se deitaram, que este casal ilegítimo por      e
sua própria vontade, não sacramentado na igreja, cuida pouco de          s
regras e respeitos, e se a ele apeteceu, a ela apetecerá, e se ela
quis, quererá ele. (cap.VIII)
40



                                                                           E
                                                                           l
Então Blimunda caiu doente. (…)Baltasar não saía de junto dela, a          i
não ser para preparar a comida ou para satisfazer necessidades             s
expulsórias do corpo, não parecia bem fazê-lo ali.” (cap.XV)               a
                                                                           b
(…) dezasseis anos passaram. (…) Ali se deitaram, numa cama de             e
folhagem, servindo as próprias roupas despidas de abrigo e enxerga. Em     t
profunda escuridão se procuraram, sôfrego entrou nela, ela o recebeu       e
ansiosa, depois a sofreguidão dela, a ânsia dele, enfim os corpos
encontrados, os movimentos, a voz que vem do ser profundo, aquele que      T
não tem voz, o grito nascido, prolongado, interrompido, o soluço seco, a   a
lágrima inesperada (…) Blimunda, Baltasar, pesa o corpo dele sobre o       v
dela, e ambos pesam sobre a terra(…)era dia claro quando sentiu que        a
despertava com o contacto instante de Baltasar. Antes de abrir os          r
olhos, disse, Podes vir, já comi o pão, e então Baltasar entrou nela sem   e
medo, porque ela não entraria nele, assim fora prometido. (cap.XX)         s
41


Mas nem a persistência do rei (…) que, salvo dificultação canónica ou
impedimento fisiológico, duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu
dever real e conjugal (…)
                                                                                    E
Mas el-rei já se anunciou, e vem de espírito aceso, estimulado pela conjugação      l
mística do dever carnal e da promessa que fez a Deus por intermédio e bons          i
ofícios de Frei António S. José. Entraram com ele dois camaristas que o aliviaram   s
das roupas supérfluas, e o mesmo faz a marquesa à rainha, de mulher para            a
mulher, com ajuda doutra dama, condessa, mais uma camareira-mor não menos           b
graduada que veio da Áustria, está o quarto uma assembleia, as majestades           e
fazem mútuas vénias, nunca mais termina o cerimonial, enfim lá se retiram os
                                                                                    t
camaristas por uma porta, as damas por outra, e nas antecâmaras ficarão
esperando que termine a função (…) E é por causa deste cobertor, sufocante, até
                                                                                    e
no frio de fevereiro, que D. João V não passa toda a noite com a rainha, ao
princípio sim, por ainda superar a novidade ao incómodo, que não era pequeno        T
sentir-se banhado em suores próprios e alheios, com uma rainha tapada por cima      a
da cabeça, recozendo cheiros e secreções. (…) Vestem a rainha e o rei camisas       v
compridas, que pelo chão arrastam, a do rei somente fímbria bordada, a da           a
rainha bom meio palmo mais, para que nem a ponta do pé se veja, o dedo              r
grande ou os outros, das impudicícias conhecidas talvez seja esta a mais
                                                                                    e
ousada. D. João V conduz D. Maria Ana ao leito (…)ajoelham-se e dizem as
orações (…) Já se deitaram (…) D. Maria Ana estende ao rei a mãozinha suada
                                                                                    s
(…)el-rei já cumpriu o seu dever. (cap. I)
E

Linguagem e estilo                                                   l
                                                                     i
                                                                     s
                                                                     a
Uma das características mais notórias de José                        b
  Saramago é a utilização peculiar da pontuação.                     e
                                                                     t
• Principal marca: nas passagens do discurso                         e
  direto:                                                            T
    eliminação do travessão e dos dois pontos;                      a
    a substituição do ponto de interrogação e de outros sinais de   v
     pontuação pela vírgula;                                         a
    marcação do início de cada fala apenas pela maiúscula.          r
                                                                     e
                                                                     s
LER EM VOZ ALTA E REESCREVER, RESPEITANDO DISCURSO
DIRETO E INDIRETO
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• "Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr                  i
   alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que                    s
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   estava comendo a luz e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer, Por que foi que
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   perguntaste o meu nome, e Blimunda respondeu, Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o                   e
   soubesse, Como sabes, se com ela não pudeste falar, Sei que sei, não sei como sei, não faças                    t
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   perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê, E agora, Se
   não tens onde viver melhor, fica aqui, Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã,
                                                                                                         T
   Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires, Por que queres tu que eu fique, Porque é     a
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   preciso, Não é razão que me convença, Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar, Não
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   tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não r
   te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o  e
                                                                                                         s
   fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo."
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"Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr alguma lenha na fogueira que esmorecia, e
    uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que estava comendo a luz e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer:
-   Por que foi que perguntaste o meu nome? E Blimunda respondeu:
-   - Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o soubesse.
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-   -Como sabes, se com ela não pudeste falar?                                                                                                l
-   -Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê.        i
-   -E agora?                                                                                                                                 s
-   -Se não tens onde viver melhor, fica aqui.                                                                                                a
-   - Hei de ir para Mafra, tenho lá família.                                                                                                 b
-   - Mulher?                                                                                                                                 e
-   -Pais e uma irmã,
                                                                                                                                              t
-   Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires,.
                                                                                                                                              e
-
-
    Por que queres tu que eu fique?
    Porque é preciso.
                                                                                        Resolução
-   Não é razão que me convença                                                                                                               T
-   Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar.                                                                               a
-   Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto!                                                                              v
-   Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei.                                                                                     a
-   Olhaste-me por dentro.                                                                                                                    r
-    Juro que nunca te olharei por dentro!                                                                                                    e
-    Juras que não o farás e já o fizeste,
                                                                                                                                              s
-   Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro.
-    Se eu ficar, onde durmo?
-   Comigo."
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     o sol é a fonte de luz, calor, vida. Simboliza a divindade, o           t
conhecimento.                                                                e

       pelo facto de não ter luz própria e ser apenas reflexo do Sol e por   T
atravessar fases, mudando de forma, a Lua simboliza a dependência e o        a
princípio feminino, símbolo da passagem do tempo: da transformação,          v
do crescimento e da renovação. Associa-se também ao sonho e ao               a
                                                                             r
inconsciente.                                                                e
                                                                             s
A simbologia dos números
         corresponde aos sete dias da semana, aos sete planetas, aos sete
graus da perfeição, às sete cores do arco-íris, aos sete dias da criação do
mundo, às sete virtudes cristãs, aos sete sacramentos. Aliado ao quatro
que simboliza a terra (4 pontos cardeais) e ao número três, que simboliza
o céu, o sete representa a totalidade do universo.

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Leitura memorial convento

  • 1. 1 Elisabete Tavares 3ºASC 2010/2011 Memorial do Convento de José Saramago
  • 2. 2 E Memorial do l Convento i Conteúdos essenciais: s a b -Categorias do texto narrativo e -Estrutura t -Dimensão simbólica/histórica e -Visão crítica -Linguagem e estilo T a v a r e s
  • 4. 4 A GÉNESE DO ROMANCE E l i s a b e t e T a v a r e s
  • 8. 8 E Planos narrativos l i s a Construção do Convento de Mafra - tema fulcral do Romance b e São três os momentos fundamentais quando falamos neste Convento: a t escolha do local, o lançamento da primeira pedra (Inauguração da e primeira pedra do convento, com procissão e bênção, a 17 de Novembro de 1717); e a sagração da Basílica (22 de Outubro de 1730). T O romance inicia-se com a promessa do rei português em mandar edificar a um convento em Mafra se no prazo de um ano a rainha concebesse um v filho. Após o nascimento de uma filha em 1712, D. João V faz cumprir a a sua promessa. r e s
  • 9. 9 E Planos Narrativos l i Construção da passarola (narrativa encaixada) s O sonho do padre Bartolomeu Lourenço é concretizado quando a b a passarola, no fim de construída, voa. Esta narrativa surge-nos e intercalada com a narrativa principal. t A máquina voadora é construída na quinta de S. Sebastião da e Pedreira. Os seus criadores, para além do Voador são Baltasar e T Blimunda. Sete-Sóis é a força ao passo que Sete-Luas é a a magia. Só todos estes componentes fizeram elevar a passarola. v a r e s
  • 10. 10 O amor verdadeiro de Baltasar e Blimunda (narrativa encaixada) E • O encontro entre Baltasar e Blimunda dá-se no auto-de-fé onde a l mãe da segunda é condenada ao degredo em Angola .Nessa noite, após i receberem a bênção do padre Bartolomeu, o casal une-se espiritual e s corporalmente. A intensidade e perfeição deste amor são admiráveis. a Esta é uma relação de cumplicidade e entendimento totais. b Depois de Baltasar desaparecer com a passarola, Blimunda, incessante e e incansável procura o seu complemento durante nove anos. t Acaba por encontrá-lo na fogueira de um auto-de-fé. e T a v a r e s
  • 12. 12 No Memorial do Convento o narrador: E sentencia: segue ou inventa provérbios; l i mistura a história e a ficção, o real e o fantástico; s a dialoga com o narratário e manipula as personagens; b e apaga-se face às personagens, dando voz aos seus pensamentos; t e domina a narrativa, mas também se auto limita face ao conhecimento da história; T a profetiza, antevendo factos futuros; v a critica, problematizando a história r e descreve paisagens, situações, factos acontecidos e a acontecer. s
  • 13. 13 E l i s • “É uma pedra só, por via destes e outros tolos Narrador (ver a orgulhos é que se vai disseminando o ludíbrio página 257/258 do Manual) b geral, com as suas formas nacionais e e particulares, como esta de afirmar nos t compêndios e histórias, Deve-se a e construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe Podemos falar de T nascesse um filho, vão aqui seiscentos um narrador com a homens que não fizeram nenhum filho à v uma polifonia ou a rainha e eles é que pagam , que se lixam, pluralidade de vozes r com perdão da anacrónica voz.” pag 351 que reinventa e mundos e os s multiplica.
  • 16. E TEMPO O tempo do discurso l i As analepses (recuos no tempo) s a • As analepses b explicam, geralmente, acontecimentos e anteriores, contribuindo para a coesão t da narrativa. e T • É de assinalar, anteriormente ao ano do início a da acção (1711 ), a analepse que explica, em v parte, a construção do convento como a r consequência do desejo expresso, em e 1624, pelos franciscanos, de possuírem um s convento em Mafra.
  • 17. TEMPO O tempo do discurso E As prolepses (acções futuras) l A antecipação de alguns acontecimentos serve os seguintes i objectivos: s • . a crítica social - é o • . a visão globalizante de tempos a caso das prolepses que distintos por parte do narrador (o b dão a conhecer as tempo da história e, num tempo futuro, e mortes do sobrinho de o do momento da escrita) - cabem aqui Baltasar e do infante D. as referências aos cravos (outrora, t Pedro, de modo a nas pontas das varas dos capelães; e estabelecer o muito mais tarde, símbolos da revolução contraste entre os dois funerais, ou a do 25 de Abril), a associação entre os T morte de Álvaro possíveis voos da passarola e o a Diogo, que viria a cair facto de os homens terem ido à v de uma parede, durante Lua, no século XX, a alusão ao tipo de a a construção do diversões que se vivia no século XVII e r convento, assim como a ao cinema, entre outras informação sobre os e bastardos que o rei s iria gerar, filhos das freiras que seduzia
  • 19. E Espaço físico Mafra l i s a b • Mafra é o segundo macroespaço. Até à construção do convento, a e vida de Mafra decorria na vila velha e no antigo castelo, t próximo da igreja de Sto. André. e • A Vela foi o local escolhido para a construção do convento, que deu T lugar à vila nova, à volta do edifício. Nas imediações da obra, surge a a "Ilha da Madeira", onde começaram por se alojar dez mil v trabalhadores, ascendendo, mais tarde, a quarenta mil. a r • Além de Mafra, são ainda referidos espaços como Pêro Pinheiro, e a serra do Barregudo, Monte Junto e Torres Vedras. s
  • 20. E O espaço social l i s • O espaço social a o espaço social é construído, na obra, através do relato de b determinados momentos (ou episódios) e do e t percurso de personagens que tipificam um e determinado grupo social, caracterizando-o. T • Ao nível da construção do espaço social, destacam-se os a seguintes momentos: v  PROCISSÃO DA QUARESMA a  AUTOS-DE-FÉ r  A TOURADA e  PROCISSÃO DO CORPO DE DEUS  O TRABALHO NO CONVENTO s
  • 21. E Espaço psicológico l i s • o espaço psicológico é constituído pelo conjunto a b de elementos que traduz a interioridade das e personagens. Nesta obra, o espaço psicológico é t constituído fundamentalmente através de dois e processos: os sonhos das personagens, T que funcionam como forma de caracterização a das mesmas ou que, num processo que lhes v confere densidade humana, traduzem relações a com as suas vivências, e os seus r e pensamentos. s
  • 23. E Personagens históricas l i s D. JOÃO V a b e • D. João V representa o poder real absolutista que t condena uma nação a servir a sua religiosidade e fanática e a sua vaidade. T a • Cumpridor dos seus deveres de marido e de rei, D. João v V assume apenas o papel gerativo de um filho e de a um convento, numa dimensão procriadora, da qual a r e intimidade e o amor se encontram ausentes. s
  • 24. E D. JOÃO V l i s • Amante dos prazeres humanos, a figura a b real é construída através do olhar crítico do e narrador, de forma multifacetada: t  é o devoto fanático que submete um país inteiro ao e cumprimento de uma promessa pessoal (a construção do convento, de modo a garantir a sucessão) e que assiste aos T autos de fé; a v  é o marido que não evidencia qualquer sentimento a amoroso pela rainha, apresentando nesta relação uma r faceta quase animalesca, enfatizado pela utilização de e vocábulos que remetem para esta ideia (como a forma verbal" s emprenhou" e o adjectivo "cobridor");
  • 25. D. JOÃO V E l i s  é o megalómano que desvia as riquezas nacionais para a manter uma corte dominado pelo luxo, pela corrupção e pelo b excesso; e t e  é o rei vaidoso que se equipara o Deus nas suas relações com as religiosas; é o curioso que se interessa pelas invenções do T padre Bartolomeu de Gusmão; a v  é o homem que teme a morte e que antecipa a sua a imortalidade, através da sagração do convento no dia do seu r e quadragésimo primeiro aniversário. s
  • 26. E PERSONAGENS históricas l i s D. MARIA ANA JOSEFA a b e • D. Maria Ana é caracterizada como uma mulher: t e ▫ passiva, ▫ insatisfeita, T ▫ que vive um casamento baseado na aparência, na a sexualidade reprimida e num falso código ético, moral e religioso. v a r e s
  • 27. E D. MARIA ANA JOSEFA l i s a • A transgressão onírica é a única expressão da rainha que b sucumbe, posteriormente, ao sentimento de culpa. A pecaminosa e atração incestuosa que sente por D. Francisco, seu cunhado, t conduzem-na a uma busca constante de redenção através da e oração e da confissão. - COMPLEXO DE CULPA. • A rainha vive num ambiente repressivo, cujas proibições T regem a sua existência e para a qual não há fuga possível, a não ser através do sonho, onde pode explorar a sua sensualidade. a • Consciente da virilidade e da infidelidade do marido (abundam os v filhos bastardos), D. Maria Ana assume uma atitude de a passividade e de infelicidade perante a vida. r e s
  • 28. E PERSONAGENS históricas l i s FREI BARTOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO a b e • O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão t representa as novas ideias que causavam e estranheza na inculta sociedade portuguesa. T • Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão a tornou-se um alvo apetecido do chacota da v corte e da Inquisição, apesar da proteção a real. r e • Homem curioso e grande orador sacro (a s sua fama aproxima-o do padre António Vieira).
  • 29. PERSONAGENS históricas E l i BARTOLOMEU DE GUSMÃO s a • Bartolomeu de Gusmão evidenciou, ao longo da obra, uma b profunda crise de fé, a que as leituras diversificadas e a e postura "antidogmática" não serão alheios, numa busca t incessante do saber. e • A sua personagem risível - era conhecido por "Voador" - torna-o elemento catalisador do voo do passarola, conjuntamente T com Baltasar e Blimunda. a • A tríade corporiza o sonho e o empenho tornados realidade, a par da desgraça, também ela, partilhada (loucura e v morte, em Toledo, de Bartolomeu de Gusmão, morte de Baltasar a Sete-Sóis no auto-de-fé e solidão de Blimunda). r e s
  • 30. E PERSONAGENS históricas l i s DOMENICO SCARLATTI a b e t • Scarlatti representa a arte que, aliada ao e sonho, permite a cura de Blimunda e T possibilita a conclusão e o voo da passarola. a v a r e s
  • 31. PERSONAGENS O POVO E l (ver capítulo 17,18, 19 e 21) i s a b • O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento é o povo e trabalhador. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a t narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas e por Baltasar e Blimunda, tipificam a massa coletiva e anónima que construiu, de facto, o convento. T a • A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidão a v que foram sujeitos quarenta mil portugueses, para alimentar o sonho de um rei megalómano ao qual se atribui a edificação a do Convento de Mafra. r e s
  • 32. E PERSONAGENS O POVO l i s a b • A necessidade de individualizar personagens (João e Pequeno; Joaquim da Rocha; Manuel Milho; João Anes; t Julião Mau-Tempo … ) que representam a força motriz que e erigiu o palácio-convento, sob um regime opressivo, é a verdadeira elegia de Saramago para todos aqueles que, embora T ficcionais, traduzem a essência de ser português: a v • GRANDES FEITOS, COM GRANDE ESFORÇO E a CAPACIDADE DE SOFRIMENTO r e s
  • 33. 33 O povo: alguns excertos E l “A obra é grande (…) multidão de homens que cobrem o terreiro, é um formigueiro i de gente que acorre de todos os lados” (cap .17) s a “Por sobre a Ilha da Madeira, nas ruas e terreiros, dentro das tabernas e casas de acomodação, ouve-se um murmúrio contínuo, como o do mar ao longe. Estariam b vinte mil homens dizendo a oração da tarde (…)” (cap.18) e t “Subiram homens à plataforma com longas e fortíssimas alavancas, esforçadamente e soergueram a pedra ainda instável, e outros homens introduziram-lhe debaixo os calços(…) todo o mundo puxa com entusiasmo, homens e bois, pena é que não T esteja D. João V no alto da subida, não há povo que puxe melhor do que este.” a (cap19) v “É uma pedra só, por via destes e outros tolos orgulhos é que se vai disseminando o ludíbrio geral, com as suas formas nacionais e particulares, como esta de afirmar nos a compêndios e histórias, Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. r João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos e homens que não fizeram nenhum filho à rainha e eles é que pagam , que se s lixam, com perdão da anacrónica voz.” cap19)
  • 34. 34 E As personagens l i O padre olhou um e outro, e s declarou, tu és Sete-Sóis porque Baltasar Sete-Sóis a vês às claras, tu serás Sete-Luas porque vês às escuras, e assim, b Blimunda Sete-Luas Blimunda, que até aí só se e chamava, como sua mãe, de Jesus, t ficou sendo Sete-Luas, e bem e baptizada estava, que o baptismo foi de padre, não alcunha de T qualquer um. Dormiram nessa a noite os sóis e as luas abraçados, v enquanto as estrelas giravam devagar no céu, Lua onde estás, a Sol aonde vais. (cap. 9) r e s
  • 37. O AMOR: DOIS MODOS DE JUNTAR O HOMEM E A MULHER… • (…) o primeiro é estarem ele e ela Outro modo é estarem ele e ela longe um do outro, nem te sei perto um do outro, nem te sei nem nem te conheço, cada qual em te conheço, num auto-de-fé, da sua corte, ele Lisboa, ela Viena, banda de fora, claro está, a ver ele dezanove anos, ela vinte e passar os penitentes, e de repente cinco, e casaram-nos por volta-se a mulher para o homem e procuração uns tantos pergunta, Que nome é o seu, não embaixadores(…) tanto lhes foi inspiração divina, não fazia gostarem-se como não, perguntou por sua vontade nasceram para casar assim e própria, foi ordem mental que lhe não doutra maneira, mas ele vai desforrar-se bem, não ela veio da própria mãe(…)e se lhe coitada, que é honesta mulher, revelou ser este soldado maneta o incapaz de levantar os olhos homem que haveria de ser da sua para outro homem, o que filha (…) (cap.X) acontece nos sonhos não conta. (cap .X)
  • 38. O Amor verdadeiro/paixão O AMOR Baltasar Blimunda O Amor de Conveniência (28 anos de amor total ) Integração mútua perfeita; D. João V  D. Ana Josefa Partilha de um amor puro, sem procriação, entregam-se um ao outro Casados pela igreja, com uma união livremente, sem olhar a limites, lugares por contrato de onde está ausente o ou a datas; amor; Comunicação através do silêncio: amor Dormem em camas separadas; intuitivo, natural, puro; Os encontros sexuais são uma Entendimento através do olhar; obrigação e visam unicamente a Prazer erótico, sem convenções obtenção de descendência Fidelidade total Vivem separadamente, não partilham, nem comunicam Comunhão rodeada de símbolos: Ausência de prazer -a partilha da colher (símbolo de Traições do rei compromisso sagrado) O cobertor (símbolo do - a bênção do padre Bartolomeu afastamento/separação) - a aliança selada com sangue 38
  • 39. 39 E l i s a Deitaram-se. Blimunda era virgem.(…) Correu algum sangue sobre a b esteira. Com a ponta dos dedos médio e indicador humedecidos e nele, Blimunda persignou-se e fez uma cruz no peito de t Baltasar, sobre o coração. Estavam ambos nus. (cap.VI) e Dorme Baltasar no lado direito da enxerga, desde a primeira noite aí T dorme, porque é desse lado o seu braço inteiro, e ao voltar-se para a Blimunda pode, com ele, cingi-la contra si, correr-lhe o dedos desde a v nuca até à cintura, mais abaixo ainda se os sentidos de um e de outro a despertaram no calor do sono e na representação do sonho, ou já r acordadíssimos iam quando se deitaram, que este casal ilegítimo por e sua própria vontade, não sacramentado na igreja, cuida pouco de s regras e respeitos, e se a ele apeteceu, a ela apetecerá, e se ela quis, quererá ele. (cap.VIII)
  • 40. 40 E l Então Blimunda caiu doente. (…)Baltasar não saía de junto dela, a i não ser para preparar a comida ou para satisfazer necessidades s expulsórias do corpo, não parecia bem fazê-lo ali.” (cap.XV) a b (…) dezasseis anos passaram. (…) Ali se deitaram, numa cama de e folhagem, servindo as próprias roupas despidas de abrigo e enxerga. Em t profunda escuridão se procuraram, sôfrego entrou nela, ela o recebeu e ansiosa, depois a sofreguidão dela, a ânsia dele, enfim os corpos encontrados, os movimentos, a voz que vem do ser profundo, aquele que T não tem voz, o grito nascido, prolongado, interrompido, o soluço seco, a a lágrima inesperada (…) Blimunda, Baltasar, pesa o corpo dele sobre o v dela, e ambos pesam sobre a terra(…)era dia claro quando sentiu que a despertava com o contacto instante de Baltasar. Antes de abrir os r olhos, disse, Podes vir, já comi o pão, e então Baltasar entrou nela sem e medo, porque ela não entraria nele, assim fora prometido. (cap.XX) s
  • 41. 41 Mas nem a persistência do rei (…) que, salvo dificultação canónica ou impedimento fisiológico, duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal (…) E Mas el-rei já se anunciou, e vem de espírito aceso, estimulado pela conjugação l mística do dever carnal e da promessa que fez a Deus por intermédio e bons i ofícios de Frei António S. José. Entraram com ele dois camaristas que o aliviaram s das roupas supérfluas, e o mesmo faz a marquesa à rainha, de mulher para a mulher, com ajuda doutra dama, condessa, mais uma camareira-mor não menos b graduada que veio da Áustria, está o quarto uma assembleia, as majestades e fazem mútuas vénias, nunca mais termina o cerimonial, enfim lá se retiram os t camaristas por uma porta, as damas por outra, e nas antecâmaras ficarão esperando que termine a função (…) E é por causa deste cobertor, sufocante, até e no frio de fevereiro, que D. João V não passa toda a noite com a rainha, ao princípio sim, por ainda superar a novidade ao incómodo, que não era pequeno T sentir-se banhado em suores próprios e alheios, com uma rainha tapada por cima a da cabeça, recozendo cheiros e secreções. (…) Vestem a rainha e o rei camisas v compridas, que pelo chão arrastam, a do rei somente fímbria bordada, a da a rainha bom meio palmo mais, para que nem a ponta do pé se veja, o dedo r grande ou os outros, das impudicícias conhecidas talvez seja esta a mais e ousada. D. João V conduz D. Maria Ana ao leito (…)ajoelham-se e dizem as orações (…) Já se deitaram (…) D. Maria Ana estende ao rei a mãozinha suada s (…)el-rei já cumpriu o seu dever. (cap. I)
  • 42. E Linguagem e estilo l i s a Uma das características mais notórias de José b Saramago é a utilização peculiar da pontuação. e t • Principal marca: nas passagens do discurso e direto: T  eliminação do travessão e dos dois pontos; a  a substituição do ponto de interrogação e de outros sinais de v pontuação pela vírgula; a  marcação do início de cada fala apenas pela maiúscula. r e s
  • 43. LER EM VOZ ALTA E REESCREVER, RESPEITANDO DISCURSO DIRETO E INDIRETO E l • "Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr i alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que s a estava comendo a luz e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer, Por que foi que b perguntaste o meu nome, e Blimunda respondeu, Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o e soubesse, Como sabes, se com ela não pudeste falar, Sei que sei, não sei como sei, não faças t e perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê, E agora, Se não tens onde viver melhor, fica aqui, Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã, T Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires, Por que queres tu que eu fique, Porque é a v preciso, Não é razão que me convença, Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar, Não a tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não r te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o e s fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo." [pág. 56]
  • 44. "Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que estava comendo a luz e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer: - Por que foi que perguntaste o meu nome? E Blimunda respondeu: - - Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o soubesse. E - -Como sabes, se com ela não pudeste falar? l - -Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê. i - -E agora? s - -Se não tens onde viver melhor, fica aqui. a - - Hei de ir para Mafra, tenho lá família. b - - Mulher? e - -Pais e uma irmã, t - Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires,. e - - Por que queres tu que eu fique? Porque é preciso. Resolução - Não é razão que me convença T - Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar. a - Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto! v - Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei. a - Olhaste-me por dentro. r - Juro que nunca te olharei por dentro! e - Juras que não o farás e já o fizeste, s - Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro. - Se eu ficar, onde durmo? - Comigo." [pág. 56]
  • 47. 47 E l i s a b e o sol é a fonte de luz, calor, vida. Simboliza a divindade, o t conhecimento. e pelo facto de não ter luz própria e ser apenas reflexo do Sol e por T atravessar fases, mudando de forma, a Lua simboliza a dependência e o a princípio feminino, símbolo da passagem do tempo: da transformação, v do crescimento e da renovação. Associa-se também ao sonho e ao a r inconsciente. e s
  • 48. A simbologia dos números corresponde aos sete dias da semana, aos sete planetas, aos sete graus da perfeição, às sete cores do arco-íris, aos sete dias da criação do mundo, às sete virtudes cristãs, aos sete sacramentos. Aliado ao quatro que simboliza a terra (4 pontos cardeais) e ao número três, que simboliza o céu, o sete representa a totalidade do universo.